segunda-feira, 11 de abril de 2016
Perdidos no espaço
Bom seria se fosse ficção científica. Se fosse uma ampla discussão sobre física quântica, vácuo absoluto ou relativo. A narração arrastada de uma concorrida partida de xadrez, o tabuleiro, os peões; os cavalos; a torre; a rainha; o rei. O fim. O xeque-mate. Felizes seremos se, tal qual no Livro das Mutações, I-Ching, os passos dessa luta sejam como uma dança de guerra, mas rogo que tragam ensinamentos para os passos de cada uma das batalhas que se sucederão.
Intuo que não será ponto final, que marca a pausa total, o fim de um tempo, de uma história, de uma revelação. Apenas ponto e vírgula, que dá a deixa para continuar na mesma toada. Tudo muito confuso, nas jogadas, nos jogadores, nas rodadas e nas rodas de conversa. Apenas nos entreolhamos e com olhares ansiosos esperamos na plateia o espetáculo que já sabemos de antemão – haveremos muito o que criticar. Qualquer desfecho trará aplausos e vaias.
Corramos para as montanhas, para algum lugar alto de onde possamos ter vista ampla para o que acontece na planície. E de onde possamos descer rapidamente para interferir, caso haja necessidade.
Não falo desses dias, ou melhor, não falo só desses dias aí, agora, à nossa frente, no nosso nariz. Falo de um todo desmantelado, do quebra-cabeças que cai espalhando suas peças, e acabam se perdendo algumas e que podem inviabilizar qualquer nova montagem. Quais serão os encaixes para cada uma das possíveis alternativas? Ninguém sabe. Nem os que estão se movimentando nos campos de batalha reais, nem os que parecem não querer tirar seus óculos virtuais e preferem viver olhando só o imaginário, o idealista.
O real é doloroso. Está doloroso e ao nosso redor, e em cada um de nós em alguma forma. A diferença é que quem quer mudar agora, imediatamente, o lado tingido de verde e amarelo, já definiu e elegeu o culpado, o mau governo, esse projeto de poder que definha e se debate, que deixou rastros, provas, ações e desações, tomou medidas, dirigiu as cenas desse filme triste. Filme que mistura gangsteres, histórias de amor, épicos, violência, dramas sociais, cenas manjadas, assaltos cinematográficos, cenas escatológicas e muita, muita comédia, que é o que mais aparece agora no final. Mas tem quem não viu esse filme, ou se viu não entendeu, ou se entendeu quer se fazer de bobo, ou acha mesmo que está tudo bom – e sei lá, é preciso respeitar.
Não há efeitos especiais – e olha que é impressionante a tentativa de usá-los sub-repticiamente – que surtam efeito no público calejado; talvez toque só nos mais fracos ou nos distraídos, que acham que as pessoas que falam nas propagandas com aquelas bocas cheias de dentes brancos existem fora dali, nas portas dos bancos oficiais, nos postos de saúde, hospitais, escolas, abrindo as portas de lindas casinhas com chaves mágicas, e nem vida nem casa.
Não pode haver portas abertas de palácios só para os que aplaudem, que comem na mesma mesa, que estraçalham coxas com apetite, tocam sinos bajulantes. Se chegar à sacada verá lá fora outros milhões de narizes para cima, ouvirá os cantos discordantes, talvez até algo mais de lá seja atirado com revolta. Não adianta nem cercar o palácio com jacarés famintos, nem com cães enraivecidos.
Porque demora-se tanto? Porque todos não vimos bem antes o que já se desenhava enquanto mentiam nos atraindo às urnas, como bois a matadouros? Porque ali já estávamos como agora – sem opções ou caminhos seguros. Uma verde demais. Outro já caindo de maduro. Um abatido em pleno voo. Uma se sentindo com coração valente. Que protagonistas são esses, pior, e que continuam eles os protagonistas dos próximos filmes? Listados no rol de coadjuvantes veremos de novo os mesmos e os piores atores e atrizes atuando nos piores cenários, e às vezes com péssima iluminação.
Não é novela, que se desenrola muito em cima do que o público vai reagindo; se fosse já estaria mais próxima de um final e com a próxima sendo divulgada. É filme. De longa-metragem, talvez com várias sagas, e até de filmes que já vimos.
A luz apagou. Está no ar. Agora precisamos ficar em silêncio assistindo. Tá, pode tossir, comentar ao ouvido de quem está ao seu lado. Só não pode ficar cochichando muito que atrapalha e, por favor, não ria fora de hora, que nunca se sabe quem vai rir por último.
Dias difíceis, dias cheios de ansiedade, muitas cenas para rodar
Marli Gonçalves
Intuo que não será ponto final, que marca a pausa total, o fim de um tempo, de uma história, de uma revelação. Apenas ponto e vírgula, que dá a deixa para continuar na mesma toada. Tudo muito confuso, nas jogadas, nos jogadores, nas rodadas e nas rodas de conversa. Apenas nos entreolhamos e com olhares ansiosos esperamos na plateia o espetáculo que já sabemos de antemão – haveremos muito o que criticar. Qualquer desfecho trará aplausos e vaias.
Corramos para as montanhas, para algum lugar alto de onde possamos ter vista ampla para o que acontece na planície. E de onde possamos descer rapidamente para interferir, caso haja necessidade.
Não falo desses dias, ou melhor, não falo só desses dias aí, agora, à nossa frente, no nosso nariz. Falo de um todo desmantelado, do quebra-cabeças que cai espalhando suas peças, e acabam se perdendo algumas e que podem inviabilizar qualquer nova montagem. Quais serão os encaixes para cada uma das possíveis alternativas? Ninguém sabe. Nem os que estão se movimentando nos campos de batalha reais, nem os que parecem não querer tirar seus óculos virtuais e preferem viver olhando só o imaginário, o idealista.
Não há efeitos especiais – e olha que é impressionante a tentativa de usá-los sub-repticiamente – que surtam efeito no público calejado; talvez toque só nos mais fracos ou nos distraídos, que acham que as pessoas que falam nas propagandas com aquelas bocas cheias de dentes brancos existem fora dali, nas portas dos bancos oficiais, nos postos de saúde, hospitais, escolas, abrindo as portas de lindas casinhas com chaves mágicas, e nem vida nem casa.
Não pode haver portas abertas de palácios só para os que aplaudem, que comem na mesma mesa, que estraçalham coxas com apetite, tocam sinos bajulantes. Se chegar à sacada verá lá fora outros milhões de narizes para cima, ouvirá os cantos discordantes, talvez até algo mais de lá seja atirado com revolta. Não adianta nem cercar o palácio com jacarés famintos, nem com cães enraivecidos.
Porque demora-se tanto? Porque todos não vimos bem antes o que já se desenhava enquanto mentiam nos atraindo às urnas, como bois a matadouros? Porque ali já estávamos como agora – sem opções ou caminhos seguros. Uma verde demais. Outro já caindo de maduro. Um abatido em pleno voo. Uma se sentindo com coração valente. Que protagonistas são esses, pior, e que continuam eles os protagonistas dos próximos filmes? Listados no rol de coadjuvantes veremos de novo os mesmos e os piores atores e atrizes atuando nos piores cenários, e às vezes com péssima iluminação.
Não é novela, que se desenrola muito em cima do que o público vai reagindo; se fosse já estaria mais próxima de um final e com a próxima sendo divulgada. É filme. De longa-metragem, talvez com várias sagas, e até de filmes que já vimos.
A luz apagou. Está no ar. Agora precisamos ficar em silêncio assistindo. Tá, pode tossir, comentar ao ouvido de quem está ao seu lado. Só não pode ficar cochichando muito que atrapalha e, por favor, não ria fora de hora, que nunca se sabe quem vai rir por último.
Dias difíceis, dias cheios de ansiedade, muitas cenas para rodar
Marli Gonçalves
Minos
Pecadores, claro, todos eram. Nem eles mesmos duvidavam. Sabiam e sabem o que fizeram. Mas achavam que compensava. E duvidavam do castiço, estavam certos, era coisa para os outros.
Não deram a menor importância ao aviso na porta. Adentraram o Portal do Inferno certo de que veriam o céu em breve. A volta do inferno era, para eles, certeza matemática. Tinham livre arbítrio. E, portanto, imaginavam-se senhores e juízes do próprio destino.
Na antessala do inferno, encontraram os indecisos. Gente que, por indecisas, estavam condenadas a permanecerem ali, a deriva, sem ascender ao céu ou descer ao inferno. Antessala do inferno era, afinal, morada ideal para indecisos e covardes e que, por recusar a escolha, abraçaram a indecisão. Castigo inevitável por uma existência em cima do muro, evitando compromissos, sem decisões ou definições, sempre achando que perderiam oportunidades que jamais apareceram.
Entretidos e alegres com a justeza do castigo reservado aos covardes, os pecadores não deram atenção notaram o abismo sem fim, ou ouviram os gritos dos pecadores. Adentraram o Primeiro Círculo quase sem perceber. Confrontaram o limbo, talvez sob o desejo secreto de perderem-se no meio da multidão de virtuosos pagãos, condenados apenas a vagar sem destino na mais completa escuridão, com alguma chance de ser levado ao céu.
Ainda com sorrisos nos lábios, os pecadores adentraram festivamente o Segundo Círculo. Em desassombro absoluto, encontraram Minos, o juiz do inferno. E foi na Sala do Julgamento que, pela primeira vez abalaram-se as certezas.
Minos era ocupado. Ouvia as confissões de mortos e vivos. Peneirava fatos e buscava a verdade. Decidia sem emoção o destino dos réus. E condenava cada pecador ao circulo do inferno merecido por ele.
Alguns pecadores colaboraram com Minos. Preferiram ficar por ali. Diante do que poderia estar por vir, o Segundo Circulo pareceu boa alternativa. Quem sabe até, imaginaram, poderiam com o tempo regredir ao Primeiro Circulo.
Pecador de verdade, entretanto, não se assusta facilmente. E o lago de lama onde chafurdavam os habitantes do Terceiro Círculo não parecia, a esta altura, tão ruim. Imaginavam que com a dose certa de falta de escrúpulos e carregando nas tintas da calunia, seria possível arrastar todos para a lama. E assim eliminar a punição.
Minos deu de ombros. Explicou que dali para frente os castigos seriam cada vez maiores. Convidou-os a observar o Quarto Círculo. Ali padeciam pródigos e avarentos condenados a rolar com os próprios peitos grandes pesos de barras e moedas de ouro, enquanto trocavam injúrias entre si.
Mas os pecadores, confiantes na impunidade, não se comoviam. Nem mesmo a visão o Quinto Círculo foi o suficiente para convencê-los. A cachoeira de água e sangue borbulhante não bastou. Reconheceram alguns amigos nas praias onde os acusados de ira brigavam e torturando-se mutuamente em ódio sem fim, enquanto os rancorosos, sem demonstrar sua ira, habitavam a lama do fundo do rio.
Por um momento, Minos ponderou se Sexto Círculo seria castigo adequado a pecadores tão insensíveis. Eles haviam, afinal de contas, atentado contra valores e crenças fundamentais. Mas de alguma maneira, pareceu pouco condena-los a túmulos coletivos e abertos de onde sai o fogo eterno.
O Sétimo Círculo pareceu punição mais adequada. Adequada, sem duvida. Mas talvez não suficiente. Ali ficavam os violentos. Aqueles que praticavam ou estimulavam a violência, a divisão, o ódio. E estes pecadores haviam feito do ódio uma ferramenta. Mas foram muito mais que isso.
Com a confiança na impunidade abalada, os pecadores observavam horrorizados quando Minos passou a contemplar envia-los para o Oitavo Círculo. Ali se punia a fraude. Demônios acoitavam aqueles que exploraram as paixões dos outros, controlando-os para servir a interesses próprios. Submergidos em fosso de esterco, estavam todos aqueles que exploravam os outros através de linguagem fraudulenta e raciocínios falsos.
Ali também eram mandados os corruptos. Estes, condenados a habitar lago de piche fervente. Em vida, tiraram proveito da confiança que a sociedade depositava neles. No inferno estão submersos, escondidos, pois suas negociações eram feitas a sombra.
Minos cocou a cabeça. Observou que neste nível também eram punidos hipócritas, ladrões, maus conselheiros, os semeadores de discórdias, e os falsários. Reconheceu a dificuldade de sua missão. Este grupo de pecadores parecia se encaixar em qualquer uma das opções. Ou em todas elas.
Concluiu que a justiça exigia envia-los ao Nono Círculo. Ali padeciam os traidores. Lugar apropriado para pecadores que subtraíram a crença e esperança, substituindo-as por desgosto e amargura. Traíram pessoas, instituições, crenças, ideais, o futuro. Muitas vezes, roubaram coisas que não os fazerem mais ricos. Mas sempre nos tornaram mais pobres.
Para inglês ver
O país está assistindo, nestes últimos meses, a uma inacreditável farsa, cujos personagens principais são o ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff, os dirigentes do PT e seus representantes no Congresso Nacional.
Em face da revelação do uso que fizeram da Petrobras e da máquina estatal, saqueando-as para se manterem no poder; em face das delações premiadas feitas pelos participantes desses crimes contra a nação brasileira; em face das comprovadas propinas que encheram os bolsos dos sócios de Lula e subvencionaram as campanhas eleitorais e os cofres do PT e dos partidos aliados; em face de tudo isso, não resta ao Lula, à Dilma e a seus sócios, senão inventar uma falsa versão dos fatos para assim passarem de vilões a vítimas.
E foi então que surgiu a versão do golpe que estaria sendo tramado contra o governo de Dilma Rousseff. Mas tramado por quem? Pela Procuradoria da República? Pela Justiça? Pelo Supremo Tribunal Federal?
Ou seja, trata-se de um golpe que seria consumado pelas instituições legais do país? Noutras palavras, um golpe que segue o que as leis determinam?
Então será esta a primeira vez na História que se chama de golpe, não a violação dos princípios constitucionais, mas sua aplicação!
Quer dizer, nesta nova e surpreendente concepção petista, segundo a qual golpe é cumprir a lei, respeitar a democracia seria não punir os corruptos que a Operação Lava Jato identificou e que levaram a Petrobras à beira da falência. Prender os donos das empreiteiras que, através de contratos fraudulentos, roubaram bilhões de reais à empresa estatal, seria antidemocrático, conforme a nova concepção petista de democracia, defendida por Lula, Dilma e seus comparsas. Democrático é deixá-los livres e felizes, já que, generosamente, doaram milhões ao Instituto Lula e financiaram a campanha eleitoral de Dilma Rousseff.
Quem viveu no Brasil dos anos de 1960 aos 80 sabe muito bem o que é golpe e o que não é democracia.
Os militares golpistas de 1964 não propuseram que o Congresso votasse o impeachment do então presidente João Goulart. Simplesmente puseram os tanques na rua, fecharam o Congresso e entregaram o governo a um general.
Os que teimaram em defender a democracia foram simplesmente encarcerados e muitos deles assassinados. Os meios de comunicação foram censurados, de modo que nenhuma palavra contra o golpe podia ser veiculada.
Aliás, a presidente Dilma Rousseff conhece muito bem essa história, pois participou dela, integrando o movimento da luta armada, o que a levou à prisão por parte dos militares.
Que o ex-presidente Lula –que, como sempre, jogou com um pau de dois bicos, já que se entendia muito bem com o general Golbery do Couto e Silva, homem-chave do governo militar– queira se fazer de desentendido, já era de se esperar.
Mas Dilma, não, ela experimentou na carne o que é golpe e o que é ditadura. Não obstante, está agora representando um papel que lamentavelmente não condiz com seu passado.
Alguma coisa parecida com 1964 está ocorrendo no Brasil de hoje? Muito pelo contrário. O que estamos assistindo é a uma sucessão de medidas da presidente de República para comprar, com ministérios e cargos, os votos do partido que rompeu com ele –o PMDB– e de partidos menores que se vendem por qualquer cargo.
O suposto golpe de hoje, a que Dilma se refere, portanto, é diferente, tanto que ela mesma afirmou estar disposta a "lançar mão de todos os recursos legais" para defender-se e evitar que o impeachment se concretize. É bom lembrar à "presidenta" que, quando se trata de golpe, os recursos legais não funcionam. Não é, portanto, o caso.
Pois bem, mas se há uma coisa que me surpreende em tudo isso é alguns artistas e intelectuais acreditarem nesse golpe inexistente, inventado pelos petistas.
Por que acreditam em tão deslavada mentira? Por ignorância não é, pois são todos muito bem informados. E, se não é por ignorância, só pode ser porque têm necessidade de se enganarem. Preferem a mentira à verdade.
E por falar nisso, que constrangedora a defesa que fez o advogado-geral da União também repetindo que o impeachment é golpe. E diz isso com a ênfase de quem fala a verdade! Haja saco!
A bagunça tomou conta
Está custando caro ao Brasil essa batalha sem tréguas mantida em todas as frentes possíveis para se obter a saída da presidente Dilma da Presidência da República. Protestos nas ruas, nas redes sociais, no Legislativo, medidas do Judiciário, quase tudo, enfim, se reuniu para encerrar pela via do impeachment da presidente um ciclo de poder que duraria 16 anos se nas próximas semanas, Dilma não for arrancada de sua cadeira.
Certeza não se tem de nada. Embora derrotada, espera-se, na comissão de deputados criada especialmente para sua deposição, esse primeiro ato pouco define. Faltam ainda a semana que preparará a decisão pelo plenário da Câmara dos Deputados e o ato final no Senado Federal, em sessão a ser dirigida pelo ministro presidente do STF, Ricardo Lewandowski.
O rito está perfeito. Ninguém poderá dizer que foram frustrados os atos de acusação e defesa da presidente, muito embora o relatório apresentado insista no que se chamou de pedaladas fiscais como o grande crime pelo que se condenará o governo em questão. Colocou-se no mesmo tabuleiro a discussão das denúncias da operação Lava Jato, da crise econômica que se avoluma, geradora de inflação, desemprego, falta de crédito, para trazer para o debate uma população que engrossou o julgamento pelo Legislativo do impeachment. Mas para onde iremos? Onde está a solução dos problemas brasileiros, já que o da corrupção, talvez o mais intolerável deles, esteja sendo conduzido nos espaços próprios do Judiciário?
Deposta a presidente, assumirá sua cadeira o vice, Michel Temer, também réu nos mesmos processos que fragilizam Dilma (ele também pedalou enquanto presidente interino) e que aguarda, pelas conversas dos corredores, que o juiz Sérgio Moro o chame às falas para explicações sobre propinas. Seu rabo, diz a mídia, também está naquelas gavetas.
Nessa sequência, impedido Michel Temer, caminharemos para que assuma a Presidência da República o deputado Eduardo Cunha, e depois, o senador Renan Calheiros, até chegarmos ao presidente do STF, hoje o ministro Ricardo Lewandowski. É a ordem de sucessão que a Constituição estabelece. Mas, e daí?
Sem reformas, está com quem a solução dos problemas brasileiros que têm levado à sociedade as consequências de uma política econômica errante, que penaliza parcelas significativas da sociedade, especialmente trabalhadores, pequenos empresários, os dependentes da Previdência Social e dos demais serviços públicos? Com a oposição? Qual oposição? “Com que roupa”, perguntaria Noel Rosa. Não foi essa oposição que primeiro gritou contra as reformas fiscais, porque elas não lhes interessavam eleitoralmente? Quem são os nomes aos quais os brasileiros se disporiam a entregar, sem ressalvas, com passado irretocável, com currículo e histórico de competência (e não prontuário policial) a Presidência da República, nos moldes que as ruas e a mídia vêm cunhando como ideal e possível? O jogo está aberto. Façam, senhoras e senhores, suas apostas.
Certeza não se tem de nada. Embora derrotada, espera-se, na comissão de deputados criada especialmente para sua deposição, esse primeiro ato pouco define. Faltam ainda a semana que preparará a decisão pelo plenário da Câmara dos Deputados e o ato final no Senado Federal, em sessão a ser dirigida pelo ministro presidente do STF, Ricardo Lewandowski.
Deposta a presidente, assumirá sua cadeira o vice, Michel Temer, também réu nos mesmos processos que fragilizam Dilma (ele também pedalou enquanto presidente interino) e que aguarda, pelas conversas dos corredores, que o juiz Sérgio Moro o chame às falas para explicações sobre propinas. Seu rabo, diz a mídia, também está naquelas gavetas.
Nessa sequência, impedido Michel Temer, caminharemos para que assuma a Presidência da República o deputado Eduardo Cunha, e depois, o senador Renan Calheiros, até chegarmos ao presidente do STF, hoje o ministro Ricardo Lewandowski. É a ordem de sucessão que a Constituição estabelece. Mas, e daí?
Sem reformas, está com quem a solução dos problemas brasileiros que têm levado à sociedade as consequências de uma política econômica errante, que penaliza parcelas significativas da sociedade, especialmente trabalhadores, pequenos empresários, os dependentes da Previdência Social e dos demais serviços públicos? Com a oposição? Qual oposição? “Com que roupa”, perguntaria Noel Rosa. Não foi essa oposição que primeiro gritou contra as reformas fiscais, porque elas não lhes interessavam eleitoralmente? Quem são os nomes aos quais os brasileiros se disporiam a entregar, sem ressalvas, com passado irretocável, com currículo e histórico de competência (e não prontuário policial) a Presidência da República, nos moldes que as ruas e a mídia vêm cunhando como ideal e possível? O jogo está aberto. Façam, senhoras e senhores, suas apostas.
Está tudo errado
Vejam bem: Não se trata apenas de defender o Governo ou derrubá-lo. A simples troca de Presidente não vai mudar nada. É preciso mudar a maneira como se faz política no Brasil. Como disse a nota da Odebrecht, em um raro momento de transparência, o nosso sistema político-partidário é perverso e nocivo (minhas palavras). Sem mudar esse sistema, com quem quer que seja o Presidente, o governo será igual, o Congresso será igual e a corrupção continuará.
O que temos que mudar é a política esfarelada em mais de trinta partidos, é a apropriação pessoal dos mandatos eletivos, é o “toma-lá-dá-cá”, a desfaçatez e a mesquinharia.
É hora de pensar, de imaginar. Estamos diante de um inevitável período de agitação. Se esse período for gasto em lutas entre defensores e adversários do Governo atual, estaremos errando o alvo. Temos que discutir a maneira de governar o nosso país no futuro.
Temos que transcender as disputas emocionais e imediatas para pensar na construção da democracia. Não devemos dividir-nos. Somos todos brasileiros. Devemos somar-nos e, em vez de querer mudar só o Governo, mudar a estrutura política.
Temos que recomeçar. A curto prazo, o Brasil estará ingovernável e haverá um vácuo de poder. É a hora de uma ação popular destinada a convocar no prazo mais curto possível uma Constituinte Exclusiva para fazer a reforma política que o nosso Congresso não é capaz de fazer. É a hora de encomendar ao Supremo Tribunal Federal/Superior Tribunal Eleitoral a elaboração das regras dessa eleição. Por que não? Não foi o Supremo quem proibiu as doações eleitorais das empresas? Não foi o Supremo quem definiu o rito do impeachment?
Aí então poderemos pensar em um Legislativo e um Executivo que efetivamente representem o nosso povo, com regras decentes de financiamento eleitoral, novos partidos, fidelidade partidária, cláusulas de barreira, enfim em uma verdadeira democracia representativa.
O que temos que mudar é a política esfarelada em mais de trinta partidos, é a apropriação pessoal dos mandatos eletivos, é o “toma-lá-dá-cá”, a desfaçatez e a mesquinharia.
É hora de pensar, de imaginar. Estamos diante de um inevitável período de agitação. Se esse período for gasto em lutas entre defensores e adversários do Governo atual, estaremos errando o alvo. Temos que discutir a maneira de governar o nosso país no futuro.
Temos que transcender as disputas emocionais e imediatas para pensar na construção da democracia. Não devemos dividir-nos. Somos todos brasileiros. Devemos somar-nos e, em vez de querer mudar só o Governo, mudar a estrutura política.
Temos que recomeçar. A curto prazo, o Brasil estará ingovernável e haverá um vácuo de poder. É a hora de uma ação popular destinada a convocar no prazo mais curto possível uma Constituinte Exclusiva para fazer a reforma política que o nosso Congresso não é capaz de fazer. É a hora de encomendar ao Supremo Tribunal Federal/Superior Tribunal Eleitoral a elaboração das regras dessa eleição. Por que não? Não foi o Supremo quem proibiu as doações eleitorais das empresas? Não foi o Supremo quem definiu o rito do impeachment?
Aí então poderemos pensar em um Legislativo e um Executivo que efetivamente representem o nosso povo, com regras decentes de financiamento eleitoral, novos partidos, fidelidade partidária, cláusulas de barreira, enfim em uma verdadeira democracia representativa.
Nossos tempos
Ditadura através do judiciário
O bem falante ministro Marco Aurélio Mello me faz lembrar muitos petistas que conheço. Diminutivos e aumentativos variam conforme a conveniência. Probleminhas e problemões mudam de lado segundo a retórica do momento. Sérgio Moro (símbolo nacional de uma justiça como a nação deseja) tanto lhe serve como bom exemplo do que denomina "promissora conduta das instituições nacionais", quanto de justiça servida “em cambulhada”. Sérgio Moro é conveniente quando o ministro quer elogiar o poder cuja cúpula ele, Marco Aurélio, integra e que está longe de representar a Justiça que a nação deseja. Mas deixa de ser bom, o juiz de Curitiba, quando o ministro pretende isentar o STF de responsabilidades pela lentidão dos processos em sua longa dormição nas gavetas, onerosa longevidade e intoleráveis prescrições. Para o ministro, a demora serviria à boa justiça...
Quem acompanha com interesse cívico os fatos que se desenrolam nos mais altos escalões do poder não pode, em sã consciência, negar o que vê: um poder judiciário mais do que politizado. Politicamente alinhado em sua cúpula. Nele, as cortesias de praxe escondem das vistas do público as dissenções e as desconfianças internas. Um exemplo foi brilhantemente apresentado pelo jornalista José Nêumanne. Acumulam-se ações contra o presidente da Câmara e do Senado. Ambos repugnam à nação. Os procedimentos para afastar Eduardo Cunha avançam e isso é ótimo, mas servem ao governo que quer vê-lo pelas costas. Os procedimentos para afastar Renan Calheiros se arrastam e isso é péssimo, mas servem ao governo que precisa dele como do ar que respira, até a conclusão do processo de impeachment no Senado. Acho que não preciso desenhar tal assimetria.
Inquirido sobre o ato falho do colega Roberto Barroso no comentário que fez sobre essa gente do PMDB como alternativa de poder, Marco Aurélio foi para o púlpito dos advogados defender o ministro que falou ignorando a transmissão externa. Ora, o próprio Barroso cuidou de deixar estampada a gravidade do erro quando recomendou que apagassem a fita!
Indagado sobre o inegável desvio de finalidade presente na nomeação de Lula para a Casa Civil, Marco Aurélio Mello deu uma volta na frase, parecendo concordar, e apresentou a ideia de que, por outro lado, não se poderia desconhecer a hipótese de que a presidente estivesse, de fato, precisando de Lula como tábua de salvação. “Me tira os tubos”, como diria aquele personagem de Jô Soares.
Logo após sua exibição de vaidade em rede nacional, o Ministro Marco Aurélio voltou ao serviço, subiu nas tamancas e determinou que o presidente da Câmara desse continuidade a inaudito pedido de impeachment contra o vice-presidente, impetrado por um governista tão delirante quanto burro porque reconhece em Temer o crime que o PT nega em Dilma. Cunha disse que ia recorrer, mas perante o próprio rabo preso, obedeceu. Eu não entendo: os ministros despacham o que querem, quando querem, mas obrigam os demais poderes e despachar quando eles querem. Quem disse que querer não é, necessariamente, poder, desconhece Marco Aurélio e o STF.
Na minha perspectiva, a casa caiu quando ele afirmou que, sendo o STF “o último bastião da cidadania”, o processo de impeachment, ainda que aprovado no julgamento do Senado, poderá passar ao crivo do Supremo – “caso haja dúvida sobre o cometimento de crime pela presidente da República”. Ou seja, a decisão de 594 deputados e senadores pode cair por seis a cinco no STF. E até mesmo, quem sabe, por uma liminar monocrática... Nesse caso, que terão feito Câmara e Senado ao deliberarem exatamente sobre tal questão? O site do PT festejou a declaração. No meu léxico, o nome da pretensão exposta pelo ministro é Ditadura através do Judiciário.
Percival Puggina
Inquirido sobre o ato falho do colega Roberto Barroso no comentário que fez sobre essa gente do PMDB como alternativa de poder, Marco Aurélio foi para o púlpito dos advogados defender o ministro que falou ignorando a transmissão externa. Ora, o próprio Barroso cuidou de deixar estampada a gravidade do erro quando recomendou que apagassem a fita!
Indagado sobre o inegável desvio de finalidade presente na nomeação de Lula para a Casa Civil, Marco Aurélio Mello deu uma volta na frase, parecendo concordar, e apresentou a ideia de que, por outro lado, não se poderia desconhecer a hipótese de que a presidente estivesse, de fato, precisando de Lula como tábua de salvação. “Me tira os tubos”, como diria aquele personagem de Jô Soares.
Logo após sua exibição de vaidade em rede nacional, o Ministro Marco Aurélio voltou ao serviço, subiu nas tamancas e determinou que o presidente da Câmara desse continuidade a inaudito pedido de impeachment contra o vice-presidente, impetrado por um governista tão delirante quanto burro porque reconhece em Temer o crime que o PT nega em Dilma. Cunha disse que ia recorrer, mas perante o próprio rabo preso, obedeceu. Eu não entendo: os ministros despacham o que querem, quando querem, mas obrigam os demais poderes e despachar quando eles querem. Quem disse que querer não é, necessariamente, poder, desconhece Marco Aurélio e o STF.
Na minha perspectiva, a casa caiu quando ele afirmou que, sendo o STF “o último bastião da cidadania”, o processo de impeachment, ainda que aprovado no julgamento do Senado, poderá passar ao crivo do Supremo – “caso haja dúvida sobre o cometimento de crime pela presidente da República”. Ou seja, a decisão de 594 deputados e senadores pode cair por seis a cinco no STF. E até mesmo, quem sabe, por uma liminar monocrática... Nesse caso, que terão feito Câmara e Senado ao deliberarem exatamente sobre tal questão? O site do PT festejou a declaração. No meu léxico, o nome da pretensão exposta pelo ministro é Ditadura através do Judiciário.
Percival Puggina
O planeta é de todos nós?
Há alguns dias tive a oportunidade de ler um fascinante relatório da Organização das Nações Unidas sobre o estado do nosso planeta e as perspectivas de futuro que se nos apresentam.
Li, neste relatório, que a degradação do solo já atinge incríveis 40% da superfície do planeta. A agricultura praticada a cada dia de forma mais intensa já começa a se deparar com a perda de produtividade do solo - uma queda que pode chegar a 50% a médio prazo. Este já era um quadro esperado - afinal, nos últimos 50 anos a produção agrícola praticamente dobrou, porém utilizando apenas 10% a mais de solo.
Aliás, sobre agricultura, transcrevo um parágrafo revelador: “responde por 70% a 85% do uso da água, e um aumento estimado de 20% na produção global de grãos tornará o seu uso insustentável”.
Segundo este relatório, já está em marcha um acelerado processo de desertificação - que, hoje, atinge regiões habitadas por um terço da população mundial. Isto afetará 1,3 bilhão de pessoas que dependem da agricultura, pesca, caça e florestas para sobreviver.
A consequência seguinte será o aumento dos preços dos alimentos, em um patamar estimado pelos pesquisadores em torno de 30% a 50% nas próximas décadas. Será por conta disso tudo que nos países em desenvolvimento seis a cada dez pessoas sofrerão de forma muito intensa as agruras deste quadro que se descortina.
A propósito, não nos esqueçamos dos desastres naturais - furacões, inundações, enchentes, tsunamis e outros de igual teor destrutivo. Entre 1980 e 1985, eles eram apenas 132 por ano. E eis que entre 2005 e 2009 pularam para 357.
Tradução: a situação é séria. Muito séria. Séria demais para ser ignorada. Enquanto isso, prossegue o relatório, “há mais de 900 carros por grupo de mil habitantes em idade de dirigir nos Estados Unidos e mais de 600 na Europa Ocidental, contra menos de dez na Índia. O consumo de água “per capita” nos países desenvolvidos chega a 425 litros diários, umas seis vezes maior que o dos países em desenvolvimento, cuja média é de 67 litros”.
Este surpreendente relatório trouxe outra informação: “com apenas um sexto da população mundial, países altamente desenvolvidos foram responsáveis por quase dois terços (64%) das emissões de dióxido de carbono entre 1850 e 2005. Desde 1850 cerca de 30% do total acumulado de emissões vieram dos Estados Unidos. Na sequência estão China (9%), a Federação Russa (8%) e Alemanha (7%)”.
Seria de se esperar que, diante de um quadro desses, a parcela mais rica da humanidade estivesse fazendo a sua parte. Mas qual o que! Transcrevo um outro parágrafo, profundamente instigador: “A necessidade de investimentos [para reveter e prevenir dados ambientais] é imensa, mas não superam os atuais gastos com outras áreas, como a militar. Os investimentos anuais para se promover o acesso universal a formas mais modernas de energia são menos de 1/8 do que se gasta em subsídios para o uso de combustíveis fósseis”.
Este relatório alerta, assim, para o fato de que “estamos brincando jogos com nosso planeta”, no qual “alguns indivíduos colhem os benefícios enquanto a sociedade arca com os custos”.
Deve ser verdade, conforme li em outra página deste relatório: “Em suma, os países mais pobres suportarão muitos dos custos das mudanças de clima, e a perspectiva de piora dos índices de desigualdade é muito real”. É isso aí. Afinal, como exclamou Bernard Shaw, o maior dos males e o pior dos crimes é a pobreza”.
Pedro Valls Rosa
Li, neste relatório, que a degradação do solo já atinge incríveis 40% da superfície do planeta. A agricultura praticada a cada dia de forma mais intensa já começa a se deparar com a perda de produtividade do solo - uma queda que pode chegar a 50% a médio prazo. Este já era um quadro esperado - afinal, nos últimos 50 anos a produção agrícola praticamente dobrou, porém utilizando apenas 10% a mais de solo.
Aliás, sobre agricultura, transcrevo um parágrafo revelador: “responde por 70% a 85% do uso da água, e um aumento estimado de 20% na produção global de grãos tornará o seu uso insustentável”.
Segundo este relatório, já está em marcha um acelerado processo de desertificação - que, hoje, atinge regiões habitadas por um terço da população mundial. Isto afetará 1,3 bilhão de pessoas que dependem da agricultura, pesca, caça e florestas para sobreviver.
A propósito, não nos esqueçamos dos desastres naturais - furacões, inundações, enchentes, tsunamis e outros de igual teor destrutivo. Entre 1980 e 1985, eles eram apenas 132 por ano. E eis que entre 2005 e 2009 pularam para 357.
Tradução: a situação é séria. Muito séria. Séria demais para ser ignorada. Enquanto isso, prossegue o relatório, “há mais de 900 carros por grupo de mil habitantes em idade de dirigir nos Estados Unidos e mais de 600 na Europa Ocidental, contra menos de dez na Índia. O consumo de água “per capita” nos países desenvolvidos chega a 425 litros diários, umas seis vezes maior que o dos países em desenvolvimento, cuja média é de 67 litros”.
Este surpreendente relatório trouxe outra informação: “com apenas um sexto da população mundial, países altamente desenvolvidos foram responsáveis por quase dois terços (64%) das emissões de dióxido de carbono entre 1850 e 2005. Desde 1850 cerca de 30% do total acumulado de emissões vieram dos Estados Unidos. Na sequência estão China (9%), a Federação Russa (8%) e Alemanha (7%)”.
Este relatório alerta, assim, para o fato de que “estamos brincando jogos com nosso planeta”, no qual “alguns indivíduos colhem os benefícios enquanto a sociedade arca com os custos”.
Deve ser verdade, conforme li em outra página deste relatório: “Em suma, os países mais pobres suportarão muitos dos custos das mudanças de clima, e a perspectiva de piora dos índices de desigualdade é muito real”. É isso aí. Afinal, como exclamou Bernard Shaw, o maior dos males e o pior dos crimes é a pobreza”.
Pedro Valls Rosa
Sem fregueses, 'balcão de negócios' de Lula entra em crise
A lei da oferta e procura mostra que não deu certo o “balcão de negócios” que o ex-presidente Lula montou o Hotel Royal Tulip, em Brasília, para negociar acordos com deputados, oferecendo cargos de grande importância e até mesmo ministérios. As ofertas eram tentadoras e Lula ia direto ao ponto, indagando as “reivindicações” de cada um deles, sem tocar no assunto impeachment, porque passou a se cercar dos maiores cuidados desde que uma conversa sua com a presidente Dilma foi grampeada pela Polícia Federal.
Mas o mercado está em baixa, a crise é implacável e poucos negócios foram fechados por Lula na reta de chegada da votação na Comissão Especial do Impeachment, que vai agitar esta segunda-feira.
Não haverá maiores surpresas. Já se sabe que a Comissão vai aprovar o impeachment. A única dúvida é sobre a diferença de votos, que pode ter importância fundamental.
São 65 votantes. Os últimos levantamentos mostram que 34 deles já demonstraram posição firme a favor do afastamento da presidente Dilma. Somente 20 deputados se manifestaram publicamente a favor dela. Os outros 11, que continuam indecisos, foram procurados diretamente por Lula ou por parlamentares do PT, mas não aceitaram fazer negócio.
Mas o mercado está em baixa, a crise é implacável e poucos negócios foram fechados por Lula na reta de chegada da votação na Comissão Especial do Impeachment, que vai agitar esta segunda-feira.
Não haverá maiores surpresas. Já se sabe que a Comissão vai aprovar o impeachment. A única dúvida é sobre a diferença de votos, que pode ter importância fundamental.
São 65 votantes. Os últimos levantamentos mostram que 34 deles já demonstraram posição firme a favor do afastamento da presidente Dilma. Somente 20 deputados se manifestaram publicamente a favor dela. Os outros 11, que continuam indecisos, foram procurados diretamente por Lula ou por parlamentares do PT, mas não aceitaram fazer negócio.
A votação de hoje é considerada decisiva, porque influirá no posicionamento do plenário da Câmara, ainda nesta semana. Se alguns dos indecisos da Comissão resolverem votar a favor do impeachment, abrindo uma diferença grande, o resultado reforçará o viés de alta que vem se registrando no plenário.
Os levantamentos do Comitê Pró-Impeachment, feitos nas bancadas de cada Estado, mostram que hoje já existem 348 deputados a favor do afastamento de Dilma Rousseff, com seis votos de frente.
Estes números são consentâneos com as pesquisas feitas pelo Estadão. Levando-se em contra apenas os 403 deputados que já anunciaram publicamente seus votos, a amostragem do jornal sobre o plenário da Câmara é de 76% a favor e 24% contra.
Em termos estatísticos, o que define situações como essa são os viés de alta e baixa, ou seja, os “algoritmos”, que indicam a tendência dos números, conforme se diz no moderno linguajar da informática.
Para aprovar o impeachment, é necessário que haja cerca de 67% de aprovação – exatos 342 votos. Para rejeitar, são necessários 34% – ou seja, 172 votos. Se Dilma tiver apenas 171, uma espécie de número cabalístico, e não houver faltantes, a vaca do governo irá mesmo para o brejo.
Segundo o Estadão, no plenário já existem 288 votos a favor, 115 contra e 110 indecisos. E o viés é de alta para o impeachment.
Com o resultado de hoje na Comissão, que será favorável, pois a própria bancada do governo já admite a derrota, o plenário manterá o viés de alta favorável ao afastamento.
Para aprovar o parecer do relator no plenário, é preciso haver apenas mais 54 votos a favor. Para manter Dilma no governo, são necessários mais 56 votos contra. Portanto, se os indecisos forem cortados ao meio, Dilma perde por 343 a 170. Mas isso é um sonho/pesadelo shakespeariano de uma noite de outono, porque o viés é de alta para o impeachment, a diferença será muito maior.
Em tradução simultânea de tudo isso: Dilma Vana Rousseff pode ir arrumando as malas, e sem levar nenhum “presente” que pertença à União, porque desta vez o Ministério Público Federal estará atento à mudança.
Os levantamentos do Comitê Pró-Impeachment, feitos nas bancadas de cada Estado, mostram que hoje já existem 348 deputados a favor do afastamento de Dilma Rousseff, com seis votos de frente.
Estes números são consentâneos com as pesquisas feitas pelo Estadão. Levando-se em contra apenas os 403 deputados que já anunciaram publicamente seus votos, a amostragem do jornal sobre o plenário da Câmara é de 76% a favor e 24% contra.
Em termos estatísticos, o que define situações como essa são os viés de alta e baixa, ou seja, os “algoritmos”, que indicam a tendência dos números, conforme se diz no moderno linguajar da informática.
Para aprovar o impeachment, é necessário que haja cerca de 67% de aprovação – exatos 342 votos. Para rejeitar, são necessários 34% – ou seja, 172 votos. Se Dilma tiver apenas 171, uma espécie de número cabalístico, e não houver faltantes, a vaca do governo irá mesmo para o brejo.
Segundo o Estadão, no plenário já existem 288 votos a favor, 115 contra e 110 indecisos. E o viés é de alta para o impeachment.
Com o resultado de hoje na Comissão, que será favorável, pois a própria bancada do governo já admite a derrota, o plenário manterá o viés de alta favorável ao afastamento.
Para aprovar o parecer do relator no plenário, é preciso haver apenas mais 54 votos a favor. Para manter Dilma no governo, são necessários mais 56 votos contra. Portanto, se os indecisos forem cortados ao meio, Dilma perde por 343 a 170. Mas isso é um sonho/pesadelo shakespeariano de uma noite de outono, porque o viés é de alta para o impeachment, a diferença será muito maior.
Em tradução simultânea de tudo isso: Dilma Vana Rousseff pode ir arrumando as malas, e sem levar nenhum “presente” que pertença à União, porque desta vez o Ministério Público Federal estará atento à mudança.
A coisa pública virou propriedade privada
Tamanha a sujeira que escoa da operação Lava Jato e sucedâneos que melhor faria a presidente Dilma se fosse embora. Nem precisaria pedir para sair. Bastaria não aparecer, nem no Planalto nem no Alvorada. Pode ser que sequer o servidor do cafezinho reparasse. Muito menos os ministros e o PT. Porque Madame não vem dedicando um só minuto de sua agenda à tarefa de governar o país. Concentra todas as atenções a defender-se e a buscar argumentos para negar compromissos com a apuração das sucessivas denúncias de ladroagem e roubalheira praticadas ao longo de seus mandatos. Não que fosse dela a iniciativa de meter a mão nos dinheiros públicos, mas como cada negócio sujo deságua na sua presença como responsável maior pela lambança, acaba dando no mesmo.
Falta ao governo um programa, um plano ou uma diretriz para enfrentar a violenta crise que nos assola. O vazio domina a Praça dos Três Poderes, exceção do resultado das investigações que se sucedem. Todo dia uma nova revelação aparece, demonstrando como se tornou rotina avançar nos recursos públicos. No ministério, no PT, partidos afins e na máquina administrativa, poucos escapam da participação nesse festival de corrupção encenado ao redor das instalações do Poder Executivo, com ramificações no Congresso, nas empresas públicas e privadas e até nos tribunais.
Dilma perdeu as condições de dirigir-se à nação para pedir apoio e solidariedade na medida em que se vai comprovando sua omissão e até sua participação nos desvios de conduta de sua equipe. Perdida parece a batalha do impeachment, mas mesmo que faltem dois ou três votos para sua condenação na Câmara, ela não escapará. Importa menos se estarão conseguindo envolver Michel Temer, mas a impressão é de que ele também não escapa.
Noves fora as estapafúrdias sugestões que surgem para encobrir a confusão, como a adoção do parlamentarismo, a verdade surge óbvia: é preciso começar de novo, com novos personagens e diretrizes. Até o ex-ministro Delfim Netto vê-se agora enredado na teia dos negócios dirigidos por governantes, empreiteiras, parlamentares, doleiros e malandros de toda espécie. A coisa pública tornou-se propriedade privada de quantos ousaram apropriar-se do poder sem outro objetivo senão enriquecer.
'Quero viver em outro Brasil'
Tenho chamado a atenção dos leitores para aspectos de ordem mais filosófica da crise política do país, como a corrupção dos valores morais levada adiante por uma elite social irresponsável, sanguessuga do estado e um bando de políticos inescrupulosos, por que esquerdistas que subestimam como da ordem burguesa princípios e valores morais inerentes à própria tradição da civilização ocidental. Isto por que acredito que analistas econômicos tem se dedicado com frequência a aspectos mais objetivos da crise, como o patamar de dois dígitos negativos alcançados por vários índices econômicos - inflação, queda da produção industrial, desemprego, déficit fiscal e queda do consumo interno. Assim como os comentaristas políticos tem se dedicado com mais frequência às consequências do processo de impeachment e os índices de credibilidade do governo caminhando para patamares cada vez menores. Só para se ter uma ideia da catástrofe da gestão Dilma, o empresário Flavio Rocha, da Riachuelo, deu um número de arrepiar em recente entrevista: "Em 2015 fecharam 100 mil lojas pelo Brasil afora, o que equivale ao fechamento de todos os shopping centers do país, que abrigam exatamente isso: 100 mil lojas". Sendo que a Confederação Nacional do Comércio, incluindo o pequeno comércio, estima em 250 mil os comerciários demitidos só no corrente ano!
Diante deste quadro de horror, e como se não bastasse, não podemos deixar passar em branco o fenômeno da fuga de investimentos promovida pela irresponsável e boçal política “de nova matriz econômica” da era corrupto-petista, talvez a face mais perversa da falta de inteligência de uma gestão pública incapaz de promover o turning-point de que o país precisa urgentemente para evitar o naufrágio da nau à deriva. É bom que se lembre que logo após a ascensão de Dilma, com o estelionato eleitoral de 2014 que hoje se apura, investidores estrangeiros retiraram US$ 14,542 bilhões de aplicações financeiras do país só no mês de dezembro, a maior debandada de investimentos externos já registrada no país, superando momentos como o da crise global em 2008 e a desvalorização do real de 1999. O rombo, que desconta os ingressos de recursos, é o maior desde 1982, quando o Banco Central iniciou a pesquisa. Em 2015, o total de investimentos em renda fixa de investidores estrangeiros no Brasil caiu US$ 38,8 bilhões, superando a fuga de capitais da Rússia (US$ 34,1 bilhões) e da Turquia (US$ 16,6 bilhões).
Mas não se trata apenas da debandada de investidores com a crise de confiança no governo sem rumo. Há uma debandada maior, a fuga de cérebros, fenômeno conhecido como brain-drain, contra o qual circula na internet um banner: “Eu não quero viver em outro país. Quero viver em outro Brasil”. Frase que se somou a tantas outras convocações de resistência por parte de centenas de movimentos sociais que estiveram presentes nas megamanifestações de 13 de março. Sobre esta campanha contra a evasão de nossa inteligência profissional e acadêmica, inclusive, os números se revelam impressionantes. A Receita Federal informa que, entre 2011 e 2015, o total de declarações de saída definitiva do país cresceu 67% e saltou de quase oito mil em 2011 para mais de 13 mil em 2015. Desde o início da crise econômica, em 2014, quase dois mil brasileiros emigraram de forma legal. Os principais destinos são os países da Europa, além de Estados Unidos, Austrália e Canadá.
O atual êxodo é algo completamente novo, e para além do contingente de bolsistas e estudantes de intercâmbio, porque no final da década de 1980, quando houve a primeira grande leva de emigração no país, as pessoas que saíam eram das classes média e média baixa, e não profissionais qualificados. Ou seja, o país que já carece de uma verdadeira elite cívica e política, fica entregue à sanha de sindicalistas esquerdistas aloprados, parasitas da máquina pública. Se antes dona Marisa Letícia se achava no direito de plantar uma estrela petista nos jardins do Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe de Estado brasileiro, hoje, sua atual ocupante se acha no (abuso de) direito de transformar o Planalto em palanque para comícios de agitação numa desesperada tentativa de defesa de seu amaldiçoado mandato, conseguido às custas do propinoduto do Petrolão, e repetindo ad nauseam palavras-de-ordem como “não vai ter golpe” a uma claque de asseclas a soldo de recursos públicos. Continuam a confundir por ignorância ou má-fé a esfera pública do Estado com a esfera privada de seu partido.
Diante destas cenas grotescas, muitos cidadãos resistem bravamente manifestando seu asco por tanta ignomínia. Mas muitos outros simplesmente não suportam mais e abandonam o país. Apenas na Flórida, do total de cerca de 1 milhão de imigrantes brasileiros legais ou não em solo americano, se estima uma comunidade de 300 mil brasileiros fugidos da degradação social e política do país nas duas últimas décadas. Muito diferente dos imigrantes brasileiros da década de 1980 que migravam por razões acadêmicas ou para tentar fazer uma nova vida com algum empreendimento diferenciado, os atuais imigrantes são egressos da elite social brasileira e fogem não apenas por questões de segurança, mas, sobretudo, por maior qualidade de vida. Segundo a Associação de Corretores de Imóveis americana, mais de 25 mil residências já foram vendidas a brasileiros, somente na Flórida, numa média de preço acima de US$ 550 mil cada, o que representa quase 10% do total de imóveis vendidos a estrangeiros nos últimos 12 meses naquele estado. Evidentemente que o clima da Flórida, com menos rigor no inverno e uma temperatura amena no verão, atrai nossa melhor elite. Mas, para além da busca por segurança para suas famílias e propriedades, não duvidemos de que é o país devastado por uma insegurança institucional, combinação nunca antes vista de insegurança jurídica, política, moral, econômica e social, que explica o êxodo em massa de nossas elites.
A pergunta que fica é se conseguiremos enfrentar os grandes desafios que temos à frente com os detentores de mandatos eletivos atuais, que “não nos representam” como ecoava nas ruas os cidadãos e cidadãs indignados com o baixo nível de nossa vida política. Pois se os melhores de nós emigram, e migram para a vida pública os piores de nós, temos de nos unir para resistir na trincheira de defesa do país. Daí a importância da campanha “Eu não quero viver em outro país. Quero viver em outro Brasil”, cujo um dos maiores ativistas é um jornalista gaúcho Marcel van Hattem, que, tendo emigrado para estudar na Holanda em 2003, retornou dois anos depois para sua cidade natal, Dois Irmãos, exercendo a vereança por duas legislaturas seguidas. Em 2014, elegeu-se o deputando estadual mais novo do Rio Grande do Sul. E desde então coordena com belas propostas de políticas públicas de alcance nacional as forças políticas de vários movimentos sociais dedicadas ao resgate dos mandatos eletivos para a soberania da cidadania brasileira. Veja aqui sua participação no programa de Agentes de Cidadania da Voz do Cidadão.
Jorge Maranhão
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