O Brasil atravessa três crises: política, econômica e ética. O mais grave é que acontecem ao mesmo tempo e se alimentam mutuamente. Enquanto o país, sob o carismático Lula, viveu a euforia alimentada pela ampliação do crédito e a entrada no consumo de 30 milhões de pessoas que vinham da pobreza, tudo parecia mais fácil. Mas os problemas já vinham incubando-se; e, depois da chegada de Dilma Rousseff ao poder, o respaldo dos partidos que tinham apoiado o Governo em troca de prebendas se rompeu. A presidenta já perdeu a confiança popular —seu apoio caiu a 7,7%— e os juízes, estimulados pelo aplauso da rua, investigam a fundo o escândalo de corrupção na Petrobras, a joia da coroa empresarial do Brasil, no qual além disso estão envolvidos os diretores das maiores companhias do país e dezenas de políticos.
A confluência das três crises colocou em questão o modelo da última década. O Brasil sofre hoje de alta inflação, vê crescer o desemprego, tem taxas muito altas de juros, a dívida pública aumentou e o PIB está em recessão. O país empobreceu e crescem os protestos ao mesmo tempo em que se torna mais valente uma oposição que esteve eclipsada pelo poderio midiático de Lula, agora também sob suspeita de tráfico de influências. O Brasil começa a discutir a validade do presidencialismo de coalizão. É improvável que a pressão dos que exigem a saída de Rousseff devido às suspeitas de ter financiado sua campanha eleitoral com dinheiro da corrupção desemboque em um impeachment, mas a tensão é evidente e pode desencadear mudanças nas alianças políticas.
Nos próximos meses —com o desafio da realização dos Jogos Olímpicos do Rio— se verá se as reformas políticas e econômicas servem para esclarecer os escândalos de corrupção e para que este gigante regional e global encontre de novo o caminho do crescimento. É a hora da responsabilidade: para o Governo, mas também para a oposição.
El País - Editorial