Humanos gostamos de nos imaginar como algo distinto da natureza, mas esse é apenas um viés —e bem tolo. Somos e sempre seremos parte dela. O clima sempre nos afetou. É até possível que o Homo sapiens tenha desbancado outros hominínios como o H. neanderthalensis devido a mudanças climáticas. Uma hipótese é que sobrevivemos –e eles não— não porque éramos mais adaptados para enfrentar os tempos frios que atingiram a Europa 35 mil anos atrás, mas mais simplesmente porque éramos em maior número.
Variações climáticas e ecológicas às vezes influíram em nossos destinos como agentes principais e sempre ao menos como coadjuvantes. O aquecimento registrado entre 200 a.C. e 100 d.C., por exemplo, ajudou Roma a obter melhores colheitas e tornar-se um império. O resfriamento entre 1100 e 1800 explica a maior prevalência de ataques a judeus devido a "preços altos" de comida. E há mais. Gêngis Khan teve o sucesso militar que teve porque a maior umidade nas estepes favoreceu a formação de seu exército.
O trabalho de Frankopan foi possível por causa de uma série de desenvolvimentos tecnológicos recentes que nos permitem estabelecer com precisão os padrões climáticos em diferentes tempos e lugares. Antes, esse tipo de variação só entrava para a história se algum autor percebesse a mudança enquanto ela ocorria e resolvesse registrá-la.
A moral da história é que dinâmicas ecológicas já extinguiram vários grupos e civilizações. Só sobraram os que souberam adaptar-se. Teremos muito trabalho nas próximas décadas.