Fascinados pelo moderno, somos como o Carlos da Maia e o Ega ("Os Maias"), que vão a correr atrás do elétrico na esperança de virem a ser civilizados.
terça-feira, 16 de julho de 2024
Informação não é conhecimento
Fascinados pelo moderno, somos como o Carlos da Maia e o Ega ("Os Maias"), que vão a correr atrás do elétrico na esperança de virem a ser civilizados.
A cor de cada um
– Este é o melhor – proclamaram uns tantos. – Sendo resumo de todas as cores, é cor sem cor, e a gente fica mais à vontade.
Alguns hesitavam. Se houvesse o duas-cores, hem? Furta-cor também não seria mau. Idem, o arco-íris. Havia arrependidos de uma cor, que procuravam passar para outra. E os que negociavam: só adotariam uma cor se recebessem antes 100 metros de tecido da mesma cor, que não desbotasse nunca.
– Justamente o ideal é a cor que não desbota – sentenciou aquele ali. – Quando o Governo vai chegando ao fim, a fazenda empalidece, e pode-se pintá-la da cor do sol nascente.
Este sábio foi eleito por unanimidade Presidente do Partido de Qualquer Cor.
Carlos Drummond de Andrade, "Contos Plausíveis"
Bolsonaro vai continuar sangrando até ser condenado e preso
No embalo do atentado a tiros contra Donald Trump, um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, o mais ideológico, espalhou que seu pai, caso Trump se reeleja, sairá vencedor. Uma vez empossado, Trump pressionaria a justiça brasileira e o Congresso para libertar os golpistas do 8 de janeiro. O passo seguinte seria restabelecer a elegibilidade de Bolsonaro.
Você é capaz de imaginar Trump dedicando-se a salvar Bolsonaro e os bolsonaristas condenados por atentarem contra a democracia – e, no caso de Bolsonaro, roubo de joias e fraude em atestados de vacina contra o Covid-19? Faça-me o favor: Trump teria mais o que fazer. Seu interesse pela América Latina é igual a zero. Ele nunca pôs os pés por aqui.
E a justiça brasileira? Dá para imaginar a toga em modo de alvoroço para anular suas decisões e atender aos reclamos do presidente dos Estados Unidos, interessado em libertar golpistas que bateram continência a pneus e acamparam em portas de quartéis clamando por uma intervenção militar? Ora, tenha dó. Menos, menos.
Dó de mim, não de Bolsonaro. Ele não merece sua piedade. Sabe a última de Bolsonaro e da gangue que o cercava, todas pessoas honradas que só queriam o bem do país? O ministro Alexandre de Moraes – sim, sempre ele – suspendeu o sigilo do áudio de uma reunião onde Bolsonaro discute como salvar seu filho Flávio, o senador, da encrenca da rachadinha.
“É o caso de conversar com o chefe da Receita”, sugeriu Bolsonaro a duas advogadas de Flávio. Participaram da reunião que aconteceu em agosto de 2020 o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), o delegado Alexandre Ramagem, e o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República.
À época, o secretário da Receita era José Tostes. Bolsonaro menciona ainda o chefe do Serpro (estatal de processamento de dados do governo) e Gustavo Canuto que estava à frente da Dataprev, outra estatal de processamento de dados. Ramagem gravou a reunião – segundo ele, com autorização de Bolsonaro. Tiro no pé ou não?
A certa altura da gravação, ouve-se o general Heleno a comentar:
“Tentar alertar ele que ele tem que manter esse troço fechadíssimo. Pegar de gente de confiança dele. Se vazar [inaudível]."
No período de um mês, o secretário da Receita reuniu-se meia dúzia de vezes com as advogadas no Palácio do Planalto, e pelo menos uma vez com elas e Flávio no apartamento do senador. A gravação foi apreendida pela Polícia Federal no notebook de Ramagem e faz parte do inquérito que apura o uso da ABIN para beneficiar Bolsonaro e seus filhos.
O cerco (perdão!) a Bolsonaro nem tão cedo se fechará.
As festas da Convenção
A Convenção do Partido Republicano, tal como a que vai acontecer com os democratas, é uma festa aclamatória que dura alguns dias e que envolve milhares de membros do partido, em representação dos 50 Estado e do Distrito Federal de Washington. É uma festa pública de várias festas privadas que vão do inicio da tarde, a formal, até às tantas, quando o Sol aparece e o álcool se esgota em Milwaukee.
Tive a oportunidade única de fazer a cobertura, enquanto jornalista acreditado nas campanhas, das duas Convenções, no final dos anos 90, e o espetáculo é inesquecível. A começar logo na «cidade dos media»: são dezenas de espaços e tendas criadas e montadas no exterior do pavilhão onde se concentram milhares de jornalistas de todos os meios, sendo a maioria esmagadora (!) americanos. É nas Convenções que aparecem as maiores estrelas das televisões e jornais, sempre ladeados de um «staff» majestoso e quase infinito, com tudo à disposição. Nesta cidade trabalha-se, come-se, bebe-se, e outras coisas mais.
Desta vez, no Wisconsin, esta Convenção ganhou a proporção de um acontecimento mundial: todos querem ver a orelha e o estado de espírito de Trump, que acredita que Deus o salvou, sendo, por isso, um ex futuro presidente escolhido pela Providência Divina. Ouvimos isto, em 1939, há 85 anos, e acabou na Segunda Guerra Mundial. Deus não vota nas eleições americanas, nem em Trump ou Biden.