quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Debatre sobre desigualdade é essencial ao país

A desigualdade é um dos temas mais relevantes na sociedade brasileira. Mereceria um debate profundo nas eleições de 2022. O Brasil jamais soube lidar a contento com a injustiça histórica com os mais pobres. No mundo, estamos entre os exemplos mais infames. É certo que, em maior ou menor medida, todas as sociedades são desiguais. A igualdade absoluta é também uma injustiça, por não levar em conta o esforço e o mérito individual. Mas nosso grau de desigualdade envergonha a todos e emperra nosso desenvolvimento.


Num ambiente político dividido, a discussão acaba contaminada por preferências ideológicas. O PT, que ocupou a Presidência entre 2003 e 2016, nunca perde a oportunidade de se vangloriar do que vê como os avanços sociais desse período, embora haja pesquisas apontando na direção oposta. O governo Bolsonaro, com suas trapalhadas em série, manifesta apenas uma preocupação de fachada com o assunto ao tentar de todo modo turbinar seu programa social em ano eleitoral.

Um passo importante nessa discussão é entender se o Brasil evoluiu ou não no período anterior à pandemia. Só que o estudo do tema é espinhoso e desafia os próprios acadêmicos. Até hoje eles não se acertaram sobre a melhor medida da desigualdade. O último capítulo do debate é um levantamento divulgado na semana passada por pesquisadores do Insper, que tenta pôr fim à discussão sobre o que aconteceu desde o começo deste século.

O Banco Mundial mostra uma melhora na medida mais popular para avaliar a desigualdade, o índice de Gini, em que o número 1 corresponde ao máximo de disparidade e 0 quer dizer igualdade total. Pelos dados do banco, o Gini do Brasil era 0,58 em 2002 e foi para 0,53 em 2017. Esse resultado foi contestado, porém, por um estudo do World Wealth and Income Database (WID), liderado pelo economista Thomas Piketty. O WID mostrou não redução, mas aumento na concentração de renda entre 2000 e 2018.

A diferença na conclusão deriva do uso de dados distintos. O WID, assim como o Banco Mundial, usa a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas considera também dados do Imposto de Renda e das contas que dissecam o PIB. Isso permite medir de modo mais fidedigno a renda dos estratos mais ricos.

De todo modo, persistia a dúvida: o Brasil ficou mais ou menos desigual neste século? Os pesquisadores do Insper examinaram as fontes de dados usadas pelo WID, de Piketty, e deram um passo adiante, aprofundando a concatenação dos dados. Usando outro levantamento do IBGE com informações mais detalhadas, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), chegaram à conclusão de que houve queda inequívoca na desigualdade entre 2002 e 2017. Caso a disparidade tivesse se mantido estável, 8% da população brasileira (16 milhões de pessoas) não teriam escapado da pobreza.

Mesmo com esse avanço estimado pelo Insper, a concentração de renda continua estarrecedora. Pelo estudo, os 10% mais ricos acumulam 48,6% do PIB, ante 2,1% dos 10% mais pobres. É dever de todos os candidatos a presidente estudar o assunto e apresentar, mais que programas sociais eleitoreiros, soluções reais.

Vadiando pela Itália

"Vadio. [Do latim 'vagativu', vagabundo.] 1. Que não tem ocupação, não faz nada, ocioso, desocupado, vagabundo. 2. Ver vagabundo. 3. Próprio de gente ociosa". A definição acima é do dicionário "Aurélio". Para a de vagabundo, vamos ao "Houaiss": "Vagabundo [Do lat. tard. 'vagabundu'.] 1, Que ou em quem perambula, vagueia, vagabundeia. 2. Que ou quem leva a vida no ócio, indolente, vadio. 3. Que ou quem age sem seriedade ou com desonestidade. Malandro [ver sinônimos]". Para os sinônimos de malandro, segundo o mesmo "Houaiss": "Mandrião, esperto, preguiçoso, biltre, canalha".

Se o leitor enxergar em tais definições alguma semelhança com Jair Bolsonaro, será por sua conta. Mas, de fato, esses verbetes, escritos há décadas, sugerem uma perturbadora premonição. Outra hipótese é a de que Bolsonaro, lendo-os sem querer um dia, adotou-os como programa de vida. Afinal, o que faz hoje em sua suposta Presidência da República não é diferente do que fez durante 28 anos no Congresso —uma vez eleito, dedicar-se exclusivamente à reeleição, com aparatos e recursos do Estado.


Se a jurisdição de Bolsonaro se limitasse a seus miseráveis interesses, o mundo estaria se lixando. Mas sua vagabundagem pela Itália alterou o conceito em que era tido pelos líderes internacionais. Deixou de ser a piada, o bufão, o indiferente ao ridículo e revelou-se como realmente é: um sério risco ao meio ambiente, à saúde pública e ao equilíbrio do planeta.

Ficou claro para eles que, aos olhos de Bolsonaro, o mundo é só um palanque para falar com sua turma no Brasil. Sua vadiagem por aquelas simpáticas aldeias, expondo-se de propósito a distúrbios filmados, dirigia-se apenas a fazer-se de vítima para seus eleitores.

E que, pelo cinismo com que ele assinou tratados que não tem nenhuma intenção de cumprir, o Brasil tornou-se uma bomba-relógio, manejada por alguém cuja certeza de derrota em 2022 o fará partir para o tudo ou nada.

Dinheiro

Dinheiro, diz lá a Enciclopédia Britânica, é aquilo que usamos para pagar coisas. Dinheiro, afirmo eu, é aquilo que o trabalhador ganha com o suor do seu rosto, que os estróinas esbanjam nas buates, que o herdeiro recebe como herança, que o economista trata como ciência, que a dona de casa teme que seu marido não vá ganhar o bastante para as despesas do mês.


Dinheiro é aquilo com que o Coronel atrai a mundana, é o que se imprime na casa da moeda, o que os banqueiros emprestam a juros e os usurários a juros ainda maiores, o que os falsários falsificam, o que não vale nada nas épocas de inflação, o que corrompe como subôrno e o que redime como filantropia. Dinheiro é o que as mulheres não sabem nem querem saber de onde vem, os maridos não sabem onde buscar, o rico não sabe quanto tem, o pobre jamais tem o suficiente e o comunista não tem o mínimo necessário. Dinheiro é o talento dos poderosos, o legado dos que partem para sempre, o prêmio da economia, o objetivo dos ladrões, o poder do capitalismo. Para os racionalistas é um preconceito como outro qualquer, para os inconformistas é um mal que deve ser estirpado da sociedade. É a dor do mendigo verdadeiro e o desespêro falso do mendigo falso que quer tomar uma sopa falsa, que sabemos vendida em garrafa.

O dinheiro é um mito de tal forma acreditado que se transformou numa super-realidade, uma senha para o respeito alheio, e se já foi boi na antiguidade hoje é tão limpo quanto fôr o cheque que você tem no bolso. É viagem e tranqüilidade e que se não traz felicidade pelo menos paga tudo que esta gasta. 
Millôr Fernandes

Brasil 2022

 


Bolsonaro isolado na festa dos poderosos é símbolo da ruína selvagem do Brasil.

Nos encontros do G20, Jair Bolsonaro se comportou como o grosseirão que é, incapaz de conversas humanas e um provinciano da pior espécie. Foi desprezado (por Mario Draghi, Itália), tratado com tédio desinteressado (por Recep Erdogan, Turquia) ou condescendente (por Angela Merkel, Alemanha).

E daí? Para os interesses do país, tamanho vexame faz diferença? Pouca. Por vezes, a proximidade entre governantes pode ajudar a desembaraçar um aspecto de uma crise grande ou facilitar um início de negociação. No mais, interesses econômicos e projetos nacionais de domínio, paz ou guerra (mesmo por outros meios) determinam o grosso de relações internacionais, tendo como pano de fundo a inércia de história, geografia, cultura ou religião.

Aquelas situações constrangedoras, porém, são sintomáticas. Para começar, lideranças que não sejam amigas de selvagerias não querem aparecer em bons termos com Bolsonaro. É um risco político, ainda que pequeno, além de desagradável. Isso que está na cadeira de presidente do Brasil é um projeto de tirano, um líder da destruição ambiental e um inimigo da diversidade humana.


Apesar de não serem propriamente intelectuais, Angela Merkel, Emmanuel Macron ou até Boris Johnson fazem parte das elites educacionais de seus países; outros foram bem formados e têm longas carreiras na lida com assuntos de Estado ou na liderança de movimentos importantes da sociedade. Bolsonaro não tem outras inteligências, sabedorias ou formação; não sabe e não quer saber (não querer saber é a definição de ignorância).

Criou problemas com os principais parceiros do Brasil: China, França e União Europeia, os EUA de Joe Biden, o Mercosul. Não tem aliados afora autocratas, neofascistas ou chefetes da internacional da extrema direita. O caráter humana e democraticamente repulsivo do "networking" bolsonarista diminui o Brasil.

Mais do que promover a destruição ambiental e ser um propagandista da intolerância, da ignorância e da violência física, Bolsonaro é um inimigo da diplomacia. Não há pragmatismo no que faz, a não ser do ponto de vista da destruição.

Dado ainda por cima que a ruína econômica não tem prazo para acabar, o Brasil se torna entre irrelevante e infeccioso, a não ser que sirva de elemento menor das estratégias dos Estados Unidos, por exemplo. O Brasil de Bolsonaro pode ser marionete da política americana contra a China. Caso Biden colocasse um cabresto no terror ambiental do bolsonarismo, faria um ponto mundial.

Bolsonaro ficou isolado não apenas porque é repugnante ou incapaz de cumprir um roteiro escrito por diplomatas (tentar umas conversas redigidas por assessores, por exemplo). Fica em um canto principalmente porque o Brasil desce a ladeira, agora de modo acelerado pelo bolsonarismo. Quanto mais durar, mais essa estupidez terá consequências.

Se inconfiável, o Brasil pode deixar de ser fornecedor preferencial de matérias-primas de países como a China. Caso a "transição verde" avance, o que resta de indústria brasileira pode se tornar obsoleta (carros elétricos já estão no comércio; os biocombustíveis perderam a vez). A produção de commodities ambientalmente incorretas é um problema evidente para o futuro próximo (petróleo, para começar, mas também boi etc.: "carnes" e outras comidas "de laboratório"). Transformar floresta e cerrado em gases de estufa já é um problema crítico.

Um país longínquo, ignorante, meio pobre e incivilizado em quase tudo (violento, desigual e de pouca escola e ciência) será mais marginal. O isolamento vexaminoso de Bolsonaro na festa dos poderosos é a metáfora da nossa irrelevância selvagem crescente.

Bolsa para criar mais fome

Se o governo dobrar as transferências do Bolsa Família para o Auxílio Brasil, ele estará aumentando os riscos de que os brasileiros pobres sejam pegos na armadilha da pobreza ou na armadilha da informalidade. Então não sei qual é a análise que o governo fez e não sei quais são as condições do novo programa, mas, em princípio, se você dobrar a transferência e não fizer mais nada, estará criando uma armadilha maior da pobreza para os pobres.
Santiago Levy, economista mexicano, que estabeleceu as bases do Bolsa-Família baseado em seu Progresa, mais tarde rebatizado como Oportunidades, implanta
do no México seis anos antes

A diplomacia miliciana de Bolsonaro

As cenas da passagem da comitiva de Bolsonaro por Roma foram um aperitivo do que pode acontecer durante a campanha eleitoral do ano que vem. Ganha uma viagem a um garimpo ilegal da Amazônia quem souber de uma ideia apresentada pelo capitão durante sua passagem pela cidade e pela reunião do G20.

Pisou no pé da chanceler alemã Angela Merkel, teve uma conversa desconexa com o presidente turco, conversou com garçons e, por não usar máscara nem tomar vacina, ficou sem o aperto de mão do primeiro-ministro Mario Draghi.

Bolsonaro aproveitou a viagem para seguir um roteiro sentimental e, na segunda-feira, foi a Pádua. Lá aconteceu um choque de manifestantes com a polícia, que bloqueou uma marcha. Quem viu as cenas testemunhou um encontro de militantes organizados, mesmo agressivos, com forças da ordem civilizadas. A polícia usou canhão de água e cassetetes para conter a passeata. Uma só manifestante foi detida. Usou-se a força sem violência indiscriminada. Isso em Pádua.


Em Roma, na véspera, milicianos agrediram jornalistas com socos na barriga, empurrões intimidadores e a clássica apropriação indébita de um aparelho celular. Como bem disse um jornalista agredido: “Tá maluco?”.

Bolsonaro foi à Itália com cinco ministros e preferiu bispar a reunião da COP26 de Glasgow. Se tivesse recorrido a um aluno do primeiro ano do curso de formação de diplomatas, teria conseguido uma agenda mais robusta, ainda que vaga. Para isso, existem os diplomatas. Em 1971, o presidente Emílio Médici foi a Washington com uma agenda declaradamente vazia, porém cerimonialmente dignificante.

É verdade que 15 chefes de Estado foram à Fontana di Trevi para uma cena ridícula, durante a qual jogaram no laguinho suas moedas da sorte. Logo naquele delírio barroco celebrizado na cena noturna de Marcello Mastroianni com Anita Ekberg no filme “La dolce vita”.

A agenda romana do capitão poderia ter dispensado seu momento miliciano. As manifestações contra Bolsonaro são organizadas, as dos seus apoiadores, com balões verdes e amarelos, também. É o jogo jogado, mas uma senhora bolsonarista foi jogada no chão pela milícia.

A ação de milicianos em manifestações públicas tem tudo para vir a ser um ingrediente tóxico na campanha eleitoral do ano que vem. A existência dos celulares será um inibidor dessas práticas, desde que as autoridades policiais estejam dispostas a reprimir violências. É sempre bom lembrar que, ao terrorismo de esquerda, disparado no Recife em 1966, juntou-se, em 1968, o terrorismo de direita contra teatros, tripulado por agentes do Estado.

Assim como o ministro Alexandre de Moraes tornou-se o xerife da legislação eleitoral no controle das milícias eletrônicas, a imprensa e o Judiciário poderiam buscar uma fórmula para conter as milícias urbanas. Em junho do ano passado, quando o inesquecível general Eduardo Pazuello resolveu mexer nas estatísticas da pandemia, a pronta e inédita formação de um consórcio de veículos passou a computar diariamente os números que o negacionismo queria manipular. Deu certo, e ninguém pergunta quais são os dados do pelotão sanitário de Brasília, atualmente comandado pelo “coronel” Marcelo Queiroga, aquele que pretende passear em Haia para debochar da CPI.

Bolsonaro tem motivos para estar em pânico com a possível candidatura de Moro

Sergio Moro voltou dos Estados Unidos decidido a entrar na política e certamente como candidato à presidência da República. O fato criou certa incerteza entre as forças políticas. A primeira coisa que se deveria perguntar sobre a decisão do controvertido ex-juiz da Lava Jato é quem teria mais medo de sua candidatura entre os dois grandes favoritos das próximas eleições, Lula ou Bolsonaro. E isso porque a chamada terceira via, um candidato que possa se opor com força aos dois favoritos, ainda está pulverizada com quase uma dúzia de nomes, por enquanto com pouca força nas pesquisas.

Essa terceira via hoje está pulverizada e tudo faz crer que dificilmente encontrará um candidato de consenso que possa competir com os dois mitos já consolidados. De qualquer forma, a candidatura de Moro chega para desorganizar as eleições. A prova é que ainda não disse a última palavra e todos os outros candidatos já estão alarmados.

Quem, porém, mais deveria temer a chegada de Moro, o terrível, não é certamente Lula e a esquerda, já que seus seguidores jamais votariam em quem levou Lula à prisão. O grande perdedor, aquele que pode estar em pânico, é justamente Bolsonaro, já que o ex-juiz está politicamente mais próximo do bolsonarismo e de uma política neoliberal e é duro em questões de segurança. Não foi um acaso que quem o levou até Bolsonaro, recomendando-o como ministro da Justiça, foi o hoje enfraquecido ministro da Economia, o ultraliberal da escola de Chicago Paulo Guedes.


Moro hoje poderia arrancar votos dos desiludidos com o capitão, principalmente os do mundo das finanças e das classes mais altas que votaram nele e hoje se sentem decepcionados com as excentricidades do mito bolsonarista, que revelou sua incapacidade de governar, seu desequilíbrio psíquico. O Brasil está semeando uma imagem desastrosa no mundo e tornando-se motivo de chacota de seus mandatários, como acabamos de ver no disparate acontecido na Itália, onde até para entrar no santuário de Santo Antônio de Pádua Bolsonaro teve de fazê-lo por uma porta traseira, assediado por aqueles que protestavam contra ele.

Bolsonaro e seus assessores sabem que a chegada de Moro à disputa eleitoral poderá tirar votos do bolsonarismo menos radical, que atualmente está descontente com seu líder, mas que nunca votaria na esquerda. Entre eles, como aponta a imprensa, estariam muitos militares desiludidos com o radicalismo golpista de Bolsonaro e os policiais aos quais não desagrada a doutrina radical de Moro de combate à violência.

Talvez por isso, desde que se deu como certa a chegada de Moro à política, Bolsonaro começou a falar na possibilidade de não se candidatar à reeleição. Acaba de anunciar que só em março decidirá se disputa ou não as eleições. E talvez seja por isso que seus fiéis seguidores do Congresso tiraram a poeira do velho projeto de conceder a condição de senador vitalício a ex-presidentes da República. Desta forma, se renunciasse à reeleição ou a perdesse, Bolsonaro ficaria, como senador vitalício, blindado para sempre pelo foro privilegiado contra as graves acusações da CPI da covid-19 que poderiam acarretar-lhe muitos anos de prisão.

Se parece claro que não é Lula quem deve temer a candidatura de Moro, que roubaria votos do bolsonarismo, caberia perguntar quais efeitos a chegada de Moro poderia produzir na chamada terceira via, entre aqueles que não querem nem o capitão nem Lula. Entre eles está o famoso centrão do Congresso, que teme Moro por suas lembranças do açoite implacável e discutível da corrupção. O centrão já está tentando desmantelar com novas leis a doutrina da Lava Jato, que pela primeira vez levou políticos à cadeia.

Por todas essas razões se deveria perguntar onde Moro, além dos desiludidos com o bolsonarismo, em quem muitos votaram para encurralar a esquerda, pode encontrar votos. Sobre o que não há dúvida é que a entrada de Moro na política ativa e partidária poderá servir principalmente para turvar ainda mais as águas já agitadas pelo bolsonarismo, que empobreceu o país econômica e moralmente e sujou ainda mais, se é que isso é possível, a já desprestigiada política perante a opinião pública.

O triste é que, aparentemente, o Brasil não é capaz de prescindir de um mito para ser governado democraticamente, condição da qual hoje gozam justamente os países chamados “normais”, que lidam mais facilmente com as crises mundiais. Se um dia se disse que o Brasil era o país do futuro, hoje bastaria, para sair do obscurantismo em que o afundou a extrema direita radical e golpista, além de grotesca, ser um país simplesmente normal e do presente onde todos tenham o suficiente para viver com dignidade e liberdade, sem fome ou absurdas ameaças ditatoriais que assustam até a opinião pública mundial.

As próximas eleições poderão resolver muitas das incógnitas que hoje pesam sobre o presente e o futuro deste país, cada vez mais acuado pelo obscurantismo e pelas incógnitas sobre o seu futuro. Incógnitas criadas por seu líder, que hoje virou motivo de chacota dos mandatários mais importantes do mundo, dos quais o Brasil não pode prescindir e muito menos menosprezar.

Juan Arias