domingo, 23 de novembro de 2014
Apocalipse, agora
Os sonhos de hegemonia do PT invadem a matemática, como Lysenko invadiu a biologia nos anos 30 na Rússia, decretando que a genética era uma ciência burguesa. A diferença é que lá matavam os cientistas. Aqui tenho toda a liberdade para dizer que mentem.
Cadê você, Dilma? Disse que o desmatamento na Amazônia estava sob controle e desaba sobre nós o aumento de 122% no mês de outubro. Por mais cética que possa ser, você vai acabar encontrando um elo entre o desmatamento na Amazônia e a seca no Sudeste.
Cadê você, Dilma? Atacou Marina porque sua colaboradora em educação era da família de banqueiros; atacou Aécio porque indicou um homem do mercado, dos mais talentosos, para ministro da Fazenda. E hoje você procura com uma lanterna alguém do mercado que assuma o ministério.
Podia parar por aqui. Mas sua declaração na Austrália sobre a prisão dos empreiteiros foi fantástica. O Brasil vai mudar, não é mais como no passado, quando se fazia vista grossa para a corrupção. Não se lembrou de que seu governo bombardeou a CPI. Nem que a Petrobrás fez um inquérito vazio sobre corrupção na compra de plataformas. A SBM holandesa confessou que gastou US$ 139 milhões em propina.
E Pasadena, companheira?
O PT está aí há 12 anos. Lula vez vista grossa para a corrupção? Se você quer definir uma diferença, não se esqueça de que o homem do PT na Petrobrás foi preso. Ele é amigo do tesoureiro do PT. A cunhada do tesoureiro do PT foi levada a depor porque recebeu grana em seu apartamento em São Paulo.
De que passado você fala, Dilma? Como acha que vai conseguir se desvencilhar dele? A grana de suas campanhas foi um maná que caiu dos céus?
Um dos traços do PT é sempre criar uma versão vitoriosa para suas trapalhadas. José Dirceu ergueu o punho cerrado, entrando na prisão, como se fosse o herói de uma nobre resistência. Se Dilma e Lula, por acaso, um dia forem presos, certamente, dirão: nunca antes neste país um presidente determinou que prendessem a si próprio.
As instituições e a natureza das coisas
De forma lenta, gradual e segura, muitas instituições
nacionais vão se desligando do governo. Anos atrás seria inadmissível imaginar
a Polícia Federal trabalhando separada dos interesses do Executivo, agindo com
independência. Pelo contrário, basta lembrar os tempos da ditadura militar,
quando os policiais federais eram mero prolongamento do poder dos generais, um
deles sempre comandando a corporação.
O Ministério Público atuava na mesma linha. Cabia aos
procuradores federais denunciar subversivos e ameaçar jornalistas com a
aplicação da lei de Segurança Nacional e da lei de Imprensa. Mesmo na Nova
República, a Procuradoria Geral da República funcionava como advocacia do
palácio do Planalto e adjacências.
O próprio Poder Judiciário acomodava-se à força maior,
depois de aceitar a esdrúxula imposição de que determinados temas eram
“insusceptíveis de apreciação judicial”. Extinto o regime militar, o uso do
cachimbo ainda deixou a boca torta por longo tempo.
Quanto ao Congresso, libertado das tenazes do regime
castrense, ainda subordinou-se por anos a fio aos caprichos do presidente da
República, obrigadas as maiorias parlamentares a votar de acordo com os
interesses do Executivo. Claro que já então exigindo compensações fisiológicas.
Pois agora as coisas mudaram. Polícia Federal, Ministério
Público, Judiciário e até o Legislativo dão mostras de não estar mais amarrados
à vontade dos csares. Os poderes da União libertaram-se da tutela e passaram a
exercer suas prerrogativas constitucionais, em especial depois de 1988.
Só os companheiros não perceberam isso, imaginando deter o
mando absoluto que o Executivo não mais possuía. De Fernando Henrique ao Lula,
os presidentes da República começaram a bater de frente com as instituições que
a Constituição garantia, colhendo percalços sucessivos.
Assim estamos, consistindo as investigações, as denúncias,
os julgamentos e até as CPIs e as cassações numa espécie de marco a delimitar e
ampliar atribuições e prerrogativas que novas gerações assumiam e exerciam.
Por isso não se estranha estar o governo Dilma na defensiva,
sendo enquadrado pelo exercício das instituições nacionais. O palácio do
Planalto ainda dispõe de muito poder, mas não mais de todo o poder. Será
aceitar o rumo dos ventos, porque insurgir-se contra a natureza das coisas não
dá mais.
Século XXI
No século XXI todas as grandes Bibliotecas estão ao alcance
das mão, realizando o sonho alucinante do poeta Borges de uma Biblioteca
Infinita como paraíso.
No século XXI tudo o que acontece no mundo, eu sei agora, no
minuto em que está acontecendo, tudo é instantâneo e se dissolve como leite em
pó. Como poeira de um cometa fugaz.
No século XXI distância e tempo não existem mais como
conhecíamos antes. Posso alcançar a voz de um ser amado a milhares de
quilômetros de distância, agora no mesmo segundo em que penso em sua voz.
Mas no século XXI, como na Idade Média, como na Europa
depois das grandes guerras, no século XX,como na Pré-história, as pessoas se
deslocam de um lado para outro, caminham foragidas por grandes distâncias,
açoitadas pela fome, pelo medo, pela saudade das suas casas ou cavernas
perdidas.
São milhares os apátridas, os refugiados, as crianças que
atravessam órfãs e sozinhas as fronteiras
Mas no século XXI, as atrocidades se parecem com atrocidades
antigas, perdidas no fundo do poço do tempo.
O inimaginável acontece no século XXI . O mal em estado
puro. O mal em estado absoluto. Pessoas desaparecem, e como na história da
Alice no País das Maravilhas, que me dava tanto medo quando eu era criança, uma
voz diz : "Cortem-lhe a cabeça". Seja no México, na Síria, no Iraque.
Precisamos abraçar nossas crianças, oferecer amor , o pão da
beleza, arte, pedaços de aurora e sussurrar em seus ouvidos as mais lindas
canções e dizer, podemos ser bons, podemos plantar, podemos cuidar, podemos
guardar no coração o rastro azul de um cometa, podemos, como diz a Bia Bedran
em seu livro "Fazer um Bem", fazer um pequeno bem cotidiano por
qualquer ser vivo, e até mesmo pelas pedras.
Podemos afagar nossas crianças e sussurrar em seus ouvidos,
vamos mudar o mundo.
Roseana Murray
Gotas de lágrimas (1930)
Mozart Bicalho (1901/1986) foi violonista, compositor e poeta pouco
lembrado, mas que deveria figurar entre os mais importantes compositores
brasileiros na primeira metade do século XX.
O eleitor consciente não sabia
A gasolina aumentou, a energia vai aumentar muito, o teto da meta de inflação virou piso e os juros voltaram a subir
Os eleitores progressistas de Dilma Rousseff estão
radiantes. Foi muito importante a esquerda ganhar a eleição no Brasil. O
candidato burguês da elite branca jamais celebraria o Dia da Consciência Negra
como o fez a presidente mulher e oprimida. Devota de Zumbi (o que fica claro
pelo estilo do seu governo), Dilma exaltou um Brasil que “se orgulha da sua
cor”. Se você não sabia, eleitor derrotado da direita capitalista, agora ficou sabendo:
o Brasil tem uma cor. E não é a sua, seu branco azedo. Aí você perguntaria: se
o Brasil de Dilma é negro, não seria melhor ela entregar logo a Presidência a
Joaquim Barbosa e se exilar na Argentina?
Pronto, lá vem a elite branca com a sua vocação golpista. É
bem verdade que também há brancos entre os eleitores conscientes que salvaram o
Brasil, garantindo mais quatro anos ao PT. Mas é só aparência. São todos negros
por dentro. Negros como o petróleo viscoso que jorrou nas contas bancárias do
PT e aliados nos últimos dez anos.
O eleitor progressista do bem votou na candidata do povo já
sabendo o que tinha acontecido com a Petrobras. Desde o início do ano a
Operação Lava-Jato da Polícia Federal veio mostrando, como numa novela de
Aguinaldo Silva, capítulo por capítulo da privatização da maior empresa
brasileira pela maior quadrilha brasileira — instalada na diretoria da estatal
com as inconfundíveis digitais petistas. Nada disso abalou o eleitor de
esquerda, porque ele sabe que privatização perigosa é a dos neoliberais. Se o
PT e sua gangue tomam posse do que é do povo, isso é socialismo. No máximo na
próxima encarnação você recebe a sua parte.
O que talvez tenha chateado um pouco o eleitor antenado de
Dilma foi um detalhe desagradável do caso Petrobras. Só depois de passada a
eleição, ele ficou sabendo o nome da empresa offshore do ex-diretor de serviços
Renato Duque — um dos prepostos petistas no esquema, que está preso. A empresa
depositária das propinas no exterior se chama “Drenos”. Isso magoa um progressista.
Mensalão, petrolão, enfim, drenar o dinheiro do povo por 12 anos, prorrogáveis
por mais quatro, tudo bem. Mas fazer piada interna com isso é demais. Os
companheiros Valério, Delúbio e Vaccari jamais fariam isso. Parece até coisa da
elite branca.
Os desvios criados pelo PT nesses três mandatos do governo
popular sempre foram coisa séria — dinheiro sujo para financiar a revolução
limpa e gloriosa (e os charutos do Delúbio, que ninguém é de ferro). Enfim,
roubaram sem perder a ternura. O eleitor progressista e libertário do Rio de
Janeiro — que junto com Minas Gerais decidiu a eleição em favor de Dilma —
sabia de tudo isso, e explodiu de orgulho do seu voto no PT. Só não sabia que,
no meio de toda a sucção revolucionária de dinheiro público, havia um engraçadinho
batizando uma offshore do esquema de Drenos. Como assim? Como um companheiro do
bem que ama o Nordeste, os negros e os pobres faz uma coisa dessas? Será que
ele confundiu socialismo com drenagem?
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