Prestes a entrar no seu quinto mês de existência, o governo de Jair Bolsonaro já consolidou uma marca: a ineficiência. É perceptível o refinamento, o cuidado, o acabamento extremo e, sobretudo, o custo com que a gestão do capitão atinge a ineficiência. A aparência é de um parafuso rodando a esmo, com a rosca espanada.
Para dar certo, o governo precisa aprovar as reformas que prometeu. Esperava-se que fosse ágil, para aproveitar o vigor pós-eleitoral. Mas a força das urnas se dissipa. E Bolsonaro não obteve no Legislativo senão uma coleção de reveses —da imposição do pagamento de emendas orçamentárias ao repasse direto das verbas federais às prefeituras.
Nesta semana, com os joelhos dobrados, o Planalto tenta arrancar a reforma da Previdência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, primeiro e mais simples estágio do processo de tramitação legislativa. Se fizer as concessões que lhe foram exigidas pelo centrão, talvez consiga passar para a fase seguinte, a discussão de mérito numa comissão especial. Coisa bem mais dura de roer.
O pacote anticrime, prioridade número dois do governo, não chegou nem à fase inaugural. Num esforço para evitar que a iniciativa murche, o ministro Sergio Moro (Justiça) levou a cara às redes sociais. Passou a borrifar explicações pretensamente didáticas no Twitter.
A dificuldade de atarraxar as reformas faz com que até o estilo de Bolsonaro comece a ser contestado. O que era visto como frescor antissistêmico, intolerância com velhas práticas e maestria tuiteira de repente virou ingenuidade de calouro, falta de articulação política e imperícia virtual a serviço da fabricação de crises.
Líder do governo na Câmara, o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) foi ao Twitter no final de semana para encontrar-se com o óbvio. Desse encontro resultou uma pilha de tuítes constrangedores. Num deles, o líder de Bolsonaro reconheceu que falta ao Planalto uma base congressual: "Ela simplesmente não existe."
Bolsonaro e seus operadores alegam que forças do atraso bloqueiam o governo no Congresso. Isso é uma desculpa de quem sabe que flerta com a crise, não uma solução de quem busca a superação dos problemas. O capitão foi eleito para produzir soluções, não para magnificar as encrencas.
Quando chegar o Natal, os 13 milhões de brasileiros que se encontram no olho da rua vão xingar o presidente da República, não os líderes do centrão. As estimativas para o crescimento da economia definham rapidamente rumo a uma marca próxima de 1% (pode me chamar de estagnação).
Bolsonaro logo descobrirá que a falta de prosperidade é irmã siamesa da impopularidade. Nessa hora, o arcaísmo do centrão continuará sendo um problema para o governo, só que bem mais caro.