terça-feira, 22 de setembro de 2015
Esquerdofrenia
Leio no jornal que o economista Fabio Biambiagi escreveu um livro chamado “Capitalismo – Modo de Usar”, no qual há uma frase essencial para entendermos o caos da economia brasileira: “Mesmo após o sepultamento do socialismo no mundo e a ascensão do capitalismo como sistema dominante em quase todo o planeta, o Brasil mantém um componente anticapitalista enraizado na sociedade” .
Deu no que deu: tudo que era sólido no país hoje se desmancha no ar. A catástrofe era inevitável porque eles não têm memória (ou não querem ter) do passado de erros que a chamada “esquerda” cometeu nos últimos 50 anos.
Eu já fui do Partido Comunista. Por três semanas. Nunca vi nada tão chato como reunião de comunas. As discussões jamais contemplavam a complexidade do processo brasileiro. Tudo se dividia em três classes: o proletariado, a pequena burguesia e a burguesia, todas dominadas pelo chamado “imperialismo norte-americano” – a palavra mágica que tudo explicava. O que mais me intrigava e irritava eram as toscas premissas para a ação política.
Dentro deste enorme país, raciocinávamos com as mesmas ideias que ressoam até hoje nas reuniões dos herdeiros da ilusão: o PT, melhor, o Ex-PT, hoje oportunista e de direita. E, pior, essa estupidez é ensinada pelos professores nas universidades, catequizando jovens desinformados.
Mas eu, na minha vacilação de “pequeno-burguês da zona Sul”, olhava do meu canto a sutil burrice nas ideias e sentia que alguma coisa estava terrivelmente errada naquela esperança arrogante. Eu via o reducionismo, a insensatez nas discussões, não porque eu fosse mais lúcido, mas porque o delírio era muito visível. Qualquer dúvida levantada contra a “linha justa” era denunciada como “revisionismo” ou “alienação”. Discutíamos infinitamente para chegar à mesma conclusão da qual partíamos. Ideologia é isso. Quase todos esses cacoetes derivavam de um só sentimento: “Somos superiores”.
Antes do golpe de 64, antes da luta armada pós-68, já vivíamos na ilusão de um programa para o país feito de projetos inócuos como “reformas de base”, reforma urbana, agrária etc., mas ninguém tinha a mínima ideia de como implantá-las. Vivíamos de frases, pois a competência era coisa de gente de “direita” que raciocinava dentro do “sistema”. Era espantoso o autoengano. Antes do golpe, nos comportávamos como destinados a uma missão, que seria fácil. Falávamos uma língua própria, tínhamos gestos próprios e contávamos até com o presidente da República para dar partida à revolução. Relacionávamo-nos como companheiros de uma grande missão. Estava tudo nítido na maneira de falar, nas certezas irremovíveis, no sentimento de especialidade em relação ao resto do país; e até mesmo durante a ditadura, nossa dor nos enobrecia como “vítimas do mal”, sentindo certo orgulho de nossa solidão.
O golpe de 64 não aconteceu apenas por causa das marchas da família com Deus, mas se deu pela absoluta ignorância da população sobre esses desejos teóricos sem base na realidade. Ninguém sabia de nada. Falávamos de operários e camponeses como se eles estivessem de mãos dadas conosco, os “revolucionários”.
O espantoso foi a facilidade com que se deu o golpe. Descobrimos (alguns) que não tínhamos nada nas mãos, que nosso sonho tinha virado um pesadelo. E até hoje muita gente não se dá conta disso. E mais: esses caras que estão no poder acham que estão retomando a agenda de 63, na base do “antes não deu, mas agora vamos”.
No entanto, dentro do curto espaço democrático que ainda havia, o Brasil ficou mais inteligível depois da queda de 64. A desgraça nos ensinou muito. Ficou mais claro que o buraco era mais embaixo, que a realidade brasileira não se resumia a três ou quatro obviedades críticas. O golpe sofisticou nosso entendimento. Mas os futuros e atuais petistas renegaram essa evidência.
Antes do golpe de 64, antes da luta armada pós-68, já vivíamos na ilusão de um programa para o país feito de projetos inócuos como “reformas de base”, reforma urbana, agrária etc., mas ninguém tinha a mínima ideia de como implantá-las. Vivíamos de frases, pois a competência era coisa de gente de “direita” que raciocinava dentro do “sistema”. Era espantoso o autoengano. Antes do golpe, nos comportávamos como destinados a uma missão, que seria fácil. Falávamos uma língua própria, tínhamos gestos próprios e contávamos até com o presidente da República para dar partida à revolução. Relacionávamo-nos como companheiros de uma grande missão. Estava tudo nítido na maneira de falar, nas certezas irremovíveis, no sentimento de especialidade em relação ao resto do país; e até mesmo durante a ditadura, nossa dor nos enobrecia como “vítimas do mal”, sentindo certo orgulho de nossa solidão.
O golpe de 64 não aconteceu apenas por causa das marchas da família com Deus, mas se deu pela absoluta ignorância da população sobre esses desejos teóricos sem base na realidade. Ninguém sabia de nada. Falávamos de operários e camponeses como se eles estivessem de mãos dadas conosco, os “revolucionários”.
O espantoso foi a facilidade com que se deu o golpe. Descobrimos (alguns) que não tínhamos nada nas mãos, que nosso sonho tinha virado um pesadelo. E até hoje muita gente não se dá conta disso. E mais: esses caras que estão no poder acham que estão retomando a agenda de 63, na base do “antes não deu, mas agora vamos”.
No entanto, dentro do curto espaço democrático que ainda havia, o Brasil ficou mais inteligível depois da queda de 64. A desgraça nos ensinou muito. Ficou mais claro que o buraco era mais embaixo, que a realidade brasileira não se resumia a três ou quatro obviedades críticas. O golpe sofisticou nosso entendimento. Mas os futuros e atuais petistas renegaram essa evidência.
Depois, a barra pesou. 1968 foi o início de outro tipo de ilusão. Derrotaríamos a ditadura com armas revolucionárias. Bela proposta inexequível – foram muitos admiráveis heróis, mas, apesar disso, estavam errados. A luta armada foi uma tragédia de ilusões perdidas. Vimos, então, a espantosa eficiência da repressão. Foi um massacre. Essa coragem dos guerrilheiros era inviável por causa da mentalidade das tradicionais regras de luta armada clássica. A guerrilha urbana trabalhava nas brechas escuras da realidade, secreta, fugindo da morte, achando que ia derrotar o Exército com meia dúzia de revólveres e assaltos a banco. A guerrilha foi heroica, mas convencional. Havia quase 40 grupos na luta armada.
Um dos celebrados líderes foi Carlos Marighela, herói voluntarista e onipotente que, entre outros indícios de loucura, escreveu, no “Manual de Guerrilha” : “É necessário que todo guerrilheiro urbano tenha em mente que somente poderá sobreviver se estiver disposto a matar os policiais e todos aqueles dedicados à repressão, e se estiver verdadeiramente dedicado a expropriar a riqueza dos grandes capitalistas, dos latifundiários e dos imperialistas”. Nunca disse como. Leiam o resto na web.
O grande salto qualitativo, a grande vitória da guerrilha, foi a superação desse silêncio secreto por um gesto que repercutiu no mundo todo: o sequestro do embaixador norte-americano por Gabeira e seu grupo. Foi um ato contemporâneo muito mais eficaz do que heroísmo e suicídios secretos. Isso questionou a ditadura, expôs sua vergonhosa impotência diante da imaginação dos guerreiros. A ditadura sentiu o golpe e redobrou sua violência criminosa, mas sua mediocridade estava exposta.
Por isso, me apavora a marcha á ré que nos ameaça, pela falta de memória e burrice do poder.
Agora, quando o capitalismo está na China e renasce timidamente em Cuba, só resta a eles a companhia da Coreia do Norte.
Aprovação de CPMF é estelionato eleitoral
Os governadores vão cometer um grande estelionato eleitoral se apoiar, como estão pensando, a CPMF da Dilma, uma governante sem credibilidade e sem o apoio da população. Iludidos com as promessas de que uma parte do imposto iria para o caixa dos estados, muitos deles se articulam para pressionar suas bases pela aprovação de mais um tributo que, como todos os outros, visa a onerar o bolso dos brasileiros. Não faz muito tempo, a Dilma reuniu todos os governadores para anunciar um plano de infraestrutura que até hoje não saiu do papel. É sempre assim: quando a coisa aperta, ela cria um factoide e espera com isso acalmar a oposição que insiste no seu impeachment.
A Dilma faz um governo de mentira, de farsa, de engodo. Já disse aqui – e repito – que ela deveria ser interditada e submetia a uma junta médica. Não é sã um governante que agora pensa em incentivar o crime com abertura das casas de bingo, dos cassinos e da legalização do jogo do bicho para tentar arrecadar uns trocados, antes da falência do país. Não está batendo bem da cabeça um governante que não consegue transferir para seus subordinados propostas claras e objetivas para reorientar o rumo do país. E, por fim, não é normal uma pessoa que não consegue juntar palavras que deem sentido a uma frase e que apresenta sintomas graves de alucinação.
O poste, infelizmente, ainda não acendeu. Ao vendê-lo ao Brasil como uma peça sólida, transparente e iluminada, o ex-presidente Lula, mais uma vez, mostrou que não tinha responsabilidade com o seu país. Preferiu enfiar goela adentro dos brasileiros uma burocrata despreparada para o cargo a escolher um candidato com um currículo capaz de salvar a estabilidade econômica que já dava sinal de fragilidade no seu governo.
Nessa nova rodada de negociações, os governadores de primeiro mandato deixaram o Palácio do Planalto eufóricos. Os petistas que cercam a Dilma adoçaram a boca de alguns deles quando anunciaram que os bilhões arrecadados pela CPMF iriam para os cofres de seus estados. Tudo mentira. Quando esse imposto foi criado no governo do FHC, o destino seria a saúde. O ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, defensor vigoroso à época da CPMF, cansou de denunciar que o dinheiro estava sendo desviado para outras atividades do governo enquanto a saúde permanecia em estado de coma.
Mais uma vez, o governo do PT tenta enganar os trouxas, aliás, os governadores. Como os estados da federação estão agonizantes, a Dilma tenta enganá-los com a promessa de que boa parte do dinheiro arrecadado chegaria aos estados para obras de infraestrutura. Outra mentira. Quando a coisa fedeu, com o povo indo às ruas pedindo a sua cabeça, ela fez a mesma coisa. Numa solenidade festiva anunciou um pacote de infraestrutura. Nada aconteceu, mais uma peça de ficção para uma forte candidata ao Oscar de efeitos especiais.
Na verdade, o que se percebe é que o governo acabou. E leva com ele para o buraco a sétima economia do mundo, agora sob ameaça de cair e se aproximar dos países mais carentes do planeta. Não adianta, gente, a Dilma já mostrou que não tem condições de se manter no poder. A permanecer no Palácio do Planalto, infelizmente, o povo brasileiro corre o risco de assistir cenas pitorescas e bizarras de uma pessoa que está desconectada com a realidade. Como uma lunática, ela não tem a dimensão do que está ocorrendo de fato no Brasil e no mundo, portanto, pode ser inimputável pelos crimes de responsabilidade no comando da Presidência da República.
Carta-aberta de Tito Costa
Meu amigo Lula, você perdeu a oportunidade de se tornar o verdadeiro líder de um país ainda em busca de um caminho de prosperidade
Meu caro Lula, permito-me escrever-lhe publicamente diante da impossibilidade de nos falarmos em pessoa, com a franqueza dos tempos de nossos seguidos contatos – você na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos e eu prefeito de São Bernardo do Campo.
Não vou falar das greves que ocorreram de 1979 a 1981, que projetaram seu nome no Brasil e no exterior. Não quero lembrar os dias angustiantes da intervenção no sindicato pelo ministro do Trabalho, em março de 1979, e da violência que se seguiu com prisões, processos e a sua detenção pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social).
Todos esses fatos sempre foram acompanhados por mim juntamente ao senador Teotônio Vilela, a Ulysses Guimarães e a numerosos políticos do então MDB.
Na véspera da intervenção no sindicato, você ligou ao meu gabinete me pedindo ajuda para retirar estoques de alimentos ali guardados. Enviei caminhões da prefeitura para retirá-los, e o material foi depositado na igreja matriz da cidade.
Não falo das reuniões, madrugadas adentro, em meu apartamento em São Bernardo, com figuras expressivas do mundo político e também de outras esferas, como dom Cláudio Hummes, nosso amigo, então bispo de Santo André, hoje pessoa de confiança do papa Francisco, em Roma. Éramos todos preocupados com a sua sorte, a do sindicato e também a das nossas instituições em pleno regime militar.
Prefiro não falar dos dias em que o acolhi em minha chácara na pequena cidade de Torrinha, no interior de São Paulo, acobertando-o de perseguições do poder militar da época: você, Marisa, os filhos pequenos, vivendo horas de aflição e preocupantes expectativas.
Nem quero me lembrar das assembleias do sindicato, depois da intervenção no estádio de Vila Euclides, cedido pela Prefeitura de São Bernardo, fornecendo os aparatos possíveis de segurança.
Eram os primórdios de uma carreira vitoriosa como líder operário que chegou à Presidência da República por um partido político que prometia seriedade no manejo da coisa pública e logo decepcionou a todos pelos desvios de comportamento e por abusos na condução da máquina administrativa do Estado.
E aqui começa o seu desvio de uma carreira política que poderia tê-lo consagrado como autêntico líder para um país ainda em busca de desenvolvimento. Você deixou escapar das mãos a oportunidade histórica de liderar a implantação de urgentes mudanças estruturais na máquina do poder público.
Como bem lembrou Frei Betto, seu amigo e colaborador, você, liderando o Partido dos Trabalhadores, abandonou um projeto de Brasil para dedicar-se tão somente a um ambicioso e impatriótico projeto de poder, acomodando-se aos vícios da política tradicional.
Assim, seu partido – em seus alargados anos de governo, com indissimulada arrogância – optou por embrenhar-se na busca incessante, impatriótica e irresponsável do aparelhamento do Estado em favor de sua causa, que não é a do país.
Enganou-se você com a pretensão equivocada de implantar uma era de bonança artificial pela via perversa do paternalismo e do consumismo em favor das classes menos favorecidas, levando-as ao engano do qual agora se apercebem com natural desapontamento.
Por isso, meu caro Lula, segundo penso, você perdeu a oportunidade histórica de se tornar o verdadeiro líder de um país que ainda busca um caminho de prosperidade, igualdade e solidariedade para todos. Alguma coisa que poderia beirar a utopia, mas perfeitamente factível pelo poder político que você e seu partido detiveram por largo tempo.
Agora, perdido o ensejo de sua consagração como grande liderança de nossa história republicana recente, o operário-estadista, resta à população brasileira o desconsolo de esperar por uma era de dificuldades e incertezas.
Seu amigo, Tito Costa
Meu caro Lula, permito-me escrever-lhe publicamente diante da impossibilidade de nos falarmos em pessoa, com a franqueza dos tempos de nossos seguidos contatos – você na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos e eu prefeito de São Bernardo do Campo.
Não vou falar das greves que ocorreram de 1979 a 1981, que projetaram seu nome no Brasil e no exterior. Não quero lembrar os dias angustiantes da intervenção no sindicato pelo ministro do Trabalho, em março de 1979, e da violência que se seguiu com prisões, processos e a sua detenção pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social).
Todos esses fatos sempre foram acompanhados por mim juntamente ao senador Teotônio Vilela, a Ulysses Guimarães e a numerosos políticos do então MDB.
Na véspera da intervenção no sindicato, você ligou ao meu gabinete me pedindo ajuda para retirar estoques de alimentos ali guardados. Enviei caminhões da prefeitura para retirá-los, e o material foi depositado na igreja matriz da cidade.
Não falo das reuniões, madrugadas adentro, em meu apartamento em São Bernardo, com figuras expressivas do mundo político e também de outras esferas, como dom Cláudio Hummes, nosso amigo, então bispo de Santo André, hoje pessoa de confiança do papa Francisco, em Roma. Éramos todos preocupados com a sua sorte, a do sindicato e também a das nossas instituições em pleno regime militar.
Prefiro não falar dos dias em que o acolhi em minha chácara na pequena cidade de Torrinha, no interior de São Paulo, acobertando-o de perseguições do poder militar da época: você, Marisa, os filhos pequenos, vivendo horas de aflição e preocupantes expectativas.
Nem quero me lembrar das assembleias do sindicato, depois da intervenção no estádio de Vila Euclides, cedido pela Prefeitura de São Bernardo, fornecendo os aparatos possíveis de segurança.
Eram os primórdios de uma carreira vitoriosa como líder operário que chegou à Presidência da República por um partido político que prometia seriedade no manejo da coisa pública e logo decepcionou a todos pelos desvios de comportamento e por abusos na condução da máquina administrativa do Estado.
Como bem lembrou Frei Betto, seu amigo e colaborador, você, liderando o Partido dos Trabalhadores, abandonou um projeto de Brasil para dedicar-se tão somente a um ambicioso e impatriótico projeto de poder, acomodando-se aos vícios da política tradicional.
Assim, seu partido – em seus alargados anos de governo, com indissimulada arrogância – optou por embrenhar-se na busca incessante, impatriótica e irresponsável do aparelhamento do Estado em favor de sua causa, que não é a do país.
Enganou-se você com a pretensão equivocada de implantar uma era de bonança artificial pela via perversa do paternalismo e do consumismo em favor das classes menos favorecidas, levando-as ao engano do qual agora se apercebem com natural desapontamento.
Por isso, meu caro Lula, segundo penso, você perdeu a oportunidade histórica de se tornar o verdadeiro líder de um país que ainda busca um caminho de prosperidade, igualdade e solidariedade para todos. Alguma coisa que poderia beirar a utopia, mas perfeitamente factível pelo poder político que você e seu partido detiveram por largo tempo.
Agora, perdido o ensejo de sua consagração como grande liderança de nossa história republicana recente, o operário-estadista, resta à população brasileira o desconsolo de esperar por uma era de dificuldades e incertezas.
Seu amigo, Tito Costa
Antonio Tito Costa, de 92 anos, foi prefeito de São Bernardo do Campo (1977-1983) pelo MDB/PMDB, quando teve atuação destacada nas greves de metalúrgicos no ABC paulista, durante os movimentos de oposição à ditadura militar. Foi também deputado federal constituinte (1987-1990)
Refugiada no Palácio
Dilma Rousseff afirmou que o Brasil está “de braços abertos” para receber refugiados de outros países.
Coração de mãe é uma bênção. Chefiando um governo que não tem onde cair morto, fazendo a população de seu país comer o pão que o diabo amassou numa crise hedionda, a presidenta-mulher encontrou forças para seu aceno solidário ao mundo. A geopolítica das migrações não será mais a mesma depois do brado retumbante de Dilma. A sorte é que o mundo não sabe distinguir solidariedade de pedalada verbal.
Isso é tudo o que restou a Dilma e seu governo moribundo: demagogia sentimental e chantagem emocional. Mas não custa mandar o aviso aos refugiados de todo o planeta: o PT não é solidário nem com a mãe gentil.
Um dos primeiros países não europeus a anunciar que estava de portas abertas para os refugiados foi a… Venezuela. O companheiro Maduro talvez só fique devendo aos hóspedes o luxo de usar papel higiênico, mas essas necessidades primárias são facilmente substituíveis por uma boa cantilena chavista. Tanto na Venezuela quanto no Brasil, na Argentina, na Bolívia e em todos os países bonzinhos com o chapéu alheio, não existe esse problema neoliberal de fazer a conta fechar. A conta foi privatizada pelos companheiros, eles pedalam quanto quiserem para deixar os números lindos de morrer – e dessa cartola sem fundo fazem aparecer o que quiserem. Até bolsa refugiado.
Foi assim que o Brasil mandou pelos ares o tal grau de investimento, que os petistas informam que não tem a menor importância. Afinal, quem está preocupado com selo de bom pagador? O que importa é o selo de bom falador – capaz até de falar aos corações dos refugiados d’além-mar. Se faltar dinheiro, é só pedir para o Vaccari, ou para o Delúbio, ou para algum ajudante deles que não esteja em situação de xadrez. E, se ainda assim continuar faltando, não tem problema: é só meter a mão no bolso do brasileiro, esse ser pacato e compreensivo.
“As pessoas nem sentem”, comentou o petista José Guimarães, líder do governo na Câmara, sobre a recriação da CPMF.Mão leve é isso aí. E, se o Brasil não se importa com o bolso, melhor entregar logo as calças aos companheiros. Se mudar de ideia, a única saída é não aceitar mais mulher sapiens refugiada em palácio.
Coração de mãe é uma bênção. Chefiando um governo que não tem onde cair morto, fazendo a população de seu país comer o pão que o diabo amassou numa crise hedionda, a presidenta-mulher encontrou forças para seu aceno solidário ao mundo. A geopolítica das migrações não será mais a mesma depois do brado retumbante de Dilma. A sorte é que o mundo não sabe distinguir solidariedade de pedalada verbal.
Para os não iniciados, vale o esclarecimento: pedalada verbal é quando alguém fala alguma coisa para desviar a atenção de outra. A esperança da presidenta-mulher e de seus mandantes é que a plateia abobada se distraia mais um pouquinho com aquela conversa de coração valente, dando-lhes algum oxigênio extra para a sobrevida no palácio. Dilma discursou sobre os refugiados no 7 de Setembro, escreveu sobre os refugiados em artigo na imprensa, usou seu posto de chefe de Estado na Semana da Pátria para tratar dos refugiados no Oriente Médio. Se alguém na Síria ouviu esse apelo dramático, é capaz de atravessar o Mediterrâneo e o Atlântico a nado para alcançar a salvação petista. Chegando à praia, levará logo uma cravada da CPMF para saber onde está pisando.
Isso é tudo o que restou a Dilma e seu governo moribundo: demagogia sentimental e chantagem emocional. Mas não custa mandar o aviso aos refugiados de todo o planeta: o PT não é solidário nem com a mãe gentil.
Depenou a economia popular sugando o patrimônio público e se refugiou no palácio. Quem tentou tirá-los de lá pelas vias normais (o voto) teve seus botes postos a pique por uma artilharia pesada – incluindo roubo da maior empresa nacional para financiar os truques eleitorais, segundo investigação da Operação Lava Jato. Tesoureiros e financiadores da Miss Solidariedade, prezados refugiados, já foram investigados e presos por tirar do povo para dar ao partido.
O Brasil está de braços abertos e os brasileiros estão de mãos ao alto.
A crise dos refugiados é terrível, e é terrível a carona que os humanistas de butique pegam nela. A solução entoada pelos traficantes de bondade é fácil: Europa, abra as portas para todo mundo que quiser entrar! Deixe de ser egoísta e xenófoba, socorra os migrantes que estão morrendo no mar! Aliás, por que o mundo não pensou nisso antes? Todo ser humano que vive em dificuldade em seu país pobre e violento deveria se mudar para um país rico e pacífico. Pronto, tudo resolvido! E como fazer para que os mercados e as cidades europeias absorvam as populações deslocadas e a conta continue fechando, com bem-estar social para todos? Ora, se vira, seu capitalista selvagem!
Um dos primeiros países não europeus a anunciar que estava de portas abertas para os refugiados foi a… Venezuela. O companheiro Maduro talvez só fique devendo aos hóspedes o luxo de usar papel higiênico, mas essas necessidades primárias são facilmente substituíveis por uma boa cantilena chavista. Tanto na Venezuela quanto no Brasil, na Argentina, na Bolívia e em todos os países bonzinhos com o chapéu alheio, não existe esse problema neoliberal de fazer a conta fechar. A conta foi privatizada pelos companheiros, eles pedalam quanto quiserem para deixar os números lindos de morrer – e dessa cartola sem fundo fazem aparecer o que quiserem. Até bolsa refugiado.
Foi assim que o Brasil mandou pelos ares o tal grau de investimento, que os petistas informam que não tem a menor importância. Afinal, quem está preocupado com selo de bom pagador? O que importa é o selo de bom falador – capaz até de falar aos corações dos refugiados d’além-mar. Se faltar dinheiro, é só pedir para o Vaccari, ou para o Delúbio, ou para algum ajudante deles que não esteja em situação de xadrez. E, se ainda assim continuar faltando, não tem problema: é só meter a mão no bolso do brasileiro, esse ser pacato e compreensivo.
“As pessoas nem sentem”, comentou o petista José Guimarães, líder do governo na Câmara, sobre a recriação da CPMF.Mão leve é isso aí. E, se o Brasil não se importa com o bolso, melhor entregar logo as calças aos companheiros. Se mudar de ideia, a única saída é não aceitar mais mulher sapiens refugiada em palácio.
Nosso Mediterrâneo
Parecem coisas diferentes, mas a tragédia é a mesma: os primeiros estão impedidos de entrar na riqueza do outro lado do Mediterrâneo, as nossas crianças estão impedidas de entrar no futuro com a educação necessária para saírem da pobreza.
Os primeiros usam barcos precários correndo o risco do naufrágio biológico que leva a perda da vida, os nossos usam escolas precárias, condenados ao naufrágio intelectual, sem o conhecimento necessário à uma vida plena no mundo moderno.
Os dois grupos naufragam, buscando sair das privações.
Os primeiros sofrem pela desigualdade entre seus países e os países da Europa, os nossos pela desigualdade interna e o abandono por nossas elites.
Os primeiros têm esperança de que os governos europeus possam ter a consciência e a ética da necessidade de apoiarem os náufragos, retira-los da água, darem abrigo e até absorvê-los; aqui, nos próximos anos ou décadas, dificilmente nossa elite dirigente desejará ou conseguirá salvar nossos náufragos, dando-lhes o barco de uma escola com qualidade.
Lá, o Mediterrâneo serve como uma cortina de ouro protegendo os privilégios dos europeus contra os invasores que chegam em barcos precários, aqui, os ricos brasileiros se protegem com outra forma da mesma cortina de ouro que impede os pobres de emigrarem ao futuro usando as naves espaciais de boas escola.
Cristovam Buarque
O impeachment já ocorreu
Podem berrar, espernear, choramingar, esbravejar ou se lamentar. Podem protestar nas ruas, assembleias, Facebook ou WhatsApp. Podem barrar a iniciativa no Congresso, no Senado, no Judiciário e nas reuniões de Centros Acadêmicos. Pouco importa o resultado, ele terá sido meramente burocrático. Da mesma forma que um dia se foram as presidências de João Figueiredo, José Sarney, Itamar Franco e George W. Bush, resta pouco deste mandato presidencial que mal começou.
A decisão não pertence mais à ocupante do cargo ou às forças políticas que desejam a sua saída. Basta uma pequena análise da estrutura de redes para se constatar que o poder Executivo, de tão acuado, se tornou transparente.
Desde Charles Darwin que se sabe que o mais adaptado - não o mais forte - é aquele que tem a maior probabilidade de sobrevivência. Mas isso não parece passar pela cabeça do governo que, no melhor estilo Maria Antonieta a propor brioches, fala na CPMF como se fosse transitória ou capaz de resolver alguma coisa. Em seu mundo de fantasia parecem não perceber que a paciência se foi. Não há como pedir para uma população que paga mais de 35% de seu salário que ajude um governo perdulário e caótico, que nunca deu praticamente nada em troca.
Investigada pelo Supremo, barrada no Congresso, relutante a tributar os ricos, desprovida do apoio dos trabalhadores, empresários, funcionários públicos e movimentos sociais para qualquer novo pacote, a presidência ainda precisa dar ouvidos para seu ex-padrinho, que não tem cargo ou importância outra além de ter criado boa parte do problema. O resultado é uma enorme desorientação, que confunde aliados, irrita bases, enlouquece o setor produtivo e abre rombos ainda maiores no orçamento.
No mundo da tecnologia, decisões assim são constantes. Kodak, Nokia e Blackberry são exemplos de empresas cuja prepotência ignorou a demanda por mudança. Como elas, a presidência foi julgada, condenada e executada antes mesmo de ser processada.
Da mesma forma que um chefe que logo será demitido, um vereador em debate corporativo, um técnico de futebol que acumula derrotas, um tio chato em reunião de família ou um marido que está prestes a ser dispensado, o Poder Executivo dá claros indícios de ter sido contornado. Ninguém sabe direito o que fazer com ele, até que ponto levá-lo a sério e por quanto tempo suportá-lo.
Sua irrelevância chegou a tal ponto que pouco importa quem ocupe o assento. Por mais que os fanáticos de um lado afirmem que o país acabará na eventualidade de um impeachment, ou que os radicais do outro lado acreditem que a crise acabaria por mágica com a troca de comando, a maioria das pessoas com algum bom senso já percebeu que o mais provável é que nada mude.
O encolhimento da importância do poder executivo não é fato novo, e tem pouco a ver com a Petrobras. Desde antes das eleições uma disputa de anões era configurada. Quatro não-candidatos, irrelevantes em discurso e importância, se engalfinharam nos debates mais monótonos dos últimos tempos. Ninguém levaria a sério uma candidatura do Aecinho, da Marina ou da Luciana, se seu concorrente não fosse alguém igualmente apático. A situação era tão pobre que nem o José Serra, freguês habitual com vocação para a lanterna, participou. Agora que a situação esquenta e que a presidente pode perder o cargo que se passa a temer a figura do vice, que como Itamar, Alckmim e Sarney, nunca teria carisma para um posto tão importante.
Sua irrelevância não termina com a figura manufaturada de uma presidente tão merecedora de seu cargo quanto Celso Pitta o foi da prefeitura de São Paulo. Da mesma forma que ela, seus ministérios raramente são lembrados. Fala-se em reforma ministerial como se boa parte de seus ocupantes, tipo um tal de Mercadante, ainda estivesse em exercício. Em teoria, ele está. Na prática, discute-se a sua saída como se ele não estivesse presente. Quando se fala em ministros, a propósito, a primeira imagem que surge é a dos principais ocupantes do Poder Judiciário, mais impulsivos e grandiloquentes do que aconselharia o decoro do cargo.
As redes, digitais ou não, mostram que há espaço para todo tipo de política, com exceção da inexistência. Pior do que uma instituição detestada é uma instituição ignorada. Como acontece frequentemente com a lei ou com figuras de autoridade, nem sempre é possível ser popular. Leis odiadas podem ser contestadas ou, com o tempo, incorporadas à dinâmica social. Leis ignoradas não passam de papéis fictícios.
Nessas condições, pouco importa quem vença. Todos perdem.
Quatro perguntas sobre a crise
Os matemáticos franceses Fermat e Pascal trocaram cartas em 1654, discutindo o problema da divisão dos recursos acumulados entre jogadores, caso o jogo seja interrompido antes do final. Os argumentos deram origem à teoria da probabilidade e, para muitos, esse foi o marco inicial da ciência, pois teria sido a primeira tentativa de explicar conceitualmente o imprevisível e o desconhecido. Permitiu também refletir logicamente sobre o futuro, ou seja, fazer previsões. É pressuposto de toda disciplina científica a capacidade de prever, em face da natureza mutante das coisas, o que produz algum controle sobre o que virá adiante.
Sem a reflexão daqueles pensadores e os desenvolvimentos seguintes, como a teoria sobre riscos, certamente não teríamos observado o progresso material das sociedades. Foi o conhecimento que ativou a dinâmica social, quebrando a paralisia da Idade Média. Mas as ciências dedicadas aos comportamentos sociais, no entanto, não desenvolveram a mesma capacidade de previsão, poder que prosperou de forma fulgurante na Era Moderna entre os demais campos científicos. Onde os humanos incidem mais diretamente sobre os processos e fenômenos o grau de imprevisibilidade é muito maior e enxergar mais claramente o futuro se torna duro desafio. É preciso redobrada cautela, por exemplo, quando debatemos sobre processos políticos ou, ainda mais assombroso, quando assoma uma gigantesca crise como a ora vivida por todos nós, brasileiros.
Por isso arrisco submeter apenas quatro perguntas sobre a crise atual, esperando construir alguma concordância nas respostas.
A primeira delas indaga sobre o epicentro do terremoto que nos assola e se vai avolumando, em espiral avassaladora. É uma crise política ou seu fulcro é, sobretudo, a parada econômica, originada no monumental desarranjo das contas públicas? Ouso sugerir, como hipótese, que os dois focos são centrais, mas talvez a razão maior da crise seja o que intitularíamos de “o campo petista no poder”.
Sem detalhamento neste espaço, até porque suas inúmeras facetas são notórias, há um fato objetivo: o partido recebe em nossos dias a mais profunda antipatia da sociedade e se esgotou espetacularmente como proposta partidária. É descontentamento que se vai traduzindo, cada vez mais, em repulsa visceral. O que temos observado, desde os eventos de 2013, é apenas o crescimento desse sentimento coletivo, atualmente espalhado entre todos os grupos sociais e em todas as regiões.
A impopularidade da presidente, de fato, abarca todo o campo petista. Por isso, a crise tem um primeiro imperativo, que é discutir e concretizar a forma democrática justa de remover o PT do poder central. Sem uma resposta adequada a esse bloqueio viveremos um período ampliado de conflitos de diversas ordens, uma “agonia de longa duração” que se estenderá pelo menos até 2018.
A segunda pergunta é mais direta: o que se passa pela cabeça de Michel Temer? Aos 74 anos e com uma pálida trajetória política, a História oferece-lhe agora a chance inusitada de figurar no panteão dos grandes brasileiros. E não precisaria muito: como presidente do PMDB, bastará convencer a maioria de seus correligionários a concordar com a travessia dos próximos três anos sob seu comando, abandonando a aliança com os petistas. Se o fizer, a faixa presidencial trocará de dono e não será preciso nenhum Fiat Elba para justificar a ansiada mudança. O impeachment é processo político e apear do poder um grupo que tem a idiotia como forma de governo já é argumento suficiente. Temer e seu partido, contudo, provavelmente hesitam porque não têm ainda em mãos uma resposta satisfatória à terceira pergunta.
Esta seria: existirá uma via de ação que nos tire da crise econômica em tempo o mais curto possível? Lendo avidamente os especialistas, resta apenas uma certeza – é generalizado o tiroteio entre os diversos diagnósticos disponíveis e ninguém garante nada. Assim, assumir a Presidência representará um risco político altíssimo e dificilmente um partido gelatinoso como o PMDB se moverá em tal direção. É urgente que um grupo realista, experiente e suprapartidário de economistas ofereça um roteiro consistente para atravessar o mar proceloso da recessão que vem afligindo o nosso país. Será o manual de instruções que talvez convença esse partido a dar o passo reclamado por quase todos os brasileiros.
Quarta pergunta: haverá reação significativa dos famosos movimentos sociais ou de outros setores? Entendo ser muito improvável. A crise é tão abissal que aqueles que usam a retórica de esquerda para reagir à mudança presidencial não terão tropas sociais para nenhum confronto. O movimento sindical cutista, por exemplo, desmoralizou-se em face de sua postura invertebrada em relação aos desmandos petistas no poder e divide o espaço sindical com diversas outras confederações mais responsáveis, alarmadas com o crescente desemprego, que se alastra em todos os setores. E outras ameaças? Alguém ainda acredita em “movimento estudantil”? Já o “exército do Stédile” não passa de risível ficção, pois o MST, concretamente, nem existe mais.
Em síntese, hoje nos deparamos com um contexto explosivo, pois existe uma espantosa escassez de lideranças e dependemos de políticos míopes e de um partido inconfiável, atuando como coadjuvante do patético partido que finge nos governar. E pior, não temos uma carta de navegação segura à mão para atravessar o desastre que se vai formando. É preciso ter mais sentido de urgência e, em especial, mais comprometimento com a sociedade, o País e seu futuro. Mantidos o impasse e a exasperante lentidão decisória, os protestos se tornarão incontroláveis e, aí sim, a confusão política e o destino de nossa economia se tornarão absolutamente imprevisíveis.
Por isso arrisco submeter apenas quatro perguntas sobre a crise atual, esperando construir alguma concordância nas respostas.
A primeira delas indaga sobre o epicentro do terremoto que nos assola e se vai avolumando, em espiral avassaladora. É uma crise política ou seu fulcro é, sobretudo, a parada econômica, originada no monumental desarranjo das contas públicas? Ouso sugerir, como hipótese, que os dois focos são centrais, mas talvez a razão maior da crise seja o que intitularíamos de “o campo petista no poder”.
Sem detalhamento neste espaço, até porque suas inúmeras facetas são notórias, há um fato objetivo: o partido recebe em nossos dias a mais profunda antipatia da sociedade e se esgotou espetacularmente como proposta partidária. É descontentamento que se vai traduzindo, cada vez mais, em repulsa visceral. O que temos observado, desde os eventos de 2013, é apenas o crescimento desse sentimento coletivo, atualmente espalhado entre todos os grupos sociais e em todas as regiões.
A impopularidade da presidente, de fato, abarca todo o campo petista. Por isso, a crise tem um primeiro imperativo, que é discutir e concretizar a forma democrática justa de remover o PT do poder central. Sem uma resposta adequada a esse bloqueio viveremos um período ampliado de conflitos de diversas ordens, uma “agonia de longa duração” que se estenderá pelo menos até 2018.
A segunda pergunta é mais direta: o que se passa pela cabeça de Michel Temer? Aos 74 anos e com uma pálida trajetória política, a História oferece-lhe agora a chance inusitada de figurar no panteão dos grandes brasileiros. E não precisaria muito: como presidente do PMDB, bastará convencer a maioria de seus correligionários a concordar com a travessia dos próximos três anos sob seu comando, abandonando a aliança com os petistas. Se o fizer, a faixa presidencial trocará de dono e não será preciso nenhum Fiat Elba para justificar a ansiada mudança. O impeachment é processo político e apear do poder um grupo que tem a idiotia como forma de governo já é argumento suficiente. Temer e seu partido, contudo, provavelmente hesitam porque não têm ainda em mãos uma resposta satisfatória à terceira pergunta.
Esta seria: existirá uma via de ação que nos tire da crise econômica em tempo o mais curto possível? Lendo avidamente os especialistas, resta apenas uma certeza – é generalizado o tiroteio entre os diversos diagnósticos disponíveis e ninguém garante nada. Assim, assumir a Presidência representará um risco político altíssimo e dificilmente um partido gelatinoso como o PMDB se moverá em tal direção. É urgente que um grupo realista, experiente e suprapartidário de economistas ofereça um roteiro consistente para atravessar o mar proceloso da recessão que vem afligindo o nosso país. Será o manual de instruções que talvez convença esse partido a dar o passo reclamado por quase todos os brasileiros.
Quarta pergunta: haverá reação significativa dos famosos movimentos sociais ou de outros setores? Entendo ser muito improvável. A crise é tão abissal que aqueles que usam a retórica de esquerda para reagir à mudança presidencial não terão tropas sociais para nenhum confronto. O movimento sindical cutista, por exemplo, desmoralizou-se em face de sua postura invertebrada em relação aos desmandos petistas no poder e divide o espaço sindical com diversas outras confederações mais responsáveis, alarmadas com o crescente desemprego, que se alastra em todos os setores. E outras ameaças? Alguém ainda acredita em “movimento estudantil”? Já o “exército do Stédile” não passa de risível ficção, pois o MST, concretamente, nem existe mais.
Em síntese, hoje nos deparamos com um contexto explosivo, pois existe uma espantosa escassez de lideranças e dependemos de políticos míopes e de um partido inconfiável, atuando como coadjuvante do patético partido que finge nos governar. E pior, não temos uma carta de navegação segura à mão para atravessar o desastre que se vai formando. É preciso ter mais sentido de urgência e, em especial, mais comprometimento com a sociedade, o País e seu futuro. Mantidos o impasse e a exasperante lentidão decisória, os protestos se tornarão incontroláveis e, aí sim, a confusão política e o destino de nossa economia se tornarão absolutamente imprevisíveis.
É preciso salvar as joias da coroa
As crises sempre exigem intervenções dolorosas e muita compreensão. A prudência deve nortear nossas ações, para que não nos arrependamos no futuro.
Por pensar dessa forma, confesso que fiquei bastante assustado com o encaminhamento da proposta do Ministério da Fazenda de cortar parte apreciável dos recursos do “Sistema S”, inviabilizando muitos de seus projetos, que considero decisivos para o crescimento sustentável do país.
A educação profissional e tecnológica e a inovação são parâmetros que determinam o êxito das empresas na sua constante busca pela competitividade.
Mais de 95% dos nossos empreendimentos nacionais são micro e pequenas empresas, que dependem do apoio de organizações como o SEBRAE e as Federações das Indústrias.
Micro e pequenas empresas são responsáveis por mais da metade dos postos de trabalho hoje oferecidos no país e por cerca de 40% da massa salarial.
No final dos anos 90, a taxa de sobrevivência dessas empresas em até dois anos de existência era inferior a 35%. Hoje ultrapassa os 75%, graças ao apoio decisivo do sistema S, por meio da orientação, da consultoria e do apoio à inovação e agregação de valor aos produtos. Elas são a garantia da geração de emprego e renda e, consequentemente, protagonistas do crescimento.
Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, os arranjos produtivos de moda íntima e moda praia e de rochas ornamentais foram iniciativas da FIRJAN e do SEBRAE/RJ. Os escritórios regionais dessas duas grandes organizações orientam os empresários, oferecem alternativas para o crescimento de suas empresas, apóiam as prefeituras na elaboração de planos de desenvolvimento, contribuem para melhoria da competitividade e ainda abrem as portas para novas oportunidades de negócios, tanto no plano nacional, como no internacional.
Em 2014 o SENAI alcançou a marca de 3,7 milhões de matrículas em cursos de formação profissional, nas mais diversas modalidades, utilizando-se de suas instalações, de unidades móveis e remotas, ou ainda de cursos a distância. Todos eles poderão ser reduzidos em 40% em função dos cortes.
Por outro lado, o nosso ensino ainda se situa bem abaixo dos níveis de qualidade recomendados pelas avaliações internacionais. A consequência prática do desempenho medíocre observado é o baixo rendimento dos egressos do ensino médio quando chegam aos seus empregos. Por isso, o SESI, criou um sistema de ensino que vem incrementando a qualidade do ensino em nosso país. Assim, a Firjan lançou em 2012 o Programa SESI-FIRJAN Matemática, que visa a melhoria do ensino dessa disciplina entre os estudantes do ensino médio do Estado.
No momento em que se tem como certa a redução do PRONATEC, o SENAI e as outras organizações do sistema S tornam-se preciosidades para o desenvolvimento do setor produtivo, sem o qual não haverá crescimento econômico e da indústria e melhoria do padrão de vida da população, que são os paradigmas perseguidos pela nossa sociedade.
Alem disso, com o foco na tecnologia, e visando ampliar a capacidade de inovação das indústrias, a CNI criou 26 institutos de inovação e 61 de tecnologia em todo o país, em áreas onde a carência é significativa.
Um dos mais importantes valores de uma nação está na indústria. Sem ela, o país não sobreviverá na sociedade do conhecimento.. Ela, para mim, representa a jóia da coroa que não pode ser perdida.
Por pensar dessa forma, confesso que fiquei bastante assustado com o encaminhamento da proposta do Ministério da Fazenda de cortar parte apreciável dos recursos do “Sistema S”, inviabilizando muitos de seus projetos, que considero decisivos para o crescimento sustentável do país.
A educação profissional e tecnológica e a inovação são parâmetros que determinam o êxito das empresas na sua constante busca pela competitividade.
Mais de 95% dos nossos empreendimentos nacionais são micro e pequenas empresas, que dependem do apoio de organizações como o SEBRAE e as Federações das Indústrias.
Micro e pequenas empresas são responsáveis por mais da metade dos postos de trabalho hoje oferecidos no país e por cerca de 40% da massa salarial.
No final dos anos 90, a taxa de sobrevivência dessas empresas em até dois anos de existência era inferior a 35%. Hoje ultrapassa os 75%, graças ao apoio decisivo do sistema S, por meio da orientação, da consultoria e do apoio à inovação e agregação de valor aos produtos. Elas são a garantia da geração de emprego e renda e, consequentemente, protagonistas do crescimento.
Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, os arranjos produtivos de moda íntima e moda praia e de rochas ornamentais foram iniciativas da FIRJAN e do SEBRAE/RJ. Os escritórios regionais dessas duas grandes organizações orientam os empresários, oferecem alternativas para o crescimento de suas empresas, apóiam as prefeituras na elaboração de planos de desenvolvimento, contribuem para melhoria da competitividade e ainda abrem as portas para novas oportunidades de negócios, tanto no plano nacional, como no internacional.
Em 2014 o SENAI alcançou a marca de 3,7 milhões de matrículas em cursos de formação profissional, nas mais diversas modalidades, utilizando-se de suas instalações, de unidades móveis e remotas, ou ainda de cursos a distância. Todos eles poderão ser reduzidos em 40% em função dos cortes.
Por outro lado, o nosso ensino ainda se situa bem abaixo dos níveis de qualidade recomendados pelas avaliações internacionais. A consequência prática do desempenho medíocre observado é o baixo rendimento dos egressos do ensino médio quando chegam aos seus empregos. Por isso, o SESI, criou um sistema de ensino que vem incrementando a qualidade do ensino em nosso país. Assim, a Firjan lançou em 2012 o Programa SESI-FIRJAN Matemática, que visa a melhoria do ensino dessa disciplina entre os estudantes do ensino médio do Estado.
No momento em que se tem como certa a redução do PRONATEC, o SENAI e as outras organizações do sistema S tornam-se preciosidades para o desenvolvimento do setor produtivo, sem o qual não haverá crescimento econômico e da indústria e melhoria do padrão de vida da população, que são os paradigmas perseguidos pela nossa sociedade.
Alem disso, com o foco na tecnologia, e visando ampliar a capacidade de inovação das indústrias, a CNI criou 26 institutos de inovação e 61 de tecnologia em todo o país, em áreas onde a carência é significativa.
Um dos mais importantes valores de uma nação está na indústria. Sem ela, o país não sobreviverá na sociedade do conhecimento.. Ela, para mim, representa a jóia da coroa que não pode ser perdida.
Ineficiência descarada
Dizem que vão usar a verba do sistema S. Ora, meu Deus do céu! R$ 1 do sistema S produz infinitamente mais do que R$ 1 na mão do governo. Alguém duvida de que o governo é ineficiente?Delfim Netto
Eleição com comécio: preço zero das campanhas
Você, que é jovem, tornou-se gente já sob o império das tele: televisão, telefax, telex, teletipo, teleprompter, telemarketing; não conheceu a propaganda eleitoral feita com comícios.
A voo de pássaro, este artigo pretende contar-lhe como era a luta pela conquista do voto. Para banhar em poesia, imagine uma cidade aí duns 30 mil habitantes, com sua praça principal ocupada pela igreja matriz, o cinema, o grande jardim público, belo arvoredo, local onde o povo se reúne sempre que houver celebração que o atraia.
Era nesse local que se montavam o palanque e o sistema de som, fixadas a data e a hora para apresentação dos candidatos aos cargos eletivos locais, estaduais ou federais. A cidade já estava a par da reunião; boletins tinham conclamado o comparecimento das pessoas para a grande festa da sexta-feira, às 20h, em geral com a presença dos candidatos, que discursariam com ardor.
A voo de pássaro, este artigo pretende contar-lhe como era a luta pela conquista do voto. Para banhar em poesia, imagine uma cidade aí duns 30 mil habitantes, com sua praça principal ocupada pela igreja matriz, o cinema, o grande jardim público, belo arvoredo, local onde o povo se reúne sempre que houver celebração que o atraia.
Era nesse local que se montavam o palanque e o sistema de som, fixadas a data e a hora para apresentação dos candidatos aos cargos eletivos locais, estaduais ou federais. A cidade já estava a par da reunião; boletins tinham conclamado o comparecimento das pessoas para a grande festa da sexta-feira, às 20h, em geral com a presença dos candidatos, que discursariam com ardor.
Comício também era em cima de caminhão nos anos 1'960 |
Naquela época, a oratória era prestigiado meio de comunicação nos parlamentos, nos comícios, por toda parte, e a plateia estava sempre engatilhada para aplaudir certos lances das falas, para reforçar o vigor do falante e para aprovar seu particular fraseado.
Havia encarregados para iniciar essa interrupção e mostra leal ou fingida de arrebatamento dos ouvintes. Frases feitas de uso corrente eram “já ganhou, já ganhou”, “viva fulano de tal”. De pé, espremidos como um mandruvá, os ouvintes vinham de bairros afastados e por vezes de distritos longínquos, trazidos e depois levados por veículos de chefes políticos, que apostavam sempre na obtenção do maior número de presentes na assembleia.
Havia o candidato que, sendo orador retumbante e dono de frases de efeito, no comício lascava seu verbo, com estrondosas metáforas e vagas promessas de um tempo melhor, sendo raro que prometesse coisas concretas. A atmosfera política sugeria mais defesa de liberdade, direitos individuais, repulsa a governo autocrático. Nesse particular e nessa linha, são memoráveis os pronunciamentos dos candidatos da UDN, que era antes uma aglomerado de intelectuais profissionais.
Os candidatos do PSD e do PTB, dois fortes adversários da UDN, eram pragmáticos; em lugar de soltar ditirambos e prosopopeias, prometiam benefícios concretos, nomeavam obras que o povo sabia necessárias e jamais transmitiam a impressão de se sentirem um dedo acima do valor dos ouvintes.
Raramente havia confusão ou briga em comício. A polícia estava adrede informada da reunião, local, horário, e pronta para agir.
Dá para você ver que tudo era ao vivo, real, sem pomada e sem retoque, ombro a ombro, contato direto e quente de candidato com a massa, baixíssimo custo na campanha eleitoral, nós, eleitores, jamais tínhamos que pagar para ver e ouvir mentiras coloridas na tela que pode projetar como santinho um diabo afuleimado. Santo ou diabo, era cara a cara.
Havia encarregados para iniciar essa interrupção e mostra leal ou fingida de arrebatamento dos ouvintes. Frases feitas de uso corrente eram “já ganhou, já ganhou”, “viva fulano de tal”. De pé, espremidos como um mandruvá, os ouvintes vinham de bairros afastados e por vezes de distritos longínquos, trazidos e depois levados por veículos de chefes políticos, que apostavam sempre na obtenção do maior número de presentes na assembleia.
Havia o candidato que, sendo orador retumbante e dono de frases de efeito, no comício lascava seu verbo, com estrondosas metáforas e vagas promessas de um tempo melhor, sendo raro que prometesse coisas concretas. A atmosfera política sugeria mais defesa de liberdade, direitos individuais, repulsa a governo autocrático. Nesse particular e nessa linha, são memoráveis os pronunciamentos dos candidatos da UDN, que era antes uma aglomerado de intelectuais profissionais.
Os candidatos do PSD e do PTB, dois fortes adversários da UDN, eram pragmáticos; em lugar de soltar ditirambos e prosopopeias, prometiam benefícios concretos, nomeavam obras que o povo sabia necessárias e jamais transmitiam a impressão de se sentirem um dedo acima do valor dos ouvintes.
Raramente havia confusão ou briga em comício. A polícia estava adrede informada da reunião, local, horário, e pronta para agir.
Dá para você ver que tudo era ao vivo, real, sem pomada e sem retoque, ombro a ombro, contato direto e quente de candidato com a massa, baixíssimo custo na campanha eleitoral, nós, eleitores, jamais tínhamos que pagar para ver e ouvir mentiras coloridas na tela que pode projetar como santinho um diabo afuleimado. Santo ou diabo, era cara a cara.
O que Lula não tem
Exemplo: quanto não deve excitar Lula a proximidade da sombra da Lava Jato?
As informações reunidas pelo juiz Sérgio Moro comprometem Lula com o que começou de fato a acontecer durante o seu segundo governo. Era preciso pagar dívidas da campanha de 2006. A saída? Roubar a Petrobras.
Lula é um sobrevivente (cuidado com sobreviventes. Acham-se capazes de tudo).
Sobreviveu à seca no Nordeste, à miséria em São Paulo, aos riscos da vida sindical na ditadura de 64, e a três derrotas seguidas para presidente.
O candidato antes favorável à limitação do direito de propriedade privada, ao aborto e à estatização dos bancos, virou o Lulinha Paz e Amor e, afinal, elegeu-se.
Um dos segredos do seu sucesso: a falta de princípios. Poderia repetir a sério o que o comediante norte-americano Groucho Marx afirmou fazendo graça: “Esses são meus princípios. Mas se você não gosta deles, tenho outros”.
Lula por ele: “Sou uma metamorfose ambulante”. Lula por Hélio Bicudo, fundador do PT: “Ele só está em busca de vantagem para ele e para sua família”.
Lula por ele: “Sou uma metamorfose ambulante”. Lula por Hélio Bicudo, fundador do PT: “Ele só está em busca de vantagem para ele e para sua família”.
Indecorosa atitude! Um pedido de impeachment que respeite os preceitos legais deve ser mandado adiante. O presidente da Câmara exorbitaria dos seus poderes se o retivesse.
Se sabe disso, Lula não se importa. No seu primeiro governo, telefonou para José Viegas, Ministro da Defesa, intercedendo pelo advogado Roberto Teixeira. Havia morado de graça em um apartamento dele em São Bernardo.
Pediu a Viegas para facilitar a vida de Teixeira, interessado nos espaços ocupados pela massa falida da Transbrasil em aeroportos país a fora. Um ótimo negócio.
A Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT condenado no caso do mensalão, Lula pedia para esconder acesa a cigarrilha que fumava quando era alvo de fotógrafos.
Ao senador que o procurou em 2006 dizendo que Marcos Valério, operador do mensalão, queria dinheiro para ficar calado, Lula limitou-se a perguntar: “Você procurou Okamotto?” Paulo Okamotto, hoje, preside o Instituto Lula.
Valério jamais abriu a boca. Quando tentou era tarde. Pegou 40 anos de cadeia.
Lula escapou depois de se dizer traído pelos mensaleiros e entregar a cabeça de José Dirceu.
Nega-se a admitir que o mensalão existiu. Mas pediu o voto de quatro ministros do Supremo Tribunal Federal em favor dos mensaleiros. Um dos ministros: Gilmar Mendes.
O mesmo que assistiu, certa vez, a uma cena inesquecível. Estava na antessala do gabinete de Lula, no Palácio do Planalto, quando o viu sair acompanhado de José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras.
“Veja só, Gilmar. Um Procurador da Fazenda, no Rio, está chantageando a Petrobras”, narrou Lula. “Eu falei pro Gabrielli: Por que você não manda grampear ele?” Grampo é crime.
Lula não vê nada de mais em ter informado ao Exército, ao completar 18 anos, que media dois centímetros a mais do que media. Não se conforma em ter menos de um metro e setenta.
Nem vê nada demais no fato do seu filho mais velho ter enriquecido enquanto ele presidia o país.
Lula considera natural ter enriquecido prestando serviços a empresários, e de nessa condição aspirar a um novo mandato de presidente.
Ilegal não seria. Seria simplesmente imoral.
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