Tenho chamado a atenção dos leitores para aspectos de ordem mais filosófica da crise política do país, como a corrupção dos valores morais levada adiante por uma elite social irresponsável, sanguessuga do estado e um bando de políticos inescrupulosos, por que esquerdistas que subestimam como da ordem burguesa princípios e valores morais inerentes à própria tradição da civilização ocidental. Isto por que acredito que analistas econômicos tem se dedicado com frequência a aspectos mais objetivos da crise, como o patamar de dois dígitos negativos alcançados por vários índices econômicos - inflação, queda da produção industrial, desemprego, déficit fiscal e queda do consumo interno. Assim como os comentaristas políticos tem se dedicado com mais frequência às consequências do processo de impeachment e os índices de credibilidade do governo caminhando para patamares cada vez menores. Só para se ter uma ideia da catástrofe da gestão Dilma, o empresário Flavio Rocha, da Riachuelo, deu um número de arrepiar em recente entrevista: "Em 2015 fecharam 100 mil lojas pelo Brasil afora, o que equivale ao fechamento de todos os shopping centers do país, que abrigam exatamente isso: 100 mil lojas". Sendo que a Confederação Nacional do Comércio, incluindo o pequeno comércio, estima em 250 mil os comerciários demitidos só no corrente ano!
Diante deste quadro de horror, e como se não bastasse, não podemos deixar passar em branco o fenômeno da fuga de investimentos promovida pela irresponsável e boçal política “de nova matriz econômica” da era corrupto-petista, talvez a face mais perversa da falta de inteligência de uma gestão pública incapaz de promover o turning-point de que o país precisa urgentemente para evitar o naufrágio da nau à deriva. É bom que se lembre que logo após a ascensão de Dilma, com o estelionato eleitoral de 2014 que hoje se apura, investidores estrangeiros retiraram US$ 14,542 bilhões de aplicações financeiras do país só no mês de dezembro, a maior debandada de investimentos externos já registrada no país, superando momentos como o da crise global em 2008 e a desvalorização do real de 1999. O rombo, que desconta os ingressos de recursos, é o maior desde 1982, quando o Banco Central iniciou a pesquisa. Em 2015, o total de investimentos em renda fixa de investidores estrangeiros no Brasil caiu US$ 38,8 bilhões, superando a fuga de capitais da Rússia (US$ 34,1 bilhões) e da Turquia (US$ 16,6 bilhões).
Mas não se trata apenas da debandada de investidores com a crise de confiança no governo sem rumo. Há uma debandada maior, a fuga de cérebros, fenômeno conhecido como brain-drain, contra o qual circula na internet um banner: “Eu não quero viver em outro país. Quero viver em outro Brasil”. Frase que se somou a tantas outras convocações de resistência por parte de centenas de movimentos sociais que estiveram presentes nas megamanifestações de 13 de março. Sobre esta campanha contra a evasão de nossa inteligência profissional e acadêmica, inclusive, os números se revelam impressionantes. A Receita Federal informa que, entre 2011 e 2015, o total de declarações de saída definitiva do país cresceu 67% e saltou de quase oito mil em 2011 para mais de 13 mil em 2015. Desde o início da crise econômica, em 2014, quase dois mil brasileiros emigraram de forma legal. Os principais destinos são os países da Europa, além de Estados Unidos, Austrália e Canadá.
O atual êxodo é algo completamente novo, e para além do contingente de bolsistas e estudantes de intercâmbio, porque no final da década de 1980, quando houve a primeira grande leva de emigração no país, as pessoas que saíam eram das classes média e média baixa, e não profissionais qualificados. Ou seja, o país que já carece de uma verdadeira elite cívica e política, fica entregue à sanha de sindicalistas esquerdistas aloprados, parasitas da máquina pública. Se antes dona Marisa Letícia se achava no direito de plantar uma estrela petista nos jardins do Palácio da Alvorada, residência oficial do chefe de Estado brasileiro, hoje, sua atual ocupante se acha no (abuso de) direito de transformar o Planalto em palanque para comícios de agitação numa desesperada tentativa de defesa de seu amaldiçoado mandato, conseguido às custas do propinoduto do Petrolão, e repetindo ad nauseam palavras-de-ordem como “não vai ter golpe” a uma claque de asseclas a soldo de recursos públicos. Continuam a confundir por ignorância ou má-fé a esfera pública do Estado com a esfera privada de seu partido.
Diante destas cenas grotescas, muitos cidadãos resistem bravamente manifestando seu asco por tanta ignomínia. Mas muitos outros simplesmente não suportam mais e abandonam o país. Apenas na Flórida, do total de cerca de 1 milhão de imigrantes brasileiros legais ou não em solo americano, se estima uma comunidade de 300 mil brasileiros fugidos da degradação social e política do país nas duas últimas décadas. Muito diferente dos imigrantes brasileiros da década de 1980 que migravam por razões acadêmicas ou para tentar fazer uma nova vida com algum empreendimento diferenciado, os atuais imigrantes são egressos da elite social brasileira e fogem não apenas por questões de segurança, mas, sobretudo, por maior qualidade de vida. Segundo a Associação de Corretores de Imóveis americana, mais de 25 mil residências já foram vendidas a brasileiros, somente na Flórida, numa média de preço acima de US$ 550 mil cada, o que representa quase 10% do total de imóveis vendidos a estrangeiros nos últimos 12 meses naquele estado. Evidentemente que o clima da Flórida, com menos rigor no inverno e uma temperatura amena no verão, atrai nossa melhor elite. Mas, para além da busca por segurança para suas famílias e propriedades, não duvidemos de que é o país devastado por uma insegurança institucional, combinação nunca antes vista de insegurança jurídica, política, moral, econômica e social, que explica o êxodo em massa de nossas elites.
A pergunta que fica é se conseguiremos enfrentar os grandes desafios que temos à frente com os detentores de mandatos eletivos atuais, que “não nos representam” como ecoava nas ruas os cidadãos e cidadãs indignados com o baixo nível de nossa vida política. Pois se os melhores de nós emigram, e migram para a vida pública os piores de nós, temos de nos unir para resistir na trincheira de defesa do país. Daí a importância da campanha “Eu não quero viver em outro país. Quero viver em outro Brasil”, cujo um dos maiores ativistas é um jornalista gaúcho Marcel van Hattem, que, tendo emigrado para estudar na Holanda em 2003, retornou dois anos depois para sua cidade natal, Dois Irmãos, exercendo a vereança por duas legislaturas seguidas. Em 2014, elegeu-se o deputando estadual mais novo do Rio Grande do Sul. E desde então coordena com belas propostas de políticas públicas de alcance nacional as forças políticas de vários movimentos sociais dedicadas ao resgate dos mandatos eletivos para a soberania da cidadania brasileira. Veja aqui sua participação no programa de Agentes de Cidadania da Voz do Cidadão.
Jorge Maranhão
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