quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Pensamento do Dia

Mana Neyestani

Um país sem manutenção

O incêndio do Museu Nacional prova que o Brasil é mesmo um país improvisado. Nada aqui, com algumas raras exceções que confirmam a regra, funciona de acordo com o combinado. Em qualquer esfera em que um ente público estiver envolvido, vai estar faltando alguma coisa. E em todas, não se encontrarão cuidado, capricho, carinho e, sobretudo, faltará manutenção.

Se o mais importante museu brasileiro foi transformado em cinzas pela incúria, pela má gestão e pela tão estúpida quanto rotineira falta de verba, imaginem como são tratadas as pequenas escolas públicas das periferias das cidades ou do interior do Brasil. Compare a importância do Museu Nacional com a de uma delegacia de polícia de Quissamã ou de Sapucaia.


Não importa para qual instituição pública você apontar, vai sempre encontrar uma gambiarra, um malfeito, um equívoco, um deslize, um erro. Ou muitos. O Brasil é a nação do jeitinho, do atalho fácil. Os exemplos de delegacias, escolas são óbvios, como também são repetitivos os casos de hospitais caindo aos pedaços e de estradas esburacadas. Estes matam, enquanto aqueles reduzem a qualidade de vida pela ignorância ou insegurança.

No ano passado (quem já não leu isso?), 6,2 mil pessoas morreram nas estradas brasileiras. Muitas vitimadas pela imperícia ou pela imprudência de motoristas, mas a maioria em razão das péssimas condições do asfalto de baixa qualidade e durabilidade que se esfarela por ter mais areia e brita do que betume e outros hidrocarbonetos sólidos na sua composição.

Nos hospitais do país, 829 pessoas morrem a cada dia por falta de atendimento, de equipamentos e de medicamentos. Corredores cheios de macas com pacientes, fiação exposta em salas de cirurgia, improvisações em balcões de atendimento, paredes descascadas, pisos, portas, tetos e paredes imundas. Lixo jogado no chão, dentro e fora dos hospitais. Essa é a cara da saúde brasileira.

As estradas, como os hospitais, as escolas, as delegacias e, agora se sabe, os museus brasileiros, sofrem desse mal comum. Também falta manutenção em outras repartições, como as delegacias do INSS, os institutos médico-legais, os quartéis da Polícia Militar. Tampouco passam por manutenção rotineira as centrais de abastecimento, as agências de organismos oficiais, os postos de saúde e vacinação, as universidades, as escolas técnicas, os institutos de educação.

O Brasil público é uma esculhambação. Manter o chão de uma escola ou de um hospital limpo, varrido, não exige apenas verba. Pede envolvimento do servidor, respeito e amor pelo seu trabalho. Claro que lixo deve ser jogado no lixo, mas quantas vezes você viu pedaços de papel, de plástico, restos de embalagem jogados no chão por onde passam dezenas, centenas de funcionários que não se abaixam para coletá-los?

A UFRJ gasta 87% do seu orçamento com pessoal, conforme revelou O GLOBO, e apenas 1% com manutenção de seus equipamentos, como o Museu Nacional. E o reitor Roberto Leher, que foi eleito para o cargo como filiado do PSOL, assumiu em 2015 anunciando que efetivaria os terceirizados de segurança, limpeza, portaria e, vejam só, de manutenção. Numa entrevista que deu à época, o reitor disse que “o modelo de terceirização é selvagem com os trabalhadores”.

Nos últimos 15 anos, a UFRJ aumentou em 97% o seu número de funcionários. Apesar de inchado de pessoal, o reitor e a turma que ele indicou pra cuidar do museu não conseguiram separar sequer uma dúzia de funcionários para cuidar das instalações elétricas do Palácio da Quinta da Boa Vista de modo a impedir que gambiarras pudessem acabar produzindo um curto-circuito e incendiar o prédio.

O diretor do museu, Alexandre Kellner, que hoje se queixa e exige recursos para recuperar o irrecuperável, ocupava uma sala magnífica, que fora quarto de Dom Pedro II. Quanta honra. Ali, tudo estava no lugar. Os móveis eram verdadeiras relíquias, não havia fios desencapados nem paredes descascadas. Do conforto da sala do trono, o diretor aparentemente nunca se preocupou com o fato de o museu não ter brigada de incêndio. E assim vamos.

Uma mão lava a outra na bacia de Pilatos

O incêndio do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista foi como destocamento de raízes em área desmatada. A floresta que se perdeu não volta mais. É de doer na alma! A tragédia anunciada ocorre, coincidentemente, num período em que, por diversas circunstâncias, eu vinha escrevendo sobre as maliciosas mistificações envolvendo a História do Brasil e a identidade nacional.

Para alguns brasileiros que dirigiram a área cultural neste início de século, a história interessa como espaço para construção de narrativas convenientes sob o ponto de vista político e ideológico. Para outros, velharias como as que se exibem nos museus não têm qualquer significado e deveriam ser vendidas para “socorrer os pobres” (exatamente como pretendia Judas Iscariotis, exalando uma generosidade que não tinha, ao repreender a mulher que derramou perfume caro nos pés de Jesus). Nestes casos, temos a perigosa combinação da ignorância com a demagogia. Para os radicais, por fim, há mais cultura na pichação do que no monumento, nos poucos acordes do funk do que na música erudita, no Queermuseu do que no Museu. Fazer o quê?

Foram as marretas que derrubaram as cocheiras 
A “cultura” tem outras prioridades. O Museu Nacional ardeu, então, com as centelhas da omissão e do desinteresse. Em tempos de verba curta, era preferível financiar eventos e artistas que, ali adiante, estariam subscrevendo manifestos de apoio político, participando de showmícios e fazendo denúncias em eventos no exterior. Uma mão lava a outra, na bacia de Pilatos.

Coincidentemente, no mês de julho, escrevi um texto apoiando a iniciativa de amigos que pretendiam, no Rio de Janeiro, preservar – vejam só! - as Cavalariças Imperiais da Quinta da Boa Vista. Os sucessivos retalhamentos do parque haviam levado mais da metade da área original e as cavalariças se extraviaram do belo projeto paisagístico de Augusto Glaziou. Considerávamos imperioso preservá-las. Tão pouco tempo depois, não eram as cavalariças que se perdiam, mas o próprio museu que ardia.

Sociedades civilizadas sabem que prédios e lugares históricos abertos à visitação, ao lazer e à cultura são imprescindíveis à construção da identidade nacional e, logo, da identidade individual dos cidadãos. Não há cultura sem raízes e as nossas veem sendo sistematicamente cortadas em virtude do anacronismo a que me referi em artigo anterior. Indivíduos sem raízes são levados para onde soprar a ventoinha das conveniências.
Percival Puggina

Era previsível: o PT atropela o TSE

Surpresa não há: o PT resolveu ignorar as sucessivas decisões de ministros do TSE contrárias ao partido. Elas determinam o simples: que o partido se abstenha de manter Lula como candidato na propaganda de TV e de rádio. Estipulam multa de até R$ 500 mil.

O PT age assim porque pode. Porque está acostumado a descumprir as leis eleitorais sem receber qualquer punição. E porque seus dirigentes enxergam a campanha atual como um processo de enfrentamento direto com as instituições que administram as eleições. Para o partido, a Justiça – o Judiciário – é mais um inimigo a ser abatido. Virou um obstáculo aos planos da sigla de retomar o poder.


A falta de punição vem de longe. Desde o mensalão, o PT – assim como outros partidos – engajou-se em práticas criminosas, envolvendo até as contas eleitorais da legenda. Houve fraudes, lavagem de dinheiro, corrupção. Tudo isso desde a campanha presidencial de 2002. Os crimes prosseguiram; a leniência da Justiça, também.

O resultado está à mostra. O PT só cumprirá determinações judiciais se a Justiça – em especial a Eleitoral – punir o partido com os rigores que a lei prevê. Ou, vá lá, algum rigor que seja.

Mesmo que os ministros do TSE sejam firmes, como não foram ao final da sessão da última sexta, o PT atacará politicamente qualquer decisão judicial que atrapalhe seus planos de voltar à Presidência da República.

O PT, portanto, segue em sua estratégia de guerrilha, buscando vitórias onde quer que elas estejam, de qualquer maneira possível, sem respeito algum às instituições do Estado Democrático de Direito. É uma estratégia que dá certo. Os inimigos do PT – queiram eles ou não ser considerados como inimigos – estão na Justiça. Quanto mais esses inimigos vacilarem, hesitarem, mais o partido, como de hábito, tripudiará. Prevalecerá.

A maioria dos ministros do TSE ainda não entenderam isso. Não compreenderam que o PT fará de tudo – tudo – para voltar ao Planalto. O que inclui subtrair a legitimidade e a autoridade de quem quer que seja. Até de ministros da Suprema Corte.

Brasil dos prioritários


O Brasil que não desejo e o que eu quero

Nesta fase eleitoral é comum ver candidatos presidenciais a dizer o que querem para o Brasil, ainda que falando pouco de como vão fazer. Cidadãos também expressam a sua vontade, como nas séries A reconstrução do Brasil: o que é fundamental?, da TV Estadão, e O Brasil que eu quero, do Jornal Nacional.

Resolvi dar aqui minha opinião após perceber que amanhã é o 196.º aniversário da independência do Brasil, em 1822. Assim, o bicentenário virá no ano final do mandato do próximo presidente.

E daí? Explico. O Brasil está desde 2015 num buraco cavado por obra e desgraça da “ex-presidenta” Dilma. Na economia, ele se abriu com a forte queda de 7% do PIB no biênio 2015-2016. Em 2017 o PIB cresceu só 1%, este ano a taxa deve ficar em torno de 1,5% e, com isso, apenas rasteja rumo à superfície, sem sair do buraco. No social, o buraco se mostra pela duplicação do número de desempregados, para 13 milhões.


Ser desempregado dá uma tristeza de chorar, mas a crise também amedronta o povo em geral. Assim, o Brasil está triste e uma forma de mobilizá-lo para sair desse estado seria criar a perspectiva de um feliz bicentenário em 2022, com o PIB já na superfície e num aclive digno do nome. Assim, o que não desejo é o País no buraco e tão triste. O que quero é o Brasil bem feliz nesse bicentenário, e quatro anos é tempo suficiente para essa mudança de rumo.

Por trás dessa evidente crise há outra. Nas últimas três décadas, e principalmente na atual, o PIB cresceu a taxas bem abaixo das verificadas nas quatro décadas anteriores. Havia então um modelo de crescimento que funcionava, movido pela substituição de importações e alta proteção para empresas que se instalassem no País. E, ainda, pelo forte aumento da população e sua acelerada transferência de zonas rurais ou de pequenas cidades para outras maiores, onde passavam a ocupações na indústria e nos serviços, incluído o comércio, com maior produtividade ou valor da produção por pessoa. Lula foi um desses migrantes.

Esse modelo se esgotou. Hoje, sem desprezar o mercado interno, o País precisa é ampliar e substituir suas exportações, nessa expansão aumentando o conteúdo tecnológico, o valor adicionado e a produtividade, para ganhar mercados externos que demandam mais produtos industriais e de serviços, e não apenas as commodities agrícolas e minerais em que houve maior demanda, e ganhamos espaço por seguir um caminho inovador.

Esse outro caminho exigiria trabalhadores mais qualificados, mais produtivos e de maiores salários. Também é preciso desmontar a ilusão, típica do petismo, de que um país cresce pela expansão do consumo das famílias, o que exacerba o seu endividamento e trava o processo. Cabe pregar que a prosperidade pessoal, familiar e nacional vem de maior poupança adequadamente investida, de modo a gerar mais renda e para mais pessoas, assegurando a expansão sustentada do consumo.

Na busca desse novo modelo, o governo poderá dar diretrizes, mas sem atuar diretamente como empresário, pois é incompetente como tal. Tanto a crise atual como as décadas anteriores de fraco desempenho mostraram isso, e com gestões do governo como um todo se revelando várias vezes desastrosas, tanto ao gerir como por ampliar o Estado brasileiro.

O resultado: esse Estado é, como em outros países, o maior ente da economia, mas aqui exagera nesse papel. Comanda cerca de 40% do PIB, com carga tributária perto de 34% desse indicador, típica de países ricos, que conseguem suportá-la, o que não é o caso do Brasil. E toma emprestados mais uns 6% do PIB para se permitir mais despesas. Esses empréstimos absorvem poupança privada, que, desviada de investimentos produtivos, vai para um Estado que quase nada investe produtivamente e tem alta conta de juros a pagar, pois sua insaciável sede por recursos amplia muito sua dívida. Assim, o Estado faria bem se contivesse seus gastos, arrumasse suas contas, até mesmo via privatizações e concessões, e criasse um bom clima para negócios privados.

Aliás, pode-se comparar o Estado brasileiro a uma imensa sociedade anônima mal gerida. Em outubro haverá uma ou duas assembleias-gerais de acionistas-eleitores para escolher o novo presidente da empresa. Mas, embora seu principal executivo, ele não poderá atuar sozinho. As decisões mais importantes passam pelo conselho de administração da empresa, no caso, bicameral, o Congresso. Ela também tem conselho fiscal, o Tribunal de Contas da União (TCU), e há outro ente cujas decisões podem ter grande impacto orçamentário, o Supremo Tribunal Federal (STF), ao qual essa enorme empresa também se subordina.

Assim, os candidatos presidenciais deveriam dizer como vão lidar com essa estrutura de poder. Há os que afirmam que nos primeiros seis meses de seu mandato estariam abençoados para receber apoio do Congresso. É ver para crer. E como fariam no restante do mandato se sua popularidade se reduzisse?

Supondo que o eleito tenha de fato um programa bem estruturado e crível, ele também deveria recorrer a um ente pouco usado e pouco conhecido, o Conselho da República. Está na Constituição, é presidido pelo presidente da República e outros membros importantes são os presidentes da Câmara e do Senado e os líderes da maioria e da minoria nas mesmas Casas. Também deveriam ser convidados ou acrescentados o presidente do STF e o do TCU.

O objetivo seria expor o programa do Executivo e granjear apoio desses também mandões da República para acelerar decisões em favor do bem comum da população e, assim, eticamente sustentáveis, como ao evitar pautas-bomba orçamentárias e apoiar as reformas necessárias.

E que o presidente lembrasse a seus membros a responsabilidade de cada um pelo país. Se não a assumissem, seria o caso de receberem também a culpa pelos fracassos.

O que os números do PIB falam sobre o Brasil que o próximo presidente vai herdar

A economia brasileira mantém o ritmo em marcha lenta com que entrou em 2018. Divulgado na última sexta-feira, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu apenas 0,2% entre abril e junho em relação ao primeiro trimestre – quando a alta foi de 0,1% sobre os três meses anteriores, já descontados os efeitos da sazonalidade.

A greve dos caminhoneiros teve impacto negativo importante sobre a atividade, especialmente sobre a produção industrial, e foi responsável por uma série de revisões para o indicador que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou.

Algumas projeções foram cortadas pela metade depois dos 11 dias de paralisação, que bloquearam estradas e causaram desabastecimento.

Além dessa questão circunstancial, contudo, os números do PIB são um retrato de uma retomada lenta, marcada pela dificuldade de gerar emprego e de estimular os investimentos – e deixam cada vez mais claros os desafios do próximo presidente.

A seguir, cinco diagnósticos que o principal indicador de atividade econômica dá sobre o país que os candidatos ao Executivo prometem transformar partir de 2019.

A construção ainda não reagiu

Desde que a recessão acabou – de acordo com o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, da Fundação Getulio Vargas, no fim de 2016 –, a construção civil é o único setor que ainda não conseguiu se descolar dos números bastante negativos que marcaram os anos de crise.

Depois de ficar relativamente estável no fim do ano passado, a atividade no segmento voltou a contrair em 2018. Teve queda de 0,4% no primeiro trimestre e de 0,8% de abril a junho, na comparação com o período imediatamente anterior.

Hoje, seu nível é semelhante ao de 2009, o pior desempenho mostrado pelos dados do PIB.

"A construção atingiu o fundo do poço e não tem dado sinais de reação", avalia Sarah Bretones, da MCM Consultores.

O cenário é explicado, de um lado, pelo fato de este início de recuperação estar sendo puxado mais pelo consumo do que pelos investimentos.

A liberação de recursos das contas inativas do FGTS e o ganho de poder de compra proporcionado pela queda da inflação foram alguns dos fatores que, no ano passado, contribuíram para que o comércio avançasse 1,8% – quando a economia como um todo cresceu 1%.

Na contramão, a área de infraestrutura não teve o mesmo tipo de estímulo. Com o Orçamento do governo federal e dos Estados no vermelho, praticamente não houve construção de estradas, de moradias populares ou obras de saneamento por iniciativa do setor público.

Já o setor privado, que ainda digere dívidas do passado, segue desalentado pelo ambiente de crise política e de insegurança em relação ao futuro. A esse fator a economista da MCM acrescenta o impacto indireto da operação Lava Jato, que acabou afastando do mercado grandes empresas – parte das companhias acusadas de envolvimento nos escândalos de corrupção segue vetada de participar de licitações e muitas reduziram em mais da metade o quadro de funcionários.

A construção é um dos quatro setores que compõem a indústria dentro do PIB, ao lado do segmento de eletricidade, água e esgoto e das indústrias extrativa e de transformação.

Uma década de retrocesso dos investimentos

Esse quadro explica em parte o desempenho ruim dos investimentos. Chamados de Formação Bruta de Capital Fixo no PIB, eles despencaram cerca de 30% durante a crise e estão reagindo em ritmo muito mais lento do que se esperava.

"A construção e os investimentos andam muito juntos", pondera Igor Velecico, do Bradesco.

No ano passado, eles chegaram a esboçar uma reação, crescendo "até 8% em termos anualizados", mas a situação voltou a piorar em 2018. A retração de 1,8% entre abril e junho, em relação ao primeiro trimestre, é a primeira queda depois de um ano de resultados positivos.

Hoje, seu nível também é semelhante ao que o país registrava em 2009.

Especificamente no segundo trimestre, o resultado negativo dos investimentos foi influenciado pela indústria de transformação, que teve parte das atividades paralisadas em maio, por causa da greve dos caminhoneiros. Nesse segmento, o tombo foi de 0,8% (e de 0,6% na indústria como um todo).

Velecico calcula que a paralisação tirou 0,2 ponto percentual do PIB do segundo trimestre.

O cenário para o restante do ano tampouco é animador. As incertezas em relação à eleição, que têm feito muitas empresas segurarem os investimentos e deixarem os projetos na gaveta, se mantêm.

E se somam ao ciclo recente de desvalorização do real – o dólar caro eleva o custo da importação de maquinário e de tecnologia e também joga contra a Formação Bruta. Para o economista do Bradesco, os investimentos vão continuar encolhendo até o fim de 2018.

O que celebrar no Dia da Amazônia?

Comemoramos nessa quarta-feira, 5, o Dia da Amazônia. A celebração faz referência a 5 de setembro de 1850, data na qual Dom Pedro 2º decretou a criação da antiga Província do Amazonas. Mais do que celebrar esse conjunto inestimável de riquezas naturais e culturais, que representa 60% do território brasileiro, é preciso fazer desse dia um alerta contra as ameaças à maior biodiversidade do planeta.


O desmatamento da Amazônia está prestes a atingir um ponto a partir do qual regiões da floresta tropical podem passar por mudanças devastadoras irreversíveis, advertiram no início deste ano os pesquisadores Carlos Nobre (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial, uma das maiores autoridades mundiais em mudanças climáticas) e Thomas Lovejoy (George Mason University). No último domingo, 2, parte imensurável de sua história foi destruída pelo incêndio que consumiu o Museu Nacional, reduzindo a cinza registros magníficos da presença dos povos originários da Amazônia. Não foi apenas uma tragédia em si, mas também o resultado de anos de negligência de um Estado e uma sociedade que não valorizam seu patrimônio histórico, natural, científico e cultural.

A floresta amazônica reúne mais de 14 mil espécies de plantas e cerca de 20% da fauna de todo o mundo. O Brasil, por sua vez, abriga a maior quantidade de seres vivos catalogados pela ciência, com potencial imenso para a inovação verde, da produção de medicamentos a cosméticos. Trata-se do maior capital natural de que se tem conhecimento.

Somente com o uso sustentável desse patrimônio podemos persistir como civilização. É possível gerar valor e criar emprego sem destruição, em um modelo de desenvolvimento que valoriza a floresta em pé e a sustentabilidade de suas comunidades, com a prática de negócios socialmente justos, ambientalmente corretos e economicamente viáveis. Para isso, é preciso compartilhar a riqueza produzida na região com quem vive da floresta, por meio da repartição de benefícios gerados.

Com um trabalho iniciado há quase duas décadas, a Natura usa 70 cadeias de ingredientes da biodiversidade, com 20 ativos de origem sustentável e certificada pela UEBT (União para o BioComércio Ético), provenientes de 34 comunidades e que geram desenvolvimento e renda para mais de 4 mil famílias somente na Amazônia. Entre esses ingredientes está a ucuuba, fruto de uma espécie que estava ameaçada de extinção pela exploração madeireira predatória para confecção de estacas e cabos de vassoura. Anos de pesquisa científica comprovaram o benefício altamente hidratante da semente, dando novo valor à ucuubeira. Hoje, as comunidades recebem a cada colheita de uma única árvore cerca de três vezes o valor equivalente ao seu tronco. É uma conta que faz sentido para toda a sociedade. Aprender a lidar com a biodiversidade será o principal diferencial competitivo do país, se soubermos ouvir as vozes da floresta.

Em 2011, lançamos o Programa Amazônia, com a meta de movimentar um valor acumulado de R$ 1 bilhão de reais na região, considerando todas as nossas iniciativas. Prevíamos atingir essa meta em 2020, mas a superamos no primeiro semestre de 2017. A presença da Natura na região ajuda a manter 257 mil hectares de floresta em pé, mas o crédito deve ser atribuído às famílias com quem nos relacionamos na região. Organizadas em torno de associações e cooperativas, elas pautam parte importante da agenda da Amazônia do século 21. Não por acaso, as comunidades mais prósperas têm mulheres em posições de liderança, pessoas como Adriana Lima, da Ilha de Cotijuba, e Josineide Malheiros, da Ilha das Cinzas, que desafiam a lógica dos ciclos de economia de exploração predatória da floresta.

Se não quisermos abreviar a nossa existência como espécie, precisamos amplificar a voz das comunidades e assumir responsabilidades compartilhadas em relação à Amazônia, na condição de cidadãos e consumidores, ao cobrar de governos e empresas compromissos para frear o desmatamento. Estamos em plena campanha eleitoral e isso deve entrar na pauta já, de todas as candidaturas.

Perseguir um modelo de desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo não é mais uma opção, e a mudança está em nossas mãos. Afinal de contas, não existe floresta em pé se a gente ficar sentado.
João Paulo Ferreira, presidente da Natura

Imagem do Dia

Peder Mork Monsted 

O incêndio da Razão Comum

O Brasil ignora investimentos na proteção e promoção da sua memória há muito tempo. Tanto que até já esqueceu que precisa fazer isso. São necessárias catástrofes para lembrar. Ocorre que infelizmente se transformam em espetáculos midiáticos e raramente trazem mudanças.

O colapso do edifício Wilton Paes de Almeida no Centro de São Paulo trouxe à tona a situação de propriedade públicas e privadas ociosas nos centros urbanos, a luta pela moradia e o direito à urbanidade. Já esquecemos. Há um mês foi anunciada aumento do teto de uso do FGTS, passando para 1,5 milhão, para aquisição de imóveis novos. Este valor passa muito longe das necessidades da moradia social. Comemorou o setor imobiliário pela possibilidade de aquecimento do mercado. Mais prédios serão construídos em bairro novos e ermos nas cidades brasileiras. Nenhum prédio será reabilitado. Tão pouco seu reuso será para dar prioridade a quem precisa. O recurso público capitalizando poucos.

O Brasil é um prisioneiro feliz da modernidade. Deseja o novo, a utopia, a revolução e ignora o que as gerações anteriores lhe concederam como patrimônio, provavelmente porque estas eram imperfeitas aos olhos da elite intelectual, sedenta de novos lugares e territórios para aplicar suas ideologias.


Um dos cincos maiores museus de história natural do mundo, o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro pegou fogo no dia 2 de Setembro. Vinculado à UFRJ, o museu é um centro de pesquisas de arqueologia, antropologia, paleontologia, botânica e inúmeras outras áreas. É um centro de formação de conhecimento e de ampliação. Os prenúncios de uma catástrofe datam desde muito. Anos 80, anos 2000, 2015. São inúmeros os relatos. O incêndio é um evento cronologicamente arquitetado por décadas de confusão e ineficiência.

Infelizmente a UFRJ demonstra profunda incapacidade de gerir seu patrimônio imobiliário cuja grande parte é também de alto valor cultural. Já foi perdida a Capela de São Pedro de Alcantara em 2011, no campus da Praia Vermelha. Há décadas a antiga Escola de Eletrotécnica esfarela em praça pública. Literalmente. É vizinha da Praça da República no Centro do Rio. O prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, também conhecido como Reitoria, sofreu incêndio nos andares superiores em 2016. A biblioteca da FAU passaria por reforma. Ambos estão fechados até hoje. O prédio funciona precariamente. Do mesmo modo, vergonhosamente, segue fechado o Canecão. O Colégio de Altos Estudos funciona com maior parte ociosa e obras não concluídas, na Avenida Rui Barbosa. O IFCS funciona precariamente. Após décadas de abandono está em recuperação finalmente o Hospital São Francisco de Assis na Av. Presidente Vargas.

Não se trata de golpe, de estatismo, ou avanço sobre as conquistas progressistas. É somente a velha e conhecida incompetência.

As brasas do Museu Nacional aguardam o sopro da disputa eleitoral, mas o que evidenciam na verdade é o conturbado encerramento de um ciclo histórico e político onde falhamos todos e todas as matizes. Estamos incapazes de conjurar o século XXI para o Brasil. O pragmatismo político não conseguiu edificar um arranjo social capaz de avançar autonomamente. Do mesmo modo, a sociedade carrega ainda dentro si os embriões da ignorância que alimenta morais vacilantes. Exatamente onde poderia a memória, os centros históricos, os museus, a cultura promover a transfiguração, pela educação aplicada, pelo conhecimento ampliado, pelo respeito ao diferente, dando camada amorosa à cidadania utilitária, falhamos.

Cidades sem densidades, condomínios, favelas, grades, ilhas e isolamentos impedindo acesso à urbanidade, o fenômeno maior e gerador do bem público. O Rio sofre mais pois ele congrega os acervos da nação, os experimentos estéticos, as invenções sociais. A cidade descapitalizada é ainda fantasma de um sonho de nação aberta ao mundo. Isola-se o Brasil com a perda do Museu Nacional. Estamos desmemoriados na face da Terra.

O serviço público serve a si mesmo. O espaço público é loteado por empresas e ambulantes. Políticos não precisam entregar suas promessas. Teocracias governam, milícias fazem loteamento e ignorantes orgulhosos berram como candidatos à Presidência da República. Líderes populares presos por corrupção são beatificados. Privilégios são exibidos com toga. Leis não precisam cumpridas. Acervos não precisam ser apreciados.

Historiadores do futuro chamarão o incêndio do Museu Nacional como o fim da Nova Democracia Brasileira. Conseguiremos progredir?

Poderemos se a ideia de bem público para todos for destituída de signo ideológico, sendo o que simplesmente é: algo que pertence a todos, feita por todos e mantida por todos. Comunitariamente concebida e preservada. Como um acervo de identidade coletiva. Enquanto o bem comum for propriedade de um partido, de uma tônica, de um líder, ou uma fé, arderá a fagulha de novos incêndios absolutos sobre a razão.
Washington Fajardo

Mais um ano

Nada tenho a lhe pedir,
Futuro, paraíso do pobre.
Ainda visto as mesmas coisas.

Continuo vendo o mesmo problema
Pela mesma luz,
Comendo a mesma pedra.

E as agulhas do relógio ainda espetam sem entrar
.
W.S. Merwin

A história por trás do fogo

O mesmo fogo que queima também ilumina. O incêndio que destruiu o Museu Nacional iluminou histórias que viviam ocultas nas sombras.

A primeira: por que um museu deve depender de uma universidade? Nada contra as universidades, mas não é esse seu objetivo básico. Um museu exige muito – muita dedicação, muito estudo, muito dinheiro, administração própria. O Museu Nacional, sob a Universidade Federal do Rio de Janeiro, não tinha um contrato de manutenção elétrica – pelo menos não constava na prestação de contas da UFRJ. O Museu do Ipiranga faz parte da USP, Universidade de São Paulo. Seu prédio estava em condições tão precárias que foi fechado em 2013 para reformas, com reabertura prevista para 2022. Nove anos fechado.

Há pouco mais de 20 anos, o empresário Israel Klabin, ex-prefeito do Rio, conseguiu US$ 80 milhões do Banco Mundial para restaurar e modernizar o Museu Nacional. Só havia uma exigência: o Museu deveria ser autônomo. Ou fundação ou Organização Social, com conselho, compliance (compromisso de seguir as leis, com transparência) e governança. Um grupo de voluntários se formou para trabalhar num pré-projeto de reforma para apresentar ao Banco Mundial. Mas a UFRJ rejeitou a proposta: o Museu era dela e ponto final. Os R$ 600 mil anuais da manutenção foram sendo reduzidos desde 2014. A receita da UFRJ cresceu, a verba do Museu caiu. Detalhe: um secretário de Estado, Wagner Victer, previu em 2004 o incêndio, por falta de manutenção.



Não se trata, aqui, de apontar responsáveis pelo incêndio: isso é tarefa dos investigadores. Na nota acima, falou-se das estruturas administrativas inadequadas, que é preciso modificar. Aqui, sem culpar ninguém, o tema é outro: a unanimidade ideológica no comando de uma universidade pública.

O reitor, a vice-reitora, a pró-reitora de Extensão, o pró-reitor de Pessoal são simpáticos ao PSOL; o pró-reitor de Graduação é simpático ao PCB; o pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças é simpático ao PCdoB. Não existirá nenhum professor capaz de exercer algum desses cargos e não seja simpatizante de algum partido de extrema esquerda?

Haveria a possibilidade de que a UFRJ tenha sido entregue a esses partidos em um “acordo de governabilidade” com os governadores Sérgio Cabral e Pezão?
“Todos que por aqui passem protejam esta laje, pois ela guarda um documento que revela a cultura de uma geração e um marco na história de um povo que soube construir o seu próprio futuro”.
Era isso que estava escrito no chão, em frente ao Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro.

Cala-te, boca!

Este colunista ouviu, ninguém lhe disse: o ministro da Cultura, Sérgio de Sá Leitão, disse que a restauração do Museu se dará em várias fases, a última das quais é comprar o que for necessário para recompor o acervo que o fogo destruiu.

Claro, claro: é só ir às compras que, mesmo pagando mais caro, será simples comprar fósseis de plantas já extintas, o fóssil de Luzia – que, aliás, já estava velhinho, com 12 mil anos – e que levou o mundo inteiro a refazer as pesquisas sobre a chegada dos seres humanos à América; talvez, por que não?, outro trono, para substituir o perdido, do rei africano do Daomé, Adandozan, na hipótese ainda não comprovada de que ele tivesse duas bundas.

Já repor o acervo de múmias será simples. Basta promover um evento com determinadas autoridades e fechar as portas. A turma se sentirá em casa.

“Para liquidar os povos, começa-se por lhes tirar a memória. Destroem-se seus livros, sua cultura, sua história. E uma outra pessoa lhes escreve outros livros, lhes dá outra cultura e lhes inventa outra História.” Do escritor tcheco (naturalizado francês) Milan Kundera, O Livro do Riso e do Esquecimento.
Carlos Brickmann

Os talibãs brasileiros

No dia seguinte ao incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro, houve uma manifestação na Quinta da Boa Vista. Cerca de mil jovens compareceram, especialmente estudantes universitários. Reparei numa menina que segurava um cartaz que dizia: "Luzia sobreviveu 13 milênios na natureza, mas não sobreviveu meio século na mão do governo."

"Luzia" foi a primeira brasileira. Ossos humanos mais antigos que os dela nunca foram encontrados no continente americano. Agora, ela virou cinzas.

Com ela, queimaram "vinte milhões de memória de alguma coisa tentando ser um país". Assim a jornalista Eliane Brum, que testemunhou o incêndio, descreveu de forma poética e certeira a tragédia.


Achei especialmente significativa a destruição de milhares de objetos de povos indígenas, alguns deles já extintos. Entre os itens estava uma coleção visual com material fotográfico de centenas de tribos do Brasil, colhido ao longo de séculos. É como se esses povos tivessem sido extintos uma segunda vez.

Apenas 520 mil reais por ano teriam sido necessários para salvar tudo. A soma equivale:

- a 0,04% do custo da reforma do Maracanã;

- ao custo de um juiz federal por ano;

- ao custo da troca de carpete do Senado, três anos atrás;

- ao valor dos brincos de turmalina da coleção de joias do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral.

O cálculo foi feito por um internauta que postou a lista no Twitter.

Aliás, a soma também equivale a 2,4% do custo da construção do Museu do Amanhã. Hoje, o Brasil tem um Museu do Amanhã, mas não tem mais passado.

Pode soar paradoxal, mas parece que a história do Brasil não tem valor no próprio país. Não foi uma coincidência o Museu Nacional ter pegado fogo. Foi negligência criminosa. Há 14 anos, o então secretário estadual de Energia, Indústria Naval e Petróleo e hoje secretário de Educação, Wagner Victer, descreveu assim a situação do museu: "Vai pegar fogo."

Nada foi feito. Nos últimos dez anos, incêndios destruíram ao menos oito prédios com tesouros culturais e científicos do país. Parece que o fogo virou normalidade.

Há algo por trás de tudo isso. A ignorância responde a uma lógica: a sistemática destruição do passado brasileiro como instrumento de poder. Este serve para reproduzir e legitimar uma ordem social perversa, classificada pelas Nações Unidas como uma das cinco mais desiguais do mundo.

A destruição do passado foi especialmente eficaz durante a escravidão. Os proprietários tiraram dos escravos seus nomes e suas línguas. Frequentemente, brasileiros brancos têm orgulho de ter raízes alemãs ou italianas, mas qual é o negro que tem sobrenome africano e sabe de onde na África vieram seus antepassados?

Nada lembra essas atrocidades. É possível visitar algumas das belas fazendas históricas de café no estado do Rio de Janeiro. Os visitantes admiram a vida luxuosa dos antigos e atuais donos. Mas sobre a senzala que criou a riqueza prefere-se não falar. É como se não tivesse existido.

Quase metade de todos os escravos que foram forçados a cruzar o Atlântico vieram para o Brasil – cerca de quatro milhões. A maioria deles chegou ao Rio. Mas quase não existe memória sobre um dos maiores crimes da humanidade. Há o minúsculo Memorial dos Pretos Novos, na Gamboa, que luta para sobreviver em meio à falta de recursos.

Há também o Cais do Valongo, o maior marco da escravidão do mundo. Em julho de 2017, o Valongo passou a ser considerado Patrimônio Histórico da Humanidade, para, apenas um anos depois, correr o risco de perder o título por a prefeitura de Marcelo Crivella não cumprir uma série de obrigações.

O mesmo Crivella que, depois do incêndio no Museu Nacional, falou: "Incêndios ocorrem." Crivella é um talibã brasileiro. No Afeganistão, os talibãs detonaram estátuas de Buda milenares. No Rio, eles deixam, simplesmente, que a história se deteriore. Ou acabam diretamente com ela.

O centro do Rio, por exemplo, poderia ter um dos núcleos históricos mais completos e bonitos da América Latina, comparável ao de cidades no México, em Cuba ou na Colômbia. Mas, ao longo das décadas, a máfia formada por setor imobiliário e política construiu torres sem identidade sobre a história do Rio.

Será que alguém se lembra da Aldeia Maracanã? O prédio ao lado do Maracanã foi construído pelo Duque de Saxe em 1862 e doado em 1910 ao Serviço de Proteção aos Índios, comandado pelo Marechal Rondon. A ideia era construir um espaço de preservação da cultura indígena brasileira,e o local abrigou o Museu do Índio, criado por Darcy Ribeiro.

Antes da Copa, o edifício histórico deveria ser derrubado. Dizia-se que precisavam de espaço para o estacionamento de um shopping. São essas as preferências dos talibãs brasileiros: estacionamento e shopping! Somente protestos persistentes conseguiram impedir a demolição,e a cidade prometeu cuidar do prédio. E hoje? Está desmoronando.

Da mesma forma ignorante como lida com a sua história indígena e afro-brasileira, o Brasil lida com a ditadura militar. Onde estão os locais que lembram a ditadura brasileira? Não existem. Em vez disso, um candidato presidencial enlouquecido percorre o país gritando: "Vamos fuzilar a petralhada!". Depois, ninguém poderá dizer que não sabia dos planos dele. É assim que o fascismo começa.

A extinção da história do Brasil não é coincidência. Para um povo sem memória, é possível vender tudo, até mesmo planos para fuzilá-lo e o congelamento por 20 anos dos gastos destinados à Educação e à Saúde. É claro que o incêndio no Museu Nacional não foi planejado, mas não aconteceu por acaso.
Philipp Lichterbeck