Praia de Pipa (RN) |
sexta-feira, 26 de maio de 2017
Governichos e badernaços
Qual a diferença entre um governo petista e um badernaço promovido por militantes de esquerda? É só a extensão do estrago. Praticamente uma questão contábil.
No episódio do diálogo informal e reservado entre Michel Temer e Joesley Batista, é impossível não perceber que a repercussão institucional e a reação da mídia, especialmente daqueles veículos que pretenderam andar mais rápido do que os fatos, supera, em muito, a reação social. O motivo é simples: o país, sua imagem e o conceito que nós brasileiros firmamos de nós mesmos foram soterrados por verdadeira maré de lama, inibindo sensibilidades. O famoso encontro é apenas mais um escândalo encenado em nossa Broadway de maus espetáculos políticos. Exagero? Ora, não conseguimos, agora mesmo, realizar a proeza de denunciar um escândalo, mediante acordo de delação cujas condições são, por si mesmas, escandalosas? Não concedeu a justiça brasileira aos Batista brothers, carimbada e selada, a certificação de um crime tão gigantesco quanto perfeito?
Qualquer análise política dos fatos em curso que ignore esses dois vetores – saturação da opinião pública e a intensidade do risco PT – corre o risco de enfrentar problemas de comunicação e compreensão. O prestígio do presidente é tão pouco diferente de zero que pode, para efeitos práticos, ser considerado nulo. Mas a alternativa... Ah! Quem confia nos atores que se alvoroçam para assumir o papel? O simples fato de pretenderem desempenhá-lo já os descredencia porque os mecanismos que os poderiam beneficiar são os mesmos que interromperiam o processo de recuperação econômica e ampliariam o dano aos setores mais carentes do país. Os desempregados, os subempregados, os sem qualquer esperança, não entendem muito de política. São a massa facilmente ludibriável, mas reconhecem as notícias ruins, que vão, logo ali, alcançar seu bolso, sua mesa e suas famílias.
Isso já ficou muito claro para quem, observando as atuais manifestações de rua, nota que elas se restringem aos militantes de sempre, divididos em dois grupos distintos: o grupo daqueles cuja esperança tem preço e o daqueles que preferem receber pouco, mas à vista.
O presidencialismo brasileiro, em situação normal, é um desastre sempre pronto para acontecer. A cada dia que passa, o que está em curso tem o dom de estampar sorrisos em fisionomias que prefiro de cenho ferrado e vociferantes. Não nos surpreendamos, então, se o Fora Temer acabar reconsolidando a base e dando suporte à sua presidência. Afinal, dirão muitos, o mal menor não tem presidido tantas decisões políticas e eleitorais em nosso país? Tal fato será mais uma conseqüência do desastre ético que foram os treze anos do governo PT/PMDB. Terceirizamos a moralidade pública para a Lava Jato e nos tornamos ainda mais escandalosamente tolerantes.
Percival Puggina
No episódio do diálogo informal e reservado entre Michel Temer e Joesley Batista, é impossível não perceber que a repercussão institucional e a reação da mídia, especialmente daqueles veículos que pretenderam andar mais rápido do que os fatos, supera, em muito, a reação social. O motivo é simples: o país, sua imagem e o conceito que nós brasileiros firmamos de nós mesmos foram soterrados por verdadeira maré de lama, inibindo sensibilidades. O famoso encontro é apenas mais um escândalo encenado em nossa Broadway de maus espetáculos políticos. Exagero? Ora, não conseguimos, agora mesmo, realizar a proeza de denunciar um escândalo, mediante acordo de delação cujas condições são, por si mesmas, escandalosas? Não concedeu a justiça brasileira aos Batista brothers, carimbada e selada, a certificação de um crime tão gigantesco quanto perfeito?
Qualquer análise política dos fatos em curso que ignore esses dois vetores – saturação da opinião pública e a intensidade do risco PT – corre o risco de enfrentar problemas de comunicação e compreensão. O prestígio do presidente é tão pouco diferente de zero que pode, para efeitos práticos, ser considerado nulo. Mas a alternativa... Ah! Quem confia nos atores que se alvoroçam para assumir o papel? O simples fato de pretenderem desempenhá-lo já os descredencia porque os mecanismos que os poderiam beneficiar são os mesmos que interromperiam o processo de recuperação econômica e ampliariam o dano aos setores mais carentes do país. Os desempregados, os subempregados, os sem qualquer esperança, não entendem muito de política. São a massa facilmente ludibriável, mas reconhecem as notícias ruins, que vão, logo ali, alcançar seu bolso, sua mesa e suas famílias.
Isso já ficou muito claro para quem, observando as atuais manifestações de rua, nota que elas se restringem aos militantes de sempre, divididos em dois grupos distintos: o grupo daqueles cuja esperança tem preço e o daqueles que preferem receber pouco, mas à vista.
O presidencialismo brasileiro, em situação normal, é um desastre sempre pronto para acontecer. A cada dia que passa, o que está em curso tem o dom de estampar sorrisos em fisionomias que prefiro de cenho ferrado e vociferantes. Não nos surpreendamos, então, se o Fora Temer acabar reconsolidando a base e dando suporte à sua presidência. Afinal, dirão muitos, o mal menor não tem presidido tantas decisões políticas e eleitorais em nosso país? Tal fato será mais uma conseqüência do desastre ético que foram os treze anos do governo PT/PMDB. Terceirizamos a moralidade pública para a Lava Jato e nos tornamos ainda mais escandalosamente tolerantes.
Percival Puggina
Cidadãos ativos
Não se pode governar um país como se a política fosse um quintal e a economia fosse um bazar. Ao avaliar um regime de governação precisamos, no entanto, de ir mais fundo e saber se as questões não provêm do regime mas do sistema e a cultura que esse sistema vai gerando. Pode-se mudar o governo e tudo continuará igual se mantivermos intacto o sistema de fazer economia, o sistema que administra os recursos da nossa sociedade. Nós temos hoje gente com dinheiro. Isso em si mesmo não é mau. Mas esses endinheirados não são ricos. Ser rico é outra coisa. Ser rico é produzir emprego. Ser rico é produzir riqueza. Os nossos novos-ricos são quase sempre predadores, vivem da venda e revenda de recursos nacionais.
Afinal, culpar o governo ou o sistema e ficar apenas por aí é fácil. Alguém dizia que governar é tão fácil que todos o sabem fazer até ao dia em que são governo. A verdade é que muitos dos problemas que nós vivemos resultam da falta de resposta nossa como cidadãos ativos. Resulta de apenas reagirmos no limite quando não há outra resposta senão a violência cega. Grande parte dos problemas resulta de ficarmos calados quando podemos pensar e falar.
Mia Couto
Em nome dos deuses
Não deixa de ser irônico que a religião, acusada pelos velhos comunistas de ser o “ópio do povo”, hoje assuste seus fiéis dizendo que a política é que se transformou no “ópio do povo”. Partidos se tornaram guardiães de dogmas, com seus líderes transformados numa espécie de santos modernos, que devem ser cultuados, que nunca falham, que não erram, que não roubam... rsrs.
Hoje, as religiões têm até seus próprios partidos políticos, sempre baseados em dogmas e “princípios divinos”, produzindo novos ópios para os povos. O radicalismo religioso é o fundamento “moral” do Estado Islâmico.
Pastores, padres e mulás continuam estimulando guerras em nome de Deus, assim como líderes políticos as defendem em nome da “causa popular”, como a única verdade, a única certeza, e os que pensam diferente são perseguidos como “infiéis”. Ou “burgueses”.
Na hora em que as religiões se politizam, sempre em nome de um “Deus” a que só eles têm acesso, que só eles conhecem e interpretam, vale a pena rever o que o filósofo holandês Baruch Spinoza escreveu no século XVII, usando seu racionalismo para falar, também ele, em nome de Deus.
“Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz e te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio, como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar. Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti... aí é que estou.”
Nelson Motta
Hoje, as religiões têm até seus próprios partidos políticos, sempre baseados em dogmas e “princípios divinos”, produzindo novos ópios para os povos. O radicalismo religioso é o fundamento “moral” do Estado Islâmico.
Na hora em que as religiões se politizam, sempre em nome de um “Deus” a que só eles têm acesso, que só eles conhecem e interpretam, vale a pena rever o que o filósofo holandês Baruch Spinoza escreveu no século XVII, usando seu racionalismo para falar, também ele, em nome de Deus.
“Para de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.
Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz e te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio, como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar. Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam. Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti... aí é que estou.”
Nelson Motta
Antes dos nomes, será necessário definir critérios
A terra continua em transe e a política no Brasil é só vertigem, tensão, indefinição. Mente quem diz saber onde canta o galo e no que tudo pode resultar. As principais varáveis saíram do controle, perdeu-se racionalidade e há inúmeros fatores de incerteza. Os protagonistas são inábeis para extrair o tumor sem deixar sequelas. No mais, da Lava Jato sempre poderá irromper mais um vulcão.
Michel Temer afirma que não renunciará; antes, prefere ser derrubado. A batalha só está perdida quando se ergue bandeira branca; o presidente ganha tempo, até para negociar melhor a saída. Que moribundo descrê de milagre? Todavia, o agravamento da situação fica evidente: a confiança de que o presidente reagirá é, a cada dia, mais tênue. Mesmo desqualificando o mensageiro, o governismo não consegue apaga a mensagem: os detalhes do encontro com Joesley Batista levarão a vida toda para explicar.
O presidente já não governa, apenas cuida de sua defesa: articula apoios e jantares em que vai ficando só. No Congresso Nacional, não há ordem unida, nem controle. No front das reformas, o cronograma se perdeu. Na economia, reversões de expectativas são preocupantes. Pior que o temor da deterioração do ambiente é a sensação de que o ambiente de fato se deteriorou. Já haveria vazio de poder?
A céu aberto, se discute o nome que substituirá Temer. Jornalistas especulam; caciques partidários cogitam; empresários, em desespero, questionam: qual é o nome? Ansiedade e precipitação ampliam as possibilidades de erro. Colocar a carroça a frente dos bois, discutir nomes e não critérios, talvez seja o primeiro deles. Os critérios, contudo, dependem da consciência dos problemas.
Necessário ir às causas estruturais da crise. Os problemas não estão apenas em Temer; como não estavam exclusivamente em Dilma, não estarão só em Rodrigo Maia. Na internet, já há meme “Fora Maia” — não apenas por sarcasmo, mas também pela evidência estrutural dos problemas. Troca-se moscas, nomes se sucedem e o país continua na mesma.
O sistema deixou de funcionar: o presidencialismo de coalizão baseado no fisiologismo chegou ao colapso. O tradicional modo de financiamento da política chegou ao esgotamento — o patrimonialismo matou a galinha dos ovos de ouro. O mal corporativista está ativo e oculto; uma terrível crise de liderança revela o desgaste dos materiais e a falta de renovação.
A crise econômica é resultado de um pouco de tudo; omitir sua natureza política, não dissipa os problemas, apenas prolonga o drama. Confunde-se efeitos e causas, se quer amenizar a dor, mas se não se vai à doença. Nomes com foco específico nas reformas econômicas — Maia ou Meirelles —, não compreendem a natureza política da crise; são incapazes de superá-la. Tornam-se água que vai à chama, não à origem do fogo. Quer-se baldear um naufrágio com as mãos.
Os critérios deveriam ser claros: primeiro, a obediência à Constituição; depois, não bulir com a Operação Lava Jato — nos limites da lei, ela pode levar a ajustes na relação público-privado. Ao mesmo tempo, necessário preservar Meirelles e a área econômica — tudo o que o país não precisa é de mais incerteza e a sensação de ainda maior amadorismo.
Importante comunicar a gravidade da situação: o governo quebrou, não há soluções simples; mostrar os dados, persuadir sem cooptar — tudo o que Temer foi incapaz de fazer. No mais, a concertação dependerá do distensionamento político: reduzir os conflitos a patamares civilizados; tolerância e pacto de convivência democrática. Reconfigurar o sistema político. Correndo tudo muito bem, avançar na agenda de reformas econômicas.
O certo é que não se deveria começar pelos “poréns”, críticas e defeitos do possível sujeito. Com vetos e restrições, não se chegará a indivíduo algum. Deve-se partir dos “contudos”: em que pese imperfeições e poréns, o nome, contudo — não obstante, ainda assim — será capaz de identificar causas, respeitar critérios, formar boa coalizão, dialogar, comunicar, articular consensos possíveis? O país chegará a bom termo, em 2018?
Chega-se ao ponto: qual seria o Hércules — raro no mundo contemporâneo — capaz de superar esta dúzia de trabalhos? Definida a gramática, qual a prosódia da concertação: a determinação gaúcha de Jobim ou mansidão cearense de Jereissati?
Carlos Melo
Michel Temer afirma que não renunciará; antes, prefere ser derrubado. A batalha só está perdida quando se ergue bandeira branca; o presidente ganha tempo, até para negociar melhor a saída. Que moribundo descrê de milagre? Todavia, o agravamento da situação fica evidente: a confiança de que o presidente reagirá é, a cada dia, mais tênue. Mesmo desqualificando o mensageiro, o governismo não consegue apaga a mensagem: os detalhes do encontro com Joesley Batista levarão a vida toda para explicar.
A céu aberto, se discute o nome que substituirá Temer. Jornalistas especulam; caciques partidários cogitam; empresários, em desespero, questionam: qual é o nome? Ansiedade e precipitação ampliam as possibilidades de erro. Colocar a carroça a frente dos bois, discutir nomes e não critérios, talvez seja o primeiro deles. Os critérios, contudo, dependem da consciência dos problemas.
Necessário ir às causas estruturais da crise. Os problemas não estão apenas em Temer; como não estavam exclusivamente em Dilma, não estarão só em Rodrigo Maia. Na internet, já há meme “Fora Maia” — não apenas por sarcasmo, mas também pela evidência estrutural dos problemas. Troca-se moscas, nomes se sucedem e o país continua na mesma.
O sistema deixou de funcionar: o presidencialismo de coalizão baseado no fisiologismo chegou ao colapso. O tradicional modo de financiamento da política chegou ao esgotamento — o patrimonialismo matou a galinha dos ovos de ouro. O mal corporativista está ativo e oculto; uma terrível crise de liderança revela o desgaste dos materiais e a falta de renovação.
A crise econômica é resultado de um pouco de tudo; omitir sua natureza política, não dissipa os problemas, apenas prolonga o drama. Confunde-se efeitos e causas, se quer amenizar a dor, mas se não se vai à doença. Nomes com foco específico nas reformas econômicas — Maia ou Meirelles —, não compreendem a natureza política da crise; são incapazes de superá-la. Tornam-se água que vai à chama, não à origem do fogo. Quer-se baldear um naufrágio com as mãos.
Os critérios deveriam ser claros: primeiro, a obediência à Constituição; depois, não bulir com a Operação Lava Jato — nos limites da lei, ela pode levar a ajustes na relação público-privado. Ao mesmo tempo, necessário preservar Meirelles e a área econômica — tudo o que o país não precisa é de mais incerteza e a sensação de ainda maior amadorismo.
Importante comunicar a gravidade da situação: o governo quebrou, não há soluções simples; mostrar os dados, persuadir sem cooptar — tudo o que Temer foi incapaz de fazer. No mais, a concertação dependerá do distensionamento político: reduzir os conflitos a patamares civilizados; tolerância e pacto de convivência democrática. Reconfigurar o sistema político. Correndo tudo muito bem, avançar na agenda de reformas econômicas.
O certo é que não se deveria começar pelos “poréns”, críticas e defeitos do possível sujeito. Com vetos e restrições, não se chegará a indivíduo algum. Deve-se partir dos “contudos”: em que pese imperfeições e poréns, o nome, contudo — não obstante, ainda assim — será capaz de identificar causas, respeitar critérios, formar boa coalizão, dialogar, comunicar, articular consensos possíveis? O país chegará a bom termo, em 2018?
Chega-se ao ponto: qual seria o Hércules — raro no mundo contemporâneo — capaz de superar esta dúzia de trabalhos? Definida a gramática, qual a prosódia da concertação: a determinação gaúcha de Jobim ou mansidão cearense de Jereissati?
Carlos Melo
Não é poder, é podre mesmo
Tanto as denúncias contra o ex-presidente Lula quanto essas outras coisas que vieram à tona na semana passada sobre atual presidente são manifestações do mesmo fenômeno.
Nós temos um sistema político apodrecido. Se não tratarmos a causa desse problema, nós continuaremos com esse problema. Vão mudar as lideranças, vão mudar os rostos, mas o problema vai continuar existindoDeltan Dallagnol, procurador da Lava Jato
Temer precisa decidir: ex-presidente ou estorvo?
Brasília vive sob atmosfera de franca anormalidade. Não bastasse a crise política, sindicatos e movimentos sociais transformaram o que deveria ser um ato pacífico contra Michel Temer e suas reformas num quebra-quebra que resultou em danos físicos e ao patrimônio de todos os brasileiros. A anormalidade se reflete também no Congresso. Ali, os parlamentares oscilam entre o gritaria e o empurra-empurra. Contra esse pano de fundo conturbado, há em Brasília um governo que já não governa os acontecimentos, é governado pelos fatos.
A ideia de que Temer dirige o país nesta ou naquela direção é uma ilusão. A essa altura, o suposto presidente tem dificuldades até para exercer poder efetivo sobre o grupo de cerca de 50 pessoas que o assessoram mais diretamente. Do lado de fora, o Planalto ganhou o adorno de soldados do Exército, acionados para manter a ordem, evitando o incômodo de manifestantes arruaceiros.
Nesse contexto, aproxima-se o momento em que Michel Temer terá de decidir que papel deseja desempenhar. O núcleo central do seu governo apodreceu. Seus aliados lhe dão as costas. As lideranças políticas, ou o que restou delas depois da Lava Jato, negociam o pós-Temer. Dá-se de barato que o presidente já não consegue passar nem a impressão de que comanda. Restam a Temer dois papeis: o de ex-presidente ou o de estorvo.
Tempos esquisitos
Anteontem, manifestantes em grande número, convocados e bancados pelas centrais sindicais, se reuniram em Brasília para pedir o afastamento do presidente da República. Têm lá os seus motivos. Não são os mesmos que os meus, por exemplo, cada cabeça uma sentença. Mas em vez de expor o que sentem e pensam com a cabeça, preferem usar a força bruta, se comportar como irracionais. Depredar prédios que pertencem a todos os brasileiros, deixar a nossa capital em estado lastimável, amedrontar quem lá trabalha, fazer da nossa bandeira uma piada de mau gosto.
A Polícia Militar de Brasília não soube agir, deu tiros para o alto e para os lados, fez um estrago medonho, mas não soube cumprir sua obrigação primordial, defender e proteger o povo e os prédios públicos. Perseguiu e feriu a Imprensa que estava lá para nos informar.
Que fez o Governo Federal, acuado em seus palácios e vendo a baderna se avolumar pela Esplanada dos ministérios? Convocou as Forças Armadas e logo apareceram os que não sabem ver uma farda sem associá-la aos horrores de 64 e gritam: "Forças Armadas, não!".
Como assim, Forças Armadas, não? Tempos muito esquisitos esses em que não se faz Justiça ao comportamento exemplar de nossos soldados desde a queda do regime militar, em 1985.
Queriam o quê? Deixar que os entusiasmados filhotes dos sindicatos arrebentassem com a capital? Por pouco não atingem a Catedral, por pouco não fazem de Brasília uma filial do inferno.
Pois as Forças Armadas compreenderam muito melhor e aceitaram com garbo a vontade do povo exprimida pelas Diretas Já!, muito mais do que certos civis que só pensam em como se manter no poder para usufruir do tal do foro privilegiado.
O comportamento de nossos soldados tem sido exemplar. Deles é a obrigação de zelar por nossas fronteiras e pela Lei e a Ordem. Se mais não fazem, é porque lhes falta dinheiro até para o rancho, até para os coturnos, até para manter os quartéis em bom estado.
Não sou eleitora dos bolsonaros da vida. Meu coração enregela ao pensar que eles poderiam ocupar o Planalto. Justamente por isso é que não deixarei de agradecer ao bom desempenho dos soldados que juraram e cumprem nossa Constituição.
Ainda por cima, foi muito barulho por quase nada. As Forças Armadas ficaram na Esplanada por menos de 24 horas. Foram dispensadas ontem pela manhã. A ordem já tinha sido restabelecida. Outro ponto a favor delas.
Mas os tempos estão mesmo muito esquisitos. Vemos jornalistas terem suas fontes violadas, vemos juízes que cumprem exemplarmente suas funções serem criticados por advogados que esquecem o juramento que fizeram ao serem admitidos na OAB: "O verdadeiro advogado presta serviços a seu cliente, mas a ele não pode ser subordinado. Não fazemos o que o cliente quer, mas o que a lei nos permite para que possamos defender seus direitos e interesses".
E vemos também, absolutamente chocados, tratamento diferenciado para criminosos que cometeram o mesmo crime: a corrupção que arrebenta com nossos hospitais, com nossas escolas, com nossas vidas, que ameaça nosso mais valioso bem, a democracia. Tempos muito esquisitos...
A Polícia Militar de Brasília não soube agir, deu tiros para o alto e para os lados, fez um estrago medonho, mas não soube cumprir sua obrigação primordial, defender e proteger o povo e os prédios públicos. Perseguiu e feriu a Imprensa que estava lá para nos informar.
Como assim, Forças Armadas, não? Tempos muito esquisitos esses em que não se faz Justiça ao comportamento exemplar de nossos soldados desde a queda do regime militar, em 1985.
Queriam o quê? Deixar que os entusiasmados filhotes dos sindicatos arrebentassem com a capital? Por pouco não atingem a Catedral, por pouco não fazem de Brasília uma filial do inferno.
Pois as Forças Armadas compreenderam muito melhor e aceitaram com garbo a vontade do povo exprimida pelas Diretas Já!, muito mais do que certos civis que só pensam em como se manter no poder para usufruir do tal do foro privilegiado.
O comportamento de nossos soldados tem sido exemplar. Deles é a obrigação de zelar por nossas fronteiras e pela Lei e a Ordem. Se mais não fazem, é porque lhes falta dinheiro até para o rancho, até para os coturnos, até para manter os quartéis em bom estado.
Não sou eleitora dos bolsonaros da vida. Meu coração enregela ao pensar que eles poderiam ocupar o Planalto. Justamente por isso é que não deixarei de agradecer ao bom desempenho dos soldados que juraram e cumprem nossa Constituição.
Ainda por cima, foi muito barulho por quase nada. As Forças Armadas ficaram na Esplanada por menos de 24 horas. Foram dispensadas ontem pela manhã. A ordem já tinha sido restabelecida. Outro ponto a favor delas.
Mas os tempos estão mesmo muito esquisitos. Vemos jornalistas terem suas fontes violadas, vemos juízes que cumprem exemplarmente suas funções serem criticados por advogados que esquecem o juramento que fizeram ao serem admitidos na OAB: "O verdadeiro advogado presta serviços a seu cliente, mas a ele não pode ser subordinado. Não fazemos o que o cliente quer, mas o que a lei nos permite para que possamos defender seus direitos e interesses".
E vemos também, absolutamente chocados, tratamento diferenciado para criminosos que cometeram o mesmo crime: a corrupção que arrebenta com nossos hospitais, com nossas escolas, com nossas vidas, que ameaça nosso mais valioso bem, a democracia. Tempos muito esquisitos...
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