sexta-feira, 1 de abril de 2016
Se não quer renunciar, será que não pode ao menos governar?
Dona Dilma vem usando o Poder apenas para se manter no Poder. Parece conversa da Alice com o Chapeleiro Maluco, mas não é, não.
O Palácio do Planalto, sede do Governo Federal, perdeu a honra de ser o local onde o Governo se reúne para governar e virou um palanque onde diariamente dona Dilma reúne seus militantes para gritar “Não vai ter golpe!”.
Golpe não vai ter, pois ninguém quer golpe. O que a imensa maioria do povo brasileiro quer é o impedimento de Dilma Rousseff e do PT.
Por acaso nesses comícios dentro do Palácio do Planalto discutem os graves problemas que entopem as veias do Brasil? Não, só falam sobre a ameaça que paira sobre a cabeça da presidente, seu impeachment.
Não sou política e dou graças a Deus pelo fato da Mosca Azul nunca ter me picado. Não que a atividade política me aborreça. Não é isso. É o fato da política no Brasil ter se transformado num espaço assustador, onde o que não revolta, enoja.
Talvez por isso é que tenho a audácia de dar um conselho a dona Dilma. Já que ela não quer renunciar, já que abandonar o Poder lhe é insuportável, que tal ela começar a governar? A administrar o país? A tentar repor o Brasil no caminho do qual Lula e ela nos tiraram?
Por exemplo: que tal começar por administrar a Saúde neste país tão doente?
Estamos gravemente enfermos, moral e fisicamente. Zika, dengue, chicungunha, hepatite, tuberculose, sífilis, gripe H1N1, pensou numa doença, aqui ela está grassando sem quartel! E faltam vacinas, faltam remédios, faltam médicos, faltam postos de saúde e faltam hospitais.
Quero crer que se dona Dilma conseguisse reorganizar o Ministério da Saúde e o tirasse do balaio da “repactuação”, que nada mais é do que uma troca de favores – “eu te dou um cargo e você vota contra o impeachment” - ela continuaria tranquila no governo até 2018, desde que se despisse de sua camiseta vermelha e dispensasse os movimentos sociais e não os deixasse subir a rampa de nossa sede do Governo.
Que ela pense bem no que ela e o Lula estão fazendo com o país. Que vejam no que deu o “nós” e o “eles”: falo da médica que se recusou a continuar a atender um seu cliente, um bebê de um ano, porque sua mãe era petista. Mas isso, apesar de bárbaro, não foi o pior. O pior, o hediondo, o revoltante, o nojento, foi a nota do Simers - Sindicato Médico do Rio Grande do Sul - defendendo a atitude da médica ao garantir que o profissional da saúde não é obrigado a atender quem não se coaduna com seus princípios. (Estadão, 30 de março)
Vejam vocês como são as coisas. Para mim, a atitude da médica é de falta de princípios...
Se eu fosse dona Dilma, em vez de me amarrar no cargo apoiada numa militância que é orquestrada pelo PT, eu iria preferir sair como a presidente que curou o Brasil de todas as doenças que o ferem, as físicas e as morais.
Seria um golpe, sim, mas um golpe de mestre, vocês não acham?
Berro da bandidagem
Nós vamos baixar o tom ou vamos esperar o primeiro cadáver?Edinho Silva, ministro da Comunicação Social e tesoureiro da campanha de 2014, investigada na Lava Jato
Brasil, o gigante encurvado
Amanhecer no Brasil é participar ao vivo de um capítulo de suspense da Netflix: tudo pode acontecer. Pode ir preso um ex-deputado ou o ex-presidente de um partido político ou o dono de um conglomerado da construção. Pode também um ex-presidente assumir como ministro, ser removido por uma ação judicial e por outra regressar ao cargo. Tudo em 24 horas. Impossível ficar entediado.
Para a sociedade brasileira a vertigem da política atual é inusitada e enlouquecedora. Nas redes sociais a violência simbólica aumentou até plasmar-se em fatos concretos nas ruas. A palavra se fez carne (em parte porque a mesquinhez do diálogo público é colossal).
As “delações premiadas” dos implicados na Operação Lava-Jato abriram a caixa de Pandora do todos contra todos. Como em um estado primitivo de natureza animal, cada ator se mantém quieto, refugiado na mata de seu silêncio, aguardando que uma flecha o atinja: então, inicia um movimento precipitado para desvincular-se dos fatos que o cercam. Ao ser pego todos sabem que poderá envolver outros: na prisão os códigos já não existem.
Dias atrás a empresa Odebrecht, cujo ex-presidente já foi condenado, manifestou seu firme desejo de colaborar com informações sobre os destinatários políticos dos subornos. Muitos já não conseguem dormir. Trata-se de uma caçada em território reduzido.
Uma boa parcela dos eleitores do PT – entre os quais muitos intelectuais universitários influentes – está decepcionada. Nos anos 2000 defenderam o discurso ético petista que atacava a corrupção arraigada no poder. A esperança de uma mudança estrutural foi tão alta que a dor do desmoronamento foi muito profunda. Segundo as investigações, Lula apareceria tendo grave conluio com empreiteiras. O esbanjamento põe em evidência um drama regional que excede em muito o PT: o financiamento da política.
Nem a economia nem os amigos ajudam. Ator central na história do PT e ex-líder do partido no Senado, o delator Delcídio do Amaral acusou Dilma e Lula de obstruírem as investigações. Nessa atmosfera, a presidenta Dilma Rousseff optou por jogar cartas que parecem estar marcadas (por seus opositores). Ante a possível prisão de Lula, ela o nomeou chefe da Casa Civil. A nomeação saiu à tarde em uma incomum edição extraordinária do Diário Oficial. A celeridade foi quase uma delação.
A estratégia de Dilma de refugiar-se em seu núcleo duro parece frágil em várias frentes: não consegue proteger Lula nem salvar o eleitorado do PT nem resguardar o próprio mandato constitucional dos predadores. Há quem pense que, ao nomear Lula, Dilma cometeu suicídio: colocou o problema na Casa do Governo. Agora ela é o problema.
Para dizer a verdade, a tarefa é ciclópica: Mensalão, pedaladas fiscais, Lava-Jato, Petrobras, propriedades não declaradas, entre outros.
Na terça-feira, em uma brevíssima reunião, o camaleônico PMDB, principal aliado do PT desde 2003, deixou a coalizão e renunciou a todos os seus cargos de poder em nível federal, incluídos os ministérios. Uma jornalista perguntou em off a Eduardo Cunha por que levaram três minutos para romper uma aliança de 13 anos. A resposta informal: demoramos muito, um minuto bastava.
Entretanto, o nome do líder do PSDB, Aécio Neves, que disputou a última eleição presidencial com Dilma, apareceu na semana passada nas listas do que seria a contabilidade paralela da Odebrecht. Esta empresa tinha um departamento específico dedicado aos negócios obscuros, que alcançam outros países da América Latina. Isso está só começando. Vai ser preciso comprar mais pipoca.
A estratégia atual do Governo parece ter três caminhos. Em primeiro lugar, tentar mobilizar o sentimento das bases sociais do partido que veneram a figura de Lula. Em segundo lugar, ir para o confronto contra os vieses do poder judicial. Em terceiro lugar, seguir os libretos de campanha do também implicado João Santana: provocar medo, mostrando que se trata de um Golpe de Estado sem nenhum tipo de nuance: “Nós, a democracia que é preciso proteger” ou “Eles, os golpistas de sempre”. A estratégia binária desses dois últimos pontos é arriscada e o PT deveria lembrar-se que na Argentina contemporânea não deu resultado.
A cereja do bolo é que há quem expresse que certos políticos desejam conseguir o impeachment de Dilma para depois frear a investigação da Lava-Jato que os compromete. Tudo é possível neste chiqueiro.
Lava-Jato é o nome de uma bomba que já mostrou que tem um estilhaço para cada um. É só sentar e esperar: o impacto chegará.
Nicolás José Isola
Para a sociedade brasileira a vertigem da política atual é inusitada e enlouquecedora. Nas redes sociais a violência simbólica aumentou até plasmar-se em fatos concretos nas ruas. A palavra se fez carne (em parte porque a mesquinhez do diálogo público é colossal).
As “delações premiadas” dos implicados na Operação Lava-Jato abriram a caixa de Pandora do todos contra todos. Como em um estado primitivo de natureza animal, cada ator se mantém quieto, refugiado na mata de seu silêncio, aguardando que uma flecha o atinja: então, inicia um movimento precipitado para desvincular-se dos fatos que o cercam. Ao ser pego todos sabem que poderá envolver outros: na prisão os códigos já não existem.
Dias atrás a empresa Odebrecht, cujo ex-presidente já foi condenado, manifestou seu firme desejo de colaborar com informações sobre os destinatários políticos dos subornos. Muitos já não conseguem dormir. Trata-se de uma caçada em território reduzido.
Uma boa parcela dos eleitores do PT – entre os quais muitos intelectuais universitários influentes – está decepcionada. Nos anos 2000 defenderam o discurso ético petista que atacava a corrupção arraigada no poder. A esperança de uma mudança estrutural foi tão alta que a dor do desmoronamento foi muito profunda. Segundo as investigações, Lula apareceria tendo grave conluio com empreiteiras. O esbanjamento põe em evidência um drama regional que excede em muito o PT: o financiamento da política.
Nem a economia nem os amigos ajudam. Ator central na história do PT e ex-líder do partido no Senado, o delator Delcídio do Amaral acusou Dilma e Lula de obstruírem as investigações. Nessa atmosfera, a presidenta Dilma Rousseff optou por jogar cartas que parecem estar marcadas (por seus opositores). Ante a possível prisão de Lula, ela o nomeou chefe da Casa Civil. A nomeação saiu à tarde em uma incomum edição extraordinária do Diário Oficial. A celeridade foi quase uma delação.
A estratégia de Dilma de refugiar-se em seu núcleo duro parece frágil em várias frentes: não consegue proteger Lula nem salvar o eleitorado do PT nem resguardar o próprio mandato constitucional dos predadores. Há quem pense que, ao nomear Lula, Dilma cometeu suicídio: colocou o problema na Casa do Governo. Agora ela é o problema.
Para dizer a verdade, a tarefa é ciclópica: Mensalão, pedaladas fiscais, Lava-Jato, Petrobras, propriedades não declaradas, entre outros.
Na terça-feira, em uma brevíssima reunião, o camaleônico PMDB, principal aliado do PT desde 2003, deixou a coalizão e renunciou a todos os seus cargos de poder em nível federal, incluídos os ministérios. Uma jornalista perguntou em off a Eduardo Cunha por que levaram três minutos para romper uma aliança de 13 anos. A resposta informal: demoramos muito, um minuto bastava.
Entretanto, o nome do líder do PSDB, Aécio Neves, que disputou a última eleição presidencial com Dilma, apareceu na semana passada nas listas do que seria a contabilidade paralela da Odebrecht. Esta empresa tinha um departamento específico dedicado aos negócios obscuros, que alcançam outros países da América Latina. Isso está só começando. Vai ser preciso comprar mais pipoca.
A estratégia atual do Governo parece ter três caminhos. Em primeiro lugar, tentar mobilizar o sentimento das bases sociais do partido que veneram a figura de Lula. Em segundo lugar, ir para o confronto contra os vieses do poder judicial. Em terceiro lugar, seguir os libretos de campanha do também implicado João Santana: provocar medo, mostrando que se trata de um Golpe de Estado sem nenhum tipo de nuance: “Nós, a democracia que é preciso proteger” ou “Eles, os golpistas de sempre”. A estratégia binária desses dois últimos pontos é arriscada e o PT deveria lembrar-se que na Argentina contemporânea não deu resultado.
A cereja do bolo é que há quem expresse que certos políticos desejam conseguir o impeachment de Dilma para depois frear a investigação da Lava-Jato que os compromete. Tudo é possível neste chiqueiro.
Lava-Jato é o nome de uma bomba que já mostrou que tem um estilhaço para cada um. É só sentar e esperar: o impacto chegará.
Nicolás José Isola
Quem custeou o apoio a Dilma a 31 de março?
Entre os manifestos entregues a Dilma neste dia 31, estão o do Fórum 21 - Acadêmicos, juristas e artistas; Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP); Associação Brasileira de Antropologia; Manifesto do Cinema e Áudio-Visual pela Democracia; Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (INESC); ABONG - Organizações em Defesa dos Direitos e Bens Comuns; Manifesto dos Escritos e Profissionais do Livro pela Democracia; Manifesto dos Jornalistas em Defesa da Democracia e dos Direitos Sociais; FENAJ - Em Defesa da Democracia, do Estado de Direito e da Liberdade de Imprensa; ANDIFES - Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior; CEBES - Centro Brasileiro de Estudos da Saúde; Manifesto #AsPeriferiasContraOGolpe; Carta de Curitiba Em Defesa da Democracia - juristas e professores da Universidade Federal do Paraná; Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Instituto dos Arquitetos do Brasil - O IAB e o Momento Atual; Associação dos Docentes da USP - Manifesto em Defesa da Democracia; Conselho Federal de Psicologia - Sobre o Atual Momento da Conjuntura Política e Social Brasileira; Carta do Hip Hop Brasileiro À Democracia; Sociedade Brasileira de Economia Política; Carta de artistas e profissionais das artes visuais em Defesa da Democracia.
Quantos a CUT custeou? De onde vem a grana do custeio?
Alguns números: todos os 41,3 milhões de trabalhadores brasileiros com carteira assinada terão desconto na folha de pagamento deste mês de março, compulsoriamente, do valor de um dia de trabalho como contribuição sindical. É este dinheiro que sustenta os sindicatos no Brasil. No ano passado, a arrecadação foi de R$ 3,2 bilhões, rateados entre os 15.315 sindicatos – uma alta de 13% frente a 2012. Os próprios sindicalistas admitem que muitos são criados apenas para garantir os repasses das verbas do imposto sindical.
A cobrança foi criada em 1943, pela ditadura de Getúlio Vargas. Do total arrecadado, 60% são repassados aos sindicatos, 15% às federações, 5% às confederações e 20% ficam com o Ministério do Trabalho, para financiar programas como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que custeia o seguro-desemprego e o PIS.
Em 2008, o então presidente Lula determinou que, do total repassado ao FAT, 10% deveriam ser destinados às centrais sindicais. De lá para cá, as centrais já receberam cerca de R$ 530 milhões, valor que não precisa ter nenhuma prestação de contas.
CUT e Força Sindical ficam com as maiores parcelas do imposto, R$ 44,5 milhões e R$ 40 milhões, respectivamente. Apesar de se declarar formalmente contra a cobrança, a CUT não devolve o dinheiro aos trabalhadores.
Respondido?
Alguns números: todos os 41,3 milhões de trabalhadores brasileiros com carteira assinada terão desconto na folha de pagamento deste mês de março, compulsoriamente, do valor de um dia de trabalho como contribuição sindical. É este dinheiro que sustenta os sindicatos no Brasil. No ano passado, a arrecadação foi de R$ 3,2 bilhões, rateados entre os 15.315 sindicatos – uma alta de 13% frente a 2012. Os próprios sindicalistas admitem que muitos são criados apenas para garantir os repasses das verbas do imposto sindical.
A cobrança foi criada em 1943, pela ditadura de Getúlio Vargas. Do total arrecadado, 60% são repassados aos sindicatos, 15% às federações, 5% às confederações e 20% ficam com o Ministério do Trabalho, para financiar programas como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que custeia o seguro-desemprego e o PIS.
Em 2008, o então presidente Lula determinou que, do total repassado ao FAT, 10% deveriam ser destinados às centrais sindicais. De lá para cá, as centrais já receberam cerca de R$ 530 milhões, valor que não precisa ter nenhuma prestação de contas.
CUT e Força Sindical ficam com as maiores parcelas do imposto, R$ 44,5 milhões e R$ 40 milhões, respectivamente. Apesar de se declarar formalmente contra a cobrança, a CUT não devolve o dinheiro aos trabalhadores.
Respondido?
Nazistas são os outros?
Outro dia, uma pessoa me disse que isso parece muito com o nazismo. Primeiro você bota uma estrela no peito e diz: é judeu. Depois você bota no campo de concentraçãoDilma
Por que Dilma é ainda mais irresponsável do que Jango
A presidente Dilma Rousseff recebeu sedizentes artistas e intelectuais nesta quinta, que foram lá se manifestar contra o impeachment. E voltou a se comportar com extrema irresponsabilidade e a dizer sandices, especialmente quando se referiu ao golpe militar de 1964, desfechado no dia 31 de março, há 52 anos!!! Na verdade, aconteceu no dia 1º de abril, mas nem entro nisso agora.
Nota à margem: por que escrevo “sedizentes artistas”? Porque artistas eles se dizem. Mas alguém indagaria: “E não são?” Notem: quando se expressam sobre uma questão política, não! Ninguém é “artista” porque é a favor ou contra partidos e grupos. Os artistas só o são no âmbito de sua arte.
Ou seria necessário supor que também se pode fazer uma cirurgia ou uma ponte segundo princípios petista, tucanos ou peemedebistas — refiro-me à técnica, claro!, já que o jeito petista de fazer pontes no que diz respeito ao dinheiro público é conhecido. Mais: quando alguém apela a essa condição para opinar, está partindo do pressuposto de que sua especialidade ou sua popularidade o colocam acima do cidadão comum. É vergonhoso. Adiante.
Dilma, mais uma vez, deitou falação e voltou a investir na crispação do ambiente político. Repetiu que um processo de impeachment sem base legal — como se não houvesse — é golpe. Não se contentou: “Se. em 1964. chamaram o golpe de revolução, agora chamam um processo sem base legal de impeachment.” E voltou a comparar os petistas aos judeus e seus adversários ao nazismo. Bem, essa questão em particular é de tal sorte delinquente que me nego a voltar ao assunto. Já escrevi a respeito. Quero falar sobre o 31 de março.
De fato, há algumas semelhanças, mas não aquelas que a presidente aponta. A exemplo de Goulart, Dilma também resolveu transformar o Palácio do Planalto numa espécie de bunker de resistência, abrigando nas dependências oficiais a retórica incendiária. Nesse particular sentido, repete os passos de Goulart.
Também ela investe na exacerbação dos conflitos, em vez de falar em nome do entendimento. Também ela resolveu se cercar de fanáticos que se dizem dispostos a tudo para defendê-la. Também ela investe numa forma particular de desinstitucionalização ao atribuir a um investigado sem cargo oficial tarefa que são do governo. Refiro-me, obviamente, a Lula.
Mas Dilma é ainda mais irresponsável do que o presidente deposto em 1964.
Naquele caso, havia, de fato, uma urdidura golpista. E de todos os lados, é bom que se diga. Quem quer que tenha vivido a época sabe e sabem-no os historiadores: era certo que um golpe viria; só não se tinha claro quem iria liderar. Ou seriam os militares anti-Jango, ou seria o próprio Jango. O resultado é conhecido
Onde estão as armas?
Hoje em dia, cumpre indagar: onde estão as armas? Golpe que aplica a Constituição e a lei é apenas exercício do estado de direito, e, pois, golpe não pode ser. Os militares estão distantes da política. E assim permanecerão. A solução, qualquer que seja ela, será dada pela sociedade civil.
Ao afirmar a existência de um golpe, Dilma sataniza forças políticas legítimas e busca atribuir-lhes um crime que não cometeram. Ao contrário: o único ente criminoso nesse enredo é o governo. Ou para ser específico, já que o crime de responsabilidade é pessoal: Dilma é a criminosa da história.
Também em 1964, é bom que fique claro, organizações de esquerda prometiam resistência armada caso o golpe partisse do outro lado. Cinquenta e dois anos depois, suas sucedâneas exercitam a mesma retórica. Ocorre que, desta vez, o “outro lado” são os 82% dos brasileiros que desaprovam o jeito Dilma de governar e querem o impeachment.
Impeachment que pode advir não porque a esmagadora maioria não gosta da presidente, mas porque ela cometeu crime de responsabilidade.
O PT está dizendo: ou a gente ou sangue! E as pessoas decentes têm de responder: nem vocês nem sangue.
PS: Entendo que, mais uma vez, Dilma incorreu em crime de responsabilidade ao usar o Palácio do Planalto para insuflar a luta de brasileiros contra brasileiros.
Nota à margem: por que escrevo “sedizentes artistas”? Porque artistas eles se dizem. Mas alguém indagaria: “E não são?” Notem: quando se expressam sobre uma questão política, não! Ninguém é “artista” porque é a favor ou contra partidos e grupos. Os artistas só o são no âmbito de sua arte.
Dilma, mais uma vez, deitou falação e voltou a investir na crispação do ambiente político. Repetiu que um processo de impeachment sem base legal — como se não houvesse — é golpe. Não se contentou: “Se. em 1964. chamaram o golpe de revolução, agora chamam um processo sem base legal de impeachment.” E voltou a comparar os petistas aos judeus e seus adversários ao nazismo. Bem, essa questão em particular é de tal sorte delinquente que me nego a voltar ao assunto. Já escrevi a respeito. Quero falar sobre o 31 de março.
As esquerdas escolheram o 31 de março para se manifestar para associar o processo de impeachment ao golpe militar. Como vimos, a própria presidente-fantoche resolveu investir na comparação.
De fato, há algumas semelhanças, mas não aquelas que a presidente aponta. A exemplo de Goulart, Dilma também resolveu transformar o Palácio do Planalto numa espécie de bunker de resistência, abrigando nas dependências oficiais a retórica incendiária. Nesse particular sentido, repete os passos de Goulart.
Também ela investe na exacerbação dos conflitos, em vez de falar em nome do entendimento. Também ela resolveu se cercar de fanáticos que se dizem dispostos a tudo para defendê-la. Também ela investe numa forma particular de desinstitucionalização ao atribuir a um investigado sem cargo oficial tarefa que são do governo. Refiro-me, obviamente, a Lula.
Mas Dilma é ainda mais irresponsável do que o presidente deposto em 1964.
Naquele caso, havia, de fato, uma urdidura golpista. E de todos os lados, é bom que se diga. Quem quer que tenha vivido a época sabe e sabem-no os historiadores: era certo que um golpe viria; só não se tinha claro quem iria liderar. Ou seriam os militares anti-Jango, ou seria o próprio Jango. O resultado é conhecido
Onde estão as armas?
Hoje em dia, cumpre indagar: onde estão as armas? Golpe que aplica a Constituição e a lei é apenas exercício do estado de direito, e, pois, golpe não pode ser. Os militares estão distantes da política. E assim permanecerão. A solução, qualquer que seja ela, será dada pela sociedade civil.
Ao afirmar a existência de um golpe, Dilma sataniza forças políticas legítimas e busca atribuir-lhes um crime que não cometeram. Ao contrário: o único ente criminoso nesse enredo é o governo. Ou para ser específico, já que o crime de responsabilidade é pessoal: Dilma é a criminosa da história.
Também em 1964, é bom que fique claro, organizações de esquerda prometiam resistência armada caso o golpe partisse do outro lado. Cinquenta e dois anos depois, suas sucedâneas exercitam a mesma retórica. Ocorre que, desta vez, o “outro lado” são os 82% dos brasileiros que desaprovam o jeito Dilma de governar e querem o impeachment.
Impeachment que pode advir não porque a esmagadora maioria não gosta da presidente, mas porque ela cometeu crime de responsabilidade.
O PT está dizendo: ou a gente ou sangue! E as pessoas decentes têm de responder: nem vocês nem sangue.
PS: Entendo que, mais uma vez, Dilma incorreu em crime de responsabilidade ao usar o Palácio do Planalto para insuflar a luta de brasileiros contra brasileiros.
O PT colonizou o Brasil
Nos primeiros anos do governo Lula, brincava-se com o que se compreendia como uma presunção petista. Comentava-se - "O PT pensa que descobriu o Brasil". Sob o novo governo, tudo era como "nunca antes na história deste país" e a própria narrativa histórica era refeita para se adequar a tais premissas. O petismo gerava grandes "novidades"! Descobrira a escravidão negreira e reacendia tensões raciais. Captara a existência de desigualdades sociais e manejava para produzir antagonismos a partir delas. Percebera desníveis de renda entre o Norte e o Sul do país e extraía daí as bases para o coronelismo de Estado lá onde, ainda hoje, alojam-se seus principais redutos. E assim por diante. Na alvorada do século XXI, o PT era o novo Cabral chegando com a modernidade aos botocudos brasileiros.
Tudo ficaria na base do transitório e jocoso, não fosse o fato de que o partido governante levava tudo aquilo muito a sério e tinha um projeto de poder que não admitia interrupção. Não que o projeto político para o país fosse uma preciosidade em si mesmo, mas porque o poder era por demais precioso ao partido. José Dirceu, em um evento realizado aqui ao lado de onde escrevo, na cidade de Canoas, afirmou em 2009, textualmente: "Se o projeto político é o principal, o principal é cuidar do PT". E o Brasil? Ora, o Brasil! O Brasil, àquelas alturas, já era tratado como uma colônia pela corte petista instalada em Brasília.
A atitude colonialista se expressa em diversos aspectos do cotidiano nacional. Há um colonialismo com reflexos na produção cultural e na cultura pois uma mão lava a outra no acesso aos benefícios e estímulos financeiros proporcionados pela corte. A invasão do politicamente correto produziu efeito deletério na indiada que antes vivia numa sociedade livre, impondo auto-censura à liberdade de expressão. O sistema público de ensino foi domesticado para só ministrar o que a corte de Brasília deseja ver ensinado através de seus trabalhadores em Educação. Em nenhuma hipótese tais conteúdos podem divergir da orientação imposta pelo colonialismo petista. Não convém à corte que seus súditos tenham armas para defesa pessoal. Por isso, inúmeras e onerosas dificuldades lhes são impostas para tal posse. No mesmo sentido, o colonialismo, de modo crescente, reduziu a autonomia dos entes federados - estados e municípios - em favor da centralização e consolidação de seu projeto de poder. Vai-se a Federação para o brejo.
À exemplo do velho colonialismo europeu, a corte transformou em monopólio partidário a parcela mais rentável dos negócios de Estado, e neles atua, simultaneamente, como contratante e intermediária. Por óbvio, tudo fica mais oneroso ao súdito, pagador de impostos e consumidor dos serviços prestados pela corte.
Portanto, laços fora brasileiros! As cortes de Brasília querem, mesmo, escravizar o Brasil.
Percival Puggina
Tudo ficaria na base do transitório e jocoso, não fosse o fato de que o partido governante levava tudo aquilo muito a sério e tinha um projeto de poder que não admitia interrupção. Não que o projeto político para o país fosse uma preciosidade em si mesmo, mas porque o poder era por demais precioso ao partido. José Dirceu, em um evento realizado aqui ao lado de onde escrevo, na cidade de Canoas, afirmou em 2009, textualmente: "Se o projeto político é o principal, o principal é cuidar do PT". E o Brasil? Ora, o Brasil! O Brasil, àquelas alturas, já era tratado como uma colônia pela corte petista instalada em Brasília.
A atitude colonialista se expressa em diversos aspectos do cotidiano nacional. Há um colonialismo com reflexos na produção cultural e na cultura pois uma mão lava a outra no acesso aos benefícios e estímulos financeiros proporcionados pela corte. A invasão do politicamente correto produziu efeito deletério na indiada que antes vivia numa sociedade livre, impondo auto-censura à liberdade de expressão. O sistema público de ensino foi domesticado para só ministrar o que a corte de Brasília deseja ver ensinado através de seus trabalhadores em Educação. Em nenhuma hipótese tais conteúdos podem divergir da orientação imposta pelo colonialismo petista. Não convém à corte que seus súditos tenham armas para defesa pessoal. Por isso, inúmeras e onerosas dificuldades lhes são impostas para tal posse. No mesmo sentido, o colonialismo, de modo crescente, reduziu a autonomia dos entes federados - estados e municípios - em favor da centralização e consolidação de seu projeto de poder. Vai-se a Federação para o brejo.
À exemplo do velho colonialismo europeu, a corte transformou em monopólio partidário a parcela mais rentável dos negócios de Estado, e neles atua, simultaneamente, como contratante e intermediária. Por óbvio, tudo fica mais oneroso ao súdito, pagador de impostos e consumidor dos serviços prestados pela corte.
Portanto, laços fora brasileiros! As cortes de Brasília querem, mesmo, escravizar o Brasil.
Percival Puggina
Notoriedade de denunciados
Perto de cair, o ex-presidente Fernando Collor montou um ministério de notáveis. A presidente Dilma monta um de notóriosRaul Julgman (PPS_PE)
A Redentora petista
Quem acordou na manhã daquele 1 de abril, ouvindo que as tropas do general Mourão Filho deixaram Juiz de Fora seguindo para o Rio de Janeiro, não esquece mais o susto e o medo daquela juventude. Era a Redentora descendo a serra naquela sexta-feira para instalar o Golpe de 64, que fez o país respirar o medo e o arbítrio por mais de duas décadas.
Coincidência que na tarde deste 31 de março de 2016, aniversário militar da Revolução, as tropas petistas também saíram às ruas, ao custo do dinheiro público, para defender o projeto político de poder, estabelecido pelo PT, de 20 anos no governo dos quais já cumpriram 13 com desastrosa e corrupta administração.
As ruas com militantes subsidiados pelo bolsa mortadela e seus gritos de guerra; a própria presidente ocupando o Palácio do Planalto como palanque partidário, quando prédio público; a decisão do Supremo Tribunal Federal. blindando gente sem foro privilegiado como Lula, família e amigos, traz o mesmo temor daquele 1964.
Naqueles anos, as ruas, vazias e silenciadas, havia o verde-oliva, hoje, o vermelho. O STF então estava silencioso, não silenciado, mas os palácios estavam ocupados como Laranjeiras com gente armada pró-golpe e Jango, mais isolado com menos força, nem lá armada, cercado em Brasília. Coincidência ou semelhança? Em ambos, mostra-se uma situação que nenhum país sério, que preza realmente a democracia, pode aceitar.
Não se ocupa impunemente as ruas, palácios e tribunais, contra uma população espoliada e achacada por governos corruptos, sob uma crise econômica como nunca vista.
Ao golpe militar se contrapõem agora o golpe político-quadrilheiro para sustentar uma legitimidade das urnas perdida pelas trapalhadas, corrupção e roubo descarado aos cofres públicos.
O que se pode esperar de um governo e de suas instituições que sobrepõem à Justiça o interesse de meia dúzia de cretinos em detrimento de um país à beira do caos social e econômico?
Como querem juízes esfriar o clamor público dando foro privilegiado a uns poucos em detrimento de toda uma população arrasada por ver ladrões e corruptos às gargalhadas na cara de cidadãos ?
A quinta-feira deste 2016 entra na história como a Quinta Vermelha de raiva de ver que neste país mais importam os poderosos, ainda, do que a população que vem sofrendo e ainda sofrerá muito na mão e desgoverno dessa cambada de capa e bandeira que não mais representa o país.
A opção que se vislumbra não será santa, como também não estamos em país santificado de honestos da mais pura estirpe. Mas as questões que se apresentam de Justiça e de contenção da crise galopante. Não será com tribunais silenciosos, mercenários em palácios e corruptos administrando o bem público que se sairá do poço.
Talvez muitos ainda não tenham entendido que a situação criada por desgoverno e investigações policiais são bomba relógio para explodirem o que resta de dinheiro da população debaixo do colchão, quando há. Sem contar a esperança e expectativa de melhoria, que agora por mais que queiram se esfumaçaram. Só imbecis ou cambada paga acredita em milagre de seis meses anunciado por corrupto-mor.
Coincidência que na tarde deste 31 de março de 2016, aniversário militar da Revolução, as tropas petistas também saíram às ruas, ao custo do dinheiro público, para defender o projeto político de poder, estabelecido pelo PT, de 20 anos no governo dos quais já cumpriram 13 com desastrosa e corrupta administração.
As ruas com militantes subsidiados pelo bolsa mortadela e seus gritos de guerra; a própria presidente ocupando o Palácio do Planalto como palanque partidário, quando prédio público; a decisão do Supremo Tribunal Federal. blindando gente sem foro privilegiado como Lula, família e amigos, traz o mesmo temor daquele 1964.
Naqueles anos, as ruas, vazias e silenciadas, havia o verde-oliva, hoje, o vermelho. O STF então estava silencioso, não silenciado, mas os palácios estavam ocupados como Laranjeiras com gente armada pró-golpe e Jango, mais isolado com menos força, nem lá armada, cercado em Brasília. Coincidência ou semelhança? Em ambos, mostra-se uma situação que nenhum país sério, que preza realmente a democracia, pode aceitar.
Não se ocupa impunemente as ruas, palácios e tribunais, contra uma população espoliada e achacada por governos corruptos, sob uma crise econômica como nunca vista.
Ao golpe militar se contrapõem agora o golpe político-quadrilheiro para sustentar uma legitimidade das urnas perdida pelas trapalhadas, corrupção e roubo descarado aos cofres públicos.
O que se pode esperar de um governo e de suas instituições que sobrepõem à Justiça o interesse de meia dúzia de cretinos em detrimento de um país à beira do caos social e econômico?
Como querem juízes esfriar o clamor público dando foro privilegiado a uns poucos em detrimento de toda uma população arrasada por ver ladrões e corruptos às gargalhadas na cara de cidadãos ?
A quinta-feira deste 2016 entra na história como a Quinta Vermelha de raiva de ver que neste país mais importam os poderosos, ainda, do que a população que vem sofrendo e ainda sofrerá muito na mão e desgoverno dessa cambada de capa e bandeira que não mais representa o país.
A opção que se vislumbra não será santa, como também não estamos em país santificado de honestos da mais pura estirpe. Mas as questões que se apresentam de Justiça e de contenção da crise galopante. Não será com tribunais silenciosos, mercenários em palácios e corruptos administrando o bem público que se sairá do poço.
Talvez muitos ainda não tenham entendido que a situação criada por desgoverno e investigações policiais são bomba relógio para explodirem o que resta de dinheiro da população debaixo do colchão, quando há. Sem contar a esperança e expectativa de melhoria, que agora por mais que queiram se esfumaçaram. Só imbecis ou cambada paga acredita em milagre de seis meses anunciado por corrupto-mor.
Pobreza não é destino
Uma cerca corta a cidade de Nogales ao meio. De um lado, ao norte, está Nogales, estado do Arizona. Do outro lado, ao sul, está Nogales, província de Sonora. Em Nogales ao norte, a renda por habitante é de US$ 30 mil anuais. A escolaridade média é alta. O sistema de saúde é bom. A taxa de criminalidade é baixíssima. Ninguém tem medo de sair às ruas. O padrão das moradias é alto. A população confia no governo. Enfim, Nogales, no Arizona, é uma cidade desenvolvida, com elevado padrão de bem-estar social.
Do outro lado da cerca, em Nogales ao sul, a renda por habitante é de um terço da vizinha do norte. O sistema educacional é precário. A escolaridade é baixa. O sistema de saúde não funciona. A criminalidade é alta. As moradias são ruins. As estradas, esburacadas. Abrir um negócio é arriscado. O governo é corrupto. Enfim, Nogales, em Sonora, é uma cidade pobre, atrasada, com baixo padrão de bem-estar social.
Como é possível as duas metades da mesma cidade, mesmo povo, mesmo solo, mesmo clima, serem tão diferentes? Por que uma é rica e a outra, miserável? O leitor já deve ter pensado: claro, Nogales ao norte, no Arizona, pertence aos Estados Unidos; Nogales ao sul, em Sonora, pertence ao México. Quando o México ficou independente, em 1821, a região de “Los Dos Nogales” (as duas nogueiras) pertencia ao Estado mexicano chamado Velha Califórnia. Após a guerra México-Estados Unidos de 1846-1848, os Estados Unidos adquiriram territórios mexicanos e as duas cidades nasceram, separadas por uma cerca.
A primeira conclusão é óbvia: a Nogales do Arizona desfruta das instituições norte-americanas, de alta qualidade, propícias ao desenvolvimento econômico e social, enquanto a Nogales de Sonora sofre com as instituições mexicanas, de baixa qualidade, ineficientes e corruptas. Pobreza não é destino, e pode ser superada mesmo nos países com escassos recursos naturais, desde que, para começar, tenham instituições eficientes e de alta qualidade.
Com instituições boas, nas quais a população confia, baixo nível de corrupção e um corpo de leis que crie incentivos aos negócios, estimule o empreendedorismo e premie o trabalho e a competência, o progresso material e o desenvolvimento social acontecem. A maior de todas as instituições é o governo, em seus três níveis de poder. Se o governo é ruim, a corrupção é alta e a eficiência é baixa, e isso é o quanto basta para minar as chances de desenvolvimento.
Em alguns países, diante da pobreza causada por maus governos e instituições ruins e corruptas, muitas pessoas e políticos pedem mais Estado e mais governo. É o mesmo que colocar a raposa para cuidar do galinheiro e, diante do sumiço de galinhas, solicitar mais raposas para solucionar o problema. Há algo de esquizofrênico em não confiar na política e, mesmo assim, pedir mais governo, mais estatização e mais impostos.
Os países desenvolvidos são os que têm um forte setor produtivo privado, ambiente favorável aos investimentos, leis boas e estáveis, governo eficiente, respeito ao direito de propriedade e liberdades individuais. O exemplo das duas cidades de Nogales – que, apesar de tão iguais, são tão diferentes – é apenas um, mostrando o que funciona e o que não funciona. Mas os socialistas não cedem às evidências e aos fatos: continuam desejando o que não funciona.
José Pio Martins
Do outro lado da cerca, em Nogales ao sul, a renda por habitante é de um terço da vizinha do norte. O sistema educacional é precário. A escolaridade é baixa. O sistema de saúde não funciona. A criminalidade é alta. As moradias são ruins. As estradas, esburacadas. Abrir um negócio é arriscado. O governo é corrupto. Enfim, Nogales, em Sonora, é uma cidade pobre, atrasada, com baixo padrão de bem-estar social.
Como é possível as duas metades da mesma cidade, mesmo povo, mesmo solo, mesmo clima, serem tão diferentes? Por que uma é rica e a outra, miserável? O leitor já deve ter pensado: claro, Nogales ao norte, no Arizona, pertence aos Estados Unidos; Nogales ao sul, em Sonora, pertence ao México. Quando o México ficou independente, em 1821, a região de “Los Dos Nogales” (as duas nogueiras) pertencia ao Estado mexicano chamado Velha Califórnia. Após a guerra México-Estados Unidos de 1846-1848, os Estados Unidos adquiriram territórios mexicanos e as duas cidades nasceram, separadas por uma cerca.
A primeira conclusão é óbvia: a Nogales do Arizona desfruta das instituições norte-americanas, de alta qualidade, propícias ao desenvolvimento econômico e social, enquanto a Nogales de Sonora sofre com as instituições mexicanas, de baixa qualidade, ineficientes e corruptas. Pobreza não é destino, e pode ser superada mesmo nos países com escassos recursos naturais, desde que, para começar, tenham instituições eficientes e de alta qualidade.
Em alguns países, diante da pobreza causada por maus governos e instituições ruins e corruptas, muitas pessoas e políticos pedem mais Estado e mais governo. É o mesmo que colocar a raposa para cuidar do galinheiro e, diante do sumiço de galinhas, solicitar mais raposas para solucionar o problema. Há algo de esquizofrênico em não confiar na política e, mesmo assim, pedir mais governo, mais estatização e mais impostos.
Os países desenvolvidos são os que têm um forte setor produtivo privado, ambiente favorável aos investimentos, leis boas e estáveis, governo eficiente, respeito ao direito de propriedade e liberdades individuais. O exemplo das duas cidades de Nogales – que, apesar de tão iguais, são tão diferentes – é apenas um, mostrando o que funciona e o que não funciona. Mas os socialistas não cedem às evidências e aos fatos: continuam desejando o que não funciona.
José Pio Martins
Na aritmética da crise, valem frações ordinárias
Um fato ocorrido na Câmara nesta quinta-feira ajuda a entender o que se passa. Membro do pelotão de resistência de Dilma, o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) encontrou-se com o colega Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), que pega em lanças pelo impeachment. A dupla travou um diálogo elucidativo:
— Lúcio, meu velho, fico cada vez mais decepcionado com a política. Vou te contar uma coisa porque gosto de você. Mas peço que não comente com ninguém. Estou vindo do Planalto. Encontrei lá cinco malandros do PMDB querendo ser recebidos. Pediam que não lhes retirassem os cargos porque não votarão a favor do impeachment.
— Silvio, meu caro, diferentemente de você eu já nem me decepciono mais. Encontrei há poucos instantes dez malandros seus. Disseram que fingem ser contra o impeachment de Dilma para evitar que lhes tirem os cargos. Mas querem mesmo é conversar com o Michel Temer. Pediram para eu marcar o encontro.
Os dois gargalharam ao se dar conta de que, na aritmética do impeachment, o que conta são as frações ordinárias.
Inclui o PT?
Nós temos um sistema político que não tem o mínimo de legitimidade democrática, deu uma centralidade imensa ao dinheiro e à necessidade de financiamento e se tornou um espaço de corrupção generalizadaLuís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal
Brasil vive guerra política por interesses pessoais
Os desdobramentos da crise política no Brasil são acompanhados com interesse e perplexidade pela opinião pública internacional. A cada fato novo vem a pergunta: é agora que Dilma Rousseff cai? E há semanas as manchetes internacionais se reviram em torno de um vago "pressão sobre o governo aumenta".
No mais recente desenvolvimento da crise, o PMDB, maior parceiro de coalizão de Dilma, decidiu deixar o governo. Este fato em si já é uma sensação, pois estamos falando de um partido que ocupa cargos no primeiro escalão desde a redemocratização, em 1985 – mais do que familiarizado, portanto, com a corrupção sistêmica do país.
Sedenta por um desfecho, a opinião pública internacional faz novamente a pergunta: é agora que Dilma Rousseff cai? O impeachment é iminente? Nós brasileiros nos desculpamos por frustrar as expectativas mais uma vez, mas há controvérsias.
Há quem diga que, se o tão acostumado ao poder PMDB consegue abandonar o governo, outros partidos menores podem seguir o exemplo e também deixar a base aliada. Com isso, aumentaria o número de votos para um impeachment de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, com as inúmeras facções dentro do PMDB, sempre houve uma ala do partido que votou contra o governo, independentemente da coalizão. Assim, há quem diga também que, ao deixar cargos no governo, o PMDB abre espaço para partidos que garantam um apoio mais consistente à presidente.
Aliás, a saída do PMDB também não significa que todos os membros do partido vão votar contra Dilma. A fidelidade partidária não costuma ser um valor maior na política brasileira – os 87 parlamentares que mudaram de legenda entre 18 de fevereiro e 19 de março na chamada janela partidária que o digam.
E não podemos esquecer que o PMDB manteve junto ao governo sua figura mais importante: o vice-presidente Michel Temer, o primeiro na linha de sucessão da Presidência, caso Dilma seja removida do cargo.
Com isso, fica evidente que estamos assistindo, na verdade, a uma guerra política por interesses pessoais que nada tem a ver com um projeto de nação. Lamentável para um país como o Brasil, que até poucos anos atrás era aclamado como gigante da economia mundial e exemplo na redução das desigualdades sociais.
Francis França
O que se passa no Brasil é de fato difícil de entender – a história não se resume a mocinhos e bandidos. De um lado, a presidente Dilma e o ex-presidente Lula juram de pés juntos que são inocentes de todas as acusações. Mas, ao mesmo tempo, se valem de manobras escandalosas para blindar Lula ao nomeá-lo ministro. De outro, a oposição e o Judiciário juram de pés juntos que lutam para combater a corrupção, mas as investigações andam mais rápido para uns do que para outros, e juízes que deveriam ser isentos simpatizam claramente com atos públicos contra o governo – isso quando não participam deles pessoalmente. Sem falar na comissão do impeachment, onde dos 65 membros, 37 são investigados por corrupção.
No mais recente desenvolvimento da crise, o PMDB, maior parceiro de coalizão de Dilma, decidiu deixar o governo. Este fato em si já é uma sensação, pois estamos falando de um partido que ocupa cargos no primeiro escalão desde a redemocratização, em 1985 – mais do que familiarizado, portanto, com a corrupção sistêmica do país.
Sedenta por um desfecho, a opinião pública internacional faz novamente a pergunta: é agora que Dilma Rousseff cai? O impeachment é iminente? Nós brasileiros nos desculpamos por frustrar as expectativas mais uma vez, mas há controvérsias.
Há quem diga que, se o tão acostumado ao poder PMDB consegue abandonar o governo, outros partidos menores podem seguir o exemplo e também deixar a base aliada. Com isso, aumentaria o número de votos para um impeachment de Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, com as inúmeras facções dentro do PMDB, sempre houve uma ala do partido que votou contra o governo, independentemente da coalizão. Assim, há quem diga também que, ao deixar cargos no governo, o PMDB abre espaço para partidos que garantam um apoio mais consistente à presidente.
Aliás, a saída do PMDB também não significa que todos os membros do partido vão votar contra Dilma. A fidelidade partidária não costuma ser um valor maior na política brasileira – os 87 parlamentares que mudaram de legenda entre 18 de fevereiro e 19 de março na chamada janela partidária que o digam.
E não podemos esquecer que o PMDB manteve junto ao governo sua figura mais importante: o vice-presidente Michel Temer, o primeiro na linha de sucessão da Presidência, caso Dilma seja removida do cargo.
Com isso, fica evidente que estamos assistindo, na verdade, a uma guerra política por interesses pessoais que nada tem a ver com um projeto de nação. Lamentável para um país como o Brasil, que até poucos anos atrás era aclamado como gigante da economia mundial e exemplo na redução das desigualdades sociais.
Francis França
Interesse público
Os escândalos que nos últimos dias ocupam a maior parte dos noticiários trouxeram para a vida dos brasileiros um componente muito mais grave e duradouro do que as piores consequências políticas que podem ocorrer a curto ou médio prazo.
O repertório de práticas ilegais, que isoladamente já se configuram crimes passíveis de rigorosas punições, é aumentado a cada dia pelas revelações de novos delitos. Se antes a profusão de más notícias chegava a se banalizar, por saturação, na cobertura da mídia e na percepção da população, hoje parte da sociedade está mobilizada e atenta. As ruas pedem “higienização” da política, em manifestações muito maiores do que se esperava.
O maior perigo deste cenário não está ligado à permanência de pessoas em seus postos públicos, nem mesmo à posição dos partidos no ranking do poder, mas ao aprofundamento da cultura da corrupção, que leva a descrença às instituições e aos princípios que alicerçam a vida social.
Na crise que hoje vivemos estão em jogo a própria democracia e o interesse público, onde deveria estar o mais alto padrão ético aplicável aos assuntos políticos. O ponto central ao se falar de algo que seja bom para o público em geral, em vez de bom apenas para uma parte dele, é estabelecer o contraste entre o bem superior e o bem inferior.
O interesse público não precisa implicar que todos os homens sejam dotados de benefícios iguais, mas implica sempre que todos devem ter oportunidades e receber o que lhes é devido. O simples fato de distinguirmos os homens entre o bem e o mal obriga-nos a pensar e escrever a respeito da ética, e entre os mais importantes desses problemas estão os supremos objetivos da vida política.
Por princípio, numa democracia, o poder vem de nós que o delegamos para que o Estado dirija as ações em nosso nome. Por isso, quando trazemos à baila o tema do relacionamento ético dos cidadãos entre si e na interface com os poderes públicos, a questão se agudiza. A ética pressupõe a liberdade e a capacidade de decidir, de escolher e de julgar. Há uma briga na vida que vale a pena ser brigada: a luta pela dignidade coletiva, sem a qual não há esperança.
A realidade política brasileira exercita o relativismo ético da conveniência, que é mais ou menos como falar: “Eu sei que não devo fazer caixa dois, mas, se eu não fizer, não consigo financiar a campanha”. Daí os escândalos que se sucedem e a crise moral que aflige os altos escalões do governo.
O artigo 37 da Constituição determina que as autoridades conduzam seus atos com impessoalidade e moralidade. Simpatias pessoais e/ou interesses de facções e grupos ligados ao governante não podem interferir na gestão da coisa pública.
Aqueles que estão atentos ao interesse público estão sempre se referindo aos supremos objetivos morais de uma associação política, embora possam não ter plena consciência disso. Fundamentos, instituições e política são sempre mutuamente interdependentes.
A sólida proteção das liberdades civis depende de um governo que dialogue com a sociedade e exige um ambiente respeitoso, voltado para a verdade. É o que ainda nos falta nestes dias tumultuados.
Carlos Alberto Rabaça
O repertório de práticas ilegais, que isoladamente já se configuram crimes passíveis de rigorosas punições, é aumentado a cada dia pelas revelações de novos delitos. Se antes a profusão de más notícias chegava a se banalizar, por saturação, na cobertura da mídia e na percepção da população, hoje parte da sociedade está mobilizada e atenta. As ruas pedem “higienização” da política, em manifestações muito maiores do que se esperava.
O maior perigo deste cenário não está ligado à permanência de pessoas em seus postos públicos, nem mesmo à posição dos partidos no ranking do poder, mas ao aprofundamento da cultura da corrupção, que leva a descrença às instituições e aos princípios que alicerçam a vida social.
O interesse público não precisa implicar que todos os homens sejam dotados de benefícios iguais, mas implica sempre que todos devem ter oportunidades e receber o que lhes é devido. O simples fato de distinguirmos os homens entre o bem e o mal obriga-nos a pensar e escrever a respeito da ética, e entre os mais importantes desses problemas estão os supremos objetivos da vida política.
Por princípio, numa democracia, o poder vem de nós que o delegamos para que o Estado dirija as ações em nosso nome. Por isso, quando trazemos à baila o tema do relacionamento ético dos cidadãos entre si e na interface com os poderes públicos, a questão se agudiza. A ética pressupõe a liberdade e a capacidade de decidir, de escolher e de julgar. Há uma briga na vida que vale a pena ser brigada: a luta pela dignidade coletiva, sem a qual não há esperança.
A realidade política brasileira exercita o relativismo ético da conveniência, que é mais ou menos como falar: “Eu sei que não devo fazer caixa dois, mas, se eu não fizer, não consigo financiar a campanha”. Daí os escândalos que se sucedem e a crise moral que aflige os altos escalões do governo.
O artigo 37 da Constituição determina que as autoridades conduzam seus atos com impessoalidade e moralidade. Simpatias pessoais e/ou interesses de facções e grupos ligados ao governante não podem interferir na gestão da coisa pública.
Aqueles que estão atentos ao interesse público estão sempre se referindo aos supremos objetivos morais de uma associação política, embora possam não ter plena consciência disso. Fundamentos, instituições e política são sempre mutuamente interdependentes.
A sólida proteção das liberdades civis depende de um governo que dialogue com a sociedade e exige um ambiente respeitoso, voltado para a verdade. É o que ainda nos falta nestes dias tumultuados.
Carlos Alberto Rabaça
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