segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O Brasil real e o 'da narrativa'

Ricardo Lewandowski é o Eduardo Cunha do Judiciário. Não que seja venal nem que tenha aquela atitude temerária do outro mas, no escurinho, anda sempre “tinindo nos cascos” para manipular regimentos e votações colegiadas para “amaciar” penas para meliantes e transformar alhos em bugalhos.

Esta semana deu um susto no Brasil quando emergiu dos mais reconditos bastidores da “narrativa do golpe” cheio de anotações e deu um tirombaço abaixo da linha d’água do “seu” próprio STF, guardião da Constituição, colocando-a – e a ele até segunda ordem – abaixo do regimento interno do Senado de Renan Calheiros e pondo a bandidagem política como um todo em festa.

Se os seus presididos aceitarem essa demissão virtual por “extinção de função” ou jogarem nas costas do Brasil o ônus do golpe que houve como querem os autores da “narrativa” do golpe que não houve, terá sido o fim final da batalha épica para fazer a lei e a segurança jurídica imperarem um dia no Brasil.

Esperemos que não o façam. Se alguém tem de ficar desmoralizado porque não ha como sair da encalacrada sem isso que não sejam o STF, a Constituição e o Brasil. Quem pariu Mateus que o embale…

No mais, vamos perdidos, como sempre, no vácuo entre o Brasil real e o Brasil “da narrativa” que não se restringe à do golpe ou não golpe.

O governo Temer, tangido pela opinião pública ou por iniciativa própria, tem voltado sempre para o canal certo até porque não ha alternativa para ele fora do canal certo.

O barulho todo que o PT fez, como não se cansam de repetir seus batedores de bumbo, era apenas para “construir a narrativa do golpe” a ser usada mais adiante quando levar ao nivel de saturação do costume a atribuição aos bombeiros do incêndio que ateou. Na verdade precisa livrar-se do desastre ambulante Dilma Rousseff tanto quanto você e eu e, mais que dela, da herança desses 13 anos de tramoias para nos impor, pela tangência das instituições democráticas, esse “socialismo do século XXI” que assola os países que retiraram seus embaixadores em solidariedade ao Chefe de Todos os Chefes caído. Mas não quer dizer que desistiram do poder em que tão gostosamente se têm lambuzado.

O impeachment é a única chance de sobrevivência do PT. Se tivesse que descascar sozinho o abacaxi que plantou não sobraria nem o pouco que sobrou. O problema é que deixar ao PT o comando do naufrágio do navio cujo casco arrombou implicava o suicídio do Brasil, e já. De modo que, com ou sem vaidades e más intenções na carona, assumir a “trolha” era inevitável. Assim inverteram-se os papéis: evitar o naufrágio passou a ser a única chance de sobrevivência da oposição. E não ha como evita-lo senão fazendo a coisa certa e, mais ainda, na dose certa.

O Brasil está arrebentado pelo inchaço além de qualquer limite suportavel não só do numero de funcionários públicos mas também do excesso de privilégios que lhes foram concedidos, especialmente à minoria dentro dessa minoria, os “comissionados” e chefetes de encruzilhadas estratégicas do “Sistema” que constituem o nucleo duro da militância do PT que nunca caiu, antes ou depois da ascenção ou da queda do partido. Segundo especialistas acima de qualquer suspeita como Ricardo Paes de Barros, formulador do programa Bolsa Família, esse grupo desfruta de salários diretos e indiretos e vantagens tais que “distorcem a estatística de distribuição da renda nacional”. Trata-se, portanto, de uma minoria dentro da minoria que é o funcionalismo como um todo, menos de 5% da população que consome quase a metade do PIB (46% contado só o “por dentro”) e não devolve aos 95% dos quais surrupia esse balurdio senão humilhações, escândalos e o cipoal legislativo, tributário e burocrático tramado com o propósito específico de impedi-los de trabalhar a menos que comprem por bom preço a isenção a esse inferno.

No campo da Previdência a distorsão é maior ainda. Apenas 980 mil aposentados e pensionistas da União produzem um deficit anual de R$ 93 bi, mais que o gerado pelos 32,7 milhões de aposentados e pensionistas do setor privado somados. E ha ainda os dos ourtos 25 estados e 5.570 municípios…

Este, não obstante, continua sendo um “não problema” que os governantes e administradores públicos não podem sequer mencionar porque, sendo esse tema uma pauta rigorosamente banida de uma imprensa decidida a não enxergar aquilo que lhe bate na cara, estas contas e a sua tradução “cênica” de tão ricas possibilidades mobilizatórias são mantidas fora do horizonte consciente do brasileiro médio, o que tira dos políticos e administradores publicos bem intencionados o “álibi” que se requer dentro dessa ditadura velada em que vivemos para jogar a favor dos 95%. Falar do tema por iniciativa própria dentro de qualquer instância política, partidária ou de governo é morte certa.

Prevalece, assim, “a narrativa” que a imprensa e seus “especialistas” amestrados coonestam que fala numa vaga “desorganização da economia” herdada de Dilma Rousseff sem nunca mencionar uma causa localizada, precisa e escandalosamente definida como é de fato a única que existe, e que, consequentemente, só pode ser combatida por “medidas impopulares” ou “de redução de direitos”, não de quem permanece flutuando acintosamente por cima da crise e exigindo mais sangue, mas de quem já está morrendo de anemia.

Se o seu jornal ou canal de TV está entre os que lhe servem toneladas de matérias para demonstrar, por exemplo, que o maior problema do país mais miscigenado e libertino do mundo são o racismo e a repressão sexual e nem um grama de manchetes e cenas pungentes para cotejar as agruras da “via crucis” em que penam os 95% com as doçuras da abundância e da segurança inabalavel em que permanecem escondidos os 5% que fabricam crises mas não as vivem, ele é um dos que está cometendo o crime de responsabilidade que mantem o país refém dessa máfia. Você deveria cobrá-lo com o rigor que um crime desses merece.

As raposas que nos governam

Cheguei a Brasília no seu típico calor seco, sabendo que não haveria surpresas no resultado final. Dilma seria cassada. Restavam-me apenas as peripécias, essas sim imprevisíveis. Pela primeira vez, vi Renan Calheiros perder a calma no plenário. E olha que, ao microfone, já disse coisas bem pesadas para ele, e sua máxima reação foi suspender os trabalhos por algum tempo. Renan disse que o Senado parecia um hospício. Lembrou-me de Maura Lopes Cançado que escreveu o livro “Hospício é Deus”.

Ela colaborava com o suplemento literário do “JB”. Ficou internada por muito tempo. O livro mostra que o hospício, além de todos os seus horrores, era também um espaço de negociação. Renan ficou próximo da realidade ao reconhecer o lado maluco do plenário do Senado, assim como Maura contribuiu ao sugerir o lado parlamentar do hospício. O problema é o equilíbrio entre os dois. Há visões mais céticas, como a do filósofo inglês John Gray.

“De qualquer forma”, escreve ele, “apenas alguém milagrosamente inocente em relação à História poderia acreditar que a competição entre ideias possa resultar no triunfo da verdade. Certamente, as ideias competem umas com as outras, mas os vencedores são aqueles que têm o poder e a loucura humana ao seu lado”.

Renan disse também, ao microfone, que a burrice humana era infinita. Na verdade, repetia o final de um famosa frase de Albert Einstein, para quem o universo e a estupidez humana eram infinitos. Alguns cientistas ainda pesquisam se o universo é mesmo infinito. Mas a parte final da frase sobre a estupidez humana nunca foi contestada. Refletindo sobre isso em Brasília, no corre-corre do trabalho cotidiano, constatei que também a esperteza humana é infinita. Renan e a bancada do PMDB fatiaram a Constituição: condenaram Dilma por irresponsabilidade fiscal e mantiveram seus direitos políticos. Não me parece que fizeram isso por Dilma. No fundo, é também uma manobra defensiva, prevendo o próprio futuro. Quando Romero Jucá disse que era preciso estancar a Lava-Jato, não estava brincando. O objetivo da cúpula do PMDB é o de bloquear investigações e neutralizar o trabalho das instituições que combatem a corrupção no Brasil.

Nessa empreitada, contam com o deslumbramento de Temer, para quem um pedaço do mandato presidencial é um presente dos céus. E com a timidez dos tucanos, que temem romper uma aliança num momento de reconstrução. O sonho das raposas é continuar depenando o galinheiro. Se as pessoas não se derem conta, elas liquidam os avanços das instituições de controle e continuarão roubando o país até o último centavo. Se o quadro é tão ameaçador, não teria sido melhor manter o mandato do PT até 2018?

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Acontece que são forças com objetivos diferentes. As raposas do PMDB querem apenas enriquecer em paz. O PT tinha um projeto hegemônico que passava pelo crescente controle do Parlamento, dos juízes e, também, se tudo desse certo, da própria imprensa. Com sua vasta experiência política, as raposas recebem as críticas, lamentando apenas que estamos sendo injustos com elas. O PT seguia arruinando o país mas recebia as críticas com uma agressiva tática de defesa. Questionar a corrupção oficial era coisa da elite, da burguesia, de gente loura de olhos azuis que não aceita que o filho da lavadeira estude Medicina nem que os pobres viajem ao seu lado nos aviões.

A mudança no discurso oficial é insidiosa, sedutora. Cúmplice de toda a política que arruinou o país, num misto de incompetência e corrupção, o PMDB se dispõe a conduzi-lo a um porto seguro.

O lugar para onde as raposas sonham em nos conduzir é um oásis ameno, onde possam continuar enriquecendo, posando, ao mesmo tempo, de estimados líderes nacionais.

Assim como setores da esquerda toleram a corrupção sob o argumento de que a vida do povo melhorou, os liberais tendem a olhá-la com complacência desde que se façam as reformas sonhadas pelo mercado. Num livro sobre a tolerância na idade moderna, Wendy Brown lembra aos estudiosos que ela é uma descendente da superação das sangrentas guerras que separaram política e religião. Modernamente, existe um espaço maior para o indivíduo, diante do Estado e da Igreja. Mas existe também um certo cansaço diante das tramas políticas, uma vontade de se concentrar apenas na sua própria vida. O novo governo traz um perigo de natureza diferente. Ele não quer transformar o país num paraíso bolivariano. Nem se meter na liberdade individual, classificando as pessoas como reacionárias, progressistas ou preconceituosas. Quando Renan disse que a estupidez humana era infinita, concordei com ele pela primeira vez. Se estivesse no plenário, apenas acrescentaria: a malandragem humana também. O país apenas se livrou de um tipo de exploração. Por falar em tortura, tema que Dilma trouxe à tona, não se pode esquecer que uma boa equipe é sempre dividida entre os bons e os maus torturadores. Uns mordem, outros sopram.

Golpes de barriga

A barriga tem trabalhado muito nestes tempos. Não da maneira positiva, que cria músculos, contribui para a saúde e para a estética. Nossa preferencia tem sido outra modalidade esportiva. Consiste em utilizar o umbigo para atrasar decisões, se possível complica-las bastante ao ponto de tornar impossível qualquer solução clara, cristalina, justa, enfim.

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Deixar para depois parece ser mania em um país que não se importa em conviver com a incerteza causada pela nossa já tradicional e esperada tibieza em cada passo. Dependendo de quem assiste de onde assiste, e do porque assiste, a situação varia do trágico ao cômico, passando, claro, pelo incompreensível e frequentemente parando no inaceitável.

Vá entender tudo isso. E reze para jamais precisar explicar. Já sabíamos que papel aceita tudo. A novidade é que nossos ouvidos, cada vez mais complacentes, já não rejeitam a falta de logica ou se ofendem com a sinuosidade de raciocínios sem sentido. Já não conseguimos distinguir circo de hospício. E isto é grave.

É gravíssima a confusão de conceitos que a gente insiste em tolerar. Especialmente a deturpação do uso de instrumentos criados para promover justiça social e agora condenados a proteger culpados e procrastinar processos.

Direito de defesa é base da democracia e do estado de direito. Todos têm direito a ele. Para isso existem regras, leis, pesos e contrapesos. Ate ai tudo bem. É o império da lei. E leis, existem para proteger a cidadania.

Mas chicana é coisa diferente. E, hoje em dia, chicana é o único, mas muito eficaz remédio utilizado na defesa de personagens cuja culpa que, por tão obvia, de tão evidente, já não mais carece de comprovação.

Parece não haver mesmo pecado do lado de baixo do equador. E, na ausência de pecado, aparentemente vale tudo entre os trópicos. É nesta região do mundo em que a justiça não anda. Ou melhor, não anda para frente. Prefere dar passos para trás. Ela falha, tarda, e (talvez pior ainda) não resolve.

Nesta sequencia interminável de capítulos de novela mal escrita, o final é sempre jogado para frente. Nada se resolve. Nem se transforma. Tudo se adia. Discutimos tudo. Resolvemos nada. E fazemos menos ainda.

E vamos levando a vida a golpes de barriga. Acostumamos a esperar. Mesmo que já não saibamos mais o que ou porque esperamos.

A satanização

HELLBLOG: FABRICA DE MILITANTES DE ESQUERDA .     Bruno Pinh...:
A esquerda, quando governa, às vezes governa muito mal, mas, quando sataniza algo, consegue ser bastante eficaz, usando lugares-comuns e clichês 
Mario Vargas Llosa

Contra a esperteza profissional

Com Dilma cassada (mas não fora do baralho, como reza a Constituição), li praticamente a mesma frase, com pequenas variações, em vários veículos de comunicação.

Observando que de quatro presidentes eleitos, depois da derrubada da ditadura militar, dois não tinham concluído o mandato por força de impeachments, articulistas sentenciavam: este não é um bom currículo para a ainda jovem democracia brasileira.

Alguém disse...: Pois é....Tancredo Neves disse...   A esperteza ...   Quando é muita   Ela vira bicho  E come o dono!:
Discordo. Este é um péssimo retrospecto do que tem sido a política profissional no Brasil nesses últimos anos. De Collor a Dilma, e de PC Farias a todos os trambiqueiros atuais, num país em que boa parte dos integrantes do Congresso Nacional anda a dever esclarecimentos à Justiça, por condutas nada honrosas.

Mas a democracia não se limita ao Congresso e ao bando de partidos deploráveis que temos hoje no país. Por isso mesmo, enquanto os políticos sujam o nome do Brasil no mundo, nossa democracia tem se sustentado, atravessando vitoriosa as grandes crises políticas.

No caso de Collor, a sociedade brasileira deu um exemplo de democracia e civismo. E agora, com Dilma, é tolice dizer que a democracia correu perigo, num planeta ontologicamente dividido entre mortadelas e coxinhas.

A vergonha nacional corre por conta dos partidos, do partidocratismo e de seus políticos profissionais. Eles só agem em benefício deles mesmos. Agora mesmo, tivemos o vexame de manterem direitos de Dilma ocupar cargos públicos e ser candidata (menos a presidente). E por que fizeram esse absurdo vexaminoso, cuspindo na lógica e escarrando na Constituição?

Porque estão na mira da Justiça, a começar pelo cara de tomate Renan Calheiros, que carrega várias acusações. Eles preservaram Dilma não por causa dela, mas numa ofensiva de autoproteção, a fim de prosseguirem na descaração e na lambança das imunidades/impunidades, com a cobertura de juízes, como Joaquim Barbosa publica.

De uma parte, esses políticos, que enlameiam a história política da nação, tratam de se autoblindar. De outra, investe-se contra o projeto anticorrupção e a ficha-limpa, procura-se fraturar e engessar a Lava Jato.

Ora, o que a sociedade tem mesmo de fazer é sair a campo em defesa da Lava Jato. E bem que poderíamos ir às ruas para acabar com coisas com o tal do Fundo Partidário. Afinal, temos que bancar um bando de profissas dedicados a nos prejudicar e ao país?

Não faz o menor sentido. E o que o TSE espera para cassar a chapa Dilma-Temer, se o uso do caixa 2 está provado e comprovado?

Fim!

Terminou o longo e penoso ciclo de poder petista. Após 13 anos, o País, enfim, acordou podendo ver uma realidade que lhe era subtraída. O peso da ficção e da ideologia impediam de ver tudo o que estava, contudo, aí! A agora ex-presidente, com sua soberba, foi o triste – e muitas vezes ridículo – epílogo desse período. O Brasil foi a sua vítima.

O profeta da salvação revelou-se um farsante! A promessa de redenção dos pobres levou a um desemprego de aproximadamente 12 milhões de pessoas que, num certo dia, acreditaram na ficção de um discurso, cujos maiores beneficiários foram o PT e as suas empreiteiras. Muitos enriqueceram, enquanto outros, na sociedade, não tinham mais do que viver. Uns falavam em nome dos pobres, enquanto estes ficavam sem dicção.

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Lula, o criador, gabava-se de eleger um poste, também denominado criatura. Cioso de sua onipotência, fez com que aos pés deste país se abrisse um abismo, o da recessão, da queda abrupta de renda, da inflação que corrói os salários, da desestruturação do Estado, do sucateamento da Petrobrás, privatizada partidariamente, e assim por diante. Para muitos, a ascensão do PT ao poder foi como um sonho e a sua realização, um poderoso pesadelo.

No atual contexto, o de aprovação do impeachment da agora ex-presidente Dilma Rousseff, deve-se ter em vista que este é o fato essencial, não devendo a visão ser obscurecida pelas artimanhas de último minuto que não a inabilitaram para o exercício de cargos públicos. O principal não pode ceder lugar ao secundário.

De alguns senadores tudo se pode esperar, menos preocupação com o bem coletivo, algo exposto pelo fatiamento bizarro de um artigo constitucional. É como se a Constituição fosse um bolo do qual se pudessem cortar fatias à conveniência de alguns que se pretendem poderosos ou simplesmente gulosos!

A presidente foi apeada do poder e, constitucionalmente, assumiu o vice-presidente, no exercício pleno de suas funções. Fecha-se um ciclo, abre-se um novo. Eis o foco de que não nos podemos desviar. O ganho é imenso! Há apenas um ano, poucos eram os que estavam convencidos de que o PT seria, conforme todas as leis deste país, afastado do poder.

O diferencial reside, neste momento, em que o novo presidente da República deverá continuar perseverando numa mudança da política econômica e das políticas públicas em geral, mostrando que um novo País é possível. Suas sinalizações já foram muito positivas, faltando-lhes, ainda, a concretização em futuro próximo. Vários projetos de lei e emendas constitucionais já se encontram no Congresso Nacional e outros deverão ser enviados em breve espaço de tempo, como os das reformas previdenciária e trabalhista.

O Brasil não pode mais conviver com o descalabro e a herança petistas. A manifestação pública de Michel Temer assumindo o compromisso com essas reformas e propugnando pela pacificação nacional é a expressão clara de que o País caminha para uma transformação decisiva, sem que se perca a percepção de que esse caminho está cheio de percalços e armadilhas. Algumas delas foram bem armadas, como a do aumento salarial para vários setores do funcionalismo público quando, em contraste, quase 12 milhões de pessoas estão desempregadas.

O secundário consiste na manobra conduzida pelo PT e por setores do PMDB, capitaneados pelos senadores Renan Calheiros e Kátia Abreu, para não inabilitar a presidente definitivamente afastada para assumir cargos públicos. O objetivo da manobra estaria em aliviar a pena da ex-presidente, num prenúncio, perigoso, de que a mesma “interpretação” possa ser eventualmente aplicada a condenados pela Operação Lava Jato.

Eis uma amostra dos obstáculos que o presidente Temer terá de enfrentar quando os setores menos qualificados do Senado e da Câmara dos Deputados se insurgirem contra qualquer proposta governamental. Aparentemente, dir-se-ão, por exemplo, defensores de determinados “direitos sociais”, quando, na verdade, estarão apenas atendendo a interesses corporativos e aos seus próprios. Barganhas dos mais diferentes tipos continuarão a aparecer, no molde dessa entre o PT e setores do PMDB, sempre contra os interesses da Nação.

Um exemplo particularmente ilustrativo foi o de uma senadora que produziu uma esquisita “justificativa”, a de que a presidente não deveria ser inabilitada para o exercício de cargos públicos por não poder viver com um rendimento de R$ 5 mil. O discurso foi piegas e teve como suposto argumento o de que a condenação, se não fatiada, seria uma “injustiça”. Estranha noção de injustiça.

O absurdo é visível: uma criminosa por responsabilidade fiscal, responsável pela maior crise recente da História brasileira, com o País arruinado, estaria sendo tratada “injustamente”. Nem uma palavra sobre os milhões de brasileiros que tiveram redução salarial ou lutam para sobreviver e para quem viver com R$ 5 mil por mês não passa de um sonho. Estes, sim, foram tratados injustamente pelo conjunto da obra petista e, em particular, pela presidente que vem de se afastar.

A inversão é total: a responsável por esta calamidade não deveria ser injustamente responsabilizada!

A ex-presidente Dilma, se tem problemas financeiros, poderia procurar emprego nas empresas favorecidas por seu governo. Deveria, isso sim, ser por elas recompensada pelos altos lucros que tornou viáveis. Empreiteiros poderiam empregá-la, claro que agora sem o pagamento de propinas por contratos que irrigavam seus cofres. Deveria ser contratada por sua “competência” administrativa.

O mesmo valeria para alguns bancos que eram recebidos no Palácio do Planalto com tapete vermelho e indicavam ministros da área econômica. Os seus dirigentes eram tratados com o maior esmero. Seria, aliás, o momento da retribuição e da recompensa.

Injusto é o contribuinte pagar por mais esta falta de decoro de senadores, comprometidos em salvar a cara da corrupção petista e da ruína produzida pela ex-presidente Dilma.

Imagem do Dia

Deserto de Gobi, na Mongólia

O brasileiro é um forte

Que cidadão de qualquer país aguentaria a choradeira do governo se defendendo de um 'golpe" durante nove meses de gestação de um processo de impeachment, quando em outros países a mesma ação transcorre em 48 horas? Em nenhum outro lugar, as instituições não aguentariam mais de três meses com dois presidentes - uma afastada e outro interino. Também alguém pensaria em um país conseguir a façanha de contar, em um só dia, com três presidentes? É tudo quebra de recorde mundial para nunca ser quebrado a não ser pelo própio Brasil.

E tudo isso o brasileiro aguentou com o dinheiro sumindo do bolso, o chute no traseiro do desemprego, a quebradeira geral, a falta de atendimento médico e a violência crescente. Mais ainda vai suportando nos ombros como o sucateamento da Petrobras para atender partidos e interesses do governo petista, as elétricas correndo atrás de dinheiro também por pagar pelo ilusionismo de País Maravilha.

A gente vai levando.

Apequenaram os 8,516 mil km² e seus 206 milhões de habitantes. Uma das potências mundiais não está entregue ao capital privado nem à ditadura bolivariana. É território da ganância de seus poderes em todos os níveis a viverem no bem-bom das regalias custeadas pelo suor dos fortes brasileiros.

Depois de aguentarem tanto palavrório, que apelidam os poderosos de discurso político e os juízes de debate constitucional, os fortes agora são obrigados a suportar os humores dessa gentalha. Carregarem no lombo os irresponsáveis inocentes e os honestos desonestos é mais peso ainda para quem leva o país nas costas.

Ainda não se deram conta de que a carga é pesada demais até para burro sem rabo. O carro pode parar e a comida regalada daqueles que só plantam discórdia, chincana e discurso será apimentada. Será indigesta demais para os estômagos gourmet com tanto sal do suor de quem trabalha e o sangue dos que sofrem nos hospitais e morrem nas ruas. Uma digestão difícil que terão que engolir e se entupir para não esquecerem nunca mais dos crimes que cometeram em falar demais.

O Brasil, na boca dos cretinos, é apenas discurso. Gente, a cereja do bolo que oferecem em oferenda. Crentes de serem os bons, não passam dos bandidos no filme de horrores que dirigem. Se acham heróis, melhor vestirem-se como Dart Vader, o lado negro da força. Não se brinca de mocinho em meio ao monturo da destruição.

E Viva a Farofa

Jamais discuta com fanáticos

Ah, conselhos… Um dia, mesmo contra a sua vontade, traindo um grave compromisso assumido no calor do travesseiro, daqueles íntimos mesmo, você cairá na tentação de proferir algum. E, só para piorar, ele será acompanhado de termos peremptórios, tipo sempre ou jamais, estes irmãos gêmeos que nos confundem quando teimam em ser muito parecidos. Hoje é meu dia de ser infiel. Tranquei o juízo no quarto escuro e darei um conselho: jamais discuta com fanáticos.

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Henn Kim 
Primeiro, porque eles não querem ouvir o que você tem a dizer. O fanático é imune ao contraponto, tem nojo da moderação, despreza o contraditório. Maniqueísta de carteirinha (e com a mensalidade em dia), só conhece dois lados para qualquer questão: o certo (dele) e o errado (um milímetro fora dele). Qualquer frase que inicia com “mas”, por exemplo, dispara no fanático um alerta de defesa. Uma pessoa normal, depois de um “mas”, começa a rever conceitos, nota desconhecer de todos os ângulos ou, sei lá, admite falhas na própria percepção. E não vê risco algum nisso. Sequer julga ofensivo. O fanático, garanto, não é uma pessoa normal.

Segundo, jamais discuta com fanáticos pois são todos uns radicais empedernidos, e raízes não existem para se mover. Quem espera deles o sentimento de alteridade, perde seu tempo. Sabe empatia, ou a menor disposição para se colocar no lugar do outro? Até mesmo o reconhecimento de que exista mérito fora de sua crença? Isso não é para o fanático. Pior: em questão de minutos estará acusando você de ser um fanático. Isso se ele despreza a sua pessoa. Caso simpatize, chamará você de burro, alienado, inocente, idiota, capacho… Ou seja, incapaz de pensar pela própria cabeça – por vias tortas, uma espécie de absolvição benemerente.

No acaso de o leitor aí do outro lado ser um fanático (risco crescente destes tempos), o conselho que tenho a dar troca de irmão gêmeo: sempre discuta com um fanático. No momento em que ele comunga de seus pensamentos, torna-se uma festa! Vocês ficarão concordando cada vez mais efusivamente e xingarão em passeata todos os demais habitantes do planeta. Quando for um fanático contrário, orgasmos múltiplos estarão garantidos: ambos espumarão de raiva e terão mais e mais e mais motivos para radicalizar o discurso. Fanáticos opostos se justificam, explicam-se, dão razão à luta.

Porém, se acontecer de dois fanáticos opostos começarem uma disputa na minha presença, e eu me afastar em desconsolo, muito cuidado! Ao me considerar burro, alienado, inocente, idiota e capacho, o que não chega a surpreender, estará concordando em plenitude com o fanático adversário. E isso ninguém quer, né? Já pensou o horror? O que vão dizer em casa?

Rubem Penz,

Pé de meia de Dilma foi de R$ 2 milhões só de salário

A realidade do desemprego para Dilma Rousseff será muito melhor que a maioria dos 12 milhões de brasileiros que seu governo deixou na rua da amargura. Com todas as despesas pagas pelo contribuinte, a petista teve a oportunidade de poupar os salários que recebeu desde sua posse na Presidência da República, em 2011. Até ser cassada, dia 31, Dilma acumulou mais de R$ 2 milhões somente com seus salários. A informação é do colunista Cláudio Humberto, do Diário do Poder.

Como presidente, Dilma não gastou um só centavo com residência, transporte, gasolina, viagens e alimentação durante 65 meses.

Quando assumiu a Presidência, em 2011, o contracheque de Dilma era de R$ 26,7 mil. No segundo mandato, passou a R$ 30,9 mil.

Dois meses antes do início do impeachment, Dilma cortou em 10% o salário dela, do vice e dos ministros. Foi inútil.

Se manteve sua grana na poupança, Dilma terá rendimentos mensais de R$10 mil. Mais que o suficiente para se manter sem cargo público.

Agora ex-presidente, ele terá direito a oito assessores, dois carros com motoristas e cartão corporativo para usar à vontade na manutenção da sua estrutura.

Manifesto do partido Otimista

Ettore Scola, advogado e cineasta italiano, não viveu para filmar o magistrado brasileiro Ricardo Lewandowski, que suavizou, seguro que só tem o céu acima de sua cabeça, a pena da presidente. Mas “Nós que nos amávamos tanto”, seu filme de mais de 40 anos atrás, deveria ser visto por ele, Dilma, Renan e Lula, juntos, para observarem por que a esperança saiu do catálogo das virtudes.

Não aceitar ser julgada, bom Deus, vamos condenar a democracia brasileira à desordem. O político não é lotado no Estado, como o tijolo na parede! A verdade enfrenta um tráfego pesado no mundo. Sou a versão para gringos, o gigante que se debruça sobre ela.


Ótimo, a história inicial se perdeu, não vale a pena procurar o seu começo. Encontrei muitas pessoas dispostas a me amarem, mas nada de promiscuidade, meritíssimo. Mantenho meu passado! São sujos! Ora, moça, se aceitou assentar ali bem comportada, enterrou sua ilusão retrospectiva. Acione seus punhos de ferro, mas pense, sua vergonha não passa de orgulho.

Todo julgamento, para conter alguma possibilidade de sucesso para o acusado, deve carregar uma dúvida razoável e necessária, que paralise a consciência de quem julga. Ela sempre teve seu próprio método.

Nunca quis aliados, mas devedores de obrigação. Sentia seus desejos como exigência. E, assim, não reconhecia a ninguém o direito de entendê-la. Czarina do czar que a escolheu, caminhava negligente se fazendo dura. Para dar credibilidade à sua história, multiplicou por dez seus inimigos. Povoava seus dias contando traições. Ampliava sua angústia, mas as coisas não ficavam nisso.

E aquele quase nada para a razão do outro era reforçado por interlocutores que a faziam escapar mais ainda da realidade. Eles temiam complicações com aquele nenhum talento para a reciprocidade. Sua bossa é botar culpa nos outros. Ela se fatigava e seus amigos a mimavam, dizendo que caminhava para a perfeição.

Tempestade sem relâmpago confundiu seu desencanto com virtude, sua incapacidade com a verdade. Embora vivendo no rebanho comum da política desde sempre, só não era joão-ninguém quem a tolerava. E foi assim, só reconhecendo legitimidade em quem a inocentasse, que entrou naquela sala azul de quase 200 anos.

Ao nomear a realidade de escândalo, a política traz o escândalo para a realidade. E fica dispensada de se convencer que desvios políticos costumam ser sempre obra de panelinhas. Grupos que conquistaram posição estrutural e material acima das condições da sociedade e se alienaram em relação a ela. Suas ideias perdem a maturidade para representar o interesse e a consciência da maioria. E o ciclo histórico de onde vieram se esgota, com seus principais personagens ainda vivos.

Não há necessidade mais de crítica. O argumento tornou-se parasita do problema velho. São anomalias, que serão melhor retratadas pela literatura e o cinema. O que precisamos, agora, é de um movimento abolicionista de práticas antigas.

Não é que ela venha de fora, da conversa, das leituras, da experiência. A liberdade que sustenta a coerência e o respeito à opinião dos outros vem de dentro da pessoa que já tenha dentro dela o gosto pela liberdade.

Quanto ganha um servidor?

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Os aposentados do Poder Judiciário federal recebem em média R$ 25.659 por mês. Quem recebe pensão desses funcionários leva R$ 23.077 por mês, em média.

É muito? Para começar, o salário médio de quem está na ativa do Judiciário, sem penduricalhos, é de R$ 17.629. Não faz sentido a aposentadoria valer 45% mais que o salário da ativa. Isso é sinal de grossas distorções no passado e de coisa pior.

Ainda assim, R$ 17 mil por mês é muito? No Executivo federal, a média é de R$ 9.800. O rendimento médio do trabalho ("salário") dos brasileiros anda pela casa de R$ 1.985.

A comparação imediata é indevida porque, por exemplo, a qualificação dos servidores do Executivo é maior. No Brasil, 13,5% dos ocupados tinham mais de 15 anos de estudo (curso superior) em 2014 (Pnad mais recente). Entre os servidores civis do Executivo, são 74,5%. Os com doutorado são 13,7% do total.

A discussão é, óbvio, imensa e complexa.

Ainda assim, consideradas as diferenças de formação, a disparidade salarial se justifica? A disparidade ainda maior entre aposentadorias públicas e privadas é aceitável? As médias contam toda a história? Não, não, não.

"Evidências anedóticas": o salário inicial dos motoristas de certa autarquia é de R$ 5.176. O dos escreventes de polícia dos ex-territórios Acre, Amapá, Roraima e Rondônia pagos pela União é de R$ 8.699. Basta passar os olhos pelas tabelas de cargos federais para perceber injustiças entre os servidores e a disparidade entre salários privados e públicos.

Para piorar, os salários médios de quem tem carteira assinada no setor privado estão caindo ao ritmo de mais de 4% ao ano. No funcionalismo (federal, estadual, municipal), crescem 2% ao ano. Nem se fale da estabilidade no emprego.

Dadas as iniquidades, fica ainda mais difícil aceitar o aumento para a elite do funcionalismo, ministros do Supremo, que querem R$ 39,2 mil (sem penduricalhos). Por tabela, haverá reajuste de salários do serviço público pelo país todo.

Não há dinheiro. Será necessário cortar despesas de investimento "em obras" ou fazer mais dívida pública, que paga juros indecentes aos mais ricos.

Considere-se ainda a desigualdade. Pelos dados da Pnad de 2014, apenas 1,8% de quem trabalhava recebia na faixa de 10 a 20 salários mínimos, o que na média daria hoje uns R$ 11.400; apenas 0,7% recebia mais de 20 mínimos. No funcionalismo federal civil, 20% recebem mais de R$ 11.500.

O valor médio da aposentadoria do INSS é de R$ 1.200. A pensão média, de R$ 1.066. No Legislativo federal, o aposentado leva em média R$ 28.587; o pensionista, R$ 21.491.

No INSS, 64% dos beneficiários recebem menos de dois salários mínimos (R$ 1.742); 99,8%, menos de seis mínimos, cerca de R$ 5.226 por mês. Aliás, o teto atual de quem se aposenta pelo INSS é de R$ 5.147,38.

Sim, a despesa com o funcionalismo federal tem caído, como fatia do PIB, da renda nacional. Baixou dos 5,5% do PIB de 1995 para 4,2% do PIB, que, porém, cresceu bem nos anos antes de Dilma Rousseff. Como parcela da receita do governo, essa despesa flutua em torno de 18% desde FHC 2.

Esses números, porém, contam pouco dessa história de desigualdades e distorções. Vamos falar mais disso nos próximos dias.

Temer brinca com fogo e PT flerta com baderna

Decidido a demonstrar que falta combustível à oposição petista, Michel Temer adotou uma tática perigosa: riscou um palito de fósforo no interior do tanque de gasolina. Perguntaram-lhe se as manifestações de rua não deslustram o início do seu govenro. E Temer: ''As 40 pessoas que quebram carro? Precisa perguntar para os 204 milhões de brasileiros e para os membros do Congresso Nacional que resolveram decretar o impeachment.''

Protesto contra Michel Temer em São Paulo.
Manifestação em São Paulo, S. Moreira( EFE)
Pois bem, neste domingo, com o fogo subindo-lhe pelas meias, Temer foi informado, na China, de que o asfalto ardeu mais forte. Sob o patrocínio de engrenagens como CUT e MTST, a turma do ‘fora Temer’ encheu pelo menos oito quadras da Avenida Paulista. Os fortões da quebradeira também estavam lá. E não se tem notícia de manifestação do PT condenando a baderna.

Nese ritmo, Temer ateará fogo às próprias vestes e o petismo, com seu silêncio, acabará confundido com os black blocs —eufemismo para bandido. Se tiverem juízo, Temer fecha a boca e o PT abre o olho.