segunda-feira, 1 de maio de 2017
Promessas de maio
Em maio, as manhãs no Rio costumam ser lindas e, ao entardecer, em Minas, começam a aparecer crianças vestidas de anjo. Mas é em Curitiba que grande parte da atenção se concentra. O depoimento de Lula diante de Sérgio Moro é tido como um grande momento. Talvez contra a corrente, acredito que nada de essencial será mudado. Em confronto com as evidências que o ligam ao triplex de Guarujá e o sítio de Atibaia, Lula vai negar e, possivelmente, reafirmar que não há documento oficial que o ligue a essas propriedades. Imagino também que, se houver provocações, Sérgio Moro terá a habilidade e vai contorná-las, seguindo com as perguntas que realmente possam esclarecer.
A ideia de que um processo dessa natureza se resolve com manifestações políticas é mais um equívoco da esquerda. Aliás, apoiado em outro equívoco: o de que uma performance num interrogatório pode ser transformado numa alavanca para a campanha presidencial. Se, por acaso, têm como modelo o famoso “A História me absolverá” de Fidel Castro, independentemente de comparar oratórias, é gritante a disparidade de situações. Uma coisa é ser acusado de tramar contra a ditadura de Fulgencio Batista, outra é ser acusado de receber propinas por negócios na Petrobras. Lula está numa situação incômoda, tentando revertê-la em seu favor, e apreensivo com a possibilidade de prisão. Algo que, creio, não vai acontecer. As forças de esquerda no Brasil jogam toda a sua sorte num líder carismático e resolvem acompanhá-lo na aventura, pois temem desaparecer sem ele.
Não sou muito de discutir processos, notas frias, assinaturas falsas. Talvez por isso me interesse mais pela experiência vivida, aquilo que meus olhos e ouvidos revelaram. Por exemplo, estou voltando de Porto Velho, onde aprendi um pouco sobre a história da Usina de Santo Antônio, aquela em que a Odebrecht comprou todo mundo: governador, senadores, deputados, centrais sindicais, polícia e índios.
A delação da Odebrecht fala que as centrais sindicais foram lá, a pedido da empresa e pagos por ela, para controlar os motins dos trabalhadores. O que o delator não contou é que a Odebrecht precisava terminar a obra com muita rapidez, pois assim teria um tempo para vender a energia no mercado livre, por um preço três vezes maior. Os trabalhadores foram submetidos a um intenso ritmo de trabalho, e por isso se rebelaram. Não é a maneira mais racional de reagir. Mas era um trabalho intenso no calor insuportável de Rondônia. Eu mesmo, depois de um dia de trabalho levíssimo se comparado com os deles, não me sentia muito capaz de reagir racionalmente. Não antes, pelo menos, de um banho frio.
As duas obras de Rondônia foram a famosa estrada Madeira-Mamoré, com o sacrifício de muitos na selva, e a Usina de Santo Antônio, imposta em ritmo extremamente duro para os trabalhadores.
A História vai registrar que a CUT e a Força Sindical se colocaram a serviço de uma empresa que, ansiosa por sobrelucros, oprimiu milhares de peões. Lula surgiu com aquela frase dos bagres impedindo a construção da usina. Como bom funcionário da Odebrecht, omitiu que não eram os bagres, mas todas as espécies de peixe que se movimentam no Rio Madeira para a reprodução.
O julgamento dos 20 mil trabalhadores, dos atingidos pela barragem, dos moradores da Jaci Paraná quando tomarem conhecimento de tudo isso, certamente vai dispensar a ida ao tabelião para buscar provas. É uma verdade histórica.
Com a insistência na negação suicida e jogando todas as suas fichas no destino de seu líder, se a esquerda sonha de verdade em chegar ao governo e não está apenas fugindo da polícia, é um sonho cinzento. Nas circunstâncias, dificilmente venceria e, se o fizesse, a resistência colocaria a todo instante a tentação totalitária.
Isso não é futuro, é punk. O que pode acontecer com essa insistência no erro é um cenário parecido com o da França, onde, por outros motivos, a esquerda nem chegou ao segundo turno.
Não tenho a pretensão de acertar num futuro tão nebuloso como o nosso. Mas algumas coisas, aprendi. O que fizeram na Usina de Santo Antônio, por dinheiro, foi uma vergonha.
Todos os que se intitulam progressistas e embarcam nessa canoa furada do lulapetismo, diante do episódio não têm outra saída: ou engolem ou cospem.
Num artigo escrito há quase dez anos, previ que a experiência petista ia acabar numa delegacia da esquina. O artigo era “Flores para os mortos”.
Talvez por isso, maio em Curitiba me pareça tão familiar como as lindas manhãs do Rio e os anjos subindo ladeira ao entardecer numa cidade histórica de Minas. A maioria da esquerda ainda acredita que nada aconteceu e que vai chegar ao poder. O interessante é que muitos que sabem o que aconteceu consideram possível essa hipótese.
Em maio, costumo delirar.
A ideia de que um processo dessa natureza se resolve com manifestações políticas é mais um equívoco da esquerda. Aliás, apoiado em outro equívoco: o de que uma performance num interrogatório pode ser transformado numa alavanca para a campanha presidencial. Se, por acaso, têm como modelo o famoso “A História me absolverá” de Fidel Castro, independentemente de comparar oratórias, é gritante a disparidade de situações. Uma coisa é ser acusado de tramar contra a ditadura de Fulgencio Batista, outra é ser acusado de receber propinas por negócios na Petrobras. Lula está numa situação incômoda, tentando revertê-la em seu favor, e apreensivo com a possibilidade de prisão. Algo que, creio, não vai acontecer. As forças de esquerda no Brasil jogam toda a sua sorte num líder carismático e resolvem acompanhá-lo na aventura, pois temem desaparecer sem ele.
Não sou muito de discutir processos, notas frias, assinaturas falsas. Talvez por isso me interesse mais pela experiência vivida, aquilo que meus olhos e ouvidos revelaram. Por exemplo, estou voltando de Porto Velho, onde aprendi um pouco sobre a história da Usina de Santo Antônio, aquela em que a Odebrecht comprou todo mundo: governador, senadores, deputados, centrais sindicais, polícia e índios.
A delação da Odebrecht fala que as centrais sindicais foram lá, a pedido da empresa e pagos por ela, para controlar os motins dos trabalhadores. O que o delator não contou é que a Odebrecht precisava terminar a obra com muita rapidez, pois assim teria um tempo para vender a energia no mercado livre, por um preço três vezes maior. Os trabalhadores foram submetidos a um intenso ritmo de trabalho, e por isso se rebelaram. Não é a maneira mais racional de reagir. Mas era um trabalho intenso no calor insuportável de Rondônia. Eu mesmo, depois de um dia de trabalho levíssimo se comparado com os deles, não me sentia muito capaz de reagir racionalmente. Não antes, pelo menos, de um banho frio.
As duas obras de Rondônia foram a famosa estrada Madeira-Mamoré, com o sacrifício de muitos na selva, e a Usina de Santo Antônio, imposta em ritmo extremamente duro para os trabalhadores.
A História vai registrar que a CUT e a Força Sindical se colocaram a serviço de uma empresa que, ansiosa por sobrelucros, oprimiu milhares de peões. Lula surgiu com aquela frase dos bagres impedindo a construção da usina. Como bom funcionário da Odebrecht, omitiu que não eram os bagres, mas todas as espécies de peixe que se movimentam no Rio Madeira para a reprodução.
O julgamento dos 20 mil trabalhadores, dos atingidos pela barragem, dos moradores da Jaci Paraná quando tomarem conhecimento de tudo isso, certamente vai dispensar a ida ao tabelião para buscar provas. É uma verdade histórica.
Com a insistência na negação suicida e jogando todas as suas fichas no destino de seu líder, se a esquerda sonha de verdade em chegar ao governo e não está apenas fugindo da polícia, é um sonho cinzento. Nas circunstâncias, dificilmente venceria e, se o fizesse, a resistência colocaria a todo instante a tentação totalitária.
Isso não é futuro, é punk. O que pode acontecer com essa insistência no erro é um cenário parecido com o da França, onde, por outros motivos, a esquerda nem chegou ao segundo turno.
Não tenho a pretensão de acertar num futuro tão nebuloso como o nosso. Mas algumas coisas, aprendi. O que fizeram na Usina de Santo Antônio, por dinheiro, foi uma vergonha.
Todos os que se intitulam progressistas e embarcam nessa canoa furada do lulapetismo, diante do episódio não têm outra saída: ou engolem ou cospem.
Num artigo escrito há quase dez anos, previ que a experiência petista ia acabar numa delegacia da esquina. O artigo era “Flores para os mortos”.
Talvez por isso, maio em Curitiba me pareça tão familiar como as lindas manhãs do Rio e os anjos subindo ladeira ao entardecer numa cidade histórica de Minas. A maioria da esquerda ainda acredita que nada aconteceu e que vai chegar ao poder. O interessante é que muitos que sabem o que aconteceu consideram possível essa hipótese.
Em maio, costumo delirar.
Pacto?
A questão político-partidária, em seu viés policial, está sendo colocada de forma assaz enviesada. Discute-se amplamente sobre o caixa 1 e o caixa 2 dos políticos, partidos e campanhas eleitorais, como se tudo se reduzisse à legalidade de um e à ilegalidade de outro.
Os mais afoitos chegam a sustentar que basta uma declaração formal à Justiça Eleitoral de doações aparentemente legais para que tudo esteja resolvido. Burla-se a lei sob a aparência de respeitá-la. De modo diverso, o caixa 2 é defendido como se fosse uma simples escolha de doadores que, por uma razão qualquer, preferiam não aparecer.
O problema, porém, não reside nessa distinção, superficial, mas nos crimes que são cometidos seja com o caixa 1 ou com o caixa 2. O volume deles chega a ser alucinante: corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, e assim por diante. Dá vertigem!
É a propina, a corrupção e a formação de quadrilhas tomando de assalto a coisa pública. Agentes públicos e privados saquearam empresas estatais, por exemplo, por meio de todo um esquema que envolveu tanto um tipo de caixa como o outro. O importante é o desvio de recursos públicos, que depois eram direcionados para os bolsos dos agentes, para partidos e campanhas eleitorais. Vivia-se uma normalidade anormal!
Os grandes responsáveis por esse enredo criminoso foram o PT e seu líder máximo, que terminou se mostrando o chefe de toda uma quadrilha, a maior delas. Tiveram bons coadjuvantes em outros partidos. O “pai dos pobres” revelou-se o “pai das empreiteiras” e o seu partido, em vez de permanecer fiel à sua pregação moral de antanho, resolveu jogar seu destino na defesa do comandante. Nenhum setor do Estado ficou imune a essa atividade criminosa.
O resultado de tal descalabro se fez sentir até no domínio social, com desemprego atingindo 14 ,2 milhões de pessoas, recessão brutal e inflação que só agora, com o novo governo, começa a ser domada. Nem as bandeiras sociais resistiram a tão terrível choque de realidade.
Do ponto de vista institucional, a situação não é menos aterradora. Todos os Poderes estão corroídos. O Legislativo está desacreditado, com a classe política tendo sido atingida em cheio. O Executivo tem vários ministros envolvidos, quase um terço do governo. Já circulam rumores de que as instâncias superiores do Judiciário estariam também envolvidas na Lava Jato, embora isso não tenha por enquanto aparecido. Salvam-se, nesse processo, partes significativas da primeira e da segunda instâncias do Judiciário e do Ministério Público e a instituição militar, que permanece íntegra.
A democracia brasileira está, pois, a enfrentar um duro teste. Eleições não são critérios seguros para medir a sua existência se as instituições estiverem desmoronando. Não há democracia sem Estado. E o Estado foi corroído de dentro.
O que, sim, terminamos observando são discursos retóricos, demagógicos, visando ao convencimento dos eleitores, como se a nossa situação fosse de fácil equacionamento, consistente, por exemplo, em barrar a Lava Jato ou nos discursos de políticos de que seriam todos inocentes à espera de um julgamento “justo”.
Alguns lutam desesperadamente, como o ex-presidente Lula, que tenta fazer de seu comparecimento à Justiça um espetáculo midiático, tendo como coadjuvantes parlamentares e militantes de seu partido, muitos enfrentando os mesmos tipos de processos judiciais. Se há espetáculo, é o da comicidade de tal encenação. Mas ninguém mais ri!
Nesse contexto, torna-se, por assim dizer, frívolo encarar os conflitos partidários atuais como um embate entre esquerda e direita, distinção que carece completamente de sentido. Há criminosos num campo e no outro. Ela foi substituída por outra, a que diferencia mafiosos e cidadãos respeitosos das leis e da Constituição.
Logo, a questão consiste em como fazer um pacto para sair da atual crise política, considerando que os partidos perderam a legitimidade, esquerda e direita tornaram-se palavras vazias e as propostas de negociações partidárias estão baseadas em critérios mais que duvidosos. Parece que nossos líderes políticos não se deram conta de que o Brasil já mudou e tornou a moralidade pública um princípio da ação e da organização institucional.
Há pouco tempo surgiram notícias de que o instituto de estudos do PSDB estaria estabelecendo uma parceria de reflexão com a instituição congênere do PT. Qual o sentido de tal aproximação? Talvez a afinidade ideológica que tiveram no passado e que não resiste ao tempo e à imoralidade presente.
Além do próprio PSDB estar enrolado na Lava Jato, o PT, o ator principal da imoralidade pública, procura apresentar-se como um parceiro ideológico, como se nenhum crime tivesse cometido em seus longos anos de governo.
Foi igualmente noticiado que Lula estaria disposto a negociar com seus adversários, até os históricos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em nome do futuro do País. Iniciativa reafirmada, aliás, na última semana.
Cabe, então, a pergunta: que tipo de pacto? Pacto entre pessoas e partidos envolvidos na criminalidade? Que tipo de pacto político é esse que torna protagonistas cidadãos que têm contas a ajustar com a Justiça, e contas pesadas?
Um verdadeiro pacto para tirar o País da crise deveria envolver, por princípio, pessoas de bem, que seguem as leis e as instituições. Não pode ser a ocasião de salvar a cara dos que cometeram atos criminosos e corroeram as instituições. Não se pode confundir pacto de reconstrução nacional com tábua de salvação para certos líderes e partidos. Deve ser ele a oportunidade de congregar os que procuram salvar essas mesmas instituições, os que não aceitam o atual enfraquecimento do Estado.
Reforme-se o Estado para salvar a democracia.
Os mais afoitos chegam a sustentar que basta uma declaração formal à Justiça Eleitoral de doações aparentemente legais para que tudo esteja resolvido. Burla-se a lei sob a aparência de respeitá-la. De modo diverso, o caixa 2 é defendido como se fosse uma simples escolha de doadores que, por uma razão qualquer, preferiam não aparecer.
O problema, porém, não reside nessa distinção, superficial, mas nos crimes que são cometidos seja com o caixa 1 ou com o caixa 2. O volume deles chega a ser alucinante: corrupção ativa, corrupção passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, e assim por diante. Dá vertigem!
É a propina, a corrupção e a formação de quadrilhas tomando de assalto a coisa pública. Agentes públicos e privados saquearam empresas estatais, por exemplo, por meio de todo um esquema que envolveu tanto um tipo de caixa como o outro. O importante é o desvio de recursos públicos, que depois eram direcionados para os bolsos dos agentes, para partidos e campanhas eleitorais. Vivia-se uma normalidade anormal!
O resultado de tal descalabro se fez sentir até no domínio social, com desemprego atingindo 14 ,2 milhões de pessoas, recessão brutal e inflação que só agora, com o novo governo, começa a ser domada. Nem as bandeiras sociais resistiram a tão terrível choque de realidade.
Do ponto de vista institucional, a situação não é menos aterradora. Todos os Poderes estão corroídos. O Legislativo está desacreditado, com a classe política tendo sido atingida em cheio. O Executivo tem vários ministros envolvidos, quase um terço do governo. Já circulam rumores de que as instâncias superiores do Judiciário estariam também envolvidas na Lava Jato, embora isso não tenha por enquanto aparecido. Salvam-se, nesse processo, partes significativas da primeira e da segunda instâncias do Judiciário e do Ministério Público e a instituição militar, que permanece íntegra.
A democracia brasileira está, pois, a enfrentar um duro teste. Eleições não são critérios seguros para medir a sua existência se as instituições estiverem desmoronando. Não há democracia sem Estado. E o Estado foi corroído de dentro.
O que, sim, terminamos observando são discursos retóricos, demagógicos, visando ao convencimento dos eleitores, como se a nossa situação fosse de fácil equacionamento, consistente, por exemplo, em barrar a Lava Jato ou nos discursos de políticos de que seriam todos inocentes à espera de um julgamento “justo”.
Alguns lutam desesperadamente, como o ex-presidente Lula, que tenta fazer de seu comparecimento à Justiça um espetáculo midiático, tendo como coadjuvantes parlamentares e militantes de seu partido, muitos enfrentando os mesmos tipos de processos judiciais. Se há espetáculo, é o da comicidade de tal encenação. Mas ninguém mais ri!
Nesse contexto, torna-se, por assim dizer, frívolo encarar os conflitos partidários atuais como um embate entre esquerda e direita, distinção que carece completamente de sentido. Há criminosos num campo e no outro. Ela foi substituída por outra, a que diferencia mafiosos e cidadãos respeitosos das leis e da Constituição.
Logo, a questão consiste em como fazer um pacto para sair da atual crise política, considerando que os partidos perderam a legitimidade, esquerda e direita tornaram-se palavras vazias e as propostas de negociações partidárias estão baseadas em critérios mais que duvidosos. Parece que nossos líderes políticos não se deram conta de que o Brasil já mudou e tornou a moralidade pública um princípio da ação e da organização institucional.
Há pouco tempo surgiram notícias de que o instituto de estudos do PSDB estaria estabelecendo uma parceria de reflexão com a instituição congênere do PT. Qual o sentido de tal aproximação? Talvez a afinidade ideológica que tiveram no passado e que não resiste ao tempo e à imoralidade presente.
Além do próprio PSDB estar enrolado na Lava Jato, o PT, o ator principal da imoralidade pública, procura apresentar-se como um parceiro ideológico, como se nenhum crime tivesse cometido em seus longos anos de governo.
Foi igualmente noticiado que Lula estaria disposto a negociar com seus adversários, até os históricos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em nome do futuro do País. Iniciativa reafirmada, aliás, na última semana.
Cabe, então, a pergunta: que tipo de pacto? Pacto entre pessoas e partidos envolvidos na criminalidade? Que tipo de pacto político é esse que torna protagonistas cidadãos que têm contas a ajustar com a Justiça, e contas pesadas?
Um verdadeiro pacto para tirar o País da crise deveria envolver, por princípio, pessoas de bem, que seguem as leis e as instituições. Não pode ser a ocasião de salvar a cara dos que cometeram atos criminosos e corroeram as instituições. Não se pode confundir pacto de reconstrução nacional com tábua de salvação para certos líderes e partidos. Deve ser ele a oportunidade de congregar os que procuram salvar essas mesmas instituições, os que não aceitam o atual enfraquecimento do Estado.
Reforme-se o Estado para salvar a democracia.
A falta que eles fazem
É motivo para preocupação. Muita preocupação. Se ajudasse, seria até o caso de entrar em pânico. Assistir à escalada global do nacionalismo, da xenofobia, do protecionismo e do radicalismo, embalado em populismo boa coisa não é. Não importa a ideologia ou a região do planeta.
O problema é que preocupação não leva a lugar algum. Remoer problemas é inútil. Perder o sono, um desperdício. Não vale chorar. Mais produtivo é investir energia e tempo em outras coisas. Rever as causas. E resolvê-las.
Sempre dá para culpar os eleitores. Explicar o sucesso de propostas e candidatos extremistas usando a incapacidade da população em tomar boas decisões. Mas isto é equivalente a determinar que, eleitor bom é eleitor que vota como queremos. E, quando vota diferente, é ignorante. Além de obviamente antidemocrática, pensar assim leva ao nada. Ou melhor, não ajuda. Só piora.
Mais produtivo talvez seja reconhecer que existem parcelas significativas da população mundial que não se sentem ouvidas ou representadas. E elegem, por falta de opção, candidatos que representam a negação “do que está aí” (para usar expressão que parece não sair de moda). Daí o convite ao populismo e a radicalização.
Não basta chamar estes eleitores de ignorantes, massa de manobra, racistas, sexistas, ou qualquer outro adjetivo negativo. Dificilmente eles de fato o sejam. Mais provável que, em sua maioria, simplesmente sintam que seus interesses estejam excluídos das propostas das plataformas de centro, seja à esquerda ou à direita. E, usam sua voz. Gritam através de seus votos.
Parece que os lideres moderados perderam sua capacidade de organizar agenda que agregue a maioria dos eleitores. As agendas de líderes (que pelo menos se proclamam) moderados ou progressistas parecem uma coleção de interesses especiais, demandas corporativas, representando setores fragmentados da sociedade.
Daí tantas eleições apertadas. Daí a aposta no conflito. E o triunfo de propostas populistas, onde tudo é prometido, mas nada vai ser entregue. Mas isso dá sempre para deixar para depois da eleição. Do populismo, como sabemos, não respingam soluções. Apenas jorram problemas.
Grandes desastres normalmente não surgem do talento de líderes nefastos. Eles são apenas parte da paisagem. Grandes desastres são apenas a manifestação da incapacidade ou omissão dos líderes moderados em produzir e executar propostas que agreguem a maioria sem demonizar as minorias.
Soluções não são produzidas a partir da intolerância e da exclusão. Somente o diálogo e a capacidade de conciliar diferenças e diversidades levam a estabilidade política e econômica duradoura. Mas para isso, precisamos de estadistas. Urgentemente. E como eles fazem falta.
O problema é que preocupação não leva a lugar algum. Remoer problemas é inútil. Perder o sono, um desperdício. Não vale chorar. Mais produtivo é investir energia e tempo em outras coisas. Rever as causas. E resolvê-las.
Sempre dá para culpar os eleitores. Explicar o sucesso de propostas e candidatos extremistas usando a incapacidade da população em tomar boas decisões. Mas isto é equivalente a determinar que, eleitor bom é eleitor que vota como queremos. E, quando vota diferente, é ignorante. Além de obviamente antidemocrática, pensar assim leva ao nada. Ou melhor, não ajuda. Só piora.
Mais produtivo talvez seja reconhecer que existem parcelas significativas da população mundial que não se sentem ouvidas ou representadas. E elegem, por falta de opção, candidatos que representam a negação “do que está aí” (para usar expressão que parece não sair de moda). Daí o convite ao populismo e a radicalização.
Não basta chamar estes eleitores de ignorantes, massa de manobra, racistas, sexistas, ou qualquer outro adjetivo negativo. Dificilmente eles de fato o sejam. Mais provável que, em sua maioria, simplesmente sintam que seus interesses estejam excluídos das propostas das plataformas de centro, seja à esquerda ou à direita. E, usam sua voz. Gritam através de seus votos.
Parece que os lideres moderados perderam sua capacidade de organizar agenda que agregue a maioria dos eleitores. As agendas de líderes (que pelo menos se proclamam) moderados ou progressistas parecem uma coleção de interesses especiais, demandas corporativas, representando setores fragmentados da sociedade.
Daí tantas eleições apertadas. Daí a aposta no conflito. E o triunfo de propostas populistas, onde tudo é prometido, mas nada vai ser entregue. Mas isso dá sempre para deixar para depois da eleição. Do populismo, como sabemos, não respingam soluções. Apenas jorram problemas.
Grandes desastres normalmente não surgem do talento de líderes nefastos. Eles são apenas parte da paisagem. Grandes desastres são apenas a manifestação da incapacidade ou omissão dos líderes moderados em produzir e executar propostas que agreguem a maioria sem demonizar as minorias.
Soluções não são produzidas a partir da intolerância e da exclusão. Somente o diálogo e a capacidade de conciliar diferenças e diversidades levam a estabilidade política e econômica duradoura. Mas para isso, precisamos de estadistas. Urgentemente. E como eles fazem falta.
Falta de lógica carbonizou a imagem de Temer
O curioso da lógica do governo de Michel Temer é que ela tem cara de lógica, tem rugido de lógica, tem rabo de lógica, mas é o mais puro absurdo. Graças à falta de sentido, Temer alcançou uma proeza: tornou-se tão detestado quanto Dilma Rousseff. Antes de ser afastada pela Câmara, no ano passado, Dilma era rejeitada por 63% dos brasileiros. Apenas 13% aprovavam sua Presidência. O Datafolha informa que o prestígio de Temer também roça a sarjeta. Sua taxa de rejeição é de 61%. O índice de aprovação é de irrisórios 9%.
O povo não gosta daquilo que não entende. E o governo capricha na falta de nexo. Por exemplo: reza o discurso oficial que, se Temer trocar os ministros acusados de corrupção, seus aliados darão o troco, travando as reformas no Congresso. Sem as reformas, não haverá prosperidade. Logo, se Temer não for condescendente com a ladroagem, o PIB não sai do abismo. Beleza. O diabo é que uma das incomodações políticas do brasileiro, desde a época em que ainda havia política no Brasil, é a sensação de que, nessa atividade, nada se perde, nada se cria. Tudo se corrompe.
Os indicadores oficiais sinalizam que, sob Temer, o governo parou de cavar o buraco em que Dilma enfiara a economia. Mas a pujança do desemprego esclarece que os resultados, se vierem, demorarão a chegar. Encontram-se no olho da rua 14,2 milhões de patrícios. E o governo, na sua lógica do aburdo, espera que todos compreendam que qualquer um pode perder o contracheque, menos os ministros que respondem a inquérito no Supremo Tribunal Federal. Simultaneamente, Temer pede compreensão para uma reforma da Previdência que 71% dos brasileiros rejeitam e para mudanças na CLT que 60% enxergam como coisa benéfica para os patrões.
Pregoeiro da nova ordem, Temer conserva os pés enfiados no lodo da velha desordem. Em todas as suas entrevistas, o presidente divide-se entre a defesa de suas reformas impopulares e o mantra que elaborou para justificar o convívio com o lixão da Lava Jato. Investigação não é denúncia, argumenta Temer, em defesa dos ministros encrencados. Denúncia tampouco é ação penal. Demissão? Só depois que o ministros virarem réus. Como isso pode demorar uns dois anos, só sai quem quiser, na data que preferir,
Na época em que o presidente deposto se chamava Fernando Collor e o substituto-tampão atendia pelo nome de Itamar Franco, o chefe da Casa Civil foi licenciado do cargo depois que seu nome —Henrique Hargreaves— soou numa CPI. Só retornou à poltrona após demonstrar sua inocência. Agora que ficou sabendo que a política foi comprada pelo departamento de propinas da Odebrecht, o brasileiro tende a ser mais intransigente. Não é que ele seja contra a imbecilidade retórica. Apenas não suporta a ideia de continuar fazendo papel de imbecil.
Na série histórica das pesquisas do Datafolha, a menor taxa de aprovação desde a redemocratização do país pertence a Dilma. Foi alcançada em agosto de 2015, quando apenas 8% dos brasileiros avaliaram o seu governo como ótimo ou bom. Quando o índice ganhou as manchetes, Temer, ainda na pele de vice, fez um vaticínio: ''Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo” de 7% ou 8% de popularidade. Agora, já investido no papel de versa, Temer soma 9% de ótimo e bom.
Com a imagem carbonizada, o substituto constitucional de Dilma talvez sinta a necessidade de interrogar o espelho: como resistir até 2018? E a imagem refletida responderá: sua sorte é não ter um vice.
O povo não gosta daquilo que não entende. E o governo capricha na falta de nexo. Por exemplo: reza o discurso oficial que, se Temer trocar os ministros acusados de corrupção, seus aliados darão o troco, travando as reformas no Congresso. Sem as reformas, não haverá prosperidade. Logo, se Temer não for condescendente com a ladroagem, o PIB não sai do abismo. Beleza. O diabo é que uma das incomodações políticas do brasileiro, desde a época em que ainda havia política no Brasil, é a sensação de que, nessa atividade, nada se perde, nada se cria. Tudo se corrompe.
Pregoeiro da nova ordem, Temer conserva os pés enfiados no lodo da velha desordem. Em todas as suas entrevistas, o presidente divide-se entre a defesa de suas reformas impopulares e o mantra que elaborou para justificar o convívio com o lixão da Lava Jato. Investigação não é denúncia, argumenta Temer, em defesa dos ministros encrencados. Denúncia tampouco é ação penal. Demissão? Só depois que o ministros virarem réus. Como isso pode demorar uns dois anos, só sai quem quiser, na data que preferir,
Na época em que o presidente deposto se chamava Fernando Collor e o substituto-tampão atendia pelo nome de Itamar Franco, o chefe da Casa Civil foi licenciado do cargo depois que seu nome —Henrique Hargreaves— soou numa CPI. Só retornou à poltrona após demonstrar sua inocência. Agora que ficou sabendo que a política foi comprada pelo departamento de propinas da Odebrecht, o brasileiro tende a ser mais intransigente. Não é que ele seja contra a imbecilidade retórica. Apenas não suporta a ideia de continuar fazendo papel de imbecil.
Na série histórica das pesquisas do Datafolha, a menor taxa de aprovação desde a redemocratização do país pertence a Dilma. Foi alcançada em agosto de 2015, quando apenas 8% dos brasileiros avaliaram o seu governo como ótimo ou bom. Quando o índice ganhou as manchetes, Temer, ainda na pele de vice, fez um vaticínio: ''Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo” de 7% ou 8% de popularidade. Agora, já investido no papel de versa, Temer soma 9% de ótimo e bom.
Com a imagem carbonizada, o substituto constitucional de Dilma talvez sinta a necessidade de interrogar o espelho: como resistir até 2018? E a imagem refletida responderá: sua sorte é não ter um vice.
Não chores por mim em Curitiba
São razões arcaicas que fizeram Lula e Zé Dirceu se imporem essa forma de menos valia. Sempre ausente quando alguém é destruído, a lealdade política é baseada numa farsa: não creiam, confiem. Quando alguém bom se dispõe a errar supõe ser invisível.
Esquecendo-se de que não há líder popular em sociedade politizada. Há líder respeitado.
A esquerda, espiritualmente, nunca precisou estar em guarda. Até que alguém introduza a inveja social no seu meio. Mas quando parceiros ficam submetidos ao mesmo constrangimento, não há necessidade de um acabar com o outro para definir a si mesmo.
Cabe ao que circula, quando chega ao local em que outra lógica decide quem vai morrer, desfazer a inimizade nascida quando havia gente demais para aclamá-lo. Antes de depor, consulte a todos os encarcerados sobre o infortúnio de suas famílias.
A política brasileira é um multitudo que vai da amnésia à mentira, do insulto à benevolência. Lula se tornou líder por se oferecer como uma boa crise na vida do Brasil. Hoje o Brasil é que oferece uma boa crise na vida de Lula. E essa reviravolta da nação está gerando mágoa e ódio por incompreensão da profecia: não colhas tua lavoura até o limite do campo.
Os políticos brasileiros não são incompatíveis entre si. Exigem uma quantidade exagerada de atenção, estigma de maus conselheiros. Apesar das discórdias, um desejo domina tudo: manter-se à tona. De vez em quando um ou outro rouba a cena, acusado de receber, sem a responsabilidade moral de ser o dono. Muitos deles, líderes carismáticos. Os maiores perpetradores de equívocos.
Quem ascende ao poder por carisma, magnetizador, se não conseguir moderar seu narcisismo, ficará cada vez mais confinado no autoengrandecimento. E aí pode ser tudo, inclusive, abolido.
O maior risco para esse tipo de líder é ser confrontado com a rotina da vida real, que dissolve fantasias. Lula é filho do 1º de maio. Nasceu de movimentos, passeatas, greves, caravanas contra o patrão, o Estado, a instituição. Desenvolveu uma ideia de que é diferente de todo mundo e, assim, não reconhece a ninguém o direito de entendê-lo. Imaginou para si um mito sem carreira, profissão, salário, bens, rendimento, ônus reais, propriedades. Uma vida isenta e não tributável, sua subidentidade e pronto. A mais acabada missão de um missionário. Se fez um viciado contra os fatos.
Se não reconhecer seus erros, se decidir se comportar em Curitiba como provocador, confiando que Palocci abra o Livro das Revelações para ampliar o pântano e aprisionar o Brasil na desordem que o proteja, seu fim é ser mais um líder no prosaico painel do rame-rame populista latino-americano.
A vida real é mortal para o carismático. A Lava-Jato “humanizou” Lula, o sonâmbulo usuário de pedalinhos, tríplex, cachês, sítio, jatinhos, compadre. E como outros foram denunciados, perdeu a condição de injustiçado. Sobre ele desabou a pior inundação: sair do hit parade dos perseguidos.
Se conhecesse Ricardo III de Shakespeare, intoxicado pelo sucesso, não veria conforto no colo de Emílio. Saberia da lei que rege a cobiça: “A ambição será para cada um de nós o fim do outro”.
Esquecendo-se de que não há líder popular em sociedade politizada. Há líder respeitado.
Cabe ao que circula, quando chega ao local em que outra lógica decide quem vai morrer, desfazer a inimizade nascida quando havia gente demais para aclamá-lo. Antes de depor, consulte a todos os encarcerados sobre o infortúnio de suas famílias.
A política brasileira é um multitudo que vai da amnésia à mentira, do insulto à benevolência. Lula se tornou líder por se oferecer como uma boa crise na vida do Brasil. Hoje o Brasil é que oferece uma boa crise na vida de Lula. E essa reviravolta da nação está gerando mágoa e ódio por incompreensão da profecia: não colhas tua lavoura até o limite do campo.
Os políticos brasileiros não são incompatíveis entre si. Exigem uma quantidade exagerada de atenção, estigma de maus conselheiros. Apesar das discórdias, um desejo domina tudo: manter-se à tona. De vez em quando um ou outro rouba a cena, acusado de receber, sem a responsabilidade moral de ser o dono. Muitos deles, líderes carismáticos. Os maiores perpetradores de equívocos.
Quem ascende ao poder por carisma, magnetizador, se não conseguir moderar seu narcisismo, ficará cada vez mais confinado no autoengrandecimento. E aí pode ser tudo, inclusive, abolido.
O maior risco para esse tipo de líder é ser confrontado com a rotina da vida real, que dissolve fantasias. Lula é filho do 1º de maio. Nasceu de movimentos, passeatas, greves, caravanas contra o patrão, o Estado, a instituição. Desenvolveu uma ideia de que é diferente de todo mundo e, assim, não reconhece a ninguém o direito de entendê-lo. Imaginou para si um mito sem carreira, profissão, salário, bens, rendimento, ônus reais, propriedades. Uma vida isenta e não tributável, sua subidentidade e pronto. A mais acabada missão de um missionário. Se fez um viciado contra os fatos.
Se não reconhecer seus erros, se decidir se comportar em Curitiba como provocador, confiando que Palocci abra o Livro das Revelações para ampliar o pântano e aprisionar o Brasil na desordem que o proteja, seu fim é ser mais um líder no prosaico painel do rame-rame populista latino-americano.
A vida real é mortal para o carismático. A Lava-Jato “humanizou” Lula, o sonâmbulo usuário de pedalinhos, tríplex, cachês, sítio, jatinhos, compadre. E como outros foram denunciados, perdeu a condição de injustiçado. Sobre ele desabou a pior inundação: sair do hit parade dos perseguidos.
Se conhecesse Ricardo III de Shakespeare, intoxicado pelo sucesso, não veria conforto no colo de Emílio. Saberia da lei que rege a cobiça: “A ambição será para cada um de nós o fim do outro”.
Acabou nisso
Muita gente reage com uma espécie de arrepio horrorizado quando ouve algum homem público de destaque usar em relação ao ex-presidente Lula a mesma linguagem que ele usa há anos contra os seus adversários. Chamar Lula de “bandido”, como fez recentemente numa entrevista na televisão o prefeito de São Paulo, João Doria? Não pode. É algo na fronteira do crime de lesa-pátria, do sacrilégio que rende excomunhão perpétua ou de algum outro desatino particularmente horrível. Dizer que alguém é bandido ainda é uma ofensa pesada ─ embora, quando se trata de políticos contumazes, a maioria dos brasileiros considere a definição perfeitamente correta, a começar pelo próprio Lula, que já disse que havia “300 picaretas” no Congresso Nacional. Mas, seja lá como for, querer uma linguagem de cavalheiros entre os frequentadores desse submundo é o mesmo que pedir bons modos à torcida num campo de futebol. Não dá, é claro ─ só que no caso de Lula, segundo as classes intelectuais, os peritos em ciência política, os formadores de opinião e os anexos dessa gente toda, é obrigatório abrir uma exceção. O ex-presidente, como o rei da fábula, está nu há pelo menos uns quinze anos, mas é praticamente um dever constitucional dizer que ele está de terno, gravata, colete, casaco e chapéu, mais um par de sapatos e outro de meias, enquanto não for julgado e condenado ─ coisa que, no entender dos seus devotos, só poderá ocorrer no Dia do Juízo Universal, ou talvez nem aí.
O prefeito Doria disse em público o que uma multidão de pessoas (incluindo os seus admiradores e partidários políticos, voluntários ou forçados) diz em particular: que é contra Lula, e aí é mesmo 100% contra, sem nenhuma atenuante, por não concordar com as suas ideias e por achar que o seu comportamento é criminoso. Doria afirma, simplesmente, que Lula não tem um “lado bom”. E daí? Não é o caso de entrar em estado de choque nervoso porque alguém falou isso. Na verdade, como ficar espantado depois das históricas confissões de corrupção feitas dias atrás na Operação Lava Jato? Ficou demonstrado ali, acima de qualquer dúvida, que durante treze anos e meio não existiram no Brasil os governos de Lula e de Dilma Rousseff, e sim o governo da Odebrecht S.A. ─ em associação com um extenso colar de outras empreiteiras de obras públicas, indústrias químicas e petroquímicas, empresas de construção naval e qualquer tipo de atividade que envolve fornecer alguma coisa ao governo e receber dinheiro público em pagamento.
As confissões, inéditas na história nacional, mostraram o Brasil exatamente como ele é ─ e mostraram que esse Brasil é puro Lula. Apresentava-se como o presidente da República e dos pobres. Era, na vida real, o despachante de empreiteiros e de milionários.
Não foi só Lula, é claro, quem apareceu no seu verdadeiro papel nestes últimos dias de ação da Justiça. Mas por qual lógica o ex-presidente deveria ser considerado diferente de qualquer outro nessa manada de vigaristas se agiu, durante anos, exatamente como eles ou até pior do que eles?
A única diferença é que o seu caso é mais feio ainda ─ foi nisso, então, que o homem acabou dando? Justo ele, Lula, que passou a vida prometendo aos brasileiros ser um exemplo de mudança e de progresso moral? No fim, o político que vinha “mudar tudo” saiu igualzinho aos outros na conduta, e muito mais caro no prejuízo que deu. Dizia que estava promovendo a maior reforma social da história humana, distribuindo renda como “nunca antes”, eliminando milhões de pobres e outras miragens. Estava, mesmo, assinando medidas provisórias para favorecer a Odebrecht e outros magnatas. Sua CUT estava extorquindo dinheiro para não fazer greves. Recebia fortunas, “o mesmo que o Bill Cinton”, por “palestras” que a Odebrecht confessou serem o pagamento de favores. Seus filhos e irmãos receberam dinheiro e “investimentos” da empreiteira. Fez o BNDES dar recursos à Odebrecht para construir um porto em Cuba. Era o “Amigo” na lista de políticos comprados ou alugados pela Odebrecht para servi-la no governo. A coisa vai daí para pior ─ uma corrupção que “surtou”, definitivamente, e que ficará na história brasileira para sempre.
Se acaso Lula não for candidato na eleição de 2018, ou se perder, a culpa não será do “juiz Sérgio Moro”, ou da conspiração construída em torno dele, como o ex-presidente já diz. A culpa será unicamente do que ele mesmo fez. Não foi Moro quem recebeu 700 000 reais da Odebrecht para reformar o sítio que frequentava ─ nem o prefeito João Doria.
O prefeito Doria disse em público o que uma multidão de pessoas (incluindo os seus admiradores e partidários políticos, voluntários ou forçados) diz em particular: que é contra Lula, e aí é mesmo 100% contra, sem nenhuma atenuante, por não concordar com as suas ideias e por achar que o seu comportamento é criminoso. Doria afirma, simplesmente, que Lula não tem um “lado bom”. E daí? Não é o caso de entrar em estado de choque nervoso porque alguém falou isso. Na verdade, como ficar espantado depois das históricas confissões de corrupção feitas dias atrás na Operação Lava Jato? Ficou demonstrado ali, acima de qualquer dúvida, que durante treze anos e meio não existiram no Brasil os governos de Lula e de Dilma Rousseff, e sim o governo da Odebrecht S.A. ─ em associação com um extenso colar de outras empreiteiras de obras públicas, indústrias químicas e petroquímicas, empresas de construção naval e qualquer tipo de atividade que envolve fornecer alguma coisa ao governo e receber dinheiro público em pagamento.
Não foi só Lula, é claro, quem apareceu no seu verdadeiro papel nestes últimos dias de ação da Justiça. Mas por qual lógica o ex-presidente deveria ser considerado diferente de qualquer outro nessa manada de vigaristas se agiu, durante anos, exatamente como eles ou até pior do que eles?
A única diferença é que o seu caso é mais feio ainda ─ foi nisso, então, que o homem acabou dando? Justo ele, Lula, que passou a vida prometendo aos brasileiros ser um exemplo de mudança e de progresso moral? No fim, o político que vinha “mudar tudo” saiu igualzinho aos outros na conduta, e muito mais caro no prejuízo que deu. Dizia que estava promovendo a maior reforma social da história humana, distribuindo renda como “nunca antes”, eliminando milhões de pobres e outras miragens. Estava, mesmo, assinando medidas provisórias para favorecer a Odebrecht e outros magnatas. Sua CUT estava extorquindo dinheiro para não fazer greves. Recebia fortunas, “o mesmo que o Bill Cinton”, por “palestras” que a Odebrecht confessou serem o pagamento de favores. Seus filhos e irmãos receberam dinheiro e “investimentos” da empreiteira. Fez o BNDES dar recursos à Odebrecht para construir um porto em Cuba. Era o “Amigo” na lista de políticos comprados ou alugados pela Odebrecht para servi-la no governo. A coisa vai daí para pior ─ uma corrupção que “surtou”, definitivamente, e que ficará na história brasileira para sempre.
Se acaso Lula não for candidato na eleição de 2018, ou se perder, a culpa não será do “juiz Sérgio Moro”, ou da conspiração construída em torno dele, como o ex-presidente já diz. A culpa será unicamente do que ele mesmo fez. Não foi Moro quem recebeu 700 000 reais da Odebrecht para reformar o sítio que frequentava ─ nem o prefeito João Doria.
A verdadeira história das notícias falsas
Na longa história da desinformação, o surto atual de notícias falsas já ocupa um lugar especial, com uma assessora presidencial norte-americana, Kellyanne Conway, que chegou a sacar da manga um massacre em Kentucky para defender que se proibisse a entrada nos país de viajantes de sete países muçulmanos. Mas a invenção de verdades alternativas não é tão infrequente, e equivalentes às mensagens de texto e aos tuítes cheios de veneno de hoje podem ser encontrados em quase todos os períodos da história, inclusive na Antiguidade.
Procópio, o historiador bizantino do século VI, escreveu um livro cheio de histórias de veracidade duvidosa, História Secreta (Anedota no título original), que manteve em segredo até sua morte, para arruinar a reputação do imperador Justiniano, depois de ter mostrado adoração a ele em suas obras oficiais. Pietro Aretino tentou manipular a eleição do pontífice em 1522 escrevendo sonetos perversos sobre todos os candidatos menos o preferido por seus patronos, os Médicis, e os prendendo, para que todo mundo os admirasse, no busto de uma figura conhecida como Il Pasquino, perto da Piazza Navona, em Roma. Os pasquins se transformaram em um método habitual para difundir notícias desagradáveis, em sua maioria falsas, sobre personagens públicos.
Ainda que os pasquins nunca tenham desaparecido por complexo, no século XVII foram substituídos em grande parte por um gênero mais popular, o canard, a gazeta cheia de boatos e falsas notícias que circulou pelas ruas de Paris durante os 200 anos seguintes. Os canards eram jornais impressos em tamanho grande, às vezes ilustrados com gravuras chamativas para atrair os mais crédulos. Um dos mais bem-sucedidos, na década de 1780, anunciou a captura no Chile de um monstro que, aparentemente, estava sendo transferido de barco para a Espanha. Tinha cabeça de fúria, asas de morcego, corpo gigantesco coberto de escamas e rabo de dragão.
Durante a Revolução Francesa, os gravadores colocaram o rosto de Maria Antonieta nas placas de cobre e o canard ganhou nova vida, como propaganda política deliberadamente falsa. Apesar de não ser possível medir sua repercussão, desde cedo contribuiu para o ódio patológico que se sentia com relação à rainha, que desembocou em sua execução em 16 de outubro de 1793.
O Le Canard Enchaîné, um semanário parisiense especializado em revelações políticas exclusivas, hoje evoca essa tradição em seu próprio título, que poderia ser traduzido figuradamente como “os boatos controlados”. Recentemente publicou uma notícia sobre a mulher de François Fillon, o candidato de centro-direita que era o favorito na campanha presidencial da França. Segundo o jornal, Penelope Fillon tinha recebido um salário alto durante muitos anos por ser “ajudante parlamentar” de seu marido. Apesar de Fillon não ter dito que a notícia era falsa –reconheceu que contratou sua esposa e afirma que isso não é ilegal–, o chamado Penelopegate conseguiu tirar Donald Trump das primeiras páginas e seguramente destruiu as possibilidade de Fillon na eleição, em benefício da Frente Nacional, o mais parecido que existe na França com o presidente norte-americano.
A produção de notícias falsas, semifalsas e verdadeiras mas comprometedoras teve seu apogeu na Londres do século XVIII, quando os jornais aumentaram sua circulação. Em 1788, a cidade tinha 10 jornais diários, 8 que saíam três vezes por semana e 9 semanários, e as notícias que publicavam costumavam consistir em apenas um parágrafo. Os “homens do parágrafo” se inteiravam das fofocas nos cafés, escreviam algumas frases em um papel e o levavam aos impressores, que eram também editores e que normalmente o incluíam no primeiro buraco que tivessem disponível em alguma coluna da pedra litográfica. Alguns gazeteiros recebiam dinheiro pelos parágrafos; outros se conformavam em manipular a opinião pública a favor ou contra uma personalidade, uma obra de teatro ou um livro.
Em 1772, o reverendo Henry Bate (capelão de Lord Lyttleton) fundou o The Morning Post, um jornal que era uma sucessão de parágrafos sobre notícias distintas, quase todas falsas. Em 13 de dezembro de 1784, por exemplo, esse jornal publicou um parágrafo sobre um prostituto que prestava seus serviços a Maria Antonieta: “A rainha francesa tem afeição pelos ingleses. De fato, a maioria de seus favoritos procede desse país; mas quem mais prefere é o senhor W. É sabido que esse cavalheiro tinha sua carteira vazia quando chegou a Paris e, no entanto, agora leva uma vida cheia de elegância, bom gosto e moda. Mantem suas carruagens, seus uniformes e sua mesa sem economizar gastos e com todo o esplendor”.
Robert Darnton
Procópio, o historiador bizantino do século VI, escreveu um livro cheio de histórias de veracidade duvidosa, História Secreta (Anedota no título original), que manteve em segredo até sua morte, para arruinar a reputação do imperador Justiniano, depois de ter mostrado adoração a ele em suas obras oficiais. Pietro Aretino tentou manipular a eleição do pontífice em 1522 escrevendo sonetos perversos sobre todos os candidatos menos o preferido por seus patronos, os Médicis, e os prendendo, para que todo mundo os admirasse, no busto de uma figura conhecida como Il Pasquino, perto da Piazza Navona, em Roma. Os pasquins se transformaram em um método habitual para difundir notícias desagradáveis, em sua maioria falsas, sobre personagens públicos.
A imprensa amarela, de M. Slackens mostra W. Randolph Hearst como um bobo da corte que divulga notícias (Keppler & Schwarzmann em 1910) |
Durante a Revolução Francesa, os gravadores colocaram o rosto de Maria Antonieta nas placas de cobre e o canard ganhou nova vida, como propaganda política deliberadamente falsa. Apesar de não ser possível medir sua repercussão, desde cedo contribuiu para o ódio patológico que se sentia com relação à rainha, que desembocou em sua execução em 16 de outubro de 1793.
O Le Canard Enchaîné, um semanário parisiense especializado em revelações políticas exclusivas, hoje evoca essa tradição em seu próprio título, que poderia ser traduzido figuradamente como “os boatos controlados”. Recentemente publicou uma notícia sobre a mulher de François Fillon, o candidato de centro-direita que era o favorito na campanha presidencial da França. Segundo o jornal, Penelope Fillon tinha recebido um salário alto durante muitos anos por ser “ajudante parlamentar” de seu marido. Apesar de Fillon não ter dito que a notícia era falsa –reconheceu que contratou sua esposa e afirma que isso não é ilegal–, o chamado Penelopegate conseguiu tirar Donald Trump das primeiras páginas e seguramente destruiu as possibilidade de Fillon na eleição, em benefício da Frente Nacional, o mais parecido que existe na França com o presidente norte-americano.
A produção de notícias falsas, semifalsas e verdadeiras mas comprometedoras teve seu apogeu na Londres do século XVIII, quando os jornais aumentaram sua circulação. Em 1788, a cidade tinha 10 jornais diários, 8 que saíam três vezes por semana e 9 semanários, e as notícias que publicavam costumavam consistir em apenas um parágrafo. Os “homens do parágrafo” se inteiravam das fofocas nos cafés, escreviam algumas frases em um papel e o levavam aos impressores, que eram também editores e que normalmente o incluíam no primeiro buraco que tivessem disponível em alguma coluna da pedra litográfica. Alguns gazeteiros recebiam dinheiro pelos parágrafos; outros se conformavam em manipular a opinião pública a favor ou contra uma personalidade, uma obra de teatro ou um livro.
Em 1772, o reverendo Henry Bate (capelão de Lord Lyttleton) fundou o The Morning Post, um jornal que era uma sucessão de parágrafos sobre notícias distintas, quase todas falsas. Em 13 de dezembro de 1784, por exemplo, esse jornal publicou um parágrafo sobre um prostituto que prestava seus serviços a Maria Antonieta: “A rainha francesa tem afeição pelos ingleses. De fato, a maioria de seus favoritos procede desse país; mas quem mais prefere é o senhor W. É sabido que esse cavalheiro tinha sua carteira vazia quando chegou a Paris e, no entanto, agora leva uma vida cheia de elegância, bom gosto e moda. Mantem suas carruagens, seus uniformes e sua mesa sem economizar gastos e com todo o esplendor”.
Robert Darnton
A carne fraca dos mortos-vivos
Um fantasma da política brasileira desafiou Sergio Moro a prendê-lo. Disse que, se o juiz se atrevesse, seria recebido à bala. Não vale gastar uma linha com o referido personagem, pois o que os mortos-vivos querem justamente é que se fale deles, para que possam sair das catacumbas e dar uma voltinha no noticiário. Vamos identificá-lo apenas como Xingo Nomes – o apelido imortal criado pelo Casseta & planeta. Xingo Nomes quer ser candidato a presidente por seu vigésimo partido (se a conta não estiver por aí, está quase) e isso também não tem a menor importância. O que importa é que esse morto-vivo estaria morto-morto se o Brasil tivesse entendido direito o que foi o escândalo da Lava Jato.
O Brasil, coitado, ainda não entendeu. Bravateando contra Moro, Xingo Nomes – o homem que desmoralizou a bravura – sabe que herda o voto dos que acham que Lula é perseguido pelo juiz. E não haveria mais viva alma (honesta ou não) acreditando nessa lenda se o Brasil tivesse entendido o que foi o maior escândalo da sua história.
Contando, ninguém acredita: enquanto Dilma flana pelo mundo dando palestras em dilmês, e Lula finge que inaugura obra que o seu governo fraudou e não entregou, a Lava Jato revela novos crimes do criador e da criatura. Agora já temos as cenas explícitas das cifras milionárias escoando do caixa da Odebrecht para as contas de Lula e Dilma – através do "Italiano" e do "Pós-Italiano". Esses são os apelidos carinhosos criados pela contabilidade da empreiteira para Antonio Palocci, preposto do criador, e Guido Mantega, preposto da criatura, no reinado obsceno do PT.
Querido Brasil brasileiro, sem querer incomodar: você já tinha visto, nesta terra de coqueiro que dá coco, dinheiro grosso de fornecedor do governo passando pelas mãos de ministros de primeira grandeza e indo parar no caixa do(a) presidente(a) da República? Respondemos por você, para não cansar sua beleza tropical: não, companheiro. Você nunca viu nada parecido. Nem sonhou – mesmo nas suas fantasias mais picantes.
Ainda assim, estão lhe dizendo que a corrupção é um problema generalizado no país – ou "cultural", como declararam personagens como o ex-ministro-despachante Cardozo e o procurador-falador Janot, que aliás formaram uma entrosada dupla de zaga na primeira fase da Lava Jato. Igualdade social já era. O mandamento agora é a igualdade criminal. Um desses teólogos de passeata escreveu que até entre os apóstolos de Cristo havia corrupto. Só faltou lembrar a famosa frase de Jesus: caixa dois todo mundo faz.
Enquanto isso, na vida real cansada de guerra, você nem tinha assimilado direito o Pós-Italiano e é apresentado ao Pós-Barusco. Tirem as crianças da sala: depois de roubar a Petrobras à vontade, Pedro Barusco – o delator que aceitou devolver a gorjeta de R$ 100 milhões – saiu do cargo instruindo as empreiteiras a manter a propina para seu sucessor, o felizardo Roberto Gonçalves (cinco contas na Suíça). Deu para entender, Brasil? O escudo da bondade petista proporcionou a incorporação da fraude ao cargo. Governo solidário é isso aí: todo mundo se deu bem, menos você.
Está pouco? Então tome mais um fenômeno cultural: a Odebrecht confessou que comprou tempo de TV para Dilma Rousseff no horário eleitoral de 2014. Investimento arriscado, considerando a qualidade do produto a ser exposto. Mas deu certo e Dilma foi reeleita, comprovando que o telespectador brasileiro prefere filme de terror.
Enquanto Lula e Dilma não forem presos, o gigante adormecido e com problemas cognitivos não entenderá que, como nunca antes em tempo algum, o governo foi transformado em sindicato do crime e o palácio em sede da quadrilha. Não se trata de revanche. Este signatário até preferia que os dois simplesmente desencarnassem da política brasileira e fossem pescar suas próprias trutas. Mas aí o gigante nunca vai entender que o sequestro do Estado brasileiro só foi possível graças à lenda do filho do Brasil e seu presépio de apóstolos tarja preta.
Esses mortos-vivos que bravateiam contra Moro e Dallagnol são os padres pedófilos da política. Apresentam-se como guerreiros do povo para viver às custas dele. A carne é fraca. A Lava Jato tem até 2018 para desmontar de vez esse truque.
O Brasil, coitado, ainda não entendeu. Bravateando contra Moro, Xingo Nomes – o homem que desmoralizou a bravura – sabe que herda o voto dos que acham que Lula é perseguido pelo juiz. E não haveria mais viva alma (honesta ou não) acreditando nessa lenda se o Brasil tivesse entendido o que foi o maior escândalo da sua história.
Contando, ninguém acredita: enquanto Dilma flana pelo mundo dando palestras em dilmês, e Lula finge que inaugura obra que o seu governo fraudou e não entregou, a Lava Jato revela novos crimes do criador e da criatura. Agora já temos as cenas explícitas das cifras milionárias escoando do caixa da Odebrecht para as contas de Lula e Dilma – através do "Italiano" e do "Pós-Italiano". Esses são os apelidos carinhosos criados pela contabilidade da empreiteira para Antonio Palocci, preposto do criador, e Guido Mantega, preposto da criatura, no reinado obsceno do PT.
Querido Brasil brasileiro, sem querer incomodar: você já tinha visto, nesta terra de coqueiro que dá coco, dinheiro grosso de fornecedor do governo passando pelas mãos de ministros de primeira grandeza e indo parar no caixa do(a) presidente(a) da República? Respondemos por você, para não cansar sua beleza tropical: não, companheiro. Você nunca viu nada parecido. Nem sonhou – mesmo nas suas fantasias mais picantes.
Ainda assim, estão lhe dizendo que a corrupção é um problema generalizado no país – ou "cultural", como declararam personagens como o ex-ministro-despachante Cardozo e o procurador-falador Janot, que aliás formaram uma entrosada dupla de zaga na primeira fase da Lava Jato. Igualdade social já era. O mandamento agora é a igualdade criminal. Um desses teólogos de passeata escreveu que até entre os apóstolos de Cristo havia corrupto. Só faltou lembrar a famosa frase de Jesus: caixa dois todo mundo faz.
Enquanto isso, na vida real cansada de guerra, você nem tinha assimilado direito o Pós-Italiano e é apresentado ao Pós-Barusco. Tirem as crianças da sala: depois de roubar a Petrobras à vontade, Pedro Barusco – o delator que aceitou devolver a gorjeta de R$ 100 milhões – saiu do cargo instruindo as empreiteiras a manter a propina para seu sucessor, o felizardo Roberto Gonçalves (cinco contas na Suíça). Deu para entender, Brasil? O escudo da bondade petista proporcionou a incorporação da fraude ao cargo. Governo solidário é isso aí: todo mundo se deu bem, menos você.
Está pouco? Então tome mais um fenômeno cultural: a Odebrecht confessou que comprou tempo de TV para Dilma Rousseff no horário eleitoral de 2014. Investimento arriscado, considerando a qualidade do produto a ser exposto. Mas deu certo e Dilma foi reeleita, comprovando que o telespectador brasileiro prefere filme de terror.
Enquanto Lula e Dilma não forem presos, o gigante adormecido e com problemas cognitivos não entenderá que, como nunca antes em tempo algum, o governo foi transformado em sindicato do crime e o palácio em sede da quadrilha. Não se trata de revanche. Este signatário até preferia que os dois simplesmente desencarnassem da política brasileira e fossem pescar suas próprias trutas. Mas aí o gigante nunca vai entender que o sequestro do Estado brasileiro só foi possível graças à lenda do filho do Brasil e seu presépio de apóstolos tarja preta.
Esses mortos-vivos que bravateiam contra Moro e Dallagnol são os padres pedófilos da política. Apresentam-se como guerreiros do povo para viver às custas dele. A carne é fraca. A Lava Jato tem até 2018 para desmontar de vez esse truque.
Não tentem subestimar a opinião pública, manipulando as informações
Está acontecendo um fenômeno no mínimo intrigante no que diz respeito ao contexto político do país. Tentam confundir a opinião pública, associando determinadas situações específicas como se correspondessem a uma posição maniqueísta, como se no país houvesse apenas dois grupos que se opõem: os governistas e os antigovernistas; os petistas e os temeristas. Estão subestimando a inteligência e a heterogeneidade do povo, de maneira oportunista.
Colocam no mesmo barco os petistas, todos os sindicalistas e contrários às reformas governamentais, e isso tem apenas um objetivo: tumultuar, confundir e lucrar de algum modo.
Não somos “obrigados” a tomar posição sobre Lula ou Temer! Muitos são contra as reformas desumanas, abusivas, mas sabem que o governo do PT vinha caminhando para implementar essas mesmas reformas (existem dados sobre isso).
Não se pode ignorar a história em nome de um militantismo irrefletido. Temer, PMDB e Cia. eram o braço direito do governo anterior; para bem ou para mal é preciso assumir isso.
Não estamos em uma guerra santa entre o bem e o mal. Estamos em uma séria disputa entre poderosos grupos políticos que tentam manipular e modelar mentes em seu favor.
Não conseguirão! Não subestimem a opinião pública nem a população, embora a grande maioria ainda não se interesse por política.
Colocam no mesmo barco os petistas, todos os sindicalistas e contrários às reformas governamentais, e isso tem apenas um objetivo: tumultuar, confundir e lucrar de algum modo.
É preciso deixar claro, mesmo que seja repetitivo, que quem é contra as reformas não necessariamente defende a pseudo esquerda brasileira. Vamos separar as coisas. Há cidadãos independentes neste país! Pessoas que pensam por conta própria, e a imprensa elitista não vai nos convencer do contrário!
Muitos foram para as ruas contra o governo Temer, mas sem com isso deixar de criticar grupos políticos partidários de oposição.
Muitos foram para as ruas contra o governo Temer, mas sem com isso deixar de criticar grupos políticos partidários de oposição.
Não somos “obrigados” a tomar posição sobre Lula ou Temer! Muitos são contra as reformas desumanas, abusivas, mas sabem que o governo do PT vinha caminhando para implementar essas mesmas reformas (existem dados sobre isso).
Não se pode ignorar a história em nome de um militantismo irrefletido. Temer, PMDB e Cia. eram o braço direito do governo anterior; para bem ou para mal é preciso assumir isso.
Não estamos em uma guerra santa entre o bem e o mal. Estamos em uma séria disputa entre poderosos grupos políticos que tentam manipular e modelar mentes em seu favor.
Não conseguirão! Não subestimem a opinião pública nem a população, embora a grande maioria ainda não se interesse por política.
Verdades e mentiras
O primeiro trimestre de 2017 disse a que veio no âmbito da segurança pública. Sangrentas rebeliões em diversas penitenciárias do país, seguidas da greve da PM no Espírito Santo, com a consequente explosão de criminalidade, agitaram a população e a mídia. Temas como superpopulação carcerária, legislação penal, ineficácia da polícia, além dos assombrosos índices de criminalidade, ganharam lugar de destaque no noticiário.
Para muitos de nós, juízes e promotores, vem causando espécie a repetição por alguns acadêmicos (a maioria sem experiência profissional concreta na segurança pública e justiça criminal) de “mantras” como: “encarceramento excessivo”, “excesso de prisões por pequenos delitos”, “prisões preventivas desnecessárias” , “não aplicação de penas alternativas”, e até mesmo o suposto emprego de “critérios racistas” para decidir quem deve ser preso etc.
Uma socióloga, em entrevista na TV, comparou o sistema penitenciário a “um funil”, por cuja larga boca ingressam presos “em excesso” e do qual raros têm oportunidade de sair.
“A raiz do problema das prisões no Brasil é o encarceramento em massa. Somos um dos países que mais prendem, a taxa só cresce!”, bradou um professor universitário.
A experiência de muitos anos no foro criminal nos permite constatar quão equivocadas são tais afirmações. Por isso mesmo nos sentimos no dever, como profissionais da área, de trazer alguns esclarecimentos à população.
Somos, na verdade, um dos países que mais matam. A “taxa que só cresce” é, na verdade, a das mortes violentas. São cerca de 60 mil homicídios e latrocínios por ano, dos quais apenas cerca de 8% são apurados. Isso significa que, só no ano passado, autores de mais de 55 mil crimes sequer foram identificados, o que dirá encarcerados.
O nome disso não é “encarceramento em massa”, é impunidade em excesso. O Brasil não prende demais; ao contrário, prende de menos, como sabe muito bem a população que todo dia anda com medo pelas ruas.
O inegável problema da superpopulação carcerária não decorre do “excesso” de pessoas presas. É fruto da falta de vagas, que por sua vez decorre da omissão dos governantes na gestão e expansão do sistema penitenciário.
E aqui vai uma informação omitida pelos “especialistas”: aquele “assaltante” que apontar um fuzil para a sua filha, amigo leitor, será condenado, em média, a 5 anos e 4 meses por roubo. Cumprirá, então, cerca de 11 meses em regime fechado e, depois, terá direito à progressão para o regime semiaberto, onde são garantidas a ele a saída para “visitas ao lar”, a saída de Dia das Mães, de Dia dos Pais etc.
Da próxima vez que você ouvir protestos contra o “encarceramento excessivo", convém dar uma boa olhada em volta: essa “vítima da sociedade opressora” pode estar desfrutando do regime semiaberto logo ali na esquina.
Alexandre Abrahão (juiz) e Marcelo Rocha Monteiro, (procurador), do Movimento de Combate à Impunidade
Para muitos de nós, juízes e promotores, vem causando espécie a repetição por alguns acadêmicos (a maioria sem experiência profissional concreta na segurança pública e justiça criminal) de “mantras” como: “encarceramento excessivo”, “excesso de prisões por pequenos delitos”, “prisões preventivas desnecessárias” , “não aplicação de penas alternativas”, e até mesmo o suposto emprego de “critérios racistas” para decidir quem deve ser preso etc.
Uma socióloga, em entrevista na TV, comparou o sistema penitenciário a “um funil”, por cuja larga boca ingressam presos “em excesso” e do qual raros têm oportunidade de sair.
“A raiz do problema das prisões no Brasil é o encarceramento em massa. Somos um dos países que mais prendem, a taxa só cresce!”, bradou um professor universitário.
A experiência de muitos anos no foro criminal nos permite constatar quão equivocadas são tais afirmações. Por isso mesmo nos sentimos no dever, como profissionais da área, de trazer alguns esclarecimentos à população.
Somos, na verdade, um dos países que mais matam. A “taxa que só cresce” é, na verdade, a das mortes violentas. São cerca de 60 mil homicídios e latrocínios por ano, dos quais apenas cerca de 8% são apurados. Isso significa que, só no ano passado, autores de mais de 55 mil crimes sequer foram identificados, o que dirá encarcerados.
O nome disso não é “encarceramento em massa”, é impunidade em excesso. O Brasil não prende demais; ao contrário, prende de menos, como sabe muito bem a população que todo dia anda com medo pelas ruas.
O inegável problema da superpopulação carcerária não decorre do “excesso” de pessoas presas. É fruto da falta de vagas, que por sua vez decorre da omissão dos governantes na gestão e expansão do sistema penitenciário.
E aqui vai uma informação omitida pelos “especialistas”: aquele “assaltante” que apontar um fuzil para a sua filha, amigo leitor, será condenado, em média, a 5 anos e 4 meses por roubo. Cumprirá, então, cerca de 11 meses em regime fechado e, depois, terá direito à progressão para o regime semiaberto, onde são garantidas a ele a saída para “visitas ao lar”, a saída de Dia das Mães, de Dia dos Pais etc.
Da próxima vez que você ouvir protestos contra o “encarceramento excessivo", convém dar uma boa olhada em volta: essa “vítima da sociedade opressora” pode estar desfrutando do regime semiaberto logo ali na esquina.
Alexandre Abrahão (juiz) e Marcelo Rocha Monteiro, (procurador), do Movimento de Combate à Impunidade
A rebelião dos pelegos
É impossível negar o que todos constataram. No último dia 28 ocorreu no Brasil uma rebelião de sindicalistas que, mediante um sem número de ações criminosas, impediram o ir e vir dos cidadãos. Convém, a propósito, ler o disposto no Código Penal sobre crime de constrangimento ilegal:
"E o povo?", perguntará o leitor destas linhas. O povo não conseguiu chegar aos hospitais ou comparecer a consultas médicas. O povo ficou parado nos congestionamentos forçados, impedido de cumprir tarefas e honrar compromissos. O povo indignou-se com o constrangimento a que estava submetido. O povo sabia que seus detratores, nutridos com os direitos que lhe tomavam, arrotavam sucesso nos megafones.
De toda aquela atrapalhação não se aproveitou um discurso, não surgiu uma ideia útil para as reformas, nada aconteceu que conferisse substância e força aos que as antagonizavam. O fracasso da greve geral se mede pelos milhares de vezes, Brasil afora, que o Código Penal foi violado para que a rebelião dos sindicalistas se tornasse visível.
Percival Puggina
Art. 146 - "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, (...) a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda. Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa". A pena se agrava quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas.Ora, em muitos casos havia mais pneus queimando do que delinquentes praticando o crime de constrangimento ilegal. Mas, visivelmente, sempre eram mais de três a pôr fogo na pista, com a finalidade de impedir a população de fazer o que a lei permite. A necessidade de ostentar como adesão à greve aquilo que foi o seu inverso, ou seja, a paralisia forçada de um sem número de atividades, incluiu a reiterada prática de uma outra conduta criminosa capitulada no Código Penal:
Art. 163 - "Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. Pena - Detenção de um a seis meses ou multa". Uma das hipóteses de agravamento da pena se refere, especificamente, ao dano causado em patrimônio público.
Convocaram a greve geral com voz de gente grande, como expressão de uma eminente tarefa, mas se comportaram qual marmanjos incivilizados. Como pretende essa esquerda voltar ao poder se nem uma greve assim é capaz de realizar? O evento foi do esmero do planejamento à selvageria da execução. A data, escolhida a dedo na folhinha: sexta-feira, véspera de feriadão. O Brasil já estaria em slow motion natural, com milhões de brasileiros na malemolência da beira da praia, sob o sol dos trópicos. Passo seguinte, cometeram duas nítidas incongruências: 1ª) terceirizaram, a soldo (a CUT terceirizando!), contratando ações de fechamento de rodovias, avenidas, pontes, ferrovias; e 2ª) buscaram, à base de "miguelitos" e queima de ônibus, o objetivo principal do desastrado empreendimento - a paralisia forçada do transporte de passageiros. Tudo em nome da liberdade de manifestação. Tudo em nome do butim de R$ 2,1 bilhões referentes à contribuição sindical compulsória.
"E o povo?", perguntará o leitor destas linhas. O povo não conseguiu chegar aos hospitais ou comparecer a consultas médicas. O povo ficou parado nos congestionamentos forçados, impedido de cumprir tarefas e honrar compromissos. O povo indignou-se com o constrangimento a que estava submetido. O povo sabia que seus detratores, nutridos com os direitos que lhe tomavam, arrotavam sucesso nos megafones.
De toda aquela atrapalhação não se aproveitou um discurso, não surgiu uma ideia útil para as reformas, nada aconteceu que conferisse substância e força aos que as antagonizavam. O fracasso da greve geral se mede pelos milhares de vezes, Brasil afora, que o Código Penal foi violado para que a rebelião dos sindicalistas se tornasse visível.
Percival Puggina
Assinar:
Postagens (Atom)