sábado, 6 de fevereiro de 2016

O grande herói

Perdemos feio

Ao falar que o Brasil está “perdendo feio” a guerra contra a dengue, o ministro Marcelo Castro prestou um serviço, embora incompleto, porque essa não é nossa única “derrota feia”.

Perdemos a guerra contra a violência: o clima de guerra já se apossou tanto da sociedade, que nos acostumamos a fugir das ruas, trancafiarmo-nos em nossas casas, condomínios fechados, carros e shoppings. A tal ponto, que já não nos perguntamos como viver em paz, apenas como conseguir segurança prendendo menores e liberando porte de armas aos cidadãos.

Perdemos a guerra da educação. Com mais de 50 milhões de brasileiros adultos sem o ensino fundamental, ainda que um governo sério decida fazer a revolução na educação de base, as crianças já nascidas chegarão à idade adulta despreparadas para enfrentar o desafio da era do conhecimento; não serão capazes de levar o Brasil ao desenvolvimento que precisamos.

Perdemos feio a guerra contra a desigualdade social. Mesmo depois de 15 anos de Bolsa Escola/Família, continuamos campeões de desigualdade, e os resultados na luta contra a fome estão regredindo por causa da inflação.

Perdemos feio a guerra do desenvolvimento científico e tecnológico, da inovação e da competitividade. Em muitos setores, estamos atrás até mesmo de países pequenos e sem tradição de desenvolvidos. E nossa educação, nossas empresas, nossas universidades não estão preparadas para enfrentar este desafio.

Perdemos a guerra da saúde. Não a tratamos como uma questão sistêmica que cuide da água potável, do saneamento, do trânsito, da saúde primária e de hospitais eficientes servindo ao interesse do doente, e não de empresários, sindicatos ou políticos.

Perdemos momentaneamente a guerra contra a inflação, e há sério risco de que não seremos capazes de vencer esta guerra por não querermos tomar as decisões necessárias. Perdemos feio a guerra contra a dívida pública; além de perdemos também a guerra do endividamento das famílias e empresas.

Perdemos a guerra das cidades, transformadas em “monstrópoles”; violentas, feias, com trânsito atravancado, ruas inundadas e casas sem água. Perdemos também a batalha do transporte público.

Perdemos feio a batalha da gestão pública, com um Estado ineficiente, dependente dos vícios dos partidos por aparelhamento, dos empresários por subsídios e desonerações fiscais; entregue à voracidade corporativa dos sindicatos, desprezando-se eficiência e mérito.

Perdemos a guerra contra a corrupção. Apesar da Lava-Jato, a prática, continua generalizada e o crime impune. Perdemos feio a guerra da credibilidade na política e nos políticos, e nada será feito se esta guerra não for vencida.

Estamos próximos de perder a batalha da democracia: com um debate centrado no impeachment de uma presidente com mandato ou na conformação a um governo eleito com notória incompetência para vencer as guerras e conduzir o Brasil para o futuro.

Felizmente, ainda não perdemos a guerra da esperança.

O Carnaval do trá-trá-trá

Pode ser nossa última chance de brincar para valer ou de comer frango, que aumentou 36% em um ano e forçou o brasileiro a comprar só coxinha (sem trocadilho) e asinha. Por que, então, essa gente mal-humorada critica o Carnaval como se fosse o ópio do povo? E se for? Deixa o pessoal rir da maior queda na produção industrial em 13 anos. Puxa vida. Esta semana a gente esquece os “pobremas” e lava a jato para baixo da consciência todas as preocupações.

Vamos cantar a marchinha de um bloco de Olinda: Nesse triplex tem elevador/Dona Marisa foi quem decorou/A OAS também reformou/Se Lula não quer morar, eu vou (ô revisão, por favor não coloque acento em “triplex”, me dá um descanso, porque ninguém fala nem canta com acento no “i”, isso é palavra oxítona em prosa e verso). Vamos rir com o carro alegórico de uma escola de samba de Vitória, que mostrou Lula, Dilma e Cunha presos. O troféu mais cobiçado deste Carnaval serão as algemas de ouro. As tornozeleiras esgotaram.

Não deixe o samba morrer./Não deixe o samba acabar. Só nostálgicos têm saudade de quando a voz de Alcione nesse sambão era o “hit” do verão momesco, em vez dessa porcaria de estribilho trá-trá-trá, do “Paredão metralhadora”, com a Banda Vingadora, que saiu de Itabuna, na Bahia, para o mundo. Um fenômeno parecido com o da zika, produto de exportação que leva ao Primeiro Mundo a marca do Brasil e de sua absurda negligência com a vida.

O sucesso do trá-trá-trá tem tudo a ver com os novos tempos. “Tudo haver” – como se escreve nas redes sociais. Além de cair a produção industrial, cai de forma alarmante o nível do idioma e da música. Cai tudo, menos a inflação e o desemprego. Mas, gente, vamos esquecer tudo isso, caramba. Ô colunista, que tal sair nos blocos e cair na folia? Com pouca fantasia, claro, para entrar no clima de 2016. Este é o Carnaval dos acessórios. Ninguém tem dinheiro para comprar fantasia inteira. Igual ao frango, vamos nos contentar com partes.

Mas tem um Estado que se rebelou contra as festas: Sergipe! O presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Clóvis Barbosa, em pleno recesso, acatou a solicitação do procurador Eduardo Côrtes, do Ministério Público de Contas, e proibiu 53 municípios de festejar o Carnaval enquanto não pagarem aos professores, com salários atrasados desde outubro do ano passado.

Por que essa preocupação com os professores num país que desmoralizou a honestidade e o lema Pátria Educadora? Num país onde o mau exemplo vem de cima e cria máfias da merenda escolar. Num país em que a presidente Dilma Rousseff, em seu mais importante pronunciamento para o Congresso, não menciona a palavra Educação em nenhum momento.

Dilma pede “pacto” fazendo um coraçãozinho com as mãos. Pacto implica sacrifícios de ambos os lados. Implica confessar que mentiu tanto que poderia ser enquadrada em crime de “falsidade ideológica”, pior que o do branco que se passou por negro para entrar na universidade por sistema de cotas. Pior porque levou a população à beira do abismo.

“Apesar da alegada crise”, disse o procurador Côrtes, de Sergipe, “diversos municípios continuam a realizar festividades e despesas com publicidade desnecessárias, gastos não essenciais se comparados às obrigações com a educação”. E o município que desobedecer e programar festejos e propagandas terá de pagar multa de R$ 60 mil “por ocorrência”. Que desplante falar em educação em férias de 40 graus. Ou será que Sergipe é uma inspiração para o país anestesiado pela crise? Menos festa e mais trabalho.

O Tribunal de Contas sergipano deve ter lido a reportagem da revista britânica The Economist, intitulada “Festejando à beira do precipício”, dizendo que, depois do Carnaval, ninguém vai conseguir relaxar no Brasil – nem Dilma nem os congressistas. Isso é muito sério, seria inédito, porque a presidente parece sempre calma e otimista, vivendo do dinheiro público e alheio. “Quando os políticos retornarem aos trabalhos”, diz a revista, “podem se arrepender do tempo que passaram sem tentar resolver os problemas”. Zika, Saúde em frangalhos, desemprego, alta desabalada dos alimentos, crise econômica e política.

Assim me disse um apavorado dono de marcenaria, prestes a demitir e a falir: “Está pior que nos tempos do Collor. Porque a crise, desta vez, pegou todo mundo muito endividado. Mandaram o povão consumir, consumir, consumir, abriram o crédito, prometeram mundos e fundos, criaram um país de fantasia, um paraíso, e agora os altos juros pegaram as famílias de classe média, que não têm como saldar as dívidas. É uma reação em cadeia na economia. Um derruba o outro. Não sei para onde a gente vai”.

Ora, a gente vai para a avenida.

O Príncipe e o Sapo de Guarujá

As pessoas me param nas ruas, em bares, em restaurantes: “Será que desta vez pegam o homem?”. O “homem”, tratado como entidade mística, o que não quer dizer “benigna”, todos sabem, é Lula. Assim, é verossimilhante aquela conversa petista de que, desde sempre, o alvo da operação seria o chefão do PT, e a Lava Jato não descansaria enquanto não realizasse o seu intento. Verossímil, mas falso. Embora o falso, nesse caso, possa esconder o verdadeiro.

A Lava Jato não foi deflagrada para “pegar Lula”. Ainda está longe disso. No mês que vem, a operação completa dois anos. Os resultados são mais modestos do que parecem se você não é do tipo que saliva ao pensar num empreiteiro preso. A urdidura criminosa que se foi revelando só faz sentido se pensada à luz da consecução de um projeto de poder. Não estamos diante de um assalto ao Estado que repita um padrão ou que reforce as posições de mando dos poderosos de sempre.

Ninguém é ladrão por força da gravidade ou de escolhas que outros fizeram em seu nome. Rico ou pobre, pé de chinelo ou do colarinho-branco, é preciso que haja a disposição subjetiva para tanto, o exercício de um talento. As circunstâncias da Fortuna vão indicar se o sujeito será um Marcola ou o comandante de um aparelho que fará a máquina pública girar primeiro para alimentar os anseios desse ente e, secundariamente, para atender às demandas da sociedade. Ou por outra: é possível aplicar Maquiavel para entender tanto os Príncipes como os sapos.

Quando as pessoas, entre a indignação e o desalento, vêm perguntar se, “desta vez, pegam o homem”, expressam uma leitura bastante sóbria da realidade, instruída pela lógica comezinha, que organiza a vida. Dada a importância que ele tem no PT –nunca lhe faltou polegar para decidir quem vive e quem morre no partido–, como acreditar que esquemas de tal magnitude, mensalão e petrolão, pudessem ser erigidos ao arrepio de quem, na legenda ou fora dela, não esconde onisciência, onipresença e onipotência? Qualquer semelhança com o Altíssimo não é coincidência, mas parentesco.

O direito, na área penal, se alimenta das provas, e não será este escriba a contestar jamais esse fundamento. Ao contrário! Já cheguei a ser vítima de alguns espadachins da reputação alheia em razão do meu legalismo. Mas me parece evidente que a população, por sua conta –e isto leva o PT ao desespero– está chegando aonde a Lava Jato, até agora, não chegou. E não chegou, em alguns casos, porque ainda não pôde. Mas também porque não quis: é um escândalo autoexplicativo que Lula não seja um dos investigados no caso do empréstimo concedido ao PT, e jamais cobrado, pelo banco Schahin.

É verossímil que o PT acuse a pretensão de “pegar Lula” porque, de fato, essa voz está nas ruas. Mas é falso que tenha sido esse, desde sempre, o desiderato da operação. Ao proclamar tal falsidade, porém, o próprio partido revela aquilo que gostaria de esconder: se estão dizendo que o “ente petista” fez tudo isso, é claro que não havia como Lula não saber. É precisamente ao acusar a perseguição que o PT se revela e confessa.

Chega a ser quase anedótico, dado o tamanho do Império Petista, que Lula tenha se metido num emaranhado envolvendo um apartamento e um sítio mixurucas. Até agora, as explicações só contribuíram para desmoralizá-lo sempre um pouco mais.

O Príncipe da Nova Era ainda vai terminar seus dias como o Sapo de Guarujá.

Vertigem desumana

O homem não pode manter-se humano a esta velocidade, se viver como um autômato será aniquilado. A serenidade, uma certa lentidão, é tão inseparável da vida do homem como a sucessão das estações é inseparável das plantas, ou do nascimento das crianças. Estamos no caminho mas não a caminhar, estamos num veículo sobre o qual nos movemos incessantemente, como uma grande jangada ou como essas cidades satélites que dizem que haverá. E ninguém anda a passo de homem, por acaso algum de nós caminha devagar? Mas a vertigem não está só no exterior, assimilamo-la na nossa mente que não para de emitir imagens, como se também fizesse zapping; talvez a aceleração tenha chegado ao coração que já lateja num compasso de urgência para que tudo passe rapidamente e não permaneça. Este destino comum é a grande oportunidade, mas quem se atreve a saltar para fora? Já nem sequer sabemos rezar porque perdemos o silêncio e também o grito. 


Na vertigem tudo é temível e desaparece o diálogo entre as pessoas. O que nos dizemos são mais números do que palavras, contém mais informação do que novidade. A perda do diálogo afoga o compromisso que nasce entre as pessoas e que pode fazer do próprio medo um dinamismo que o vença e que lhes outurgue uma maior liberdade. Mas o grave problema é que nesta civilização doente não há só exploração e miséria, mas também uma correlativa miséria espiritual. A grande maioria não quer a liberdade, teme-a. O medo é um sintoma do nosso tempo. A tal extremo que, se rasparmos um pouco a superfície, poderemos verificar o pânico que está subjacente nas pessoas que vivem sob a exigência do trabalho nas grandes cidades. A exigência é tal que se vive automaticamente sem que um sim ou um não tenha precedido os atos.
Ernesto Sábato

Crise ridícula

Poucas vezes tivemos crise como a que atravessamos. Não é dramática como a de 1954, que provocou o suicídio de um presidente. Nem sanguinária (até agora), como os golpes de 1964 e 1968. A atual é uma crise que seria apenas ridícula se não trouxesse os males que a nação está sofrendo desde que se inaugurou o governo do PT, em especial, o governo de dona Dilma, que ainda obriga seus auxiliares a chamá-la de “presidenta” e, se conseguiu emagrecer fisicamente, está fazendo o país emagrecer.

Tirante alguns petistas alucinados, que teimam em defendê-la e em defender o seu partido, a nação como um todo está perdendo a dignidade que se exige de um país que pretende ter um papel importante no cenário internacional.


Vemos todos os dias, nas mídias, que o Brasil está caindo cada vez mais no saco de gatos onde os países mirins se ferem uns aos outros e só produzem notas ao pé de página nos livros sobre o nosso tempo.

Tenho a impressão de que o povo, em sua maioria, não despertou para a realidade atual e sobretudo dos dias de amanhã, ou seja 2016. A situação de hoje já está há muito tempo trazendo o desespero para todas as classes, inclusive a classe média que foi promovida ficticiamente pelo governo anterior, também do PT.

O desemprego está começando a lembrar os dias de fome da crise de 1929, nos Estados Unidos. As demissões são feitas às toneladas, e diariamente. A violência, apesar de não ser instalada exclusivamente pelo governo do PT, continua alcançando índices alarmantes. E o problema da saúde, com hospitais desaparelhados, chega ao ponto de ameaçar a Olimpíada, forçando a desistência de grupos internacionais que estão cancelando suas reservas.

E o pior: a crise atual não levará o Brasil para cima, pelo contrário, está levando o país para baixo e para o ridículo.

A crise na carne

Sou um rato de livraria. Sempre vou a livrarias, grandes, pequenas, todas! Passeio pelos títulos. Compro mais do que consigo ler. As prateleiras das livrarias continuam cheias, mas as editoras andam lançando menos títulos. Boa parte é de livros lançados há tempos. As editoras estão desovando estoques antigos. É uma retração visível, que afeta o cotidiano de um devorador de livros como eu. Mais ainda: fechou a editora Cosac Naify, conhecida pela qualidade de seus lançamentos. Outras, sabe-se, não estão em boa situação. A crise econômica está corroendo nosso cotidiano. Até mesmo meus hábitos pessoais.

Jantar fora era um desses hábitos. Mas, com duas novelas seguidas,Verdades secretas e Eta mundo bom!, fiquei um tempo sem ver amigos, sem sair. Recentemente, voltei a um japonês que frequentava muito com um velho amigo. Pedimos os mesmos pratos das outras vezes, porque adoramos carpaccio de salmão, sashimi. A conta veio quase o dobro de seis, sete meses atrás. Foi um susto! Outra noite, resolvi jantar em três num lugar mais elegante, aonde também já fui várias vezes. Tinha uma ideia do valor da conta. Saiu o dobro. Francamente, ultrapassou os R$ 1.000 e nem bebemos vinho! Quase desmaiei quando entreguei meu cartão de crédito. Eu, incauto, havia convidado os dois amigos! Enquanto tentava recuperar a respiração, eles se levantaram rapidamente para pedir o carro. Conta alta faz os melhores amigos fugir da mesa na hora de pagar! Pior. Havia um restaurante em São Paulo do qual eu gostava especialmente, o Momotaro. Na parte de baixo, japonês comum. Na de cima, o chef Adriano servia somente dez pessoas, com um menu-degustação criado na hora. Uma maravilha! Tentei marcar. Ninguém atendeu o telefone. Descobri: fechado para reforma. Reforma?

A Escola de Danças Ruth Rachou existia havia 43 anos. Ruth Rachou em sua época foi uma das mais importantes bailarinas de São Paulo e uma das introdutoras da dança moderna no país. Seu filho Raul e eu estudamos juntos. Nunca dancei. Mas tenho uma ligação emocional com a dança, devido a essa amizade. Há pouco mais de um ano, a escola mudou de seu antigo endereço para a Rua Augusta, em São Paulo. Oferecia aulas de pilates também. Danças de salão. A crise da escola de dança não ocorreu só por causa do momento econômico. Houve uma época em que as pessoas davam prioridade a se expressar com o corpo. Hoje, querem malhar e cresceram as academias. A escola transformou-se em “studio”. No final do ano passado, fechou. Uma antiga aluna assumiu, deu novo nome e está tentando reerguer. Para piorar, a escola ficou com uma dívida em impostos. Pessoas do mundo da dança, como a crítica Helena Katz, tentam levantar dinheiro por meio de crowdfunding. Solidários, os amigos estão depositando para atingir o valor do pagamento. Mas uma escola de 43 anos fechada! Dói de falar.

Nos supermercados, os preços sobem sem parar. Mas as grandes grifes, antes do Natal de 2015, ofereceram promoção a 40%! Imaginem, a liquidação costuma ser depois do Natal. Se foi antes, é porque as compras caíram. Eu me pergunto quantas vão resistir. Com o preço do dólar, está difícil importar roupas a preço competitivo. Eu me pergunto: se até as grifes poderosas estão correndo atrás de compradores, e os mais modestos?

Confesso. Há mais de um ano tenho um andar comercial inteiro, novo, para alugar. Economizei muito para entrar na construção. Era parte do meu futuro projeto de aposentadoria. Já tenho 64! Queria uns aluguéis, para reforçar o orçamento. Do prédio inteiro, até agora alugaram só um conjunto. Em vez de ganhar, pago condomínio e impostos! Meu projeto de aposentadoria? Foi para o despenhadeiro, eis tudo.

De cortar o coração foi a observação de um amigo que mora na Espanha, ao andar em São Paulo.

– Nunca vi tanta gente pedindo esmola.

Muitos perderam o emprego. Foram obrigados a deixar suas casas. Morar na rua. Não está longe de mim. Tenho pelo menos dois amigos, profissionais, desempregados. Um come na casa da tia e toma ônibus de graça porque é maior de 60 anos. O outro pensa em ir para o exterior, de tão mal. Por enquanto, convidei-o para fazer as refeições em casa. Solidariedade é o que nos resta, não é?

Os pobres estão mais pobres, a classe média já não consegue manter o nível de vida. O medo nos contamina. A crise abraçou nossas vidas. Mais e mais, a gente sente na carne.

Marchinha

O Carnaval bate à porta
E a tristeza logo some
O pobre que passa fome
Nem da fome mais se importa
A zoeira lhe conforta
Pois é mais que um artifício
Pra que sua vida difícil
Em festa vá se formando
E o brasileiro sambando
Na beira do precipício

Todo Político adora
Essa data tão festiva
A turba desfila altiva
Até na rua onde mora
O pudor, se despudora
A Cachaça instiga o vício
O povo esquece o comício
E o País vai se acabando
E o brasileiro sambando
Na beira do precipício

Inflação? Alta do gás?
Impostos? Roubo? Propina?
Aumento da gasolina?
Disso ninguém lembra mais
Ter prazer nunca é demais
Mesmo sendo fictício
Já que o bolsa Benefício
Todo mês vai ajudando
E o brasileiro sambando
Na beira do precipício

Ninguém lembra do Senado
Armando outra pra a gente
Nem fala que a Presidente
Deixou o Brasil quebrado
Carnaval deixa um legado
De Tristeza e Malefício
De tomar no Orifício
Povão vai se acostumando
E o brasileiro sambando
Na beira do precipício