terça-feira, 29 de março de 2016

Achar a porta que esqueceram de fechar

O poeta Paulo Leminski versejou a hipótese de que “por detrás de uma pedra”, poderia surgir “toda a primavera”.

Assim são as crises. É certo que podem levar as sociedades a retrocessos e ao abismo. Contudo, delas pode também surgir um futuro melhor.

Compreender a complexidade da atual crise brasileira, em seus múltiplos aspectos, seria um bom começo.

A economia perdeu fôlego, a recessão se avizinha, aumenta o desemprego, a inflação quer voltar a galopar, o investimento encolhe, os consumidores adiam compras não essenciais, cai a arrecadação fiscal. Tempos difíceis.

Os indicadores sociais são alarmantes: apesar dos processos positivos de distribuição de renda e inclusão social, o país continua um dos campeões mundiais de desigualdade, e os progressos realizados em anos recentes estão ameaçados e em plena regressão; a violência contra mulheres, negros, pardos e homossexuais alcança índices demenciais; as condições de vida de muita gente continuam deploráveis, e a negligência com que isto foi encarado por anos explica o vulto das epidemias de dengue e da zika.


A crise política, expressão destes desequilíbrios, tornou-se fator acelerador dos mesmos. As eleições de 2014 não apontaram rumos construtivos. A presidente eleita reiterou o estelionato eleitoral praticado por Sarney, Collor e FHC. Promessas não cumpridas, fazendo recordar um pensador cínico, segundo o qual os humanos teriam inventado as palavras para melhor disfarçar o pensamento. Dilma perdeu em todos os lados — decepcionou os seus e não sossegou as oposições. Um mato sem cachorro.

Para agravar o quadro, introduziu-se o inquérito da Lava-Jato, desvelando o que todos sabiam a olho nu, mas sem provas. O sistema político está corrompido até a medula. Os lambuzados do PT aparecem com mais evidência, pois controlam o poder há mais de 12 anos e se esmeraram, de fato, em manter relações carnais com os grandes bancos e empreiteiras. Entretanto, é preciso muita miopia — ou má-fé — para não enxergar que, de alto a baixo, “está tudo dominado”. O rei está nu, e todos estão vendo. Criou-se uma imensa vala na qual estão caindo os partidos e respectivos marqueteiros.

Vai dar para sair do buraco?

Alguns, à direita do espectro político, na ofensiva, imaginam como saída cortar algumas cabeças, entre as quais as de Lula e de Dilma Rousseff. De quebra, expulsar o PT do proscênio. E já começam a bater e a agredir pessoas nas ruas. A luta contra a corrupção o exigiria. Mas um tal programa só seduz mentes mais simplórias. Basta ver quem substituiria os eliminados — os Cunhas, os Renans, os Temers, os Aécios, os Alckmins... Basta comparar as listas dos doadores das campanhas eleitorais. A da Odebrecht e as demais que circulam entre segredos mostram bem o “mar de cumplicidades” que contamina todas as praias.

Na defensiva, os petistas e vários pensadores afins mobilizam o fantasma de 1964. Cinquenta anos depois, transmudada, a Besta estaria de volta. Soprando o pó de velhas bandeiras, gastas por desuso, retornam com bandeiras vermelhas às ruas, esquecendo-se de que a cor da guerra social não combina com negócios escusos tramados em hotéis de luxo.

É falsa a polarização entre os “caçadores de corruptos” e os agitadores do fantasma de 1964. Substituir Dilma por Temer é trocar seis por meia dúzia. Não se pode nem dizer que, se o “seis” sair, o “meia dúzia” se corromperá, pois o “meia dúzia” já está corrompido.

Para ter um princípio de resolução, e de superação, a crise de muitas faces e cabeças precisa ser enfrentada pelo seu elo decisivo — o sistema político, que acoberta e incentiva a corrupção em grande escala.

É o sistema, como um conjunto, que precisa ser mudado. O fim do financiamento eleitoral e partidário por parte de empresas, combinado com um teto para as doações das pessoas físicas, foi um primeiro passo. Diversas outras propostas reformistas circulam na sociedade. Limito-me a enunciá-las: revogação das imunidades para crimes comuns, que fazem dos dirigentes políticos uma aristocracia acima da lei que é válida para todos... menos para os próprios. Extinção dos financiamentos estatais para os partidos políticos — que os partidos se financiem por seus filiados e eleitores. Fim dos privilégios descabidos que cercam as atividades político-partidárias: remunerações, comissões, subsídios. Pepe Mujica tem razão: quem quiser enriquecer, que se dedique aos negócios, e não à política. Redução dos mandatos, para elevar o nível de controle dos representados sobre os representantes, com extinção da reeleição para os cargos executivos.

Definir e defender uma real e profunda reforma política é o desafio para que existam eleições capazes de abrir novos horizontes democráticos. E, retornando ao poeta com que comecei esta crônica, “achar a porta que esqueceram de fechar, o beco com saída, a porta sem chave, a vida”.

Daniel Aarão Reis

Os roedores

Nessa altura do campeonato, muita gente vem perguntando o que virá depois do Petê. Este é o ponto, meus caros amigos: depois do Petê virá mais Petê. Sim, porque o partido da estrelinha na cueca não é um partido político, mas uma mentalidade. E essa mentalidade bronca, infelizmente, está entranhada como cracas em navios.

A fábrica de fabricar petês não será fechada simplesmente com o advento da República de Curitiba. Aliás, percebam os que prestam que o juiz Sergio Moro tem o apoio maciço da população decente, apoio formal da categoria à qual pertence e só. De resto, está sozinho nesse deserto de ideias e atitudes, que preferem inquirir o mocinho pela técnica heroica utilizada para desmascarar bandidos que defender que a justiça seja feita por aqui sem meandros e desvios. É impressionante.

Com quantos juízes como Sergio Moro pode contar o poder judiciário? Já há pessoas que se perguntam o porquê da existência de STFs e Senados, uma vez que eles não servem justamente à função para a qual foram criados. A pergunta é boa, mas incita o desmonte de nossa democracia bamba. Melhores seriam os conselhos comunais?

Nossas instituições foram aparelhadas por essa quadrilha. E o aparelhamento se deu com a conivência explícita das corporações – sindicatos, grupamento e milícias – que tiveram seus integrantes solertemente cooptados. O resultado é este que estamos vendo, atônitos. Um país paralisado, morto de medo dos próximos passos que ceifarão os empreguinhos públicos e temeroso do dia seguinte, por não entender que o sol queimará só os vampiros que nos desgovernam, e não o que ainda resta de nossa sociedade espoliada até o talo.


Que se danem os políticos. Os Chicos, Caetanos, Stédiles e Boulos. Não vejo um único cientista político ou analista dessa empulhação toda que nos cerca fazendo um exercício de futurologia que não inclua os proscritos partidos imiscuídos nesta festinha torpe onde pilharam a nação toda. Não é o futuro dessa gente? Não serão dizimados pelo voto dos decentes? Não serão impedidos de participar da confraria, por leis da ficha limpa e correlatos? Ou vamos continuar a desconfiar das urnas superfaturadas e das apurações onde a oposição dorme na contagem final e nos subtrai o direito de saber se estas eleições foram legítimas como brande o grupamento de calhordas ou fraudadas por uma ideologia que não para em pé?

Tal pergunta jaz na base de tudo isto que estamos presenciando por aqui, meus caros. E se as eleições foram um acordo entre amigos, destes que aceitam o jogo tão somente por quererem trair um ao outro mais adiante? O Senador Magno Malta foi profético ao afirmar que Aécio Neves se livrou de uma maldição. Talvez fosse ele, com o apoio da petralharia, o candidato ao impeachment da vez, nesta terra de inocentes úteis e bananas. Não duvido nada dessa possibilidade.

O caldo estava entornado para quem quer que fosse assumir o controle do navio. E tudo isso por conta de uma miragem fundamental: que este país de tontos úteis seria um socialismo em busca de um embusteiro para chamar de líder. Não é. É um capitalismo que se recusa a continuar parceiro dessa escumalha, parando as máquinas para se livrar do excesso de peso. E vai parar de trabalhar e empreender até que estas ratazanas tenham sido espantadas do convés. Se elas voltarão, fantasiadas de outros roedores, é o que nos cabe definir por lei. O impeachment é só o começo da volta do país à estrada da decência.

Com quase vinte anos de atraso e pendurado em toda a sorte de muletas sociais para se mover com um pingo de dignidade, vai ser duro aprender a andar de novo sem querer se encostar em algum barranco. Que pobreza que somos.

Perdidos na escuridão

- Como é a cegueira?

— Uma das primeiras cores que se perde é o negro — respondeu o escritor de 86 anos, há quatro décadas sem visão. — Perde-se a escuridão e o vermelho também... Naquela direção, onde está a janela, há uma luz. Vejo movimento mas não coisas. Não vejo rostos e letras.

A névoa densa na política deste outono deixou governo e Congresso em estado de anopsia similar ao descrito por Jorge Luis Borges na sua última entrevista, em 1985, ao repórter Roberto D'Ávila. A bruma encobre a transformação do país numa fábrica de desilusões.

Foram 13.100 novas demissões a cada dia útil dos últimos 12 meses no mercado formal de trabalho. Antes do carnaval, pesquisadores do IBGE contaram nove milhões de pessoas à procura de ocupação em 3.500 cidades. A perspectiva é de que esse contingente aumente para 13 milhões no segundo semestre.



Encerra-se o capítulo da “inclusão social”, celebrado na marquetagem eleitoral da última década, com uma combinação nefasta de mais desemprego e declínio na renda familiar dos mais pobres (7,4%). A reversão do bem-estar social, pelo aumento na desigualdade, acaba de ser confirmada por pesquisadores como Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas.

Há um fenômeno novo, detectou a Associação das Empresas de Transportes Urbanos: as pessoas reduziram seu movimento nas maiores cidades. Ônibus levam menos um milhão de passageiros por dia, em comparação a 12 meses atrás. Na periferia, segundo a entidade, cresceu a preferência pela viagem de bicicleta ou a pé.

Na região mais industrializada registrou-se o fechamento de 20 fábricas a cada dia útil, informa a Junta Comercial do Estado de São Paulo. Perderam-se 4.451 indústrias paulistas, 24% mais que nos 12 meses anteriores. Agora, avança-se no quarto ano seguido de recessão, com inflação alta e recorde mundial de juros.

Governo e Congresso se mantêm numa cegueira deliberada. A oposição em transe dedica-se à demolição de pontes para o futuro com “bombas” legislativas, como a de R$ 330 bilhões da semana passada, que turvou uma das raras iniciativas construtivas dos últimos tempos — o acordo feito pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) para aprovação da Lei das Estatais.

O governo perde-se em desvarios. Dilma Rousseff fez do Planalto um escritório de advocacia 24 horas. Faz comícios e, quando não insinua seu desejo de prisão para o juiz que autorizou o grampo do telefone de uma pessoa investigada, Lula, recita imaginário “golpismo” num pedido de impeachment, previsto na Constituição que o PT se recusou a subscrever.

Esconde que o seu partido, sob comando de Lula, apoiou nada menos que 50 petições similares contra três presidentes entre 1990 e 2002. Foram 29 contra Fernando Collor, quatro contra Itamar Franco e 17 contra Fernando Henrique Cardoso. Lula superou 34 pedidos de impeachment. Dilma somava 49 até ontem à noite — no último é acusada de usar seu poder constitucional para proteger um investigado, dando-lhe “auxílio direto” para escapar “do juiz natural das investigações”.

A luz sobre negociatas como modo de governo, nos inquéritos sobre corrupção, cegou os que fazem política. Tateiam paredes do labirinto da crise que construíram, e não enxergam a saída.

José Casado

Por que tanto ódio?

O PT e a “gangue do pixuleco” estão dispostos a “fazer o diabo” para não largar o osso, para manter suas benesses estatais. É atitude de perdedor deselegante, de quadrilha, de máfia. Mas, em meio a essa iminente e inevitável debacle, há um fenômeno interessante: caíram as máscaras de “paz e amor” dessa gente. O que se vê é a feiura da carranca em sua essência, sem a maquiagem de marqueteiros corruptos.

Sério, gostaria de perguntar a esses que ainda defendem o PT o motivo para tanto ódio. Por que odeiam tanto a democracia, por exemplo, a vontade popular expressa nos milhões de patriotas que foram às ruas de forma espontânea demandar o fim desse desgoverno incompetente e corrupto?


Por que odeiam tanto a classe média trabalhadora, que sustenta este país? Por que a baba de ódio ao acusarem de “fascistas” todos os que discordam do socialismo, sendo que está claro quem realmente adota postura fascista nessa história? Por que um Guilherme Boulos da vida, do MTST, fala em “incendiar o país” com tanto ódio irresponsável? Por que o presidente da CUT, Vagner Freitas, incita tanto a violência e faz ameaças absurdas?

Por que o público intolerante reagiu de forma tão raivosa quando um ator simplesmente falou em prender um ex-presidente ladrão no musical de Chico Buarque? E por que o sambista resolveu impedir o uso de suas músicas no espetáculo depois, demonstrando intolerância com quem pensa diferente politicamente? Por que, aliás, Chico elogia até hoje a mais cruel ditadura do continente?

A esquerda em geral e o PT em particular têm segregado o Brasil há anos, colocando mulheres contra homens, negros contra brancos, gays contra heterossexuais, empregado contra patrão. Por que tanto ódio disfarçado de defesa das “minorias”? Por que os socialistas, sempre tão invejosos, odeiam aquele que foi bem-sucedido no mercado, acumulando patrimônio por mérito próprio em vez de esquemas corruptos com o governo?

Sabemos que o problema da esquerda não é com o rico em si. Lula é milionário, como Chico Buarque e tantos outros. Mas por que odeia tanto o empresário que ficou rico criando empregos e riqueza, oferecendo produtos demandados de forma mais eficiente? Por que vocês odeiam tanto o indivíduo independente que se sustenta pelo próprio esforço, sem depender de esmolas estatais?

A retórica de vítima da esquerda serve para ocultar esse ódio todo que sente dos que não precisam desse amuleto falso para subir na vida. Ao se colocarem do lado “oprimido” contra os “opressores”, esses “progressistas” simulam um “amor à Humanidade” que mascara esse profundo ódio ao próximo, de carne e osso. O discurso verdadeiro da esquerda não é de amor, mas de ódio. Basta observar.

Os “professores” marxistas odeiam os trabalhadores de verdade, que querem apenas melhorar sua qualidade de vida, e não fazer a “revolução”. O “intelectual” ama o “povo” enquanto abstração, mas não suporta o povo real que ocupa as ruas pedindo o impeachment de uma presidente claramente incapaz, autoritária e conivente com o crime. Por que tanto ódio, gente?

Os esquerdistas falam o tempo todo em “diversidade” e “pluralidade”, mas tentam calar de forma agressiva, intimidando todo aquele que ousa pensar diferente, defender uma visão conservadora legítima de mundo. O uso do termo “coxinha” já demonstra esse ódio, essa raiva ao Outro, ao diferente. O sonho de todo esquerdista é um mundo de pessoas exatamente iguais, como insetos gregários, e todos feitos, claro, à sua própria imagem e semelhança. As diferenças lhe são insuportáveis, talvez porque lhe falte amor próprio.

Mas por que não tratar desse recalque todo, desse ressentimento, de uma forma mais pessoal e construtiva, mais corajosa? Por que se deixar levar pelas piores emoções, as mais mesquinhas? Está claro que o esquerdismo pode ser uma doença mental, que aprisiona a pessoa numa camisa de força ideológica, causando forte dissonância cognitiva no contato com suas contradições e hipocrisias. Só que não é destruindo o mundo à sua volta que se resolve tal angústia. Essa é a postura dos terroristas islâmicos!

O governo petista produziu apenas corrupção, alta inflação e desemprego, tendo enriquecido os empreiteiros no processo. Por que tanto ódio dos mais pobres, que sofrem na pele com tanta incompetência e safadeza? Por que esse ódio da mudança necessária para evitar um destino trágico como o venezuelano? Por que a esquerda é tão reacionária, apegando-se a esse antigo regime fracassado, que pune os mais pobres para favorecer os políticos e empresários corruptos?

Rodrigo Constantino

Supremo abandona Dilma e mostra que impeachment não é golpe

A presidente Dilma Rousseff tinha a esperança de que o Supremo Tribunal Federal pudesse reverter a decisão do Congresso, caso a Câmara e o Senado aprovassem o impeachment. Chegou a declarar várias vezes que tomaria a iniciativa de recorrer ao STF e até determinou que a Advocacia-Geral da União, agora comandada pelo ministro José Eduardo Dutra, redigisse a petição a ser encaminhada. Mas foi apenas um sonho, em meio ao interminável pesadelo que ela enfrenta desde que iniciou seu segundo mandato.

Com toda certeza, Dilma já sabe que vencer a eleição foi uma vitória inútil e desgastante. Se tivesse perdido, seria lembrada como a primeira mulher a assumir a Presidência. Mas agora ela está destinada a entrar na História do Brasil como a primeira presidente a sofrer impeachment, em meio a um tsunami de corrupção, que relegou ao esquecimento o mar de lama que injustamente se atribuiu a Getúlio Vargas nos idos de 1954.

Neste ponto, temos de mais uma vez tirar o chapéu ao juiz federal Sérgio Moro. Foi sua atuação corajosa que conscientizou os ministros do Supremo sobre o equívoco de tentar socorrer este governo incompetente e apodrecido.

As coisas até que iam bem no Supremo, a presidente da República contava com a solidariedade da grande maioria dos ministros. Na última votação de uma causa vital para Dilma – o julgamento do rito do impeachment – o resultado tinha sido consagrador, com 9 votos a 2, apenas os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli se posicionaram contra os interesses dela, porque o novato Edson Fachin medrou e reviu seu posicionamento anterior.

Mas tudo mudou com a delação premiada do senador Delcídio Amaral, ex-líder do governo, denunciando que Dilma tentara libertar o empresário Marcelo Odebrecht através do Superior Tribunal de Justiça. Logo depois, surgiu as gravações de Lula dizendo que o Supremo se acovardara e mandando pressionar a ministra Rosa Weber, vejam a que ponto chega a prepotência dele.

Com a deserção do PMDB e do PTB, o impeachment se tornou inevitável, porque os demais partidos da base aliada estão seguindo atrás. E a última esperança – o recurso ao Supremo – também já se desfez, e a situação se mostra sinistra para Dilma. Quatro ministros já tinham declarado publicamente que impeachment não é golpe – Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cármen Lúcia e Celso de Mello. Apenas um ministro, Marco Aurélio Mello, se manifestara contra o impeachment. Por coincidência, recentemente foi agraciado pela presidente Dilma com a nomeação da filha Denise Mello para desembargadora federal.

Nesta segunda-feira, houve o xeque-mate no xadrez da política. O ministro Luís Roberto Barroso, que se mostrara tão solidário a Dilma no julgamento do rito, também afirmou que impeachment não é golpe e adiantou que o Supremo vai respeitar a decisão do Congresso.

Portanto, o placar já é de 5 a 1. Falta apenas um voto para a condenação antecipada de Dilma. Ainda não se manifestaram Luiz Fux, Teori Zavascki, Rosa Weber, Édson Fachin e Ricardo Lewandowski. Dilma precisa que todos eles sejam contra o impeachment. Mas ninguém acredita mais nisso, até porque Rosa Weber se sentiu ofendida pela gravação em que Lula insinuava que ela poderia ser convencida a apoiá-lo.

Tradução simultânea: Dilma Rousseff vai perder na Câmara, no Senado e no Supremo. Seu mandato não existe mais, é apenas virtual. Como no célebre filme de Vincente Minnelli, ela já pode dar adeus às ilusões. E vida que segue, como dizia nosso amigo João Saldanha, que faz uma falta enorme a este país.

Tragédia anunciada

 O Tribunal Superior Eleitoral, TSE, será responsável pela maior convulsão social do país caso não decida sobre o processo que caminha a passos de tartaruga que poderia ter como sentença final a cassação dos mandatos de Dilma e Temer. A chapa de ambos, comprovadamente, recebeu dinheiro ilegal para a campanha de 2014 e, portanto, pela legislação, os dois teriam que perder os mandatos. Este, na verdade, seria o caminho mais sensato para se evitar uma insurgência com danos irreparáveis à democracia brasileira. O impeachment é, sim, constitucional. E como já disseram alguns juristas, e até ministros do STF, não se trata de um golpe. Mas uma nova eleição presidencial, onde os partidos pudessem livremente apresentar seus candidatos para disputá-la, este seria, sem dúvida, o caminho menos doloroso para resolver esse impasse político que pode acabar numa baderna sem precedentes no país.


Ao desembarcar do governo, o PMDB tira a principal escora de sua sustentação política da Dilma e se prepara para reforçar o impeachement na Câmara e no Senado. Tenta demover o presidente do Senado, Renan Calheiros, que ainda resiste ao açodamento de seus companheiros de partido para pular fora do barco da Dilma à deriva, sem comando e sem rumo. Ocorre que, na hipótese da Dilma ser afastada, o TSE não vai arquivar o processo que pede a cassação dos dois – presidente e vice. Assim, o Brasil corre o risco de em pouco tempo perder dois presidentes. O primeiro pela votação do impeachement e o segundo por decisão do tribunal se a votação for pelo afastamento dos dois.

O PT, os movimentos sociais e sindicais não vão deixar o Temer governar. O vice-presidente não dispõe de uma boa equipe e volta e meia é citado como um dos políticos envolvidos na Lava Jato. Os petistas vão acusar o vice de traição e o seu partido de oportunista já que esteve pendurado em cargos no governo durante os últimos doze anos. Além disso, não vão reconhecer a legitimidade do seu governo e ocuparão as ruas para cobrar do PMDB a lealdade à aliança entre os dois partidos.

Os líderes dos movimentos sociais mantidos pelo PT já declararam que não deixarão o Temer governar porque não reconhecem nele legitimidade para comandar o país. Eles torcem, em último caso, pela decisão do TSE que cassaria a chapa dos dois, uma atitude, nesse caso, mais coerente. Com o PMDB governando, os brasilerios precisam estar preparados para movimentos tumultuados e ruidosos no país a considerar o que vem dizendo desde já alguns dos comandantes desses movimentos. Gilmar Mauro, do MST, por exemplo, afirmou que Temer “não terá um dia de sossego”.

Rui Falcão, outro fundamentalista que preside o PT, alertou que uma eventual gestão de Temer não traria o país de volta à estabilidade. Ele antevê que os militantes irão às ruas com a bandeira do golpe pela quebra de mandato da Dilma. Além disso, alguns analistas não acreditam que existirá uma causa maior para que o povo se manifeste a favor de Temer, já que ele e outros peemedebistas também estão contaminados pela Lava Jato, um fato que hoje motiva o movimento pelo “fora Dilma”.

A “Ponte para o futuro”, o programa no qual o PMDB pretende se basear para iniciar o governo, é fraco, vazio e frágil para alavancar o país, criar novos empregos e fotalecer a nossa débil economia. Não se sustenta por muito tempo diante do desemprego, da inflação alta e do desajuste das contas públicas. Para agravar a situação, o juiz Sergio Moro continuará no comando da operação Lava Jato divulgando os nomes de peemedebistas ilustres envolvidos com as empreiteiras em atos de corrupção.

Diante desse quadro de futura instabilidade política é que o papel do TSE é relevante no julgamento da chapa Dilma-Temer. A cassação dos dois iria provocar nova eleição presidencial e levaria o brasileiro a escolher o seu novo governante pelo voto direto fazendo respeitar a decisão soberana das urnas.

Não nos enganemos, os brasileiros não foram às ruas no 13 de março apenas para pedir a saída da Dilma e o expurgo do PT do governo. Eles reinvidicam mais ética na política, o fim da corrupção, cadeia para os ladrões dos cofres públicos e representantes políticos e éticos no parlamento e no executivo, homens probos que orientem o país a sair da crise com ideias e projetos honestos. E diante dessas exigências, francamente, o PMDB não é o partido mais adequado para atender a esses apelos do povo.

É golpe ou democracia?

Estas manifestações demonstram que a democracia está viva
Lula a jornalistas estrangeiros

Lula nu. E agora, Supremo?

Um elfo e um súcubo pousaram na minha mesa e dispararam: “Se você for homem e realmente não usar televisão há mais de 25 anos senão para ver filme, conte aos outros o que achamos da atitude do dr. Sérgio Moro ao exibir as gravações explosivas da Lava Jato.

“Feita a ressalva quanto à origem da ideação, importa dizer, desde logo, que não foi de nosso agrado o reparo público que o ministro Marco Aurélio fez ao dr. Moro por causa da divulgação das falas em tela. Primeiro, porque nem relator da matéria ele é no Supremo. Segundo, porque a censura enfraquece a espinha do Judiciário, tão brutalmente ofendido pelos insultos que lhe dirigiu o ainda não ministro Lula. Terceiro, porque Moro tinha já explicado que a polícia estava gravando o telefone de Lula, e a voz da presidente apareceu ‘by chance’”.

O ministro Teori vem de tirar o inquérito de Lula das mãos de Moro. Ainda que não seja crível a justificativa do juiz sobre a gravação da voz presidencial, ele bem sabia que mal algum seria só a gravação, sendo pecado divulgar o diálogo entre a atual e o ex-presidente do Brasil. Mas a publicação da conversa fez-se de propósito, Moro assumiu o ônus de levar um puxão de orelha de qualquer intérprete menos iluminado ou qualquer apaixonado pela dupla da conversação.

O súcubo ajeita a gravata e completa: “Ao divulgar a falação e mormente as grosserias e as difamações do ex-presidente, o juiz de Curitiba atingiu os seguintes objetivos: tornou o STF conhecedor das imputações malévolas do indiciado; fez ministros e altas personalidades cientes das ofensas e dos venenos destilados pelo falastrão irresponsável; fez a opinião pública conhecer a arrogância e o ímpeto permanente do boquirroto em obter para si e seu bando cobertura de autoridades e magistrados que assediaram ou tentaram fazê-lo; fez crescer a rejeição popular aos dois políticos; deu a conhecer, ao mundo todo, quem é essa jararaca que comandou o furto de dinheiro de empreiteiros e servidores de empresa ocupante do décimo lugar de potência no mundo. Numa só palavra: tornou de todos conhecida a baixeza de ilusionista que encantou quase toda uma nação que governou por dois mandatos e elegeu sucessora sem eira nem beira”.

E daí?

“Daí criou atmosfera que impede o STF de cair na tentação do ‘benefit of doubt’, pôs Lula pelado ante o tribunal, abortou qualquer forma de indulgência que pudesse cutucar ministro mau leitor da partitura legal e, por isso, comparável ao mau maestro que também pouco enxerga na pauta da sinfonia”.

É claro que o julgamento de Lula terá de ser feito segundo a lei, mas quem tem poder de fazer dela e do redondo quadrado porá na balança os antecedentes de “não sei de nada” de Lula e a peçonha que ele vomita sobre todos os que se atrevam a julgar potestade e divindade que, de barro, não tem somente os pés, mas a alma, o coração e toda a aparência carnal que é conduzida por espírito tão trevoso.

Anis José Leão

Traição

Ofereci meus ombros. 
Como escada ele subiu. 
Minhas mãos tocaram a música dos seus sonhos. 
Ele dançou. 
Enxuguei seu rosto do suor do meu trabalho. 
Abri caminho para ele passar. 
Na hora da porrada a cara era a minha. 
Fui seu irmão seu amigo e companheiro. 
De braços dados caminhamos. 
Seu sofrimento foi o meu choro. 
Mais um dia eles chegaram. 
Trouxeram prata, espelho e um trono. 
Da prata ele fez anel, moeda e a placa do seu carro. 
No espelho reviu seu rosto, penteou seu cabelo
e arrumou a gola da camisa. 
Dormiu no trono
 acordou rei 
vestiu sua túnica encarnada 
colar de ouro branco e uma nova princesa. 
Um dia encontrou comigo. Me deu um beijo. 
Virou as costas e partiu. 
Lembrei de Jesus e as 30 moedas
João Paulo Cunha, ex-deputado federal, mensaleiro e agora poeta

A mentira é dos canalhas

Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza. Aconteceu com os governos de 13 anos petistas. Agora o PT e Lula precisam colocar a mão na consciência para não se tornarem um ídolo falido (mais do que já está) e um partideco, como refutou o deputado fluminense Wadih Damous.

O ativo líder sindicalista, respeitado e temido, morreu. Quem ressurgiu com a Carta aos Brasileiros não foi Moisés, mas uma imagem virtual de um líder para as massas, que agradava às elites, principalmente a de intelectuais "de esquerda", e aos demagogos de sempre. Foi nessa onda que Lula revivido surfou como dono da bola. Com oposição conivente, agradecida por não mexer nos seus malfeitos e benfeitorias, e um mundo em expansão, foi o Cara.




Lula ficou envaidecido com a mascarada. Surfava de costas, plantando bananeira e dava tudo certo para os holofotes. Fora de cena, nas coxias é que o bicho pegava. Era o velho pelego, comendo melado, desfrutando as benesses do poder com dinheiro do povo. E distribuía as benesses aos seus - família, amigos e companheiros

Lula e o PT já não eram, nem são, defensores do Brasil sem Fome nem amigos dos trabalhadores. Com o marketing da luta para acabar com a pobreza, começaram a estruturar o uso das campanhas sociais como fachada para abrigar o comissariado que só assim conseguiria emprego adequado de ganhar sem trabalhar. A vagabundagem foi institucionalizada em detrimento da defesa do menor Estado. lotando e loteando o cabideiro nacional.

Não pensaram que estavam jogando na lata do lixo, ou seria na privada, as esperanças de muitos dos seus eleitores sem contar de grande parte de seus fundadores e colaboradores de primeira hora.

Foram de crime em crime, chafurdando na falta de ética e na imoralidade. O partido da ética se revelou um agrupamento de coronéis de curral eleitoral com a mesma demagogia que condenava nos demais adversários. Se fizeram impunes acima da lei, pois se viram como a lei encarnada.

Os ungidos "donos do Brasil" estão agora esperneando contra a legalidade e a própria Justiça. São os coveiros da própria cova. Incharam o Estado, aparelharam instituições, institucionalizaram a proprina, criaram a matriz econômica que levou o país para o fundo do poço, sucatearam as estatais - a Petrobras corre o risco de nunca mais ser o que era -, estabeleceram franchising do modelo petista de governar nas prefeituras e estados. Não foi pouco o mal que semearam "em nome dos pobres e desvalidos".

Os juros do prejuízo petista sob Lula e Dilma não serão pagos em menos de dez anos. Só de antolhos se pode acreditar que em seis meses Dilma teria condições de recuperar a economia numa recessão galopante. Lula e seu séquito bem que tentam ser donos da verdade, que não pertence a eles como também a democracia, que dizem tanto defenderem. É do país, não dos canalhas.

Interromper ou desaparecer

Há quem suponha poder a presidente Dilma Rousseff dormir tranquila, hoje ou na madrugada de amanhã, sem que os partidários do impeachment tenham alcançado na Câmara número suficiente de votos para afastá-la do poder. Também existirão os que estarão festejando a possibilidade de o Senado, nas próximas semanas, confirmar uma decisão dos deputados pró-impeachment. Uma terceira possibilidade refere-se à Câmara optar pelo impeachment e os senadores, não, garantindo o mandato de Madame.

Em suma, tudo pode acontecer. O que não dá mais é o país viver na corda bamba, entre a permanência ou a queda da presidente da República, com a economia paralisada e a política despencando. Situação e oposição obrigam-se a encerrar o conflito verificado há meses, sob pena de dissolução das instituições. Será interromper ou desaparecer.

Continuando Dilma, ela será forçada a mudar não apenas o governo, mas a forma de governar. A apelar para a união nacional. Do mesmo modo, se a vitória couber a seus adversários: Michel Temer enfrentará igual necessidade.

Com a presidente de inquilina do palácio da Alvorada até 2018, crescem as chances para o PT emplacar o Lula, naquele ano, claro que na dependência de fatos novos ao redor da Operação Lava Jato. Derrotados agora os companheiros, abre-se o leque: dos ortodoxos, tipo Aécio, Alckmin e Serra, até Marina Silva e Ciro Gomes. Surpresas sempre poderão sobrevir, mas o fundamental será, no caso de vitória ou derrota, uma completa reviravolta na forma de governar.

Carlos Chagas

A bomba do desemprego

Entre as mazelas econômicas, a que tem o maior potencial para drama individual e tensões sociais é o desemprego. Por essa razão, é o principal problema social, que deve ser elevado à condição de prioridade número um e ser enfrentado sem tréguas. Apesar da relevância do desemprego, esse assunto tem frequentado as notícias e as manchetes da imprensa como um problema comum do país. Uma explicação possível para isso é a enorme crise moral e política que tomou conta da nação em face do processo de impeachment e da interminável montanha de fatos de corrupção apurados no âmbito da Operação Lava Jato.


Segundo dados oficiais, o Brasil tem pouco mais de 100 milhões de pessoas na chamada “população economicamente ativa”, aquela em idade e condições de trabalhar. Dessas, perto de 10 milhões já estão atingidas pelo desemprego. Há quatro anos, os estudiosos de economia vinham alertando para a estupidez contida na fala da presidente Dilma quando ela dizia que o Produto Interno Bruto (PIB) caiu, mas o nível de emprego foi preservado. Esse discurso foi feito antes que a queda do PIB jogasse o desemprego nas alturas, coisa que os leitores de história econômica sabiam que iria acontecer. Quando o PIB cai, o desemprego demora um pouco para aumentar e aparecer nas estatísticas, por razões técnicas que teorias econômicas já estudaram.

O PIB de 2014 foi igual ao do ano anterior; o de 2015 caiu 3,8% em relação ao de 2014; e as estimativas do próprio Banco Central (BC) informam que o PIB de 2016 deve cair mais 3,5%. Somente alguém com desconhecimento de economia pode imaginar que, numa situação como essa, o desemprego não aumentaria. É lícito imaginar que a presidente da República tenha feito discursos como os que fez por estratégia política, não por desconhecimento de que o desemprego fatalmente iria aumentar mais adiante.

Um governante colhe a desconfiança da nação e a descrença dos investidores quanto tergiversa e mente, coisa que os marqueteiros do governo sabem muito bem, sendo estranho que a presidente Dilma tenha tomado o caminho de ludibriar a nação com discursos insustentáveis no médio prazo. A presidente vive reclamando da imprensa e de quem mais a alerte para os erros de comunicação que ela e seu governo cometem, mas a realidade é que a imprensa não cria fatos nem discursos, apenas os divulga. No caso do aumento do desemprego, nada é inventado: os dados divulgados são dos órgãos oficiais e não há como amenizar o drama.

O desemprego no Brasil atingiu em torno de 4,5 milhões de trabalhadores ao fim de 2014 e, apenas um ano após, caminhava para chegar perto de 10 milhões. Mais que o número em si, é grave a trajetória da taxa de desemprego, que continua crescendo em 2016, pois há uma relação direta entre o crescimento do PIB e a taxa de desemprego, ainda que os efeitos ocorram com defasagem de alguns meses entre um e outro. Assim, o discurso presidencial de que, apesar da queda do PIB, o desemprego não aumentou foi uma pixotada sem tamanho.

Tratar os brasileiros como ingênuos a quem não se pode dizer a verdade é um erro da líder da nação, além de só contribuir para reduzir ainda mais a credibilidade de suas afirmações. Ou a presidente não ouve ou está mal assessorada em relação ao conteúdo de seus discursos e daquilo que diz ao povo. O desemprego é assunto sério demais para se prestar a declarações inverídicas.