domingo, 30 de novembro de 2014
Segundo mandato
Sem qualquer formalidade, com uma ostensiva aparência de rotina, o Palácio do Planalto apresentou a troika responsável pelo comando da nossa economia
Quase envergonhado, afinal inaugurou-se o propalado processo
de mudança. Faltou-lhe um ingrediente indispensável, tão indispensável que sua
ausência pareceu a alguns como comprometedora. Sem qualquer formalidade, rito
ou liturgia, com uma ostensiva aparência de rotina o Palácio do Planalto
apresentou a troika responsável não apenas pelo comando da nossa economia mas
pela alteração do seu modelo.
Dilma Rousseff não presidiu a primeira solenidade do seu
segundo mandato simplesmente porque o primeiro ainda está em curso. Para evitar
constrangimentos encurtou um final melancólico e dispensou as fanfarras que
abriria sua segunda presidência com a ostensiva sem-cerimônia conduzida pelo
competente jornalista Thomas Traumann, ministro-chefe da Secretaria de
Comunicação da Presidência da República, que apresentou os nomes de Joaquim
Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini respectivamente Ministro da Fazenda,
do Planejamento e Presidente do Banco Central. Em seguida, entregou-os ao
escrutínio da imprensa.
Na aparência descuidado, o formato foi cuidadosamente
preparado para disfarçar a drástica guinada e o seu subproduto mais
inconfortável – o reconhecimento de que uma das mais substantivas promessas
eleitorais está esquecida. Haverá controle de gastos, apertos, enxugamentos,
haverá intervenções ortodoxas no laissez-faire vigente, haverá responsabilidade
fiscal e controle da inflação.
O ministro Gilberto de Carvalho que em breve deixará a
Secretaria Geral da Presidência, com a sua proverbial espontaneidade ofereceu
uma versão extremamente criativa para justificar a escolha do novo ministro da
Fazenda: Levy aderiu à política do PT. Não explicou qual o PT a que se referia.
Na verdade, deu-se exatamente o contrário: o governo afinal reconheceu que a
errática política econômica era equivocada. Não por culpa do ministro Guido
Mantega (o mais longevo da pasta), mas por culpa dos que o obrigaram a esquecer
o que sabe e adotar um receituário de curtíssimo prazo, contraditório,
destinado a agradar marqueteiros e produzir resultados eleitorais.
Piratas e corsários
Não há dúvida de que a Petrobras já foi alvo de larápios em
governos anteriores, mas nenhum deles, além do próprio bolso, intentava
apossar-se da República.
Em tese, roubar um fusca ou um BMW enquadra o infrator no
mesmo dispositivo do Código Penal. Roubo é roubo, não importa a quantia. Do
ponto de vista moral, não há dúvida. Mas, como indica a lei processual, há
agravantes e atenuantes em qualquer espécie de delito: o que o move, a
premeditação, os meios etc.
No caso específico das denúncias em curso na Petrobrás e
adjacências – Eletrobrás e PAC, por exemplo -, o que se conhece e o que se
vislumbra até aqui remetem ao quesito agravante. Não se trata de mero roubo,
que se pratica para enriquecimento próprio.
Os sinais de que se estabeleceu uma operação sistêmica, com
o objetivo de financiar partidos políticos – e, nesses termos, um projeto de
poder –, vai muito além do que seria mais um caso de corrupção. Agride o
próprio sistema democrático e a República.
E um crime contra a República, convenhamos, é bem mais grave
que roubar um fusca ou mesmo um BMW – ou ambos. Nesse caso, o remédio é
simples: prende-se o ladrão, recupera-se o produto do roubo e ponto final. Tudo
começa e acaba numa delegacia de polícia. No caso, porém, do que ocorre na
Petrobras, não basta recuperar o que foi roubado e enquadrar os operadores.
É preciso desmontar a engrenagem da qual eles eram apenas
peças e responsabilizar os que a moviam e beneficiavam-se de seus propósitos
políticos. Aí, o caso extrapola o âmbito das delegacias de polícia e
necessariamente ascende ao das instituições.
Não importa se a presidente da República e seu antecessor
embolsaram ou não algum centavo. Ainda que não – e lhes cabe o benefício da
dúvida -, são os contemplados políticos do produto do crime. Que sabiam do que
lá se passava só não crê quem não quer.
De surpresa em surpresa
Você se surpreendeu ao saber que houve corrupção numa estatal? E que envolveu funcionários pagos com seu dinheiro?
Nenhum se arrependeu. Nenhum sentiu vergonha. Desmentiram
Freud, para quem a vergonha, ao causar uma reação involuntária no corpo — o
rubor — mostra ser tão forte quanto o desejo sexual ou o asco, que não
conseguem controlar as reações físicas que despertam. Mas nossos “heróis” não
têm vergonha, não se arrependem, não reconhecem que fizeram nada errado. São
juízes de si mesmos e se absolvem.
Isso é surpreendente. Mas os escândalos em série não
chegaram a surpreender ninguém. Você se surpreendeu ao saber que houve
corrupção numa estatal? Ou ao saber que ela envolveu empreiteiros e
funcionários pagos com seu dinheiro? A ingenuidade brasileira não chega a
tanto. Aceitava essa existência como parte do aparelhamento. Algo inevitável,
que se varre para baixo do tapete ou se faz de conta que não há. Quando agora
se fala em corrupção espantosa, o espanto não é porque ela existiu. É com o
montante dos valores, o caráter sistemático, a alta hierarquia dos envolvidos,
a sua ligação direta com quadros partidários. E com a investigação equilibrada
que não entornou antes da hora, não fez estardalhaço prematuro antes das
eleições de modo a tumultuar o pleito, administrou bem as delações premiadas,
se escorou em informações confiáveis sobre o dinheiro, checou dados com o
exterior, talvez recupere parte do prejuízo. E parece caminhar por partes, um
passo de cada vez, só indo para a etapa seguinte quando já amarrou a anterior
com alguns nós bem apertados.
E os que mandam em tudo? Não têm mesmo culpa nenhuma? Nenhuma responsabilidade? Não sabiam de nada? Reconhecem que perderam a autoridade e foram enganados por subalternos que lhes davam relatórios fajutos enquanto praticavam malfeitos? Serão culpados apenas de incompetência e boa-fé? Ou sinceramente acreditavam que em nome de interesses mais altos para o país deviam fechar os olhos? Que interesses? Seu projeto de poder? A infalibilidade da causa e do projeto que defendem? Querem que o povo aceite que há um teto de corrupção inerente ao sistema e propõem uma espécie de franquia para isso? De quanto acham que seria palatável? Ou será que se envergonham?
Falta vontade
Anos atrás, perguntei ao embaixador do Brasil na Irlanda,
Stelio Amarante, por que aquele país tinha estradas tão ruins, apesar de uma
das melhores educações. Ele respondeu: “Por isso!” Fez pausa e continuou:
“Deixaram para investir nas estradas depois da educação.”
No Brasil, sempre que se propõe educação de qualidade, vem a
pergunta: “Onde encontrar o dinheiro necessário?” Para responder esta pergunta,
o relator de uma comissão do Senado, presidida pela senadora Ângela Portela,
concluiu seu trabalho, ainda não debatido pelos senadores, mostrando que o
Brasil dispõe de recursos necessários.
A primeira parte do relatório calcula que, para oferecer
educação com a máxima qualidade, da pré-escola ao fim do ensino médio, seria
necessário investir R$ 9.500 por aluno por ano. Com este valor seria possível atrair
e manter no magistério os professores com salário mensal de R$ 9.500;
reconstruir e equipar todas as escolas com as melhores edificações e tecnologia
da informação e comunicação, e funcionando em horário integral. Para os 52,3
milhões de alunos, estimados para 2034, o custo total seria de R$ 496 bilhões
anuais.
Assumindo uma taxa de crescimento do PIB de 2% ao ano — a
média, nos últimos 20 anos, foi de 3,1% —, em 2034 o Brasil precisará de 7,4%
do PIB. Valor menor do que os 10% determinados por força do segundo Plano
Nacional de Educação II. Ainda sobrariam 2,6% (R$ 174,2 bilhões) para os demais
setores da educação. Apenas 2,3% (R$ 154,1 bilhões) a mais do que os 5,1%
gastos atualmente.
Para identificar a origem destes recursos, foram apontadas
15 fontes. Quatro delas representam redução de gastos, por exemplo, com
renúncia fiscal para a venda de automóveis e a redução nos gastos sociais
graças à educação, de até R$ 360 bilhões por ano. Caso não haja vontade
política para sacrificar os beneficiados por estes gastos e renúncias fiscais,
o relatório apresenta sete outras fontes que permitiriam R$ 355 bilhões, por
meio da emissão de títulos públicos, uso de lucro das estatais, atuação do
BNDES, uso dos recursos provindos do aumento na produtividade graças à melhoria
na própria educação. Se estas fontes não forem aceitas, o estudo identificou R$
174 bilhões oriundos de quatro outras fontes que exigiriam aumento de impostos
— como se fosse uma CPMF para a educação e imposto sobre grandes fortunas. A
tudo isso se agregaria o valor esperado de R$ 35 bilhões dos royalties do
pré-sal. O total das 15 fontes e do pré-sal chegaria a R$ 924 bilhões por ano,
de acordo com o relatório ainda a ser votado pelos senadores da comissão, que
está disponível em http://bit.ly/1ycAkBA .
Portanto, para cobrir o custo adicional necessário a uma
educação ideal em todo o país, bastaria que fossem usados menos de 25% de cada
fonte.
A pergunta, portanto, não é mais: “O Brasil tem recursos
para fazer a educação que precisa?” Agora será: “O Brasil tem vontade de usar
os recursos disponíveis para oferecer educação de qualidade a todos os
brasileiros?”
Cristovam Buarque (Transcrito de Tribuna da Internet)
sábado, 29 de novembro de 2014
Que coelho sairá dessa cartola?
O mercado - esse ente tão desprezado na retórica e tão
cortejado na ação - espera para ver que espécie de coelho sairá da cartola da
presidente reeleita.
Você pode acreditar em Gilberto Carvalho e achar que Joaquim
Levy jogou fora todas as suas convicções e resolveu aderir ao “programa
histórico do PT”, mesmo que isso seja como acreditar em mula sem cabeça ou em
discos voadores pilotados por ETs.
Ou você pode acreditar que Dilma Roussef foi convencida por
alguém (quem será?) a aderir à realpolitik e curvar-se finalmente à
racionalidade econômica, e que isso significa, de certa maneira, entregar os
anéis de suas convicções para não perder os dedos com os quais se agarra ao
poder.
Há uma terceira possibilidade: você pode não acreditar em
nada disso e convencer-se, de uma vez por todas, que o único projeto realmente
consistente do grupo que está no poder é exatamente o de manter-se onde está,
custe o que custar.
Tanto isso é verdade é que “o programa histórico do PT” foi
jogado a escanteio pelo próprio Lula e trocado pela “carta ao povo brasileiro”
para que ele pudesse ganhar a eleição depois de 3 derrotas seguidas. E as
promessas da “carta” foram cumpridas à risca por Antônio Palocci e Henrique
Meirelles, o mercado ficou satisfeito, e a excitação da militância foi mantida
acesa com a retórica do confronto do “nós contra eles”, o bem contra o mal.
Volta então a política de uma no cravo (do mercado) e uma na
ferradura (da militância), que caracterizou os dois governos Lula?
Os resultados do governo Dilma foram tão desastrosos em
termos de crescimento, de gestão, de reformas estruturais, de corrupção, que
ela só conseguiu reeleger-se graças aos truques usados para manter grande parte
do eleitorado naquilo que o brilhante historiador inglês Tony Judt chamaria de
“nuvens líricas de ignorância intencional”.
Nuvens, como se sabe, mudam de forma. Quando elas se
dissipam, sobra a realidade para administrar. E Joao Santana sabe criar nuvens
líricas de ignorância de onde podem chover votos, mas depois que recebe seu
cheque, vai cuidar da vida e deixa a realidade por conta da doutora gerente.
Leia mais o artigo de Sandro Vaia
Leia mais o artigo de Sandro Vaia
'Brasil precisa taxar ricos e investir em educação'
O investimento em educação – e em especial na educação pública - é absolutamente essencial para se reduzir a desigualdade. E a taxação progressiva de rendas altas e grandes heranças pode ser uma forma de obter recursos para investir no sistema de educação pública
Thomas Piketty
Crítico-sensação do capitalismo, Piketty é autor do polêmico
best-seller O Capital no Século XXI (Editora Intrínseca) em que
defende, a partir da análise de dados inéditos de 20 países, que a desigualdade
de renda estaria voltando a aumentar no mundo após décadas em queda.
Ele diz que o próximo passo de seu projeto é estudar países
emergentes, entre eles o Brasil, e defende que a desigualdade é um dos fatores
que inibe o crescimento brasileiro.
"Se o Brasil quiser crescer no século 21 precisa
garantir que amplos grupos da população tenham acesso à educação de qualidade,
qualificação e trabalhos que pagam bem", diz.
Dilma é traidora ou sábia?
São sábios aqueles que têm a coragem de mudar de ideia. Talvez isso explique a decisão de colocar o futuro econômico do país em mãos mais ortodoxas
Os governos
passam, os partidos desaparecem, os líderes morrem, mas os países permanecem.
Tinha, portanto, razão o cartaz visto em uma das recentes manifestações de rua
de São Paulo, onde se podia ler: “Em primeiro lugar, o Brasil”.
Os órfãos da
candidata Dilma que acusavam seus adversários, Aécio Neves e Marina Silva, de
querer colocar o país nas mãos dos banqueiros e que hoje descobrem que ela
colocou a economia do país nas mãos do liberal Joaquim Levy, agora estão
desconsolados.
Já começaram
as manifestações contra sua decisão de dar uma guinada neoliberal na economia
que, claro, estava na UTI. Logo a acusarão de trair a esquerda e seu partido, o
PT.
Até levantaram
a cabeça aqueles que preferem ver na manobra da nova Presidente de colocar um
banqueiro para liderar a economia como uma forma de “mudar e deixar tudo como
está”. Assim, Dilma teria colocado Levy como ministro da Fazenda para
catequizá-lo, ou seja, para convertê-lo ao petismo, e não para regenerar o
barco econômico que ameaçava afundar o país em uma recessão severa e que os
investidores locais e estrangeiros perdessem a confiança.
Os políticos
devem sempre ser criticado e vigiados pelos meios de comunicação e pela
oposição, porque está em sua natureza a tentação de abusar do poder e de
colocar seus interesses pessoais ou do partido acima do bem da nação. Da mesma
forma, devem receber, no entanto, uma margem de confiança ao reconhecerem
explícita ou implicitamente um erro na sua gestão, e têm a coragem de mudar o
rumo do navio.
Dilma, com a
decisão que acaba de tomar, a de colocar o presente e o futuro imediato
econômico do país em mãos mais ortodoxas e neoliberais do que exigia a esquerda
de seu partido, provou que desta vez ouviu aquele grito da rua: “Em primeiro
lugar, o Brasil”.
Há, dentro de
suas tropas e dos que se sentem órfãos da campanha eleitoral contra a direita,
pessoas que começam a falar de traição à causa e da admissão, pelo menos de
forma implícita, que a política econômica de seu primeiro mandato havia
fracassado.
Traição ou
sabedoria? “Sapient est mutare consilium”, diziam os filósofos latinos, ou
seja, são sábios aqueles que têm a coragem de mudar de ideia. É o caso de
Dilma, que teria tido o bom senso de entender que, pelo bem do Brasil,
precisava de mudar de rumo para salvar o navio que começava a afundar?
Petrolão pode pegar até 100 políticos
Temendo serem flagrados na Operação Lava Jato, congressistas já procuram escritórios de advocacia para prepararem suas defesas
Em abril, logo após surgirem as primeiras informações do
esquema de corrupção da Petrobras e dois dos cabeças do grupo presos começarem
a falar com a polícia, havia políticos que alardeavam aos quatro ventos de que
o Congresso brasileiro iria abaixo com as denúncias. No ato do dia do trabalho,
promovido pela Força Sindical em 1º de maio, em São Paulo, alguns desses
políticos diziam que ao menos três dezenas de congressistas estariam envolvidos
nos atos de corrupção. Até então quase nenhum nome de investigados pela
Operação Lava Jato havia vindo à tona.
Em outubro, a grita comum do período eleitoral era de que
mais de 70 deputados e senadores seriam implicados na rede de corrupção da
petroleira. De cima de um caminhão-palanque em um ato pró-Aécio Neves, na
capital paulista, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (que preside o
partido Solidariedade) foi categórico: “Esse governo não vai se sustentar. Tem
entre 70 e 100 deputados envolvidos com o petrolão”.
A expectativa dele e dos outros de seus colegas está próxima
de se concretizar. O escândalo de desvios de ao menos 10 bilhões de reais que
parecia grudar apenas nos partidos governistas, porém, é mais amplo. Conforme
oito líderes partidários ouvidos pelo EL PAÍS nesta semana, as principais
legendas brasileiras se preparam para uma enxurrada de críticas por terem seus
correligionários envolvidos nas denúncias e, pior, de batalhas nos tribunais.
Falando sob a condição de não terem seus nomes divulgados,
esses dirigentes de partidos estimam que entre 60 e 100 congressistas, a
maioria deles deputados e ex-deputados, estejam em vias de serem investigados
pela ligação com a quadrilha que tomou conta da maior companhia brasileira
entre 2004 e 2012, entre os governos petistas de Lula da Silva e Dilma
Rousseff. “Não tem como fugir. Vai sobrar para todo mundo. Pelo que temos visto
será uma carnificina”, disse um dirigente partidário.
Conforme os representantes partidários, alguns parlamentares
já começaram a consultar advogados sobre o passo a passo de um processo
jurídico e de como se livrar da prisão. Dois escritórios de São Paulo, um de
Minas e um do Rio confirmaram, sem dar nomes, que foram sondados por
congressistas nas últimas três semanas.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Comunistopia
A Guerra
Fria acabou, mas já pensou se o comunismo tivesse ganhado?
Não
haveria greves de bancários todo ano, até porque nem haveria bancos.
A
indústria de malas quase quebraria, com o turismo em baixa, embora malas
continuassem a existir ao menos para carregar dinheiro, já que, sem bancos,
como iria ser paga a corrupção?
Não
importaríamos médicos cubanos: eles já seriam formados aqui em nossas
faculdades, para evitar despesas de viagem. Solidariamente, nem precisariam
fazer vestibular, mas, como médicos, continuariam a enviar 70% do
salário-solidário para o governo de Cuba.
Não
haveria cotas raciais, pois, como o comunismo prega que somos todos iguais
(como também nossa Constituição atual), não faria sentido os negros serem
diferenciados. Mas o pessoal do Partido Comunista, claro, ficaria com as
melhores casas, inclusive de campo, e trabalharia sem horário nem patrão;
apenas o povo continuaria a trabalhar com horário porque, você sabe, o povo não
sabe cuidar de si e por isso precisa de um Partido de companheiros Comunista.
Raul
Castro não ficaria hospedado na Granja do Torto, mas no próprio Palácio da
Alvorada, com redes penduradas naquelas colunas projetadas pelo Niemeyer, e que
parecem feitas para receber pencas de redes. Nada como o comunismo para nos
fazer ver o óbvio.
O único
jornal seria o Cruzeiro do Sul e teria cinco páginas como o Cruzeiro do Sul tem
cinco estrelas. Mas como, perguntarão os céticos e críticos, um jornal com
número ímpar de páginas? Sim, a última página será em branco, para facilitar a
graciosa moda cubana de usar o jornal oficial como papel higiênico em falta.
A Comissão
da Verdade supervisionaria a construção do Monumento aos Heróis, os mortos e
torturados pela ditadura, mais alto que as Pirâmides do Egito, com diretoria vitalícia
e orçamento secreto, sem qualquer supervisão, ou seria uma afronta aos heróis.
Anexaríamos
o Paraguai usando o mesmo esquema hitlerista que Putin está usando na Ucrânia:
motins, desordem, confusão, para então o país ser invadido em nome da ordem e
da união. O Uruguai deixaríamos como informal colônia de férias para os
companheiros do Partido, longe do olhar sempre curioso das massas.
Para
levantar o ânimo do povo, invadiríamos as Ilhas Malvinas para devolver à
Argentina.
Como
pregam os candidatos comunistas à presidência da República, não haveria patrões
mas, para haver impostos a sustentar o governo e o Partido, as empresas
continuariam a existir com o nome de Coletivos Comerciais, Industriais ou de
Serviços. Se não sobrevivessem, seria culpa do imperialismo ianque.
Todas
estatizadas, seriam geridas por comitês de trabalhadores partidários que,
claro, teriam salários muito maiores que os outros pois, como já previu o
camarada Orwell, no comunismo uns são mais iguais que os outros.
O ensino
médio seria promovido a superior, que é elitista até no próprio nome, e as
aulas seriam só sobre marxismo. Os hospitais seriam construídos só com
corredores, igualando o tratamento para todos. E as igrejas continuariam a
existir, desde que conscientes de que haveria um Deus no Céu e, na terra, o
nosso Grande Líder do Partido Comunista que nos governaria com a competência
herdada de Stalin e Fidel.
De quatro
em quatro anos, faríamos eleições como em Cuba, só com candidatos indicados
pelo Partido para aprovar tudo que o Partido decidisse, inclusive os temas
proléticos (politicamente proletários) para as escolas de samba. A Seleção
Canarinho seria rebatizada como Arara Vermelha e, se perdesse por mais de um
gol, o time seria exilado na Antártida, já que não temos Sibéria.
Sonhar é
grátis; sonhemos, companheiros!
Paraíso dos ladrões
Segundo dados
da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o Brasil perde,
todos os anos, em razão da corrupção, 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), algo
em torno de 100 bilhões de reais por ano.
Mais Médicos é versão dos 'feldshers' soviéticos
Na antiga
União Soviética (URSS) existia uma figura no serviço público de saúde
denominada “Feldsher”, ou Feldscher em alemão, cujo significado literal era
“aparador do campo”. Os feldsher soviéticos eram profissionais da saúde,
formados em “saúde básica”, que intermediavam o acesso do povo à medicina
oficial, em especial nas áreas remotas, rurais e periferias soviéticas, sendo
uma espécie de práticos de saúde, ou paramédicos como são chamados hoje em dia,
e exerciam cuidados básicos em clínica, obstetrícia e cirurgia às populações
dessas regiões.
Sua inspiração
e nome derivavam dos feldscher alemães que surgiram no século XV como
operadores de saúde (cirurgiões barbeiros) e com o tempo se espalharam ao longo
do que foi o império prussiano e territórios eslavos, compondo a linha de
frente também nas forças militares, sendo uma espécie de força militar médica
nesses exércitos eslavos e saxões. Em vários países foram adotados como
profissionais da linha de frente, atuando sempre nos cuidados básicos e em
alguns casos chegando a se especializar em alguma prática específica, como
optometria, dentista e otorrinolaringologia. Na Rússia começaram a se
popularizar a partir do século XVIII.
Diferentemente
dos médicos, os feldsher possuíam uma formação mais curta e limitada. A duração
do curso era em 4 anos e envolvia basicamente treinamento em ciências básicas e
treinamento simples em ciências médicas clínicas, em especial medicina interna,
serviço de ambulância e emergência pré-hospitalar e sempre tinha um espaço para
treinamento militar, em campo de treinamento do exército, pois os feldsher
estavam na linha de frente da nação, nas fronteiras. Eram 8 anos de colégio
mais 4 em treinamento prático, considerados, portanto de nível técnico. Era um
treinamento um pouco melhor que a de enfermeira, cujo foco era mais os cuidados
básicos de saúde e técnicas/procedimentos de enfermagem.
Os médicos
soviéticos, ao contrário, levavam pelo menos 10 anos de colégio mais 7 anos de
faculdade com carga horária total pelo menos duas vezes maior (estudavam todos
os sábados). Apesar do tamanho valor de formação, seus salários eram ridículos,
pois o regime socialista os considerava “servos do povo”.
O sistema
cubano de ensino médico reproduziu, a partir do encampamento da Revolução
Cubana pela URSS em 1961, esse sistema de formação em saúde. Os médicos
cubanos, de verdade, ficam lá em Cuba, em sua maioria. O que Cuba “fabrica” aos
milhares, todos os anos, com projetos como a ELAM e demais faculdades, em
cursos de 4 anos, não são nada além da versão cubana dos “feldsher” soviéticos.
São paramédicos treinados para atuar em linha de guerra, campos remotos e áreas
desprovidas em geral.
A diferença é
que Cuba “chama” esses feldsher de “médicos”, inflando artificialmente a sua
população de médicos. Com essa jogada, Cuba possui um dos maiores índices de
médicos por habitante do planeta. E isso permitiu outra coisa ao regime cubano:
Usar esses feldsher como agentes de propaganda de sua revolução e seus
interesses não apenas dentro, mas fora de seu território.
Ao longo de
décadas o regime cubano vem fazendo uso do empréstimo de mão-de-obra técnica,
paramédica, porém “vendida” como médica, para centenas de países a um custo
bilionário que fica todo com o regime cubano. Literalmente, como na URSS, os
feldsher são “servos do povo” (no caso, leia-se “povo” como Partido Comunista
de Cuba).
Recentemente a
presidente Dilma lançou um demagógico e absurdo projeto de “resgate da saúde”
do povo brasileiro às custas apenas da presença de “médicos” em locais
desprovidos do mesmo, aliás, por culpa do próprio governo.
Ao invés de
pegar os médicos nacionais, recém-formados ou interessados, e criar uma
carreira pública no SUS e solidificar a presença do médico nesses povoados, ela
resolveu importar feldsher cubanos a um preço caríssimo, travestidos de
médicos, ao que seu marketing chamou de “Mais Médicos”. Diante da recusa
inicial, simulou-se uma seleção de nacionais, dificultada ao extremo pelo
governo, para depois chamar os feldsher.
O objetivo
aqui é claro: O alinhamento ideológico entre os regimes, o uso de “servos do
povo” para fazer propaganda do governo, encher o bolso dos amigos cubanos de
dinheiro e evitar a criação de uma carreira pública que poderia ser crítica e
demandadora de recursos. Como não podiam se assumir como fedlsher, jogaram um
jaleco, os chamaram de médicos e os colocaram para atuar como médicos de
verdade.
Por isso as
cubanadas não param de crescer. Por isso os erros bizarros, os pânicos diante
de pacientes sintomáticos. Os cubanos não são médicos, são feldsher – agentes
políticos com treinamento prático em saúde – que vieram ao Brasil cumprir uma
agenda política e, segundo alguns, eventualmente até mesmo militar.
São
paramédicos. Isso explica as “cubanadas”. Se houvesse decência no Ministério da
Saúde, ele retiraria o termo “médico” desse programa, e seria mais honesto. Mas
honesto não ganha eleição nesse país.”
Mais de 2 mil anos de atualidade
Até quando, Catilina, abusarás
da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino,
nem a ronda noturna da cidade,
nem o temor do povo,
nem a afluência de todos os homens de bem,
nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado,
nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino,
nem a ronda noturna da cidade,
nem o temor do povo,
nem a afluência de todos os homens de bem,
nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado,
nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!
Marcus Tullius Cicero (Catalinárias, 63 a.C.)
Falta transparência sobre desmatamento
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil avaliaram como positiva a queda da taxa de desmatamento na Amazônia, mas acusaram o governo de agir com pouca transparência na divulgação dos dados oficiais.
Na quarta-feira, o governo anunciou uma redução de 18% nas
taxas de desmatamento na chamada Amazônia Legal entre agosto de 2013 e julho
deste ano.A Amazônia Legal é uma área que engloba nove Estados brasileiros
pertencentes à Bacia amazônica.
O anúncio coube à ministra do Meio Ambiente, Izabela
Teixeira, que comemorou o fato de o índice ser o segundo menor desde 1988,
quando começou a ser realizado o levantamento com dados do sistema Prodes
(Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal).
Na avaliação de especialistas ouvidos pela BBC Brasil,
embora positivos, os dados não devem ser amplamente comemorados.
"É uma boa notícia, especialmente diante dos dados de
2013", disse Paulo Adário, estrategista sênior de florestas do Greenpeace,
em referência ao índice do Prodes divulgado no ano passado, quando houve um
aumento de 29% em relação a 2012.
"Mas não comemoramos desmatamento. É preciso ter em
mente que foram desmatados 4.848 km² (mais de três vezes o tamanho da cidade de
São Paulo), são milhões de árvores".
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, no mesmo período de 2013,
foram desmatados 5.981 km² da Amazônia Legal – daí a queda de 18%.
Para Beto Veríssimo, pesquisador sênior do Instituto do
Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que também monitora o desmatamento,
"a estimativa do Prodes é relativamente positiva, mas é bom lembrar que a
taxa deste ano é do que a de 2012, quando foram desmatados cerca de 4,5 mil km²
da floresta."
Mas a principal crítica, segundo os especialistas, é a
"pouca transparência" na divulgação mais recente dos dados gerais
sobre desmatamento.
Isso porque, em junho deste ano, o governo decidiu parar de
divulgar mensalmente os índices monitorados por outro sistema do Inpe, o Deter
(Detecção de Desmatamento em Tempo Real).
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
'Noblesse oblige'
À honestidade dos explorados corresponde muito de perto a consideração dos seus patrões
A nobreza obriga. Ela demanda do nobre, do dono, do
empresário e, acima de tudo, dos “políticos” — dos que ocupam cargos públicos
temporários e abarrotados de poder —, uma boa porção de deveres. De dívidas e
de responsabilidades para com os subordinados, com os governados e com a
sociedade como um todo. O capitão é o último a abandonar o navio; os ratos são
os primeiros.
Em algumas sociedades tribais, os curadores desleixados e
egoístas são punidos com a morte. O caso mais contundente de noblesse
oblige encontra-se entre os shiluk do antigo Sudão, estudado
magistralmente pelo antropólogo inglês Evans-Pritchard. Lá, o rei não podia
realizar atos impuros e corruptos. Se o fizesse, todo o reino sofria e ele —
como encarnação de Nyikang, o espírito onipresente legitimador e símbolo da
própria sociedade e das suas normas morais — seria assassinado. Tal como na Grécia
e na Roma antigas, rex est mixta persona cum sacerdote (o rei é uma
figura que reúne nobreza e sacerdócio). A despeito de todas as utopias
revolucionárias, as nobrezas têm um lado sacerdotal de origem e, se esse lado é
esquecido ou abusado, com ele se vão a ética e a honra devida ao seu caráter.
Mas o Brasil de hoje passa ao largo de tudo isso. De fato, nestes tempos de
mistificação geral e oficial, a palavra de ordem é justamente esquecer essa
chatice obviamente reacionária do "noblesse oblige".
Essa ética da obrigação (ou da generosidade) incomoda porque
revela o poder visto do ângulo do reprimido dos subordinados, bem como a sua
dimensão interdependente. Ela lembra que os empregados daqueles que por
nascimento, eleição, talento ou sucesso, tornaram-se poderosos, ricos e famosos
devem contar com um mínimo de proteção moral. Podem não ter cofres, capacidade
para decretar, interesses, compromissos pessoais e partidários, mas, se
deixarem de obedecer, de confiar ou de respeitar seus patrões — se suprimirem a
relação com eles —, o sistema (o todo) vai abaixo, como estamos vendo no
aumento da chamada violência neste nosso Brasil sem nenhuma "noblesse
oblige".
O nobre, como o senhor, pode ter a espada, o chicote o
mercado e até mesmo os juízes e a lei, mas o subordinado tem aquilo que alguns
antropólogos antigos — que escreveram quando os animais ainda não discursavam —
chamavam de “poder dos fracos”. O poder de abençoar (ou amaldiçoar) e de serem
honestos e amorosos com os nossos filhinhos e os nossos bens. A rebelião nasce
da maldição e da vingança.
Pois, para esses traidores da democracia e ladrões da riqueza coletiva, a nobreza desobriga! Daí o surto de desânimo, de desconfiança e de apatia dos que silenciam por não terem poder ou dinheiro, mas demandam e têm o direito à honestidade, ao pedido de desculpa e ao reconhecimento dos erros dos poderosos. Ninguém pode ou deve esconder-se por detrás da Bandeira do Brasil. Tentar usar desse expediente é mais do que desfaçatez: é covardia e traição para com o todo que nos une.
Balada do inquilino
Esta vida, não se iluda,
É uma casa alugada.
Haverá um dia em que
Não poderemos pagá-la
E seremos despejados.
Antes, outros perderão
O direito de habitá-la.
Aquele que vive no quarto
Com medo do desfecho
E quem, corajosamente,
Armou sua cama na sala
- todos irão do mesmo jeito.
Este senhorio é implacável.
Um dia não poderemos pagá-lo
E então nos expulsará deste berço
E passaremos a noite ao léu
- fantasma que nada tem de seu,
corpo, roupas ou endereço.
Um dia nos livraremos do aluguel.
Miguel Sanches Neto, "Venho de um país obscuro"
Que é isso, companheiro?
Que Lula fale sobre a Petrobras
Os brasileiros ainda seguem dando um voto de credibilidade ao carismático ex-presidente que transformou esse país dando voz a milhões de pobres
Estão aí as imagens de Lula com as mãos manchadas de óleo,
vestido com o uniforme da Petrobras, lançando uma imagem de ilusão ao país.
Hoje, tanto Lula como a presidenta Dilma Rousseff estão na
boca de todos como os principais responsáveis do bem e do mal da Petrobras. Um
magistrado do Supremo chegou a dizer que, comparado com esse novo escândalo, o
do mensalão poderia ser objeto de um simples caso das “pequenas causas”.
Dilma já falou. Assegurou que seu governo não colocará
obstáculos às investigações judiciais, algo óbvio, porque fazê-lo seria um
crime.
Ela assegurou que “não deixará pedra sobre pedra” na busca
dos supostos corruptos que atuavam como uma máfia dentro da maior empresa do
país, e que se hoje esses “desvios de conduta” são conhecidos, e é melhor
chamá-los de crimes contra o patrimônio nacional, é porque nunca a Polícia
Federal foi tão atuante na busca pelos culpados.
O problema, entretanto, é que os brasileiros desejariam
saber da Presidenta recém eleita nas urnas se ela sabia ou não, quanto sabia e
desde quando, do que se tramava em uma empresa da qual ela esteve sempre tão
próxima e responsável por conta dos cargos nela exercidos.
Após as últimas denúncias da imprensa de que ela e Lula
haviam sido avisados, anos atrás, de que havia algo de podre na Petrobras, que
estava sendo saqueada por diretores e gerentes nomeados por ela e Lula, é
urgente, que tanto a Presidenta como o ex-presidente, falem com sinceridade à nação,
se for necessário para reconhecer culpas e apresentar uma proposta de ajuste.
E sobretudo Lula deveria falar, ele que foi o grande
impulsor da petrolífera apresentando-a ao mundo como exemplo de empresa
nacional bem sucedida e que deu a Dilma grandes responsabilidades sobre ela.
Redução de variedades de flores mata abelhas
Análise de espécimes mostra que declínio tem relação com expansão da agricultura
O quebra-cabeça que é o declínio geral das abelhas fica
ainda mais complicado. A abelha europeia (Apis mellifera) e o resto dos insetos
antófilos (que amam as flores) já tinham que lutar contra o vírus das asas
deformadas, o fungo Nosema ceranae, o parasita Varroa destructor, sofisticados
inseticidas neonicotinóides ou o próprio aquecimento global. Agora, um estudo
acrescenta mais um inimigo: a redução da diversidade de plantas e árvores florais
provocada pela agricultura moderna.
A Holanda é uma das regiões do mundo onde a agricultura mais
avançou. Mais de 80% do território que era natural no início do século passado
hoje é terra cultivada. Por isso, é um grande cenário real para estudar o
impacto que a agricultura moderna está tendo sobre as abelhas. Aliados
tradicionais dos agricultores, esses polinizadores estão desaparecendo em um
ritmo alarmante, que alarmou os agricultores e os cientistas.
Um grupo de biólogos holandeses descobriu que há uma conexão
entre a diminuição da diversidade floral e o declínio das abelhas. O trabalho
deles se concentra nas espécies silvestres, mas suas conclusões podem ajudar a
desvendar o colapso sofrido por muitas colmeias de abelhas melíferas.
“Os efeitos negativos do varroa, das doenças ou da
quantidade de pesticidas pode ser reforçada por uma limitação da
disponibilidade de comida”, diz o ecologista da Universidade de Wageningen e
coautor do estudo, Jeroen Scheper. “Com as condições pioradas por um cenário de
recursos escassos, as abelhas podem ser mais vulneráveis a estas ameaças. E o
mecanismo pode funcionar em sentido inverso: os efeitos não-letais dos
pesticidas podem afetar negativamente a eficiência forrageira das abelhas
operárias, o que poderia ter um impacto maior quando a disponibilidade de
recursos florais é baixa“, acrescenta.
As espécies de abelhas silvestres que se alimentam de
rosáceas se multiplicaram Scheper e seus colegas coletaram exemplares entre várias
coleções de museus e taxidermistas de mais de 50 espécies de polinizadores
silvestres. Eles queriam saber de quais flores elas se alimentavam antes que, a
partir dos anos cinquenta do século passado, a agricultura se espalhasse por
quase todo o território holandês. Mas estavam procurando mais o pólen que o
néctar.
“O pólen é um recurso alimentício crítico para as larvas das
abelhas, mas elas não se desenvolvem com o pólen de todas as espécies de
plantas. Algumas espécies de abelhas só crescem com o pólen de um único gênero
ou família, enquanto outras espécies coletam de uma grande variedade vegetal.
Mesmo neste caso, no entanto, as abelhas têm preferências por determinados
táxons e se desenvolvem menos com as variedades que atraem menos”, explica
Scheper. “Pelo contrário, as abelhas são menos exigentes com o néctar, ou seja,
as espécies que coletam o pólen de uma única variedade de planta também
recolhem néctar de muitas outras variedades vegetais”, acrescenta.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Inútil
O Brasil inteiro assiste o intenso momento dos tantos in. E
o que impressiona é a inoperância diante do fenômeno, como se fosse tudo
normal, intrínseco ao nosso tempo.
A indiferença para com o próximo é descortinada nas calçadas
das grandes cidades o tempo inteiro, sem que cause a mais pálida inquietação.
Uma crescente onda de intolerância foi tomando conta das
redes sociais, insidiosa e ferina, maculando amizades outrora íntimas. Tornando
o trato indecente.
Outro infortúnio comum ao cidadão é a incompetência das
instituições em se mostrar inconciliáveis com a corrupção. Incrível:
honestidade se tornou atributo incomum.
Incalculáveis desvios de conduta são vistos com indolência
pelas autoridades constituídas e, pior, com incógnitos interesses ao sabor de
desejos indefensáveis. Algo inacreditável.
Basta um pouco de dinheiro ou poder para alguém se tornar
intocável. Enquanto isso, no inaceitável subsolo social, a menor indisciplina
incha nossas indignas prisões.
Dos protestos explícitos aos recados indiretos, nada parece
incitar reações. A incongruência está incrustrada na sociedade. Pouco pode o
indivíduo diante do insolúvel.
Sob a influência das intrigas, das inverdades ou das
invenções, até intelectuais são manipulados. Que dirá os incultos… Faltam
intérpretes confiáveis para indicar as (in)verdades.
Mas, o que esse insipiente cronista estaria insinuando?
Quais interesses estariam interferindo na insólita prosa? Mera inquietação, ou
intrigante conluio?
Quem quiser, que investigue minha obra, inquira-me nas ruas,
invente motivos para este involuntário desabafo. Pouco adianta inverterem a
responsabilidade.
Ao fim e ao cabo, pareço mero intrometido. Inoportuno
incendiário que não vê inquestionáveis avanços nos últimos 20, 30 anos.
Estarmos todos atrás de grades, por exemplo, é detalhe inócuo.
Certos mesmo estavam os rapazes do Ultraje a Rigor quando,
intensamente, repetiam: “inútil, a gente somos inútil!”.
Os pobres pagarão
Ilustração do fotógrafo português Miguel Castello |
“A prosperidade
de poucos amaldiçoa todos os outros”
Eduardo Galeano
O Brasil está doente. Nunca tão poucos conseguiram fazer uma
lambança gigante que afeta milhões - tanto os que acreditaram piamente nas
mentiras, como os que sempre suspeitaram que havia truta no governo. O país é
hoje um navio de vento em popa para o redemoinho político, fenômeno não climático,
mas de alta destruição. No torvelinho, todos os poderes serão envolvidos,
instituições, governos, entidades.
A dimensão do que se prevê nem pode ser dimensionada. Os
estragos, no entanto, desde já são visíveis em cada cidadão crente ou descrente
no governo de hoje que prometeu mudar.
São os doentes do corpo, da alma e do bolso que perambulam
por todo canto. Estamos enfastiados da corrupção, do descaso dos políticos, das
armações de companheiros, das obras que seriam para o progresso mas só fizxeram
progredir as contas bancários de políticos, agentes governamentais e
empreiteiros.
Na alma, se carrega a revolta, que nem adianta procurar uma
UPA para sanar o mal. O sistema de saúde tá no fundo do poço e é uma outra
caixa preta, voraz em mais provocar a doença do que curar.
Tudo o bolso limpo terá que pagar. Do bolso principalmente
do pobre, tão defendido por esses canastrões, sairá o rico dinheiro para saldar
a conta que nunca fizeram e custa-lhe os olhos da cara, a saúde, a vida.
No curto prazo, nada pode ser feito pela seca
Para o mineiro Léo Heller, futuro relator das Nações Unidas para o Direito à Água e ao Saneamento Básico, crise hídrica não tem solução imediata a não ser chuva e redução do consumo.
A crise hídrica no sudeste não tem solução a curto prazo a
não ser chuva e redução do consumo, afirma Léo Heller, futuro relator das
Nações Unidas para o Direito à Água e ao Saneamento Básico. A partir de 1º de
dezembro, o pesquisador e professor da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) vai substituir a portuguesa Catarina de Albuquerque na ONU. O mandato
dura três anos e pode ser renovado pelo mesmo período.
"Já estão adotando todas as medidas necessárias e
usando o volume morto do reservatório. No curto prazo, é muito difícil pensar
em outras soluções", afirmou Heller, em entrevista à DW Brasil.
Caso não chova nos próximos meses, alerta o engenheiro, a
situação pode ficar "dramática".
Ele considera que o volume de água desperdiçada ao longo do
sistema de abastecimento brasileiro "não é admissível". "Ao
invés de buscar novos mananciais, é mais ético trabalhar na redução dessas
perdas."
Heller é cauteloso ao falar do tratamento do esgoto para
transformação em água de reúso. Recentemente, o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, anunciou a construção de uma estação que irá empregar a
técnica, com o objetivo de aumentar a oferta de água.
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Faltam pontes para governo do PT mudar métodos
Em outubro, os discursos dos candidatos não estiveram à
altura do que o povo gritou em junho de 2013. Os eleitores não encontraram nas
urnas os desejos de mudanças que pediram nas ruas. É como se houvesse um
divórcio entre a vontade dos pés caminhando e as pontas dos dedos votando. A
campanha, especialmente no segundo turno, foi sobre o passado de cada
candidato, não sobre o futuro que eles ofereciam ao país. Os discursos e as
publicidades eram de louvação aos próprios candidatos ou de críticas e
difamações sobre os opositores.
Uma das ilusões da democracia é que o povo escolhe seus
dirigentes. Na verdade, o povo vota entre candidatos apresentados por seus
partidos. Não é difícil perceber que, por isso, muitos escolheram Dilma com
medo de Aécio, e muitos votaram em Aécio porque não queriam a continuidade de
Dilma. A opção estava em continuar com os mesmos dirigentes ou quebrar os
vícios dos últimos dez anos mudando os quadros no poder. E isso faria
diferença, mesmo sem significar mudança estrutural, porque uma das qualidades
da democracia é o constante recomeço do casamento entre os novos eleitos com os
eleitores, a cada quatro anos.
Depois de anos de corrupção, esgotamento das ginásticas
econômicas e desmoralização da contabilidade criativa, insuficiência das
medidas sociais, caos e descrédito na prática política e da volta da inflação,
o novo governo Dilma começa velho, como um casamento em crise. Junte-se a isso
a necessidade de enfrentar a herança maldita – que seu governo criou e sua
campanha escondeu –, tomando medidas que até dias antes acusava os opositores
de planejar contra os interesses do povo e do país, e o resultado é um governo
que se inicia sob desconfiança. Desta vez, a democracia não conseguiu fazer a
tradicional lua de mel posterior às eleições para troca de governo.
Esta é a realidade com a qual o Brasil vai ter de conviver
pelos próximos quatro anos, porque pior do que um governo sob desconfiança
seria o rompimento com um governo constitucionalmente estabelecido. Por isso, é
necessário o diálogo que a eleita propôs, mas para o qual a presidente ainda
não fez qualquer gesto.
Os desgastes do processo eleitoral – irresponsavelmente manobrado
por marqueteiros desejosos dos votos no dia da eleição, independentemente das
consequências para o futuro do país – exigem pontes, que não foram usadas no
primeiro mandato e foram destruídas no período eleitoral.
O Congresso Nacional, dividido em dezenas de minúsculos
clubes eleitorais, viciados em acordos barganhados, objetivando o poder pelo
poder, comprando ou vendendo apoio para o imediato, sem compromissos para mudar
o futuro, não construiu pontes com as ruas. E o novo governo começa cansado,
sem pontes nem terreno onde construí-las, passando a ideia de não querer mudar
seus propósitos nem sua prática, e falando em diálogo como uma promessa
atrasada de campanha.
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