Em nossos dias, resta ao homem uma escolha: ser um otimista que chora ou um pessimista que riAlbert Camus
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
À escolha
Em plena crise, grandes consumidores são premiados
Há 500 grandes consumidores de água da Sabesp que pagam preços excepcionalmente bons. Eles têm um contrato que premia o consumo, quanto maior ele for, menor será o preço pago por litro de água. É a lógica contrária à aplicada ao restante dos usuários. Mimar os melhores clientes é uma estratégia comum no mundo empresarial, exceto pelo fato de que São Paulo atravessa a pior crise hídrica em 84 anos.
Nessa lista, com data de dezembro de 2014, há condomínios de luxo, bancos, hospitais, shoppings, igrejas, indústrias, supermercados, colégios, clubes de futebol, hotéis e entidades como a Bolsa de Valores de São Paulo, a concessionária da linha 4 do Metrô, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos ou a SPTrans.
Alguns clientes [consultar lista], como o shopping Eldorado, consomem por mês cerca de 20.000 m3, o mesmo que mais de 1.200 famílias de quatro membros juntas, considerando que cada indivíduo gasta 130 litros por dia. O shopping, que recebe 1,8 milhões de visitantes por mês, não é o maior consumidor, e há quem gasta até três vezes mais, como a fábrica de celulose Viscofan no Morumbi, a campeã de consumo na lista à qual teve acesso EL PAÍS.
Mas o consumo mensal desses clientes premium pode ser ainda maior porque o levantamento, que foi enviado pela Sabesp à CPI que investiga os contratos da companhia com a Prefeitura, está incompleto. Na lista, que contempla 294 clientes que assinaram seus contratos a partir de junho de 2010, há poucas indústrias. Alvo principal desses contratos, o setor industrial responde por cerca de 40% do consumo de água no Estado, conforme os dados do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE).
O atrativo dos contratos é que todos estes clientes pagam menos do que o valor de tabela aplicado para as atividades comerciais e industriais que desempenham. Para o shopping Eldorado, por exemplo, cada mil litros de água custam 6,27 reais, enquanto para os clientes do setor comercial que não assinaram esse contrato pagam 13,97 reais. Um desconto de mais de 55%. Já a Viscofan se beneficia de um desconto de 75%, pois a tarifa aplicada é de 3,41 reais para cada mil litros, quando, caso não tivesse o contrato, deveria pagar 13,97 reais.
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Nessa lista, com data de dezembro de 2014, há condomínios de luxo, bancos, hospitais, shoppings, igrejas, indústrias, supermercados, colégios, clubes de futebol, hotéis e entidades como a Bolsa de Valores de São Paulo, a concessionária da linha 4 do Metrô, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos ou a SPTrans.
Alguns clientes [consultar lista], como o shopping Eldorado, consomem por mês cerca de 20.000 m3, o mesmo que mais de 1.200 famílias de quatro membros juntas, considerando que cada indivíduo gasta 130 litros por dia. O shopping, que recebe 1,8 milhões de visitantes por mês, não é o maior consumidor, e há quem gasta até três vezes mais, como a fábrica de celulose Viscofan no Morumbi, a campeã de consumo na lista à qual teve acesso EL PAÍS.
Mas o consumo mensal desses clientes premium pode ser ainda maior porque o levantamento, que foi enviado pela Sabesp à CPI que investiga os contratos da companhia com a Prefeitura, está incompleto. Na lista, que contempla 294 clientes que assinaram seus contratos a partir de junho de 2010, há poucas indústrias. Alvo principal desses contratos, o setor industrial responde por cerca de 40% do consumo de água no Estado, conforme os dados do Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE).
O atrativo dos contratos é que todos estes clientes pagam menos do que o valor de tabela aplicado para as atividades comerciais e industriais que desempenham. Para o shopping Eldorado, por exemplo, cada mil litros de água custam 6,27 reais, enquanto para os clientes do setor comercial que não assinaram esse contrato pagam 13,97 reais. Um desconto de mais de 55%. Já a Viscofan se beneficia de um desconto de 75%, pois a tarifa aplicada é de 3,41 reais para cada mil litros, quando, caso não tivesse o contrato, deveria pagar 13,97 reais.
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Negócios ocultos
Na república dos companheiros, os grandes negócios não são feitos na arena do mercado, mas nos meandros da política subterrânea
Demétrio Magnoli
O mandingueiro do Planalto
Os governantes antigos consultavam os oráculos; faziam oferendas macabras aos deuses. Esse recurso de apelar às forças sobrenaturais vem de antigos tempos mas nem por isso deixaram de ser utilizados. Pode-se não mais se consultar oráculos, que ficaram lá atrás, sem qualquer força hoje. Mas estão aí as oferendas, a que nem mesmo os não religiosos recusam.Tanto que a presidente pretende despejar do Planalto uma catinga de bode sobre a população.
Será mais uma das poções preparadas no caldeirão de Pai Santana, ministro sem pasta responsável pelas mandingas de descarrego da presidente. Por sinal, muito necessitada de banhos de limpeza da sujeira que fez por quatro anos.
O encontro, que se revela um dos maiores escândalos republicanos de se abrir um palácio para receber mandingueiro presidencial, está marcado com antecedência para esta sexta-feira, 13. (Será que dá azar?)
Pai Santana deve apresentar a lista dos ingredientes do novo despacho, que como sempre será pago pelo contribuinte, e não deve ser barato, coisa de se colocar na encruzilhada. Será da pesada, fortificado com muito dinheiro (do povo). O ingrediente principal, como de costume, não será galinha, mas um saco gigantesco de mentira para deixar diabo envergonhado.
Em desespero de causa, porque nada está dando certo neste novo mandato - um mês e pouco só de gol contra -, Dilma se socorre nas mezinhas de Santana. Como sempre, quem teme tem que se precaver. Sem encontrar saída para o labirinto em que se meteu - ou melhor, meteu o país, a presidente resolve apelar aos santos do marketing para ficar livre de tanto mau olhado.
O caso de Dilma até faz lembrar que não é a primeira a procurar socorro em magia. Se ateia por convicção, recorre ao marqueteiro, o ex Collor abria as portas para Mãe Cecília das Alagoas, que nunca frequentou gabinete. O marketing de então era muito mais barato e não tão confiante quanto os poderes da mãe de santo. Agora só trocamos a religião pela mentira em papel celofane.
Será mais uma das poções preparadas no caldeirão de Pai Santana, ministro sem pasta responsável pelas mandingas de descarrego da presidente. Por sinal, muito necessitada de banhos de limpeza da sujeira que fez por quatro anos.
O encontro, que se revela um dos maiores escândalos republicanos de se abrir um palácio para receber mandingueiro presidencial, está marcado com antecedência para esta sexta-feira, 13. (Será que dá azar?)
Pai Santana deve apresentar a lista dos ingredientes do novo despacho, que como sempre será pago pelo contribuinte, e não deve ser barato, coisa de se colocar na encruzilhada. Será da pesada, fortificado com muito dinheiro (do povo). O ingrediente principal, como de costume, não será galinha, mas um saco gigantesco de mentira para deixar diabo envergonhado.
Em desespero de causa, porque nada está dando certo neste novo mandato - um mês e pouco só de gol contra -, Dilma se socorre nas mezinhas de Santana. Como sempre, quem teme tem que se precaver. Sem encontrar saída para o labirinto em que se meteu - ou melhor, meteu o país, a presidente resolve apelar aos santos do marketing para ficar livre de tanto mau olhado.
O caso de Dilma até faz lembrar que não é a primeira a procurar socorro em magia. Se ateia por convicção, recorre ao marqueteiro, o ex Collor abria as portas para Mãe Cecília das Alagoas, que nunca frequentou gabinete. O marketing de então era muito mais barato e não tão confiante quanto os poderes da mãe de santo. Agora só trocamos a religião pela mentira em papel celofane.
Tempestades daqui não são como de lá
Enquanto os Estados Unidos, e outros países, se preparam para enfrentar os obstáculos ecológicos, nós fazemos chacota dos caprichos da naturezaNos Estados Unidos, as preparações para enfrentar as tempestades de neve previstas para ocorrerem no final do mês de janeiro, começaram logo após a virada do ano. O sinal amarelo acendeu devido a uma nevasca precoce em Buffalo, NY, em novembro de 2014.
O interessante foi assistir a reação brasileira à ação norte-americana. Não de Dilma ou dos políticos, mas a nossa reação mesmo, dos meros mortais. Enquanto a tal tempestade não vinha no Hemisfério Norte, as redes sociais aqui do Hemisfério Sul eram inundadas de memes zoando os gringos. Exagero, gasto de tempo e de dinheiro, foram algumas das críticas ao comportamento das autoridades de lá.
Os moradores de Nova Iorque aguardaram a neve em casa, devidamente abrigados, aquecidos e alimentados, ao mesmo tempo em que nós, habitantes do Sudeste brasileiro, já enfrentávamos a nossa própria tragédia, em forma de seca, histórica. Uma seca que ainda pode deixar dezenas de milhões de pessoas sem água, luz e alimentos (sim, a agricultura depende de muita água, mas pouco se tem falado nisso.)
Como a zueira não pode parar, os memes nas redes continuam, ora caçoando do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin ora, mais recentemente, do prefeito Eduardo Paes, que ousou avisar a população sobre a possível chegada de um ciclone no Rio. Virou piada. Muita piada.
A verdade é que a situação da região, especificamente de São Paulo, já é de calamidade. As medidas, ao contrário, são poucas, fracas. Há uma recompensa aqui ou ali pela diminuição no uso da água, além da ameaça de multa por consumo elevado. Só isso.
Percebam a diferença: uma matéria da revista Época desta semana, conta que, na Califórnia, no final do ano passado, foi decretado estado de catástrofe e adotadas medidas extremas para a redução do consumo hídrico. Isto porque os reservatórios do estado estavam com prazo de 360 a 540 dias. Pois, em São Paulo, o prazo é de apenas 50 dias!
Resta a quem está mais preocupado com a situação, rezar por mais chuva. Afinal, alguns dias de temporais seguidos ultimamente fizeram o nível dos reservatórios paulistas subirem um pouco e adiaram o racionamento. Alívio geral. Até quando? Culpa dos políticos? Não somente. Esta situação é produto direto da sociedade em que vivemos. É resultado da nossa democracia de interesse próprio.
Democracia de interesse próprio é aquela que entende a ideia da democracia, da civilização e do coletivo, mas tem o seu próprio interesse acima de todos os outros.
No caso da crise da água, isso é fato. O governador Alckmin se recusou a falar sobre o assunto até passar a eleição, ou melhor, até ele próprio ser reeleito. A presidente Dilma também só distribuiu recursos ao estado depois que terminou a disputa, para não beneficiar o seu adversário nacional, que era do partido do governo local, oposição ao partido dela.
Mais triste ainda é perceber que o interesse próprio não move apenas quem vive de voto, mas também os cidadãos, que se recusam a diminuir o consumo de água, ou culpam os governantes, sem reconhecer sua própria responsabilidade.
Enquanto os Estados Unidos, e outros países, se preparam para enfrentar os obstáculos ecológicos, nós fazemos chacota dos caprichos da natureza, e nos comportamos como uma nação de reação. Desta vez, a reação à falta de água virá tarde demais. E, infelizmente, não vai ter graça nenhuma. Pra ninguém.
Jornalismo, alma e rigor
Sem jornalismo público, independente e qualificado, o futuro da democracia é incerto e preocupante. O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o coração e a alma
Antes da era digital, em quase todas as famílias existia um álbum de fotos. Lá estavam as nossas lembranças, os nossos registros afetivos, a nossa saudade. Muitas vezes abríamos o álbum e a imaginação voava. Era bem legal.
Agora, fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nosso antigo álbum foi substituído pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição daqueles momentos.
Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando. Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um instante. É importante guardar imagens. Mas é muito mais importante viver cada momento com intensidade.
Algo análogo, muito parecido mesmo, ocorre com o consumo da informação. Navegamos freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersam a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e sensibilidade crítica.
A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente.
Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com alma, rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre.
Jornalismo sem alma e sem rigor. É o diagnóstico de uma doença que contamina inúmeras redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração.
É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, isento. As melhores pautas estão nas encruzilhadas da vida. O prestígio de uma publicação não é fruto do acaso. É uma conquista diária.
A credibilidade não se edifica com descargas de adrenalina. É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história.
A crise do jornalismo está intimamente relacionada com a perda de qualidade do conteúdo, com o perigoso abandono de sua vocação pública e com sua equivocada transformação em produto mais próprio para consumo privado.
É preciso recuperar o entusiasmo do “velho ofício”. É urgente investir fortemente na formação e qualificação dos profissionais. O jornalismo não é máquina, tecnologia, embora se trate de suporte importantíssimo. O valor dele se chama informação de alta qualidade, talento, critério, ética, inovação.
Sem jornalismo público, independente e qualificado, o futuro da democracia é incerto e preocupante. O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o cara a cara, o coração e a alma.
Carlos Alberto Di Franco
Antes da era digital, em quase todas as famílias existia um álbum de fotos. Lá estavam as nossas lembranças, os nossos registros afetivos, a nossa saudade. Muitas vezes abríamos o álbum e a imaginação voava. Era bem legal.
Agora, fotografamos tudo e arquivamos compulsivamente. Nosso antigo álbum foi substituído pelas galerias de fotos de nossos dispositivos móveis. Temos overdose de fotos, mas falta o mais importante: a memória afetiva, a curtição daqueles momentos.
Fica para depois. E continuamos fotografando e arquivando. Pensamos, equivocadamente, que o registro do momento reforça sua lembrança, mas não é assim. Milhares de fotos são incapazes de superar a vivência de um instante. É importante guardar imagens. Mas é muito mais importante viver cada momento com intensidade.
Algo análogo, muito parecido mesmo, ocorre com o consumo da informação. Navegamos freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersam a inteligência. Ficamos reféns da superficialidade. Perdemos contexto e sensibilidade crítica.
A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente.
Penso que há uma crescente nostalgia de conteúdos editados com alma, rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma demanda reprimida de reportagem. É preciso reinventar o jornalismo e recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e a magia do jornalismo de sempre.
Jornalismo sem alma e sem rigor. É o diagnóstico de uma doença que contamina inúmeras redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro do asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração.
É preciso dar novo brilho à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, isento. As melhores pautas estão nas encruzilhadas da vida. O prestígio de uma publicação não é fruto do acaso. É uma conquista diária.
A credibilidade não se edifica com descargas de adrenalina. É preciso contar boas histórias. Com transparência e sem filtros ideológicos. O bom jornalista ilumina a cena, o repórter manipulador constrói a história.
A crise do jornalismo está intimamente relacionada com a perda de qualidade do conteúdo, com o perigoso abandono de sua vocação pública e com sua equivocada transformação em produto mais próprio para consumo privado.
É preciso recuperar o entusiasmo do “velho ofício”. É urgente investir fortemente na formação e qualificação dos profissionais. O jornalismo não é máquina, tecnologia, embora se trate de suporte importantíssimo. O valor dele se chama informação de alta qualidade, talento, critério, ética, inovação.
Sem jornalismo público, independente e qualificado, o futuro da democracia é incerto e preocupante. O jornalismo precisa recuperar a vibração da vida, o cara a cara, o coração e a alma.
Carlos Alberto Di Franco
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