quarta-feira, 22 de novembro de 2017
Direita e esquerda
A crise é deflagrada por um impeachment e pela descoberta da corrupção num governo de esquerda. O fato marcante é o assalto aos bens públicos fora dos polos canônicos – esquerda e direita. Não há como ignorar como a desonestidade desmanchou a solidez das polaridade políticas.
Enquanto a esquerda foi um lugar na topografia política inaugurada com a Revolução Francesa, como mostrou J. A. Laponce num livro notável, não havia novidade. Mas, quando ela chega ao poder, cabe discutir como e onde sua moralidade fica semelhante à de uma cavernária direita.
Um governo de esquerda decepciona justamente por sua semelhança com a direita no que tange a ineficiência pública e a corrupção. Se a prova do pudim está em comê-lo, a esquerda não mudou a receita e governou seguindo as mesma práticas sociais que dominam o campo da política – um campo dinamizado mais pelos relacionamentos e favores pessoais do que por princípios ideológicos.
Era correto, entretanto, entender a história nessa chave desde que a esquerda não desempenhasse o papel da direita. A troca de lugar – esse movimento democrático – foi um avanço, pois democratizou também a esquerda. Ela deixou a lista negra e passou a fazer suas listas negras. No governo, foi obrigada a abandonar o “quanto pior, melhor” e exibiu poderosos e fracos no seu próprio espaço. Perdeu a inocência.
Até onde a dualidade entre esquerda e direita disfarça hierarquias? Num ensaio famoso e em outro contexto, Lévi-Strauss questiona se as organizações dualistas existem – ou seriam um modo de esconder hierarquias. Tal ocorreu quando a França revolucionária acabou com aristocracia, clero e povo e reduziu tudo a uma dualidade. Quem era contra o rei, ficava à esquerda; os que o sustentavam, à direta.
É prático, como sugere Laponce, reduzir o complexo campo da política à polaridade das mãos. Afinal, vive-se sem uma das mãos – como revelam os despotismos de direita e de esquerda –, mas não se caminha sem os pés ou sem a cabeça. A polaridade entre esquerda e direita integra diferenças porque suprime relações e estabelece, como mostrou Hertz, o destaque da mão direita. Mas, como ensina Dumont, não podemos esquecer que as mãos, distintas num juramento, juntam-se numa prece. São interdependentes.
Minha geração viu realizado o sonho de ter a esquerda no poder e observou desencantada como as peculiaridades do Estado à brasileira, associado a práticas sociais como o familismo e o favor, a transformaram em direita. Nela, vimos também surgir uma selvagem corrupção. Um hóspede sempre convidado do poder nacional, mas lamentavelmente escancarado pela esquerda.
Temo que, fora do poder, esquerda e direita se diferenciem, mas tal não ocorre quando elas se mudam para o palácio. Nele, o eleito tem que lidar com a matriz hierárquica nacional, com seu atávico e engenhoso legalismo a qual lhe assegura uma capacidade de mando maior do que esperava. Tal matriz tem feito milagres no Brasil. Se ela foi capaz de ordenar eleição com escravismo, por que não seria igualmente competente para conciliar austeridade socialista com riqueza capitalista? Além disso, o palácio tem suas portas abertas aos movimentos populares e aos projetos milionários. Governar, logo se descobre, é criar elos e fazer amizades cruzadas. Não é, pois, sem espanto que descobrimos como o político atua por meio de um espesso tecido de favores pessoais amparado por um igualmente denso e arcaico legalismo de cunho teológico, destinado a criar e manter privilégios.
Resumo da ópera: além da luta de classes, temos que nos haver com o combate entre o bom senso e um arraigado fetichismo legal. Com ele, mascaramos crimes e garantimos impunidade. Hoje, fica muito claro que eleições livres e competitivas não consagram apenas representantes do povo, mas também fazem com que os eleitos pelo povo entrem numa casta – fiquem além da lei. Quem deveria dar o exemplo de cidadania é tentado a virar mestre de mistificação e oportunismo. E aqui, caros leitores, as mãos lamentavelmente se unem e se igualam embolsando dinheiros...
Enquanto a esquerda foi um lugar na topografia política inaugurada com a Revolução Francesa, como mostrou J. A. Laponce num livro notável, não havia novidade. Mas, quando ela chega ao poder, cabe discutir como e onde sua moralidade fica semelhante à de uma cavernária direita.
Um governo de esquerda decepciona justamente por sua semelhança com a direita no que tange a ineficiência pública e a corrupção. Se a prova do pudim está em comê-lo, a esquerda não mudou a receita e governou seguindo as mesma práticas sociais que dominam o campo da política – um campo dinamizado mais pelos relacionamentos e favores pessoais do que por princípios ideológicos.
*
Antigamente a “direita” significava manter o “status quo” que a “esquerda” queria mudar. Minha geração tinha como ideal reduzir a distância entre os poucos com muito e a multidão empobrecida. Até meu reacionário e alienado pai entendia isso, embora ponderasse que relativizar a propriedade seria promover o terremoto que derrubaria tanto o sistema quanto a nossa casa.Era correto, entretanto, entender a história nessa chave desde que a esquerda não desempenhasse o papel da direita. A troca de lugar – esse movimento democrático – foi um avanço, pois democratizou também a esquerda. Ela deixou a lista negra e passou a fazer suas listas negras. No governo, foi obrigada a abandonar o “quanto pior, melhor” e exibiu poderosos e fracos no seu próprio espaço. Perdeu a inocência.
*
Até onde a dualidade entre esquerda e direita disfarça hierarquias? Num ensaio famoso e em outro contexto, Lévi-Strauss questiona se as organizações dualistas existem – ou seriam um modo de esconder hierarquias. Tal ocorreu quando a França revolucionária acabou com aristocracia, clero e povo e reduziu tudo a uma dualidade. Quem era contra o rei, ficava à esquerda; os que o sustentavam, à direta.
É prático, como sugere Laponce, reduzir o complexo campo da política à polaridade das mãos. Afinal, vive-se sem uma das mãos – como revelam os despotismos de direita e de esquerda –, mas não se caminha sem os pés ou sem a cabeça. A polaridade entre esquerda e direita integra diferenças porque suprime relações e estabelece, como mostrou Hertz, o destaque da mão direita. Mas, como ensina Dumont, não podemos esquecer que as mãos, distintas num juramento, juntam-se numa prece. São interdependentes.
*
Minha geração viu realizado o sonho de ter a esquerda no poder e observou desencantada como as peculiaridades do Estado à brasileira, associado a práticas sociais como o familismo e o favor, a transformaram em direita. Nela, vimos também surgir uma selvagem corrupção. Um hóspede sempre convidado do poder nacional, mas lamentavelmente escancarado pela esquerda.
*
Temo que, fora do poder, esquerda e direita se diferenciem, mas tal não ocorre quando elas se mudam para o palácio. Nele, o eleito tem que lidar com a matriz hierárquica nacional, com seu atávico e engenhoso legalismo a qual lhe assegura uma capacidade de mando maior do que esperava. Tal matriz tem feito milagres no Brasil. Se ela foi capaz de ordenar eleição com escravismo, por que não seria igualmente competente para conciliar austeridade socialista com riqueza capitalista? Além disso, o palácio tem suas portas abertas aos movimentos populares e aos projetos milionários. Governar, logo se descobre, é criar elos e fazer amizades cruzadas. Não é, pois, sem espanto que descobrimos como o político atua por meio de um espesso tecido de favores pessoais amparado por um igualmente denso e arcaico legalismo de cunho teológico, destinado a criar e manter privilégios.
Resumo da ópera: além da luta de classes, temos que nos haver com o combate entre o bom senso e um arraigado fetichismo legal. Com ele, mascaramos crimes e garantimos impunidade. Hoje, fica muito claro que eleições livres e competitivas não consagram apenas representantes do povo, mas também fazem com que os eleitos pelo povo entrem numa casta – fiquem além da lei. Quem deveria dar o exemplo de cidadania é tentado a virar mestre de mistificação e oportunismo. E aqui, caros leitores, as mãos lamentavelmente se unem e se igualam embolsando dinheiros...
Moscas sem asas
Após a votação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), lembrei-me de uma das composições do Skank: “Indignação”. Diz o refrão: “Eu fiquei indignado, ele ficou indignado, a massa indignada, duro de tão indignado. A nossa indignação é uma mosca sem asas, não ultrapassa as janelas de nossas casas”.
De fato, pouca gente estava nas cercanias da Alerj e ninguém nas galerias, a não ser uns puxa-sacos do bando. Até a oficial de Justiça que tentou entregar um mandado para que o circo fosse público foi barrada. Em 17 minutos, 39 deputados restituíram o mandato de três colegas presos acusados por corrupção.
Em momentos assim, as vítimas são a Justiça, a democracia e a nossa esperança de viver em um país mais digno. Como dizia o educador Paulo Freire, “num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário”.
A população — tal como um lutador de boxe nocauteado após muito apanhar — ficou indiferente à votação, até porque já previa o resultado.
O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu a porta da impunidade aos políticos ao transferir para o Legislativo a decisão sobre o afastamento do senador Aécio, em noite que culminou com um voto atabalhoado da ministra Cármen Lúcia.
Nessa brecha, corruptos já voltaram à vida pública também no Rio Grande do Norte e em Mato Grosso. Caberá à Suprema Corte deixar claro se todo o Legislativo poderá cometer crimes e ficar impune ou se essa é uma prerrogativa exclusiva dos parla mentares federais. Por enquanto, pelo mesmo ralo onde passa um corrupto federal, passam quadrilhas estaduais. O esgoto é o mesmo.
A Lava-Jato mostrou que a corrupção brasileira não é apenas episódica, do tipo que existe em todos os países e é combatida com transparência, controle social e educação de qualidade.
No país há várias quadrilhas estruturadas — que precisam ser extirpadas — compostas por políticos, agentes públicos e empresários, tendo como alvo negócios bilionários do Estado, sejam contratos, subsídios, isenções fiscais, concessões, financiamentos, autorizações tarifárias e tudo o mais que possa gerar propina.
No Rio de Janeiro, porém, o roubo foi potencializado a partir do momento em que políticos com interesses comuns passaram a ter domínio sobre o estado, a prefeitura, a Alerj e, inclusive, o Tribunal de Contas. Assim, ficaram reunidos sob o mesmo comando quem legisla, contrata, executa, paga e fiscaliza, um verdadeiro paraíso para os corruptos.
Daí a importância de se alterarem as legislações que permitem o vaivém de políticos entre o Legislativo e o Executivo, bem como a composição dos tribunais de contas de forma a impedir a politização.
Mas tal como aconteceu com a operação Mãos Limpas, ocorrida na Itália, a Lava-Jato está ameaçada desde quando as investigações atingiram as oligarquias políticas.
Assim, no Congresso está em curso a CPI da JBS, que tem como alvo principal o Ministério Público. Na Câmara, tramita o projeto de abuso de autoridade, que tenta constranger promotores e juízes. Outras propostas alteram a Lei da Ficha Limpa e impedem a delação de presos.
No STF, a qualquer momento pode ser rediscutida a prisão a partir da condenação em segunda instância e já existem objeções para homologação das delações premiadas. O foro privilegiado continua a ser um passaporte para a impunidade.
No Executivo, as designações da Procuradora-Geral da República e do diretor-geral da Polícia Federal geraram receios por terem contado com o apoio ou a indicação de investigados.
Ambos manifestaram preocupação com os “vazamentos”, enquanto a sociedade está preocupada é com maior publicidade. Em se tratando de homens públicos, é essencial termos conhecimento do inteiro teor das denúncias/delações, dos argumentos de defesa, da tramitação das ações e dos julgamentos.
Desde que a transparência não prejudique o aprofundamento das apurações, não há razão para sigilo.
Em alguns meses saberemos se as instituições estão realmente funcionando e atuando em defesa do Estado, ou se os brasileiros estão fadados a permanecerem comandados por uma corja de políticos sem escrúpulos que governa, legisla e indica ministros para tribunais superiores para que sirvam aos seus interesses.
Voltando ao Skank, precisamos ir além das moscas sem asas. Fazer com que a nossa indignação ultrapasse as janelas das nossas casas e chegue às ruas e às urnas. Tal como dizia Santo Agostinho, a esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.
Gil Castello Branco
De fato, pouca gente estava nas cercanias da Alerj e ninguém nas galerias, a não ser uns puxa-sacos do bando. Até a oficial de Justiça que tentou entregar um mandado para que o circo fosse público foi barrada. Em 17 minutos, 39 deputados restituíram o mandato de três colegas presos acusados por corrupção.
Em momentos assim, as vítimas são a Justiça, a democracia e a nossa esperança de viver em um país mais digno. Como dizia o educador Paulo Freire, “num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário”.
A população — tal como um lutador de boxe nocauteado após muito apanhar — ficou indiferente à votação, até porque já previa o resultado.
O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu a porta da impunidade aos políticos ao transferir para o Legislativo a decisão sobre o afastamento do senador Aécio, em noite que culminou com um voto atabalhoado da ministra Cármen Lúcia.
Nessa brecha, corruptos já voltaram à vida pública também no Rio Grande do Norte e em Mato Grosso. Caberá à Suprema Corte deixar claro se todo o Legislativo poderá cometer crimes e ficar impune ou se essa é uma prerrogativa exclusiva dos parla mentares federais. Por enquanto, pelo mesmo ralo onde passa um corrupto federal, passam quadrilhas estaduais. O esgoto é o mesmo.
A Lava-Jato mostrou que a corrupção brasileira não é apenas episódica, do tipo que existe em todos os países e é combatida com transparência, controle social e educação de qualidade.
No país há várias quadrilhas estruturadas — que precisam ser extirpadas — compostas por políticos, agentes públicos e empresários, tendo como alvo negócios bilionários do Estado, sejam contratos, subsídios, isenções fiscais, concessões, financiamentos, autorizações tarifárias e tudo o mais que possa gerar propina.
No Rio de Janeiro, porém, o roubo foi potencializado a partir do momento em que políticos com interesses comuns passaram a ter domínio sobre o estado, a prefeitura, a Alerj e, inclusive, o Tribunal de Contas. Assim, ficaram reunidos sob o mesmo comando quem legisla, contrata, executa, paga e fiscaliza, um verdadeiro paraíso para os corruptos.
Daí a importância de se alterarem as legislações que permitem o vaivém de políticos entre o Legislativo e o Executivo, bem como a composição dos tribunais de contas de forma a impedir a politização.
Mas tal como aconteceu com a operação Mãos Limpas, ocorrida na Itália, a Lava-Jato está ameaçada desde quando as investigações atingiram as oligarquias políticas.
Assim, no Congresso está em curso a CPI da JBS, que tem como alvo principal o Ministério Público. Na Câmara, tramita o projeto de abuso de autoridade, que tenta constranger promotores e juízes. Outras propostas alteram a Lei da Ficha Limpa e impedem a delação de presos.
No STF, a qualquer momento pode ser rediscutida a prisão a partir da condenação em segunda instância e já existem objeções para homologação das delações premiadas. O foro privilegiado continua a ser um passaporte para a impunidade.
No Executivo, as designações da Procuradora-Geral da República e do diretor-geral da Polícia Federal geraram receios por terem contado com o apoio ou a indicação de investigados.
Ambos manifestaram preocupação com os “vazamentos”, enquanto a sociedade está preocupada é com maior publicidade. Em se tratando de homens públicos, é essencial termos conhecimento do inteiro teor das denúncias/delações, dos argumentos de defesa, da tramitação das ações e dos julgamentos.
Desde que a transparência não prejudique o aprofundamento das apurações, não há razão para sigilo.
Em alguns meses saberemos se as instituições estão realmente funcionando e atuando em defesa do Estado, ou se os brasileiros estão fadados a permanecerem comandados por uma corja de políticos sem escrúpulos que governa, legisla e indica ministros para tribunais superiores para que sirvam aos seus interesses.
Voltando ao Skank, precisamos ir além das moscas sem asas. Fazer com que a nossa indignação ultrapasse as janelas das nossas casas e chegue às ruas e às urnas. Tal como dizia Santo Agostinho, a esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.
Gil Castello Branco
O que falta o diretor da Polícia Fwderal esclarecer...
Roga-se ao delegado Fernando Segóvia, novo diretor-geral da Polícia Federal, que esclareça algumas questões que ficaram no ar depois do seu discurso de posse, anteontem.
Sobre a mala, por exemplo. Ele disse que uma mala, como a carregada em São Paulo pelo ex-deputado Rocha Loures, não bastava para caracterizar crime de corrupção. De acordo. Mas...
Quando foi filmado com a mala, Rocha Loures era deputado do PMDB do Paraná e assessor especial do presidente Michel Temer. A mala continha R$ 500 mil em dinheiro vivo.
Isso poderia sugerir algo suspeito, Segóvia? Suspeito o suficiente para ser investigado? Ou não? Ou um deputado pode transitar impunemente por aí com uma mala cheia de dinheiro?
Até que pode, mas não é seguro. Quem se arriscaria a fazê-lo em um país onde bandidos assaltam e matam impunemente? Esse Rocha Loures seria um temerário, o que nada tem a ver com Temer.
Bem, mas ao que se sabe, apurado pela própria Polícia Federal, Rocha Loures acabara de receber a mala das mãos de um alto executivo do Grupo J&S que, por sinal, estava sob a mira da polícia.
Sabe-se também, por confissão do executivo que se tornou um delator, que o dinheiro dentro da mala foi dado a Rocha Loures a título de pagamento de propina. Êpa, Segóvia.
Aí não haveria um forte indício, quase diria uma prova, de crime de corrupção? De crime de corrupção cometido pelo corruptor e pelo corrompido, faltando averiguar quem corrompeu quem?
A cena do deputado correndo com uma mala de dinheiro deu-se na sequência de um encontro entre o presidente da República e o dono do grupo cujo executivo presentou Rocha Loures com a mala.
Foi durante esse encontro que o dono do grupo falou ao presidente que tinha pendências com o governo. E ouviu como resposta que se entendesse com Rocha Loures, seu homem de confiança.
Ôpa! Convenhamos, Segóvia: não lhe parece que a mala em questão há muito deixara de ser apenas uma mala, simplesmente uma mala, acima de qualquer suspeita como, de resto, o seu carregador?
Sim, a quem se destinava a mala? A Rocha Loures? Teria ele traído a confiança do presidente e achacado dinheiro para facilitar o acerto de pendências do Grupo J&S com o governo? Pobre Temer!
Uma vez filmado carregando a mala, Rocha Loures devolveu-a aos cuidados da Polícia Federal. Mas ficou com R$ 35 mil do total de R$ 500 mil. Devolveu-os depois. Teria sido sua comissão no negócio?
Se fosse, o resto do dinheiro não lhe caberia. A quem caberia, Segóvia? Tudo bem que nos últimos dois anos você viveu na África do Sul, distante do que se passava por aqui.
Mas deve ter conservado seu faro de bom policial. Tão bom policial que acabou promovido ao mais alto posto de sua carreira. Não podem lhe faltar méritos para tal.
Segóvia: ainda está em tempo de desfazer a péssima impressão que deixou no dia mais importante de sua vida até aqui. Revise a teoria da mala que nada prova.
Traia a confiança dos que lhe indicaram para o cargo – o PMDB de Sarney, Renan, Jucá, e sabe-se lá mais quem. Cumpra com o dever que seu cargo lhe impõe.
Sobre a mala, por exemplo. Ele disse que uma mala, como a carregada em São Paulo pelo ex-deputado Rocha Loures, não bastava para caracterizar crime de corrupção. De acordo. Mas...
Quando foi filmado com a mala, Rocha Loures era deputado do PMDB do Paraná e assessor especial do presidente Michel Temer. A mala continha R$ 500 mil em dinheiro vivo.
Até que pode, mas não é seguro. Quem se arriscaria a fazê-lo em um país onde bandidos assaltam e matam impunemente? Esse Rocha Loures seria um temerário, o que nada tem a ver com Temer.
Bem, mas ao que se sabe, apurado pela própria Polícia Federal, Rocha Loures acabara de receber a mala das mãos de um alto executivo do Grupo J&S que, por sinal, estava sob a mira da polícia.
Sabe-se também, por confissão do executivo que se tornou um delator, que o dinheiro dentro da mala foi dado a Rocha Loures a título de pagamento de propina. Êpa, Segóvia.
Aí não haveria um forte indício, quase diria uma prova, de crime de corrupção? De crime de corrupção cometido pelo corruptor e pelo corrompido, faltando averiguar quem corrompeu quem?
A cena do deputado correndo com uma mala de dinheiro deu-se na sequência de um encontro entre o presidente da República e o dono do grupo cujo executivo presentou Rocha Loures com a mala.
Foi durante esse encontro que o dono do grupo falou ao presidente que tinha pendências com o governo. E ouviu como resposta que se entendesse com Rocha Loures, seu homem de confiança.
Ôpa! Convenhamos, Segóvia: não lhe parece que a mala em questão há muito deixara de ser apenas uma mala, simplesmente uma mala, acima de qualquer suspeita como, de resto, o seu carregador?
Sim, a quem se destinava a mala? A Rocha Loures? Teria ele traído a confiança do presidente e achacado dinheiro para facilitar o acerto de pendências do Grupo J&S com o governo? Pobre Temer!
Uma vez filmado carregando a mala, Rocha Loures devolveu-a aos cuidados da Polícia Federal. Mas ficou com R$ 35 mil do total de R$ 500 mil. Devolveu-os depois. Teria sido sua comissão no negócio?
Se fosse, o resto do dinheiro não lhe caberia. A quem caberia, Segóvia? Tudo bem que nos últimos dois anos você viveu na África do Sul, distante do que se passava por aqui.
Mas deve ter conservado seu faro de bom policial. Tão bom policial que acabou promovido ao mais alto posto de sua carreira. Não podem lhe faltar méritos para tal.
Segóvia: ainda está em tempo de desfazer a péssima impressão que deixou no dia mais importante de sua vida até aqui. Revise a teoria da mala que nada prova.
Traia a confiança dos que lhe indicaram para o cargo – o PMDB de Sarney, Renan, Jucá, e sabe-se lá mais quem. Cumpra com o dever que seu cargo lhe impõe.
Ao restabelecer prisões TRF-2 dá aula ao STF
Em decisão unânime —5 votos a 0—, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região restabeleceu a ordem de prisão contra três caciques do PMDB do Rio de Janeiro: Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi. Com essa decisão, os desembargadores do TRF-2 deram uma lição ao Supremo Tribunal Federal. Ensinaram o seguinte: quando a Justiça não faz da roubalheira uma oportunidade para impor a lei, os tribunais viram uma oportunidade que os larápios aproveitam.
Presos na semana passada, os três xamãs do PMDB fluminense foram libertados por decisão da Assembleia Legislativa do Rio. Abriram-se as celas sem que ao menos o TRF-2 fosse comunicado sobre a revogação de sua decisão. Nesta terça-feira, ao discorrer sobre a encrenca, um dos desembargadores do tribunal, Paulo Espírito Santo, disse ter enxergado as imagens dos deputados deixando o presídio de carro, sem ordem judicial, como “um resgate de filme de faroeste.”
O doutor resumiu assim a cena: “Acabo de ver, na sexta-feira passada, algo que nunca imaginei ver na vida. Nunca vi uma coisa dessas. Não há democracia sem Poder Judiciário. Quando vi aquele episódio, que a Casa Legislativa deliberou de forma absolutamente ilegítima, e soltou as pessoas que tinham sido presas por uma Corte federal, pensei: o que o povo do Brasil vai pensar disso? Pra quê juiz? Pra quê Ministério Público? Pra quê advogado? Se isso continuar a ocorrer, ninguém mais acreditará no Judiciário. O que aconteceu foi estarrecedor. Que país é esse?”
O desembargador Espírito Santo não disse, talvez por cautela, mas o Brasil virou um país em que a Suprema Corte às vezes fica de cócoras quando o Poder Legislativo faz cara feia. Assim procedeu ao lavar as mãos no caso do tucano Aécio Neves, autorizando o Senado a anular sanções cautelares como a suspensão do mandato e o recolhimento domiciliar noturno. Conforme já noticiado aqui, o STF tinha a exata noção de que abria um precedente que não passaria em branco nos Estados.
O debate sobre as prerrogativas dos legislativos para revogar prisões e sanções impostas a parlamentares federais e estaduais ainda vai dar muito pano para a manga. No Rio, a maioria cúmplice da Assembleia não há de ficar inerte. Farejando o cheiro de queimado, outro desembargador, Abel Gomes, mencionou inclusive a hipótese de o TRF-2 requerer ao STF intervenção federal na Assembleia fluminense.
A confusão certamente chegará ao Supremo, oferecendo aos ministros a oportunidade de se reposicionar em cena. Sob pena de desmoralização do Judiciário. Na antessala das urnas de 2018, não restará ao brasileiro senão a alternativa de praguejar na cabine de votação: ''Livrai-me da Justiça, que dos corruptos me livro eu.''
Presos na semana passada, os três xamãs do PMDB fluminense foram libertados por decisão da Assembleia Legislativa do Rio. Abriram-se as celas sem que ao menos o TRF-2 fosse comunicado sobre a revogação de sua decisão. Nesta terça-feira, ao discorrer sobre a encrenca, um dos desembargadores do tribunal, Paulo Espírito Santo, disse ter enxergado as imagens dos deputados deixando o presídio de carro, sem ordem judicial, como “um resgate de filme de faroeste.”
O doutor resumiu assim a cena: “Acabo de ver, na sexta-feira passada, algo que nunca imaginei ver na vida. Nunca vi uma coisa dessas. Não há democracia sem Poder Judiciário. Quando vi aquele episódio, que a Casa Legislativa deliberou de forma absolutamente ilegítima, e soltou as pessoas que tinham sido presas por uma Corte federal, pensei: o que o povo do Brasil vai pensar disso? Pra quê juiz? Pra quê Ministério Público? Pra quê advogado? Se isso continuar a ocorrer, ninguém mais acreditará no Judiciário. O que aconteceu foi estarrecedor. Que país é esse?”
O desembargador Espírito Santo não disse, talvez por cautela, mas o Brasil virou um país em que a Suprema Corte às vezes fica de cócoras quando o Poder Legislativo faz cara feia. Assim procedeu ao lavar as mãos no caso do tucano Aécio Neves, autorizando o Senado a anular sanções cautelares como a suspensão do mandato e o recolhimento domiciliar noturno. Conforme já noticiado aqui, o STF tinha a exata noção de que abria um precedente que não passaria em branco nos Estados.
O debate sobre as prerrogativas dos legislativos para revogar prisões e sanções impostas a parlamentares federais e estaduais ainda vai dar muito pano para a manga. No Rio, a maioria cúmplice da Assembleia não há de ficar inerte. Farejando o cheiro de queimado, outro desembargador, Abel Gomes, mencionou inclusive a hipótese de o TRF-2 requerer ao STF intervenção federal na Assembleia fluminense.
A confusão certamente chegará ao Supremo, oferecendo aos ministros a oportunidade de se reposicionar em cena. Sob pena de desmoralização do Judiciário. Na antessala das urnas de 2018, não restará ao brasileiro senão a alternativa de praguejar na cabine de votação: ''Livrai-me da Justiça, que dos corruptos me livro eu.''
A hora da Previdência, que foi resultado de muitas lutas históricas
Os poetas sabem das coisas. Fernando Pessoa, como poucos: – “O homem e a hora são um só / quando Deus faz e a historia é feita / O mais é carne, cujo pó / a terra espreita”. Os três acabam sendo uma coisa só: o homem, a hora e a história. A história é a hora acontecendo. Na hora, o homem faz a história acontecer. Com as lutas do homem, a história vai surgindo do ventre do tempo.
Cada passo dado no Brasil, ao longo de dois séculos, para construir a Previdência Social, foi fruto de todo um longo e penoso processo, permanente e irreversível. Cada fato precedido de muitas e muitas lutas.
Cada passo dado no Brasil, ao longo de dois séculos, para construir a Previdência Social, foi fruto de todo um longo e penoso processo, permanente e irreversível. Cada fato precedido de muitas e muitas lutas.
É uma bela história, que ninguém contou melhor do que uma brilhante equipe do ministério da Previdência, comandada por Jorceli Pereira de Sousa, que pesquisou, organizou, escreveu, em 2002, com seus companheiros Mônica Cabañas Guimarães, Vinicius Carvalho Pinheiro, Delubio Gomes Pereira da Silva, Tereza Augusta dos Santos Ouro e Francisco Orru de Azevedo, o livro “Os 80 Anos da Previdência Social”.
Os três grandes marcos da Previdência no Brasil são a lei do paulista EloY Chaves, de 1923, governo de Artur Bernardes, a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (e Previdência), por Lindolpho Collor (avô de Fernando Collor), na “revolução” de 30, governo de Vargas, e a Lei Orgânica da Previdência Social (nº 3.807) de 1960, governo de Juscelino, projeto do inesquecível deputado Aluizio Alves, do Rio Grande do Norte.
Os três grandes marcos da Previdência no Brasil são a lei do paulista EloY Chaves, de 1923, governo de Artur Bernardes, a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (e Previdência), por Lindolpho Collor (avô de Fernando Collor), na “revolução” de 30, governo de Vargas, e a Lei Orgânica da Previdência Social (nº 3.807) de 1960, governo de Juscelino, projeto do inesquecível deputado Aluizio Alves, do Rio Grande do Norte.
Mas as Nações não caem do céu, como estrelas. Para cada vitória, sempre muitas lutas. A primeira medida governamental com efeito prático foi o decreto 9.912, de 26 de março de 1888, regulamentando o direito à aposentadoria dos empregados dos Correios. Também em 1888, foi criada uma Caixa de Socorros em cada uma das Estradas de Ferro do Império.
Ainda nos fins do século XIX, foram instituídos o Fundo de Pensões do Pessoal das Oficinas de Imprensa, a aposentadoria para os empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil, posteriormente estendida a todos os ferroviários, o Montepio Obrigatório dos empregados do ministério da Fazenda e a aposentadoria por invalidez e pensão por morte para os operários do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro e seus dependentes.
Era a Previdencia Social engatinhando.
Ainda nos fins do século XIX, foram instituídos o Fundo de Pensões do Pessoal das Oficinas de Imprensa, a aposentadoria para os empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil, posteriormente estendida a todos os ferroviários, o Montepio Obrigatório dos empregados do ministério da Fazenda e a aposentadoria por invalidez e pensão por morte para os operários do Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro e seus dependentes.
Era a Previdencia Social engatinhando.
Em 1894, José Joaquim de Campos da Costa Medeiros e Albuquerque, senador por Pernambuco, apresentou projeto criando um seguro contra acidentes do trabalho.
Em 1908, o sergipano Mauricio Graco Cardoso, e o paulista Altino Arantes, depois presidente de São Paulo, de 1916 a 20, também apresentaram projetos criando o seguro de acidentes do trabalho.
Em 1917, o deputado Mauricio de Lacerda, do Rio (1912 a 20), jornalista, vereador e prefeito de Vassouras, pai de Carlos Lacerda, defensor das lutas e greves dos operários, um dos fundadores da Liga Socialista, havia apresentado um projeto criando o Código do Trabalho, estabelecendo, entre outras medidas, carga horária de 8 horas diárias de trabalho e proibição de trabalho aos menores de 14 anos.
Todo o empresariado (como sempre, no Brasil) ficou logo contra o projeto de Mauricio de Lacerda, que não foi adiante. Mas Fernando Pessoa sabe mais do que a CNI, a Fiesp, a Firjan e todos os dinossauros patronais: – “O homem e a hora são um só, quando Deus faz e a historia é feita”
Como o poeta, o povo também sabe: o Bolsa Família é a Aposentadoria dos pobres e a Previdência dos miseráveis.
Em 1908, o sergipano Mauricio Graco Cardoso, e o paulista Altino Arantes, depois presidente de São Paulo, de 1916 a 20, também apresentaram projetos criando o seguro de acidentes do trabalho.
Em 1917, o deputado Mauricio de Lacerda, do Rio (1912 a 20), jornalista, vereador e prefeito de Vassouras, pai de Carlos Lacerda, defensor das lutas e greves dos operários, um dos fundadores da Liga Socialista, havia apresentado um projeto criando o Código do Trabalho, estabelecendo, entre outras medidas, carga horária de 8 horas diárias de trabalho e proibição de trabalho aos menores de 14 anos.
Todo o empresariado (como sempre, no Brasil) ficou logo contra o projeto de Mauricio de Lacerda, que não foi adiante. Mas Fernando Pessoa sabe mais do que a CNI, a Fiesp, a Firjan e todos os dinossauros patronais: – “O homem e a hora são um só, quando Deus faz e a historia é feita”
Como o poeta, o povo também sabe: o Bolsa Família é a Aposentadoria dos pobres e a Previdência dos miseráveis.
O segredo de Lula
Lula acaba de afirmar que “não vai ser difícil ganhar as eleições” e já prepara novas caravanas pelo país, desta vez no Estado do Rio. Esconde Lula algum segredo para demonstrar essa certeza? Por que as eleições presidenciais de 2018 estão, de fato, tão fortemente condicionadas a que ele possa ou não ser candidato? Existe um consenso de que a presença de Lula no cenário político brasileiro perseguirá este país enquanto viver, livre ou na prisão. Apesar de todas as acusações e condenações por corrupção que recaem sobre ele, ninguém se atreve a dá-lo por morto politicamente, porque um de cada três eleitores continua sendo seu, considerem-no ou não culpado. A causa dos pobres segue com ele.
O segredo da imortalidade política de Lula talvez resida em ser tão bom psicólogo como político. Sua sensibilidade para conhecer os ângulos mais obscuros e as fraquezas dos outros não é fruto de estudos acadêmicos. É um dom dele, desde que se destacou como jovem líder sindicalista. O jornalista José Nêumanne Pinto, autor do livro O Que Sei de Lula, e que o acompanhou dia após dia desde que começou a se sobressair no sindicato, narra uma característica que o revelava como alguém com grande olfato para saber o que as plateias às quais se dirigia gostavam de escutar. Começava a tratar de um tema e se via que não empolgava logo mudava de assunto, até encontrar algo que despertava os ouvintes, embora fosse o contrário do que havia começado a falar.
Não sei se Lula é o melhor estrategista do Brasil. Talvez não seja no sentido acadêmico do termo, mas sim como “olfato político”. Como os cães de caça que rastreiam a presa, Lula sabe descobrir onde o sapato aperta nos outros e o que cada público deseja escutar, como fazia quando jovem sindicalista. Não importa que possa parecer contraditório, o importante é contentar todos ao mesmo tempo.
Lembro-me que quando ainda não conhecia bem esse lado psicológico natural de Lula fiquei surpreso um dia em que, já presidente, pela manhã falou em São Paulo a uma plateia de empresários que se queixavam da lentidão do Congresso em aprovar as leis. Lula entendeu e lhes disse: “Não me tentem porque tenho um demônio que a cada vez que me levanto me pede: ‘Lula, feche o Congresso!’” É o que queriam escutar aqueles empresários. Coincidentemente, à tarde teve de falar no Congresso, que celebrava não recordo que aniversário de sua criação. Lula, que só aguentou um ano como deputado porque não gostava daquele ambiente, fez naquela tarde uma grande defesa do Parlamento como indispensável à democracia.
Aos banqueiros ele provocava: “Vocês nunca ganharam tanto dinheiro como comigo”. Era verdade. A banca sempre gostou de Lula. No país profundo, no Nordeste pobre, dizia a seus seguidores cobras e lagartos contra os ricos que “os impediam de sair da pobreza”. Lula pôde ser sempre ele e o contrário. E com uma característica capaz de aglutinar consensos: que nunca foi extremista, como bem ressaltou meu colega Xosé Hermida aqui, em um de seus artigos. Foi talvez esse seu maior acerto político. Para sair do dilema paralisante da ideologia, Lula alcunhou uma definição de si mesmo que lhe trouxe sucesso: “Eu não sou nem de esquerda nem de direita: sou só sindicalista”. Com isso se colocava acima das intrigas entre os dos dois lados para se propor como do partido dos trabalhadores, que engloba a todos nós.
Essa obsessão por não aparecer como extremista observei na primeira vez que no Planalto me encontrei com ele, com outros cinco correspondentes estrangeiros, para uma entrevista. Estava para chegar ao Brasil para se encontrar com ele José María Aznar, então primeiro-ministro espanhol, do partido direitista PP. Quando a entrevista acabou, me levou a um canto da sala e me perguntou: “Acha que Aznar pensa que sou de extrema esquerda?” Quando se encontrou com ele, a primeira coisa que lhe disse foi: “Nem você, Aznar, é tão de direita como dizem na Espanha nem eu tão de esquerda como pensam aqui”. Sua preocupação sempre foi poder sentar-se a todas as mesas do poder sem se importar com a cor da toalha.
Dias atrás, Lula, à espera de ainda poder voltar ao poder, disse: “nem Bolsonaro é de extrema direita nem eu sou de extrema esquerda”. Sempre presente sua obsessão de não parecer extremista. Lula sabe que aos pobres não interessa sua ideologia, mas, sim, que o sintam como aliado, enquanto aos ricos basta saber que não é um Maduro. Nunca lhes infundiu medo. Estava sempre à vontade com eles.
Ninguém é mais hábil que Lula para saber jogar ao mesmo tempo com vários baralhos e fazer ver que todos ganham. Sabe do que gostam uns e outros, e seu método é tratar de contentar a todos. É outro de seus segredos. Nêumanne também conta isso em seu livro: “Lula aplicou, com grande êxito, seu enorme talento de fazer amigos e influenciar pessoas, adotando o comportamento incomum de ouvir a todos, aparentemente concordar com cada um e nunca deixar o interlocutor com a sensação de sua discordância, mas nunca desistiu de sua posição politicamente conservadora, ou melhor de sua posição pragmática”.
Dois casos emblemáticos de como Lula tentava, por exemplo, bajular os pobres e os ricos ao mesmo tempo: costumava dizer que os hospitais públicos brasileiros eram tão bons e modernos que as pessoas até queriam ficar doentes para poderem ser internadas. Não era verdade, mas os pobres gostavam de ouvir isso. Dizia também que com ele os pobres no Brasil já “podiam viajar de avião e ir de férias para Bariloche, na Argentina” e que o problema era que os ricos não queriam viajar em um avião ao lado de um pobre de chinelos. Não era verdade, mas os pobres se sentiram lisonjeados e os ricos não ficaram ofendidos porque sabiam que Lula, desde que deixou a presidência, nunca tinha subido em um avião de carreira sentado ao lado de um pobre. Viajava nos aviões particulares dos milionários.
Há quem não tenha entendido que Lula, depois de todo o drama do impeachment de Dilma, com o país enfurecido com o conservador Temer, tachado de golpista e traidor, tenha dito: “Não tenho mais idade para gritar ‘Fora, Temer!”. Entende-se, conhecendo a psicologia de Lula de querer aproveitar tudo para somar em vez de subtrair.
Explica-se assim que, apesar de tudo o que arde no país, Lula já esteja tecendo acordos eleitorais com a pior direita do PMDB, com os caciques mais corruptos desse partido. É que Lula sabe que, se consegue candidatar-se e ganhar, precisará de seu apoio para poder governar. Afinal, 80% dos corruptos do PMDB e do PP, por exemplo, governaram com ele e com Dilma no período em que já estavam roubando. Muitos foram seus ministros, e Temer era o vice de Dilma, escolhido por Lula.
Goste-se ou não, acabe ou não dando frutos, no final, Lula é um pragmático que conhece como poucos e desde dentro as misérias e fraquezas de uma classe política que foi companheira sua no poder. Quando o então presidente do Uruguai, José Mujica, quis saber de Lula a origem do escândalo do Mensalão, que na época levou a cúpula do PT para a cadeia por ter comprado o Congresso, Lula lhe respondeu sibilinamente: “É que no Brasil só há um modo de poder governar”. Considerava isso uma fatalidade à qual ele então se havia submetido.
Bem sabe Lula e sabe o Congresso, mercadoria exposta ao melhor comprador. E hoje, mais que nunca, envolvidos nas redes de corrupção e com medo de cair em mãos dos juízes, deputados e senadores corruptos se unem em um mesmo abraço de afogados. Lula e os demais, a direita e a esquerda, sabem que, como nas máfias, amigo é para sempre. Porque, afinal, não há outro caminho. Da máfia não se sai ileso. Hoje o Governo Temer e o Congresso, naufragados em um mesmo mar de problemas com a Justiça, e Lula, acossado com eles, buscam um pacto de sangue que salve a todos.
Lula tem uma vantagem sobre os demais políticos acusados de corrupção. Não precisa buscar provas materiais para se defender das acusações dos juízes. Em sua estratégia, mais que lutar para apresentar documentos que provem sua inocência, se proclamou um “perseguido político” A única coisa que lhe interessa é aparecer discriminado por defender os pobres. Gritou isso até para a ONU. Nenhum de seus colegas acusado de corrupção se atreveu a tanto.
Fora ou dentro da prisão, presidente ou não, é bem possível que Lula siga, enquanto viver, amarrado a sua estratégia. Sem contar o medo que tantos políticos, incluindo os ainda não denunciados, começam a ter de uma possível delação premiada de Lula, que poderia fazer a República tremer. Não haverá. Não lhe interessa, já que, ao contrário de seus colegas, Lula na prisão continuaria sentindo-se uma vítima. Continuaria fazendo política e, se o instigam, até fundaria um novo partido com os presos. É o que dizem os que o conhecem melhor.
Lula é assim, goste-se ou não. Nunca se dará por vencido nem jogará a toalha. O final só o destino dirá.
O segredo da imortalidade política de Lula talvez resida em ser tão bom psicólogo como político. Sua sensibilidade para conhecer os ângulos mais obscuros e as fraquezas dos outros não é fruto de estudos acadêmicos. É um dom dele, desde que se destacou como jovem líder sindicalista. O jornalista José Nêumanne Pinto, autor do livro O Que Sei de Lula, e que o acompanhou dia após dia desde que começou a se sobressair no sindicato, narra uma característica que o revelava como alguém com grande olfato para saber o que as plateias às quais se dirigia gostavam de escutar. Começava a tratar de um tema e se via que não empolgava logo mudava de assunto, até encontrar algo que despertava os ouvintes, embora fosse o contrário do que havia começado a falar.
Não sei se Lula é o melhor estrategista do Brasil. Talvez não seja no sentido acadêmico do termo, mas sim como “olfato político”. Como os cães de caça que rastreiam a presa, Lula sabe descobrir onde o sapato aperta nos outros e o que cada público deseja escutar, como fazia quando jovem sindicalista. Não importa que possa parecer contraditório, o importante é contentar todos ao mesmo tempo.
Lembro-me que quando ainda não conhecia bem esse lado psicológico natural de Lula fiquei surpreso um dia em que, já presidente, pela manhã falou em São Paulo a uma plateia de empresários que se queixavam da lentidão do Congresso em aprovar as leis. Lula entendeu e lhes disse: “Não me tentem porque tenho um demônio que a cada vez que me levanto me pede: ‘Lula, feche o Congresso!’” É o que queriam escutar aqueles empresários. Coincidentemente, à tarde teve de falar no Congresso, que celebrava não recordo que aniversário de sua criação. Lula, que só aguentou um ano como deputado porque não gostava daquele ambiente, fez naquela tarde uma grande defesa do Parlamento como indispensável à democracia.
Aos banqueiros ele provocava: “Vocês nunca ganharam tanto dinheiro como comigo”. Era verdade. A banca sempre gostou de Lula. No país profundo, no Nordeste pobre, dizia a seus seguidores cobras e lagartos contra os ricos que “os impediam de sair da pobreza”. Lula pôde ser sempre ele e o contrário. E com uma característica capaz de aglutinar consensos: que nunca foi extremista, como bem ressaltou meu colega Xosé Hermida aqui, em um de seus artigos. Foi talvez esse seu maior acerto político. Para sair do dilema paralisante da ideologia, Lula alcunhou uma definição de si mesmo que lhe trouxe sucesso: “Eu não sou nem de esquerda nem de direita: sou só sindicalista”. Com isso se colocava acima das intrigas entre os dos dois lados para se propor como do partido dos trabalhadores, que engloba a todos nós.
Essa obsessão por não aparecer como extremista observei na primeira vez que no Planalto me encontrei com ele, com outros cinco correspondentes estrangeiros, para uma entrevista. Estava para chegar ao Brasil para se encontrar com ele José María Aznar, então primeiro-ministro espanhol, do partido direitista PP. Quando a entrevista acabou, me levou a um canto da sala e me perguntou: “Acha que Aznar pensa que sou de extrema esquerda?” Quando se encontrou com ele, a primeira coisa que lhe disse foi: “Nem você, Aznar, é tão de direita como dizem na Espanha nem eu tão de esquerda como pensam aqui”. Sua preocupação sempre foi poder sentar-se a todas as mesas do poder sem se importar com a cor da toalha.
Dias atrás, Lula, à espera de ainda poder voltar ao poder, disse: “nem Bolsonaro é de extrema direita nem eu sou de extrema esquerda”. Sempre presente sua obsessão de não parecer extremista. Lula sabe que aos pobres não interessa sua ideologia, mas, sim, que o sintam como aliado, enquanto aos ricos basta saber que não é um Maduro. Nunca lhes infundiu medo. Estava sempre à vontade com eles.
Ninguém é mais hábil que Lula para saber jogar ao mesmo tempo com vários baralhos e fazer ver que todos ganham. Sabe do que gostam uns e outros, e seu método é tratar de contentar a todos. É outro de seus segredos. Nêumanne também conta isso em seu livro: “Lula aplicou, com grande êxito, seu enorme talento de fazer amigos e influenciar pessoas, adotando o comportamento incomum de ouvir a todos, aparentemente concordar com cada um e nunca deixar o interlocutor com a sensação de sua discordância, mas nunca desistiu de sua posição politicamente conservadora, ou melhor de sua posição pragmática”.
Dois casos emblemáticos de como Lula tentava, por exemplo, bajular os pobres e os ricos ao mesmo tempo: costumava dizer que os hospitais públicos brasileiros eram tão bons e modernos que as pessoas até queriam ficar doentes para poderem ser internadas. Não era verdade, mas os pobres gostavam de ouvir isso. Dizia também que com ele os pobres no Brasil já “podiam viajar de avião e ir de férias para Bariloche, na Argentina” e que o problema era que os ricos não queriam viajar em um avião ao lado de um pobre de chinelos. Não era verdade, mas os pobres se sentiram lisonjeados e os ricos não ficaram ofendidos porque sabiam que Lula, desde que deixou a presidência, nunca tinha subido em um avião de carreira sentado ao lado de um pobre. Viajava nos aviões particulares dos milionários.
Há quem não tenha entendido que Lula, depois de todo o drama do impeachment de Dilma, com o país enfurecido com o conservador Temer, tachado de golpista e traidor, tenha dito: “Não tenho mais idade para gritar ‘Fora, Temer!”. Entende-se, conhecendo a psicologia de Lula de querer aproveitar tudo para somar em vez de subtrair.
Explica-se assim que, apesar de tudo o que arde no país, Lula já esteja tecendo acordos eleitorais com a pior direita do PMDB, com os caciques mais corruptos desse partido. É que Lula sabe que, se consegue candidatar-se e ganhar, precisará de seu apoio para poder governar. Afinal, 80% dos corruptos do PMDB e do PP, por exemplo, governaram com ele e com Dilma no período em que já estavam roubando. Muitos foram seus ministros, e Temer era o vice de Dilma, escolhido por Lula.
Goste-se ou não, acabe ou não dando frutos, no final, Lula é um pragmático que conhece como poucos e desde dentro as misérias e fraquezas de uma classe política que foi companheira sua no poder. Quando o então presidente do Uruguai, José Mujica, quis saber de Lula a origem do escândalo do Mensalão, que na época levou a cúpula do PT para a cadeia por ter comprado o Congresso, Lula lhe respondeu sibilinamente: “É que no Brasil só há um modo de poder governar”. Considerava isso uma fatalidade à qual ele então se havia submetido.
Bem sabe Lula e sabe o Congresso, mercadoria exposta ao melhor comprador. E hoje, mais que nunca, envolvidos nas redes de corrupção e com medo de cair em mãos dos juízes, deputados e senadores corruptos se unem em um mesmo abraço de afogados. Lula e os demais, a direita e a esquerda, sabem que, como nas máfias, amigo é para sempre. Porque, afinal, não há outro caminho. Da máfia não se sai ileso. Hoje o Governo Temer e o Congresso, naufragados em um mesmo mar de problemas com a Justiça, e Lula, acossado com eles, buscam um pacto de sangue que salve a todos.
Lula tem uma vantagem sobre os demais políticos acusados de corrupção. Não precisa buscar provas materiais para se defender das acusações dos juízes. Em sua estratégia, mais que lutar para apresentar documentos que provem sua inocência, se proclamou um “perseguido político” A única coisa que lhe interessa é aparecer discriminado por defender os pobres. Gritou isso até para a ONU. Nenhum de seus colegas acusado de corrupção se atreveu a tanto.
Fora ou dentro da prisão, presidente ou não, é bem possível que Lula siga, enquanto viver, amarrado a sua estratégia. Sem contar o medo que tantos políticos, incluindo os ainda não denunciados, começam a ter de uma possível delação premiada de Lula, que poderia fazer a República tremer. Não haverá. Não lhe interessa, já que, ao contrário de seus colegas, Lula na prisão continuaria sentindo-se uma vítima. Continuaria fazendo política e, se o instigam, até fundaria um novo partido com os presos. É o que dizem os que o conhecem melhor.
Lula é assim, goste-se ou não. Nunca se dará por vencido nem jogará a toalha. O final só o destino dirá.
Justiça de privilégio
Perante a lei terrena, a igualdade se desiguala o tempo todo e em todas as partes, porque o poder tem o costume de sentar-se num dos pratos da balança da JustiçaEduardo Galeano
Não será fácil remar contra essa maré
Não houve resistência do povão à implantação da reforma trabalhista. E este não reclamou porque ninguém reclama em tempo de desemprego elevado e, também, porque os trabalhadores parecem não estar cientes da tragédia que se abaterá sobre si mesmos. Resumo da ópera: daqui a para frente, haverá mais subempregados e nanoempreendedores, com menos dinheiro no bolso, jornadas mais desgastantes e menor sustentabilidade da Previdência Social.
O que se viu nas ruas, no último dia 10, foram burocracias sindicais lutando, principalmente, pela preservação do chamado “imposto sindical”. Diziam que, sem ele, os trabalhadores não teriam como se defender dos empregadores. Bobagem! Se tomarmos por termo inicial a vigência da CLT, veremos que, no pós-guerra, o movimento sindical europeu, mesmo sem as tais contribuições compulsórias, sempre foi muito mais forte que seus correspondentes no Brasil. O Brasil, depois do Estado Novo, não por acaso, só presenciou greves relevantes a partir de maio de 1953, época em que os contratos celetistas originais começaram a perfazer dez anos e os trabalhadores passaram a gozar de estabilidade no emprego. Daí porque a ditadura tratou logo de inviabilizar a estabilidade, com a criação da “opção” pelo FGTS em 1966. Se os sindicatos não tivessem sido tão negligentes (apesar dos indecentes índices brasileiros de rotatividade de mão de obra) com a reivindicação de regulamentação da proteção contra a dispensa imotivada, prevista na Constituição de 1988, o quadro poderia ser outro.
Mas a proteção contra a dispensa imotivada não é remédio capaz de sanar o mal pela raiz. Estamos entrando na era do desemprego estrutural. A poderosa Siemens acaba de anunciar que eliminará 7.000 empregos na Alemanha. E a Alemanha é um país onde os sindicatos são fortes, não porque sejam sustentados por contribuições compulsórias, mas sim porque os trabalhadores têm sido protegidos por uma legislação que proíbe a dispensa imotivada. E, mesmo assim, a “moda” de trabalhos precários (terceirização, jornada parcial, trabalho intermitente, autônomos digitais etc.) já está grassando por lá, desde o governo do social-democrata Gerard Schröder, no início dos anos 2000.
A verdade é que o empresariado está conseguindo vender seu peixe, apesar de um tanto apodrecido. Os trabalhadores não têm conseguido propor um caminho diferente. Parecem ter sucumbido ao mantra da distopia de Margareth Thatcher: “Não há alternativa”. Ou, como propaga o professor José Pastore, um dos mais qualificados porta-vozes do empresariado no Brasil, “melhor emprego precário do que emprego nenhum”. Pelo menos assume-se, agora com sinceridade, que o capitalismo não pode oferecer um futuro róseo para os imensos contingentes de deserdados sobre a face da Terra.
Esse “balde de água fria” deveria servir de ponto de partida de uma luta ideológica a ser travada pelos que pensam que outro mundo ainda é possível.
O que se viu nas ruas, no último dia 10, foram burocracias sindicais lutando, principalmente, pela preservação do chamado “imposto sindical”. Diziam que, sem ele, os trabalhadores não teriam como se defender dos empregadores. Bobagem! Se tomarmos por termo inicial a vigência da CLT, veremos que, no pós-guerra, o movimento sindical europeu, mesmo sem as tais contribuições compulsórias, sempre foi muito mais forte que seus correspondentes no Brasil. O Brasil, depois do Estado Novo, não por acaso, só presenciou greves relevantes a partir de maio de 1953, época em que os contratos celetistas originais começaram a perfazer dez anos e os trabalhadores passaram a gozar de estabilidade no emprego. Daí porque a ditadura tratou logo de inviabilizar a estabilidade, com a criação da “opção” pelo FGTS em 1966. Se os sindicatos não tivessem sido tão negligentes (apesar dos indecentes índices brasileiros de rotatividade de mão de obra) com a reivindicação de regulamentação da proteção contra a dispensa imotivada, prevista na Constituição de 1988, o quadro poderia ser outro.
Mas a proteção contra a dispensa imotivada não é remédio capaz de sanar o mal pela raiz. Estamos entrando na era do desemprego estrutural. A poderosa Siemens acaba de anunciar que eliminará 7.000 empregos na Alemanha. E a Alemanha é um país onde os sindicatos são fortes, não porque sejam sustentados por contribuições compulsórias, mas sim porque os trabalhadores têm sido protegidos por uma legislação que proíbe a dispensa imotivada. E, mesmo assim, a “moda” de trabalhos precários (terceirização, jornada parcial, trabalho intermitente, autônomos digitais etc.) já está grassando por lá, desde o governo do social-democrata Gerard Schröder, no início dos anos 2000.
A verdade é que o empresariado está conseguindo vender seu peixe, apesar de um tanto apodrecido. Os trabalhadores não têm conseguido propor um caminho diferente. Parecem ter sucumbido ao mantra da distopia de Margareth Thatcher: “Não há alternativa”. Ou, como propaga o professor José Pastore, um dos mais qualificados porta-vozes do empresariado no Brasil, “melhor emprego precário do que emprego nenhum”. Pelo menos assume-se, agora com sinceridade, que o capitalismo não pode oferecer um futuro róseo para os imensos contingentes de deserdados sobre a face da Terra.
Esse “balde de água fria” deveria servir de ponto de partida de uma luta ideológica a ser travada pelos que pensam que outro mundo ainda é possível.
2018 está longe
Faltam dez anos para as eleições de 2018. Lá chegando, o Brasil não lembrará que, um dia, acreditou ter de escolher entre Lula e Bolsonaro. Um país que chega a acreditar na dupla sertaneja Janot & Joesley como promessa de salvação, acredita em tudo.
Enquanto o gigante desperta para o trepidante confronto entre esquerda e direita no mundo da lua, José Dirceu samba em paz.
O guerreiro do povo brasileiro está na dele.
Você monta o maior assalto da história da República — um assalto republicano, como ensinou o saudoso Dr. Thomaz Bastos, precursor do Dr. Tomás Turbando — e é apanhado em flagrante. O que você pensa? “Já era”? Não. Você ainda tem uma fortuna no caixa da revolução e um exército de advogados, juízes, jornalistas (alugados e 0800), militantes baratinhos e sanguinários. Além disso, você está no Brasil. E tem a lenda.
Assim como faltam dez anos para 2018 (na translação mental da opinião pública), 1968 foi ontem. Daí a maravilha da assombração Bolsonaro: dá pra continuar brincando de “Os dias eram assim”, com Dirceu no papel de herói contra a ditadura — sambando para não perder a ternura (rima rica, ou melhor, milionária). E Lula, o ladrão condenado que Gabriel Predador não matou e a Justiça não prendeu, fantasiado de alternativa democrática.
Não prenda a gargalhada, caro leitor. Tire você também o cinismo do armário.
E tome uma atitude corajosa contra essas famílias retrógradas dos anos 50 (a década passada), que insistem em casar suas filhas virgens.
Rompa com esse conservadorismo sufocante, apoie o maiô de duas peças.
E se quiser ficar pelado para chocar a burguesia, fique logo, porque daqui a meio século, por volta de 2017, vão achar que você está com calor.
Proteste contra a censura imposta pelos milicos. Faça isso agora, neste febril 1968, porque daqui a 50 anos as liberdades estarão mais do que garantidas, e podem achar que você é um rebelde cenográfico.
Segundo Nostradamus, até a turma do é proibido proibir vai tentar censurar uns livros por volta de 2013 (quem te viu, quem te vê), mas não vai rolar.
O governo bonzinho que eles apoiarão também tentará, como quem não quer nada, controlar o que é publicado — fingindo defender os direitos humanos (tem certeza, Nostradamus?!). Isso também não vai colar.
Serão tempos difíceis para os canastrões ideológicos.
Ou nem tanto. Eles são criativos. E a plateia... Bem, é aquela sagacidade descrita acima. Foi assim que o assalto de quase década e meia aos cofres públicos sumiu do debate eleitoral para 2018.
Puseram alguma coisa forte na bebida do Brasil e, de repente, a vida real deu lugar à pantomima trash Lula x Bolsonaro, esquerda x direita — enfim, aquele melado demagógico que Serjão, o erudito, imortalizou como masturbação sociológica.
Merece até performance no museu, com Dirceu sambando ao fundo (vamos atualizar as obscenidades, por favor).
Enquanto o Brasil era estripado pelos companheiros por todos os seus orifícios (imagem exagerada? Vamos aos orifícios: Petrobras via petrolão, BB e Caixa via mensalão, Tesouro via pedaladas, BNDES via Joesley, Odebrecht e tráfico de influência de Lula junto a ditaduras amigas que humilham mulheres e gays sem comover os descolados daqui, Ministério dos Esportes/BNDES via escândalo da Copa etc).
Voltando: enquanto o Brasil era estripado pelos companheiros, a Lava-Jato era tribunal de exceção.
Quando, finalmente, o país conseguiu sair da bocarra do PT, a Lava-Jato mudou de sexo.
Os canastrões que defendiam a quadrilha da presidenta contra o golpe viraram amantes tórridos da operação — claro, a versão do Janot, do Joesley, do Miller, do Fachin, enfim, a Lava-Jato trans, pseudônimo da conspiração mais vagabunda já vista por aqui, regida pelos que depenaram o Brasil e queriam voltar a mamar.
A Lava-Jato real, liderada por Sergio Moro, subsiste desidratada — graças à inflexão de personagens como Dartagnol Foratemer, hoje lambendo as botas dos charmosos amigos da quadrilha.
Eles dizem que o governo foi tomado por uma quadrilha do PMDB. Ah, é? Então digam os nomes dos bandidos que sanearam a Petrobras em tempo recorde. Quem são eles?
Digam quais foram os pilantras do PMDB que acabaram com a roubalheira contábil no Tesouro e sanearam a política fiscal. O Brasil quer saber!
Quem são, afinal, os decrépitos que enxotaram a gangue do Dirceu e iniciaram as reformas do Estado, com a recuperação de todos — todos — os indicadores econômicos?
Não citam, e não citarão um único nome.
Os cafetões da lenda — agora reforçados pela covardia tucana, que não falha — sabem que o comando das principais instituições nacionais está nas mãos de gente séria, virando noites para reverter 13 anos de pilhagem.
Os resultados estão aí, à prova de retórica, e é comovente ver os progressistas de butique fazendo voto de cegueira.
Não adianta. A eleição de 2018 (daqui a dez anos de lero-lero vermelho X verde-oliva) será sobre isso: concluir a descupinização do Estado ou devolvê-lo aos cupins, para vê-los sambando alegremente na sua cara, com o seu dinheiro.
Enquanto o gigante desperta para o trepidante confronto entre esquerda e direita no mundo da lua, José Dirceu samba em paz.
O guerreiro do povo brasileiro está na dele.
Você monta o maior assalto da história da República — um assalto republicano, como ensinou o saudoso Dr. Thomaz Bastos, precursor do Dr. Tomás Turbando — e é apanhado em flagrante. O que você pensa? “Já era”? Não. Você ainda tem uma fortuna no caixa da revolução e um exército de advogados, juízes, jornalistas (alugados e 0800), militantes baratinhos e sanguinários. Além disso, você está no Brasil. E tem a lenda.
Assim como faltam dez anos para 2018 (na translação mental da opinião pública), 1968 foi ontem. Daí a maravilha da assombração Bolsonaro: dá pra continuar brincando de “Os dias eram assim”, com Dirceu no papel de herói contra a ditadura — sambando para não perder a ternura (rima rica, ou melhor, milionária). E Lula, o ladrão condenado que Gabriel Predador não matou e a Justiça não prendeu, fantasiado de alternativa democrática.
Não prenda a gargalhada, caro leitor. Tire você também o cinismo do armário.
E tome uma atitude corajosa contra essas famílias retrógradas dos anos 50 (a década passada), que insistem em casar suas filhas virgens.
Rompa com esse conservadorismo sufocante, apoie o maiô de duas peças.
E se quiser ficar pelado para chocar a burguesia, fique logo, porque daqui a meio século, por volta de 2017, vão achar que você está com calor.
Proteste contra a censura imposta pelos milicos. Faça isso agora, neste febril 1968, porque daqui a 50 anos as liberdades estarão mais do que garantidas, e podem achar que você é um rebelde cenográfico.
Segundo Nostradamus, até a turma do é proibido proibir vai tentar censurar uns livros por volta de 2013 (quem te viu, quem te vê), mas não vai rolar.
O governo bonzinho que eles apoiarão também tentará, como quem não quer nada, controlar o que é publicado — fingindo defender os direitos humanos (tem certeza, Nostradamus?!). Isso também não vai colar.
Serão tempos difíceis para os canastrões ideológicos.
Ou nem tanto. Eles são criativos. E a plateia... Bem, é aquela sagacidade descrita acima. Foi assim que o assalto de quase década e meia aos cofres públicos sumiu do debate eleitoral para 2018.
Puseram alguma coisa forte na bebida do Brasil e, de repente, a vida real deu lugar à pantomima trash Lula x Bolsonaro, esquerda x direita — enfim, aquele melado demagógico que Serjão, o erudito, imortalizou como masturbação sociológica.
Merece até performance no museu, com Dirceu sambando ao fundo (vamos atualizar as obscenidades, por favor).
Enquanto o Brasil era estripado pelos companheiros por todos os seus orifícios (imagem exagerada? Vamos aos orifícios: Petrobras via petrolão, BB e Caixa via mensalão, Tesouro via pedaladas, BNDES via Joesley, Odebrecht e tráfico de influência de Lula junto a ditaduras amigas que humilham mulheres e gays sem comover os descolados daqui, Ministério dos Esportes/BNDES via escândalo da Copa etc).
Voltando: enquanto o Brasil era estripado pelos companheiros, a Lava-Jato era tribunal de exceção.
Quando, finalmente, o país conseguiu sair da bocarra do PT, a Lava-Jato mudou de sexo.
Os canastrões que defendiam a quadrilha da presidenta contra o golpe viraram amantes tórridos da operação — claro, a versão do Janot, do Joesley, do Miller, do Fachin, enfim, a Lava-Jato trans, pseudônimo da conspiração mais vagabunda já vista por aqui, regida pelos que depenaram o Brasil e queriam voltar a mamar.
A Lava-Jato real, liderada por Sergio Moro, subsiste desidratada — graças à inflexão de personagens como Dartagnol Foratemer, hoje lambendo as botas dos charmosos amigos da quadrilha.
Eles dizem que o governo foi tomado por uma quadrilha do PMDB. Ah, é? Então digam os nomes dos bandidos que sanearam a Petrobras em tempo recorde. Quem são eles?
Digam quais foram os pilantras do PMDB que acabaram com a roubalheira contábil no Tesouro e sanearam a política fiscal. O Brasil quer saber!
Quem são, afinal, os decrépitos que enxotaram a gangue do Dirceu e iniciaram as reformas do Estado, com a recuperação de todos — todos — os indicadores econômicos?
Não citam, e não citarão um único nome.
Os cafetões da lenda — agora reforçados pela covardia tucana, que não falha — sabem que o comando das principais instituições nacionais está nas mãos de gente séria, virando noites para reverter 13 anos de pilhagem.
Os resultados estão aí, à prova de retórica, e é comovente ver os progressistas de butique fazendo voto de cegueira.
Não adianta. A eleição de 2018 (daqui a dez anos de lero-lero vermelho X verde-oliva) será sobre isso: concluir a descupinização do Estado ou devolvê-lo aos cupins, para vê-los sambando alegremente na sua cara, com o seu dinheiro.
Filha de Lula continua a subir na vida por conta do povo
Durante mais de dez anos, Sérgio Cabral, Lula, Pezão e Dilma prometeram usar o petróleo do Pré-sal para fazer do Rio de Janeiro uma versão ampliada da Cidade Maravilhosa. A imensidão de barris continua no fundo do mar, a Petrobras quase faliu, a capital lembra uma frente de guerra e o estado quebrou.
Dos quatro vigaristas, só Cabral está preso. Foi sentenciado a 72 anos de cadeia (por enquanto). Lula (por enquanto) está condenado a nove anos e meio de gaiola. Dilma e Pezão (até agora) não foram alcançados pelo merecidíssimo castigo.
O quarteto malandro parece não ter entendido — ou finge não entender — que a festa acabou. Pezão permanece homiziado no gabinete do governador, disposto a completar a obra de destruição executada por Cabral. E Lula ainda recebe homenagens dos devotos infiltrados na Assembleia Legislativa.
Neste domingo, a imensidão de desempregados brasileiros soube que a filha do chefão, Lurian Lula da Silva, continua subindo na vida por conta dos pagadores de impostos. Era assessora da prefeitura de Maricá, controlada pelo petista Washington Quaquá, presidente do PT do Rio. Acaba de virar assessora parlamentar da deputada estadual Rosângela Zeidan, mulher de Quaquá.
Rosângela diz que escolhe os assessores que quiser. O pagamento do salário fica por nossa conta, claro. Lurian vai ganhar mais de R$ 7.300 por mês para ajudar a deputada a tirar do xilindró colegas presos, como aconteceu com Jorge Picciani.
Mais um motivo para que a população fluminense saia às ruas já. E mostre como deve ser tratado quem trata os brasileiros como se fossem um bando de cordeiros idiotizados.
Dos quatro vigaristas, só Cabral está preso. Foi sentenciado a 72 anos de cadeia (por enquanto). Lula (por enquanto) está condenado a nove anos e meio de gaiola. Dilma e Pezão (até agora) não foram alcançados pelo merecidíssimo castigo.
O quarteto malandro parece não ter entendido — ou finge não entender — que a festa acabou. Pezão permanece homiziado no gabinete do governador, disposto a completar a obra de destruição executada por Cabral. E Lula ainda recebe homenagens dos devotos infiltrados na Assembleia Legislativa.
Neste domingo, a imensidão de desempregados brasileiros soube que a filha do chefão, Lurian Lula da Silva, continua subindo na vida por conta dos pagadores de impostos. Era assessora da prefeitura de Maricá, controlada pelo petista Washington Quaquá, presidente do PT do Rio. Acaba de virar assessora parlamentar da deputada estadual Rosângela Zeidan, mulher de Quaquá.
Rosângela diz que escolhe os assessores que quiser. O pagamento do salário fica por nossa conta, claro. Lurian vai ganhar mais de R$ 7.300 por mês para ajudar a deputada a tirar do xilindró colegas presos, como aconteceu com Jorge Picciani.
Mais um motivo para que a população fluminense saia às ruas já. E mostre como deve ser tratado quem trata os brasileiros como se fossem um bando de cordeiros idiotizados.
Assinar:
Postagens (Atom)