terça-feira, 29 de setembro de 2015

ONU Dilma governo brasileiro nao tolera corrupcao stand up comedy

Cabeça dinossauro

Gosto muito do dito latino: “Credo quia absurdum”, ou seja: “Creio, mesmo que seja um absurdo”. É a raiz de toda fé, seja em Deus, em uma superstição ou numa ideologia.

Por isso, me pergunto: se os católicos explicam de algum modo sua fé na Santíssima Trindade; se os muçulmanos nos falam que “só Alá é grande” e detalham no Alcorão as regras de sua religião; se os evangélicos ensinam seu catecismo; por que tantos intelectuais e artistas brasileiros não nos explicam por que apoiam o Maduro, por que fazem manifestos de apoio à Coreia do Norte, como fez o PCdoB? Como podem ignorar os escândalos evidentes de uma quadrilha de corrupção que está levando o país à bancarrota? Ninguém fala nada? Por que se negam a detalhar os caminhos dessa “religião” que professam? Será que não viram a queda do Muro de Berlim, o fim do vergonhoso socialismo real? Será que a mistura de leninismo com bolivarianismo que apoiam tem alguma lógica inquestionável que ignoramos? Haverá alguma equação que decifre o emaranhado de suas mentes, algo assim como “penso assim, por isso e por isso, logo...”?
Não, não dizem nada – só apoiam e creem. Será que nos deixam babando de curiosidade porque não querem dar luz aos cegos da “pequena burguesia”?

Por isso tento entender seu labirinto de ilações, de deduções, de reviravoltas com que constroem o “Caminho de Santiago” que teimam em percorrer.


Em primeiro lugar, acho que renegar as evidências é uma maneira de se sentirem portadores de uma verdade inatingível pelos homens comuns. Nos olham com o desprezo de homens superiores.

Para eles, é impossível aceitar que o mundo não se molda apenas pelos desejos humanos, mas pela marcha das coisas. Se acham os sujeitos certos de uma história errada. Consideram as provas cabais da roubalheira armações da “direita” ou apenas as “contradições negativas”, superáveis, passageiras, de um processo histórico que tende para o “bem” de todos. Eles se acham parte de um seleto grupo de apóstolos que resistem às sedições do mercado e do capitalismo – as fontes do “eterno mal”. Nossa alma ibérica rançosa, nosso mal endógeno de patrimonialistas perniciosos, é considerada coisa menor.

Para eles, toda a culpa de nosso atraso foi só do “imperialismo norte-americano”, a contradição principal.

Eles rejeitam a circularidade da vida, o mistério dos desejos, as mutações da sociedade. Eles acham que a sociedade é um bando de imbecis que têm de ser protegidos contra sua ingenuidade. Por isso, precisam de um guia, seja o antigo Prestes ou hoje o Lula. Temos de ser controlados pelo Estado que tudo vê, como uma divindade ante a qual devemos nos ajoelhar. E não veem que é justamente o contrário – que aqui a sociedade é que mantém vivo um Estado falido.

Eles acham que mudar de ideia é falta de caráter e que macho mesmo não muda. Eles acham que quem quiser alguma positividade é traidor. Por isso, quero entender qual é o caminho que as suas ideias percorrem antes de irromper de suas bocas e de seus sorrisos de mofa, do alto de sua superioridade.

Bem... Sua fé ideológica pode nascer por antigas humilhações a serem vingadas por um voluntarismo neurótico que prove sua grandeza imaginária. São em geral fracassados e professam essas ideias para ocultar seu fracasso absoluto. A certeza férrea que os habita pretende evitar dúvidas sobre sua ignorância arrogante, sem “vacilações pequeno-burguesas”, como eles chamam. A ideologia os conforta. Como sentenciou um dia Nelson Rodrigues: “Só os canalhas precisam de uma ideologia que os absolva e justifique”.

Eles se sentem dentro da linha justa. Os islamitas sonham com o paraíso das 11 mil virgens, eles sonham com um futuro de harmonia, onde todos terão tudo, cada um “dentro de sua necessidade e de sua capacidade”. Como eles não têm poder real (vejam a miséria do PT), inventam um poder paralelo que eles professam. É um “sendero luminoso”, é um país imaginário onde habitam, uma ilha da utopia que anda escangalhada, mas que um dia (quando?) vai prevalecer. Me fascinam também as contorções acrobáticas que leninistas decepcionados praticam para revitalizar suas crenças. É a turma do “mesmo assim”. Mesmo com essa cagada nacional, preferem se agarrar em palavras de ordem antigas a reconhecer um fracasso óbvio. Os renitentes intelectuais orgânicos dirão: “O PT está desmoralizado, mas mesmo assim ainda é um mal menor que o inimigo principal: os neoliberais. Sabemos que está tudo uma merda, mas da merda nasce a luz”.

No Brasil, a palavra “esquerda” continua o ópio dos intelectuais. Pressupõe uma “substância” que ninguém mais sabe qual é, mas que “fortalece”, enobrece qualquer discurso. O termo é esquivo, encobre erros pavorosos e até justifica massacres. E eles se sentem “vítimas” da nossa desconfiança de estúpidos que ainda não viram a “verdade”. Eles não querem entender que a miséria do país é uma consequência, e não a causa. Eles amam a miséria, a academia cultiva a “desigualdade” como uma flor. A miséria tem de ser mantida “in vitro” para justificar teorias velhas e absolver incompetência. Para eles, o socialismo é um dogma. Diante dele, abole-se o sentido crítico. É como duvidar da virgindade de Nossa Senhora.

Como podem achar que este pobre povo de miseráveis e analfabetos vai se erguer contra o “neoliberalismo”? Só a loucura explica isso. Antes achavam que a luta de classes era o motor da história. Para eles, hoje o motor da história está em uma espécie de “miséria revolucionária”. Não é possível que homens inteligentes não vejam este óbvio uivante, ululante.

Não esqueçamos que a burrice é uma categoria fundamental para entendermos suas cabeças.

O que mais me grila é que não parece se tratar de um período histórico regressivo. Será que é uma crise passageira, e, uma vez terminada, o país voltq ao “normal”? Não. É um salto para outra anormalidade sem fim; é uma mudança de estado. Temo que não seja uma doença que passa; talvez seja uma anomalia incurável.

Impeachment do SUS

O súbito aparecimento do Ministério da Saúde na cena política não deveu-se a seus méritos ou deméritos para atender a população. O tema que trouxe a saúde à pauta foi o pacote contendo redução de ministérios e troca de nome do titular da pasta. A conversa, portanto, não referiu-se ao valor que a saúde tem para cada individuo e para a sociedade. O assunto se concentrou em torno do quanto vale o cargo de ministro, medido pelo volume do orçamento da área, quantidade de nomeações para unidades de saúde, articulações com prefeituras e desdobramentos em termos de licitações e contratos. Em vez de votos de saúde, pronto restabelecimento, melhoras, deseja-se o Ministério. A chocante frieza das tentativas de acordos, envolvendo o Ministério da Saúde com bancadas de partidos políticos e de sub-acordos com parlamentares de unidades da Federação admitem interpretações diversas. Dar o anel para não perder os dedos, uma grande prova de compromisso para a formação de maioria no Congresso e discordância com a histórica agenda do SUS. Como na prática argumentos, intenções e interesses se embolam, a oferta do Ministério da Saúde ao uso e abuso de negócios acoplados a projetos políticos-eleitorais provavelmente teve múltiplas motivações.

Desde o início do ano, as medidas e ameaças para desmantelar o SUS se intensificaram. Propostas de cobrança no SUS e separação de atendimento para quem é trabalhador formal e o restante da população, e autorização indiscriminada de investimentos estrangeiros nas atividades assistenciais foram idealizadas e aprovadas pelos apoiadores e postulantes ao cargo de ministro. A desidratação do sistema público agravou. Com o corte de mais de 10% dos gastos federais para a saúde, de um orçamento já racionado a partir de 2014. O SUS aprovado pela Constituição de 1988 foi questionado, modificado e deixado à míngua. A história é longa, os governos de distintos matizes partidários trocaram o SUS, uma política encarada por alguns como velha, desgastada, por programas, com os antecedidos pelo prefixo mais em voga.

A manobra de deixar o SUS de lado e buscar realizar no curto prazo ações para expandir acesso, recentralizou ações na esfera federal. A alocação de recursos específicos, as normas e mesmo leis direcionadas a programas e não ao conjunto do sistema postergaram a construção federativa do SUS. No entanto, a amálgama que permitiu alguma linha de continuidade nas ações do Ministério da Saúde, desde a redemocratização, é o SUS. Foi também em nome do SUS que a simbiose entre o setor privado, o financiamento das campanhas eleitorais e as propostas de redistribuição do fundo público prosperaram. Mas a multiplicação do enredamento do Ministério da Saúde em laços clientelistas e a possibilidade de expansão e reiteração de práticas que estão condenadas pelas operações de investigação de corrupção o tornarão apenas um campo de exploração de interesses particularistas.

A maioria dos países, inclusive na América Latina, possui ministros da Saúde competentes para conduzir debates e projetos sobre qualidade de vida no âmbito interno e nos fóruns internacionais. O desemprego, a desaceleração da economia, a escalada da violência, em suas manifestações objetivas e subjetivas causam sofrimento, adoecimento e mortes. É claro que nenhum sistema de saúde, mesmo acessível e abrangente, resolve esses problemas, mas contribui para equacioná-los, tratá-los e evitar que ameacem a vida. A alocação racional, a priorização de recursos escassos de acordo com parâmetros de necessidades de saúde não é o mesmo que pulverizá-los, distribuí-los entre a base parlamentar. Qualquer gestor da saúde, especialmente o ministro, tem como desafio encontrar alternativas para contornar o aumento das demandas por atenção, restrição orçamentária e os efeitos de políticas cambiais, que aumentam, duplicam, preços de medicamentos, reagentes e equipamentos importados.

A tesoura com duas superfícies de corte atinge o que estava funcionando razoavelmente bem, como por exemplo a dispensação de medicamentos e equipes de atenção primária à saúde, que além de propiciar tratamentos sem interrupções, reduzem gastos das famílias. A defesa da saúde como um domínio simultaneamente especializado e exigente de conexões políticas democráticas não significa desconhecer a força financeira e política do setor privado. É um equívoco ignorar a privatização da saúde. Pode-se não gostar da realidade, criticá-la, mas esses julgamentos, quase sempre, ignoram que sucessivas gerações de trabalhadores, entre as quais a parcela dos sindicalistas que chegou ao poder, acreditam que a assistência privada é a depositária da inovação e qualidade. O jogo não está equilibrado, os enlaces, contraídos com finalidades distanciadas do esforço de trazer a vida humana, a vida social, para o centro das decisões políticas, expulsam o pessoal da saúde pública da partida. Encerrar dessa forma um longo ciclo de batalhas pelo SUS é sintoma de profunda melancolia social. Hipócrates diagnosticaria excesso de bile, influência de Saturno sobre o humor. Nos dias de hoje, o impeachment do SUS significa abandono dos princípios de igualdade, solidariedade e respeito mútuo. A cura, seja pelos cânones da medicina grega, seja pela recusa à degradação da política de saúde, requer mudança de ares e lugares e restabelecimento de outras aspirações que não a posse e os desmandos.

Ligia Bahia

STF, mais perigoso do que o PT

Não se surpreenda com o título. Ele não é uma opinião, mas simples expressão de algo facilmente constatável. O PT, como partido ou como base do governo, apesar de todas as tropelias, tem sua ação contida por certos limites. Tais restrições são impostas, ora por conveniências políticas, ora por ações da oposição, ora por reações da parceria, ora pela possibilidade de que a lei, um dia, valha para todos. Já o STF não se submete a limites. No exercício do poder, seus onze membros podem tudo. Não estão submetidos sequer à Constituição. Substituem-se aos parlamentares para legislar e para deslegislar. A opinião da maioria é a própria lei. O que seis decidem é irrecorrível. Pouco se lhes dá o que as pessoas pensam deles.


Dei-me conta dessa realidade ao ler, na Folha, a opinião do ex-Procurador Regional da República, Rogério Tadeu Romano, sobre o “fatiamento” da operação Lava Jato. Na teoria e na prática tal decisão deve retirar das mãos do juiz Sérgio Moro e entregar ao ministro Dias Toffoli os processos não relacionados com os escândalos da Petrobrás, sob a alegação de que apenas sobre estes incide a competência do juiz. Graças a tão surpreendente quanto conveniente justificativa, a fatia do processo referente à senadora Gleisi Hoffmann foi cortada das mãos de Moro por envolver lavagem de dinheiro. Com lucidez, o ex-Procurador refuta o argumento esclarecendo que, ao fixar a competência, se deveria levar em conta o crime principal, o crime de corrupção, a origem do dinheiro desviado, e não o secundário, lavagem de dinheiro, que só surge porque havia o principal. Por que será que os advogados dos réus festejaram tanto a decisão do STF? Ah, pois é.

Até o PT, envolvido à náusea num emaranhado de escândalos sem precedentes na história universal, se preocupa com parecer menos pior. Ao STF pouco se lhe dá se for tido e havido como um “tribunal bolivariano”, na expressão usada pelo ministro Gilmar Mendes. E me sinto igualmente respaldado para o título deste artigo quando lembro as palavras de Joaquim Barbosa no final da sessão em que oito réus do mensalão foram absolvidos (pasmem!) do crime de formação de quadrilha. Disse ele: "Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é apenas o primeiro passo. Esta maioria de circunstância tem todo tempo a seu favor para continuar nessa sua sanha reformadora. (...) Essa maioria de circunstância foi formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho primoroso, levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012".

Sem tirar nem pôr, é o que estamos presenciando.

Percival Puggina

Em busca de fôlego

A dança dos Três Poderes prossegue. Como deveria ser na sociedade aberta em construção. O Executivo reage sob pressão do agravamento de uma crise econômica resultante de suas próprias lambanças.

Tenta aprovar no Congresso um ajuste fiscal à base do aumento de impostos. Segue politicamente enfraquecido e juridicamente ameaçado em meio às investigações que revelam indícios de uma cleptocracia.


Os representantes no Legislativo dançam ao som de ritmos diferentes. Os partidos de oposição ouvem o som das ruas. A incompetência e a corrupção despertaram a indignação popular, encorpando as propostas de impeachment.

Os partidos da base do governo são atraídos pelos sons das ofertas de cargos e promessas de verbas orquestrados em defesa do mandato presidencial.

Os mais experientes oposicionistas sabem que um impeachment agora transformaria o PT em oposição antes de seu dilaceramento nas urnas. Sabem também que devem apoiar medidas fiscais impopulares para manter o país solvente, enquanto os governistas são fritados ao sol inclemente da opinião pública.

Os mais experientes situacionistas apoiam apenas moderado ajuste fiscal que lhes garanta a sobrevivência, deixando seus patos novos mergulharem cada vez mais fundo em busca de cargos e verbas. A reforma ministerial em curso é um ritual de cooptação do baixo clero.

A cúpula do PMDB anuncia cada vez mais alto sua independência política, seu inédito desapego ao loteamento dos ministérios e um revigorante alinhamento com a opinião pública no repúdio ao aumento de impostos.

O despertar do Poder Judiciário anuncia novos tempos. O Brasil não quer mais ser uma república das bananas. A classe política não pode estar acima da lei, e, se achar que pode, não deve dormir em paz.

O julgamento da História começa a se esboçar ante o acúmulo de evidências de corrupção sistêmica. Já está claro para a opinião pública que Joaquim Barbosa tinha um pé no futuro. Seu fervor republicano contra degeneradas práticas políticas transborda agora para todos os níveis da administração pública.

Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e seus jovens e competentes colaboradores são as forças de nosso aperfeiçoamento institucional. A velha ordem recua em fuga rumo às sombras. Fatia as investigações em busca de fôlego.
Paulo Guedes 

Lula na TV para mascarar guerra fria de guerra quente

O Partido dos Trabalhadores vai exibir, nesta terça-feira (29) e na quinta-feira (1º de outubro), duas inserções em rede nacional de rádio e televisão. Lula vai ser a estrela.

O PT vai acusar os opositores pela crise.

“Uma pergunta para todos os brasileiros: os políticos que querem desestabilizar o governo estão pensando no bem do País ou em si mesmos? Estão interessados em beneficiar a população ou só querem tirar proveito da crise?”, consta do video.

Lula vai disparar: “Pensem comigo: um País que em apenas 12 anos saiu do Mapa da Fome da ONU, colocou mais de 40 milhões de brasileiros na classe média, bateu recordes na geração de empregos e fez programas como Minha Casa, Minha Vida, o Prouni e o Fies, é capaz de vencer qualquer crise”.




Ao ir ao ataque contra os opositores, Lula volta ao campo de batalha tentando dar uma ideia de guerra quente.

Mas o país vive uma guerra fria.

Coube ao inimigo figadal de Jean Paul Sartre, o conservador Raymond Aron, dar a melhor definição do que foi a Guerra Fria: “Um período em que a guerra era improvável, mas a paz era impossível”.

É isso que o Brasil vive.

Lula vai à TV exibindo uma polarização ostensiva, para dar a ideia de que ele é o polo ativo de uma guerra quente.

Cascata.

A guerra fria do PT é escondida dos olhos da população: é feita entre os ministros do STF nomeados por Lula e Dilma (que fatiaram a Lava Jato); é feita por assessores de advogados que defendem petroleiros, e vivem ora a distribuir dossiês contra Michel Temer (que por sua vez, pleonasmicamente, reage nas trevas, daí o seu mais recente apelido, “Blá, Blá, Blá”, em homenagem à onomatopeia do vampiro-pai de Hotel Transilvânia…).

A guerra fria do PT é feita sobretudo pela colunista que vaza diariamente as porradas no PT. A saber: jornalistas procuram assessores de petroleiros para ouvirem o outro lado, em contraponto aos ataques. Os assessores repassam para a colunista: esta publica, para esvaziar o ataque, naquilo que se chama na Guerra Fria de “vazamento controlado”.

Não se iluda com Lula dando a cara: vamos chegar ao fundo do poço sem encontrarmos petróleo. Lula dará a cara para mascarar a guerra fria e suja que ele alimenta: contando ou com togados nomeados pelo PT, ou com jornalistas alimentados para aliviar a tensão ora corrente com seus “vazamentos controlados”.

Refugiada no palácio


Dilma Rousseff afirmou que o Brasil está “de braços abertos” para receber refugiados de outros países. Coração de mãe é uma bênção. Chefiando um governo que não tem onde cair morto, fazendo a população de seu país comer o pão que o diabo amassou numa crise hedionda, a presidenta-mulher encontrou forças para seu aceno solidário ao mundo. A geopolítica das migrações não será mais a mesma depois do brado retumbante de Dilma. A sorte é que o mundo não sabe distinguir solidariedade de pedalada verbal.

Para os não iniciados, vale o esclarecimento: pedalada verbal é quando alguém fala alguma coisa para desviar a atenção de outra. A esperança da presidenta-mulher e de seus mandantes é que a plateia abobada se distraia mais um pouquinho com aquela conversa de coração valente, dando-lhes algum oxigênio extra para a sobrevida no palácio. Dilma discursou sobre os refugiados no 7 de Setembro, escreveu sobre os refugiados em artigo na imprensa, usou seu posto de chefe de Estado na Semana da Pátria para tratar dos refugiados no Oriente Médio. Se alguém na Síriaouviu esse apelo dramático, é capaz de atravessar o Mediterrâneo e o Atlântico a nado para alcançar a salvação petista. Chegando à praia, levará logo uma cravada da CPMF para saber onde está pisando.

Isso é tudo o que restou a Dilma e seu governo moribundo: demagogia sentimental e chantagem emocional. Mas não custa mandar o aviso aos refugiados de todo o planeta: o PT não é solidário nem com a mãe gentil. Depenou a economia popular sugando o patrimônio público e se refugiou no palácio. Quem tentou tirá-los de lá pelas vias normais (o voto) teve seus botes postos a pique por uma artilharia pesada – incluindo roubo da maior empresa nacional para financiar os truques eleitorais, segundo investigação da Operação Lava Jato. Tesoureiros e financiadores da Miss Solidariedade, prezados refugiados, já foram investigados e presos por tirar do povo para dar ao partido. O Brasil está de braços abertos e os brasileiros estão de mãos ao alto.

A crise dos refugiados é terrível, e é terrível a carona que os humanistas de butique pegam nela. A solução entoada pelos traficantes de bondade é fácil: Europa, abra as portas para todo mundo que quiser entrar! Deixe de ser egoísta e xenófoba, socorra os migrantes que estão morrendo no mar! Aliás, por que o mundo não pensou nisso antes? Todo ser humano que vive em dificuldade em seu país pobre e violento deveria se mudar para um país rico e pacífico. Pronto, tudo resolvido! E como fazer para que os mercados e as cidades europeias absorvam as populações deslocadas e a conta continue fechando, com bem-estar social para todos? Ora, se vira, seu capitalista selvagem!

Um dos primeiros países não europeus a anunciar que estava de portas abertas para os refugiados foi a... Venezuela. O companheiro Maduro talvez só fique devendo aos hóspedes o luxo de usar papel higiênico, mas essas necessidades primárias são facilmente substituíveis por uma boa cantilena chavista. Tanto na Venezuela quanto no Brasil, na Argentina, na Bolívia e em todos os países bonzinhos com o chapéu alheio, não existe esse problema neoliberal de fazer a conta fechar. A conta foi privatizada pelos companheiros, eles pedalam quanto quiserem para deixar os números lindos de morrer – e dessa cartola sem fundo fazem aparecer o que quiserem. Até bolsa refugiado.

Foi assim que o Brasil mandou pelos ares o tal grau de investimento, que os petistas informam que não tem a menor importância. Afinal, quem está preocupado com selo de bom pagador? O que importa é o selo de bom falador – capaz até de falar aos corações dos refugiados d’além-mar. Se faltar dinheiro, é só pedir para o Vaccari, ou para o Delúbio, ou para algum ajudante deles que não esteja em situação de xadrez. E, se ainda assim continuar faltando, não tem problema: é só meter a mão no bolso do brasileiro, esse ser pacato e compreensivo.

“As pessoas nem sentem”, comentou o petista José Guimarães, líder do governo na Câmara, sobre a recriação da CPMF. Mão leve é isso aí. E, se o Brasil não se importa com o bolso, melhor entregar logo as calças aos companheiros. Se mudar de ideia, a única saída é não aceitar mais mulher sapiens refugiada em palácio.

Entenderá?

Dilma precisa entender que a situação já não comporta improvisações, remendos e paliativos. O que agora se exige é um plano de jogo mais ambicioso, condizente com as proporções do atoleiro fiscal em que o país foi metido. Mas está a presidente apta a se mostrar à altura desse desafio? Infelizmente, tudo indica que não. E é isso que explica boa parte do quadro dramático que hoje vive o país
Rogério Furquim Werneck 

Os males da improvisação

Nos idos de 1830, Unzelmann, grande estrela do teatro alemão, ficou famoso pelos “cacos” que acrescentava ao texto das peças por ele representadas. O diretor do Teatro de Berlim proibiu-o de improvisar. Durante certa performance, o ator entrava no palco montado num cavalo. Só que o animal portou-se de maneira imprópria, fazendo cocô diante da distinta plateia, que começou a rir. O ator repreendeu o parceiro: “você não sabe que estamos proibidos de improvisar?”

Ontem, aguardando o desembarque da presidente Dilma, vinda dos Estados Unidos, reuniram-se na Câmara diversos deputados do PMDB, insatisfeitos com o atraso da reforma ministerial. Queixavam-se da improvisação nas mudanças prometidas há mais de um mês, pois sempre que um parlamentar é cotado para determinado ministério, no dia seguinte suas chances perdem-se nas especulações dos corredores do Congresso. Ninguém tem certeza de coisa alguma, sequer de quais os ministérios que serão extintos. Uma verdadeira improvisação, cujos resultados deveremos conhecer até o final da semana, caso não se verifiquem novas dúvidas e não aconteça nova protelação.

Pois é. Improvisar em política parece perigoso, em especial porque Madame, ao anunciar a intenção da mudança, um mês atrás, deveria ter calculado minuciosamente os ministérios que desapareceriam, bem como convidado, mesmo em segredo, os novos ministros. Deixou tudo e todos em suspense, por falta de decisão ou por conta da verdadeira batalha campal travada pelos candidatos e pelos partidos indignados com a perspectiva de perder espaço. Portou-se como amadora, ou seja, está improvisando...

Assim como a vida, os governos são curtos, pelo menos na visão dos governantes e de quantos habitam o planeta. Quando o final vai-se aproximando, buscam-se alternativas e subterfúgios, como o da imortalidade no Céu, para uns, e o do retorno ao poder, para outros. Na realidade, tudo se resume ao medo da morte, num caso, e a incerteza da reeleição, no outro.

Nos dois casos, depois que as religiões transformaram todos os tormentos e sofrimentos na concepção do Inferno, restou para o Céu apenas o tédio. Para a reeleição, também Deve ser por aí que o Lula anda raciocinando. Afinal, valerá à pena voltar para queimar nas chamas eternas ou para sem ter o que fazer em Brasília?

Dilma zangada

I

Dilma, ao ficar sabendo
Que o senador Sibá
Teve um encontro com Cunha
Somente pra conspirar,
Quase cancela a viagem
e faz pega-pra-capar!

II

Sibá se encontrou com Cunha
E, com jeito bem manhoso,
Disse que o Mercadante
Era um sujeito sestroso
E devia deixar o governo
Com Levi e com Cardoso.

III

Dilma, quando soube disso,
Começou um pega-arreda:
Deu uma rasteira no guarda
(Que ele nem viu a queda)
E até o helicóptero
Soltou mais de uma labareda.
IV

Deu um grito em Jaquivagui
E disse: “Vá se lascar!
Que o marido de Ideli
Foi você quem mandou lá
Para os Estados Unidos
Com R$ 30 mil para amar”.

V

Mandou dizer a Ideli,
Com aquele jeito de zelo:
- Estou indo agora aos EUA
Para fazer um apelo.
Apareça em Nova Iorque
Que eu arranco seu cabelo!

VI

Sacudiu a secretária,
Derrubou um par de brinco;
A roupa do diplomata
Amassou, encheu de vinco:
- Quando eu voltar ao Brasil,
Quero ver o dólar a cinco!
Miguezim de Princesa

ECA do B

As crianças negras e pobres do Brasil só são achadas por bala perdida porque não sabem ler o verdadeiro Estatuto da Criança e do Adolescente


Se as crianças negras e pobres tivessem aprendido a ler, não ficariam interrompendo o tráfego com seus corpinhos escuros. Mas vão para escolas públicas bem equipadas, em prédios planejados, cercados por jardins e quadras de esporte, com professores bem pagos e preparados, em tempo integral, alimentadas com comida nutritiva e balanceada, e nem assim conseguem ler direito. Só desperdiçam os impostos pagos por pessoas de bem, como eu. Preferem ficar em seus barracos sufocantes, em ruas esburacadas e sem árvores, por mau gosto. Impressionante o mau gosto das crianças pobres e negras, uma coisa que vem de berço, mesmo, basta ver como se vestem mal. Por isso, não compreendem o Estatuto da Criança e do Adolescente. Não a bobajada aprovada nos anos 90, por aquele monte de babacas que ficam choramingando até hoje porque a ditadura torturou e matou uns milhares de comunistas. Matou foi pouco! Estou falando do verdadeiro Estatuto da Criança e do Adolescente, o que não foi feito por gente que ficou desperdiçando anos estudando para proteger direitos humanos de bandidinhos. Como se crianças negras e pobres fossem humanas! Estou falando do ECA que vale, o das ruas, a lei na prática, mesmo. O outro, o oficial, é só pra botar na biblioteca daqueles intelectualoides de esquerda, pra encherem aquela boca mole de porcaria politicamente correta e se exibirem em reunião da ONU. Se os moleques soubessem ler e soubessem o seu lugar, estariam aí, vivos, pra ficar chapinhando no esgoto, como gostam. Como não tenho estômago pra sujeira na via pública, resolvi sistematizar a lei em vigor e fazer o manual de 2015, versão atualizada, para ver se param de emporcalhar o chão com seus miolos. Uma coisa bem didática, bem simples, pra que mesmo uma raça inferior consiga entender. Vou botar nome em cada uma delas, pra ver se fica mais fácil de entrar nessas cabecinhas cheias de maconha. Tipo, lembra do caso, associa com a lei, não faz merda, tudo resolvido. Como no ano que vem tem Olimpíada e não quero que os gringos pensem que aqui não tem lei, me restringi ao Rio de Janeiro. Se cada um fizer a sua parte pra higienizar a cidade, o Brasil ainda pode brilhar:
Leia mais o artigo de Eliane Brum

À espera da reforma medíocre e limitada de um governo ruim

De volta de Nova Iorque, depois de abrir mais uma Assembleia Geral da ONU, a presidente Dilma Rousseff deverá conferir prioridade ao desfecho da reforma do seu ministério.

Trata-se de uma tarefa que ela mesma se impôs e que se arrasta há mais de 30 dias. No momento em que mais precisa de apoio político, ela pretende cortar 10 dos atuais 39 ministérios.


Não é uma ideia inteligente. Mas Dilma é useira e vezeira em adotar ideias pouco inteligentes. Ou burras mesmo. Age assim devido à sua inexperiência política e à má qualidade dos seus conselheiros.

Do ponto de vista econômico, o corte de 10 ministérios nada significa. É só para que ela possa dizer: “Cortei”. E talvez não corte 10. De alguns deles, se limitará a tirar o status de ministério.

Com o corte e a entrega de seis ministérios ao PMDB, um deles o da Saúde, Dilma imagina reunir votos o bastante para barrar na Câmara dos Deputados qualquer pedido de impeachment contra ela.

O PMDB não lhe assegura votos com tal objetivo. Nem mesmo com o objetivo limitado de recriar a CPMF. Alguns nomes do partido podem particularmente lhe assegurar seus votos.Mas é só.

Dilma procede como em 1992 também procedeu o então presidente Fernando Collor, ameaçado pelo impeachment. Collor reformou seu ministério. E mesmo assim acabou no chão.

Marcas da reforma feita por Collor: a atração de nomes de peso da política e de fora dela; e sua amplidão. Os nomes dos novos ministros de Dilma são medíocres. E a reforma, limitada.

Quem é golpista?

O ministro Edinho Silva afirmou que o governo não tem um “plano B” para a proposta de ajuste encaminhada ao Congresso, e que não há alternativas viáveis, fora das já apresentadas pelo Executivo, para equilibrar o orçamento do governo, passando ao distinto público a falsa ideia de que a única maneira de cobrir o déficit das contas públicas é através da criação ou aumento de impostos, inclusive a malfadada CPMF, além de cortes ridículos nas despesas. Mais uma vez, o governo mente!

O leitor talvez não saiba, mas o Tesouro Nacional, ao longo dos últimos anos, principalmente durante o primeiro mandato da presidente Dilma, transferiu perto de R$ 520 bilhões para o caixa do BNDES. Para se ter uma ideia da grandeza desse número, ele representa cerca de 10% do PIB (2014). Pelos recursos, o governo cobra do BNDES juros de 6% ao ano (TLJP), enquanto, para captá-los no mercado, paga, em média, 13%. Em outras palavras, o custo de carregamento desses “empréstimos”, que fazem a alegria dos grandes empresários tupiniquins, é de aproximadamente R$ 35 bilhões, valor superior ao orçamento anual do Bolsa Família (R$ 27,5 bilhões). Agora, eu pergunto: o leitor viu, em algum lugar, menção de que o governo pretenda pegar esse dinheiro de volta? Nem eu.

Outra possibilidade de arranjar recursos extras para cobrir o déficit seria através de privatizações de empresas estatais, mas, além da proposta de vender 25% da BR Distribuidora (o que está bem longe de significar privatização, já que o controle permaneceria com o Estado), nem uma linha da proposta recentemente encaminhada ao Congresso toca nesse ponto. Eles preferem recriar a CPMF, tungando um pouco mais o bolso do contribuinte. Por quê?

A ideologia petista não admite perder o imenso poder econômico que hoje detém o Estado brasileiro, seja para fazer afagos aos amigos do rei (e financiadores do partido), seja para estender seus imensos tentáculos sobre o mercado.

Não por acaso, no mesmo dia da entrevista de Edinho Silva, sua chefe, a presidente Dilma Rousseff, voltou a dizer — não exatamente com essas palavras, pois seu idioma, embora semelhante, não é o meu — que estão tramando um golpe contra ela, aproveitando-se da crise econômica para propor seu impeachment. Não esclarece como é que um processo previsto na Constituição e regulamentado em lei pode ser considerado golpe.

No meu dicionário, golpe é eleger-se mentindo descaradamente ao eleitorado, mostrando um mundo cor de rosa quando já pairavam nuvens negras no horizonte, avisando que uma tempestade de grandes proporções estava a caminho. Golpe é acusar os adversários de tramar a redução de investimentos em programas sociais, sabendo melhor do que ninguém que, qualquer que fosse o eleito, inclusive ela própria, teria de fazer cortes e congelar benefícios. Golpe é divulgar, por anos a fio, demonstrações financeiras falsas, mostrando superávits onde havia déficits, escondendo resultados negativos através de contabilidade fajuta e “pedaladas fiscais”. Golpe é utilizar bilhões em recursos desviados da Petrobras para abastecer os partidos da base aliada. Finalmente, golpe é emprestar R$ 520 bilhões do Tesouro (leia-se: contribuinte brasileiro), cobrando menos da metade dos juros praticados pelo mercado, aos seus financiadores de campanha e a governos estrangeiros ideologicamente vinculados a seu partido
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