sábado, 6 de agosto de 2016
Depois da festa
Começaram ontem os primeiros Jogos Olímpicos realizados em solo brasileiro. É uma grande honra para o País receber esse evento extraordinário, que mobiliza bilhões de espectadores e lança sobre a sede as atenções do mundo inteiro. Para os atletas e os turistas que participarem dessa que é a maior festa do esporte, certamente a experiência será inesquecível e, provavelmente, sem grandes incidentes, porque a organização das competições, a cargo de experientes entidades privadas, costuma ser impecável. Contudo, para os brasileiros, que daqui não sairão ao final da Olimpíada e terão de conviver com os problemas de sempre, o chamado “legado” dos Jogos é obviamente muito mais importante do que as pouco mais de duas semanas de disputa e confraternização. E a realidade é que, como de hábito, se prometeu muito mais do que o País será capaz de entregar.
Já no discurso em que defendeu a candidatura do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada, em outubro de 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou esse “legado” e bradou: “Chegou a nossa hora. Chegou!”. Como sempre, o petista não perdeu a chance de explorar a ocasião para fazer propaganda de seu governo e acabou por vincular uma coisa à outra: se o Rio fosse escolhido para receber os Jogos, tanto a realização da competição como as obras de infraestrutura e de mobilidade seriam, antes de tudo, conquistas pessoais de Lula.
Desde o nascedouro desse projeto ambicioso, portanto, os petistas e seus associados tentaram criar um vínculo da Olimpíada do Rio de Janeiro com Lula, como se a escolha da cidade brasileira fosse o reconhecimento mundial da revolução social e econômica que o ex-sindicalista pensava estar liderando no País. E, claro, seria a chance desse “novo” Brasil de provar que, sob a liderança do petista, poderia desafiar os incrédulos: “Os que pensam que o Brasil não tem condições de receber os Jogos vão se surpreender”, discursou Lula após a escolha do Rio. “Finalmente o mundo reconheceu a hora e a vez do Brasil.”
Como hoje os brasileiros começam a perceber, da maneira mais traumática possível, a revolução prometida por Lula estava assentada em grossa corrupção e em incompetência cavalar. As promessas revelaram-se embustes. A arrogância deu lugar à vergonha. Assim, a alegria proporcionada pela escolha do Rio como sede olímpica converteu-se rapidamente em receio de ver o País ser motivo de vergonha planetária.
Razões não faltaram, a começar pela poluição da Baía de Guanabara e pela epidemia de zika, para citar apenas dois dos maiores focos da imprensa estrangeira na cobertura da preparação do Rio para a Olimpíada. As obras destinadas às competições ficaram prontas a tempo, mas isso só aconteceu porque o Comitê Olímpico Internacional, quando percebeu que era real o risco de atraso, mandou para o Rio um interventor, responsável por coordenar os projetos. Ademais, os grandes investimentos prometidos por Lula e companhia para transformar o Brasil em potência olímpica não passaram de lorota.
Tudo isso, somado à imensa crise econômica, política e moral que o País atravessa, acabou por fazer da Olimpíada não um sonho, mas um estorvo. Não foram poucos os correspondentes estrangeiros que se surpreenderam com o clima de pessimismo e desalento dos brasileiros às vésperas dos Jogos, algo nunca visto em outras edições da competição.
Mas eis que, enfim, chegou a hora da Olimpíada e muito provavelmente o clima de prostração dos brasileiros dará lugar, ao menos momentaneamente, a um genuíno interesse pelo evento em si e pela festa proporcionada pela vinda dos maiores atletas do mundo ao Brasil. Passado esse momento, porém, teremos de voltar de imediato ao doloroso exame de nossas mazelas, e muito provavelmente concluiremos que a Olimpíada pode ter feito algum bem para o Rio de Janeiro, mas pouco significado teve para o Brasil. A menos que se considere positiva a comprovação de que algumas autoridades cultivam como qualidades a demagogia e o improviso.
Já no discurso em que defendeu a candidatura do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada, em outubro de 2009, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva mencionou esse “legado” e bradou: “Chegou a nossa hora. Chegou!”. Como sempre, o petista não perdeu a chance de explorar a ocasião para fazer propaganda de seu governo e acabou por vincular uma coisa à outra: se o Rio fosse escolhido para receber os Jogos, tanto a realização da competição como as obras de infraestrutura e de mobilidade seriam, antes de tudo, conquistas pessoais de Lula.
Como hoje os brasileiros começam a perceber, da maneira mais traumática possível, a revolução prometida por Lula estava assentada em grossa corrupção e em incompetência cavalar. As promessas revelaram-se embustes. A arrogância deu lugar à vergonha. Assim, a alegria proporcionada pela escolha do Rio como sede olímpica converteu-se rapidamente em receio de ver o País ser motivo de vergonha planetária.
Razões não faltaram, a começar pela poluição da Baía de Guanabara e pela epidemia de zika, para citar apenas dois dos maiores focos da imprensa estrangeira na cobertura da preparação do Rio para a Olimpíada. As obras destinadas às competições ficaram prontas a tempo, mas isso só aconteceu porque o Comitê Olímpico Internacional, quando percebeu que era real o risco de atraso, mandou para o Rio um interventor, responsável por coordenar os projetos. Ademais, os grandes investimentos prometidos por Lula e companhia para transformar o Brasil em potência olímpica não passaram de lorota.
Tudo isso, somado à imensa crise econômica, política e moral que o País atravessa, acabou por fazer da Olimpíada não um sonho, mas um estorvo. Não foram poucos os correspondentes estrangeiros que se surpreenderam com o clima de pessimismo e desalento dos brasileiros às vésperas dos Jogos, algo nunca visto em outras edições da competição.
Mas eis que, enfim, chegou a hora da Olimpíada e muito provavelmente o clima de prostração dos brasileiros dará lugar, ao menos momentaneamente, a um genuíno interesse pelo evento em si e pela festa proporcionada pela vinda dos maiores atletas do mundo ao Brasil. Passado esse momento, porém, teremos de voltar de imediato ao doloroso exame de nossas mazelas, e muito provavelmente concluiremos que a Olimpíada pode ter feito algum bem para o Rio de Janeiro, mas pouco significado teve para o Brasil. A menos que se considere positiva a comprovação de que algumas autoridades cultivam como qualidades a demagogia e o improviso.
Propinas e melancias
Primeiro convidado a participar das audiências da comissão especial da Câmara que trata das medidas de combate à corrupção, o juiz Sérgio Moro abriu sua fala, anteontem, com uma constatação: até o momento, o Poder Judiciário “era uma voz sozinha no deserto” no enfrentamento a esse tipo de crime.
Com a instalação do colegiado que vai sistematizar as propostas entregues ao Congresso pelo Ministério Público, com o apoio de 2,2 milhões de pessoas, o Legislativo também começa a ser envolver, completou o juiz que conduz a Lava Jato.
“Nos perguntávamos: onde está o Congresso? Onde está o Executivo?”, continuou Moro.
Congresso e Executivo estavam onde sempre estiveram. Receosos de que a Lava Jato chegasse aonde chegou, começaram a urdir planos para impedi-la de avançar. Talvez nenhuma operação da Justiça, Ministério Público e Polícia Federal tenha ido tão longe quanto foi a Lava Jato. E talvez nenhuma operação tenha sofrido tamanho combate político quanto a Lava Jato.
Mesmo com todos os problemas, a Lava Jato chegou aonde chegou. O resultado é o que todo o Brasil e o mundo conhecem: boa parte dos grandes empresários, dirigentes partidários, ex-presidentes da República, senadores, deputados e governadores foi apanhada por envolvimento no maior esquema de corrupção e desvio de dinheiro de uma estatal já descoberto no País.
Moro declarou na audiência que o que mais o “perturbou” na condução da Lava Jato foi a “naturalidade” com que os envolvidos admitiam receber ou pagar propina. Tal naturalidade, acrescentou Moro, levou os condenados na operação a admitir que participavam do esquema de desvio de verbas porque fazia parte da “regra do jogo”.
Essa regra do jogo é difícil de mudar. Durante sua participação na audiência da comissão que trata dos projetos anticorrupção, Moro foi atacado pelo deputado Wadih Damous (PT-RJ), um dos mais ferozes críticos da Lava Jato. Para ele, o juiz defende projetos que cheiram a fascismo. A direção do PT acha que Sérgio Moro, juntamente com parte do Ministério Público, da Polícia Federal e dos meios de comunicação participam de um conluio para destruir o estado democrático de direito, desmoralizar o partido e criminalizar de tal forma o ex-presidente Lula que o impeça de ser candidato a presidente da República em 2018.
Do ponto de vista da luta política, trata-se de um argumento com força para animar a militância. Principalmente quando o PT está em vias de ver afundar seu projeto de poder com o impeachment de Dilma Rousseff.
Mas, no partido, há os que acham, sinceramente, que o juiz Sérgio Moro é um agente da CIA, a agência de inteligência norte-americana, e sua missão, depois de ajudar a destruir o PT, é entregar o petróleo do pré-sal aos Estados Unidos. Mesmo na mais aguda teoria da conspiração, impossível crer em tal bobagem.
Moro falou que a naturalidade com que os envolvidos admitiam receber ou pagar propina foi o que mais o assustou na Operação Lava Jato. Essa naturalidade às vezes assusta de fato quando revelada. Na Lava Jato, a naturalidade era a propina. Na política, é o patrimonialismo descarado.
Mesmo quem convive com o dia a dia da política não pode deixar de se surpreender com o que confessou o senador Hélio José (PMDB-DF), que se declarou “dono” da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), um órgão do Ministério do Planejamento, conforme gravação que circula na internet e se tornou notícia: “Isso aqui é nosso. Isso aqui eu ponho quem eu quiser, a melancia que eu quiser aqui, eu vou colocar”. Outro trecho: “A partir de hoje, a SPU é responsabilidade minha, do senador Hélio José, gabinete 19 da (Ala) Teotônio Vilela”.
Do presidente em exercício Michel Temer, que, tudo indica, se tornará efetivo, espera-se que apoie as ações de combate à corrupção. E que demita a melancia.
Com a instalação do colegiado que vai sistematizar as propostas entregues ao Congresso pelo Ministério Público, com o apoio de 2,2 milhões de pessoas, o Legislativo também começa a ser envolver, completou o juiz que conduz a Lava Jato.
“Nos perguntávamos: onde está o Congresso? Onde está o Executivo?”, continuou Moro.
Congresso e Executivo estavam onde sempre estiveram. Receosos de que a Lava Jato chegasse aonde chegou, começaram a urdir planos para impedi-la de avançar. Talvez nenhuma operação da Justiça, Ministério Público e Polícia Federal tenha ido tão longe quanto foi a Lava Jato. E talvez nenhuma operação tenha sofrido tamanho combate político quanto a Lava Jato.
Moro declarou na audiência que o que mais o “perturbou” na condução da Lava Jato foi a “naturalidade” com que os envolvidos admitiam receber ou pagar propina. Tal naturalidade, acrescentou Moro, levou os condenados na operação a admitir que participavam do esquema de desvio de verbas porque fazia parte da “regra do jogo”.
Essa regra do jogo é difícil de mudar. Durante sua participação na audiência da comissão que trata dos projetos anticorrupção, Moro foi atacado pelo deputado Wadih Damous (PT-RJ), um dos mais ferozes críticos da Lava Jato. Para ele, o juiz defende projetos que cheiram a fascismo. A direção do PT acha que Sérgio Moro, juntamente com parte do Ministério Público, da Polícia Federal e dos meios de comunicação participam de um conluio para destruir o estado democrático de direito, desmoralizar o partido e criminalizar de tal forma o ex-presidente Lula que o impeça de ser candidato a presidente da República em 2018.
Do ponto de vista da luta política, trata-se de um argumento com força para animar a militância. Principalmente quando o PT está em vias de ver afundar seu projeto de poder com o impeachment de Dilma Rousseff.
Mas, no partido, há os que acham, sinceramente, que o juiz Sérgio Moro é um agente da CIA, a agência de inteligência norte-americana, e sua missão, depois de ajudar a destruir o PT, é entregar o petróleo do pré-sal aos Estados Unidos. Mesmo na mais aguda teoria da conspiração, impossível crer em tal bobagem.
Moro falou que a naturalidade com que os envolvidos admitiam receber ou pagar propina foi o que mais o assustou na Operação Lava Jato. Essa naturalidade às vezes assusta de fato quando revelada. Na Lava Jato, a naturalidade era a propina. Na política, é o patrimonialismo descarado.
Mesmo quem convive com o dia a dia da política não pode deixar de se surpreender com o que confessou o senador Hélio José (PMDB-DF), que se declarou “dono” da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), um órgão do Ministério do Planejamento, conforme gravação que circula na internet e se tornou notícia: “Isso aqui é nosso. Isso aqui eu ponho quem eu quiser, a melancia que eu quiser aqui, eu vou colocar”. Outro trecho: “A partir de hoje, a SPU é responsabilidade minha, do senador Hélio José, gabinete 19 da (Ala) Teotônio Vilela”.
Do presidente em exercício Michel Temer, que, tudo indica, se tornará efetivo, espera-se que apoie as ações de combate à corrupção. E que demita a melancia.
Agora imagina !!!
Fico a imaginar a reação do PT, da CUT, da escumalha “cultural” do Brasil e dos acólitos do petismo se a pilhagem do Ex-Ministro e Sr. Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo fosse num governo não-petista. As turbas enfurecidas estariam nas ruas rasgando-se em berros, gritando fora isto, fora aquilo, 24 horas por dia. Paulo Bernardo, marido de Gleisi Hoffmann, é tido como chefe de um esquema que lesou tomadores de empréstimos consignados (principalmente aposentados) em mais de 100 milhões de reais. Já pensou como seria se o roubo tivesse sido praticado num governo qualquer que não o deles?
O que aconteceria se os escândalos do Mensalão e do Petrolão tivessem ocorrido em uma gestão que não a petista? Alguém consegue imaginar Letícia Sabatella, Duvivier, Caetano, Chico Buarque e outros “artistas de oportunidade” diante de tal fenômeno? Canções teriam sido compostas, festivais de protesto teriam acontecido, protestos iriam acontecer até na frente de hospitais com direito a Olodum. Mas os fenômenos mencionados aconteceram nos governos do PT, de um governo que, estivesse Cazuza vivo, o chamaria do governo onde “os meus amigos estão no poder”.
Falando em Petrolão, meu Jesus Cristinho, alguém consegue imaginar o que teria acontecido no Brasil caso um governo não-petista tivesse liquidado com a maior empresa brasileira, uma das maiores petroleiras do mundo? Imagine a “piorra” que teria virado este país se as pessoas soubessem que a Petrobras se tornou quase uma massa falida por causa da roubalheira de gestores ligados ao partido XYZ, se as pessoas e a imprensa descobrissem que a 10ª maior empresa do mundo hoje está quase na 500ª posição e que ela teria uma dívida de quase meio trilhão de reais? E o que diriam as pessoas, não fosse num governo petista, se soubessem que o ex-presidente e seu partido se beneficiaram amplamente de dinheiro sujo oriundo de um sistema de propinas hoje considerado como o maior desvio de dinheiro público da história da humanidade?
Pois é. Nós temos enorme paciência com o PT. Paciência e tolerância em excesso. Permitimos que o partido de Toninho e de Celso Daniel avançasse muito nos alforjes nacionais. Fomos lenientes, covardes, medrosos e o PT quase que nos toma o país inteiro.
Agora, por fim, imaginem se fossem pegos numa ligação telefônica um ex-presidente e a então atual presidente em plena conspiração para se livrarem de uma enorme investigação policial. O que faria o povo vermelho se estivesse sido flagrado, numa ligação telefônica, FHC, por exemplo, tentando livrar Aécio da cadeia através de uma nomeação ministerial fraudulenta? Conseguem imaginar? Pois eu também.
Eis um exercício muito bom de ser feito, todo o santo dia. Ele deixa a gente furibundo, irritado, mas é importante que a gente faça. Temos de nos livrar urgentemente desta miséria econômica, moral e ética que nos tornamos. A ordem é sair desta e para ela não voltar mais. A dica é simples: pegue o noticiário e leia a notícia como se o ocorrido fosse num governo não petista. Inverta nomes e partidos e o resultado será impressionante. Daí vai ser fácil entender que o discurso não é de ódio. É de raiva mesmo. Ah, se é!!
Falando em Petrolão, meu Jesus Cristinho, alguém consegue imaginar o que teria acontecido no Brasil caso um governo não-petista tivesse liquidado com a maior empresa brasileira, uma das maiores petroleiras do mundo? Imagine a “piorra” que teria virado este país se as pessoas soubessem que a Petrobras se tornou quase uma massa falida por causa da roubalheira de gestores ligados ao partido XYZ, se as pessoas e a imprensa descobrissem que a 10ª maior empresa do mundo hoje está quase na 500ª posição e que ela teria uma dívida de quase meio trilhão de reais? E o que diriam as pessoas, não fosse num governo petista, se soubessem que o ex-presidente e seu partido se beneficiaram amplamente de dinheiro sujo oriundo de um sistema de propinas hoje considerado como o maior desvio de dinheiro público da história da humanidade?
Pois é. Nós temos enorme paciência com o PT. Paciência e tolerância em excesso. Permitimos que o partido de Toninho e de Celso Daniel avançasse muito nos alforjes nacionais. Fomos lenientes, covardes, medrosos e o PT quase que nos toma o país inteiro.
Agora, por fim, imaginem se fossem pegos numa ligação telefônica um ex-presidente e a então atual presidente em plena conspiração para se livrarem de uma enorme investigação policial. O que faria o povo vermelho se estivesse sido flagrado, numa ligação telefônica, FHC, por exemplo, tentando livrar Aécio da cadeia através de uma nomeação ministerial fraudulenta? Conseguem imaginar? Pois eu também.
Eis um exercício muito bom de ser feito, todo o santo dia. Ele deixa a gente furibundo, irritado, mas é importante que a gente faça. Temos de nos livrar urgentemente desta miséria econômica, moral e ética que nos tornamos. A ordem é sair desta e para ela não voltar mais. A dica é simples: pegue o noticiário e leia a notícia como se o ocorrido fosse num governo não petista. Inverta nomes e partidos e o resultado será impressionante. Daí vai ser fácil entender que o discurso não é de ódio. É de raiva mesmo. Ah, se é!!
A raça da mediocridade
O enorme Leviatã, que é a humanidade dos medíocres, ostenta o seu vasto traseiro, tão pesado que quase não pode se mexer; quando a ponta da bota o atinge, ressalta com um ruído surdo. Às vezes, quando os pontapés são mais violentos e melhor dirigidos que habitualmente, o monstro se mexe ligeiramente. São essas modificações que, de há uma centena de anos para cá, o bom-tom convencionou denominar: progresso
Aldous Huxley
O ex-presidente Lula e o triste fim de Policarpo Quaresma
Desde que o ex-presidente Lula assumiu o mais alto cargo da hierarquia brasileira e, em consequência, ficou muito mais visível do que antes, seu narcisismo congênito se mostrou em tonalidade muito mais forte. Vencido por incontrolável vaidade, patenteou-se a pretensão de mostrar-se como o melhor governante que dirigiu o Brasil através dos tempos.
Atacado por impiedosa frivolidade, não poupou autoelogios e, assim, passou a utilizar qualquer oportunidade para externar o elevado conceito que faz de si mesmo, notadamente na condição de chefe de Estado acumulada com a de chefe do governo, com a qual o regime presidencialista costuma premiar o detentor das funções presidenciais.
Parecia que uma energia estranha e irrefreável o movia na autoglorificação, como se fora algo doentio. Foi por esse tempo, já um tanto distante, que suas hipérboles foram consolidando o conceito que passei a fazer do então presidente, acendendo-me a desconfiança, cada vez mais sólida, da sua peculiar personalidade.
O fato mais curioso extraído de meu senso crítico foi a vinculação do chefe do governo com o personagem do grande escritor mulato Lima Barreto, desde então famoso, com o nome de Policarpo Quaresma, ao qual coube um triste fim.
Vejamos quem era o curioso protagonista do romance do escritor carioca e sua trajetória. Patriota era sua qualificação mais vigorosa. Portador de um patriotismo exaltado aos que o conheciam, não obstante fosse alvo de respeito dos vizinhos, causou estranheza o excesso de amor à pátria; como se esse traço não bastasse, cismou nosso bravo herói com o violão que não sabia tocar. Para afastar a frustração, contratou Ricardo Coração dos Outros para ensinar-lhe o instrumento, que logo aprendeu. Além de exímio instrumentista, também estudava e conhecia o tupi-guarani, sob o argumento de que tal língua era a melhor e mais radical expressão de um Brasil bem brasileiro.
Na segunda parte do livro, tem uma experiência na agricultura: compra um sítio no Nordeste, dá-lhe o nome de Sossego, mas não dá certo: a terra, que Policarpo, nacionalista de escol, considerava a melhor do país, era um fracasso; os contratempos se tornaram tantos que, desanimado, pensou numa reforma agrária, porém muito aquém de seus desejos de progresso para o Brasil.
Na terceira parte, Policarpo volta para o Rio, se envolve com Floriano Peixoto e mete-se na revolta listado de major. Termina esta, e o então oficial inexplicavelmente é levado para a prisão. Inconsolável, Quaresma não compreende o que fizeram, logo a ele, patriota de todas as horas. É quando Olga, sua sobrinha, vai visitá-lo. Ao chegar e ouvir que o padrinho é um traidor, decide que o melhor é deixá-lo morrer com seu orgulho, como um herói.
Lima Barreto para por aí e transfere a morte do personagem à imaginação do leitor. E daí, é de inquirir qual a ligação entre Lula e o grande herói. Nenhuma, exceto que Policarpo vestiria a mortalha por sua pátria e, se vivo fosse, lutaria até a última gota de sangue de inocente para desbaratar a formidável gangue formada por empreiteiros, partidos políticos, parlamentares e governo para dilapidar a Petrobras e muitas outras empresas públicas e saciar os donos de um poder ilegal e ilegítimo, porque são bens do povo.
E Lula? Na melhor hipótese, refugia-se na omissão, enquanto a nação arde em fogo diante dos bilhões abocanhados. Mas ainda há juízes no Brasil do quilate de Sergio Moro, capazes, altaneiros e independentes, de julgar e punir com justiça.
As senzalas do mundo civilizado
Dia desses, contemplando a movimentação dos navios de carga que chegam e saem do porto de Vitória, fiquei a pensar no quão importante é o transporte de mercadorias. Está ali, nas costas daquelas imensas embarcações, o coração da talvez mais importante atividade humana: o comércio.
A tamanha importância deveria corresponder igual preocupação com a segurança - daí minha surpresa ao descobrir que a cada 4,6 dias um daqueles imponentes navios afunda em algum lugar deste planeta. Mais de um por semana!
Parece incrível, mas para que o comércio mundial funcione razoavelmente bem quase três marinheiros perdem a vida a cada dia só por conta desses naufrágios - em 2012, por exemplo, foram 981 mortes.
Mas, pensando bem, mais incrível ainda é que ninguém fala nisso. Se, para fins de comparação, a cada cinco dias caísse um avião de passageiros carregando crianças para férias na Disney, matando umas quinze delas, acredito que a segurança dos aviões seria alvo de inquéritos, estudos, denúncias, protestos, ocupações e tudo o mais.
Como, no entanto, estamos a falar de pobres marinheiros se afogando por conta de navios claramente inadequados para os rigores dos oceanos, tudo acaba resumido a estatísticas, e não se fala mais nisso.
Há também o caso dos mineiros. São eles os responsáveis finais pela extração de minérios os mais preciosos e indispensáveis ao bem-estar de toda a população. Imaginem, por um instante que seja, um mundo com escassez de carvão, de cobre etc.
Não seria demais imaginar que tão importante atividade fosse cercada dos devidos cuidados, em respeito aos profissionais que passam suas vidas percorrendo buracos cada vez mais profundos.
Mas que nada! A cada ano morrem soterrados, pelo mundo afora, nada menos que doze mil mineiros. Isso dá uns 32 deles a cada dia. E, também aqui, ninguém fala sobre isso. Um escândalo dessas proporções acaba virando estatística, e fica tudo por isso mesmo.
Fico a pensar em uma pintura de Georges Rochegrosse magistralmente descrita pelo escritor português Albino Forjaz de Sampaio: "É um quadro que representa a vida. No primeiro plano muitas criaturas erguem o braço para chegar mais alto. Homens de casaca tão corretos como se fossem para um baile. Homens condecorados e homens banais, velhos e moços, misturam-se e empurram-se, disputando-se numa agonia pavorosa, num combate sem nome. Aquele monte é a ambição de subir na vida. Atrás, pela riba acima, numa escalada vertiginosa, aparece uma maré cheia de cabeças ululantes, estranguladas pela ambição, correndo, empurrando-se, pisando os que ficam. Todos daquela multidão ávida querem ser os primeiros. O lugar é disputado a soco, a murro, a dente. O caminho que leva ao triunfo é uma cena medonha que mais parece a fuga duma derrota".
E prossegue o escritor lusitano: "Não há trégua, não há descanso. Cada um vigia sempre o seu vizinho, espreita se ele cai, e tripudia, espreita se ele sobe, e inveja-o. Trava-se um combate em que o mais cruel, o mais forte, o mais canalha, é que triunfa. Nada de piedade nem de compaixão. Se não esmagares, serás esmagado. Não há tempo de olhar, nem de pensar sequer. Avançar seja como for, custe o que custar".
Não há necessidade de se ir a museu algum para olhar este quadro de Rochegrosse - basta pensar nos marinheiros, mineiros e tantos outros profissionais que, por conta do mundo como ele é, perdem a vida tentando ganhá-la.
Pedro Valls Feu Rosa
A tamanha importância deveria corresponder igual preocupação com a segurança - daí minha surpresa ao descobrir que a cada 4,6 dias um daqueles imponentes navios afunda em algum lugar deste planeta. Mais de um por semana!
Parece incrível, mas para que o comércio mundial funcione razoavelmente bem quase três marinheiros perdem a vida a cada dia só por conta desses naufrágios - em 2012, por exemplo, foram 981 mortes.
Como, no entanto, estamos a falar de pobres marinheiros se afogando por conta de navios claramente inadequados para os rigores dos oceanos, tudo acaba resumido a estatísticas, e não se fala mais nisso.
Há também o caso dos mineiros. São eles os responsáveis finais pela extração de minérios os mais preciosos e indispensáveis ao bem-estar de toda a população. Imaginem, por um instante que seja, um mundo com escassez de carvão, de cobre etc.
Não seria demais imaginar que tão importante atividade fosse cercada dos devidos cuidados, em respeito aos profissionais que passam suas vidas percorrendo buracos cada vez mais profundos.
Mas que nada! A cada ano morrem soterrados, pelo mundo afora, nada menos que doze mil mineiros. Isso dá uns 32 deles a cada dia. E, também aqui, ninguém fala sobre isso. Um escândalo dessas proporções acaba virando estatística, e fica tudo por isso mesmo.
Fico a pensar em uma pintura de Georges Rochegrosse magistralmente descrita pelo escritor português Albino Forjaz de Sampaio: "É um quadro que representa a vida. No primeiro plano muitas criaturas erguem o braço para chegar mais alto. Homens de casaca tão corretos como se fossem para um baile. Homens condecorados e homens banais, velhos e moços, misturam-se e empurram-se, disputando-se numa agonia pavorosa, num combate sem nome. Aquele monte é a ambição de subir na vida. Atrás, pela riba acima, numa escalada vertiginosa, aparece uma maré cheia de cabeças ululantes, estranguladas pela ambição, correndo, empurrando-se, pisando os que ficam. Todos daquela multidão ávida querem ser os primeiros. O lugar é disputado a soco, a murro, a dente. O caminho que leva ao triunfo é uma cena medonha que mais parece a fuga duma derrota".
E prossegue o escritor lusitano: "Não há trégua, não há descanso. Cada um vigia sempre o seu vizinho, espreita se ele cai, e tripudia, espreita se ele sobe, e inveja-o. Trava-se um combate em que o mais cruel, o mais forte, o mais canalha, é que triunfa. Nada de piedade nem de compaixão. Se não esmagares, serás esmagado. Não há tempo de olhar, nem de pensar sequer. Avançar seja como for, custe o que custar".
Não há necessidade de se ir a museu algum para olhar este quadro de Rochegrosse - basta pensar nos marinheiros, mineiros e tantos outros profissionais que, por conta do mundo como ele é, perdem a vida tentando ganhá-la.
Pedro Valls Feu Rosa
Medalha de ouro para empreiteiras
Com a Olimpíada, as vísceras e os vícios do Brasil estão expostos ao mundo inteiro: lentidão, falta de espírito prático, mau planejamento, gestão incompetente, mania de improviso e desperdício de dinheiro público. Mas nem sempre fomos assim. O país que construiu sua capital em três anos agora não consegue erguer uma vila em quatro sem precisar de reparos de última hora.
Brasília começou a ser construída em março de 1957 numa região totalmente deserta, sem água encanada, sem eletricidade, iluminação à base de gerador, a mais de mil quilômetros do Rio de Janeiro, máquinas e materiais transportados por caminhão em precárias estradas de terra (às vezes avião), chuvas diárias no mínimo quatro meses ao ano.
No dia da inauguração, 21 de abril de 1960, estavam prontos os principais palácios, com arquitetura sofisticada, o Congresso Nacional, a maioria dos ministérios, quase três mil apartamentos de alto padrão, um canal de TV, um lago artificial, 17 viadutos, duas escolas, um hospital, clubes, restaurantes, dois grandes hotéis, bancos, linha telefônica, aeroporto, 300 quilômetros de energia elétrica subterrânea. E, ao mesmo tempo, se organizou a mudança de parlamentares e milhares de funcionários públicos.
Quase 50 anos depois, em outubro de 2009, o Brasil foi escolhido para sediar a Olimpíada. As obras ficaram a cargo das construtoras mais experientes no país, equipadas com tecnologia de ponta e modernas máquinas de construção pesada, todos os materiais disponíveis, facilidade de transporte, dinheiro à vontade e sete anos de prazo para construir tudo.
Às vésperas do início dos Jogos, faltam acabamentos numa vila olímpica (quatro anos em obras) com 31 prédios comuns de 17 andares, um mercadinho e um refeitório. Inaugurou-se um velódromo (dois anos de obras) inacabado. A linha do metrô (seis anos de obras), com 16 quilômetros de extensão, não está pronta, apesar de o custo ter quase dobrado, de R$ 5 bilhões para quase R$ 10 bilhões.
Na Copa do Mundo não foi diferente. Além dos atrasos injustificáveis, os conselhos regionais de Engenharia e Agronomia constataram má qualidade no acabamento e falhas técnicas em estádios, aeroportos, meios de transporte. Sem falar das obras inacabadas e abandonadas, após bilhões de reais gastos.
É estarrecedora a quantidade de obras públicas mal planejadas e mal executadas no Brasil, descumprindo normas técnicas fundamentais. Os resultados são defeitos visíveis dias após a inauguração: rachaduras e infiltração em moradias do Minha Casa Minha Vida, buracos no Elevado do Joá, defeito na cobertura do Engenhão, rachaduras em asfalto com pouco tempo de uso, desabamento de ciclovia por falta de previsão do impacto das ondas, que já existiam ali muito antes da chegada de Estácio de Sá. Provavelmente, a qualidade das obras da Vila Olímpica também é ruim. Pior para quem for morar lá depois.
É uma estranha mistura de incompetência e esperteza. A má qualidade das obras se deve à incompetência e ao uso de materiais baratos, para se lucrar mais. O atraso nos prazos costuma ser deliberado para se embutirem nos contratos os famigerados aditivos que aumentam o valor final. A licitação e contratação costumam ser feitas por critérios mais políticos que técnicos.
Mas a responsabilidade cabe também ao poder público, que terceirizou a fiscalização a partir do Regime Diferenciado de Contratações, vigente desde 2011. A própria empreiteira que executa uma obra é responsável pelo projeto e pela fiscalização, uma tarefa que deveria ser feita pelo poder público ou entidades independentes.
Por essas e outras, a engenharia brasileira ganharia no máximo uma medalha de bronze numa Olimpíada de obras públicas. E lá no céu, Juscelino Kubitschek deve dar boas gargalhadas quando ouve Lula em sua egotrip dizer que foi o melhor presidente brasileiro de todos os tempos.
Jason Tércio
Brasília começou a ser construída em março de 1957 numa região totalmente deserta, sem água encanada, sem eletricidade, iluminação à base de gerador, a mais de mil quilômetros do Rio de Janeiro, máquinas e materiais transportados por caminhão em precárias estradas de terra (às vezes avião), chuvas diárias no mínimo quatro meses ao ano.
No dia da inauguração, 21 de abril de 1960, estavam prontos os principais palácios, com arquitetura sofisticada, o Congresso Nacional, a maioria dos ministérios, quase três mil apartamentos de alto padrão, um canal de TV, um lago artificial, 17 viadutos, duas escolas, um hospital, clubes, restaurantes, dois grandes hotéis, bancos, linha telefônica, aeroporto, 300 quilômetros de energia elétrica subterrânea. E, ao mesmo tempo, se organizou a mudança de parlamentares e milhares de funcionários públicos.
Às vésperas do início dos Jogos, faltam acabamentos numa vila olímpica (quatro anos em obras) com 31 prédios comuns de 17 andares, um mercadinho e um refeitório. Inaugurou-se um velódromo (dois anos de obras) inacabado. A linha do metrô (seis anos de obras), com 16 quilômetros de extensão, não está pronta, apesar de o custo ter quase dobrado, de R$ 5 bilhões para quase R$ 10 bilhões.
Na Copa do Mundo não foi diferente. Além dos atrasos injustificáveis, os conselhos regionais de Engenharia e Agronomia constataram má qualidade no acabamento e falhas técnicas em estádios, aeroportos, meios de transporte. Sem falar das obras inacabadas e abandonadas, após bilhões de reais gastos.
É estarrecedora a quantidade de obras públicas mal planejadas e mal executadas no Brasil, descumprindo normas técnicas fundamentais. Os resultados são defeitos visíveis dias após a inauguração: rachaduras e infiltração em moradias do Minha Casa Minha Vida, buracos no Elevado do Joá, defeito na cobertura do Engenhão, rachaduras em asfalto com pouco tempo de uso, desabamento de ciclovia por falta de previsão do impacto das ondas, que já existiam ali muito antes da chegada de Estácio de Sá. Provavelmente, a qualidade das obras da Vila Olímpica também é ruim. Pior para quem for morar lá depois.
É uma estranha mistura de incompetência e esperteza. A má qualidade das obras se deve à incompetência e ao uso de materiais baratos, para se lucrar mais. O atraso nos prazos costuma ser deliberado para se embutirem nos contratos os famigerados aditivos que aumentam o valor final. A licitação e contratação costumam ser feitas por critérios mais políticos que técnicos.
Mas a responsabilidade cabe também ao poder público, que terceirizou a fiscalização a partir do Regime Diferenciado de Contratações, vigente desde 2011. A própria empreiteira que executa uma obra é responsável pelo projeto e pela fiscalização, uma tarefa que deveria ser feita pelo poder público ou entidades independentes.
Por essas e outras, a engenharia brasileira ganharia no máximo uma medalha de bronze numa Olimpíada de obras públicas. E lá no céu, Juscelino Kubitschek deve dar boas gargalhadas quando ouve Lula em sua egotrip dizer que foi o melhor presidente brasileiro de todos os tempos.
Jason Tércio
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