quarta-feira, 13 de março de 2019
Para ir se acostumando
Quem governa — no sentido de tomar as decisões que se impõem a todos — é sempre uma minoria ou alguns grupos minoritários em concorrência entre si. As minorias organizadas e resolutas acabam controlando o poder e suas decisões. É por isso que o jurista italiano Norberto Bobbio recomendava o estudo de como essas “minorias emergem, governam e caem”. Segundo ele, as classes políticas se dividem entre as que “se impõem” e as que “se propõem”. O poder conferido a uma minoria dirigente nas eleições não é irrevogável, mas concedido sempre a título provisório. O perigo de deixar o poder subir à cabeça é perder essa perspectiva de transitoriedade, até porque mandatos são o recurso mais escasso de um governo, um tesouro cuja medida é o tempo, ou seja, que se esvai a cada dia.
No mundo real, porém, o governo Bolsonaro enfrenta dois problemas que não têm nada a ver com a oposição: uma disputa intestina entre as “tropas de assalto”, que venceram as eleições, e as “tropas de ocupação”, os quadros com competência técnica para fazer o governo funcionar; e a incapacidade, até agora, de organizar uma base de apoio robusta no Congresso para aprovar as propostas disruptivas do governo, a começar pela reforma da Previdência. É aí que entra em campo o que Bobbio chamava de “subgoverno”, as agências governamentais que exercem funções essenciais de Estado — arrecadar, normatizar e coagir — e funcionam no piloto automático, quanto maior for a bateção de cabeça entre os novos ocupantes do poder. Essas agências não somente operam os mecanismos que dão sustentação orgânica ao Estado como se relacionam com outros atores da elite dirigente, no Congresso e no Judiciário, a partir dos seus próprios interesses, que muitas vezes são contrários aos da sociedade. Ainda mais no Brasil, cujo Estado é anterior à formação da Nação e teve seu controle dividido entre as oligarquias políticas, os estamentos estatais e as corporações profissionais. Geralmente, é o choque entre essas minorias que leva ao fracasso os governos.
Caso Marielle: há mais dúvidas do que respostas
A execução da vereadora Marielle Franco e do seu motorista Anderson Gomes está sob investigação há 363 dias. A 48 horas do aniversário de um ano dos assassinatos, o Ministério Público e a polícia anunciaram com estardalhaço a prisão dos supostos assassinos: Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, ambos egressos da Polícia Militar. Quem mandou matar? Não há sinal dos mandantes.
Alegou-se que "provas técnicas" levaram à identificação dos executores de Marielle e Anderson. Pode ser. Mas essas provas não foram colocadas sobre a mesa nas entrevistas. Informou-se que os criminosos nutriam uma "repulsa" pela figura de Marielle e por sua pauta política. Mataram por "motivo torpe", alegou a Promotoria. Cometeram "crime de ódio", declarou o representante da polícia civil. Impossível não é. Mas faz pouco nexo.
No mundo em que as coisas fazem sentido, matadores de aluguel matam como um negócio. Não costumam se dar ao luxo de custear uma operação sofisticada para matar uma pessoa por não gostar das atividades dela. Agem por dinheiro, não por capricho. As autoridades não excluem a hipótese de surgirem os mandantes.
O governador do Rio, Wilson Witzel, soltou fogos. "É uma resposta importante que nós estamos dando à sociedade, a elucidação de um crime bárbaro". Elucidação? Longe disso.
Se os representantes do Ministério Público e da polícia civil do Rio tivessem convocado a imprensa nacional para anunciar uma nova receita de feijoada, haveria no panelão dessa investigação de quase um ano muito caldo (dois suspeitos estão no fogo) e pouco feijão (falta mostrar as provas técnicas). Carne, nem pensar —esse gostinho, a plateia só vai sentir quando forem respondidas as perguntas centrais: quem mandou matar? Por quê?
Convém lembrar que a investigação do caso Marielle está sob investigação da Polícia Federal. Isso ainda vai longe.
Deu no jornal
Imprensa é alvo de Bolsonaro no Twitter a cada 3 dias
Em pouco mais de dois meses de governo, o presidente Jair Bolsonaro usou sua conta no Twitter para publicar ou compartilhar mensagens nas quais critica, questiona ou ironiza o trabalho da imprensa brasileira. Foram 29 publicações desde a posse até esta segunda-feira, 11, uma média de uma vez a cada quase três dias na rede social que o presidente tem utilizado como principal meio de comunicação com a população.
O governo é refém de um lunático
Antes que os bolsonaristas mais aguerridos peguem em armas, um esclarecimento. O lunático do título não é quem vocês estão pensando. Refiro-me a Olavo de Carvalho, o guru que faz a cabeça do presidente.
O autoproclamado filósofo emplacou dois pupilos como ministros: o das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez. As presepadas dos discípulos não saciaram o mestre. De seu escritório em Richmond, ele se dedica a semear intrigas e provocar novas crises em Brasília.
No fim de janeiro, Olavo se lançou numa cruzada contra o vice-presidente Hamilton Mourão. Chamou o general de “maluco”, “covarde”, “psicopata”, “charlatão desprezível” e “vergonha para as Forças Armadas”.
Como o vice não pode ser demitido, o ideólogo escolheu outros alvos. Na semana passada, o embaixador Paulo Roberto de Almeida o culpou por sua exoneração do Ipri, o instituto de pesquisas do Itamaraty. O diplomata havia chamado Olavo de “sofista” e “debiloide”.
Na sexta-feira, o guru da ultradireita surpreendeu ao pedir que seus alunos no governo, “umas poucas dezenas”, entregassem os cargos imediatamente. “O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles”, dramatizou.
Era só jogo de cena. Na verdade, Olavo queria revanche após saber que alguns pupilos haviam sido rebaixados na hierarquia do MEC. A tática funcionou. Ontem Bolsonaro mandou Vélez demitir três militares que se contrapunham aos olavistas no ministério. O expurgo mostra que o governo é refém de um personagem que divulga teorias conspiratórias e se descreve como “apenas um véio lôco” no Facebook.
Além de ver comunistas em toda parte, Olavo promove uma campanha incansável contra as universidades e o jornalismo profissional. Não por acaso, é cultuado por blogs governistas que propagam “fake news”.
Há poucos dias, o blogueiro que difamou uma repórter do jornal “O Estado de S. Paulo” pediu doações em dinheiro para o guru. “Professor Olavo precisa da nossa ajuda”, justificou.
O autoproclamado filósofo emplacou dois pupilos como ministros: o das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez. As presepadas dos discípulos não saciaram o mestre. De seu escritório em Richmond, ele se dedica a semear intrigas e provocar novas crises em Brasília.
No fim de janeiro, Olavo se lançou numa cruzada contra o vice-presidente Hamilton Mourão. Chamou o general de “maluco”, “covarde”, “psicopata”, “charlatão desprezível” e “vergonha para as Forças Armadas”.
Como o vice não pode ser demitido, o ideólogo escolheu outros alvos. Na semana passada, o embaixador Paulo Roberto de Almeida o culpou por sua exoneração do Ipri, o instituto de pesquisas do Itamaraty. O diplomata havia chamado Olavo de “sofista” e “debiloide”.
Na sexta-feira, o guru da ultradireita surpreendeu ao pedir que seus alunos no governo, “umas poucas dezenas”, entregassem os cargos imediatamente. “O presente governo está repleto de inimigos do presidente e inimigos do povo, e andar em companhia desses pústulas só é bom para quem seja como eles”, dramatizou.
Era só jogo de cena. Na verdade, Olavo queria revanche após saber que alguns pupilos haviam sido rebaixados na hierarquia do MEC. A tática funcionou. Ontem Bolsonaro mandou Vélez demitir três militares que se contrapunham aos olavistas no ministério. O expurgo mostra que o governo é refém de um personagem que divulga teorias conspiratórias e se descreve como “apenas um véio lôco” no Facebook.
Além de ver comunistas em toda parte, Olavo promove uma campanha incansável contra as universidades e o jornalismo profissional. Não por acaso, é cultuado por blogs governistas que propagam “fake news”.
Há poucos dias, o blogueiro que difamou uma repórter do jornal “O Estado de S. Paulo” pediu doações em dinheiro para o guru. “Professor Olavo precisa da nossa ajuda”, justificou.
Ataque à imprensa e o autoritarismo
O presidente Jair Bolsonaro não gosta dos jornais e jornalistas que não lhe seguem cegamente e de forma acrítica. Acha que pode, através das redes sociais, substituir entrevistas por lives do Facebook, trocar os anúncios oficiais da Presidência por disparos no Twitter, e que ele e seus filhos podem promover falsos jornalistas e perseguir os profissionais dos quais eles não gostam. Não dará certo, como outras investidas autoritárias também fracassaram.
Eu escrevi em 2004 várias colunas criticando duramente as investidas contra a imprensa pelo governo Lula, em seu início. Elas estão publicadas no meu primeiro livro, “Convém Sonhar”. O então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu propôs a criação de duas agências para controlar os jornalistas. Na exposição de motivos para o Congresso, argumentou que sua iniciativa se devia ao fato de não haver uma instituição capaz de “fiscalizar e punir as condutas inadequadas dos jornalistas”.
Os poderosos de então, como os de hoje, estão errados. Os jornalistas estão submetidos a todas as leis do país. E principalmente ao escrutínio de quem nos lê, ouve, assiste, segue. Se naquela época o PT queria inventar uma agência que punisse os discordantes, agora o presidente Bolsonaro cria milícias digitais que simulam o movimento natural da opinião pública, e às quais ele pessoalmente dá a senha de atacar.
O caso deste fim de semana deve ser analisado cuidadosamente para se entender a forma Bolsonaro de ameaçar a liberdade de imprensa. Um blog assinado pelo jornalista e documentarista marroquino Jawab Rhalib, hospedado no site francês chamado Mediapart, publica trechos de uma suposta entrevista de Constança Rezende e inventa a frase “a intenção é arruinar Flávio Bolsonaro e o governo”. Rhalib não entrevistou a repórter do “Estadão”. Recorreu a uma conversa que ela teve com uma pessoa que se apresentou como estudante para entrevistá-la. Na própria transcrição que o blog faz não aparece a frase atribuída a ela e ressaltada na postagem do presidente brasileiro. Bolsonaro deu curso a uma mentira e insuflou seguidores a atacar a jornalista.
A Agência Lupa fez a verificação e mostrou que era falso, o “Estadão” também desmentiu, mas o linchamento virtual continuou, já que teve o aval do próprio presidente. Ontem à tarde, o Mediapart publicou em português, em sua conta no Twitter, que não tem responsabilidade sobre a seção de blogs — destinada a leitores — e que a informação que Bolsonaro divulgou não era verdadeira. A propósito, quem ameaça o senador, filho do presidente, é ele próprio e seu amigo Fabrício Queiroz. Quando esclarecerem as movimentações bancárias estranhas, cessará o problema.
Não é a primeira vez que o bolsonarismo ataca jornalistas. Os métodos já são conhecidos: ameaças, xingamentos, uso de pedaços de verdade para construir uma grande mentira, intimidação, exposição do rosto do repórter com o aviso de que aquela pessoa é o alvo da vez. Isso já foi feito várias vezes nestes poucos meses que vão da campanha, transição e exercício do poder.
O ataque virtual é idêntico ao que fazia o então presidente Hugo Chávez. Ele era capaz, como vi em Caracas, de no meio de uma multidão que o aclamava apontar para um jornalista presente ao evento e acusá-lo de ser um inimigo do bolivarianismo, colocando-o em risco físico. Como agora se aponta na rede quem supostamente é inimigo do bolsonarismo.
Em abril de 2004, escrevi neste espaço contra governantes autoritários. “São perigosos, estejam eles na esquerda ou na direita, seja de que partido forem”. Naquela época me referia a essa tentativa do PT de criar agências para controle da imprensa, projeto que acabou sendo retirado diante das muitas críticas. O governo usou então sites aos quais repassava grandes somas de dinheiro para criticar alguns jornalistas. Aquela coluna escrita há 15 anos tem frases que parecem atualíssimas, como por exemplo, a que dizia: “Senhores governantes, por favor governem”. É o que está faltando a Bolsonaro. Dedicar-se ao exercício do cargo para o qual foi eleito e que tem usado de forma tão abusiva.
A nova tática da extrema direita espanhola nas redes: espalhar boato e corrigir pela metade
“A mãe de uma das meninas entrou em contato com o vice-presidente do Vox porque é simpatizante do nosso partido”, conta por telefone uma porta-voz da formação nas ilhas do Mediterrâneo. “Disse-nos que tinham agredido sua filha e duas [outras] menores por volta de 9h30 da manhã. Nós lhe pedimos tudo e nos disse que denunciou [a Guarda Civil nega], depois nos disse que foi ao centro de saúde de Son Servera, mas que demorava, e foram para o de Manacor, e depois nos passa um boletim médico, mas parece que não é de agora”. Era de fevereiro. A formação elaborou outra notícia, mas com uma captura de tela desse suposto documento hospitalar em que não se via a hora nem o dia do escrito. O EL PAÍS entrou em contato com a suposta “mãe” que teria alertado o Vox, mas o número indicado não respondeu a nenhuma mensagem.
O salto para a imprensa foi imediato. O jornal regional Última Hora publicou o fato depois da nota de imprensa: “Vox denuncia que três garotas foram agredidas”. O presidente do partido, Santiago Abascal, anexou o link desse jornal em seu perfil do Twitter, com 187.000 seguidores: “Nisto é que dá a doutrinação nas salas de aula: umas feminazis enlouquecidas deram uma surra em três meninas por não engolirem suas malditas imposições. Já chega!”. A notícia se multiplicava com milhares de compartilhamentos. Horas depois, as contas do Instagram do Vox Jovens (51.000 seguidores) e do grupo Cañas por España (17.300) faziam o mesmo, com links para veículos espanhóis de âmbito nacional, através dos seus stories – pequenos vídeos que ficam 24 horas no ar. “Todo nosso apoio às garotas do Vox que foram atacadas. Este é o feminismo que diz defender os direitos das mulheres?”, diziam.
No meio da tarde, Rocío Monasterio, futura candidata do partido à prefeitura ou ao Governo regional de Madri, concedia uma entrevista ao canal Cuatro: “Denuncio o feminismo supremacista que agrediu em Palma duas menores por não colocar o lacinho. Uma teve os dentes quebrados, e outra foi arrastada pelo chão”.
O clipe da entrevista desse vídeo de três minutos foi publicado no perfil oficial do partido no Twitter – 208.000 seguidores –, onde ainda continua ativo, gerando milhares de compartilhamentos, apesar de incluir uma notícia falsa. Já soma 100.000 reproduções e foi difundido pelas contas de Abascal e da própria Monasterio. Mais alcance. Mais impacto.
No Facebook, onde o partido conta com mais de 254.000 seguidores, já alcança 142.000 visualizações, com mais de 3.000 compartilhamentos e mais de 1.000 comentários. E continua. Nesta rede social, a formação deu um passo além e transformou essa publicação em anúncio pago. O objetivo: chegar a pessoas que não tem por que seguir o partido. As tarifas publicitárias nessa rede social, usada por 23 milhões de pessoas na Espanha, variam em função da campanha. Promover um vídeo como este para que chegue a 100.000 usuários teria um custo próximo de 5.000 euros (21.740 reais). O Facebook não permite saber qual estratégia foi usada neste caso.
No sábado pela manhã, a notícia continuava se espalhando. O líder do partido nas Baleares, Jorge Campos, falou à rádio Cope e forneceu novos dados: “Estamos em contato com suas famílias. Estamos prestando-lhes todo tipo de assistência jurídica quanto às ações que a família queira empreender. [As garotas] estão nervosas, preocupadas, machucadas, recuperando-se das lesões. Abaladas, como não poderia deixar de ser”. Horas depois, não havia garotas nem lesões. Nada.
Depois das 16h, a formação de extrema direita punha fim à notícia, três horas depois de ser desmentida pelo El Diario de Mallorca: “Fomos vítimas de uma manipulação. Denunciaremos os fatos”. Os tweets do Vox Baleares e de Santiago Abascal desapareceram. A conta da formação nas ilhas publicou a retificação no Twitter e no Facebook: 10.000 seguidores. As contas oficiais do Vox – que somam mais de 600.000 – não se manifestaram.
“Os partidos têm a responsabilidade de analisar as coisas que chegam de seus simpatizantes antes de compartilhá-las em suas redes”, conta Gustavo Entrala, criador da conta do Papa no Twitter. “Isso acontecerá na campanha eleitoral. E não devemos nos esquecer de uma coisa: embora seja retificada, é da primeira mensagem que se lembra”. Há alguns dias, o jornal El Confidencial publicou que altos executivos do Facebook se reuniram no mês de janeiro com todos os partidos em Madri para tentar deter as notícias falsas nas próximas eleições.
Na última pesquisa pós-eleitoral, em 2016, estimou-se que 40% dos eleitores haviam seguido informações sobre a campanha através dos meios de comunicação e 25% através das redes sociais. Nos Estados Unidos, no entanto, dois em cada três cidadãos têm acesso às notícias por meio desses canais, conforme relatado pelo centro de análise Pew Research em 2016: o ano do presidente Trump.
Depois de sua eleição, ficaram conhecidas várias notícias falsas divulgadas pelo Facebook: como que o papa Francisco o havia apoiado publicamente. Essa invenção gerou quase um milhão de interações (comentários, compartilhados, likes...).
Há exatamente um ano explodiu o escândalo da Cambrige Analytica, um enorme vazamento de dados através do Facebook para lançar mensagens políticas aos usuários. E a bola de neve da desinformação prossegue: em outubro do ano passado, um estudo do Oxford Institute anunciou que agora as notícias falsas são compartilhadas inclusive mais do que há dois anos.
A Comissão Europeia decidiu enfrentar essa ameaça. A partir de 1º de janeiro de 2019, o Facebook, o Google, o YouTube e o Twitter são obrigados a comunicar mensalmente a Bruxelas sua luta contra as campanhas de desinformação. “O objetivo daqueles que contaminam diariamente o debate público é encontrar alto-falantes que difundam suas mensagens”, explicou o jornalista Eduardo Suárez em uma coluna neste jornal. “Este axioma deveria definir a nossa conduta nas redes. Criticar o tweet de um provocador ajuda a propagá-lo.”
O caso das garotas de Mallorca reflete muito bem a importância desses canais para o Vox. Ou, como diz Santiago Abascal no livro La España Viva: “Para nós as redes não são um instrumento, para nós elas são o instrumento, o mesmo que nos permitiu reunir tanta gente nos últimos tempos”.
Bolsonaro continua 'autêntico'
Há quem acredite que os militares vão conseguir, em algum momento, que Bolsonaro tenha uma postura mais presidencial, mais de acordo com o cargo. Esse grupo que acredita numa transformação se diz aliviado por contar com militares na cúpula do poder. Diz que os ex-membros das Forças Armadas são os adultos na sala. Quem acredita numa metamorfose patrocinada pelos militares sonha com um Bolsonaro mais atento aos detalhes dos grandes temas nacionais, sem grosserias pelas redes sociais e ciente do papel da imprensa numa democracia. Esse desejo não é de todo descabido. Disciplina e persistência são duas características dos atuais e ex-membros das Forças Armadas. Se tem uma coisa que os militares sabem fazer é perseguir uma meta.
O problema dessa linha de pensamento esperançosa em uma transformação é não considerar que Bolsonaro também tem incentivos para continuar sendo o velho Bolsonaro de sempre. Se seu governo não conseguir fazer a economia voltar a crescer de forma consistente, se o desemprego não começar a cair logo e se a renda média do trabalhador não aumentar, alguém terá de levar a culpa. Nessas horas, é grande a tentação de apontar o dedo para a imprensa, o Congresso, o mau tempo ou o que for. As razões para manter a mesma fórmula de atuação vão além de achar um bode expiatório em eventuais momentos de crise. Quanto mais “autêntico” Bolsonaro aparecer, mais acesa estará a parte da sua base de apoio preocupada com os chamados temas de costumes. Se quiser manter essa base eletrizada, o presidente vai continuar usando as redes sociais da mesma maneira que sempre usou. Bolsonaro passou quase três décadas no Congresso sendo Bolsonaro, foi eleito presidente sendo Bolsonaro. Ainda que quisesse muito, talvez não conseguisse usar outro figurino. Nem com a insistência dos militares.
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