terça-feira, 4 de agosto de 2015

Crise tripla no Brasil

O Brasil atravessa três crises: política, econômica e ética. O mais grave é que acontecem ao mesmo tempo e se alimentam mutuamente. Enquanto o país, sob o carismático Lula, viveu a euforia alimentada pela ampliação do crédito e a entrada no consumo de 30 milhões de pessoas que vinham da pobreza, tudo parecia mais fácil. Mas os problemas já vinham incubando-se; e, depois da chegada de Dilma Rousseff ao poder, o respaldo dos partidos que tinham apoiado o Governo em troca de prebendas se rompeu. A presidenta já perdeu a confiança popular —seu apoio caiu a 7,7%— e os juízes, estimulados pelo aplauso da rua, investigam a fundo o escândalo de corrupção na Petrobras, a joia da coroa empresarial do Brasil, no qual além disso estão envolvidos os diretores das maiores companhias do país e dezenas de políticos.
 
A confluência das três crises colocou em questão o modelo da última década. O Brasil sofre hoje de alta inflação, vê crescer o desemprego, tem taxas muito altas de juros, a dívida pública aumentou e o PIB está em recessão. O país empobreceu e crescem os protestos ao mesmo tempo em que se torna mais valente uma oposição que esteve eclipsada pelo poderio midiático de Lula, agora também sob suspeita de tráfico de influências. O Brasil começa a discutir a validade do presidencialismo de coalizão. É improvável que a pressão dos que exigem a saída de Rousseff devido às suspeitas de ter financiado sua campanha eleitoral com dinheiro da corrupção desemboque em um impeachment, mas a tensão é evidente e pode desencadear mudanças nas alianças políticas.

Nos próximos meses —com o desafio da realização dos Jogos Olímpicos do Rio— se verá se as reformas políticas e econômicas servem para esclarecer os escândalos de corrupção e para que este gigante regional e global encontre de novo o caminho do crescimento. É a hora da responsabilidade: para o Governo, mas também para a oposição.

El País - Editorial

Prisioneiro compulsivo

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Dilma cai ou não cai?

  Minha resposta, quase diária a quem me faz essa pergunta é: "A presidência da Sra. Dilma Rousseff já acabou, c'est fini". E isso corresponde aos fatos. Temos um governo no qual muitos mandam e onde a pessoa que deveria por ordem na casa só aparece para falas em que sujeitos, predicados e complementos trocam empurrões sem saber seu lugar na frase nem qual a ideia que deveriam expressar.

 Se tudo balança, é muito improvável que algo não caia. E a presidente é, nesse sentido, a possibilidade mais viável. O presidencialismo, mesmo em tempos de normalidade, precisa de liderança. E Sua Excelência está na situação do sujeito que abriu uma empresa registrando como ativo um patrimônio que não tinha. Foi anunciada ao povo como o braço direito de Lula, a mãe do PAC, a gerentona, a mestre em economia. Conseguiu esticar a validade desse suposto legado até a contagem dos votos no dia 26 de outubro do ano passado. Já no Dia de Todos os Santos, nem Franklin Martins e João Santana, juntos, conseguiam o milagre de ocultar à opinião pública o fato de que os sucessivos governos petistas haviam construído, com caprichosa irresponsabilidade, um caos perfeito.

Luiz Inácio Lula da Silva, hoje, é um conhecido corretor da praça. Outrora exerceu a presidência da República e desde então escolheu seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, para a função de gabarito com o qual periodicamente se mede. Sempre com vantagem, desde seu ponto de vista. Pois ao sugerir um encontro reservado com o antagonista preferido, o corretor Lula emite sinais muito claros de que a casa do PT, há bom tempo instalada no Palácio do Planalto, balança perigosamente. Se Lula quer negociar é porque percebeu a depreciação. Hora de vender.

Ele sabe que Dilma será a coveira de suas ambições se continuar no cargo até 2018. Em mais três anos ela acaba com suas pretensões, com o próprio partido e com o país. Portanto, vejo como muito possível que, em algum momento, o fim da presidência de fato levará ao fim da presidência de direito. Muitos já tratam desse tema. Ele está na pauta do Congresso e é falado nos corredores do TCU e do STF. Estará na pauta das mobilizações populares, a partir do dia 16 de agosto. E entrou na pauta do corretor Lula. Ele tem consciência de que uma parcela imensa da sociedade, do clube de bridge à rinha de galo, foi afetada pela barafunda ideológica e pelos aparelhamentos que o levaram ao poder. E não terá o menor escrúpulo, o corretor Lula, em usar a seu favor o que venha a acontecer até 2018. Nesse maldito presidencialismo de compra e venda, o perigo continuará rondando o Brasil.

Percival Puggina

Descrença e impunidade

Fernando Henrique nos relata na coluna deste domingo no GLOBO seu alerta, ainda em 2013, a Dilma e aos ex-presidentes Sarney, Collor e Lula, quanto aos “perigosos limites atingidos pela descrença da sociedade no sistema político”. FHC teria já então compreendido as enormes dificuldades de promover ajustes econômicos em meio à descrença na política. Portanto, convocava as lideranças ao entendimento para “propor ao país um conjunto de reformas para fortalecer as instituições políticas. Mas a hora para agir já não é mais, de imediato, do Congresso e dos partidos, e sim da Justiça”, prescreve o tucano.

Tenho insistido que, por omissão e imprudência do Executivo e do Legislativo, que ignoraram os sucessivos escândalos de corrupção e a desenfreada roubalheira por tempo demasiado, coube agora ao Poder Judiciário uma revolucionária iniciativa em busca de aperfeiçoamento institucional. Os próximos meses serão decisivos para o desfecho da crise política. Enquanto persistir esta crise, estaremos limitados à tentativa de controle inflacionário recorrendo a juros astronômicos pela insuficiência nas doses de ajuste fiscal.

“As práticas eleitorais e partidárias do presidencialismo de cooptação estão sob julgamento. A criação de 39 ministérios é a garantia do insucesso administrativo e da conivência com a corrupção. Por que não assumimos nossa responsabilidade para mudar o sistema e sair do lodaçal que afoga a política?”, perguntava FHC há pouco mais de um ano. Poderia ser tudo bastante diferente se Dilma estivesse se reunindo com os governadores para tratar de uma abrangente reforma administrativa do Estado apoiada em pacto federativo de enxugamento do número de ministérios e descentralização de recursos fiscais. E também se os presidentes do Senado e da Câmara estivessem tratando de uma reforma fiscal e de mudanças no sistema político e na legislação eleitoral que permitissem essa troca de eixo na sustentação parlamentar.

Por que nunca antes em qualquer lugar do mundo houve um programa de combate à inflação que durasse décadas? Por que estaríamos condenados à mais longa sequência de bilionários escândalos políticos da História? “Enormes somas passando pelas mãos do Estado”, diria Marx aos tucanos e petistas. “Impunidade”, diriam Barbosa e Moro.

Paulo Guedes

Deu tudo errado


Terminava a década de cinquenta e a União Soviética empolgava a Humanidade, em especial a juventude. Os russos haviam lançado o Sputnik, primeira espaçonave da História a circundar o planeta. Depois, Yuri Gagárin descobria que a Terra era azul. Nikita Kruschev prometia que em poucos anos o mundo seria todo socialista, enquanto os primeiros foguetes americanos explodiam a poucas centenas de metros acima do solo. Entusiasmei-me, nos meus vinte anos, matriculando-me num curso de língua russa, idioma que em breve todos estariam falando.

Era repórter do Globo e passei a ser visto de viés por um dos irmãos Marinho, claro que não o dr. Roberto. Só que aquelas letras do alfabeto cirílico eram de tal maneira trocadas e confusas que não se passarem três meses até que desisti. Hoje, tantas décadas depois, pergunto-me se não deveria ter estudado chinês, ainda que supondo o mesmo resultado…



Essa historinha se conta a propósito do governo Dilma. De uns dias para cá ela se tem empenhado numa maratona de otimismo ululante. Reúne os governadores, oferece jantares para os dirigentes e líderes dos partidos que a apoiam, despacha ministros para dialogar com deputados e senadores, mobiliza as forças sindicais e tenta, de todas as formas, injetar otimismo numa nação quase posta em frangalhos. Promete que em breve o crescimento econômico será retomado, que a volta da inflação é um pesadelo inconsequente e o desemprego, mera ilusão dos derrotistas.
 

A presidente vive no limiar da frustração, sem percebê-lo, mas melhor que seja assim. Faria o quê, caso reconhecesse a derrota? Poderia precipitar a ebulição, antes que ela chegasse? Ou encontraria forças e bom senso para recomeçar no sentido oposto ao que vem percorrendo em sua bicicleta, de manhã bem cedo, ao pedalar pelos arredores do palácio da Alvorada, mais ou menos como um astronauta distribuindo bissextos acenos à garotada no rumo das escolas. Mais tarde, recebe ministros palacianos sem coragem de transmitir-lhe as más notícias do dia, para depois irritar-se com o noticiário dos jornais que teimam em desmentir suas previsões de um futuro brilhante para o país e seu governo. Vive a fantasia de estarmos apenas diante de dificuldades passageiras.

A gente se pergunta até onde irão os sonhos de Madame, se ela persiste em desmentir os postulados nos quais a população acreditou que cumpriria e por isso votou nela? É claro que também foi enganada, ou enganou-se, em função de o PT faltar-lhe na essência de um projeto desfeito nas brumas da corrupção. Ou será que desde o início desacreditava na capacidade de os companheiros mudarem o Brasil? De qualquer forma, sem o apoio deles e sem apoiá-los, entregou-se nos braços daqueles que passou a juventude combatendo, até de armas na mão. Tornou-se campeã das privatizações, da livre competição entre quantidades desiguais, da redução de direitos trabalhistas, da compressão salarial das massas, do lucro dos bancos, de maiores benefícios aos privilegiados e da inação diante do desemprego.

O resultado não demora muito e não há mais cursos de russo para ninguém matricular-se

Carlos Chagas

De novo

O Estado

Resultado de imagem para ministérios demais chargeSegundo informações do IBGE, o Estado brasileiro conta com 39 Ministérios (por que ainda não arredondaram para 40?) que consomem 400 bilhões de reais por ano. Só para comparar: Getúlio tinha 11 Ministros, os governos militares tinham 16 e Luiz Inácio pulou para 35. Comparando com outros países, os Estados Unidos têm 15 e a Alemanha 14... Temos também 900.000 funcionários públicos federais, dos quais 113.000 apadrinhados, a maioria rotulada de assessores (não concursados); eles consomem 214 bilhões de reais por ano em vencimentos. Muitos nem podem ir à repartição em que estão lotados, por falta de espaço; ficam em casa mesmo. Temos ainda carros oficiais de luxo com motorista que gastam 1,5 milhão de reais por ano; apartamentos de luxo, mobiliados, em Brasília; escritórios políticos nos Estados; centenas de funcionários para cortar cabelo, engraxar sapatos, servir água e cafezinho, abrir e fechar portas... etc. etc. etc. Podem estar certos: se esse quadro contém erros é para menos – a realidade é muito pior.
Que faz esse monstruoso Leviatã? Deveria dar-nos: a segurança de que necessitamos e não nos dá; dar-nos as ferrovias, hidrovias, rodovias de que também carecemos e não nos dá; os portos que nos fazem falta; aeroportos eficientes; o tratamento à saúde pública que o povo reclama com razão; a superação da falência de nossas escolas mendicantes. Em compensação, suportamos a falta d’água, de energia elétrica, de medicamentos, de hospitais, de creches e escolas. Enfrentamos a produção industrial em queda, o comércio paralisado... A economia em recessão, o PIB que cai, a dívida pública que aumenta e a balança comercial que despenca... Como consequência, o Brasil entra na faixa dos maus pagadores no mundo financeiro internacional.

Sob esse tétrico pano de fundo, no qual a inflação e o desemprego gracejam sorridentes, fala-se em projetos para superar a mais terrível crise político-econômica que enfrentamos, como nunca antes nesse País. Remédio simples e corretíssimo seria reduzir o tamanho desse Governo monstruoso e ineficiente: menos Ministérios, menos casas legislativas (por que duas?), menos Deputados e Senadores, menos assessores, menos funcionários e mordomia zero: menos apartamentos, carros, viagens, cartões de crédito... menos, muito menos! Mas não. O que fazem é paralisar os investimentos, diminuir os já paupérrimos benefícios dos aposentados, aumentar o número e os vencimentos dos funcionários, a carga tributária, os juros e o preço dos produtos administrados pelo governo. Ou seja, os mesmos políticos, que anunciam dramaticamente estarem dispostos a cortar a própria carne, só cuidam de salvar o deles e sangrar o povo; o resultado é exatamente mais inflação e mais desemprego. Nesse ambiente eles descobrem, em um círculo vicioso, a necessidade de mais crescimento do Governo; e o Leviatã satisfeito aplaude!

Que será que nos falta para a redução desse governo gigantesco? Líderes inteligentes e honestos? Seriedade e racionalidade? Parece que sim.

Jacy de Souza Mendonça

PT comprometeu a economia por, no mínimo, dez anos

O economista João Sayad, ex-ministro do Planejamento, está sendo otimista demais, esperando que haja crescimento a partir de 2018. É só lembrar que a cada ano que Dilma deixa de executar o corte de gastos correntes, sem promover, de fato, o ajuste fiscal, na prática, ela empurra para frente – o correspondente a três exercícios, ou três anos – a possibilidade de recuperação econômica.

Portanto, como em 2015 a tentativa de obtenção de Superávit Primário já é um fiasco, temos mais três exercícios – 2016, 2017 e 2018, no mínimo – comprometidos com o ajuste, que deve ser perseguido em escala crescente nesse período. Até que se obtenha o montante suficiente para cobrir os juros da dívida.

E enquanto a inflação não der trégua a taxa básica de juros brasileira não vai cair, induzindo o padrão recessivo por falta de investimento e ampliação do consumo.

Além disso, depois da inflação dominada, demandará um bom tempo até que a política de rendas dê ao brasileiro condições de retomada no crescimento do consumo, podemos dizer que esperar crescimento para 2018 é sim uma posição muito otimista do Sr. Sayad.

Na verdade, o PT já comprometeu a economia por, no mínimo, dez anos, desconsiderando, isso, os primeiros quatro anos de Dilma. Todos os fundamentos do equilíbrio econômico deterioraram, e só não estamos pior, porque ainda temos alguma reserva cambial.

Outra coisa em relação à declaração do Sr. Sayad, a perda do grau de investimento num primeiro momento é de fato a desvalorização cambial (aumento da cotação do dólar) que já está acontecendo mesmo antes da queda da gradação pelas agências de risco.

Mas, num segundo momento o perigo que está se avizinhando é o esgotamento das nossas reservas e a provável futura necessidade de termos de recorrer ao FMI e nos submeter a um arrocho fiscal e monetário muito maior, a beira do insuportável, como já vivemos no segundo período do governo de FHC, quanto tivemos que suportar um ajuste imposto pelo Fundo Monetário Internacional para preservar o real.

Só que agora o sacrifício não será por uma causa justa, como a manutenção do equilíbrio monetário, mas, pela irresponsabilidade, pelo amadorismo e mesmo pela maldade de um grupo político que está nos empurrando para o abismo econômico-social.

Wagner Pires