quarta-feira, 23 de novembro de 2016
À deriva
Passei o dia 18 de outubro enlatado num avião que deveria me levar a Congonhas de onde seguiria com destino a Joinville a fim de cumprir um compromisso de trabalho.
Como moro em Niterói e não sei mais como vou chegar ao Rio, acordei pelas 7 e, no aeroporto Santos Dumont, consegui antecipar o meu voo, o qual o mau tempo inesperadamente atrasou, deflagrando uma cadeia de frustrações que a maravilhosa rapidez dos deslocamentos modernos de quando em vez promove.
À deriva, vivi as consequências inesperadas das ações sociais, como dizia Max Weber; ou da vida, como dizia vovó Emerentina. Uma boa intenção deflagra um mal-entendido; um presente, um veneno; um beijo, uma gravidez; um governo eleito para cuidar dos pobres e a enriquecer seus donos vê o sol nascer quadrado.
Fiquei cerca de 12 horas naquilo que um colega francês, Marc Augé, chamou, num livro de 1995, de “não lugar”.
Os não lugares (ou antilugares) são, paradoxalmente, espaços de circulação. Um outro colega, Victor Turner, chamava tais espaços de “liminares”, porque seriam marcados pela ambiguidade e induziam a um intenso individualismo, o qual detonava formas contraditórias de solidão em meio a uma multidão.
Foi com esse sentimento de estar simultaneamente dentro e fora que virei uma alma penada. Estava invisível no meio de pessoas em movimento pausado, obstinado e concreto. Até quem esperava, estava de passagem.
Sem saber se ia ou ficava – em plena deriva –, eu fazia água num oceano de ansiosos. E ali vivi uma série de excessos não programados pelo meu bem direcionado livre-arbítrio.
Estive inicialmente prisioneiro na barriga bíblica de um avião lotado por pelo menos hora e meia. Ali, ao lado de centenas de passageiros, não podia me mover. A imobilidade plena é a marca dos castigos e se faz nas sentenças destinadas a suprimir a liberdade de “ir e vir”. A cara e rotineira liberdade de movimentação, que distingue esses “antiespaços” como os aeroportos.
Uma outra vivência da deriva foi bem mais intensa, justo porque ela me obrigava a conviver com a minha impotência de fazer alguma coisa por mim mesmo e pelo meu compromisso, pois a cada minuto eu perdia a conexão (e com ela a esperança) de chegar ao meu destino. Uma falha leva a outra e não há como aplacar a irritação de passar do papel de passageiro ao arrepiante papel de perdedor de voos. Claro que não estava só. E todos os que compartilhavam a mesma desventura sentiam-se igualmente destituídos de alguma coisa preciosa. Como um roteiro tão bem ordenado se desmanchava dentro dele mesmo e no decorrer da viagem? Como o rápido era trocado pelo lento?
Estar à deriva é perder o rumo. Esse rumo que a modernidade nos obriga e impinge.
Cheguei a Congonhas e fui a um balcão onde me associei a um aglomerado de gente que era a mais viva negação das viagens aéreas. Pois ali havia tudo menos calma, certeza técnica, velocidade e rumo.
“Deus meu! – disse meu lado à deriva para um outro ainda mais perdido – como seria bom possuir um jatinho.” Entre gente furiosa e surtada era mais um mendicante a pedir orientação a duas belas mocinhas uniformizadas, parecidas com minhas netas.
A frustração, porém, me acalmou. E quando consegui um outro voo que levaria a Joinville muito mais tarde, comecei a enfrentar um outro problema: o de assumir o papel de residente temporário de um local onde ninguém deve esperar. Pois aeroportos, rodoviárias, hospitais e motéis não comportam moradores. Entre um sorvete e um uísque, meditei: pra que tanta pressa se a espera é um fato e, no fundo, ninguém vai mesmo a lugar nenhum, como dizia Raul Seixas?
Como moro em Niterói e não sei mais como vou chegar ao Rio, acordei pelas 7 e, no aeroporto Santos Dumont, consegui antecipar o meu voo, o qual o mau tempo inesperadamente atrasou, deflagrando uma cadeia de frustrações que a maravilhosa rapidez dos deslocamentos modernos de quando em vez promove.
À deriva, vivi as consequências inesperadas das ações sociais, como dizia Max Weber; ou da vida, como dizia vovó Emerentina. Uma boa intenção deflagra um mal-entendido; um presente, um veneno; um beijo, uma gravidez; um governo eleito para cuidar dos pobres e a enriquecer seus donos vê o sol nascer quadrado.
Fiquei cerca de 12 horas naquilo que um colega francês, Marc Augé, chamou, num livro de 1995, de “não lugar”.
Foi com esse sentimento de estar simultaneamente dentro e fora que virei uma alma penada. Estava invisível no meio de pessoas em movimento pausado, obstinado e concreto. Até quem esperava, estava de passagem.
Sem saber se ia ou ficava – em plena deriva –, eu fazia água num oceano de ansiosos. E ali vivi uma série de excessos não programados pelo meu bem direcionado livre-arbítrio.
Estive inicialmente prisioneiro na barriga bíblica de um avião lotado por pelo menos hora e meia. Ali, ao lado de centenas de passageiros, não podia me mover. A imobilidade plena é a marca dos castigos e se faz nas sentenças destinadas a suprimir a liberdade de “ir e vir”. A cara e rotineira liberdade de movimentação, que distingue esses “antiespaços” como os aeroportos.
Uma outra vivência da deriva foi bem mais intensa, justo porque ela me obrigava a conviver com a minha impotência de fazer alguma coisa por mim mesmo e pelo meu compromisso, pois a cada minuto eu perdia a conexão (e com ela a esperança) de chegar ao meu destino. Uma falha leva a outra e não há como aplacar a irritação de passar do papel de passageiro ao arrepiante papel de perdedor de voos. Claro que não estava só. E todos os que compartilhavam a mesma desventura sentiam-se igualmente destituídos de alguma coisa preciosa. Como um roteiro tão bem ordenado se desmanchava dentro dele mesmo e no decorrer da viagem? Como o rápido era trocado pelo lento?
Estar à deriva é perder o rumo. Esse rumo que a modernidade nos obriga e impinge.
Cheguei a Congonhas e fui a um balcão onde me associei a um aglomerado de gente que era a mais viva negação das viagens aéreas. Pois ali havia tudo menos calma, certeza técnica, velocidade e rumo.
“Deus meu! – disse meu lado à deriva para um outro ainda mais perdido – como seria bom possuir um jatinho.” Entre gente furiosa e surtada era mais um mendicante a pedir orientação a duas belas mocinhas uniformizadas, parecidas com minhas netas.
A frustração, porém, me acalmou. E quando consegui um outro voo que levaria a Joinville muito mais tarde, comecei a enfrentar um outro problema: o de assumir o papel de residente temporário de um local onde ninguém deve esperar. Pois aeroportos, rodoviárias, hospitais e motéis não comportam moradores. Entre um sorvete e um uísque, meditei: pra que tanta pressa se a espera é um fato e, no fundo, ninguém vai mesmo a lugar nenhum, como dizia Raul Seixas?
Geddel espera a poeira baixar no deserto da nossa amnésia
Não há qualquer dúvida em relação à pressão feita pelo ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, junto ao ex-ministro da Cultura Marcelo Calero para que o Iphan liberasse a construção de um prédio de 30 andares no entorno do forte histórico de Salvador. Também não há dúvida em relação aos interesses que motivaram essa pressão: o ministro adquiriu um apartamento no empreendimento imobiliário, avaliado em mais de 2,6 milhões de reais. Como os fatos já admitidos e verificados não poderiam enquadrar o tráfico de influência e o abuso de poder de forma mais clara, a lógica da permanência do Geddel no seu ministério não tem nada a ver com a presunção da inocência ou do suposto desencadeamento de uma investigação séria sobre o caso.
Em vez disso, estamos assistindo a mais uma manifestação da estratégia mais consagrada da política brasileira dos nossos tempos: deixando a poeira baixar. Geddel está sendo investigado por uma Comissão de Ética. Um membro pediu vista do processo, depois voltou atrás. De qualquer forma, uma decisão sobre o caso pode demorar várias semanas e mesmo condenado Geddel provavelmente continuará no cargo. A aposta do governo é que à medida que a cobertura midiática for diminuindo e outros eventos tomem espaço no debate público, salvar Geddel será bastante fácil. Trata-se, obviamente, de uma peça chave da hierarquia do poder; e a amizade pessoal e proximidade política que une Geddel e Michel Temer há décadas deve prevalecer.
Na política brasileira, deixar a poeira baixar é uma estratégia que funciona melhor que qualquer outra. Funciona tão bem, de fato, que vira quase imperceptível. É só considerar, por exemplo, o segundo evento mais importante da semana passada: Romero Jucá assumiu formalmente a liderança do governo no Congresso Nacional. Menos de seis meses atrás, Jucá, o principal articulador político do presidente Temer, se via obrigado a abandonar o Governo depois do vazamento das gravações em que estava defendendo um “pacto” com o Judiciário para “estancar a sangria” da Lava Jato. Na época, especulava-se que as gravações poderiam resultar no afastamento de Jucá do cargo de senador ou até na derrubada do governo recém instalado. Mas para a grande maioria, este episódio já foi remetido aos porões do esquecimento e, desta forma, Jucá livrou-se mais uma vez do peso do seu passado.
Alguém ainda lembra que o Jucá começou sua carreira política como indicação do Marco Maciel? Que enquanto presidente do FUNAI, o órgão encarregado pela defesa dos direitos indígenas, os territórios ianomâmis foram reduzidos em 75%? E que, pelo seu bom desempenho em defesa de garimpeiros durante o governo Sarney, o pernambucano Jucá acabou nomeado governador da área que viria a se tornar o Estado de Roraima, hoje por ele representado no Senado Federal?
Aos seus 97 anos, Aldo Mongiano, um bispo italiano que dedicou sua vida para lutar contra o genocídio dos ianomâmis, ainda lembra com muita clareza o papel central de Jucá na devastação da Amazônia. Quantos brasileiros poderiam dizer o mesmo? Os brasileiros se esquecem fácil demais. E os seus líderes aprenderam a aproveitar, esperando pacientemente depois de cada tropeço, enquanto a poeira baixa. Lula esperou a tempestade do mensalão passar e conseguiu a reeleição. Geraldo Alckmin esperou que as chuvas enchessem os reservatórios esvaziados pelo descaso – ou será que foi pela sede de ganhar mais uma eleição? Aécio espera que a Lava Jato passe sem ficar preso na onda. Igualmente Serra. Igualmente Temer. Igualmente mais da metade do Congresso.
Quanto maior o tamanho da crise, maior a necessidade de a gente esquecer para que tudo possa ficar igual. Gore Vidal uma vez falou: “Moramos nos Estados Unidos da Amnésia. Aprendemos nada porque lembramos de nada.” É a situação na qual nos encontramos. Na espera perpétua do esquecimento, a moralidade da nossa política é a moralidade da amnésia. Tudo que as pessoas esquecem está perdoado. De fato, tudo que as pessoas esquecem nem sequer aconteceu. O compasso moral da política brasileira se resume à tentativa de diminuir, com um discurso cheio de falsidades açucaradas, o incômodo cognitivo gerado pela corrupção sistêmica que lubrifica a governabilidade.
Haveria obviamente a opção de combater este incômodo através do combate frontal aos atos ilícitos ou de uma autêntica reforma política. Mas para os dinossauros do sistema, essas opções nunca farão nenhum sentido. Nas palavras do Geddel Vieira Lima: “Deixar o cargo por isso? Pelo amor de Deus!” Confrontado com as evidências do tráfico de influência e o abuso de poder por ele cometidos, Geddel vai negar o óbvio. Vai afirmar que desmantelar o patrimônio histórico de Salvador em troca da sua jacuzzi no 23º andar, com vista para o mar, é absolutamente essencial para gerar emprego num tempo de crise. Vai postergar qualquer decisão definitiva sobre o ocorrido, esperando que a neblina do tempo tome conta gradualmente da consciência coletiva. Na mente do Geddel, entregar o cargo seria uma resposta nada adequada. No final das contas, já que nós em seguida nos esqueceremos e nos acomodaremos, qual seria o bem social decorrente do Geddel parar de ser Geddel?
Em outubro passado, o eleitorado resolveu punir o PT. Com a economia em queda livre e o desemprego aumentando de forma galopante, esta foi sim uma vez em que as pessoas finalmente lembraram e agiram em decorrência disso. Lembraram das promessas falidas da eleição que Dilma teve a má sorte de ganhar. Lembraram também de uma promessa mais antiga, aquela de um partido que, por ser do povo e pelo povo, se diferenciaria de forma radical dos outros; uma promessa que acabou afogada no esgoto da Lava Jato. Mas quando a moralidade da amnésia domina, o ato de lembrar um fato por si só vira imoral. Vira imoral por ser arbitrário.
Quando nos esquecemos da maioria das coisas, lembrar só de algumas acaba gerando uma situação de patente injustiça. Os partidos com o maior número de envolvidos na Lava Jato, o PP e o PMDB, se fortaleceram ainda mais nas eleições municipais. Inúmeros prefeitos acusados de graves crimes de corrupção se elegeram. Se for lembrar só da corrupção de alguns para punir somente aqueles, esquecer e perdoar a de todos seria talvez mais justo. Certamente não seria uma saída. Mas será que tem saída alguma deste calvário?
A moralidade na política brasileira se assemelha a um deserto. De vez em quando, uma tempestade levanta ao céu mais uma nuvem de areia. Mas logo depois toda areia cai para baixo. As dunas mudam um pouco de contorno mas na essência tudo fica igual. E nada cresce.
Andrei Roman
Em vez disso, estamos assistindo a mais uma manifestação da estratégia mais consagrada da política brasileira dos nossos tempos: deixando a poeira baixar. Geddel está sendo investigado por uma Comissão de Ética. Um membro pediu vista do processo, depois voltou atrás. De qualquer forma, uma decisão sobre o caso pode demorar várias semanas e mesmo condenado Geddel provavelmente continuará no cargo. A aposta do governo é que à medida que a cobertura midiática for diminuindo e outros eventos tomem espaço no debate público, salvar Geddel será bastante fácil. Trata-se, obviamente, de uma peça chave da hierarquia do poder; e a amizade pessoal e proximidade política que une Geddel e Michel Temer há décadas deve prevalecer.
Alguém ainda lembra que o Jucá começou sua carreira política como indicação do Marco Maciel? Que enquanto presidente do FUNAI, o órgão encarregado pela defesa dos direitos indígenas, os territórios ianomâmis foram reduzidos em 75%? E que, pelo seu bom desempenho em defesa de garimpeiros durante o governo Sarney, o pernambucano Jucá acabou nomeado governador da área que viria a se tornar o Estado de Roraima, hoje por ele representado no Senado Federal?
Aos seus 97 anos, Aldo Mongiano, um bispo italiano que dedicou sua vida para lutar contra o genocídio dos ianomâmis, ainda lembra com muita clareza o papel central de Jucá na devastação da Amazônia. Quantos brasileiros poderiam dizer o mesmo? Os brasileiros se esquecem fácil demais. E os seus líderes aprenderam a aproveitar, esperando pacientemente depois de cada tropeço, enquanto a poeira baixa. Lula esperou a tempestade do mensalão passar e conseguiu a reeleição. Geraldo Alckmin esperou que as chuvas enchessem os reservatórios esvaziados pelo descaso – ou será que foi pela sede de ganhar mais uma eleição? Aécio espera que a Lava Jato passe sem ficar preso na onda. Igualmente Serra. Igualmente Temer. Igualmente mais da metade do Congresso.
Quanto maior o tamanho da crise, maior a necessidade de a gente esquecer para que tudo possa ficar igual. Gore Vidal uma vez falou: “Moramos nos Estados Unidos da Amnésia. Aprendemos nada porque lembramos de nada.” É a situação na qual nos encontramos. Na espera perpétua do esquecimento, a moralidade da nossa política é a moralidade da amnésia. Tudo que as pessoas esquecem está perdoado. De fato, tudo que as pessoas esquecem nem sequer aconteceu. O compasso moral da política brasileira se resume à tentativa de diminuir, com um discurso cheio de falsidades açucaradas, o incômodo cognitivo gerado pela corrupção sistêmica que lubrifica a governabilidade.
Haveria obviamente a opção de combater este incômodo através do combate frontal aos atos ilícitos ou de uma autêntica reforma política. Mas para os dinossauros do sistema, essas opções nunca farão nenhum sentido. Nas palavras do Geddel Vieira Lima: “Deixar o cargo por isso? Pelo amor de Deus!” Confrontado com as evidências do tráfico de influência e o abuso de poder por ele cometidos, Geddel vai negar o óbvio. Vai afirmar que desmantelar o patrimônio histórico de Salvador em troca da sua jacuzzi no 23º andar, com vista para o mar, é absolutamente essencial para gerar emprego num tempo de crise. Vai postergar qualquer decisão definitiva sobre o ocorrido, esperando que a neblina do tempo tome conta gradualmente da consciência coletiva. Na mente do Geddel, entregar o cargo seria uma resposta nada adequada. No final das contas, já que nós em seguida nos esqueceremos e nos acomodaremos, qual seria o bem social decorrente do Geddel parar de ser Geddel?
Em outubro passado, o eleitorado resolveu punir o PT. Com a economia em queda livre e o desemprego aumentando de forma galopante, esta foi sim uma vez em que as pessoas finalmente lembraram e agiram em decorrência disso. Lembraram das promessas falidas da eleição que Dilma teve a má sorte de ganhar. Lembraram também de uma promessa mais antiga, aquela de um partido que, por ser do povo e pelo povo, se diferenciaria de forma radical dos outros; uma promessa que acabou afogada no esgoto da Lava Jato. Mas quando a moralidade da amnésia domina, o ato de lembrar um fato por si só vira imoral. Vira imoral por ser arbitrário.
Quando nos esquecemos da maioria das coisas, lembrar só de algumas acaba gerando uma situação de patente injustiça. Os partidos com o maior número de envolvidos na Lava Jato, o PP e o PMDB, se fortaleceram ainda mais nas eleições municipais. Inúmeros prefeitos acusados de graves crimes de corrupção se elegeram. Se for lembrar só da corrupção de alguns para punir somente aqueles, esquecer e perdoar a de todos seria talvez mais justo. Certamente não seria uma saída. Mas será que tem saída alguma deste calvário?
A moralidade na política brasileira se assemelha a um deserto. De vez em quando, uma tempestade levanta ao céu mais uma nuvem de areia. Mas logo depois toda areia cai para baixo. As dunas mudam um pouco de contorno mas na essência tudo fica igual. E nada cresce.
Andrei Roman
A onda 'nacional-populista'
O início do século 21 foi marcado por uma nova onda populista na América Latina, de corte anti-imperialista, terceiro-mundista, voltada para as massas de descamisados não incorporadas ao mercado de consumo, marginalizadas do processo de globalização. Apesar de ser um fenômeno regional, o bolivarianismo nas suas diversas vertentes - chavismo, lulopetismo, kirchnerismo, entre outros – virou referência para a esquerda, como nova via para o socialismo e alternativa à mundialização da economia. A onda entrou em colapso, com a explosão da bolha das commodities, que as financiava.
O populismo como resposta transversa aos efeitos “perversos” da globalização ressurge agora com toda força, nas nações centrais da economia mundial – Estados Unidos e países da Europa – com roupagem nacionalista radical, pregando ordem, xenofobismo e racismo.
Não é a primeira vez na História que isso ocorre em momentos de crises econômicas e de instituições da democracia representativa. O fascismo e o nazismo chegaram ao poder como alternativa à crise sistêmica dos anos 20/30, que desaguou na Segunda Guerra Mundial.
O nacional-socialismo, na sua ala mais radical representada pelos irmãos Strasser, membros do Partido Nazista e rivais de Adolf Hitler, adotou um discurso anticapital financeiro. Assim como a extrema direita de hoje vocifera contra a internacionalização da economia, contra o sistema financeiro e os fóruns multilaterais do concerto de nações.
São contextos históricos absolutamente diferentes, daí a importância de não se absolutizar a comparação entre a ascensão do fascismo nos anos 30 e a emergência da “nova direita” nessa segunda década do século 21. Mas há semelhanças, particularmente em relação à sua argamassa ideológica.
Se os excluídos foram a base social do populismo de esquerda do início do século, os desincorporados são a base de sustentação da atual voga nacional-populista. A região de Lorraine, na França, está para Marine Le Pen assim como os estados do “cinturão da ferrugem” esteve para a vitória de Donald Trump.
O sucateamento de sua indústria pesada e a concorrência internacional engoliram milhões e milhões de empregos e de renda. No caso da França, a perda foi de 1,4 milhões de postos de trabalho na indústria, nos últimos 25 anos. Não é um fenômeno isolado. Na União Europeia, a mão de obra industrial caiu de 27% para 23% do total de empregos, desde a crise de 2008 até 2014.
A globalização trouxe enormes ganhos, maior eficácia econômica, incremento extraordinário da produtividade, barateamento dos produtos, avanços tecnológicos extraordinários em todas as áreas, hiperconectividade, fim da bipolaridade. Mas se deu de forma desregulamentada, sem distribuição da riqueza gerada. Ao contrário, concentrou-a nas mãos das grandes corporações financeiras e industriais. Não constituiu, em escala planetária, uma rede de proteção social.
Ainda serão necessários muitos estudos para entender porque a velha classe operária, da qual se originaram os partidos socialistas, socialdemocratas e comunistas, apoia Trump, Marine Le Pen na França, Nigel Farage, principal liderança do Brexit, o Movimento Cinco Estrelas do comediante italiano Beppe Grillo, Geert Wilders, líder das pesquisas para a próxima eleição parlamentar da Holanda, defensor da “deslamização” do país, e Norbert Hofer, da Aústria, que pode ser eleito chefe de estado na eleição de 4 de dezembro.
O pano de fundo de uma guinada tão profunda é a desindustrialização, um processo que teve início na Europa com a queda do muro de Berlim, com as indústrias se deslocando para os antigos países do socialismo real, onde a mão de obra é mais barata, principalmente a China.
A crise de representação e da política formal, partidos, sindicatos, entre outros, jogou água para o moinho da direita “outsider”, até porque experiências à esquerda de uma nova forma de se fazer política – Syriza na Grécia e Podemos na Espanha – não lograram êxito, ao menos por enquanto.
O populismo da extrema direita fica evidente em suas palavras de ordem: “o povo contra as elites”, na campanha do Brexit; “em nome do povo”, slogan de Marine Le Pen; bem como na recente campanha de Donald Trump, pautada no discurso do “nós x eles”, contra o “sistema”, com o seu “make America great again!”. Os “inimigos” são o livre comércio, os imigrantes, os estrangeiros, os diferentes, os “outros”- uma figura vaga e difusa.
Quanto tempo levará para o nacional-populismo se esgotar não se sabe. Mas passará. Afinal, a morte da democracia liberal foi decretada várias vezes, e ela sempre voltou com força.
Não é a primeira vez na História que isso ocorre em momentos de crises econômicas e de instituições da democracia representativa. O fascismo e o nazismo chegaram ao poder como alternativa à crise sistêmica dos anos 20/30, que desaguou na Segunda Guerra Mundial.
O nacional-socialismo, na sua ala mais radical representada pelos irmãos Strasser, membros do Partido Nazista e rivais de Adolf Hitler, adotou um discurso anticapital financeiro. Assim como a extrema direita de hoje vocifera contra a internacionalização da economia, contra o sistema financeiro e os fóruns multilaterais do concerto de nações.
São contextos históricos absolutamente diferentes, daí a importância de não se absolutizar a comparação entre a ascensão do fascismo nos anos 30 e a emergência da “nova direita” nessa segunda década do século 21. Mas há semelhanças, particularmente em relação à sua argamassa ideológica.
Se os excluídos foram a base social do populismo de esquerda do início do século, os desincorporados são a base de sustentação da atual voga nacional-populista. A região de Lorraine, na França, está para Marine Le Pen assim como os estados do “cinturão da ferrugem” esteve para a vitória de Donald Trump.
O sucateamento de sua indústria pesada e a concorrência internacional engoliram milhões e milhões de empregos e de renda. No caso da França, a perda foi de 1,4 milhões de postos de trabalho na indústria, nos últimos 25 anos. Não é um fenômeno isolado. Na União Europeia, a mão de obra industrial caiu de 27% para 23% do total de empregos, desde a crise de 2008 até 2014.
A globalização trouxe enormes ganhos, maior eficácia econômica, incremento extraordinário da produtividade, barateamento dos produtos, avanços tecnológicos extraordinários em todas as áreas, hiperconectividade, fim da bipolaridade. Mas se deu de forma desregulamentada, sem distribuição da riqueza gerada. Ao contrário, concentrou-a nas mãos das grandes corporações financeiras e industriais. Não constituiu, em escala planetária, uma rede de proteção social.
Ainda serão necessários muitos estudos para entender porque a velha classe operária, da qual se originaram os partidos socialistas, socialdemocratas e comunistas, apoia Trump, Marine Le Pen na França, Nigel Farage, principal liderança do Brexit, o Movimento Cinco Estrelas do comediante italiano Beppe Grillo, Geert Wilders, líder das pesquisas para a próxima eleição parlamentar da Holanda, defensor da “deslamização” do país, e Norbert Hofer, da Aústria, que pode ser eleito chefe de estado na eleição de 4 de dezembro.
O pano de fundo de uma guinada tão profunda é a desindustrialização, um processo que teve início na Europa com a queda do muro de Berlim, com as indústrias se deslocando para os antigos países do socialismo real, onde a mão de obra é mais barata, principalmente a China.
A crise de representação e da política formal, partidos, sindicatos, entre outros, jogou água para o moinho da direita “outsider”, até porque experiências à esquerda de uma nova forma de se fazer política – Syriza na Grécia e Podemos na Espanha – não lograram êxito, ao menos por enquanto.
O populismo da extrema direita fica evidente em suas palavras de ordem: “o povo contra as elites”, na campanha do Brexit; “em nome do povo”, slogan de Marine Le Pen; bem como na recente campanha de Donald Trump, pautada no discurso do “nós x eles”, contra o “sistema”, com o seu “make America great again!”. Os “inimigos” são o livre comércio, os imigrantes, os estrangeiros, os diferentes, os “outros”- uma figura vaga e difusa.
Quanto tempo levará para o nacional-populismo se esgotar não se sabe. Mas passará. Afinal, a morte da democracia liberal foi decretada várias vezes, e ela sempre voltou com força.
O mundo pós-verdade
Como resumir um ano de tantas notícias surpreendentes em uma só palavra? O que têm em comum a saída da Inglaterra da União Europeia, a eleição de Trump, as guerras no Oriente e as nossas escolhas políticas? Alguma coisa pode conectar tudo isto — além, do aquecimento global que nos torra os miolos? Pois o Dicionário de Oxford acaba de nos dar uma valiosa contribuição para entender o mundo em que vivemos. Escolheu como palavra do ano uma expressão pouco conhecida: pós-verdade.
O serviço da Universidade de Oxford tem autoridade para tanto. O dicionário começou a ser concebido em 1857. A tarefa foi entregue ao professor James Murray, em 1879. Cinco anos depois, ainda não tinham saído da letra “a”. Somente em 1884 os primeiros volumes foram lançados. O alfabeto só seria coberto em 1928, com 400 mil palavras. Essas referências ajudam a entender que não se trata de um dicionário comum. Ele tenta registrar as palavras desde a sua origem até seu uso corrente nas ruas, como elas ganham novos significados e se incorporam às nossas vidas.
Post-truth. É um adjetivo. Não chega a ser novo. Tem uma década, pelo menos. Mas os estudiosos de Oxford perceberam que nos últimos tempos seu uso passou a ser mais frequente: em artigos acadêmicos, por escritores, nos jornais e, finalmente, nas ruas. Como em 2015, quando os “emojis” dominaram o mundo.
Pela definição do dicionário, pós-verdade quer dizer “algo que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência para definir a opinião pública do que o apelo à emoção ou crenças pessoais”. Em outros termos: a verdade perdeu o valor. Não nos guiamos mais pelos fatos. Mas pelo que escolhemos ou queremos acreditar que é a verdade.
A palavra se tornou recorrente depois da surpresa do Brexit e da eleição “sangrenta” nos Estados Unidos. Mas pode perfeitamente ser aplicada ao nosso momento político. Para o jornalismo, é uma má notícia. Embora seja quase folclórico em nossas redações citar algum dono de jornal (e os nomes variam) que teria por vício repetir diante de alguma noticia que não queria saber dos fatos, mas da versão que o jornal iria publicar.
O terreno da internet tem se revelado fértil para a propagação de mentiras — sempre interessadas —, trincheira dos haters. Levamos tanto tempo para estabelecer uma visão “científica” dos fatos, construir a isenção do jornalista, a independência editorial e, de repente, vemos que o debate político se dá entre “socos e pontapés”. A pós-verdade arrasta a política, o jornalismo, a justiça, a economia, a nossa vida pessoal...
Seria prudente resgatarmos o território da verdade. Substantivo feminino. Simples assim. Expressão dos fatos, e fatos podem ser verificados. Esse é o papel do jornalismo. Ou torcermos para que no ano que a palavra escolhida pelo Dicionário de Oxford não seja parecida com desastre.
PS: A história do dicionário de Oxford está bem contada no livro “O professor e o louco”, de Simon Winchester, que relata o trabalho de um dos colaboradores do professor James Murray, William Chester Minor, o louco do título. Durante todos os anos que contribuiu para o dicionário selecionando citações para ilustrar o uso das palavras, ele esteve internado numa clínica para doenças mentais.
Luiz Cláudio Latgé
O serviço da Universidade de Oxford tem autoridade para tanto. O dicionário começou a ser concebido em 1857. A tarefa foi entregue ao professor James Murray, em 1879. Cinco anos depois, ainda não tinham saído da letra “a”. Somente em 1884 os primeiros volumes foram lançados. O alfabeto só seria coberto em 1928, com 400 mil palavras. Essas referências ajudam a entender que não se trata de um dicionário comum. Ele tenta registrar as palavras desde a sua origem até seu uso corrente nas ruas, como elas ganham novos significados e se incorporam às nossas vidas.
Pela definição do dicionário, pós-verdade quer dizer “algo que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência para definir a opinião pública do que o apelo à emoção ou crenças pessoais”. Em outros termos: a verdade perdeu o valor. Não nos guiamos mais pelos fatos. Mas pelo que escolhemos ou queremos acreditar que é a verdade.
A palavra se tornou recorrente depois da surpresa do Brexit e da eleição “sangrenta” nos Estados Unidos. Mas pode perfeitamente ser aplicada ao nosso momento político. Para o jornalismo, é uma má notícia. Embora seja quase folclórico em nossas redações citar algum dono de jornal (e os nomes variam) que teria por vício repetir diante de alguma noticia que não queria saber dos fatos, mas da versão que o jornal iria publicar.
O terreno da internet tem se revelado fértil para a propagação de mentiras — sempre interessadas —, trincheira dos haters. Levamos tanto tempo para estabelecer uma visão “científica” dos fatos, construir a isenção do jornalista, a independência editorial e, de repente, vemos que o debate político se dá entre “socos e pontapés”. A pós-verdade arrasta a política, o jornalismo, a justiça, a economia, a nossa vida pessoal...
Seria prudente resgatarmos o território da verdade. Substantivo feminino. Simples assim. Expressão dos fatos, e fatos podem ser verificados. Esse é o papel do jornalismo. Ou torcermos para que no ano que a palavra escolhida pelo Dicionário de Oxford não seja parecida com desastre.
PS: A história do dicionário de Oxford está bem contada no livro “O professor e o louco”, de Simon Winchester, que relata o trabalho de um dos colaboradores do professor James Murray, William Chester Minor, o louco do título. Durante todos os anos que contribuiu para o dicionário selecionando citações para ilustrar o uso das palavras, ele esteve internado numa clínica para doenças mentais.
Luiz Cláudio Latgé
'Cidadão é quem paga saúde de primeiro mundo na Câmara'
Levantamento da Contas Abertas mostrou que a Câmara dos Deputados gasta por ano cerca de R$ 100 milhões com serviço médico. Para o secretário-geral da instituição, Gil Castello Branco, o cidadão comum é mal atendido, enquanto uma “casta” recebe atendimento privilegiado com recursos públicos.
“O cidadão comum está sendo mal atendido em seu município, no seu estado. Essa mesma sociedade acaba pagando para que alguns, uma casta, tenha atendimento de primeiro mundo. É isso que está acontecendo”, explica
“Já gastaram perto de R$ 100 milhões nesse tipo de atendimento, que deveria ser o padrão de atendimento para todo brasileiro, mas na prática não funciona assim”, afirmou Gil Castelo Branco.
Na Câmara não falta dinheiro e sobram materiais e equipamentos. O Departamento Médico da Câmara tem ambulância e tomógrafo novinhos e fica pertinho dos dois maiores hospitais de Brasília. Distante é a realidade entre a rede pública e o que se vê no departamento.
Tomógrafo, que no SUS tem sido luxo, a Câmara tem e pagou R$ 2,5 milhões. Chegou no ano passado. A UTI móvel fica à disposição e a ambulância é novinha, comprada por mais de R$ 134 mil. Segundo a Câmara, a ambulância atende atuais e ex-deputados, servidores, incluindo aposentados e os dependentes deles.
Os dados da Contas Abertas mostram várias outras compras. Em 2014, foram adquiridos 400 colares cervicais, dos quais 206 foram usados. Em 2016, foram empenhados recursos para outros 440 colares e 190 foram usados. Foram também adquiridos aparelho para medir gordura e kits de exames diversos.
O departamento possui 82 médicos de 17 especialidades e mais emergência. Nessa estrutura completa da Câmara, os atendimentos mais comuns são pressão alta, dor de cabeça, infecções de vias aéreas superiores, como nariz e laringe, diarreia e inflamação do sistema gastrointestinal. Essas informações são do próprio Departamento Médico.
Do início do ano até agora, o gasto da Câmara foi de R$ 86 milhões com serviços médico, odontológico, exames, aparelhos, equipamentos e ressarcimento de despesas pagas pelos funcionários. E eles, que têm direito ao atendimento e ao ressarcimento, têm também plano de saúde. Em 2015, todo esse gasto passou de R$ 92,5 milhões.
Em uma comparação com municípios, a Câmara gasta mais com saúde que várias prefeituras. Das 4.792 que informaram ao Tesouro Nacional o que foi para saúde, só 180 cidades gastaram mais. Isto é, menos de 4% dos municípios brasileiros gastam mais com saúde do que a Câmara. Os servidores contam ainda com plano de saúde.
A Câmara disse que passa muita gente no departamento, 18 mil pessoas por dia, e que é responsável pelo atendimento em casos de emergência. Explicou ainda que encomendou muitos colares cervicais, que servem para torcicolo. São pagos apenas quando utilizados. E que a ambulância transporta por mês cerca de 70 pessoas para hospitais da cidade. Se levar em conta apenas os dias da semana, dá duas viagens por dia.
“O cidadão comum está sendo mal atendido em seu município, no seu estado. Essa mesma sociedade acaba pagando para que alguns, uma casta, tenha atendimento de primeiro mundo. É isso que está acontecendo”, explica
“Já gastaram perto de R$ 100 milhões nesse tipo de atendimento, que deveria ser o padrão de atendimento para todo brasileiro, mas na prática não funciona assim”, afirmou Gil Castelo Branco.
Luxo no SUS, há tomógrafo na Câmara |
Tomógrafo, que no SUS tem sido luxo, a Câmara tem e pagou R$ 2,5 milhões. Chegou no ano passado. A UTI móvel fica à disposição e a ambulância é novinha, comprada por mais de R$ 134 mil. Segundo a Câmara, a ambulância atende atuais e ex-deputados, servidores, incluindo aposentados e os dependentes deles.
Os dados da Contas Abertas mostram várias outras compras. Em 2014, foram adquiridos 400 colares cervicais, dos quais 206 foram usados. Em 2016, foram empenhados recursos para outros 440 colares e 190 foram usados. Foram também adquiridos aparelho para medir gordura e kits de exames diversos.
O departamento possui 82 médicos de 17 especialidades e mais emergência. Nessa estrutura completa da Câmara, os atendimentos mais comuns são pressão alta, dor de cabeça, infecções de vias aéreas superiores, como nariz e laringe, diarreia e inflamação do sistema gastrointestinal. Essas informações são do próprio Departamento Médico.
Do início do ano até agora, o gasto da Câmara foi de R$ 86 milhões com serviços médico, odontológico, exames, aparelhos, equipamentos e ressarcimento de despesas pagas pelos funcionários. E eles, que têm direito ao atendimento e ao ressarcimento, têm também plano de saúde. Em 2015, todo esse gasto passou de R$ 92,5 milhões.
Em uma comparação com municípios, a Câmara gasta mais com saúde que várias prefeituras. Das 4.792 que informaram ao Tesouro Nacional o que foi para saúde, só 180 cidades gastaram mais. Isto é, menos de 4% dos municípios brasileiros gastam mais com saúde do que a Câmara. Os servidores contam ainda com plano de saúde.
A Câmara disse que passa muita gente no departamento, 18 mil pessoas por dia, e que é responsável pelo atendimento em casos de emergência. Explicou ainda que encomendou muitos colares cervicais, que servem para torcicolo. São pagos apenas quando utilizados. E que a ambulância transporta por mês cerca de 70 pessoas para hospitais da cidade. Se levar em conta apenas os dias da semana, dá duas viagens por dia.
'Direitização' ou fracasso da esquerda
O planeta caminha rumo à “direitização”? É possível que sim, mas a direitização do mundo é produto espúrio do fracasso da esquerda.
Esta me parece ser o mais importante: o fracasso da esquerda – e este fracasso decorre de vários fatores: o envelhecimento do discurso de esquerda; inadaptação a um mundo complexo, dominado pela tecnologia, pela internet e pelas redes sociais; incapacidade de levar à prática suas propostas de justiça social e, não menos importante, a corrupção, que em certos casos e alguns países, como o Brasil, tornou-se endêmica e sistêmica. O pior é que a esquerda nada faz para se passar a limpo. Fica repetindo a mesma cantilena.
Cá no Brasil, a esquerda não percebeu que os 54 milhões de votos da sua candidata foram direcionados ao seu discurso eleitoral, que fechadas as urnas, mostrou-se ser um baita estelionato. Tudo o que ela atribuia ao seu adversário, foi assumido por ela no dia seguinte às eleições. Na maior cara de pau. Se a candidata do PT recebeu 54 milhões de votos, em 2014, o PT só obteve 6,8 milhões, em 2016. O PT perdeu mais de 85% dos votos que obtivera dois anos antes. Talvez seja caso único no mundo.
Em 2014, não só a militância, os simpatizantes e a classe operária votou em Dilma, mas a classe média e setores da elite. Em 2016, o PT só recebeu votos da militância e dos simpatizantes. Danou-se.
A verdade é que o PT criou um problema sério, talvez intransponível, para a esquerda brasileira, para o pensamento de esquerda no Brasil. Hoje, a sociedade brasileira – e não vamos acusá-la de ser intrinsicamente de direita – vota em candidatos que a esquerda acusa de ser de direita. Bem, alguns são, mas não todos, mas a esquerda é incapaz de perceber nuances: a esquerda só trabalha com juízos extremos, tipo direita e esquerda, preto ou branco. E, por isso, está perdendo (se é que não já perdeu) o bonde da história. A esquerda precisa modernizar-se, atualizar seu discurso, estudar o Brasil, o mundo. Tenho escrito muito a esse respeito.
Se nos anos 1950, alguém perguntasse ao Velhote do Penedo como seria o Brasil em 2016, certamente ele seria bem diferente do que é hoje. Naquele tempo, o Velhote era movido pela esperança.
Mais vergonha: Governo Temer vira refém dos negócios imobiliários de Geddel
Pois é… Ficou feio para os líderes da base governista que assinaram o que chamei de “Carta da Vergonha” em apoio a Geddel Vieira Lima, ministro da Secretaria de Governo. O Planalto foi fazendo bobagens em penca desde sábado. Em vez de chamar Geddel e obrigá-lo a se desculpar por ter feito lobby indevido pensando apenas no próprio interesse, resolveu minimizar a coisa. Ah, seria assunto de somenos, nada muito grave. Não sei se está consolidado um padrão: até determinado valor, ética não conta.
Horas depois daquela carta vergonhosa, novas revelações vêm a público. A intimidade de Geddel com o tal prédio La Vue, que ele queria que fosse erguido fora dos padrões aceitos pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), vai muito além do compromisso de compra de um imóvel.
Segundo informa a Folha, um primo e um sobrinho de Geddel atuam junto ao Iphan como representantes da… construtora.
“Em um documento anexado no processo administrativo que tramitou junto ao Iphan, a Porto Ladeira da Barra Empreendimento, empresa responsável pelo La Vue, nomeou como procuradores os advogados Igor Andrade Costa, Jayme Vieira Lima Filho e o estagiário Afrísio Vieira Lima Neto. Jayme é primo de Geddel e sócio dele no restaurante Al Mare, em Salvador. Afrísio é filho do deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão de Geddel. A procuração foi assinada em 17 de maio de 2016, cinco dias depois de Geddel tomar posse como ministro. Ela não tem prazo de validade. Semanas antes, ainda na gestão Dilma Rousseff (PT), o Iphan havia embargado a obra por considera que o prédio afetaria monumentos tombados da região como o Forte de São Diogo e a Igreja de Santo Antônio da Barra".
Só para lembrar: Lúcio Vieira Lima é o presidente da Comissão Especial da Reforma Política.
Nesse caso, o que nem era tão grande começou a ficar enorme. Estamos diante de uma evidência escancarada de moral seletiva.
Está patente que a ligação do ministro com o prédio é maior do que a que ele revelou também para aqueles que assinaram o documento se solidarizando com ele.
Como ironia pouca é bobagem, o advogado José Leite Saraiva Filho, amigo de Geddel e que integra a Comissão de Ética da Presidência da República, é nada menos do que advogado da Ademi (Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário). Uma das associadas da entidade é a construtora Cosbat, dona do empreendimento “La Vue”, o pivô da confusão.
Ah, sim: em Salvador, Saraiva representa a Ademi justamente numa ação contra o Iphan.
Pergunta: este senhor, que havia decidido pedir vista do caso e depois voltou atrás, a pedido do próprio Geddel, vai ter a “ética” de se declarar impedido de votar no caso? À Folha, ele já disse que não.
Caso pequeno? O governo se encarregou de torná-lo grande. E é evidente que Michel Temer está cometendo um erro clamoroso!
E isso tem um custo. O povo foi às ruas contra a alta moral que justifica essa lambança.
A Lava Jato mudou o script do faroeste à brasileira
Em outubro de 2012, como atesta o vídeo acima, um repórter da TV Globo perguntou a Sérgio Cabral se o então governador fluminense temia a quebra do sigilo bancário da Construtora Delta, pertencente ao amigo e patrocinador Fernando Cavendish. “Imagina! Por que que eu temeria?”, reage o irritadiço reizinho do Rio. “Por que que eu temeria?”, repete a voz de soprano. “Acho até um desrespeito da sua parte me perguntar isso. Uma coisa é a relação pessoal que eu tenho com empresários ou não empresários, outra coisa é a impessoalidade da decisão administrativa”.
Vale a pena conferir do começo ao fim o palavrório recitado pelo corrupto à beira de um ataque de nervos. É um show de cinismo. É, sobretudo, outra prova contundente de que, antes da Operação Lava Jato, todos os poderosos patifes se julgavam condenados à perpétua impunidade. Como tantos outros gatunos da classe executiva, Cabral só se deu conta de que o Brasil mudou ao ser acordado pela Polícia Federal às seis da manhã. Como tantos outros larápios cinco estrelas, jura que não cometeu sequer pecados veniais. Como todos, logo estará flertando com um acordo de delação premiada.
O hóspede involuntário de Bangu 8 acabou de descobrir o que Lula teima em não enxergar. Na sexta-feira passada, como exemplifica o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o noticiário político-policial destacou o mais patético momento da Ópera dos Cafajestes, concebida por advogados sem pudores e protagonizada por um culpado sem álibi: o ex-presidente que saiu da História para cair na vida criminosa pediu à Justiça que prenda o juiz Sérgio Moro por “abuso de autoridade”. Não há limites para a vigarice. Nem para a insolência, confirmou o comportamento dos bacharéis de Lula nesta segunda-feira, numa audiência judicial em Curitiba.
Durante o depoimento prestado por Delcídio do Amaral ao juiz que personifica a Lava Jato, integrantes da tropa de cinco doutores a serviço do Instituto Lula recorreram a apartes indevidos, comentários provocadores e contestações insolentes para tumultuar o ambiente, abalar o equilíbrio emocional de Moro e, se possível, conseguir uma providencial prisão por desacato à autoridade. Embora merecídíssimo, o castigo seria apresentado pelos defensores do indefensável como prova de autoritarismo e intolerância. Habituado a lidar com delinquentes, o juiz não caiu na armadilha.
Somadas, a performance do ex-governador no vídeo e a ofensiva desesperada do ex-presidente confirmam o que a coluna vem repetindo há alguns anos: no faroeste à brasileira, meliantes se ofendem com alusões a seu vasto acervo de patifarias e o bandido insiste em prender o mocinho. A Lava Jato colocou o script do avesso e inverteu o fim do filme. Agora, como informam as fotos mais recentes de Cabral, os vilões acabam na cadeia.
Augusto Nunes
Vale a pena conferir do começo ao fim o palavrório recitado pelo corrupto à beira de um ataque de nervos. É um show de cinismo. É, sobretudo, outra prova contundente de que, antes da Operação Lava Jato, todos os poderosos patifes se julgavam condenados à perpétua impunidade. Como tantos outros gatunos da classe executiva, Cabral só se deu conta de que o Brasil mudou ao ser acordado pela Polícia Federal às seis da manhã. Como tantos outros larápios cinco estrelas, jura que não cometeu sequer pecados veniais. Como todos, logo estará flertando com um acordo de delação premiada.
Durante o depoimento prestado por Delcídio do Amaral ao juiz que personifica a Lava Jato, integrantes da tropa de cinco doutores a serviço do Instituto Lula recorreram a apartes indevidos, comentários provocadores e contestações insolentes para tumultuar o ambiente, abalar o equilíbrio emocional de Moro e, se possível, conseguir uma providencial prisão por desacato à autoridade. Embora merecídíssimo, o castigo seria apresentado pelos defensores do indefensável como prova de autoritarismo e intolerância. Habituado a lidar com delinquentes, o juiz não caiu na armadilha.
Somadas, a performance do ex-governador no vídeo e a ofensiva desesperada do ex-presidente confirmam o que a coluna vem repetindo há alguns anos: no faroeste à brasileira, meliantes se ofendem com alusões a seu vasto acervo de patifarias e o bandido insiste em prender o mocinho. A Lava Jato colocou o script do avesso e inverteu o fim do filme. Agora, como informam as fotos mais recentes de Cabral, os vilões acabam na cadeia.
Augusto Nunes
Sobre a imoralidade
A persistência da confusão entre o público e o privado, que se manifesta especialmente na concepção segundo a qual o Estado é propriedade de quem está no poder e, portanto, deve servir aos interesses privados das autoridades, está na raiz do grande atraso nacional. Sendo assim, se o Brasil realmente tem a intenção de superar seu crônico descompasso com o mundo desenvolvido, o primeiro passo deve ser a renúncia à velha prática do patrimonialismo. Mas o recente caso envolvendo o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, que tentou usar sua influência para mover a máquina do Estado a favor de seus negócios particulares – e ainda assim foi mantido no cargo –, serviu para lembrar que infelizmente estamos muito longe de dar esse passo.
Geddel, como se sabe, comprou um apartamento num prédio de Salvador cujas obras acabaram embargadas pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Diante desse contratempo, o ministro poderia ter recorrido aos serviços de um advogado, como faria qualquer cidadão comum, mas preferiu o atalho por onde transitam os cidadãos que se julgam incomuns: procurou o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, a cuja pasta se subordina o Iphan.
Diante da pressão, Calero decidiu pedir demissão e revelar o caso à imprensa. Em entrevista à Folha de S.Paulo, contou que a gestão de Geddel para que a obra fosse liberada foi explícita, incluindo uma ameaça de “pedir a cabeça” da diretoria do Iphan e de falar “até com o presidente da República”. No dia seguinte, Geddel disse ao Estado que Calero estava “exagerando”, mas admitiu que conversara com o colega sobre a necessidade de liberar a obra. “Que ilegalidade há nisso? Qual a imoralidade que há em tratar desse tema com um colega meu?”, perguntou Geddel na entrevista. Quando um ministro de Estado flagrado em claro conflito de interesses questiona, em tom de indignação, onde está a imoralidade de seu ato, confirma-se que o rebaixamento dos padrões morais na política nacional não é um fenômeno isolado.
E no entanto, por opção do presidente Michel Temer, Geddel permanece no cargo, enquanto o ministro que denunciou suas práticas patrimonialistas saiu do governo. Não é uma situação condizente com o discurso de um presidente da República que, 12 dias depois de herdar uma administração esfacelada pela incompetência gerencial e pela corrupção avassaladora, prometera defender a moral pública – e “não porque eu queira que haja moralidade”, enfatizou Temer na ocasião, “é porque a Constituição determina”.
A permanência de Geddel indica que a disposição de Temer de honrar os ditames da Constituição a respeito da supremacia do interesse público começa a perder vigor diante das conveniências políticas. Entende-se que, ao montar seu Ministério para superar a situação crítica na qual o País fora deixado pela irresponsabilidade criminosa do lulopetismo, Temer tenha recorrido a amigos nos quais reconhecia a habilidade necessária para ajudá-lo na tarefa de mobilizar o Congresso em favor da governabilidade. O problema é que esses auxiliares começam a se considerar intocáveis exatamente porque julgam controlar a base aliada, cuja coesão é essencial para Temer.
Nesse contexto, Geddel tornou-se “fundamental” para o governo, como disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao defender o ministro: “Geddel tem o apoio do Parlamento, tem a confiança, tem exercido papel fundamental para o governo na articulação política”. Para Maia, “o governo precisa de tranquilidade e precisa continuar contando com Geddel”, razão pela qual é preciso “virar essa página”. Na mesma linha foi o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), para quem “a oposição está se aproveitando de um assunto que é muito pequeno perto de outros assuntos de interesse do País para poder fazer disso um cavalo de batalha”.
Diante de tamanha veemência dos governistas, é o caso de perguntar até que ponto o discurso sobre a necessária governabilidade não está servindo para perdoar pecados que, fossem outros os pecadores, seriam considerados capitais.
Geddel, como se sabe, comprou um apartamento num prédio de Salvador cujas obras acabaram embargadas pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Diante desse contratempo, o ministro poderia ter recorrido aos serviços de um advogado, como faria qualquer cidadão comum, mas preferiu o atalho por onde transitam os cidadãos que se julgam incomuns: procurou o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, a cuja pasta se subordina o Iphan.
Diante da pressão, Calero decidiu pedir demissão e revelar o caso à imprensa. Em entrevista à Folha de S.Paulo, contou que a gestão de Geddel para que a obra fosse liberada foi explícita, incluindo uma ameaça de “pedir a cabeça” da diretoria do Iphan e de falar “até com o presidente da República”. No dia seguinte, Geddel disse ao Estado que Calero estava “exagerando”, mas admitiu que conversara com o colega sobre a necessidade de liberar a obra. “Que ilegalidade há nisso? Qual a imoralidade que há em tratar desse tema com um colega meu?”, perguntou Geddel na entrevista. Quando um ministro de Estado flagrado em claro conflito de interesses questiona, em tom de indignação, onde está a imoralidade de seu ato, confirma-se que o rebaixamento dos padrões morais na política nacional não é um fenômeno isolado.
A permanência de Geddel indica que a disposição de Temer de honrar os ditames da Constituição a respeito da supremacia do interesse público começa a perder vigor diante das conveniências políticas. Entende-se que, ao montar seu Ministério para superar a situação crítica na qual o País fora deixado pela irresponsabilidade criminosa do lulopetismo, Temer tenha recorrido a amigos nos quais reconhecia a habilidade necessária para ajudá-lo na tarefa de mobilizar o Congresso em favor da governabilidade. O problema é que esses auxiliares começam a se considerar intocáveis exatamente porque julgam controlar a base aliada, cuja coesão é essencial para Temer.
Nesse contexto, Geddel tornou-se “fundamental” para o governo, como disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao defender o ministro: “Geddel tem o apoio do Parlamento, tem a confiança, tem exercido papel fundamental para o governo na articulação política”. Para Maia, “o governo precisa de tranquilidade e precisa continuar contando com Geddel”, razão pela qual é preciso “virar essa página”. Na mesma linha foi o líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), para quem “a oposição está se aproveitando de um assunto que é muito pequeno perto de outros assuntos de interesse do País para poder fazer disso um cavalo de batalha”.
Diante de tamanha veemência dos governistas, é o caso de perguntar até que ponto o discurso sobre a necessária governabilidade não está servindo para perdoar pecados que, fossem outros os pecadores, seriam considerados capitais.
As virtudes da cidade
Wang Ling |
Amo o ruído e a constante agitação das grandes cidades. O movimento contínuo obriga à observação dos costumes. O ladrão, por exemplo, ao ver toda a atividade humana, pensa involuntariamente que é um patife, e esta imagem alegre em movimento pode vir a melhorar a sua natureza decadente e arruinada. O boêmio sente-se talvez mais modesto e pensativo quando vê todas as forças produtivas, e o devasso diz possivelmente a si mesmo, quando lhe salta aos olhos a docilidade das massas, que não é mais do que um sujeito miserável, estúpido e vaidoso, que só sabe ufanar-se com soberba. As grandes cidades ensinam, educam, e não com doutrinas roubadas aos livros. Não há aqui nada de acadêmico, o que é lisonjeiro, pois o saber acumulado rouba-nos a coragem.
E depois há aqui tanto que incentiva, que sustenta e ajuda. Quase não conseguimos dizê-lo. É tão difícil dar uma expressão viva ao que é refinado e bom. Agradecemos as nossas vidas modestas, sentimo-nos sempre um pouco gratos quando somos empurrados, quando temos pressa. Quem tem tempo para esbanjar não sabe o que o tempo significa, é por natureza um ingrato. Nas grandes cidades qualquer moço de recados conhece o valor do tempo e nenhum ardina quer perder o seu tempo. E tudo o que há nisto de sonho, de pintura e de poesia! As pessoas passam com pressa e empurram-nos. Ora isto tem um significado, isto excita, isto põe o espírito em movimento vivo. Quando hesitamos por um momento já nos passaram cem, centenas de coisas pela cabeça e pelos olhos, e percebemos então nitidamente como somos vadios e madraços. Aqui todos têm pressa, porque todos pensam a cada momento que seria bom lutar por alguma coisa e consegui-la. A vida ganha um fôlego magnífico. As feridas e as dores são mais profundas, o júbilo de alegria é mais alegre e duradoiro que noutras partes, pois quem aqui se sente alegre pensa sempre tê-lo merecido árdua e justamente pelo trabalho e pelas fadigas.
Robert Walser
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