quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

...e os ataques do poder contra a imprensa se rebaixam ainda mais

Com presteza jornalística e dignidade profissional, o Estado noticiou em sua edição de ontem, na página A8, os insultos dirigidos na terça-feira passada contra a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo. Esses insultos vêm carregados de matéria infecta; a simples tentativa de narrá-los causa engulhos, mas, sem recapitulá-los nos seus aspectos mais enojantes, não há como ter a dimensão precisa da campanha difamatória que o poder deflagrou contra a imprensa neste país. O tema é nauseante e repulsivo, mas obrigatório.

Desde 2018, quando revelou esquemas de impulsionamento ilegal de mensagens de WhatsApp nas eleições de 2018 em favor do candidato da extrema-direita, a jornalista Patrícia Campos Mello se tornou alvo preferencial do bolsonarismo de bueiro, capaz das piores torpezas. Os ataques covardes contra ela não cessam. Agora, o palco da agressão foi a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), no Congresso Nacional. Lá pelas tantas, um sujeito de nome Hans River do Rio Nascimento, que depunha para os parlamentares, passou a acusar a repórter de ter proposto – isto mesmo – trocar sexo por informação. O despautério factual e moral estarreceu a parcela civilizada dos presentes (outra parcela riu e festejou). Era notória a intenção de humilhar, de espezinhar, de torturar com palavras a condição feminina, como numa reedição do “eu não estupro porque você não merece”. Só quem entende que a mulher é (ainda) uma minoria política identifica o horror contido nessa fala. O acusador se aproveita daquilo que o machismo considera uma fragilidade e, fustigando esse “ponto fraco” (a condição feminina), investe contra a imprensa.

Não foi só isso. Pouco depois da cena deplorável na CPMI, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi às suas redes sociais e postou nada menos que o seguinte: “Eu não duvido que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, é o que a Dilma Rousseff falava: fazer o diabo pelo poder”.

A mensagem do deputado consumou, com total explicitude, mais uma investida do poder contra a mulher e contra a imprensa. Portanto, o que se passou em Brasília na terça-feira não foi apenas mais um surto de misoginia abjeta dando mais uma prova cabal da falta de decoro e de preparo das autoridades que encontram abrigo nos palácios da República; o que se passou lá foi o novo lance da cruzada fanática do governo federal contra os jornais. Enfim, o que se passou em Brasília na terça-feira era (e é) notícia do mais alto interesse público.

Em sua edição de ontem, a Folha repudiou oficialmente a mentira do acusador e as “insinuações ultrajantes” do deputado Bolsonaro. Quanto ao Estado, ao dar o devido destaque ao assunto, deixou claro que o tema não se reduz aos interesses do jornal concorrente e cumpriu o dever de levar ao seu leitor o que há de mais preocupante no País: o empenho alucinado do poder em destruir o jornalismo. A vítima desta vez foi uma repórter da Folha, mas o objetivo final deste coro de intolerantes – e mentirosos – é desacreditar não apenas a Folha, e sim todos os jornais. O objetivo é desmoralizar as redações profissionais independentes, todas elas.

Vistos em conjunto, esses ataques contra a imprensa, sucessivos e crescentes, conformam este fato irrefutável do nosso tempo: o poder que aí está, mais do que não gostar, rejeita visceralmente a função investigativa dos jornalistas e, se pudesse, gostaria de sumir com eles. Outro dia mesmo o presidente se referiu aos jornalistas como “espécie em extinção”. Não há um só momento em que um representante do governo federal tenha saído em defesa da liberdade de imprensa.

Quando muito – e isso rarissimamente –, uma autoridade governista reconhece alguma utilidade nos jornais para, logo em seguida, com a ajuda de uma conjunção adversativa, de preferência um “mas”, disparar um desaforo qualquer, como “jornalista tem de ir para a cadeia” ou “a imprensa só produz fake news”.

Esta campanha aberta e contumaz é um fato. Não é uma questão de opinião do observador. É fato objetivo. Suas consequências são desastrosas. Quem consegue aquilatar os efeitos de tamanha prepotência na formação das mentalidades das novas gerações? Essa postura animalesca ajuda ou atrapalha a cultura política no Brasil? Promove ou inibe a compreensão dos direitos? Se a autoridade, em lugar de ensinar a liberdade, dá exemplo de calúnia, de infâmia e de intolerância, o que acontece com os princípios democráticos? Ficam mais fortes ou mais fracos?

Será tão difícil perceber esse fato notório? O Brasil ainda não está numa ditadura, é óbvio, mas a democracia brasileira vai mal, e vai mal porque o bolsonarismo de bueiro, com o apoio do Planalto, milita para fazê-la sangrar diariamente. O fato é que o governo não cessa de trabalhar contra a imprensa, contra os valores democráticos, contra as mulheres, contra a razão.
Eugênio Bucci

Tem a Força

Quem é Greenpeace? Quem é essa porcaria chamada Greenpeace? Isso é um lixo
Jair Bolsonaro

Bolsonaro se afasta mais da política ao buscar novo ministro militar

Ao buscar um homem das Forças Armadas para ocupar o principal ministério do Planalto, Jair Bolsonaro elimina as migalhas políticas que restavam no coração do governo. O presidente já havia esvaziado as funções do deputado Onyx Lorenzoni na Casa Civil. Agora, pretende entregar a um militar as chaves do último gabinete do palácio.

Bolsonaro bateu à porta do Quartel-General do Exército e convidou o quatro estrelas Walter Braga Netto para ajeitar as confusas atividades do governo. Cada vez mais fraco, Onyx não dava conta do recado e já não participava da interlocução com o Congresso. Era um bibelô político que deve dar lugar ao quarto ministro de farda no Planalto.


O presidente nunca escondeu seu desapreço pelo trabalho de articulação. De saída, ele se recusou a montar uma base de apoio no Congresso e distribuiu de maneira descuidada entre seus auxiliares a missão de conversar com parlamentares.

A divisão de tarefas funcionou mal, e o Planalto foi perdendo credibilidade. O ex-ministro Santos Cruz, que chegou a dividir com Onyx o relacionamento com deputados e senadores, já disse que a falta de nitidez nas funções de articulação política e coordenação de programas prejudicava o funcionamento do governo.

Depois de provocar uma sequência de colisões com o Congresso, o presidente ainda tentou concentrar o trabalho político nas mãos de outro militar. Sete meses após assumir o cargo, o general Luiz Eduardo Ramos ainda é visto com desconfiança até por parlamentares aliados.

Bolsonaro parece transferir essa função para fora do palácio. Agora, o ex-deputado Rogério Marinho é a aposta do governo para azeitar a relação com o Congresso. Novo ministro do Desenvolvimento Regional, ele vai gerenciar um orçamento milionário, cobiçado por parlamentares.

Ao defenestrar o único ministro político do Planalto, o presidente terceiriza uma tarefa que despreza. A decisão de pintar mais um gabinete de verde-oliva mostra de vez que o pilar de seu governo é outro.

Pensamento do Dia


A princesa Isabel, o imposto quebra-galho e a obscura reforma tributária

A princesa Isabel pode ficar em paz. Pelo menos a Lei Áurea deve ser preservada, se a equipe econômica tiver sucesso em sua campanha contra os direitos trabalhistas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, continua a pregar a desoneração da folha de salários como se fosse o principal – quase único – objetivo de uma reforma tributária. Ele voltou a defender, em conversa com senadores, a criação de um imposto para compensar, do ponto de vista fiscal, a prometida redução dos encargos trabalhistas. Pode ser o tal “imposto sobre o pecado”, incidente em cigarros, bebidas alcoólicas e alimentos com açúcar, ou um tributo sobre transações eletrônicas. Noticiada pelo Estado, a conversa mostra mais que insistência – já é uma fixação – em eliminar direitos para baratear a mão de obra. Mostra também uma forma peculiar, e muito estranha, de entender a tributação e a tarefa, proclamada como prioritária, de reformar o sistema de impostos e contribuições. Há pelo menos dois pontos intrigantes e até assustadores.

Em primeiro lugar, dois tributos de tipos muito diferentes são igualados na função de quebra-galhos, isto é, de recobrar a receita perdida com a desoneração da folha.

Em segundo lugar, o tal imposto sobre transações eletrônicas, concebido para tributar grandes empresas de tecnologia, é reduzido à função menor, quase mesquinha, de facilitar a eliminação de encargos sociais. Mas serviria, mesmo, só para isso?


Este segundo ponto é particularmente preocupante. Encontrar meios de tributar a economia digital, um componente de peso enorme e crescente na vida econômica, é hoje uma das principais missões da OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O tema foi discutido em Davos, em janeiro, em reunião do Fórum Econômico Mundial.

O assunto é tão complicado quanto delicado. O governo francês meteu-se em conflito com a Casa Branca ao tributar operações de empresas como Google, Apple, Microsoft, Amazon e Facebook. Um entendimento bilateral foi anunciado pelo ministro da Economia da França, mas falta um esforço muito mais amplo para um acordo geral em relação ao projeto da OCDE.

Um tema dessa dimensão ficaria muito bem na pauta diplomática e, é claro, no projeto de reforma tributária do governo brasileiro. Mesmo sem a questão internacional, o assunto ainda seria excessivamente importante para ser tratado de forma isolada e, pior que isso, como simples quebra-galho fiscal.

Mas terá o governo, de fato, um projeto de reforma tributária? Não há sinal disso. Não há sinal, pelo menos, da existência de algo digno de ser classificado como projeto.

O ministro da Economia nunca foi muito além, nas suas declarações, de referências à criação de algo parecido com o extinto imposto do cheque, a CPMF, da redução do número de tributos e da eliminação dos encargos trabalhistas. A volta do imposto sobre movimentação financeira foi apresentada em várias ocasiões como forma de compensar o fim daqueles encargos. São, portanto, duas fixações, aparentemente muito fortes, mas insuficientes para compor uma reforma tributária.

Tampouco se encontram sinais de um projeto em declarações do presidente da República. Talvez ele esteja ocupado demais com a reeleição para cuidar de assuntos como esse. Além disso, o presidente nunca mostrou inclinação a pensar de forma organizada sobre questões tributárias. Ele se opôs à recriação da CPMF, mas sem um argumento econômico. Poderia usar vários, mas nunca deu sinal de pensar em algo diferente do custo político-eleitoral.

Esse tipo de preocupação ficou mais escancarado em outras ocasiões. Quando se falou pela primeira vez em “imposto sobre o pecado”, ele proibiu a incidência sobre a cerveja. Mas nada iguala a campanha para mudar ou eliminar a cobrança do tributo estadual sobre combustíveis.

A campanha é obviamente populismo tosco, mas esse talvez nem seja o dado mais importante. A proposta do imposto zero, nesse caso, revela também uma ignorância incomum sobre a aplicação, a gestão e a importância do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o principal tributo dos Estados. Se a mistura de populismo, irresponsabilidade e ignorância incomodar o fã-clube de Bolsonaro, ele terá perdido alguns pontos nesse episódio. Mas incomodará, mesmo?

Não perguntem ao presidente a orientação e o sentido estratégico da reforma tributária, por ele apresentada como prioridade. Ele remeterá a questão ao ministro da Economia. Mas em relação a isso o ministro está inadimplente.

Ele nunca apresentou um quadro geral do novo sistema nem explicou os objetivos principais da reforma. Supõe-se haver algo além da redução do número de tributos e do alívio da folha salarial. A tributação da economia digital deveria ser parte de uma ampla modernização, mas foi apresentada como quebra-galho.

Perguntar sobre outra prioridade oficial, a reforma administrativa, deve ser igualmente frustrante. Uma resposta satisfatória dependeria de noções claras de administração e de funções de governo, itens obviamente escassos no repertório bolsonariano.

Governo monta Conselho para fazer o que quiser com a Amazônia

Era uma vez o Conselho Nacional da Amazônia Legal. Foi criado em 1995, ano em que o país era presidido por Fernando Henrique Cardoso, e dele faziam parte os nove governadores da chamada Amazônia legal (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso). A medida repercutiu positivamente mundo afora.

Desativado, na prática, desde que Jair Bolsonaro tomou posse, o mundo ficou sabendo que Conselho voltaria a funcionar quando o ministro Paulo Guedes, da Economia, viajou, este ano, para o Fórum de Davos. Precisava deixar por lá a impressão de que algo voltaria a ser feito para proteger a Amazônia das queimadas e da devastação.

Mas foi um truque. E pior: um truque de mágico amador. É verdade que pelo menos o comando do Conselho foi entregue a alguém que já viu a floresta de perto – o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, que naquela região esteve a frente de uma brigada de infantaria da selva. Mas os nove governadores foram excluídos.

Como isso se justifica? Não se justifica, é claro. E nem o próprio governo deu-se ao trabalho de justificar ao instalar o Conselho em cerimônia no Palácio do Planalto, onde o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete da Segurança Institucional, convidou o auditório a levantar-se das cadeiras e a gritar, em voz alta, “Selva”. Foi atendido com entusiasmo.

Sequer para a cerimônia os governadores foram convidados. Entre embaixadores de outros países presentes, também não estava o da França, propositadamente esquecido. Parte da floresta Amazônia estende-se pela Guiana francesa. Mas o governo do presidente Emmanuel Macron é considerado por Bolsonaro um inimigo do Brasil e do seu governo.

Quem, mais do que os governadores da Amazônia Legal, conhece os problemas da Amazônia Legal? Por que deixá-los de fora do Conselho? Para que não deem sugestões? Para que não se oponham às políticas que o governo eventualmente pretenda implantar? Algumas dessas políticas conhecidas são questionáveis. É isso que provoca medo ao governo?

Um Conselho desativado dará lugar a um Conselho de mentirinha. Se é o que o governo quer, terá. Só não pense que o mundo se deixará enganar por essa jogada tosca.

Bolsovírus

Esse negócio de ficar muito próximo à família Bolsonaro é perigoso.

Esses desarranjos mentais parecem mais contagiosos que esse vírus chinês
Gustavo Bebianno, ex-Secretário-geral da Presidência

Um PhD em milícia na antessala de Bolsonaro

Foi a ida do ex-secretário da Previdência do Ministério da Economia, Rogério Marinho, para o Ministério do Desenvolvimento Regional que possibilitou ao presidente Jair Bolsonaro convidar o segundo general da hierarquia do Exército, o chefe do Estado-Maior Walter Souza Braga Netto, a ocupar a Casa Civil.

Colaborador de melhor trânsito no Congresso, de toda a Esplanada, Marinho tem interlocução com o ministro Paulo Guedes e habilidade para o jogo presidencial no Congresso e nas eleições municipais. Sem um partido para chamar de seu, o presidente vai tentar construir uma base municipal por dentro das legendas. Com uma pasta chave que comanda do Minha Casa Minha Vida às obras contra secas, Marinho atuará, de fato, como o ministro que vai tentar tocar a máquina governamental em sintonia com as demandas parlamentares. Está muito mais para a Casa Civil do que Braga Netto.

Parece ser outra a função a ser desempenhada pelo general. Junto com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, Braga Netto formará o triunvirato de generais cariocas que trabalharam juntos no Rio e tocam de ouvido. Braga Netto foi chefe da Autoridade Pública Olímpica quando Ramos era chefe da 1ª divisão do Exército e subordinado ao então comandante militar do Leste, Azevedo e Silva.


O triunvirato é prestigiado num momento em que os militares, apesar de terem ganho a desejada reestruturação da carreira e de terem os seus projetos entre os mais salvaguardados dos investimentos federais, não esconderem mais o incômodo com os protocolos deste governo. Ao inaugurar o instituto que leva seu nome, em Brasília, o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas-Boas franqueou a palavra a um potencial adversário da reeleição do presidente, o apresentador Luciano Huck.

Se ainda não está claro como a articulação política pode vir a passar ao largo de um Palácio do Planalto comandado por dois generais da ativa, parecem mais evidentes os predicados de Braga Neto num dos temas que mais inquieta o presidente da República. O conhecimento adquirido pelo general no modo de operação do crime organizado concorre com o do ministro da Justiça e potencial adversário do presidente em 2022, Sérgio Moro.

A intimidade adquirida com o modo de operação da milícia fluminense durante os 12 meses em que foi interventor federal no Rio durante o governo Temer tornou Braga Netto um verdadeiro arquivo vivo do tema. Chega ao Palácio do Planalto num momento em que o presidente da República paga uma fatura elevada pela longa e profícua relação com as milícias.

Depois das homenagens prestadas em vida ao ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, a família silenciou sobre sua morte, no domingo, pela polícia baiana. Ao romper o silêncio ontem, o senador Flávio Bolsonaro escreveu no Twitter, em forma de denúncia, que o ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, teria sua cremação acelerada para que as evidências de seu assassinato fossem apagadas.

O senador sugere, dessa forma, que seria o maior interessado em que Adriano ainda estivesse vivo, desvinculando-se da ‘queima de arquivo’ levantada pelo advogado do ex-capitão. O senador deu início à sua estratégia de vitimização no mesmo dia em que foi protocolado no Conselho de Ética do Senado um pedido de quebra de decoro do seu mandato. O sucesso desse pedido esbarra na ocorrência dos fatos alegados em período anterior ao seu mandato e, principalmente, nas ambições do senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) em obter o aval do Palácio do Planalto para mudar as regras constitucionais e se reeleger à Presidência da Casa na mesma legislatura.

É no Rio que está o maior cerco sobre o filho do presidente. A lupa sobre os inquéritos que correm no Estado está a cargo do procurador-geral da República, Augusto Aras, que monitora o trabalho do Ministério Público e da polícia civil do Rio. O procurador também manteve o pedido feito por sua antecessora, Raquel Dodge, para que a competência da investigação da morte da vereadora Marielle Franco passasse da polícia do Rio para a Polícia Federal.

Como a vinculação de Adriano da Nóbrega com a morte da vereadora já foi descartada pela polícia civil do Rio e pela própria Polícia Federal, restou ao deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) concluir que foi o fato de a investigação se avizinhar da família do presidente que despertou o interesse na federalização. A decisão está a cargo do Superior Tribunal de Justiça.

Se a tese da federalização ganhou força com a incompetência, ou má-fé, demonstrada por uma operação policial incapaz de resgatar com vida um foragido cercado, a transferência de competência para a Polícia Federal esbarra no desinteresse demonstrado pela instituição quando da elaboração da lista vip de foragidos cuja captura deveria ser prioritária.

Freixo se antecipou à estratégia de vitimização dos Bolsonaro iniciada com a operação policial a cargo de uma polícia comandada por um governador do PT (Rui Costa). Não cobra que Bolsonaro responda sobre a morte de Adriano, mas sobre sua vida. As investigações em curso indicam que, além de recheada de homenagens e de empregos a parentes, o ex-capitão manteve contas bancárias por onde passavam as ‘rachadinhas’ do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.

É na Casa Civil de um governo cujo presidente é acossado por milicianos insepultos que aportará o austero Braga Netto. O general enfrentou forte resistência familiar para aceitar o cargo dada a memória de ameaças sofridas à época da intervenção militar do Rio.

A carreira do general não autoriza a interpretação de que seu conhecimento sobre o submundo do Rio se preste à cooptação ou que se submeta cegamente à missão de proteger o comandante em chefe em apuros. A única aposta que dá para fazer é que a nova leva de militares da Esplanada sentirá saudade dos tempos em que sua maior dor de cabeça era cortar os laços do governo com Olavo de Carvalho.

Fardados assumem posições-chave no Brasil

A coisa começou sorrateira. Em Brasília, eles passaram a ser vistos em todos os ministérios logo após a posse de Jair Bolsonaro. Mas agora, depois de um ano, também podem ser encontrados fora da capital, em companhias estatais, órgãos de supervisão, em empresas mistas – onde quer que o Estado possua participação ou tenha alguma influência. São militares de alta patente colocados em posições-chave do aparato estatal pelo capitão da reserva Bolsonaro.

Trata-se geralmente de homens em idade de se aposentar, em boa forma, que, com o cabelo cortado rente, parecem clones. São educados, discretos e muitas vezes taciturnos. Na maioria das vezes, leem seus discursos breves diretamente do papel, ou soa como se estivessem. Eles são citados com sua patente militar: "Então, como o general acabou de dizer..."


Consta que o governo Bolsonaro destacou 2.500 militares de alto escalão, a maioria da reserva, mas também alguns da ativa. Facilitou-se a entrada deles na política. Eles recebem um adicional de 30% sobre seus soldos ou pensões. A rigor, isso deveria ser desnecessário. Assim como as autoridades judiciais, os militares de alta patente estão entre os funcionários públicos altamente privilegiados que continuam a receber vencimentos obscenamente altos mesmo após a aposentadoria.

Mas provavelmente muitos militares não teriam mudado para cargos civis sem incentivos financeiros. Porque o presidente – que no final de sua breve carreira militar por pouco escapou de ser exonerado do Exército com desonra – trata seus antigos superiores como se fossem moleques de escola. Quem faz qualquer crítica discreta é substituído. Bolsonaro quer receptores e executores de ordens totalmente submissos.

Além disso, ele não tem um partido a que possa recorrer para o preenchimento de cargos. Tampouco dispõe de redes de especialistas em administração pública. Essa deficiência se torna agora perceptível: a maioria dos "especialistas" que Bolsonaro trouxe à parte das Forças Armadas provou-se um fiasco nos cargos: isso se aplica particularmente às pastas de Meio Ambiente, Educação e Família.

Até agora, os oficiais uniformizados não se envolveram em grandes escândalos. Alguns dos militares de alta patente são especialistas com formação em suas áreas, como minas e energia ou infraestrutura.

No entanto, sob o capitão da reserva Bolsonaro, o governo tem que desembolsar cada vez mais: 26% de todos os pagamentos de salários e pensões estatais cabem aos militares. Eles não foram apenas basicamente poupados na reforma da Previdência, em comparação com a maioria dos brasileiros, mas também receberam ajustes salariais, o que praticamente neutralizou a economia da "reforma". Os escalões mais altos dos militares são agora tão privilegiados quanto os funcionários do Judiciário.

Além disso, pouco antes da virada do ano, o governo abriu novamente as porteiras para os militares – um governo em que tudo que encontrasse comprador particular deveria ser privatizado: quase um terço de todos os investimentos governamentais em 2019 foi para os fardados.

A maior parte foi destinada à Empresa Gerencial de Projetos Navais (Emgepron), sob o comando da Marinha. Porém a Infraero e a Telebras também receberam dotações generosas de fundos públicos; ambas são há muito tempo empresas estatais supérfluas, que servem principalmente como cabide de empregos com a finalidade de garantir cargos para apadrinhados políticos.

A crescente militarização do Estado brasileiro é economicamente arriscada: pois a longa lista de medidas econômicas erradas sob a ditadura mostra que as decisões de investimento das Forças Armadas seguem a lógica e o interesse próprios – mas saem caras demais para a economia nacional e a sociedade como um todo.
Alexander Busch

'Brasil' acima de todos


O socorro

Ele foi cavando, cavando, pois sua profissão – coveiro – era cavar. Mas, de repente, na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouvia um som humano, embora o cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares naturais do mato. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: “O que é que há?”

O coveiro então gritou desesperado: “Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!” – “Mas, coitado!” – condoeu-se o bêbado. – “Tem toda a razão de estar com frio. Alguém tirou a terra de cima de você, meu pobre mortinho!” E, pegando a pá, encheu-a de terra e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.

Moral: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem para quem apela.

Boca que fede

Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada
Paulo Guedes, ministro da Economia

O governo no divã do analista

Está provado e, deveras, reconfirmado: a impulsividade é uma característica latente do presidente, que toma decisões de acordo com o sentimento (e a conveniência) da hora. Tome-se o caso da retirada dos brasileiros de Wuhan, na China, já de retorno para uma quarentena por aqui. Alegando entraves diplomáticos, custo orçamentário, ameaça de contaminação, dificuldades jurídicas, o escambau a quatro, Bolsonaro havia dito que não iria fazê-lo. Determinou que a medida estava fora de cogitação porque, no seu entender, poderia expor boa parte da população brasileira de maneira desnecessária. Nas suas palavras: “Não vamos colocar em risco nós aqui (sic) por algumas famílias apenas”. Voltou atrás no surto de egoísmo e descaso.


Ao ver que os demais países, por dever humanitário e de solidariedade aos compatriotas, providenciaram a saída de seus cidadãos dos locais afetados — medida óbvia e inevitável —, o capitão resolveu finalmente seguir a ordem natural das coisas e repetir o exemplo. Deve ter caído a ficha sobre o tamanho da insensatez que cometeria lavando as mãos e se eximindo de responsabilidade no assunto. Afinal, onde iria parar o lema “governar para todos”, tão decantado em prosa de políticos de sua estirpe? Com a fritura em fogo brando do ministro Onyx Lorenzoni se deu a mesma coisa. Ele inicialmente havia resolvido retirar o auxiliar da pasta. Chamou-o para uma conversa nesse sentido. Pensou em deslocá-lo para outro posto. Depois decidiu mantê-lo onde está. O secretário Vicenti Santini, também da Casa Civil, virou pivô de mais um espetáculo de vacilação. Há poucas semanas, o capitão chegou a destituí-lo, indignado por uma viagem dele em voo da FAB. No dia seguinte voltou atrás e o readmitiu em outra função, para logo a seguir demiti-lo de novo. Em menos de 24 horas, Santini entrou e saiu do governo três vezes, em um feito inédito de ordens e contraordens oficiais. Foi assim em inúmeras ocasiões. Nunca se sabe se o mandatário seguirá firme por uma direção ou por outra, já que ele demonstra tocar as decisões quase sempre sem rumo certo e com limitado conhecimento da realidade que o cerca. Em tempos não muito distantes, chegou a dizer que não havia brasileiro passando fome. Depois…voltou atrás e reconheceu as evidências em contrário. Na virada de ano, anunciou que iria promover um reajuste para os policiais. Alertado sobre o custo do agrado, negou logo após. Em determinada ocasião, comunicou de público que suspeitava ter câncer e, em seguida, classificou a própria declaração de mentira e sensacionalismo da imprensa. Havia se superado na negação de si mesmo. O presidente é um adepto tão fervoroso das fake news que há de se dar a ele o benefício da dúvida quanto a uma verdade absoluta na cartilha pela qual professa. Desconfie! Nem sempre o que Bolsonaro diz ou pensa é realmente aquilo que ele acredita ou quer dizer. Em um comportamento ainda mais complexo, talvez explicável apenas na psicanálise, rotineiramente ele afirma algo para depois desmentir. É quase um esporte. Entendeu? Ninguém consegue. Nem dá para aceitar. Os episódios nesse sentido se multiplicam aos montes. Na gangorra das divagações de Messias, sequer os venezuelanos escaparam. Bolsonaro, sem prova ou qualquer informação concreta, logo nas primeiras horas de um vazamento criminoso de óleo contaminar parte da costa brasileira, atribuiu a responsabilidade aos vizinhos. E falou isso para quem quisesse ouvir, em entrevista aos jornalistas. Desdisse o que disse, mais uma vez. Foi se verificar mais tarde que um navio grego estava por trás do incidente. O ministro da Justiça, Sergio Moro, herói nacional, não escapou de ser mais uma vítima de sua, digamos, “tática” de idas e vindas. Receoso do prestígio e da sombra que o auxiliar gerava no seu governo, o presidente sugeriu a intenção de retirar dele as atribuições da segurança. Falou isso, jogou a ideia no ar e…voltou atrás. O mesmo quando, logo na estreia de sua gestão, resolveu extinguir o Ministério do Trabalho. Depois não levou adiante a medida. O Imposto de Renda? Garantiu que baixaria a alíquota. Reavaliou e desistiu.

É nessa instabilidade de decisões e na malemolência de gestão que Bolsonaro fixa seu mandato. Nada do que ele diz é seguro. Bem como ninguém que ele acusa de traidor — e fez isso diversas vezes, inclusive com aliados e correligionários – pode ser encarado exatamente como tal. Não se toma ao pé da letra o que diz e pensa o presidente. Afinal, pode ser só uma reação da hora. Nessa toada fica a duvida: é possível apostar que esse Messias está realmente tentando dar prumo e norte ao País? Ou mesmo: como reconhecer quais as suas reais convicções se elas mudam ao sabor do vento e das circunstâncias? Bolsonaro diz que não aceita o toma lá, da cá com políticos e abertamente pratica a habitual distribuição de verbas e até de cargos para fazer valer suas propostas — muitas delas esdrúxulas, como a do fim dos radares e das cadeirinhas para transporte de crianças nos carros. Francamente, não é razoável levar a sério um chefe da nação assim. Ele não pode ser taxado sequer de mercurial. Sua inconstância não é apenas no humor. Passa disso. Avança perigosamente para o plano das ações e, dessa forma, compromete ou, no mínimo, desestabiliza os rumos de um País inteiro. O capitão, que é facilmente influenciável, pelos bajuladores em especial, e teimoso com os supostos opositores — de quem não aceita qualquer contribuição, mesmo construtivas e corretas —, mostra-se inábil na cadeira do Planalto. Em mais de um ano aboletado no poder, não aprendeu e, pelo visto, demore o tempo que for ali, não vai aprender a ser estadista na plenitude do conceito. De pulso firme, princípios republicanos e preocupação com o interesse geral. Bolsonaro age exclusivamente para proteger os seus e valores retrógrados de perseguição e preconceito contra quem pensa e é diferente dele. Pobre de uma nação que precisa conviver com um comandante de valores tão limitados.

Mais do que nunca, o presidente parece precisar urgentemente de um divã de analista para se tratar e quem sabe assim passar a exibir aos menos um pouco de equilíbrio nas escolhas e enunciados que faz. Como uma metralhadora giratória, nos últimos dias ele tratou de disparar mentiras, acusando indevidamente governadores estaduais pelo preço do combustível (quando 80% dos tributos sobre o produto são federais). Na sua munição de fake news, o Congresso é alvejado como vilão, acusado pelo “mito” de jogar contra os interesses nacionais — quando, os fatos demonstram, a Casa assumiu a responsabilidade direta pelos trabalhos e aprovação, por exemplo, da Reforma da Previdência, enquanto Bolsonaro mostrava pouco interesse e empenho com o assunto. Agora o mandatário diz que quer, mas, na verdade, não faz o menor esforço para ver aprovada a reforma administrativa. Teme que servidores federais se voltem contra ele e o boicotem nas eleições municipais. Mais uma vez prevalece o interesse pessoal sobre a necessidade nacional. Governar para si e para os seus, jamais para maioria, virou marca da gestão bipolar.

Como foi que eles conseguiram

Todo mundo pergunta como foi que, partindo de uma situação em que “tudo estava dominado” pela corrupção, os americanos conseguiram virar o jogo.

O “Movimento Progressista” foi uma resposta aos problemas que se tornaram agudos depois da Guerra Civil (1861-1865) que em tudo fazem lembrar os do Brasil de hoje: urbanização desordenada com multiplicação de cortiços, favelas e violência urbana; exploração vil do trabalho; usurpação dos governos das cidades por máquinas políticas corruptas altamente profissionalizadas financiadas por empresários de araque; corrida às fusões e consolidações de empresas de setores inteiros da economia concentrando a riqueza e criando grupos gigantes com poder de corrupção ilimitado (os famigerados robber barons)…

Embora todos tivessem as mesmas queixas, até meados da década de 1890 dezenas de grupos reformistas ou de protesto separados por antagonismos em torno de minucias programáticas e vaidades imensas batiam cabeças em cidades e estados diferentes sem força para mudar nada.


Quatro fatores, principalmente, concorreram para que somassem forças a partir da crise que levou ao pânico financeiro de 1893. A ação de todas as igrejas na crítica do estado de coisas e na pregação do social gospel que associava a salvação individual também à “salvação social” preparou o terreno. Mas foi a fundação da National Municipal League (NML), em 1894, amplamente financiada pelo empresariado que perdia com a corrupção, que profissionalizou a critica do sistema e a busca de alternativas pesquisando sistematicamente ao redor do mundo bons modelos de gestão das cidades, formando pessoal, prestando assessoria jurídica e legislativa e, principalmente, difundindo para o grande público as alternativas encontradas, municiando de argumentos e “estruturando em rede” os movimentos reformistas do país inteiro.

Também foi crucial o início de uma revolução no jornalismo americano que evoluiu do sensacionalismo e do panfletarismo partidário para o jornalismo investigativo dos repórteres “revolvedores da sujeira” (muckrakers) da revista de Samuel McClure que circulou entre 1893 e 1929 e expôs os intestinos da corrupção dos robber barons dos setores de petróleo, financeiro, do aço e outros, que constituíram monopólios maquiavélicos mancomunados com os donos das ferrovias e com políticos corruptos. Foram esses jornalistas, também, que pesquisaram e difundiram persistentemente nos EUA novos métodos de combate à corrupção, especialmente as ferramentas de democracia direta usadas na Suíça.

Os muckrakers e a NML deram a contribuição decisiva para a mobilização da opinião pública numa direção consistente apoiada numa espinha dorsal de sólido conhecimento.

O elemento sorte entrou, então, decisivamente em cena pela mão de Theodore Roosevelt. Vindo de fora dos currais tradicionais da política, ele foi o primeiro político do Ocidente a compreender a força do novo jornalismo nascente. Jogando “fechado” com os grandes repórteres daquela geração, começou como chefe de polícia de Nova York, foi eleito na sequência governador do estado, e logo tornou-se herói nacional ao enfrentar a máfia que dominava a política local havia décadas e controlava nacionalmente o Partido Republicano. Traído, foi “esterilizado” numa candidatura à vice-presidência num golpe dos velhos caciques corruptos dentro da convenção republicana. Mas com o assassinato do presidente McKinley antes da posse “TR”, aos 42 anos, carismático e orador brilhante, tornou-se, em 1901, o 26o e mais moço de todos os presidentes dos Estados Unidos, servindo até 1909.

Sua primeira providência foi reviver o Sherman Antitrust Act de 1890, engavetado pelos antecessores, regulamentar a operação das ferrovias e instituir a preservação de um grau mínimo de concorrência em cada setor em benefício do consumidor como limite legal da disputa por mercados. Ao mesmo tempo atacou forte as bases do “caciquismo” que viciava a política implantando eleições primárias diretas, eleição direta de senadores (antes indicados pelos legislativos estaduais) e os direitos de recall, iniciativa e referendo popular dos atos dos Legislativos e Executivos estaduais e municipais. Essas medidas vieram de encontro aos novos modelos de gestão das cidades a partir de eleições municipais despartidarizadas promovidos pela NML, o de City Council (um conselho eleito de 5 a 7 membros executando todas as funções antes prerrogativas de prefeitos e vereadores) e o de City Manager (uma variação do mesmo sistema mas ainda mais profissionalizado) e acabaram com o poder dos velhos caciques.

TR “picou” o poder econômico onde estava excessivamente concentrado e, na política, deu poder de polícia aos eleitores contra os representantes eleitos o que matou o varejo da corrupção e garantiu a constante renovação de quadros. Desde então os EUA vivem em reforma permanente mas com o povo e não os políticos dirigindo a pauta, o que explica toda a diferença de desenvolvimento, afluência e liberdade entre eles e o resto do mundo.