Quase uma semana depois, a repercussão e o estrago não cessam. Ao contrário, aprofundam-se Brasil e mundo afora. Desde segunda-feira, quando as primeiras fotografias e vídeos do boneco já corriam o mundo – e o tema bombava nas redes sociais -, começou a chover convites na horta de seus idealizadores (integrantes do suprapartidário Movimento Brasil), para que o Lula inflável seja a atração em próximos atos de protestos que se anunciam.
Enquanto segue o vai-não-vai (o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o notório senador Fernando Collor de Mello, denunciados por Janot, são os nomes da hora) do combate a corruptos e corruptores. Faces indissociáveis do mesmo mal (definição firme e precisa o juiz Sérgio Moro, quinta-feira, durante palestra em São Paulo), na ação profilática contra a "corrupção endêmica, ponto frágil do país”, no dizer do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Carlos Ayres Brito, no Seminário Internacional de Controle Externo, em Salvador.
Portanto, que ninguém se iluda ou tente mascarar a situação. É inútil e enganoso perder tempo fazendo cálculos de quantas pessoas participaram das manifestações, ou a intensidade de suas participações. "Nonadas", provavelmente escreveria o notável alagoano Graciliano Ramos, se vivo estivesse, em uma reedição de "Insônia", "Vidas Secas" ou de "Memórias do Cárcere".
A imagem do boneco inflado e sua força simbólica, principalmente, é um fato que grita e se propaga além das meias verdades e cumplicidades mal disfarçadas. Sobrepõe-se para além do tempo e do espaço dos protestos de domingo passado - ou dos lastimáveis arremedos de manifestações "de apoio ao governo Dilma e da Democracia", levados às ruas anteontem.
Neste caso, pelo PT e seu braço sindicalista, a CUT, além de forças auxiliares agregadas em torno da mesa das sobras do banquete do poder, que começou a ser servido no começo do primeiro mandato de Lula, em 2003. "De fazer chorar", para citar o famoso frevo do carnaval pernambucano, as cenas do ato petista, transmitidas pela televisão direto do Largo da Batata, em São Paulo, local do começo da concentração.
Daqui a muitos anos – um século, quem sabe? -, quando se falar ou escrever sobre 16 de Agosto de 2015 no Brasil, será o boneco, provavelmente, a principal referência. Indispensável para a contextualização dos fatos. Levado ao Planalto Central por seus idealizadores do MB, (o (a) criador (a) original é gênio da comunicação através dos símbolos. Maior e melhor que muitos dos nosso mais famosos e mais caros marqueteiros políticos em atividade, diga-se por verdade e justiça).
Balconistas da informação, militantes do partido no poder e alguns de seus acólitos – por questão de fé ou mero interesse no que resta do botim do grande saque aos cofres públicos, destampado pelo Mensalão, mas principalmente pela Lava Jato -, detestam ler ou ouvir sobre estas coisas. Mas quem estuda ou trabalha com atenção voltada para os signos da comunicação (jornalistas e publicitários, principalmente) não têm dúvidas:
O boneco inflado da Esplanada "é um achado”, para usar a expressão de um professor da Escola de Jornalismo da UFBA, Milton Cayres de Brito (saudoso ex-deputado constituinte ao lado de Jorge Amado, pelo Partidão, e ex-diretor da Tribuna da Bahia em seus tempos mais heróicos), meu mestre da matéria na Faculdade, ainda na Avenida Joana Angélica, bairro de Nazaré. A poucos metros (quase no fundo) da minha primeira morada na Cidade da Bahia.
Golpe certeiro e duríssimo, como se percebe pelos desdobramentos e suítes da mídia interna, mas, principalmente, pela repercussão nas paginas de sites, blogs e edições impressas de gigantes da imprensa mundial: New York Times, Financial Times, El Pais, Le Monde, BBC, Clarin, e por aí vai. Morteiro devastador na desconstrução da imagem interna e internacional de um dos maiores mitos políticos e governamentais brasileiros e da América Latina, forjados nos últimos mais de 40 anos. Ironicamente, a partir de multitudinários protestos de operários metalúrgicos sindicalistas da região do ABC paulista e suas linhas de apoio de classe média estudantil e de intelectuais, que desaguariam na fundação do Partido dos Trabalhadores.
Um mundo de promessas e esperanças que se abria e, agora, praticamente se espatifa como um balão furado que cai. Aliás, outra cena demolidora, é a da fotografia publicada no jornal O Globo. Depois do protesto, o boneco inflado de Lula esvaziado e deitado no gramado de Brasília, à espera de ser recolhido por seus criadores, antes dos convites para próximas apresentações pelo País. Pluuff!!!...
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