terça-feira, 3 de janeiro de 2017

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Cortaram a cabeça do Brasil

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Não se iludam: a barbárie que ocorreu no presídio do Amazonas é resultado das barbaridades que são cometidas continuamente nos centros de poder político e econômico.

O Brasil é um país cuja cabeça foi cortada pelas organizaçōes criminosas travestidas de partidos políticos e grandes empresas.

O Brasil é um país retalhado pela corrupção, pela ignorância, pela imoralidade, pelo abandono, pela ferocidade.

Calem-se, ufanistas. Somos uma vergonha como nação.

O cárcere da memória

Um céu sombrio cobre o país. A maioria das pessoas trabalha numa coisa de que não gosta, luta a vida toda por nada, vive em conflito porque ama. O Brasil não funciona na forma em que foi concebido. A elite do Estado não quer se integrar à vida normal da sociedade. Continua forçando o governo a se endividar e pagar juro a milionário. Seu procedimento é regular, pensado, alegre. As instituições não conhecem a tristeza. Não têm interesse em estimular a normalidade, pacificar o território. São nobres humilhando plebeus.

O Estado é “carceral” em sua lógica fechada. O juiz precisa do criminoso; o promotor, do crime; a polícia, do bandido; o Supremo, da inconstitucionalidade; a política, da mentira; a Receita, da fraude. A riqueza é agiota do governo; o câmbio ri da afinidade da ideologia com a moeda. O juro sempre soube que não haveria uma City em Salvador como o chanceler sonhou para a Odebrecht.

A liberdade de um ser "livre"  arte: John Holcroft:
John Holcroft
Não é o povo, o trabalhador ou o empresário. Nem mesmo os ventos vindos do estrangeiro. É a elite, dos Três Poderes, no município, no estado e na União, que semeia o sobressalto. Nada é o suficiente para seus membros. A despesa de esbanjador demora para causar repulsa. Muito poucos percebem que grandes talentos não brotam do chão. Quantos aceitam a ideia de que o dinheiro não pode dominar o mundo moral do homem público?

Falta às autoridades um Konversationslexikon, o dicionário alemão destinado a fornecer às pessoas conhecimentos mínimos para manter algum diálogo sem precisar manipular, mentir ou agredir. Já é hora de o Brasil parar de admirar quem faz uso político de dados econômicos incorretos, estatísticas insuficientes, ou se vale de crises para fortalecer corporações.

No canto da cela, o encarcerado e seu advogado não se entendiam.

— Todas as vezes que alguém se aproximou dele como amigo, ele aproveitou para se afastar do dever de autoridade;

— Mas como condenar quem relaxa de seus cuidados para servir a alguém que comparte com ele seus assuntos?

— Em assuntos de governo nenhuma regalia ou servidão pode haver em tal afeto que a tantos inebria. Só a desmedida ambição tira do governante a meditação e o recolhimento. E faz seus prazeres eclipsar qualquer senso de limite e de justiça;

— Ora, se nem a ajuda de Deus o socorreu, de que índole são os amigos do poder? Você parece com ele indisposto, o que enfraquece muito seus conselhos;

— Não sou inimigo dele. Sou inimigo dos seus erros, todos desnecessários. Tudo lhe chegou de tal maneira que ele dispensou o futuro de sua preocupação.

— Ele sempre foi ingênuo na ambição. Não compreende que quem se aproxima do poder rouba um pouco de poder. Nem se dá conta de que é do poderoso parte do interesse de quem o visita interesseiramente;

— Está aí sua defesa! O crime não se coaduna com os deveres de um governante;

— Ele não acha que praticou crime. É ambiguidade, da política a maior das salvaguardas;

— A implacável lei da dupla face: você acaba sendo o que parece;

— Não é melhor ser escrupuloso, dormir tranquilo?

— Mas acordar fora da política? Para quê? O calor do golpe na honra só é imperdoável no fracasso.

Gigante pequenininho

Um povo não se define tanto pelo que é, mas pelo que quer vir a ser. Nosso horizonte está muito rebaixado, ficou pequenininho. Os políticos se apresentam como campeões da caridade, e não como portadores de projetos para o país. O Lula disseminou isso, com sua enorme capacidade de nivelar por baixo e cooptar. O MST tem convênios com o Incra, o PC do B tem o Ministério dos Esportes, o banqueiro tem o juro, o pobre tem o Bolsa Família. Todo mundo se dá um pouquinho bem, enquanto o Brasil caminha alegremente para o cu do mundo.
 
Estamos virando um país em que tudo é malfeitinho: o professor não dá uma aula decente, passa trabalho; o aluno não aprende, faz trabalho para ganhar a nota; o Congresso Nacional vira uma casa de despachantes; a polícia arma o bandido. As instituições estão deixando de funcionar, substituídas por uma enorme farsa
Cesar Benjamin “1968: o que fizeram de nós”

A crise e a força da Nação

Não é preciso carregar nas tintas para afirmar que a dimensão social da crise que atinge o País é grave. O desemprego atingiu patamar recorde registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com 12,132 milhões de pessoas em busca de uma vaga. Até mesmo a atividade econômica informal, que geralmente cresce em tempos de crise, retrocedeu pelo segundo ano consecutivo – informou recentemente a Fundação Getúlio Vargas (FGV) –, em razão da forte e duradoura recessão.

É cada vez maior o número de pessoas, em todas as faixas etárias, que não têm perspectivas profissionais. E mesmo quem está empregado sofre os efeitos da crise, pela diminuição do poder aquisitivo do salário – corroído pela inflação dos últimos anos – ou pela aflição com a possibilidade de perda do trabalho. A crise faz com que os sonhos e projetos – pessoais, familiares ou profissionais – sejam adiados, à espera de dias melhores.

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Não se trata apenas – como se isso já não fosse doloroso o suficiente – de viver as agruras do presente. A crise torna a população mais vulnerável perante os riscos inevitáveis do futuro. Não é pequena, por exemplo, a quantidade de famílias que, sem condições econômicas, precisaram abandonar o plano de saúde complementar e agora contam apenas com o serviço público de saúde, com suas conhecidas deficiências.

Não é fácil enumerar e mensurar todos os efeitos da crise. Muitos deles serão notados em toda a sua extensão apenas daqui a vários anos. Basta pensar, por exemplo, nos jovens que estão saindo do ensino médio. Muitos deles se veem, por causa da recessão, sem condições econômicas de continuar sua formação acadêmica e precisam buscar de imediato um trabalho – que, na maior parte das vezes, não existe. A interrupção do estudo afeta todo o horizonte vital desses jovens. Não se trata apenas de deixar de consumir determinados produtos nos próximos meses ou trocá-los por mais baratos – a crise afeta de forma decisiva a vida de toda uma geração.

O desamparo da população diante da crise social deve estimular a atuação responsável de todo o governo – Executivo, Legislativo e Judiciário. O poder público não pode dar as costas à população, como se o drama social não lhe dissesse respeito. É nessas horas de necessidade e aflição que o serviço público deve mostrar para que existe: para servir ao público.

A preocupação governamental com a crise social que o País atravessa pode se revelar por meio de várias maneiras práticas. O Executivo não pode, por exemplo, ser tíbio na condução da política econômica e fiscal. Também não pode se omitir na condução das reformas estruturais tão necessárias para recolocar o País nos trilhos do desenvolvimento econômico. Se titubear, prolongará desnecessariamente os sofrimentos da Nação. Nesse sentido, a crise impõe que o governo concentre todas as energias no que é prioritário, deixando de lado o que é acessório. A crise deve ser, portanto, um estímulo à eficiência.

Mas a crise social não é um tema apenas do Executivo. Ela afeta diretamente os outros Poderes. É o momento de o Legislativo bloquear todas as investidas corporativas por mais privilégios, especialmente as pretensões de aumentos salariais. É também ocasião para trabalhar com diligência aqueles projetos de maior relevância pública, que podem aliviar a crise. Muitos desses projetos não são propriamente populares, mas isso não pode fazer hesitar os representantes do povo que tenham verdadeiro espírito público. É nessa hora que devem tomar a frente, na defesa do interesse nacional e do futuro do País.

O Poder Judiciário deve ser também esteio nessa hora de crise. Em primeiro lugar, sendo um remanso de institucionalidade, bloqueando soluções mágicas, fora da lei ou eivadas de um excessivo protagonismo. Deve ser também exemplo de trabalho e de diligência. É imperiosa, nesse sentido, a continuidade do combate à corrupção, em todas as suas esferas e sempre dentro da lei.

Ao exigir que todos exerçam com responsabilidade suas funções e habilidades para que os momentos de aflição sejam mais prontamente superados, a crise expõe a miséria e a grandeza dos homens que lideram a Nação. Se tiverem valor, o País sairá dessa quadra turva mais forte e saudável do que antes. É o que veremos no correr do ano que se inicia.

Música para a bela Grace


Cherry Pink and Apple Blossom White", com Eddie Calvert, sucesso inglês de 1955, 
virou tema do filme "Ladrão de casaca", de Alfred Hitchcook, com Grace Kelly e Cary Grant

Brasil liberou geral em matéria de usura, agiotagem e extorsão

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Não causa surpresa saber que uma instituição financeira possa cobrar juros de 1.358% ao ano no rotativo do cartão de crédito. O que me deixa revoltado e indignado são essas demonstrações de surpresa por parte do Banco Central e de autoridades específicas quanto a esta prática absolutamente corriqueira de usura, agiotagem e extorsão contra o povo brasileiro.

Quanto às pessoas que se sujeitam a pagar essa assombrosa e inimaginável taxa de juros ao ano, o que deve dar por mês mais de 40% (!), seja para pagar uma conta ou ficar em dia com algum credor, infinitamente melhor é deixar de pagar esse compromisso, e depois saldá-lo com a cobrança de juros mesmo alta, porém muito menor do que esta aplicada para um empréstimo!

O brasileiro se deixa levar por agiotas e espertalhões muito facilmente, e nem reclama, pois não se dá ao trabalho de recorrer a um advogado, a um defensor público ou mesmo ao Procom.

Basta constatarmos o quanto o brasileiro permite ser lesado, prejudicado, roubado, explorado, aviltado, violentado, pelos governantes, que a dedução é lógica também sobre essas financeiras que agem exatamente no meio do povão, no pessoal que não sabe calcular e que precisa de crédito mais desburocratizado, digamos assim.

Ora, se uma ou duas pessoas pagarem em dia, muitas outras podem atrasar as mensalidades que as primeiras já quitaram o compromisso de todas elas. Trata-se de auferido de forma simplesmente criminosa, sem que as autoridades demonstrem o mínimo interesse em tomar providências.

No entanto, como se trata de dinheiro, o verdadeiro deus do brasileiro e dos três Poderes da nação, esses bandidos operem como se não infringissem leis que combatem a usura, a agiotagem e a extorsão, mostrando que a economia popular está totalmente indefesa.

Governantes, parlamentares, magistrados, ministros, procuradores, promotores e policiais reverenciam o cifrão, ajoelham-se perante os números e permitem que as instituições financeiras explorem o cidadão brasileiro, cobrando-lhe os mais elevados juros já praticados em países com inflação sob controle e abaixo dos 10% ao ano.

Há decisões judiciais questionando as elevadíssimas taxas de juros, mas são exceções em meio à aceitação da prática da agiotagem oficial.

Definitivamente o Brasil não é mais para brasileiros, pois comandado e dirigido por gente da pior espécie, governantes incompetentes, parlamentares corruptos e desonestos, e com magistrados que atuam à margem da realidade do país. É assim que estamos iniciando um novo ano.

Caverna de Ali Babá

É curioso como os preconceitos desumanizam. Ficamos estarrecidos com o ato terrorista que, na Alemanha, invadiu uma feira de Natal e ao ver as imagens, em São Paulo, de um vendedor ambulante sendo cruelmente pisoteado por dois assassinos. Mas quem se importa com a morte de dezenas de presos na penitenciária de Manaus?

Os mortos em Berlim eram gente como a gente. O ambulante paulista, um trabalhador honesto que ganhava a vida no comércio informal. Mas e os presos? Não vemos autoridades públicas proclamarem, sem o menor pudor, que “bandido bom é bandido morto”? A Justiça de São Paulo não considerou que o massacre do Carandiru, que deixou 111 mortos, foi apenas um “ato de legítima defesa” da PM?

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Ao preconceito étnico que sonega ao preso a sua condição humana para reduzi-lo a mero “elemento” ou “verme” soma-se o de classe. Se amanhã houver uma rebelião na penitenciária de São Carlos do Pinhal (PR) e um único preso da Lava Jato morrer no confronto, então será um deus nos acuda!

O Brasil necessita urgente de uma profunda reforma do sistema prisional. Todos sabem que a omissão do poder público, contentando-se em usá-lo como mero depósito de presos, favorece o empoderamento de facções criminosas. Dentro das grades elas se organizam para comandar o crime aqui fora e assim obter recursos para pagar advogados, corromper funcionários públicos, fomentar o tráfico de drogas e comprar armas.

Em suma, nossas penitenciárias são a caverna do Ali Babá. Embora a chave da caverna esteja nas mãos da Justiça, lá de dentro ele comanda o crime aqui fora, e quem o mantém preso quase nada faz para resgatá-lo à sociedade.

Quando já nem os sinos dobram por homens entregues ao cuidado do poder público é sinal de que a nossa humanidade se esvai na cegueira, na surdez e na indiferença.

Frei Betto

'Deus', palavra mágica nos discursos de posse de prefeitos

Talvez seja a sensação de impotência, a falta de confiança na política ou a forte influência das Igrejas Evangélicas, a verdade é que o Brasil parece se refugiar cada vez mais em Deus, algo que não desagrada seus governantes e muitos até exploram isso.

No dia primeiro de janeiro, quando milhares de prefeitos assumiram seus cargos, uma das palavras que mais foram repetidas em seus discursos foi “Deus”. E também a mais aplaudida.

“Não tenho medo de assumir essa responsabilidade porque Deus está comigo”; “Vamos mudar esta cidade porque Deus decidiu”, foram frases que se repetiram em muitos dos discursos dos recém-eleitos.

No Rio de Janeiro, o novo prefeito, o bispo evangélico Marcello Crivella, citou Deus seis vezes em oito minutos de seu discurso. Disse a uma multidão entusiasmada: “Tenho certeza de que Deus estará comigo enquanto governar”. E algo incomum nesses casos, em um país laico por Constituição, o evangélico Crivella abriu o ato recitando o Pai Nosso, um aceno para os católicos.

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Não só aqueles que tomaram posse apelaram a Deus, mas também aqueles que se despediram depois de ter perdido a eleição. Um caso emblemático foi o da prefeita da pequena cidade de Sapezal (MT), Ilma Grisoste, 55 anos, formada em Pedagogia e doutora em Psicopedagogia.

Em vez de entregar as chaves da cidade ao seu sucessor, emitiu um documento no qual afirmava: “Decreto a entrega das chaves desta cidade a Deus”. E acrescentou: “Desejo que esta cidade pertença a Deus e que toda a prefeitura esteja sob a proteção do Todo-Poderoso”. Mais ainda: “Cancelo em nome de Jesus todos os pactos feitos por qualquer outro Deus ou entidade religiosa”.

Então, não é de estranhar que 90% dos brasileiros pensem que ser rico ou pobre depende de Deus, de acordo com uma pesquisa recente da Datafolha, publicada no jornal Folha de S. Paulo.

Esta pesquisa indica que nove de cada dez brasileiros estão convencidos de que “seu sucesso financeiro se deve a Deus”. E o mais estranho é que a alegação foi feita não só pelos crentes, mas também por 70% das pessoas sem religião e 23% daqueles que se declaram ateus.

E não apenas os mais pobres e menos escolarizados atribuem a Deus seu sucesso ou fracasso econômico, mas também 77% das pessoas que concluíram a universidade e ganham até 8.800 reais.

Esse Deus acaba sendo um perigo porque anula os próprios esforços das pessoas para avançar na vida, enquanto elimina sua capacidade de protestar e se rebelar contra o poder injusto.

Esse Deus empurra os pobres à resignação porque seria ele, e não o esforço e capacitação pessoal, ou a luta por seus direitos, que decide seu presente e seu futuro.

Os políticos devem ser os mais felizes com essa convicção de 90% dos brasileiros. Para que se esforçar muito, realizar reformas sociais que melhorem a vida das pessoas, se no final é Deus que decide sobre as finanças delas?

Ou para que melhorar a educação e elevar o nível cultural do povo, se 77% das pessoas com título universitário também acham que tudo depende de Deus?

Em qualquer sociedade laica do mundo, especialmente aquelas que possuem melhores índices de qualidade de vida, a situação econômica dos indivíduos e das famílias não depende de Deus, mas do esforço pessoal de cada um, sua capacidade e preparação profissional, bem como dos sistemas econômicos e políticos em que vivem.

Como diz o ditado espanhol: “A Deus rogando, mas com martelo batendo”. Ou, como respondeu Jesus (tão traído e distorcido nos discursos dos políticos brasileiros) aos judeus: “Dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

O resto é vontade de tirar sarro dos pobres e dar ao poder o álibi de que é Deus que vai cuidar deles.

A fé religiosa deveria ser, ao contrário, a primeira a exigir que o poder seja desmascarado sempre que pretende alienar as consciências com falsas promessas messiânicas ou perigosas bajulações aos pobres.

Um Deus curinga dos governantes para se esquivar de suas responsabilidades e adormecer os mais desamparados é um Deus perverso.

Imagem do Dia

Praia de Cordoama (Portugal) 


Não h´dinheiro para nada, mas o pagamento dos juros da dívida está garantido

Como se estivesse reproduzindo os antigos anúncios fúnebres dos jornais,o Banco Central cumpriu o doloroso dever de comunicar que a dívida bruta fechará 2017 a 76,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), acima do patamar de 71,0 % estimado para 2016. As projeções do BC levam em conta a expectativa de déficit primário consolidado de 163,9 bilhões de reais para o setor público neste ano, e rombo de 143,1 bilhões de reais para o ano que vem, ambos fixados em lei, como se fosse possível conduzir a economia baixando decretos. Aliás, se isso funcionasse, nenhum país entraria em crise.
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Ninguém gosta desse tipo de assunto, é uma chatice. Mas acontece que a dívida pública é o maior problema brasileiro, pois todos os demais dependem dela. Simples assim. No entanto, a estratégica questão não costuma frequentar o noticiário da grande imprensa. É como se a atual farra do boi pudesse se eternizar, sem maiores consequências.

Como ensinava Delfim Netto, aquele professor de Economia que virou político e recebia propinas em dinheiro vivo, mandando entregar no escritório do sobrinho, “dívida não se paga, apenas se rola”. Não é nenhuma regra, trata-se somente de uma frase de efeito, mas presidentes, governadores e prefeitos acreditaram nessa idiotice e o resultado catastrófico está. Mesmo assim, ninguém se interesse em discutir a dívida pública, que se transformou numa bomba-relógio.
Não adianta argumentar que outros importantes países têm dívidas muito maiores do que o Brasil, em relação a seus respectivos PIBs. Essa falácia é propositadamente difundida para enganar os otários e manter intocável o capitalismo sem risco – regime criado e praticado apenas no Brasil, uma espécie de jabuticaba econômica. Mas a comparação com outras nações logo desmorona diante das taxas de juros que incidem sobre suas dívidas.

Por óbvio, altas taxas de juros jamais beneficiam o país, suas empresas e seus habitantes. Pelo contrário, destroem qualquer economia. E o caso do Brasil é estarrecedor, nos padrões internacionais. Em que país minimamente civilizado é permitido que bancos pratiquem juros médios de 482% ao ano na rolagem de dívidas de simplórios cartões de crédito, e financeiras possam chegar a 1.358% ao ano, sem ninguém ser algemado perante as câmeras de TV?
Até o governo Itamar Franco, a situação estava sob controle. O maior problema era a dívida externa, que nem preocupava, pois os juros eram baixos, e naquela época a dívida interna chegava a ser ridícula em comparação ao PIB nacional.

Foi o irresponsável presidente Fernando Henrique Cardoso que inverteu a situação, elevando desmesuradamente a dívida interna. Foi sucedido por outro irresponsável, o presidente Lula da Silva, que continuou aumentando a dívida pública e incentivou artificialmente o consumo, sem que as consequências dessa política suicida fosse discutida em termos nacionais.

E tudo piorou depois de entrar em cena a suposta gerentona Dilma Rousseff, que implantou a “contabilidade criativa”, maquiando as contas públicas para apresentar resultados sempre positivos, e pedalando sem parar, enquanto a dívida pública se multiplicava.

Agora, já na gestão de Michel Temer, o próprio Banco Central revela que o resultado nominal (quando se incorporam à conta as despesas com pagamento dos juros da dívida) é um rombo nas contas públicas que até novembro, no acumulado de 12 meses, chegou a espantosos R$ 581,4 bilhões, o equivalente 9,28% do PIB.

Esse rombo é acompanhado pelas agências de classificação de risco para a definição da nota de crédito dos países. E nesta comparação, o patamar do déficit brasileiro é bem mais alto que o de outros países emergentes.

Estranhamente, porém, ninguém debate a disparada da dívida pública. É como se tudo estivesse sob controle, e não está. Não há dinheiro para servidores, aposentados e pensionistas, mas o pagamento dos altos juros da dívida pública está mais do que garantido. É claro que há algo de podre nesse esquema, que vem dando muito mais prejuízos ao país do que a corrupção político-administrativa propriamente dita.

Paradoxos do progresso: dados para ser otimista

Os dados indicam que a humanidade vive o melhor momento da sua história, e, no entanto, a maioria acredita que o mundo está piorando. Os políticos populistas, para aproveitar essa percepção, fingem ignorar que estamos melhorando em todos os parâmetros. Segundo uma pesquisa, 81% dos eleitores de Donald Trump acreditam que há 50 anos vivia-se melhor, que o mundo era um lugar melhor. Uma opinião que poderia ser definida como reacionária, pois considera que as mudanças estão piorando as coisas.

Tal visão está longe de se limitar ao eleitorado trumpista.Há uma ampla percepção de que o mundo retrocede, de que nos dirigimos para uma espécie de caos. Segundo um levantamento do Instituto Motivaction, 87% da população mundial acredita que nos últimos 20 anos a pobreza global permaneceu igual ou se agravou. O paradoxo é que os dados deixam claro que essa é uma ideia falsa. O mundo melhorou ao invés de piorar.

Não significa, que fique bem claro, que o mundo seja um lugar perfeito. Nem sequer um bom lugar. Padecemos de injustiças, guerras, fome e violência. Uma minoria da população detém a maior parte da riqueza, enquanto 760 milhões – os 11% mais pobres – sobrevivem com menos de dois dólares (6,50 reais) por dia. A pobreza é cotidiana. Mas, de todos os cenários globais que já conhecemos (não que imaginamos ou desejamos, mas que conhecemos), este é o melhor.

O cientista cognitivo Steven Pinker, professor da universidade de Harvard, é um dos autores que mais forneceram dados em defesa dessa tese. Seu livro Os Anjos Bons da Nossa Natureza (Companhia das Letras) busca demonstrar que vivemos na época mais pacífica e próspera da história. “As pessoas, em todos os cantos do mundo, estão mais ricas, gozam de mais saúde, são mais livres, têm mais educação, estão mais pacíficas e desfrutam de uma maior igualdade do que nunca antes”, diz Pinker ao EL PAÍS. “Todas as estatísticas indicam que melhoramos. Em geral, a humanidade se encontra melhor que nunca.”


O escritor e historiador sueco Johan Norberg é outra das vozes destacadas dessa corrente de pensamento. Defende em seu livro Progress: Ten Reasons to Look Forward to the Future (“progresso: dez motivos para olhar para frente”) que o capitalismo é o sistema que mais fez o ser humano progredir, e que vivemos no melhor momento da nossa história. “O mundo está melhorando rapidamente. Na verdade, nunca antes o mundo melhorou tão rápido. A cada minuto desta conversa, cem pessoas saem da pobreza”, argumenta.

Mostram-nos, por exemplo, que os adultos desfrutam de vidas mais longas, e que a mortalidade infantil caiu a um quarto do que era há algumas décadas. Em 1960, segundo a Organização Mundial da Saúde e o Banco Mundial, de cada cinco crianças nascidas vivas uma morria antes de completar cinco anos; agora, 19 de cada 20 sobrevivem.

A riqueza também se multiplicou. Desde 1980, o percentual de pessoas que vivem na pobreza extrema foi reduzido em 75%. No sul da Ásia, ela atingia 50% da população, e agora só castiga 15%. No leste da Ásia e no Pacífico, a incidência da pobreza extrema passou de 80% (quatro de cada cinco pessoas) para apenas 3,5%.

A alfabetização está a caminho de se universalizar: em 1980, 44% das pessoas sobre o planeta não sabiam ler nem escrever; agora, são só 15%, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da UNESCO (órgão da ONU para a educação). Além disso, está diminuindo a disparidade educacional entre homens e mulheres no mundo todo. Muitos desses dados provêm do site Our World in Data, um projeto que reúne indicadores para mostrar como estão mudando as condições de vida das pessoas do mundo todo.

Desde os anos 1980, as guerras também vêm se tornando menos frequentes e agressivas. A violência retrocede: nas sociedades agrícolas, ela causava cerca de 15% de todas as mortes, segundo o pensador israelense Yuval Harari, autor do livro Sapiens – de Animais a Deuses. Durante o século XX, ela provocou 5% das mortes, e hoje só é responsável por 1% da mortalidade global.
Por que não vemos este progresso

Se os dados mostram melhoras, por que existe a percepção de que pioramos? Há muitas respostas. Todas corretas, e nenhuma completa. A primeira é que nos tornamos mais críticos, muito menos tolerantes com os erros e injustiças do sistema. Nunca antes a humanidade havia sido tão exigente consigo mesma. Coisas que hoje nos parecem intoleráveis eram a norma: em 1980, 54% dos espanhóis consideravam que ser homossexual era injustificável (essa cifra caiu para 8%). Essa exigência nos faz sentir que não melhoramos (ou que, pelo menos, não melhoramos o suficiente).

Johan Norberg acrescenta outra resposta: “Temos melhor acesso do que nunca às notícias e à comunicação. E, na imprensa, as más notícias são as que vendem. Ficamos sabendo de alguma má notícia ou algum novo incidente a cada minuto. Os desastres e as tragédias não são algo novo, mas os celulares e as câmeras são. E isso causa a impressão de que esses horrores são mais frequentes do que eram”.

Salve-se quem puder

Caos. É esse o tempo que vivemos. Presidente do Senado ignorando ordem judicial, salário de servidor parcelado a perder de vista, deputados votando interesses próprios na madrugada, ex-governador preso, PEC congelando por 20 anos os gastos públicos, incluindo a Saúde, e Leda Nagle demitida. Inacreditável Futebol Clube do Brasil!

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No meio disso tudo, há gente que tem câncer. Doença devastadora, na qual o tempo significa uma chance de viver, como diversos pacientes tratados pelo SUS, que frequentemente têm suas medicações de quimioterapia interrompidas sob alegação de falta de remédio. Como desgraça pouca é bobagem, alguns hospitais, como o HCIII do Inca, também têm sofrido com aparelhos de mamografia quebrados.

Na prática, isso significa, primeiro, que o direito humano e universal à vida está negligenciado. Segundo, que se os aparelhos existentes dessem conta do recado, como afirma o hospital neste caso, o aparelho quebrado deveria estar consertado e em pleno uso para a população. Afinal, isso é dinheiro público.

Lógico que a denúncia feita a partir de usuários é sempre negada pelas direções, como se paciente inventasse interrupção de tratamento para “tirar férias” da doença.

Já é uma via-crúcis, não desejada para ninguém, o tempo de nove meses entre suspeita e diagnóstico de câncer de mama, conforme a pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Laço Rosa em maio. Iniciar o tratamento, então, é outra peleja que ultrapassa a lei dos 60 dias, garantidos pela Constituição.

Então, quando o cidadão consegue sobreviver à maratona Sisreg (o sistema de regulação) e, enfim, começa o tratamento, alguém em algum departamento não faz o pedido do remédio e tcharannnnn: interrupção de ciclo!

O único detalhe é que essa doença não dá trégua, não tira férias e nem espera o jogo de empurra para saber de quem é a culpa. Segue crescendo. A chance, que muitas vezes já chega diminuta na mão dos médicos, cai ladeira abaixo a cada interrupção.

Gestores, públicos e privados, são responsáveis por gerir o fluxo que garante uma chance à vida. É deles a responsabilidade de não deixar faltar o remédio, ainda que o acesso à medicação tenha esferas políticas muito além da boa vontade e da compaixão humana.

Não é a primeira vez que hospitais são denunciados por suspensão de quimioterapia. Quem paga a conta? Quem é responsabilizado por isso? Quem devolve ao paciente a chance que perdeu no instante em que alguém não fez o seu trabalho de pedir, liberar e entregar o remédio?

Provavelmente, Deus, porque nunca vi um ser humano, além do paciente, pagar por isso. E o mais revoltante é a postura “País das Maravilhas” adotada pelos hospitais, como se a resposta à imprensa convencesse alguém além da Carochinha.

Enquanto isso, cabe a nós, seres humanos desprovidos de interesses, agir por meio da denúncia, da fiscalização, da indignação e da empatia, porque uma hora pode ser que nós ou alguém que amamos esteja na outra ponta, precisando de uma voz para gritar pelo fim dessa sentença imposta pelos mais fortes, na qual a lei que vale é a do “salve-se quem puder”.

Marcelle Medeiros