sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Sobram farrapos da fantasia liberal

Eu conto ou vocês contam ao ministro Paulo Guedes que o projeto dele acabou? Nunca teve viabilidade com o atual presidente, na verdade. Guedes embarcou numa canoa na qual não havia espaço para as ideias liberais. Ele sofre vetos diários às suas propostas e tem engolido em seco. Não privatizou, não reduziu barreiras ao comércio, exceto de armas, não diminuiu o tamanho do Estado. Seus assessores, ou gestores nomeados por ele, de vez em quando ficam no dilema entre a demissão ou ser humilhado pelo presidente Bolsonaro. Tudo o que conseguir agora será prêmio de consolação.

Não interessa mais se o presidente do Banco do Brasil fica ou não. André Brandão já foi informado que não tem qualquer autonomia de gestão, apesar de presidir um banco que tem acionistas privados e que atua num mercado que passa por imensas mudanças e aumento da competição. A Caixa Econômica Federal, que é inteiramente estatal, virou um braço da propaganda política bolsonarista. Pedro Guimarães, com seus 11 revólveres e seus litros de cloroquina, faz qualquer papel que agrade ao chefe. Virou ajudante de lives e animador de auditório. A última agência que abriu foi por ordem do presidente, e não por ser bom ou não para a Caixa. A intervenção na CEF já ocorreu em outros governos, mas agora virou o quintal da presidência. O presidente do Banco Central tentava ontem à tarde convencer o governo de que era preciso segurar Brandão no cargo. Se ficar, terá perdido qualquer liberdade de ação.

Paulo Guedes dá aos interlocutores sempre a mesma resposta quando é perguntado sobre suas derrotas. “O presidente é que foi eleito, ele é que tem os votos.” O ministro, porém, garantiu que este seria um governo liberal na economia. Para acreditar era preciso ignorar tudo o que Bolsonaro havia dito antes. Bolsonaro disse que o presidente Fernando Henrique merecia ser fuzilado por ter privatizado, só para citar um eloquente sinal. O mercado financeiro comprou a tese de que o ministro dobraria o presidente. Ocorreu o oposto.

A lista da intervenção de Bolsonaro nos assuntos do Ministério da Economia é enorme. Nesses dois anos, Bolsonaro vetou propaganda do Banco do Brasil, revogou um aumento da gasolina, avisou que nem a Ceagesp será privatizada, criou e capitalizou estatais militares, sepultou o projeto de fusão dos programas sociais, demitiu o presidente do BNDES, o secretário da Receita Federal. O secretário da Fazenda teve que sumir para não perder o cargo. A reforma administrativa dormiu na gaveta do presidente até ficar bem aguada, irreconhecível.

Na semana passada, o presidente disse que o Brasil havia quebrado e não podia fazer mais nada. Só isso já deveria ser o suficiente para o ministro, que chegou acusando de incompetentes todos os antecessores, pegar o seu boné. Mas ele, que estava de férias, preferiu sair do seu descanso e, mais uma vez, justificar a declaração do presidente.

O Tesouro terá que rolar mais de R$ 600 bilhões de dívida nos primeiros quatro meses. Se o presidente diz que o país está quebrado, o que os financiadores da dívida podem pensar?O ministro, quando tenta justificar tudo o que o presidente diz, erra. Nesse caso ele disse que Bolsonaro só se referia ao setor público. Piorou a declaração.

No Chile de Pinochet, os Chicago Boys impuseram reformas liberais num projeto ditatorial que deixou milhares de mortos. Liberalismo deveria ser o oposto de autoritarismo, mas muitos que se definem como “liberais” não são necessariamente democratas. O grupo que foi ao poder com Bolsonaro nunca se incomodou com a defesa que ele faz da ditadura e da tortura. Nunca se incomodou que ele disse, quando deputado, que a ditadura deveria ter matado 30 mil. Para eles, o importante é que iriam reduzir o tamanho do Estado, abrir a economia, privatizar, vender imóveis públicos, acabar com os subsídios. No 25º mês da administração, tudo o que têm para mostrar é uma reforma da Previdência que foi feita pelo Congresso e na qual o presidente só entrou para defender vantagens corporativas para a sua clientela.

Paulo Guedes já sabe que não deu. Mas tentará terceirizar a culpa para o Congresso, a oposição, Rodrigo Maia, a imprensa, a social-democracia. Vai fazer vistas grossas para todo o autoritarismo do governo. Inclusive na economia.

Brasil, o Pária

 


Paralisada pelo ódio

A florista está apavorada. Acorda e dorme todos os dias com o estalo da cabeça estourando depois de dobrar de tamanho, juízo fervendo no óleo quente das soluções possíveis a curto prazo, decepcionada com os rumos do povoado. O rei matou uns trezentos mil, dando o remédio errado e proibindo o certo, tem uma anotação de tracinhos marcando os números, feito pelo jornaleiro que recolhe a contagem nos hospitais e cemitérios e fica coberta com uma cortina, aberta todo dia às oito da noite. Estão mandando prender nas torres mais altas os quem foram descobertos pelo que acontecia dentro das próprias cabeças, nas costuras dos pensamentos, nas linhas que escreveram pra comunicar o que não cabe dentro do que se aceita, tudo do rei está fora da redoma onde fica o que se tem como certo mas é um mistério, ele segue intacto por cima dos cadáveres.

O círculo mais alto do poder tem o sistema Cristal, batizado por usar as esferas desse material, o mesmo das ciganas, mas as ciganas aqui não têm nada ver com isso, os artefatos foram roubados delas e manipulados, como é costume por essa terra. Pelo cristal os fiscais leem os pensamentos, tudo é catalogado, vai que presta pra usar um dia, as raivas por defesa, que guardam o fogo da convulsão e o espasmo precioso pra sobrevivência em meio mórbido.

A florista está agoniada. Paralisada no ódio e com medo, precisa passar longe de toda bola de cristal, vai saber qual serve a quem. O medo engessa igual a esse ódio, ideal é não sentir um nem outro e pra isso o único jeito é tomar o remédio miúdo do esquecimento, que tem na venda mais antiga. Esquecendo, ela fica como quem não sente, dá um passo e tem que estocar apagamento de memórias, vai deletando as novas sensações, largando empoeiradas em cada prateleira, nada indica que ela vai melhorar e o perigo se aproxima não pela primeira vez, detectores por todos os lados. Todos dão suas cordas pro inimigo poderoso guardar e usar quando quiser, materiais e motivos pra forjar prisões nas torres. Lembrar de não contar pra nenhuma pessoa viva, tentar ajudar sem abrir a caixa dos entendimentos, uma amiga já disse que isso tem um nome, coisa boa não é.

Ódio mortal, ela foi buscar nos livros, achou definição, é uma raiva figadal poderosa, nem do tipo que precisa reluzir no cristal pra ser notada, solta um cheiro forte, os fiscais de muito longe percebem. O rei mata e tortura nos porões e nas vielas e ruas longe da praça central e ruas de castelos. É ele que mata, mas quem tem que procurar as pílulas de disfarce é ela, que de morte só tem a sensação vinda de fora, partindo dela é munição invisível, não de revólver, essa daí é a do rei.

Ela só estava dando um jeito de não explodir a raiva pra dentro amargando tudo de vez, a bile apodrecendo também o que resta de bom, fantasiar pra poder seguir enquanto ele não fosse deposto. Ela não acredita que ele seria, só se fosse por traição de um dos seus, talvez nunca saísse, passasse para quem fosse ele estaria sempre lá, o estrago perpetuado.

O tamanho do rombo é de fôrmas de gigantes esculpidos na violência, todos enterrados em valas coletivas, muitos em pé, já não cabe em terreno algum, em câmaras frias, já não há terra, faz tempo que foi saqueada.

Haja arrodeio, nada indica que vá melhorar, ficou tão cansada que esqueceu de ir atrás dos comprimidos. Pode ser que seja só um pesadelo, está durando porque o sono é pesado e a gente perde as contas quando dorme. Foi espairecer e acabou ainda mais estragada. Recebeu conselhos, arrumou jeito de viver em tempos mais sombrios que outros, mas faz tempo que não se importava muito se não encontrasse. Não quer reinventar nada, o jeito de vender flores, muito menos a si mesma, muito menos empreender, muito mais tristeza e falta de esperança.

E quando as floristas perdem as esperanças é sinal de que as coisas vão demorar muito de melhorar.
 Karina Buhr,

Rascunhado nas estrelas

Pesquisei as previsões de astrólogos, videntes e babalorixás para 2021. Qual não foi minha surpresa nenhuma ao descobrir que ninguém — nem mesmo os Simpsons, useiros e vezeiros no quesito futurologia delirante — prenunciou a intentona trumpista de 6 de janeiro.

Márcia Sensitiva cravou a derrota de Trump, mas ignorou seus esperneios. Vaticinou vacinas em meados de abril, chuvas torrenciais (com queda de barrancos) e movimento de placas tectônicas (com terremotos) ao longo do ano, sem tremor e desmoronamento algum em janeiro. A numeróloga Aparecida Liberato apontou que fevereiro, abril, maio, junho, agosto, setembro e novembro seriam os meses mais desafiadores — janeiro passou batido. 

A astróloga Cristiane Bernardes apontou que Júpiter e Saturno em Aquário indicam que há “um grande potencial para inovações tecnológicas”. Será que isso inclui estratégias diversionistas para neutralizar a vigilância do Capitólio mediante o uso de chifres, tatuagens e calças um palmo abaixo do umbigo? Para Cristiane, “é muito provável que o primeiro semestre de 2021 seja bastante agitado, com conflitos sociais generalizados, em especial entre pessoas interessadas em construir novas formas de conviver coletivamente e aqueles que preferem manter tudo como está, sem nenhuma mudança”. Tão preciso e específico quanto marcar o início da vacinação para a hora H do dia D.

Susan Miller, a Zora Yonara dos americanos, previu que os nativos de gêmeos (Trump é de 14 de junho) florescerão em 2021 quando se tratar de divulgar coisas digitais. O problema vai ser convencer Twitter, Facebook, Instagram, Google, Snapchat, YouTube e TikTok a lhe dar uma segunda chance. Haverá, segundo ela, oportunidades para que suas ações atinjam o público internacional. Nada sobre ter atingido, de forma letal, 5 cidadãos americanos e nem uma palavra sobre um impítimã 2.0 aos 45 do segundo tempo. </p><p>Finalmente, João Bidu nos conta que a lua minguante (que teve início exatamente no dia 6 de janeiro) é um período “benéfico para concluir tudo o que estiver em andamento” (uma conspiração, por exemplo?), para solucionar problemas (a retomada do poder pelos democratas?), fazer faxinas e consertos em casa (o gabinete da Nancy Pelosi precisava mesmo de uma intervenção disruptiva daquelas?). 


2022, por outro lado, oferecerá menos enigmas aos áugures. Pela primeira vez na História, teremos um golpe anunciado com dois anos de antecedência. E com o plus de poder ser um golpe em dois turnos (o G1 em 2 de outubro e o G2 no dia 30 — datas ainda a confirmar com os autogolpistas e o TSE). 

O lançamento da insurreição (ainda em esquema soft opening foi feito no dia seguinte ao fracasso do ensaio americano. “Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar o voto, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos.” 

O que estaria implícito nessa ameaça? E em que seria pior? Em vez do xamã conspiracionista descamisado, partidários do presidente derrotado adentrariam o Congresso fantasiados de mínions, fazendo sinal de arminha, capitaneados por ícones do Brasil profundo, como o Quico, a Cuca, a Nega Maluca?

Yuval Harari ensinou, em “Sapiens”, que há dois tipos de sistemas caóticos. O de nível 1 não reage a previsões (o que disserem os meteorologistas não afeta o índice pluviométrico). A política é caos nível 2: pesquisas que indiquem folgada margem de votos para um candidato podem levar seus eleitores a trocar a fila na seção eleitoral por um dia na praia, e lá se vai a vitória que parecia garantida. >

Como reagirão os brasileiros à ideia de que só há um resultado “aceitável” em 2022 — e de que a não recondução automática do atual presidente ao cargo configura fraude antecipada? 

Enquanto os arruaceiros/insurretos (depende do ponto de vista) ainda ocupavam o Capitólio, Rodrigo Constantino disse que, quando se passa quatro anos chamando alguém de fascista, é bom se preparar para a hora em que ele começar a agir como tal. 

Assim expira uma democracia. Não com uma revolução, mas com uma bravata e um ou outro tiro.

Temos dois anos pela frente. E não dá pra alegar que ninguém avisou. 

É essa coisa um presidente?

Neste momento, infelizmente, além de dar as notícias e trazer as informações corretas, estamos esgrimando com loucos, com irresponsáveis, com gente que é capaz de entrar num Whatsapp da vida e sair espalhando mentiras, as mais absurdas, crendices. Tem gente que faz isso investido de cargo público, que faz isso sistematicamente. Mas nós não vamos desistir
William Bonner (Jornal Nacional, 14 de janeiro 2021)

O povo contra a democracia

(...) A democracia prossegue em seu encolhimento global. Segundo novo relatório da Freedom House, adentramos o 13° aniversário de uma “recessão democrática”: em cada um dos últimos treze anos, mais países se afastaram da democracia do que foram em sua direção. As quatro democracias mais populosas do mundo são hoje governadas por populistas autoritários… o que, é claro, nos leva ao Brasil. Durante a campanha, Jair Bolsonaro demonstrou claramente suas semelhanças com Trump e Orbán. Como eles, Bolsonaro se pintou como o único representante verdadeiro do povo e chamou seus adversários de traidores ilegítimos; e, também como eles, atacou as regras e normas mais básicas das instituições do país — chegando a ponto de elogiar a ditadura militar que dominou o país por duas cruéis décadas.

O que define o populismo é essa reivindicação de representação exclusiva do povo — e é essa relutância em tolerar a oposição ou respeitar a necessidade de instituições independentes que com tamanha frequência põe os populistas em rota de colisão direta com a democracia liberal. Desse modo, a eleição de Jair Bolsonaro deve ser encarada como o evento mais significativo na história brasileira desde a queda da ditadura militar: pelos próximos anos, o povo terá de lutar pela própria sobrevivência da democracia liberal.

Os brasileiros conseguirão salvar a democracia brasileira? E terá o leitor deste livro algo a contribuir para essa que é a mais nobre das causas?

A resposta a ambas as questões é sim.


Há alguns meses, meu colega Jordan Kyle e eu começamos a montar o primeiro estudo sistemático do impacto que populistas do mundo todo tiveram sobre as instituições democráticas de seus países. Nossos resultados são desanimadores. A probabilidade de um populista causar um estrago duradouro ao grau em que um país pode ser considerado democrático é quatro vezes maior do que a de outros tipos de governantes eleitos. Apenas uma pequena minoria de presidentes e primeiros-ministros populistas deixa o governo por perder eleições livres e justas ou chegar ao fim do mandato. Quase metade conseguiu mudar a Constituição para se conceder poderes expandidos. Muitos restringem significativamente as liberdades políticas e civis desfrutadas por aqueles sob seu governo. E embora na campanha não raro prometam erradicar a corrupção, os países que governam ficaram, em média, mais corruptos.

Mas, apesar das más notícias, a principal lição a tirar desse estudo está longe de ser fatalista. Afinal, ele demonstrou que em muitos casos uma oposição disciplinada e atuante conseguiu fazer frente às tentativas do governo de expandir seus poderes. Assim como há populistas autoritários que concentraram poder nas próprias mãos e minaram as liberdades de seus súditos, também há casos em que os cidadãos removeram aspirantes a autocrata do governo com uma vitória acachapante nas urnas ou por meio de impeachment, devido à corrupção generalizada.

As evidências sugerem fortemente que a democracia brasileira corre grave perigo. Mas levam a crer também que o destino do país depende hoje das ações de defensores da democracia. Mas o que eles — você — podem fazer? A experiência de outros países sugere três lições principais.

Primeiro, a oposição sempre subestima o populista, deixando de enxergar a astúcia que espreita sob suas bravatas. Dos venezuelanos de classe alta que se convenceram de que Chávez não teria capacidade para continuar no poder aos italianos cultos que tinham certeza de que seus compatriotas em pouco tempo perceberiam que Silvio Berlusconi não passava de um charlatão ridículo, todos continuaram a escarnecer enquanto a vaca ia para o brejo. Com frequência, esse desdém pela figura de proa do populismo vinha acompanhado de uma palpável depreciação de seus partidários.

É fundamental que os brasileiros não cometam o mesmo erro: Bolsonaro é o adversário mais poderoso que a democracia brasileira enfrenta em meio século, e seus partidários são cidadãos que, como você, terão que compartilhar o país por uma década ou até um século. Não o subestime e não menospreze essas pessoas.

Segundo, os opositores dos populistas muitas vezes deixam de trabalhar unidos até se verem juntos na impotência. Na maioria dos países, os populistas só alcançam o cargo máximo porque seus adversários fracassam em concluir um pacto eleitoral. E embora seja natural presumir que a ameaça autoritária possa nos ajudar a enxergar as coisas com mais lucidez, o oposto geralmente se mostra verdadeiro: aflitos e apavorados, os adversários do populista começam a fazer o jogo político da pureza, impondo testes ainda mais decisivos a seus potenciais parceiros e recusando-se a abraçar antigos aliados do populista dispostos a lhe dar as costas.

Todos os brasileiros que reconhecem o perigo representado por Bolsonaro e estão comprometidos tanto com a liberdade individual como com a autodeterminação coletiva precisam trabalhar juntos, a despeito de suas enormes diferenças políticas. Você poderá voltar à luta por taxas de impostos mais justas ou debater os limites do Estado de bem-estar social depois que esse perigo iminente tiver sido afastado. Por ora, é preciso união — ou sujeitar-se à cisão.

Terceiro, os oponentes dos populistas muitas vezes deixam de visualizar uma perspectiva positiva para um país melhor. Em vez de tentar convencer seus colegas cidadãos de que eles podem oferecer benefícios tangíveis, concentram-se apenas nas falhas gritantes de seus inimigos. Se ao menos conseguissem chamar a atenção para suas mentiras, preconceitos e mau gosto, o país finalmente levaria um susto e acordaria do pesadelo, atônito — é o que parecem pensar.

Mas a maioria dos partidários dos populistas tem plena consciência de que seu líder mente, dissemina mensagens de ódio e não passa de um bronco. Convencidos de que os políticos tradicionais nada têm a lhes oferecer, é precisamente isso que os atrai nele. Sempre existe a chance, dizem a si mesmos, de que o populista realize uma fração de suas promessas irreais. E, pelo menos, ele vai poupá-los da hipocrisia envaidecida da velha-guarda.

É crucial que os políticos da oposição evitem a armadilha de deixar Bolsonaro determinar a agenda política, concentrando-se exclusivamente em suas falhas pessoais e políticas. Em vez de denunciar as palavras afrontosas que estão sempre saindo dos lábios dos populistas, eles deveriam tentar uma estratégia própria. Pois somente quando os cidadãos se sentem mais esperançosos do que fatalistas — apenas quando recuperam a confiança de que políticos mais moderados lutarão e trabalharão por eles — eles mudam seu voto. Para resgatar o país, os defensores da democracia liberal precisam provar para seus concidadãos não só que Bolsonaro é ruim para a nação, como também que eles podem fazer um trabalho melhor.

A batalha pela sobrevivência da democracia brasileira ainda não foi perdida. Ao contrário dos cidadãos da Turquia e da Hungria, você ainda tem nas mãos a capacidade de brigar por seus valores. Um excelente começo é protestar sempre que o presidente tentar expandir seu poder. Afinal, nada melhor do que centenas de milhares de pessoas de todas as classes e etnias tomando as ruas em uma jubilosa celebração da democracia para demonstrar que Bolsonaro não fala em nome de todo o povo.

Se você se importa com a proteção de sua liberdade, é seu dever solene exercer seus direitos antes que o novo presidente os tire de vez. Mas vá com calma: salvar uma democracia de um populista perigoso é como correr uma ultramaratona — e você acaba de transpor o primeiro quilômetro.