sábado, 22 de agosto de 2015

Elogiemos as pessoas decentes


“Todo homem decente se envergonha do governo sob o qual vive”
H. L. Mencken


Nunca antes na história deste País as pessoas decentes foram tão ultrajadas, depreciadas, caluniadas, desrespeitadas e atacadas justamente por causa do seu caráter.

O que explica os ataques verbais diários e as ameaças de violência física lançadas contra a parcela da população que protesta contra um governo corrupto que instrumentaliza o Estado em benefício de uma minoria de aliados e apadrinhados?

A Marcha das Margaridas foi financiada com dinheiro público, assim como o churrasco que reuniu meia dúzia de pelegos no Instituto Lula. Já os protestos dos “coxinhas” reuniram centenas de milhares de pessoas que protestaram de graça contra Dilma.

Detalhe: em São Paulo mais de 800 mil pessoas foram voluntariamente se manifestar contra o Dilma e o PT: não teve churrasco, pão com mortadela ou dinheiro público.

Penso que é justamente isso o que perturba os petistas: eles sempre usaram movimentos sociais, sindicatos e entidades compráveis e compradas para usar o povo mais pobre como gado, mas agora, visivelmente, perderam o controle das ruas.

Se o movimento contra Dilma fosse formado por sindicatos e entidades tradicionais, suas lideranças certamente estariam, neste momento, negociando benesses, verbas e cargos em Brasília em troca de mais flexibilidade e de um discurso moderado.


É este o modus operandi da vagabundagem sindical: atacar, negociar, assoprar.

Mas nem toda a mortadela ou dinheiro do mundo pode comprar quem não se vende. É o que tira o sono dos mandatários e seus aliados: gente na rua com quem não se negocia.

São trabalhadores, estudantes e profissionais liberais, jovens, adultos, idosos, de todas as camadas sociais, que não dependem de esmolas do governo para viver – ao contrário da pilantragem organizada dos sindicatos e entidades que vivem às nossas custas.

O governo Dilma planeja aumentar impostos, ameaça direitos previdenciários e trabalhistas, e coloca seus papagaios no Senado para defender a proposta de uma “nova CPMF”.

Porém, para horror das pessoas que trabalham e pagam impostos, Dilma mantém os 39 ministérios que custam R$ 400 bilhões por ano, metade disso usado na folha de pagamento de cerca de 100 mil cargos de confiança – dos quais a gente sempre desconfia.

Tudo isso pago pelo povo e contra a vontade do povo. Apenas um mau caráter como o ministro Edinho Silva é capaz de afirmar publicamente que as pessoas que protestam contra toda essa podridão têm como objetivo defender o fim da democracia.

Apenas um governo flagrantemente indecente faz do seu porta-voz um deputado cujo assessor foi flagrado com dinheiro escondido na cueca (José Guimarães).

É hora de dizer claramente que o Brasil hoje se divide não entre tucanos e petistas, coxinhas e militantes, mas simplesmente entre pessoas decentes e aquelas sustentadas pelo governo.

Os que protestam nas ruas são atacados pela mídia, pelas autoridades públicas, sindicatos, artistas da TV e até por cardeais do PSDB. Mas não desanimam ou retrocedem da luta.

Não importa. A verdade é esta: as pessoas decentes sempre se envergonham do governo sob o qual vivem. E não há churrasco ideológico que dê jeito nisso.

Alerta oportuno

A exortação aos brasileiros “de bem” para que tenham a ousadia dos “canalhas” para tirar o país da crise política, econômica e financeira é bastante oportuna e soa como alerta geral.

O recado partiu de uma das mais altas autoridades, a ministra Cármem Lúcia, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), daí sua importância e significado. A carapuça, com certeza, vai servir pra muita gente.

A tarefa de reconstrução do país não será nada fácil, pois a cada dia, quando muitos imaginam que as investigações da operação Lava Jato estão caminhando para o fim, novos escândalos se sucedem, alimentando a perplexidade geral.

Em meio ao interminável rosário de desvios de verbas em todos os níveis e em todos os cantos do país, uma espécie de bolsa de apostas parece estar instalada nos corações e nas mentes.

Não é raro, atualmente, ouvir gente fazendo prognósticos os mais variados possíveis e, às vezes, até tentando interferir por meio de recados nas redes sociais com avaliações nos campos da política e da economia.

Entre essas avaliações, a mais recente é sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, denunciado, juntamente com o ex-presidente Fernando Collor, ao Supremo por recebimento de propinas.

Há os que apostam na permanência de ambos no Congresso, bem como há os que acham que, se Cunha sair, a presidente Dilma poderá enfrentar até mais dificuldades no relacionamento com os congressistas.

Talvez seja melhor lidar com um Eduardo Cunha enfraquecido do que ver surgir na presidência da Câmara um oposicionista ferrenho e com autoridade preservada disposto a torpedear projetos.

Outra vertente das apostas diz respeito à própria Dilma, que poderia sofrer um processo de impeachment. Nesse caso, o recado de Cármem Lúcia tem endereço certo. O brasileiro de bem precisa posicionar-se ao largo da mera disputa ideológica e arregaçar as mangas visando à reconstrução do país.

Boneco inflado de Lula: signos de um estrago global

O boneco inflado representativo da figura do ex-presidente Lula, - balançando ao vento da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e o carimbo infamante "13-171" gravado no peito, - além, evidentemente, do detalhe da bola de ferro amarrada ao tornozelo por uma corrente. Eis as imagens e os símbolos históricos e definitivos dos protestos realizados contra o Governo Dilma, a corrupção e o PT, domingo, 16 de agosto.

Quase uma semana depois, a repercussão e o estrago não cessam. Ao contrário, aprofundam-se Brasil e mundo afora. Desde segunda-feira, quando as primeiras fotografias e vídeos do boneco já corriam o mundo – e o tema bombava nas redes sociais -, começou a chover convites na horta de seus idealizadores (integrantes do suprapartidário Movimento Brasil), para que o Lula inflável seja a atração em próximos atos de protestos que se anunciam.

Enquanto segue o vai-não-vai (o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o notório senador Fernando Collor de Mello, denunciados por Janot, são os nomes da hora) do combate a corruptos e corruptores. Faces indissociáveis do mesmo mal (definição firme e precisa o juiz Sérgio Moro, quinta-feira, durante palestra em São Paulo), na ação profilática contra a "corrupção endêmica, ponto frágil do país”, no dizer do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Brito, no Seminário Internacional de Controle Externo, em Salvador.

Portanto, que ninguém se iluda ou tente mascarar a situação. É inútil e enganoso perder tempo fazendo cálculos de quantas pessoas participaram das manifestações, ou a intensidade de suas participações. "Nonadas", provavelmente escreveria o notável alagoano Graciliano Ramos, se vivo estivesse, em uma reedição de "Insônia", "Vidas Secas" ou de "Memórias do Cárcere".

A imagem do boneco inflado e sua força simbólica, principalmente, é um fato que grita e se propaga além das meias verdades e cumplicidades mal disfarçadas. Sobrepõe-se para além do tempo e do espaço dos protestos de domingo passado - ou dos lastimáveis arremedos de manifestações "de apoio ao governo Dilma e da Democracia", levados às ruas anteontem.

Neste caso, pelo PT e seu braço sindicalista, a CUT, além de forças auxiliares agregadas em torno da mesa das sobras do banquete do poder, que começou a ser servido no começo do primeiro mandato de Lula, em 2003. "De fazer chorar", para citar o famoso frevo do carnaval pernambucano, as cenas do ato petista, transmitidas pela televisão direto do Largo da Batata, em São Paulo, local do começo da concentração.

Daqui a muitos anos – um século, quem sabe? -, quando se falar ou escrever sobre 16 de Agosto de 2015 no Brasil, será o boneco, provavelmente, a principal referência. Indispensável para a contextualização dos fatos. Levado ao Planalto Central por seus idealizadores do MB, (o (a) criador (a) original é gênio da comunicação através dos símbolos. Maior e melhor que muitos dos nosso mais famosos e mais caros marqueteiros políticos em atividade, diga-se por verdade e justiça).

Balconistas da informação, militantes do partido no poder e alguns de seus acólitos – por questão de fé ou mero interesse no que resta do botim do grande saque aos cofres públicos, destampado pelo Mensalão, mas principalmente pela Lava Jato -, detestam ler ou ouvir sobre estas coisas. Mas quem estuda ou trabalha com atenção voltada para os signos da comunicação (jornalistas e publicitários, principalmente) não têm dúvidas:

O boneco inflado da Esplanada "é um achado”, para usar a expressão de um professor da Escola de Jornalismo da UFBA, Milton Cayres de Brito (saudoso ex-deputado constituinte ao lado de Jorge Amado, pelo Partidão, e ex-diretor da Tribuna da Bahia em seus tempos mais heróicos), meu mestre da matéria na Faculdade, ainda na Avenida Joana Angélica, bairro de Nazaré. A poucos metros (quase no fundo) da minha primeira morada na Cidade da Bahia.

Golpe certeiro e duríssimo, como se percebe pelos desdobramentos e suítes da mídia interna, mas, principalmente, pela repercussão nas paginas de sites, blogs e edições impressas de gigantes da imprensa mundial: New York Times, Financial Times, El Pais, Le Monde, BBC, Clarin, e por aí vai. Morteiro devastador na desconstrução da imagem interna e internacional de um dos maiores mitos políticos e governamentais brasileiros e da América Latina, forjados nos últimos mais de 40 anos. Ironicamente, a partir de multitudinários protestos de operários metalúrgicos sindicalistas da região do ABC paulista e suas linhas de apoio de classe média estudantil e de intelectuais, que desaguariam na fundação do Partido dos Trabalhadores.

Um mundo de promessas e esperanças que se abria e, agora, praticamente se espatifa como um balão furado que cai. Aliás, outra cena demolidora, é a da fotografia publicada no jornal O Globo. Depois do protesto, o boneco inflado de Lula esvaziado e deitado no gramado de Brasília, à espera de ser recolhido por seus criadores, antes dos convites para próximas apresentações pelo País. Pluuff!!!...

As bombas maiores

As pessoas têm a tendência de ver apenas as bombas mais próximas e ignorar aquelas escondidas, que ameaçam o futuro. As bombas do momento são a corrupção que joga estilhaços de vergonha sobre todos os políticos, especialmente dos partidos no governo; e o descrédito de um governo que errou na economia, faltou com a verdade na campanha e descumpriu promessas. Apesar disto, o governo vê apenas as bombas imediatistas que ameaçam o equilíbrio fiscal.

A crise política, econômica e moral que atravessamos parece impedir a percepção das bombas que ameaçam o futuro mais distante. Ficamos presos à bomba da corrupção, da inflação, do descrédito da presidente e dos políticos em geral, não vemos as outras bombas.

A dívida dos estados e municípios já em fase de explosão, mesmo assim ainda é relegada. A explosão de gastos públicos, face às limitações da já imensa carga fiscal, destroçará as contas públicas. Nossos entes federados estão atravessando a linha que separa dificuldades fiscais conjunturais da falência estrutural, com suas consequências sobre os serviços públicos e os salários dos servidores. A Previdência explodirá em algum momento não muito distante, trazendo sacrifícios devastadores sobre a população mais velha do país e penalizando os jovens.


A pobreza — sobretudo depois de ter sido escondida pelo marketing governamental dos últimos anos, afirmando que ela teria sido transformada em classe média porque, endividando-se, consegue comprar alguns equipamentos domésticos — está explodindo na miséria da falta de educação, saúde, segurança, mobilidade. A violência urbana é uma bomba que explode como uma guerra civil de proporções gigantescas, matando quase 60 mil brasileiros por ano.

Nossa má educação e o consequente atraso na ciência e na tecnologia, que nos deixam cada dia mais atrasados em relação ao resto do mundo, são a bomba que impedirá nosso ingresso no mundo do conhecimento que caracteriza a economia e a sociedade.

O endividamento das famílias pode explodir, inviabilizando nosso sistema financeiro aparentemente sólido e sacrificando a vida de nossa população. A incapacidade de gestão que caracteriza o Estado brasileiro dos últimos anos ameaça o crescimento de nossa economia e o bom funcionamento de nossa sociedade. A baixa poupança de nossas famílias, empresas e governo é uma bomba que impede os investimentos necessários à construção de uma infraestrutura eficiente, ao crescimento da economia e ao aumento da produtividade de nossa indústria. O desemprego é uma bomba trágica de grandes proporções. A bomba do consumo de drogas corrói famílias e anula o potencial de dezenas de milhares de jovens.


Mas, a maior das bombas é a despolitização do debate entre grupos políticos sem visão nem propostas, presos às pequenas bombas do presente, sem a percepção das grandes em andamento: o divórcio entre as urnas e as ruas, entre os políticos e o povo, está explodindo no colo da democracia.

Bode expiatório

Não se discute a consistência da denúncia a Eduardo Cunha, presidente da Câmara, mas as circunstâncias que a cercaram. Entre outras, o fato de estar dissociada da do presidente do Senado, Renan Calheiros, investigado como ele pela mesma Lava-Jato.

Renan, que, como Cunha, chegou a desafiar o procurador-geral Rodrigo Janot, e igualmente o Palácio do Planalto, tornou-se subitamente aliado de ambos, fator de estabilidade institucional.

Até programa de governo chegou a oferecer à presidente, o Agenda Brasil, que cumpre papel político-coreográfico.

Negociou sua isenção, valendo-se da circunstância de que Janot e Dilma precisam de seus préstimos imediatos. E aí viu-se o inusitado: o denunciante, Janot, sendo recebido, semana passada, em audiência pelo investigado Calheiros, na condição de pedinte.

A recondução do procurador-geral ao cargo depende do Senado – e lá Calheiros, em tese, reina. Fará o favor de conduzir as coisas de modo a que Janot não seja surpreendido. Favor, em política, como se sabe, é via de mão dupla, o que explica a preservação de Renan, pelo menos por enquanto.

Dilma, por sua vez, na mesma semana, jantou com metade dos ministros do STF. E obteve de um deles, Luís Roberto Barroso, uma providência que lhe é altamente benéfica.

Barroso, respondendo a uma indagação da senadora Rose de Freitas, peemedebista da bancada de Renan, manifestou-se contrário a que as contas de Dilma sejam votadas pela Câmara, sustentando que a apreciação cabe ao Congresso, cujo comando é do presidente do Senado.

Quanto ao fato de as contas dos governos anteriores – de Itamar, FHC e Lula - terem sido votadas pela Câmara, nada a obstar. Mas daqui para a frente, disse o ministro, só pelo Congresso. Como dessa votação, na hipótese de rejeição, pode surgir uma das vertentes do impeachment de Dilma, melhor deixar o comando com o confiável Renan, embora igualmente investigado pela Lava-Jato.

Cunha, como se sabe, não negociou coisa alguma. Manteve a postura crítica e ameaçadora aos interesses da presidente. Preparou o terreno para a votação das contas do governo, fazendo votar as anteriores, há anos pendentes. Mostrou-se, em suma, impermeável a acordos com o Planalto, ao qual já se disse na oposição.

A denúncia a Cunha, longe de atenuar, aprofunda a crise política. Haverá reação, que poderá ser mais ou menos eficaz na medida em que a Operação Lava-Jato trouxer mais novidades. Sabe-se, por exemplo, que Nestor Cerveró, prestes a fazer delação premiada, dispõe de informações importantes que conduzem a Lula.

O fator mais negativo em todo esse episódio é a suspeita que lança de politização judicial no âmbito do Ministério Público. Janot denunciou Cunha, citado uma vez na Lava Jato, mas não Renan, citado 16 vezes, pelos principais delatores – Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef -, ou mesmo Dilma, citada 13 vezes.

A impressão que se tem é que Cunha está sendo denunciado não por eventual delinquência, que obviamente precisa ser apurada, mas por representar ameaça à impunidade de delinquências ainda maiores. É o que, em circunstâncias similares, costuma se chamar de bode expiatório. Mas não basta punir um bode. É preciso chegar a todo o rebanho – sobretudo aos que o conduzem.
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Dificuldade de governar

1. 

Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.
2. 

E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.
3. 

Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.
4. 
Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?

Bertolt Brecht (1898 - 1956) 

Era vidro e se quebrou

Não é uma questão de ódio ou de intolerância, é de confiança. Na primeira pesquisa de opinião depois das eleições, dois terços dos brasileiros diziam que Dilma tinha mentido na campanha. É duro e raro que um governante flagrado em mentiras sérias recupere a confiança dos eleitores. Pode até ser aceito como um bom administrador, mas a confiança não se restaura, porque não há ex-mentiroso. Uma vez mentiroso, sempre mentiroso, dizem a História, a lógica e a sabedoria popular. Não há obras, manobras, loteamento de cargos e campanhas publicitárias que nos façam voltar a acreditar em quem nos enganou.

Claro, mentir, em certa medida, todo mundo mente, faz parte da condição humana, alguma hipocrisia é indispensável para uma convivência civilizada. Já pensou se todo mundo fosse sincero todo o tempo e dissesse o que lhe vem à cabeça? O problema é quando o mentiroso começa a mentir a si mesmo, e acreditar, caso em que os psicanalistas dizem que não vale a pena continuar a terapia. Dilma começou mentindo para os outros — e agora mente para si mesma. Sim, ela não rouba, mas mente muito.

E para piorar, mente muito mal, ao contrário de Lula, que usou seu grande talento histriônico para fazer da mentira uma das suas melhores armas. Durante anos muitos acreditaram nele, hoje todo mundo sabe que ele sempre soube de tudo e mentiu o tempo todo. Pode até ter feito um bom governo, mas é mentiroso.

Sim, todo politico mente: uns para o bem, outros para o mal.

Nos países anglo-saxônicos, de ética protestante, a verdade é um valor básico. Para eles, mentir é ilegal, pode levar à execração social e até a cadeia, por falso testemunho. Bill Clinton, mesmo popularíssimo, foi impichado na Câmara (e salvo pelo Senado ), não porque teve um caso com Monica Lewinsky, mas porque mentiu ao país.

No tempo da luta armada, Dilma fez a escolha errada, achando que poderia derrotar a ditadura militar pela força e instaurar a ditadura proletária, mas acabou contribuindo para atrasar o processo de abertura política que levou à redemocratização. Por puro autoengano.

Mentiras sinceras interessavam a Cazuza, mas como poesia.

Quem sabe faz a hora

Não tem qualquer sentido comparar numericamente as manifestações de domingo e as desta quinta-feira. Seria covardia. Pelos dados oficiais da PM, as de domingo superaram 870 mil e as de hoje, 72 mil. Na quantidade de cidades, os atos do dia 16 chegaram a 204; hoje, a 37.

O que chama atenção é a organização.

A ordem unida das entidades chapa-branca (todas elas, é sempre bom lembrar, com patrocínios oficiais), com farta distribuição de bandeiras e cartazes produzidos em série nos pontos de concentração, dá o ar de coisa ensaiada. Um mesmo cenário que acaba por pasteurizar as manifestações.




Nos atos de domingo, nem o sentido das passeatas pareciam pré-combinados. Na Avenida Paulista, enquanto alguns iam para um lado, outros iam para outro. Cartazes escritos à mão, bandeiras do Brasil de vários tamanhos; dezenas de camelôs vendendo bandanas, broches e todo tipo de adorno verde-amarelo.

Mais do que no tamanho e na capilaridade de uma e de outra, a maior diferença está naqueles que têm crença e apostam que podem fazer a História e nos que se deixam manipular pelos que se arvoram a ser - e acham que são - os únicos capazes de fazer a História.


Mary Zaidan

A diferença

 
Existe uma brutal diferença entre a maioria silenciosa, de que os 700 mil eram a expressão sonora, e a minoria ruidosa de esquerda. Os que se manifestaram em defesa do governo exprimem hoje o tamanho do PT e do esquerdismo, mesmo dominando máquinas milionárias, fartamente alimentadas por dinheiro oficial, como é o caso da CUT, do MST, do MTST e da UNE
Reinaldo Azevedo 

Com gosto de sola

Nunca é tarde para enfatizar que esses movimentos pró-corruptos são feitos com o seu, o meu, o NOSSO dinheiro. Penso que a tal “democracia” deveria abarcar qualquer coisa que se movimente, inclusive lesmas e calhordas de todos as matizes, exceto quando se trata de bater a minha carteira para gritar “pega ladrão” pra mim mesmo. O bando de calhordas azeitado com a grana pública desviada dos grandes escândalos não nos deixa esquecer que sua verdadeira natureza é nos fazer de hospedeiros de sua ideologia marreta, nivelando tudo por baixo para que o planeta dos macacos por eles parido ganhe forma e consistência com o suor do rosto alheio.

000 ROQUE O PAIS DA PIADA PRONTA

Eu estou com o saco na lua dessa gente rumbeira; desse discão riscado da única Mercedes que eu não compraria nem amarrado, cacarejando o seu “Gracias a la Vida” na nossa cara parva e fingindo que trabalham, agitando bandeirolinhas vermelhas na repartição onde ganharam a boquinha e rapinando o café da cozinha. Estou farto desses prefeitinhos superfaturados, que temos que engolir porque a oposição ganhou um “boa noite Cinderela” e achou melhor não discutir os rumos tortos das apurações a portas fechadas, que nos brindaram com estes canalhas nas cadeironas públicas, sem ninguém gritar impedimento.

Passou da hora de discutir o que fazem esses “agentes infiltrados” quando não estão agitando suas bandeirinhas vermelhas em churrascos pagos pela quadrilha. É das contas dessas “entidades” que saberemos quantos cambonos foram feitos de besta para defenderem Dirceuzinhos e companhia – más companhias – devidamente estacionados em celas paranaenses e afins. É o NOSSO DINHEIRO que nos provoca. Não está na hora de exigirmos que mostrem de onde vem a grana? Quais acordos fizeram para continuarem alegres e faceiros, recebendo a marmita religiosa que compõe a cesta comuno-petralha com a qual esses calhordas cacarejam sua inversão de valores sobre nossa paciência?


A sociedade não tem que pagar essa conta, meus caros. Se o governo não tem dinheiro para a pornografia política que eles abraçam alegrinhos, melhor então que parem de nos assaltar com essa desfaçatez oceânica e essa desenvoltura de quem acredita na impunidade eterna. Já disse aqui mesmo que o arrastão, quando desce o morro, não tem parente. O que querem estes trogloditas da estrelinha na cueca é estremecer nosso tecido social puído até que a coisa descambe para as vias de fato. Se é isso o que eles querem, me parece que é isso que eles terão. Ou nossos políticos tomarão vergonha na cara antes, junto com nossas instituições, para fazerem a coisa certa?

Aguardo ansioso, com minha panela de pressão de prontidão. Com ela dá pra abater uns três Vágners e seus discursinhos picaretas, que não chegam até a esquina sobre as duas patas. O cara está pedindo para sentir o gosto da sola do meu sapato naquela carinha gorda, de bebê Johnson com sobrepeso. Aqui não é a Venezuela. Lá, os calhordas de turno tem as chaves do paiol. Aqui, só a do cofre. Tua batata está assando junto com a mandioca da tua dona, aquela mulher erectus da baioneta em riste. Abre o olho, calhordão.