domingo, 6 de abril de 2025

Pensamento do Dia

 


Trump estabelece nova forma de governo: a extorsocracia

O segundo governo de Donald Trump trata de forma peculiar atores políticos e sociais, como governos locais, universidades e escritórios de advocacia: submete-os à extorsão sistemática.

Se não se curvarem a seus caprichos e diretrizes, pune-os severamente, abusando dos poderes presidenciais, algo certamente inconstitucional. Porém, a estratégia de não ceder à extorsão, enfrentando o presidente nas cortes, é demasiado custosa. Leva muito tempo, com prejuízos imediatos irrecuperáveis e ameaças à própria sobrevivência.


Veja-se o caso da cidade de Washington, capital do país. Trump a achacou, ameaçando-a com grandes cortes de recursos caso a prefeita Muriel Bowser não removesse a inscrição "Black Lives Matter" do pavimento de uma praça. Segundo o republicano, a expressão seria "símbolo de ódio". Diante do risco de penúria, a prefeita —negra e democrata— curvou-se ao capricho presidencial. Justificou sua sujeição assim: "Agora nosso foco é garantir que nossos moradores e nossa economia sobrevivam".

A situação é mesmo crítica, pois as finanças de Washington são ameaçadas também pelo risco de 40 mil residentes perderem o emprego devido a cortes de pessoal promovidos pelo governo federal. Isso se confirmando, menos gente poderá pagar impostos e consumir na capital do país, minando a arrecadação local.

Outra frente de ataque são as grandes universidades americanas, que correm três riscos significativos quanto a seu financiamento. Um, o aumento de 1,4% para 21% na taxação sobre ganhos advindos de seus fundos. Outro, a limitação do montante desses fundos: de US$ 500 mil por estudante para apenas US$ 200 mil, definhando a base do autofinanciamento. Por fim, o puro e simples corte de verbas federais necessárias para diversas atividades acadêmicas, em particular a pesquisa científica.

Tais iniciativas visam esmagar princípios e práticas progressistas vigentes nas universidades. Tom Cotton, senador republicano do Arkansas, afirmou no X: "Nossas universidades de elite precisam saber o custo de promover agendas antiamericanas e pró-terroristas". Chama atenção o termo "antiamericanas": evoca o Comitê de Ações Antiamericanas da Câmara e sua perseguição a supostos comunistas nos anos 1950, associadamente a Joseph McCarthy no Senado. Ou seja, o macarthismo ressurge em nova roupagem e com escopo ampliado.

O estrangulamento financeiro das universidades visa submetê-las à agenda reacionária do trumpismo. No caso de Columbia, a sujeição chega ao ponto de a universidade permitir ao governo nomear o chefe do departamento de estudos do Oriente Médio, escrutinando o currículo e seus professores, avaliando se os deve manter ou demitir.

Um terceiro alvo do presidente dos EUA são escritórios de advocacia que recentemente o enfrentaram na Justiça. Dois deles, Perkins Coie e Paul Weiss, foram nominalmente citados em ordens executivas (tipo de decreto presidencial com força de lei) especificamente editadas para inviabilizar seu trabalho junto a órgãos governamentais. Em decorrência de tais atos normativos, os dois escritórios sofreram uma sangria de clientes, que não teriam como ser representados. O Paul Weiss rapidamente negociou com o presidente, sujeitando-se a seus termos e lhe oferecendo serviços "pro bono" (sic) no valor de US$ 40 milhões.

A terrível novidade é que a extorsão não é mero instrumento para a obtenção ilícita de ganhos pontuais, como propinas. Trata-se de exercício imediato do poder para a sujeição política dos demais atores. Ou seja, torna-se a própria forma de governo —uma "extorsocracia", ou "ekviasmocracia", considerando o termo grego para extorsão, "ekviasmos".

Donald Trump requinta e acrescenta nova dimensão aos processos de erosão democrática promovidos por governantes populistas. Valendo-se da capacidade coercitiva do Estado e de seu poderio financeiro, achaca governos subnacionais, entes da sociedade civil e empresas, minando sua autonomia. Desse modo, pouco a pouco, instaura um governo autoritário na mais antiga democracia do mundo.

A guerra comercial de Trump contra a realidade

O Dia da Libertação é um nome oportuno para a política do presidente Donald Trump de impor novas tarifas massivas sobre produtos de todo o mundo. Ele considera os EUA uma colônia vitimizada, explorada por outros países que lhes roubaram empregos, indústrias e dinheiro. “Nosso país e seus contribuintes foram enganados por mais de 50 anos”, disse ele ao anunciar seus planos, na quarta-feira.

Seus asseclas, como o vice-presidente J.D. Vance e o secretário de Comércio Howard Lutnick, repetem essa percepção como papagaios, definindo a imagem de um país destituído, com fábricas esvaziadas, trabalhadores desempregados e salários estagnados.

A realidade é o oposto. E somente porque é o oposto – em outras palavras, por causa do poder econômico inigualável dos EUA – Trump é capaz de tentar sua política tarifária. O peso econômico dos EUA lhe permite tentar forçar o restante do mundo a se curvar à sua vontade. Mas Trump está usando o poder americano de uma forma tão arbitrária, destrutiva e burra que isso quase certamente resultará em um desfecho “perde-perde” para todos.


A verdadeira história econômica das últimas três décadas é que os EUA estiveram à frente de todos os seus principais concorrentes. Em 2008, a economia americana era quase do mesmo tamanho que a economia da zona do euro, agora é quase o dobro.

Em 1990, a média salarial dos EUA era cerca de 20% maior do que a média geral no mundo industrializado avançado; agora é cerca de 40% maior. Em 1995, um japonês era 50% mais rico do que um americano em termos de PIB per capita, hoje um americano é cerca de 150% mais rico do que um japonês.

Na realidade, o Estado americano mais pobre, o Mississippi, tem um PIB per capita maior que o do Reino Unido, da França ou do Japão.

E ainda assim Trump está convencido de que, ao longo de todas essas décadas, os EUA estiveram em um declínio acentuado. Sua visão de mundo parece ter sido definida na década de 60, quando, em sua memória, os EUA eram uma grande potência industrial (outra parte dessa antiga visão de mundo é estimar exageradamente a capacidade de Moscou, que em sua mente, ao que parece, continua sendo um ator econômico imponente no cenário mundial, com o qual ele poderia fazer muitos negócios importantes. A Rússia, bizarramente, foi excluída das novas tarifas).

A realidade de os EUA serem a nação dominante nas esferas de crescimento mais rápido e mais críticas da economia global atualmente – tecnologia e serviços – parece não significar nada para ele.

Suas tarifas foram calculadas usando um método mais próximo ao vodu que à economia. Entre os muitos erros, elas se baseiam apenas nos déficits comerciais em mercadorias dos EUA em relação aos outros países. De alguma maneira, não importa que os EUA gerem superávits enormes em serviços – exportando softwares, serviços de software, filmes, músicas e serviços jurídicos e financeiros para o mundo. Mais de 75% da economia dos EUA é aparentemente uma penugem impalpável; o aço é o verdadeiro negócio.

Mas embora sejam a potência dominante no mundo, os EUA não são tão fortes a ponto de poderem agir de forma tão irracional. A economia mundial cresceu em tamanha magnitude e escala que encontrará maneiras de contornar o protecionismo americano, que agora figura entre os mais notórios do mundo.

Ao contrário das teimosas convicções de Trump, os EUA já eram realmente um tanto quanto protecionistas, com barreiras comerciais tarifárias e não tarifárias maiores do que em outros 68 países. Com essas novas tarifas, o protecionismo americano foi às alturas, com taxas mais altas que as da Lei Tarifária de 1930, que exacerbaram a Grande Depressão. No curto prazo, todos sofrerão. No médio e longo, porém, os países começarão a evitar negócios com os EUA.

Esse movimento já começou. Desde que Trump assumiu o cargo em 2017, os EUA abandonaram praticamente todos os esforços para expandir o comércio, mas outros países assumiram a responsabilidade. A União Europeia assinou oito acordos comerciais novos; a China, nove. Conforme observou o presidente da Rockefeller International, Ruchir Sharma: “Dos 10 corredores comerciais de crescimento mais rápido, cinco têm terminal na China; apenas dois têm terminal nos EUA”. Países precisam de crescimento, e isso significa comércio.

A China será claramente a grande vencedora nessa nova economia mundial porque se posicionará como o novo centro de comércio. Adicionando a isso a hostilidade de Trump em relação aos aliados mais próximos dos EUA, os americanos provavelmente verão a Europa, o Canadá e até mesmo alguns dos aliados na Ásia buscarem maneiras de trabalhar com a China.

A visão de mundo nostálgica de Trump remonta a uma época ainda mais distante do que a década de 60. O presidente evoca com carinho o fim do século 19, quando, conforme ele descreveu esta semana, os EUA tinham apenas tarifas e nenhum imposto de renda e eram mais fortes economicamente do que jamais haviam sido em comparação ao restante do mundo. Essa história é absurda. Em 1900, os EUA eram responsáveis por cerca de 16% da economia global segundo uma métrica. Agora, sua participação equivale a 26%. Os padrões de vida e de saúde dos americanos são muito mais elevados hoje.

Mas ao agir segundo sua fantasia nostálgica, Trump pode muito bem acabar arrastando os EUA de volta ao que o país era naquela época: uma nação mais pobre, dominada por oligarcas e corrupção e contente com sua arrogância em seu próprio quintal e em intimidar seus vizinhos, mas secundário em relação às grandes correntes globais da economia e da política.

Espaço vital

A minha geração entendia que a época de um governante invadir outro país já tinha passado. Hitler justificava a necessidade de expandir a área do território alemão como “espaço vital”. Este argumento permitiu que ele anexasse a Áustria, parte da Tchecoslováquia e depois invadisse a Polônia e a União Soviética. Mas o que Putin faz hoje é algo semelhante: ele precisa anexar a Ucrânia, que segundo a versão oficial russa sequer existe, para criar um cordão sanitário ao redor de seu território. Ele pretende recriar o território da extinta União Soviética.

Trump quer anexar a Groelândia, o Canadá e o Canal do Panamá com o mesmo argumento. É necessário ampliar o espaço vital dos Estados Unidos para garantir a paz entre os países. Ou seja, de repente, o mundo regrediu décadas e voltou a frequentar os anos trinta do século passado quando as potências da época entraram em guerra. A guerra da Ucrânia lembra o conflito na Espanha, em 1936, quando comunistas e fascistas experimentaram suas armas em confronto direto. Foi a preliminar do que viria a seguir. Mas hoje a guerra é mais devastadora. A bomba atômica tem o poder de exterminar a vida no planeta Terra. Todos perdem. Então, mesmo com os mais tresloucados ditadores tendem a ter cautela, porque em caso de guerra ele vai perder. E provavelmente morrer.


A eterna questão que opõe palestinos a judeus há muito tempo deixou de ser religiosa. O estado de Israel tem expandido suas fronteiras ao longo dos últimos anos. Ao mesmo tempo em que restringe o espaço de seus vizinhos constrangidos a viver numa área cercada por arame farpado, controlada por soldados e armas de guerra. Em nenhuma destas questões existe a perspectiva de paz duradoura. O forte quer se impor pelas armas. Grandes Impérios, a começar pelo Romano, cresceram, se desenvolveram e terminaram. A vida é finita em todas suas dimensões. A dos países também.

No forte discurso de Trump, no dia da libertação dos Estados Unidos, 2 de abril, ele insistiu que o país perdeu milhares de indústrias, milhões de empregos e bilhões de dólares por auxiliar países em todo o mundo. Ato contínuo decretou taxação recíproca em todos os países que fazem comércio com o maior mercado do mundo. O Brasil ganhou uma taxa de 10%. Os chineses vão pagar 34% para exportar para os Estados Unidos. Cada país tem uma taxa específica. O objetivo é que a grande indústria passe a produzir dentro dos Estados Unidos, e ofereça, novamente, milhares de empregos, roubados na expressão dele, pelos países chamados amigos. É a nova face da guerra moderna. Tarifas.

O grande pretende esmagar o pequeno e não se conforma com a marcha do tempo. O que os especialistas anunciavam com alguma cautela está diante de todos: o colosso norte-americano balançou, acusou o golpe das empresas e empregos que abandonaram a meca do capitalismo para se aninhar em outras e melhores circunstâncias. É difícil para o empresário retornar ao mercado norte-americano onde a mão de obra é muito mais cara, os insumos não são baratos e agora há a imprevisibilidade do governante. É uma jogada arriscadíssima, que vai provocar elevação de preços internos e desorganização das cadeias de produção. O solavanco vai demorar e custar caro.

É o confronto moderno, limpo, sem sangue, mas capaz de produzir vítimas em vários cantos do mundo. Os norte-americanos, na palavra de seu presidente, perderam a vanguarda em diversos setores da indústria, como a produção de navios ou de produtos de grande tecnologia utilizados na indústria de informática. Muitas atividades se transferiram para China, Taiwan, Vietnã e outros países que constituíram o alvo prioritário do golpe de Trump. É um ataque feroz à industrialização dos países do antigo terceiro mundo e também dos antes chamados tigres asiáticos.

A questão econômica é óbvia. Haverá consequências na medida em que os afetados deverão retaliar. É razoável prever uma inflação global de bom tamanho. O que ainda não se pode prever, nem medir, são as consequências políticas, porque a tendência é que os nacionalismos passem a ser valorizados e estimulados. Os países vão se fechar para se defender do ataque norte-americano. O ouro já se valorizou muito e deve se valorizar ainda mais. A moeda digital, ao contrário, caiu. Acabou a era de prosperidade do mundo ocidental. Os Estados Unidos querem retomar seu protagonismo, decidiram se fechar para demonstrar sua capacidade de influir nos destinos da humanidade. Para chegar a este resultado, além das sobretaxas, eles precisam dominar o Canadá, o Panamá e a Groelândia. É, de novo, a busca do espaço vital, cujas consequências todos conhecemos.

Uma economia para o Antropoceno

José Eli da Veiga é um economista que gosta e entende de ciências — as de verdade (desculpem-me não resisti à provocação). É também um dos sujeitos mais eruditos que conheço. Quando Zé Eli se dispõe a escrever sobre um assunto, já leu quase tudo de relevante que foi publicado sobre a matéria. E ele é metódico ao explicitar suas fontes.

Daí que seus livros são sempre um ótimo mapa do caminho para quem quer assenhorar-se de um tema. Quem quiser se aprofundar pode ir às obras citadas; quem não quiser pode fiar-se em seu resumo do panorama das discussões. "O Antropoceno e o Pensamento Econômico", terceiro livro de sua trilogia sobre o impacto da humanidade na biosfera, não foge a esse padrão.


Para Zé Eli, a maioria dos manuais de economia tem um problema, que é o de ser excessivamente mecanicista e ignorar a física mais moderna, mais especificamente a termodinâmica e a entropia.

A forma extrativista de que nos valemos para produzir coisas inevitavelmente degrada o sistema. Podemos e devemos tentar minimizar nossas "pegadas", a de carbono, a da depleção dos recursos naturais e a do aumento de poluições diversas, mas não há mágica que permita fugir às leis da termodinâmica.

Se formos reescrever os livros-texto levando isso em conta e em consonância com a obrigação moral de legar um mundo habitável para as próximas gerações, então precisamos abandonar a ideia de que o crescimento econômico é a resposta infalível para todos os nossos problemas sociais.

Fatores ambientais precisam entrar nas equações ensinadas nos cursos de economia. É preciso desacoplar o bem-estar humano de um contínuo aumento da produção e do consumo.

Zé Eli reserva várias páginas para mostrar como esse desacoplamento pode ser feito. Não cai nem no pessimismo extremo dos que afirmam que o decrescimento já é inevitável, nem no otimismo panglossiano dos que dizem que o desenvolvimento tecnológico nos presenteará com uma saída indolor.


Basicamente, a responsabilidade é nossa —e estamos falhando.

Quando um elefante cai

Na minha última coluna chamei a atenção para a extraordinária ironia histórica que estamos testemunhando — a possibilidade de os Estados Unidos deixarem de ser um país de imigrantes, para se transformarem num país de emigrantes.

A partir do Salão Oval, na Casa Branca, Donald Trump vem arquitetando um gigantesco desastre político, social, diplomático e econômico, que ameaça a democracia, despreza a Justiça, hostiliza os imigrantes, e aterroriza os mercados. Como resultado, cresce o número de cidadãos pensando em emigrar.

A ciência tem sido das áreas mais atingidas pela criativa insensatez do novo governo de extrema direita. A acreditar num inquérito divulgado pela revista científica Nature, três em cada quatro cientistas americanos, ou estrangeiros radicados no país, ponderam abandoná-lo nos próximos meses.

Durante longas décadas os EUA se beneficiaram da instabilidade prevalecente noutros territórios para recrutarem cientistas, e assim desenvolverem os seus centros de pesquisa e de saber. Chegou a hora da vingança.

Instituições científicas europeias, mas também chinesas e indianas, estão articulando estratégias para atrair os cérebros descontentes. Nas revistas científicas prosperam os anúncios de emprego, provenientes de universidades europeias, e que prometem aos investigadores liberdade acadêmica e um ambiente de trabalho no qual eles não terão de se preocupar com censura e interferência política.

Operando no interior do extravagante caos deflagrado por Trump, e esforçando-se por lhe dar alguma coerência ideológica, estão movimentos ligados ao fundamentalismo cristão e ao supremacismo branco. Para esses movimentos, a academia é o inimigo. A ciência é o inimigo.

A ciência, já se sabe, prefere a democracia. Precisa de liberdade. Ainda assim, consegue prosperar em ambientes totalitários, desde que estes respeitem a racionalidade científica — a lógica cartesiana. É o caso da China, país que, embora sujeito a um sistema de partido único, de inspiração marxista, se vem afirmando como a grande potência tecnológica do nosso tempo. Já em teocracias violentas, como a que temos hoje no Irã ou no Afeganistão, e, pelo andar da carruagem, teremos em breve nos EUA, é muito difícil alcançar avanços científicos relevantes.

A ofensiva do governo Trump contra as instituições de pesquisa, universidades, museus, e outros centros de produção de conhecimento, é uma tragédia para os americanos, que serão rapidamente ultrapassados na corrida tecnológica — inteligência artificial, engenharia genética, energias limpas ou computação quântica.

Estamos assistindo ao vivo ao colapso americano. Espero que o espetáculo sirva como alerta global para os perigos da direita selvagem, que pretende substituir o pensamento científico pelo religioso; a diplomacia pelo bullying; o livre comércio pela agressão predatória.

Quando um elefante cai levanta muita poeira. Depois a poeira assenta e a vida continua.
José Eduardo Agualusa

Estás a ouvir, Canadá?

Tem piada como Trump ameaça castigar o Canadá e a União Europeia se estes se entenderem para enfrentar os EUA.

Olhem que boa ideia! Proponho já que alguns dos países ameaçados pelas tarifas de Trump assinem um acordo comercial de curto prazo, só até Trump acabar o mandato.

Já falta pouco para 2028. Porque não aproveitar para fazer uma enorme área de livre comércio em que todos possamos vender e comprar as mercadorias que produzimos, sem tarifas de qualquer espécie?



A febre tarifeira de Trump deixou de fora o Canadá, para ver se desnorteava os canadianos. Mas os canadianos são difíceis de desnortear – sobretudo quando um americano lhes diz que não podem fazer acordos com os europeus.

Para já, os canadianos são mais europeus do que alguns europeus. São bastante ingleses e bastante franceses. São muito bem-educados, pacíficos, valentes, honestos e pouco dados a bazófias e aldrabices. Enfim, não poderiam ser mais diferentes de Trump.

Incluamos também neste acordo de free trade e free love países que também sabem falar inglês, para que Trump possa perceber o que dizem. Como o Reino Unido, a Austrália e a Nova Zelândia.

O que é que os EUA têm para nos vender? Comida de carregar pela boca, má amêndoa, mau whisky, maus refrigerantes e automóveis feitos por facínoras. Façamos um breve detox de três anos, nem que seja para estimular as saudades até ao dia de 2028 em que Trump se for embora.

Não é essa a resposta mais eficaz a qualquer bully – isolá-lo?

Nem se tenha medo de prejudicar os nossos amigos americanos. Metade deles não pode com ele. Até agradecem, porque, mal ele se vá embora, poderemos reatar e reforçar as nossas relações comerciais com os EUA. Assim, os consumidores americanos notarão a diferença: muitos mais produtos europeus, e muito mais baratos.

Temos de agradecer a Trump a ideia. Se ele tem medo de que “o Canadá e a União Europeia se juntem para prejudicar os EUA”, é porque é isso que nos beneficiará. Juntemo-nos, pois.