sexta-feira, 18 de abril de 2014

O ministro cabeçudo


O ministro Wang Anshi (1021/1086), na China imperial, apesar de reformador, ganhou popularidade como o “Ministro Cabeçudo”, considerado que era de incapaz de aceitar bons conselhos e se recusar a admitir erros. Se implantou instituições de socorro popular, hospitais, dispensários, cemitérios públicos, baseando-se num modelo de fundações caritativas criadas pelos mosteiros budistas, ficou mesmo conhecido como o homem dos três não vale a pena: “Não vale a pena temer a ira divina, não vale a pena respeitar a opinião pública e não vale a pena conservar as tradições”.
Segundo Lin Yutang (1895/1976), escritor chinês muito conhecido no Ocidente, em “O sábio jovial”, o ministro tinha muita semelhança com certos administradores públicos de hoje. Wang Anshi não tolerava oposição de nenhuma espécie, viesse de amigos ou de adversários. Com grande capacidade de persuasão, sabia como fascinar o imperador com a ideia de um Estado forte e estava decidido a lutar por suas teorias sociais mesmo com “o esmagamento de toda oposição e em particular com a anulação da censura imperial, cujo primeiro dever era fazer a crítica da orientação política e da maneira pela qual se conduziam os negócios públicos”.
A grande curiosidade do relato de Yutang sobre o ancestral ministro é a semelhança com que hoje qualquer um pode esbarrar virando uma esquina brasileira. Wang Anshi se considerava um reformador e todo aquele de quem não gostava era um “reacionário”. “Acusava todos que o criticavam de pretenderem malevolamente dificultar as reformas”. O ministro até mesmo chegou a ser apontado de tentar fechar a boca do povo, “amordaçar toda a liberdade de crítica ao governo”. Parece longe a história do ministro cabeçudo chinês, mas há nela muita coincidência com certos governantes de hoje no Brasil. 

O mal do encantamento

“O homem deixa-se facilmente enlevar pelo encanto do maravilhoso, e é explorando este segredo da fraqueza humana que o charlatanismo abusa da simplicidade dos crédulos e à custa deles bate moeda na forja da impostura, ou sacrifica à sua corrupção as inocentes vítimas que loucamente espontâneas se precipitam nesse perigoso desvio da razão”
(Joaquim Manuel de Macedo , “As víctimas-algozes”, 1869)

Soube que vocês nada querem aprender

Valeriano Bécquer, "Gustavo Adolfo Bécquer lendo"  (1864), 
Biblioteca Nacional, Madrid


Bertolt Brecht
Soube que vocês nada querem aprender
então devo concluir que são milionários.
Seu futuro está garantido – à sua frente
Iluminado. Seus pais
cuidaram para que seus pés
não topassem com nenhuma pedra. Neste caso
vocês nada precisam aprender. Assim como estão
podem ficar.

Havendo dificuldades, pois os tempos
como ouvi dizer, são incertos
Vocês têm seus líderes, que lhes dizem exatamente
o que têm a fazer para que fiquem bem.
Eles leram aqueles que sabem
as verdades válidas para todos os tempos
e as receitas que sempre funcionam.
Onde há tantos a seu favor
vocês não precisam levantar um dedo.
Sem dúvida, porém, se fosse diferente
vocês teriam muito o que aprender.
  

Eugen Berthold Friedrich Brech (1898/1956), além de poeta, foi um dos mais influentes dramaturgos e encenadores do século XX contribuindo com o teatro moderno criando principalmente o  conhecido Berliner Ensemble.