terça-feira, 13 de outubro de 2015
O governo não governa
O governo perdeu a capacidade de governar. A cada mês, desde a posse, o espaço de governabilidade foi se reduzindo. Hoje, luta desesperadamente pela sua sobrevivência. Qualquer ato, por menor que seja, está mediado pela necessidade de preservação. Efetuou uma reforma ministerial com o único intuito de ter uma base segura no Congresso Nacional. Em momento algum analisou nomes tendo como base a competência. Não, absolutamente não. O único pensamento foi de garantir uma maioria bovina. E, principalmente, impedir a abertura de um processo de impeachment.
O articulador deste arranjo antirrepublicano foi o ex-presidente Lula. Ele assumiu o protagonismo, reuniu lideranças partidárias, ditou mudanças políticas e econômicas e apresentou à presidente a nova composição de forças. Foi louvado pela imprensa chapa-branca. Parecia que a escuridão estava no fim. Teria aberto o caminho da governabilidade, isolado os opositores e pavimentado a sua eleição, dada como certa em 2018.
Ledo engano. A reforma ministerial fracassou. Uma semana depois, o panorama no Congresso Nacional é o mesmo — ou até pior. E Lula foi o grande derrotado. Na última quinzena, somou diversas derrotas. Foi acusado de vários crimes — lavagem de dinheiro, corrupção passiva, formação de quadrilha, entre outros — pelo jurista Hélio Bicudo. Dias depois foi divulgada a notícia de que, em 2009, uma medida provisória que beneficiava montadoras de veículos teria sido vendida, e um dos seus filhos supostamente recebido R$ 2,4 milhões. Em seguida, duas revistas semanais revelaram que Lula teria praticado tráfico de influência internacional em Gana e na República da Guiné Equatorial, favorecendo empreiteiras brasileiras e que o tríplex na Praia do Guarujá foi reformado por uma grande empreiteira. O presidente, que se autoproclamava o mais importante da História do Brasil, que, em 2010, estava em dúvida se seria candidato a secretário-geral da ONU ou a presidência do Banco Mundial — sem contar aqueles que queriam indicá-lo ao Prêmio Nobel da Paz — passou a evitar locais públicos, ficou refugiado em auditórios amestrados e foi homenageado com bonecos representando-o em situações constrangedoras.
A crise deve se prolongar. O projeto criminoso de poder — sábia expressão do ministro Celso de Mello, decano do STF — não consegue conviver com o Estado Democrático de Direito e fará de tudo para permanecer no governo, custe o que custar. Ou seja, se for necessário jogar o país na pior crise econômica do último meio século, o fará sem qualquer constrangimento. Se for preciso estender a crise política até a exaustão, não pensará duas vezes — fará com satisfação. Se for indispensável ameaçar com uma crise social — acionando movimentos mantidos com generosas verbas oficiais — agirá desta forma sem pestanejar. Neste caso, a dúvida que fica é se aliados de travessia — como o capital financeiro — vão manter seu apoio — que rende lucros fabulosos — a um governo que pode levar o país a uma conflagração, jogando brasileiros contra brasileiros.
O perfil da crise atual não tem relação com nenhuma outra da nossa história. É algo muito particular. Os acontecimentos de 1992, por exemplo, tiveram como foco central denúncias de corrupção que, nos moldes do projeto criminoso de poder, parecem, como diria um ex-presidente, “dinheiro de pinga.” A renúncia de Fernando Collor — o impeachment, vale lembrar, não ocorreu — tem relação direta muito mais com o caminho econômico-político preconizado quando da posse do presidente, em 15 de março de 1990, relacionado à profunda modernização do Estado e de suas relações com a sociedade, do que com as acusações de corrupção — algumas comprovadas e que não envolviam diretamente o presidente. Ou seja, ter retirado privilégios de empresários de diversos ramos, de artistas e intelectuais, de funcionários públicos e de empresas e bancos estatais, entre outros, e de se recusar partilhar a máquina pública para obter apoio no Congresso, foram fatais. Com este leque de adversários, o que causa estranheza é que seu governo tenha durado tanto tempo.
A crise atual é mais profunda. A política é mero pretexto para o enriquecimento pessoal e uso do Estado como meio de distribuir prebendas, algumas milionárias, ao grande empresariado. O PT cumpriu o dito marxista: transformou o Estado em comitê central da burguesia. Nos dois governos Lula, isto foi possível devido à conjuntura econômica internacional, às reformas adotadas nas gestões FH que deram frutos depois de 2002, ao estabelecimento de uma máquina burocrática controlada por comissários do partido, à compra de apoio na imprensa, no meio artístico, entre pseudointelectuais e a omissão da oposição parlamentar. Mas o que era doce acabou.
Na última quinzena, o governo foi sucessivamente derrotado. Em um só dia, na última quarta-feira, colecionou três fracassos: no Congresso Nacional, no STF e no TCU. Mas, como se diz popularmente, “não quer largar o osso.” Isto porque o partido não sobrevive fora do Estado. Criou um estamento de militantes-funcionários que vivem, direta ou indiretamente, de recursos públicos. São os parasitas da estrela vermelha. E são milhares. A maioria nunca trabalhou — ou está distante décadas do mercado formal de trabalho.
O projeto criminoso de poder caminha para o isolamento. Vai ser derrotado. Mas a agonia vai até quando? Empurrar a crise para 2016 significa uma irresponsabilidade histórica. A sociedade quer ser livrar do governo. Mas onde estão os novos governantes? E, principalmente, o que pensam sobre o Brasil?
Marco Antonio Villa
Pornopolítica
Tenho escrito muito sobre a pornopolítica brasileira. Que relação tem ela com os filmes verdadeiramente pornográficos?
Atualmente, come-se o Brasil como se comem as atrizes pornô. No filme pornô não se esconde nada, é tudo explícito. Os neocorruptos políticos de hoje também são explícitos. Os crimes políticos são cometidos sem culpa, como nos filmes pornográficos. Ninguém se envergonha mais de nada. O filme pornô estende sua luz para nos ajudar a entender o Brasil.
Na internet, na TVs, há uma grande congestão de putaria. Nunca se viu tanta sacanagem, no sexo e na política. Os filmes pornô são uma grande indústria que hoje movimenta bilhões de dólares. Tem até Oscar de filme pornô. Este ano houve grandes premiados em uma festa iluminada: “Bunda 2”, “Elas Preferem Anal”, “Bocas Gulosas”, “Boneca Tarada” e “A Bunda Manda e o Bundão Obedece”. A política também movimenta bilhões com bocas gulosas e mãos grandes para desconstruir nossa indústria.
Há um grande despertar de pornografia e de corrupção não só no Brasil, mas no mundo todo. Creio que é resultado da urgência de compensações de prazer e poder diante da vida desolada que se dilui em tragédias e óperas bufas. O despudor é fruto de uma aceleração do tempo também. Não dá mais tempo para a honestidade, não há mais tempo para o amor. O amor não se vê, a pornografia sim. O amor idealizado acabou; a sexualidade é mais imediata. Ninguém se masturba por amor.
O filme pornô aspira à visibilidade total dos corpos. Na política atual há a visibilidade total de todos os malfeitos e nada acontece, pois nada acontece e nada aconteceu. Nada prova nada. A visibilidade é cada vez maior e diante dela lamentamos nossa impotência. A política aspira à mentira e o filme pornô busca a verdade absoluta do sexo. Até onde pode ir o prazer? Como atingir o orgasmo absoluto? Um orgasmo que explique o mundo. A pornopolítica explora nossas fantasias populistas, a pornografia programa nossos desejos secretos. Antigamente, as masturbações eram literárias, exigiam imaginação do doce punheteiro e muito contribuíram para a literatura nacional; hoje a masturbação é parte de um “stream” digital que programa nossos desejos. O filme pornô faz tudo visível, nada se nega, tudo se exibe para ocultar com os corpos nus a fragilidade de suas vidas. O filme pornô quer nos mostrar o impossível – os atores nos mostram tudo, até o interior de suas vaginas e anus, só não mostram seus medos. Mostram tudo para não mostrar nada.
Já no Brasil, a política prova que o impossível acontece, como por exemplo destruir a maior empresa do país num recorde mundial de roubalheiras. Na pornografia há ausência de pecado ou de culpa; na corrupção também – ninguém tem culpa, ninguém fez nada, ninguém sabe de nada.
Antes, a pornografia era vista secretamente, pelos cantos escuros; hoje a pornografia é uma luz geral que nos cega.
Em meio a tantas frustrações populares, a pornografia é um consolo. A pornografia estimula; a política deprime.
No pornô ninguém tem vergonha; em Brasília também não.
A pornografia sempre houve; em Pompeia vi bordeis de mil anos. Mas a pornografia não muda só no tempo – muda no espaço. A pornografia é geopolítica. A pornografia norte-americana é muito diferente da brasileira. Uma vez perguntei a um produtor de sacanagem: qual a diferença entre o pornô norte-americano e o pornô brasileiro? Ele sentenciou: a fome.
O filme americano mostra o sexo como luxo, como um excesso de civilização e de liberdade. No pornô brasileiro não há excesso – só carência. As mulheres parecem vítimas, sacrificadas com tristes gemidos. Os atores norte-americanos trabalham por um prazer perverso; os atores brasileiros por um prato de comida. O pornô brasileiro é social, é político. O pornô norte-americano é existencial. Nos pornôs brasileiros não há ‘decor’. Tudo se passa em quartos tristes, sofás rasgados e apartamentos sem pintura. O norte-americano brilha em luxuosos bordéis.
Mas, afinal, o filme pornô é documentário ou ficção? Os atores trepam na ficção. Mas o filme pornô, mesmo quando encena uma ficção, é um documentário. Ali, nada é mentira, e tudo o é.
O filme pornô é contra o cinema psicológico; quem evolui dramaticamente é o espectador, até o clímax.
O filme pornô não tem história, enredo, como os filmes de vanguarda, mas fazem sucesso de publico.
O filme pornô não tem começo nem fim – só tem o meio.
O filme pornô não tem alegorias e simbolismos. Um pau não sugere um poder “fálico”, um sonho de fertilidade. Um pau é um pau é um pau. O filme erótico “soft core” é hipócrita. O “hard core” é realista e corajoso. A única diferença entre os dois é: há ou não há penetração?
O filme pornô provoca inveja do pênis; em vez de ver a cena, somos humilhados pelos pirocões gigantes.
Os filmes pornô ostentam uma liberdade intolerável que ninguém tem. O filme pornô não deixa nada a desejar. Os orgasmos são tão triunfais que nos dão angústia de morte.
Depois de vermos um filme pornô ficamos tristes. Ficamos sozinhos, excluídos em pânica solidão, de mãos pensas. É o vício solitário, como os padres aludiam aos punheteiros.
Com a crescente desesperança, busca-se o óbvio, a coisa pela coisa, do sim pelo sim. Na pornopolítica como na pornografia nada é metáfora. Pau é pau, ladrão é ladrão mesmo de cabelos pintados de acaju ou de preto.
As vezes pinta uma grande arte no pornô; no “Garganta Profunda” há um close antológico de Linda Lovelace, em que ela termina um boquete, um “blow job” em um imenso minhocão, e ergue o rosto cheio de lágrimas, na cruz de um pênis gigante, como a Falconetti em “A Paixão de Joana D’ Arc”, de Dreyer.
Em suma, a pornopolítica é ruim; a pornografia é boa.
Atualmente, come-se o Brasil como se comem as atrizes pornô. No filme pornô não se esconde nada, é tudo explícito. Os neocorruptos políticos de hoje também são explícitos. Os crimes políticos são cometidos sem culpa, como nos filmes pornográficos. Ninguém se envergonha mais de nada. O filme pornô estende sua luz para nos ajudar a entender o Brasil.
Há um grande despertar de pornografia e de corrupção não só no Brasil, mas no mundo todo. Creio que é resultado da urgência de compensações de prazer e poder diante da vida desolada que se dilui em tragédias e óperas bufas. O despudor é fruto de uma aceleração do tempo também. Não dá mais tempo para a honestidade, não há mais tempo para o amor. O amor não se vê, a pornografia sim. O amor idealizado acabou; a sexualidade é mais imediata. Ninguém se masturba por amor.
O filme pornô aspira à visibilidade total dos corpos. Na política atual há a visibilidade total de todos os malfeitos e nada acontece, pois nada acontece e nada aconteceu. Nada prova nada. A visibilidade é cada vez maior e diante dela lamentamos nossa impotência. A política aspira à mentira e o filme pornô busca a verdade absoluta do sexo. Até onde pode ir o prazer? Como atingir o orgasmo absoluto? Um orgasmo que explique o mundo. A pornopolítica explora nossas fantasias populistas, a pornografia programa nossos desejos secretos. Antigamente, as masturbações eram literárias, exigiam imaginação do doce punheteiro e muito contribuíram para a literatura nacional; hoje a masturbação é parte de um “stream” digital que programa nossos desejos. O filme pornô faz tudo visível, nada se nega, tudo se exibe para ocultar com os corpos nus a fragilidade de suas vidas. O filme pornô quer nos mostrar o impossível – os atores nos mostram tudo, até o interior de suas vaginas e anus, só não mostram seus medos. Mostram tudo para não mostrar nada.
Já no Brasil, a política prova que o impossível acontece, como por exemplo destruir a maior empresa do país num recorde mundial de roubalheiras. Na pornografia há ausência de pecado ou de culpa; na corrupção também – ninguém tem culpa, ninguém fez nada, ninguém sabe de nada.
Antes, a pornografia era vista secretamente, pelos cantos escuros; hoje a pornografia é uma luz geral que nos cega.
Em meio a tantas frustrações populares, a pornografia é um consolo. A pornografia estimula; a política deprime.
No pornô ninguém tem vergonha; em Brasília também não.
A pornografia sempre houve; em Pompeia vi bordeis de mil anos. Mas a pornografia não muda só no tempo – muda no espaço. A pornografia é geopolítica. A pornografia norte-americana é muito diferente da brasileira. Uma vez perguntei a um produtor de sacanagem: qual a diferença entre o pornô norte-americano e o pornô brasileiro? Ele sentenciou: a fome.
O filme americano mostra o sexo como luxo, como um excesso de civilização e de liberdade. No pornô brasileiro não há excesso – só carência. As mulheres parecem vítimas, sacrificadas com tristes gemidos. Os atores norte-americanos trabalham por um prazer perverso; os atores brasileiros por um prato de comida. O pornô brasileiro é social, é político. O pornô norte-americano é existencial. Nos pornôs brasileiros não há ‘decor’. Tudo se passa em quartos tristes, sofás rasgados e apartamentos sem pintura. O norte-americano brilha em luxuosos bordéis.
Mas, afinal, o filme pornô é documentário ou ficção? Os atores trepam na ficção. Mas o filme pornô, mesmo quando encena uma ficção, é um documentário. Ali, nada é mentira, e tudo o é.
O filme pornô é contra o cinema psicológico; quem evolui dramaticamente é o espectador, até o clímax.
O filme pornô não tem história, enredo, como os filmes de vanguarda, mas fazem sucesso de publico.
O filme pornô não tem começo nem fim – só tem o meio.
O filme pornô não tem alegorias e simbolismos. Um pau não sugere um poder “fálico”, um sonho de fertilidade. Um pau é um pau é um pau. O filme erótico “soft core” é hipócrita. O “hard core” é realista e corajoso. A única diferença entre os dois é: há ou não há penetração?
O filme pornô provoca inveja do pênis; em vez de ver a cena, somos humilhados pelos pirocões gigantes.
Os filmes pornô ostentam uma liberdade intolerável que ninguém tem. O filme pornô não deixa nada a desejar. Os orgasmos são tão triunfais que nos dão angústia de morte.
Depois de vermos um filme pornô ficamos tristes. Ficamos sozinhos, excluídos em pânica solidão, de mãos pensas. É o vício solitário, como os padres aludiam aos punheteiros.
Com a crescente desesperança, busca-se o óbvio, a coisa pela coisa, do sim pelo sim. Na pornopolítica como na pornografia nada é metáfora. Pau é pau, ladrão é ladrão mesmo de cabelos pintados de acaju ou de preto.
As vezes pinta uma grande arte no pornô; no “Garganta Profunda” há um close antológico de Linda Lovelace, em que ela termina um boquete, um “blow job” em um imenso minhocão, e ergue o rosto cheio de lágrimas, na cruz de um pênis gigante, como a Falconetti em “A Paixão de Joana D’ Arc”, de Dreyer.
Em suma, a pornopolítica é ruim; a pornografia é boa.
Brasil: É honesto, é ladrão ou é tico-tico no fubá?
A onda de corrupção, em que se rouba até mosca de aranha cega e lençol de fantasma, trouxe pelo menos uma armagedonicamente inovadora face à política brasileira. Saiu de cena a velha bipolaridade direita barra esquerda.
Entra a nova bipolaridade, essencial: ou é honesto, ou é corrupto.
Por que a política Dilma 2015 se converteu numa caleidoscopia, num jogo de espelhos quebrados? A resposta é simples: como estão quase todos envolvidos na Lava Jato, a cada dia os políticos se vêm compelidos a mudar de lado. Os intercolutores agora têm cabeça de medusa e rostos de mil faces. Um novo desenho por segundo. Tudo aquilo que é, no minuto seguinte já era (Walter Benjamin notava que a expressão “era uma vez” é sempre a grande prostituta da história…)
A face outra, sempre ao calor da hora, teve outra feição neste fim de semana, revelada pela coluna Painel: no ultimo sábado um encontro demencial reuniu o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o líder da bancada do PSDB, Carlos Sampaio (PSDB-SP), e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Nele, os três combinaram o seguinte roteiro: Cunha rejeitará todos os pedidos de impeachment, menos o apresentado por Hélio Bicudo, que será turbinado com uma manifestação do procurador Júlio Marcelo de Oliveira, que atua junto ao Tribunal de Contas da União, alegando que as chamadas ‘pedaladas fiscais’ prosseguiram em 2015. Assim, Cunha terá um argumento para dizer que aceitará uma denúncia ancorada em fatos do atual mandato, e não do anterior – o encontro secreto confirma que a nota da oposição, pedindo o afastamento de Cunha, não passa de encenação.
O encontro dá uma chave para a nossa atual condição: ninguém quer investir no Brasil porque não se sabe qual vai ser a cada do país no minuto seguinte. A novidade se enrodilha a cada nanossegundo.
Ou seja: o que era, não é mais: e mais uma vez…
Ninguém quer saber mais se fulano é ou de esquerda ou é de direita: o barato é saber apenas se é honesto ou não.
Aplicaram o velho truque da linguagem para esconder esse cenário.
Bem que o PT tentou levar a frente a mais sacrossanta distorção do silogismo. Premissa maior: o governo do PT é de esquerda. Premissa menor: quem não é de esquerda é de direita. Conclusão: quem se opõe à esquerda (PT) só pode ser de direita…
Os termos “política de direita” e “política de esquerda” foram cunhados na Revolução Francesa (1789–99). Inicialmente, apenas se referiam ao lugar onde políticos se sentavam no parlamento francês. Aqueles sentados à direita da cadeira do presidente parlamentar eram singularmente favoráveis ao Antigo Regime (defesa cega da hierarquia, tradição e clero).
Aqui e agora, interessa aos zeros à esquerda dizer que no Brasil o oposto da esquerda é tão somente a direita furiosa.
Mentira: a maioria oposta à esquerda dita progressista, no Brasil, é composta por conservadores. E eles em sua imensa maioria não são direitistas.
Mesmo os conservadores trazem contradições que chocariam nossas esquerdas: Edmund Burke, bretão pai do conceito de conservadorismo, era dito conservador porque se opunha à Revolução Francesa (mas defendia com unhas e dentes a Revolução Americana, para o arrepio das nossas esquerdas…)
O golpe de satanizar a direita não mais funciona.
Quem se opõem ao PT, ao PMDB, ao PSDB (e ao diabo, enfim e amiúde) é a parcela honesta do país, que graças a Lava Jato não sabe mais com quem está lidando…
A última cartada do PT foi reduzir os ministérios do partido de 13 para 9, e o PMDB manteve as sete pastas recebidas no início do mandato, mas ganhou ministérios com mais peso, como o da Saúde, que tem o maior orçamento do governo.
A saída é racionalmente justificada: a maior irrigação política deste país ainda é do PMDB. Lembrem-se que Quércia foi quem inventou as frentes municipalistas. Elas fizeram do partido o mais forte do Brasil (Luiz Fernando de Souza, o Pezão, o mais novo arauto do municipalismo, vem de uma terra carioca de ninguém, obscuro município de Piraí).
O PMDB aprendeu a resistir a ditadura e a gerenciar o poder depois que ela acabou. Irrigou a democracia dominando nos bairros, nos rincões.
Lembre-se: o PMDB saiu das eleições de 2014 como o maior partido do país em Estados administrados. Dispõe também do maior número de municípios e de parlamentares no Congresso Nacional; emplacou sete governadores, a maior quantidade entre as nove legendas que elegeram governantes no ano passado. Em 2012, lembre-se também, o PMDB fez o maior número de prefeitos (1.019 ao todo).
O PMDB dominou a superestrutura, a infraestrutura e , agora, a microestrutura.
Mas a Lava Jato ensina que nem PMDB, nem ninguém, dispõe de uma feição barra história que dure mais de 48 horas. A casa tem caído a cada minuto para muita gente.
Quem vai investir num país caleidoscópico que parece o País das Maravilhas, de Alice?
Silvio Santos perguntaria bem: “É honesto, é ladrão ou é tico-tico no fubá ? “
Entra a nova bipolaridade, essencial: ou é honesto, ou é corrupto.
Por que a política Dilma 2015 se converteu numa caleidoscopia, num jogo de espelhos quebrados? A resposta é simples: como estão quase todos envolvidos na Lava Jato, a cada dia os políticos se vêm compelidos a mudar de lado. Os intercolutores agora têm cabeça de medusa e rostos de mil faces. Um novo desenho por segundo. Tudo aquilo que é, no minuto seguinte já era (Walter Benjamin notava que a expressão “era uma vez” é sempre a grande prostituta da história…)
Nele, os três combinaram o seguinte roteiro: Cunha rejeitará todos os pedidos de impeachment, menos o apresentado por Hélio Bicudo, que será turbinado com uma manifestação do procurador Júlio Marcelo de Oliveira, que atua junto ao Tribunal de Contas da União, alegando que as chamadas ‘pedaladas fiscais’ prosseguiram em 2015. Assim, Cunha terá um argumento para dizer que aceitará uma denúncia ancorada em fatos do atual mandato, e não do anterior – o encontro secreto confirma que a nota da oposição, pedindo o afastamento de Cunha, não passa de encenação.
O encontro dá uma chave para a nossa atual condição: ninguém quer investir no Brasil porque não se sabe qual vai ser a cada do país no minuto seguinte. A novidade se enrodilha a cada nanossegundo.
Ou seja: o que era, não é mais: e mais uma vez…
Ninguém quer saber mais se fulano é ou de esquerda ou é de direita: o barato é saber apenas se é honesto ou não.
Aplicaram o velho truque da linguagem para esconder esse cenário.
Bem que o PT tentou levar a frente a mais sacrossanta distorção do silogismo. Premissa maior: o governo do PT é de esquerda. Premissa menor: quem não é de esquerda é de direita. Conclusão: quem se opõe à esquerda (PT) só pode ser de direita…
Os termos “política de direita” e “política de esquerda” foram cunhados na Revolução Francesa (1789–99). Inicialmente, apenas se referiam ao lugar onde políticos se sentavam no parlamento francês. Aqueles sentados à direita da cadeira do presidente parlamentar eram singularmente favoráveis ao Antigo Regime (defesa cega da hierarquia, tradição e clero).
Aqui e agora, interessa aos zeros à esquerda dizer que no Brasil o oposto da esquerda é tão somente a direita furiosa.
Mentira: a maioria oposta à esquerda dita progressista, no Brasil, é composta por conservadores. E eles em sua imensa maioria não são direitistas.
Mesmo os conservadores trazem contradições que chocariam nossas esquerdas: Edmund Burke, bretão pai do conceito de conservadorismo, era dito conservador porque se opunha à Revolução Francesa (mas defendia com unhas e dentes a Revolução Americana, para o arrepio das nossas esquerdas…)
O golpe de satanizar a direita não mais funciona.
Quem se opõem ao PT, ao PMDB, ao PSDB (e ao diabo, enfim e amiúde) é a parcela honesta do país, que graças a Lava Jato não sabe mais com quem está lidando…
A última cartada do PT foi reduzir os ministérios do partido de 13 para 9, e o PMDB manteve as sete pastas recebidas no início do mandato, mas ganhou ministérios com mais peso, como o da Saúde, que tem o maior orçamento do governo.
A saída é racionalmente justificada: a maior irrigação política deste país ainda é do PMDB. Lembrem-se que Quércia foi quem inventou as frentes municipalistas. Elas fizeram do partido o mais forte do Brasil (Luiz Fernando de Souza, o Pezão, o mais novo arauto do municipalismo, vem de uma terra carioca de ninguém, obscuro município de Piraí).
O PMDB aprendeu a resistir a ditadura e a gerenciar o poder depois que ela acabou. Irrigou a democracia dominando nos bairros, nos rincões.
Lembre-se: o PMDB saiu das eleições de 2014 como o maior partido do país em Estados administrados. Dispõe também do maior número de municípios e de parlamentares no Congresso Nacional; emplacou sete governadores, a maior quantidade entre as nove legendas que elegeram governantes no ano passado. Em 2012, lembre-se também, o PMDB fez o maior número de prefeitos (1.019 ao todo).
O PMDB dominou a superestrutura, a infraestrutura e , agora, a microestrutura.
Mas a Lava Jato ensina que nem PMDB, nem ninguém, dispõe de uma feição barra história que dure mais de 48 horas. A casa tem caído a cada minuto para muita gente.
Quem vai investir num país caleidoscópico que parece o País das Maravilhas, de Alice?
Silvio Santos perguntaria bem: “É honesto, é ladrão ou é tico-tico no fubá ? “
Zeus enviou ao Brasil uma pândora trôpega
Se o Paraíso for como no “Sonho de um homem ridículo”, o conto de Dostoiévski, em que a harmonia entre as pessoas tornadas hipóteses – como diz a Emília ao Visconde de Sabugosa – era tanta que a linguagem estava abolida e a comunicação se dava por telepatia, sem os riscos que fazem estimulante a existência: o risco da precipitação na dúvida entre a espera necessária e a angustiante perda de tempo, o risco de um mal-entendido e do respectivo esclarecimento acompanhado da epifânica restauração da verdade, o risco de um poema ou de um deleitoso “te quiero” como só a musicalidade do espanhol é capaz; então, Deus que me perdoe, mas receio que o céu seja o tédio em plenitude com toda essa perfeição eternidade afora.
Sem um inferno ou céu segundo nossos conceitos, os imortais deuses gregos que inventaram Pandora viviam num tédio de matar naquela eternidade sem fim. Os homens os salvavam sempre: nada como haver um planeta cheio de mortais cujo destino parecia à disposição do entretenimento das divindades. Zeus já tinha castigado Prometeu pelo roubo do fogo, mas e quanto àqueles bichos da Terra tão pequenos?
Como se sabe, acertou as contas enviando a sedutora, dissimulada e perspicaz – assim feita para obter abrigo na humanidade – Pandora com a tal caixa. Zeus não criou o mundo, apenas lhe deu cosmicidade, organizando os domínios entre os deuses; como o jeca que não inventou a corrupção, mas a aprofundou na sagração dela como modo de permanecer no poder, determinando entre os comparsas os quinhões de esbulho do país.
Nessa ordenação, enviou-nos a tal pândora trôpega que seduziu não pelo charme que lhe falta, mas pela chave do cofre que ele lhe passou. Para cumprir a missão vigarista, Dilma Rousseff se empenhou também em crimes fiscais em 2014 e, inutilizando o argumento inútil de que os crimes de um mandato não comprometem o mandato seguinte, em 2015 inclusive, segundo nova denúncia do procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
Território linguístico inóspito à perspicácia e onde prolifera a mentira, o dilmês instaura o ethos político – pelo conceito de Barthes – da presidente de estupidez mitológica na biografia do jeca como o pior erro (para ele) desse zeus degenerado porque espera para logo, depois de espalhadas tantas cafajestices, no fundo da caixa de pândora, o impeachment.
Como se sabe, acertou as contas enviando a sedutora, dissimulada e perspicaz – assim feita para obter abrigo na humanidade – Pandora com a tal caixa. Zeus não criou o mundo, apenas lhe deu cosmicidade, organizando os domínios entre os deuses; como o jeca que não inventou a corrupção, mas a aprofundou na sagração dela como modo de permanecer no poder, determinando entre os comparsas os quinhões de esbulho do país.
Nessa ordenação, enviou-nos a tal pândora trôpega que seduziu não pelo charme que lhe falta, mas pela chave do cofre que ele lhe passou. Para cumprir a missão vigarista, Dilma Rousseff se empenhou também em crimes fiscais em 2014 e, inutilizando o argumento inútil de que os crimes de um mandato não comprometem o mandato seguinte, em 2015 inclusive, segundo nova denúncia do procurador Júlio Marcelo de Oliveira.
Território linguístico inóspito à perspicácia e onde prolifera a mentira, o dilmês instaura o ethos político – pelo conceito de Barthes – da presidente de estupidez mitológica na biografia do jeca como o pior erro (para ele) desse zeus degenerado porque espera para logo, depois de espalhadas tantas cafajestices, no fundo da caixa de pândora, o impeachment.
Da série da corrupção dos valores: a Política
Independentemente da decisão do plenário do TCU sobre as contas do governo Dilma, e de seu destino político no Congresso Nacional, uma coisa todos podem estar certos: algo mudou definitivamente na relação da sociedade com a corte de contas que assessora o Legislativo federal.
O interesse despertado acerca do tribunal de contas tem levado movimentos de controle social a fazerem vigília em frente à sede da instituição, com suas velas acesas formando o já conhecido "SOS TCU". E isto constrange a ação política de suas excelências deputados e senadores. Organizações de servidores dos tribunais de contas, como ANTC, Ampcon e AudTCU, e até associações de outras carreiras de Estado como a ANAUNI, dos advogados públicos, ou da ANPR, dos procuradores da República, também agiram, fazendo divulgar notas em apoio à autonomia constitucional do tribunal e repudiando ingerências políticas. O que também constrange a classe política. Além do que, cidadãos comuns têm criado petições em sites de abaixo-assinados. Toda essa movimentação e interesse de amplas camadas da sociedade sobre o que se passa numa das instituições de Estado mais importantes, posto que fiscalizadora dos gastos públicos, foi uma das notícias mais importantes que tivemos nos últimos tempos. Pois se trata de saber de sua efetividade ou não. O que prova que estamos construindo instituições junto com uma cultura deplena cidadania contra a cultura de impunidade, a miséria políticados que se apossam da República e, sobretudo, a corrupção generalizada de valores morais cultivada no nosso imaginário social.
E um desses valores mais desentendidos ou corrompidos – principalmente por parte de políticos profissionais e produtores de conteúdo de uma boa parte da mídia – é justamente a Política. Quando se desentende a nobre atividade da Política como reles disputa partidária, briga pelo poder, negociatas de varejo do toma lá, dá cá, escaramuças entre grupos corporativos, ou mesmo a batalha diuturna da demagogia pelo voto nosso de cada eleição.
O que temos hoje? A presidente da República pensa na Política como instrumento para se safar de um processo de impedimento. O presidente da Câmara dos Deputados pensa na Política como estratégia para encobrir graves acusações de desvio de recursos públicos. A cúpula do Judiciário pensa na Política como facilitadora de seus pleitos corporativos por maiores vencimentos e outros penduricalhos disfarçados de prerrogativas. A grande mídia pensa na Política como fonte de quid pro quo rocambolescos e policiais para conquistar leitores e audiência. Ora, convenhamos, a Política não pode ser reduzida a politicagem, ou associação para o crime de pilhagem da coisa pública.
Política é muito mais que isso. Para além da definição que diz "a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados", Política é colocar – e fazer colocar – o interesse do paísacima das ambições partidárias ou eleitorais do momento. Ou simplesmente, colocar o interesse público acima do interesse privado ou corporativo de qualquer espécie. Para que se garanta de fato o interesse maior de quem carrega nas costas a conta toda do Poder Público que são os cidadãos eleitores e pagadores de impostos. Se políticos profissionais não pensam, no fundo, nos interesses do país, que seja então a sociedade a fazer isso.
Uma das propostas de um programa de desenvolvimento da cultura de cidadania é empoderar um número cada vez maior de cidadãos para que, por sua própria conta e conhecimento, venham a fiscalizar o uso dos recursos públicos. Henrique Ziller, auditor de controle externo, gravou um vídeo-depoimento para nosso programa deAgentes de Cidadania sobre uma iniciativa na área da Saúde Pública, a Auditoria Cívica da Saúde. O Instituto de Fiscalização e Controle, de Brasília, percorre regularmente diversas cidades pelo Brasil – devidamente acompanhado por auditores de tribunais de contas e membros do Ministério Público, além de advogados, contadores e especialistas em saúde pública – para oferecer palestras a grupos de cidadãos interessados em aprender como monitorar os gastos no setor. Depois, são elaborados relatórios com sugestões e medidas a serem tomadas para corrigir os desvios. Essas minutas são levadas aos gestores públicos e a partir daí são acompanhadas pelo próprio Ministério Público.
Segundo Ziller, os resultados têm sido bastante positivos e poderiam ser ainda melhores: "A presença do cidadão no município é um fator muito importante para o sucesso das iniciativas dos órgãos de controle. Por sua vez, estes precisam compreender o que está sendo feito e se mostrarem abertos a essas parcerias que, com certeza, terão resultado excelente para a população em geral". O maior trabalho de cidadania de uma verdadeira elite – os melhores de nós, e não necessariamente os mais afortunados – começa na conscientização e na mobilização de outros cidadãos para a importância do controle social sobre políticos, gestores e orçamentos públicos.
Como está dito em nossa apresentação: "A política é importante demais para ficar nas mãos dos políticos", uma paródia da célebre frase do diplomata americano Chester Bowles "O governo é grande e importante demais para ficar nas mãos dos políticos".
O interesse despertado acerca do tribunal de contas tem levado movimentos de controle social a fazerem vigília em frente à sede da instituição, com suas velas acesas formando o já conhecido "SOS TCU". E isto constrange a ação política de suas excelências deputados e senadores. Organizações de servidores dos tribunais de contas, como ANTC, Ampcon e AudTCU, e até associações de outras carreiras de Estado como a ANAUNI, dos advogados públicos, ou da ANPR, dos procuradores da República, também agiram, fazendo divulgar notas em apoio à autonomia constitucional do tribunal e repudiando ingerências políticas. O que também constrange a classe política. Além do que, cidadãos comuns têm criado petições em sites de abaixo-assinados. Toda essa movimentação e interesse de amplas camadas da sociedade sobre o que se passa numa das instituições de Estado mais importantes, posto que fiscalizadora dos gastos públicos, foi uma das notícias mais importantes que tivemos nos últimos tempos. Pois se trata de saber de sua efetividade ou não. O que prova que estamos construindo instituições junto com uma cultura deplena cidadania contra a cultura de impunidade, a miséria políticados que se apossam da República e, sobretudo, a corrupção generalizada de valores morais cultivada no nosso imaginário social.
E um desses valores mais desentendidos ou corrompidos – principalmente por parte de políticos profissionais e produtores de conteúdo de uma boa parte da mídia – é justamente a Política. Quando se desentende a nobre atividade da Política como reles disputa partidária, briga pelo poder, negociatas de varejo do toma lá, dá cá, escaramuças entre grupos corporativos, ou mesmo a batalha diuturna da demagogia pelo voto nosso de cada eleição.
O que temos hoje? A presidente da República pensa na Política como instrumento para se safar de um processo de impedimento. O presidente da Câmara dos Deputados pensa na Política como estratégia para encobrir graves acusações de desvio de recursos públicos. A cúpula do Judiciário pensa na Política como facilitadora de seus pleitos corporativos por maiores vencimentos e outros penduricalhos disfarçados de prerrogativas. A grande mídia pensa na Política como fonte de quid pro quo rocambolescos e policiais para conquistar leitores e audiência. Ora, convenhamos, a Política não pode ser reduzida a politicagem, ou associação para o crime de pilhagem da coisa pública.
Política é muito mais que isso. Para além da definição que diz "a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados", Política é colocar – e fazer colocar – o interesse do paísacima das ambições partidárias ou eleitorais do momento. Ou simplesmente, colocar o interesse público acima do interesse privado ou corporativo de qualquer espécie. Para que se garanta de fato o interesse maior de quem carrega nas costas a conta toda do Poder Público que são os cidadãos eleitores e pagadores de impostos. Se políticos profissionais não pensam, no fundo, nos interesses do país, que seja então a sociedade a fazer isso.
Uma das propostas de um programa de desenvolvimento da cultura de cidadania é empoderar um número cada vez maior de cidadãos para que, por sua própria conta e conhecimento, venham a fiscalizar o uso dos recursos públicos. Henrique Ziller, auditor de controle externo, gravou um vídeo-depoimento para nosso programa deAgentes de Cidadania sobre uma iniciativa na área da Saúde Pública, a Auditoria Cívica da Saúde. O Instituto de Fiscalização e Controle, de Brasília, percorre regularmente diversas cidades pelo Brasil – devidamente acompanhado por auditores de tribunais de contas e membros do Ministério Público, além de advogados, contadores e especialistas em saúde pública – para oferecer palestras a grupos de cidadãos interessados em aprender como monitorar os gastos no setor. Depois, são elaborados relatórios com sugestões e medidas a serem tomadas para corrigir os desvios. Essas minutas são levadas aos gestores públicos e a partir daí são acompanhadas pelo próprio Ministério Público.
Segundo Ziller, os resultados têm sido bastante positivos e poderiam ser ainda melhores: "A presença do cidadão no município é um fator muito importante para o sucesso das iniciativas dos órgãos de controle. Por sua vez, estes precisam compreender o que está sendo feito e se mostrarem abertos a essas parcerias que, com certeza, terão resultado excelente para a população em geral". O maior trabalho de cidadania de uma verdadeira elite – os melhores de nós, e não necessariamente os mais afortunados – começa na conscientização e na mobilização de outros cidadãos para a importância do controle social sobre políticos, gestores e orçamentos públicos.
Como está dito em nossa apresentação: "A política é importante demais para ficar nas mãos dos políticos", uma paródia da célebre frase do diplomata americano Chester Bowles "O governo é grande e importante demais para ficar nas mãos dos políticos".
Alerta de Deaton
Todos queríamos ser felizes, mas uma grande parte do mundo está hoje preocupada porque os programas de austeridade que muitos países padecem nos deixarão infelizes, talvez por muitos anosAngus Deaton, Nobel de Economia, que em 2012 já atacava as políticas que “reduzem a renda, cortam benefícios e destroem empregos”
Referências ocultas que poucos percebem nos discursos de Dilma
O vento podia ser isso também, mas você não conseguiu ainda tecnologia para estocar vento. Então, se a contribuição dos outros países, vamos supor que seja desenvolver uma tecnologia que seja capaz de na eólica estocar, ter uma forma de você estocar, porque o vento ele é diferente em horas do dia. Então, vamos supor que vente mais à noite, como eu faria para estocar isso?
Este breve discurso é uma alusão ao famoso poema É uma brisa leve, de Fernando Pessoa:
E, finalmente, a Alice me deu uma ideia. Ela disse que, nesse caso, a gente podia saudar, nesse caso nós podemos saudar os conterrâneos e os subterrâneos, porque os subterrâneos é o metrô. Só fazendo esse aparte aqui.
Vemos aqui uma clara referência a "Notas do Subterrâneo" (traduzido também como “Memórias do Subsolo” no Brasil), de Dostoievski. O trecho apresenta uma dessas metáforas em que nossa presidente é brilhante. Observe com que cuidado o existencialismo se combina com a inauguração do metrô na Bahia:
(…) pegamos a pá, fomos lá, subterraneamente, desenterramos a cabeça do jegue, e tenho certeza que, de agora em diante, ninguém vai olhar para ninguém e falar: “Xi, o metrô da Bahia, xi.”
Se o subterrâneo é o subconsciente humano, o metrô seria a via que o liga ao consciente. Que bela imagem! Mas o que é a cabeça do jegue soterrada? A nossa presidente não subestima a inteligência da plateia. E em vez da aguardada explicação, temos, ao final do discurso, uma maravilhosa explosão de ternura poética: “Xi, o metrô da Bahia, xi.”
"Em um país pacífico, como é o nosso, em um país que pretende cada vez mais se desenvolver considerando a capacidade de distribuir seu desenvolvimento com a sua população, transformar o mundo significa, necessariamente, levar a cada uma das pessoas as melhores condições de vida. E é isso que a ciência faz, né, Aldo, desde a Arca de Noé".
A referência, sem dúvida, é do Antigo Testamento. Não me recordo, no entanto, de nenhum Aldo cuja existência vale mencionar aqui. Ou será que Rousseff está falando de Sant’Aldo, eremita que viveu no século VIII?
"Então, é para que o bode sobreviva que nós vamos ter de fazer também um Plano Safra que atenda os bodes que são importantíssimos e fazem parte de toda tradição produtiva de muitas das regiões dos pequenos municípios aqui do estado".
Interessantíssima associação que só mais tarde, com a porta da geladeira aberta, fui perceber. Rousseff cita a Crítica da Razão Pura, de Kant, na qual encontramos a célebre frase do filósofo prussiano: "Um ordenha o bode enquanto o outro segura a peneira".
Ao citar a frase de Kant, a presidente está propondo um exercício bastante oportuno aos prefeitos do Ceará: procurar descobrir se uma questão é pertinente antes mesmo de formulá-la. Ora, todo o esforço em formular uma pergunta ou hipótese (o trabalho de segurar e ordenhar um animal) perderia seu objetivo sem ter como base um substrato experiencial, de maneira que os prefeitos do Ceará poderiam estar falando sobre um nada (o leite na peneira) se puxassem a presidente (o bode) para um canto sem souberem direito o que querem.
Um grande varejista uma vez disse o seguinte, disse uma coisa muito simples e de fácil entendimento, que é muito difícil para o conjunto da população ou para muitas camadas da população, comprar à vista, mas que quando se compra a prazo, tudo fica mais viável."
Talvez uma alusão a Georg Simmel, sociólogo alemão; autor do ensaio A Filosofia do Dinheiro (Philosophie des Geldes). A relação entre Dilma e Simmel (1900) é algo que, estou cada vez mais certo, levou às chamadas pedaladas fiscais.
"Se hoje é o Dia das Crianças, ontem eu disse que criança… o dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais. Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante".
Essa passagem me faz lembrar a célebre palestra de Brian Greene, um dos maiores especialistas contemporâneos em cosmologia e física de partículas, na Columbia University. O cachorro faz aqui uma aparição simbólica, oculto, por assim dizer, por trás de uma criança - que representaria todas as crianças do Universo. É de lamentar que a presidente não tenha se utilizado dos fundamentos da relatividade no resto do discurso, poupando a platéia de outras figuras ocultas explicativas.
"Eu estou muito feliz de estar aqui em Bauru. O prefeito me disse que eu sou, entre os presidentes, nos últimos tempos, uma das presidentes, ou presidentes, que esteve aqui em Bauru".
Muitos sem dúvida terão dificuldades de entender os discursos de Rousseff sem antes ter lido o básico de mecânica quântica. A força de sua fala está na repetição das palavras, como se cada coisa estivesse presente em um multiverso diferente e, ao mesmo tempo, no mesmo lugar. Um antigo físico disse certa vez que “tudo é relativo”, mesmo o tempo (nos últimos tempos) e o espaço (aqui em Bauru).
Guy Franco
Este breve discurso é uma alusão ao famoso poema É uma brisa leve, de Fernando Pessoa:
É uma brisa leveQue o ar um momento teveE que passa sem terQuase por tudo ser (…)E parece sugerir que a vida humana não é mais do que uma brisa, um instante que passa, “como eu faria para estocar isto?”
E, finalmente, a Alice me deu uma ideia. Ela disse que, nesse caso, a gente podia saudar, nesse caso nós podemos saudar os conterrâneos e os subterrâneos, porque os subterrâneos é o metrô. Só fazendo esse aparte aqui.
Vemos aqui uma clara referência a "Notas do Subterrâneo" (traduzido também como “Memórias do Subsolo” no Brasil), de Dostoievski. O trecho apresenta uma dessas metáforas em que nossa presidente é brilhante. Observe com que cuidado o existencialismo se combina com a inauguração do metrô na Bahia:
(…) pegamos a pá, fomos lá, subterraneamente, desenterramos a cabeça do jegue, e tenho certeza que, de agora em diante, ninguém vai olhar para ninguém e falar: “Xi, o metrô da Bahia, xi.”
Se o subterrâneo é o subconsciente humano, o metrô seria a via que o liga ao consciente. Que bela imagem! Mas o que é a cabeça do jegue soterrada? A nossa presidente não subestima a inteligência da plateia. E em vez da aguardada explicação, temos, ao final do discurso, uma maravilhosa explosão de ternura poética: “Xi, o metrô da Bahia, xi.”
"Em um país pacífico, como é o nosso, em um país que pretende cada vez mais se desenvolver considerando a capacidade de distribuir seu desenvolvimento com a sua população, transformar o mundo significa, necessariamente, levar a cada uma das pessoas as melhores condições de vida. E é isso que a ciência faz, né, Aldo, desde a Arca de Noé".
A referência, sem dúvida, é do Antigo Testamento. Não me recordo, no entanto, de nenhum Aldo cuja existência vale mencionar aqui. Ou será que Rousseff está falando de Sant’Aldo, eremita que viveu no século VIII?
"Então, é para que o bode sobreviva que nós vamos ter de fazer também um Plano Safra que atenda os bodes que são importantíssimos e fazem parte de toda tradição produtiva de muitas das regiões dos pequenos municípios aqui do estado".
Interessantíssima associação que só mais tarde, com a porta da geladeira aberta, fui perceber. Rousseff cita a Crítica da Razão Pura, de Kant, na qual encontramos a célebre frase do filósofo prussiano: "Um ordenha o bode enquanto o outro segura a peneira".
Ao citar a frase de Kant, a presidente está propondo um exercício bastante oportuno aos prefeitos do Ceará: procurar descobrir se uma questão é pertinente antes mesmo de formulá-la. Ora, todo o esforço em formular uma pergunta ou hipótese (o trabalho de segurar e ordenhar um animal) perderia seu objetivo sem ter como base um substrato experiencial, de maneira que os prefeitos do Ceará poderiam estar falando sobre um nada (o leite na peneira) se puxassem a presidente (o bode) para um canto sem souberem direito o que querem.
Um grande varejista uma vez disse o seguinte, disse uma coisa muito simples e de fácil entendimento, que é muito difícil para o conjunto da população ou para muitas camadas da população, comprar à vista, mas que quando se compra a prazo, tudo fica mais viável."
Talvez uma alusão a Georg Simmel, sociólogo alemão; autor do ensaio A Filosofia do Dinheiro (Philosophie des Geldes). A relação entre Dilma e Simmel (1900) é algo que, estou cada vez mais certo, levou às chamadas pedaladas fiscais.
"Se hoje é o Dia das Crianças, ontem eu disse que criança… o dia da criança é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais. Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um cachorro atrás, o que é algo muito importante".
Essa passagem me faz lembrar a célebre palestra de Brian Greene, um dos maiores especialistas contemporâneos em cosmologia e física de partículas, na Columbia University. O cachorro faz aqui uma aparição simbólica, oculto, por assim dizer, por trás de uma criança - que representaria todas as crianças do Universo. É de lamentar que a presidente não tenha se utilizado dos fundamentos da relatividade no resto do discurso, poupando a platéia de outras figuras ocultas explicativas.
"Eu estou muito feliz de estar aqui em Bauru. O prefeito me disse que eu sou, entre os presidentes, nos últimos tempos, uma das presidentes, ou presidentes, que esteve aqui em Bauru".
Muitos sem dúvida terão dificuldades de entender os discursos de Rousseff sem antes ter lido o básico de mecânica quântica. A força de sua fala está na repetição das palavras, como se cada coisa estivesse presente em um multiverso diferente e, ao mesmo tempo, no mesmo lugar. Um antigo físico disse certa vez que “tudo é relativo”, mesmo o tempo (nos últimos tempos) e o espaço (aqui em Bauru).
Guy Franco
O império da lei
A aposta da presidente na Velha Política perdeu fôlego antes mesmo de respirar. A cooptação de parlamentares do baixo clero com cargos e verbas ainda não funcionou para garantir o comparecimento da base às sessões do Congresso.
As tentativas de intimidação e influência falharam também nos tribunais. O governo perdeu no Supremo Tribunal Federal tentando impedir o julgamento de suas contas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Perdeu também em sua tentativa de intimidar o TCU, confirmando a dimensão histórica de sua sentença condenando o desgoverno fiscal e a falta de transparência das práticas orçamentárias.
O Tribunal Superior Eleitoral decidiu, por sua vez, examinar as suspeitas de irregularidades no financiamento da campanha presidencial de 2014. Por que tantas derrotas em tão diversas instâncias?
A dinâmica de uma Grande Sociedade Aberta penetra gradualmente as práticas institucionais da sociedade brasileira. As táticas anacrônicas e desmoralizantes do governo foram derrotadas por esse mecanismo invisível, descentralizado, mas inexorável.
É como se o script da busca de aperfeiçoamento institucional encontrasse seus atores por ser uma irrefreável ideia cujo tempo chegou. Esse enredo evolucionário se desdobra à medida que nele se engajam os nossos novos heróis da cidadania.
Eu dissera antes que Joaquim Barbosa tinha um pé no futuro. E que seu fervor republicano contra degeneradas práticas políticas transbordaria para todos os níveis da administração pública. Vieram Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e seus competentes colaboradores.
Chegam agora Augusto Nardes e os ministros do TCU, recomendando ao Congresso, por unanimidade, a rejeição das contas do governo, o que reforça o arcabouço institucional de controle orçamentário inaugurado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
É inegável a complexidade da crise brasileira. Mas temos massa crítica institucional suficiente para superar os desafios. O mais importante não é saber se o presidente da Câmara vai perder seu mandato. Ou se ele vai acelerar o processo de impeachment, ferindo de morte a presidente antes de cair.
O mais importante é o funcionamento adequado das instituições, para garantir os devidos processos a que todos os atores estarão submetidos. É o império da lei.
Paulo Guedes
'Fora Dilma, 'Fora Lula' e 'Fora PT' não bastam
Novo Pixuleco lançado na Praça da Bandeira, em Belo Horizonte |
E eis que após sete meses de governo, parcelamento de salários de funcionários públicos, protestos, paralizações e ameaças, sobretudo de aparelhos sindicais, o atual governo do Rio Grande do Sul, eleito em repúdio ao governo petista anterior, apresentou uma proposta genial para consertar a ruína causada pelos administradores petistas: Aumentar impostos! Uma proposta genuinamente... petista!
Enquanto o vigarista neobolchevique Tarso Genro e a esquerdalha, a esquerda canalha, que acabaram de arruinar as finanças do Rio Grande do Sul, debochavam da falta de soluções por parte do governo que os sucedeu, os eleitores de José Ivo Sartori (PMDB), desorientados, passivos, nem pensaram em reagir contra a proposta de aumento da extorsão tributária apresentada pelo governo que elegeram. E assim terminaram trocando seis por meia dúzia. Assegurando a continuidade do jeito petista de governar, enquanto o PT estiver oficialmente fora do governo e ao mesmo tempo pavimentando o caminho para sua volta ao governo oficial.
Entenda-se jeito petista de governar como basicamente: deficiência nos serviços essenciais do estado, decorrente da dissipação dos recursos públicos em assistencialismo populista, privilégios corporativos estatais, beneficialismos previdenciários insustentáveis e déficits públicos sistemáticos. Impostos extorsivos e discriminatórios. Aparelhamento e inchaço da máquina estatal. Intervencionismo, despotismo burocrático, expansionismo de crédito sem lastro, chinelagem administrativa, falcatruas contábeis, corrupção institucionalizada e degradação sociocultural generalizada. Este modelo petista verte do padrão de estado e governo esquerdistas mundo a fora: concentração de poder e riqueza nas mãos dos agentes do estado, opressão das liberdades individuais, avassalamento da iniciativa privada e obstinação em burlar por decreto a realidade, a natureza humana, leis inexoráveis da economia e princípios elementares da boa administração pública. Sempre em nome de “justiça social”, inclusão, etc.
A proposta de aumento de impostos mostrou que o atual governo, em vez de enfrentar tudo isso, pretende manter a estrutura. Não apenas por ser muito mais fácil achacar impostos dos contribuintes vassalos que enfrentar as corporações estatais, onde se encontram os verdadeiros donos do poder, mas também porque o governo Sartori, predominantemente esquerdista da cúpula à base, não concebe formas de governar ou modelos de estado fora do padrão esquerdista. A passividade dos contribuintes ante mais um achaque estatal mostrou que a população, perdida entre a alienação e o esquerdismo consciente ou inconsciente, tampouco consegue imaginar um outro estado possível.
Desalojar o PT do governo e manter o jeito petista de governar é mudar para que as coisas fiquem como estão. É como tomar uma fortaleza, trocar os uniformes dos combatentes inimigos e mantê-los no comando. O PT é apenas a organização intelectual-político-criminosa que viabilizou a ascensão da esquerda neocomunista ao poder oficial, servindo como uniforme de camuflagem. Um uniforme cheio de simbolismo, mas que pode ser descartado de acordo com a conveniência. O que importa para ideólogos e agentes esquerdistas é comandar, independente do uniforme. Na verdade, em algumas situações é mesmo muito melhor comandar usando uniformes dos adversários. O próprio Lula teria admitido isso, ao avaliar que “do jeito que as coisas estão, seria melhor que o Aécio tivesse ganhado a eleição”.
A grande maioria da população do “estado mais politizado do país” (risos), incluindo intelectuais, jornalistas e doutos formadores de opinião, não consegue perceber sequer as táticas ostensivas do PT, muito menos as estratégias mais ardilosas do jogo político no qual é manobrada.
Como não sou intelectual, jornalista ou douto formador de opinião, na última eleição cheguei à conclusão de que ainda não era o melhor momento para tirar o PT do comando dos executivos do Rio Grande do Sul e do Brasil.... A bomba-relógio que petistas e aliados fabricaram sem desarmador, estava prestes a explodir e precisava explodir nas mãos deles próprios. Eles precisavam colher o que semearam. Além do mais, nem Sartori nem Aécio pareciam ter intenção ou força para promover as reformas estruturais que o Rio Grande do Sul e o Brasil necessitam. Aécio, pelo menos demonstrara coragem nos debates com Dilma, mas Sartori fora de uma covardia repulsiva diante de Tarso Genro e era óbvio que se não tivera coragem nem para contra-atacar um vigarista político que arruinara o Rio Grande do Sul, muito menos teria para atacar os problemas estruturais do estado. Concluí então que, nesse contexto, seria melhor manter o PT nos governos estadual e federal, mas aumentar as bancadas de oposição nos legislativos.
Bastaram alguns meses de reeleição do PT no governo federal e de substituição no governo do Rio Grande do Sul, para comprovar isso. Enquanto no resto do Brasil a população desiludida se voltou contra Dilma, Lula e o PT, aqui no “politizadíssimo” (mais risos) Rio Grande do Sul, em meio à ruina financeiro-administrativa deixada pelo governo petista, à fúria de corporações estatais diante da possibilidade de precisarem se adequar a um limite de espoliação tributária e à perplexidade passiva dos contribuintes vassalos, eis que o governo eleito para rechaçar o PT, apresentou mais do mesmo como única saída para a ruína causada pelo PT.... Mais jeito petista de governar!
Pior que o achaque tributário proposto como única alternativa, foi a mensagem passada de que não existe outra forma de governar, que é impossível mudar a estrutura estatal vigente e que não existe outro modelo de estado a estabelecer. Pior que a mensagem passada pelo governo Sartori, foi a conivência generalizada no jornalismo formador de opinião da grande mídia, que se encarregou de ocultar da população a alternativa de mudar a estrutura estatal parasita, incompetente, corrupta e opressora que aí está.
No jornalismo independente, praticado apenas na Internet, se destacaram os combativos jornalistas Gilberto Simões Pires, Políbio Braga e Vitor Vieira, que através de seus blogs, ousaram posicionar-se contra o aumento de impostos e esclarecer a respeito da necessidade de reformas estruturais no estado. Vitor Vieira chegou a publicar uma lista detalhada com 29 medidas concretas (privatizações, extinções de privilégios corporativos, etc.) que proporcionariam saneamento financeiro, aumento de arrecadação e eficiência sem aumentar impostos.
Embora tudo indicasse que o achaque seria aprovado na Assembleia Legislativa, eu e uns poucos amigos resolvemos fazer um protesto público, por mais inócuo e quixotesco que fosse. Como adversidade adicional tínhamos o contexto de vivermos em uma decadente cidade do interior do Rio Grande do Sul, que de tão politizada é governada pelo PT há 15 anos e onde a mentalidade é tão avançada que, entre outras peculiaridades, foi proibido asfaltar avenidas ainda pavimentadas com pedra lascada irregular, construir edifícios com mais de cinco andares e abrir supermercados aos domingos.
Realizamos nosso protesto com a satisfação de quem se afasta da enganosa zona de conforto onde se mantém a massa submissa e a sensação de quem combate um incêndio florestal jogando baldes de água. Num domingo à tarde, nos dirigimos aos prédios das secretarias de fazenda estadual e municipal, com faixas e cartazes. Distribuímos um manifesto e um panfleto com uma relação de medidas que deveriam ser tomadas para sanear as finanças estaduais, sem aumento de impostos. Nos cartazes, que foram afixados nas fachadas dos órgãos arrecadadores estadual e municipal, mensagens claras como: “Em vez de aumentar impostos diminuam privilégios no setor público“, “em vez de aumentar impostos diminuam a corrupção”, “em vez de aumentar impostos diminuam o estado”, “o maior explorador do povo é o estado”, “Aumentar impostos é o jeito petista de governar”, “parasitas estatais, chega de achacar os contribuintes”, etc.
Entre demonstrações de alienação predominante, tímidas simpatias e alguns apoios por parte da população achacada, quem mais parece ter entendido nossa mensagem foram os agentes estatais que, pelo que se soube, lepidamente removeram os cartazes no início do expediente na manhã seguinte.
Dias depois, como previsto, o governo Sartori conseguiu aprovar seu aumento de impostos, para manter o modelo de estado parasita, ineficiente, corrupto e opressor, padrão esquerdista. De quebra, Sartori e aliados ainda proporcionaram palco para a esquerdalha se apresentar cinicamente contra o aumento de impostos e como “alternativa” a si própria. Enquanto entre a população decepcionada ganharam força as opiniões de que “não tem jeito”, “políticos são todos iguais, “isso nunca vai mudar”, e “não há o que fazer”.
A experiência de falsa mudança no Rio Grande do Sul serve de alerta para o resto do Brasil: Não adianta tirar Lula, Dilma e o PT do governo, se os sucessores derem continuidade ao jeito petista de governar. O governo petista e seu modelo estatal precisam cair juntos. O governo já está desmoronando, mas sua estrutura estatal ainda se escora em interesses de beneficiários privilegiados e apaniguados, na passividade comodista e sobretudo na falta de entendimento da população.
Se por um lado, nunca antes tantos brasileiros identificaram o PT como uma organização político-criminosa da qual precisam se livrar, por outro, poucos percebem que por trás dessa organização político-criminosa há uma ideologia, centrada em um modelo de estado em uma forma de governar, que está para o PT assim como um combatente está para um uniforme e é ela que precisa ser combatida, independente do uniforme que use.
Antes de defenestrar Dilma, Lula e o PT, ainda há trabalho a fazer... É preciso esclarecer à população que quem está arruinando o Brasil não são apenas Dilma, Lula, o PT e os petralhas, mas sobretudo uma visão socioeconômica radicalmente tacanha, um modelo de estado opressor e uma forma de governar canalha, que podemos chamar de mentalidade esquerdalha.
“Fora Tarso” e “fora PT”, não bastaram no Rio Grande do Sul. “Fora Lula”, “fora Dilma” e “fora PT” não bastam para o Brasil.
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