sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Filho de Lula ri da crise
É preciso estar cego para negar que o Brasil vive uma das crises econômicas mais graves de sua história. Menosprezá-la é uma ofensa aos mais pobres.
Seu pai, que conheceu desde pequeno o amargor da miséria, notabilizou-se, durante sua Presidência, por resgatar milhões de famílias da pobreza. Se o jovem não vê nem sofre a crise na própria pele, deveria dar-se por satisfeito pelo fato de que o destino lhe tenha sido tão benévolo, mas é injusto que ironize uma realidade que está custando lágrimas aos que a padecem, que são sempre os elos mais frágeis da corrente econômica.
No Facebook, Luís Claudio postou que “o estacionamento está lotado de crise” e que as pessoas “que fazem fila nos restaurantes esperam que a crise desocupe uma mesa”. Esses são, e ele deveria saber, os privilegiados não atingidos pela crise.
Para os que, ao contrário, perderam o emprego ou tiveram a renda diminuída, e para os que sofrem com a inflação e são asfixiados pelos juros mais altos do mundo, as piadas não servem de alívio. Ofendem sua dignidade. Esses feridos pela crise não fazem fila nos restaurantes de luxo, e sim na porta dos hospitais públicos, cada vez mais empobrecidos. Fazem fila na porta das fábricas em busca de um emprego ou nos guichês dos bancos para pagar suas dívidas.
Podem-se discutir as possíveis causas que levaram o Brasil, após ter vivido anos de vacas gordas, a ser hoje rebaixado internacionalmente à categoria de “lixo”.
Pode-se discutir se essa crise é mais política que econômica. Pode-se especular sobre os responsáveis pela situação e sobre o que significa para o gigante americano ser, em vez de motor de crescimento e prosperidade do continente, a causa do encolhimento de seu PIB. O que não é admissível é elevar a crise à categoria de piada barata.
Escrevi tantas vezes nesta coluna que os jovens brasileiros são a melhor esperança deste país, por seu espírito empreendedor e sua capacidade criativa mundialmente reconhecida.
Dói, portanto, que seja um jovem como Luís Claudio, filho de quem tanto se esforçou para que o Brasil fosse reconhecido como o país que combateu as desigualdades econômicas e sociais, quem minimize a gravidade da crise. Uma crise que ameaça empurrar milhões de brasileiros, que haviam conseguido se livrar da fatalidade da pobreza, ao inferno de onde saíram.
Até para os incrédulos existem palavras e realidades revestidas de uma certa sacralidade que deve ser respeitada. Uma delas, sobre a qual não se permite nem ironia nem sarcasmo, é o sofrimento dos pobres. E a crise sofrida pelo Brasil, que é real e não imaginária, já está semeando angústia no presente e no futuro de tantas famílias que veem desmoronar as esperanças de melhora que tinham começado a desfrutar ou sonhar.
Brincar com a dor dos que não tiveram a sorte de nascer no berço dos privilegiados é um desafio arriscado. Na história, nada nunca foi tão perigoso como a ira dos deuses.
Seu pai, que conheceu desde pequeno o amargor da miséria, notabilizou-se, durante sua Presidência, por resgatar milhões de famílias da pobreza. Se o jovem não vê nem sofre a crise na própria pele, deveria dar-se por satisfeito pelo fato de que o destino lhe tenha sido tão benévolo, mas é injusto que ironize uma realidade que está custando lágrimas aos que a padecem, que são sempre os elos mais frágeis da corrente econômica.
No Facebook, Luís Claudio postou que “o estacionamento está lotado de crise” e que as pessoas “que fazem fila nos restaurantes esperam que a crise desocupe uma mesa”. Esses são, e ele deveria saber, os privilegiados não atingidos pela crise.
Para os que, ao contrário, perderam o emprego ou tiveram a renda diminuída, e para os que sofrem com a inflação e são asfixiados pelos juros mais altos do mundo, as piadas não servem de alívio. Ofendem sua dignidade. Esses feridos pela crise não fazem fila nos restaurantes de luxo, e sim na porta dos hospitais públicos, cada vez mais empobrecidos. Fazem fila na porta das fábricas em busca de um emprego ou nos guichês dos bancos para pagar suas dívidas.
Podem-se discutir as possíveis causas que levaram o Brasil, após ter vivido anos de vacas gordas, a ser hoje rebaixado internacionalmente à categoria de “lixo”.
Pode-se discutir se essa crise é mais política que econômica. Pode-se especular sobre os responsáveis pela situação e sobre o que significa para o gigante americano ser, em vez de motor de crescimento e prosperidade do continente, a causa do encolhimento de seu PIB. O que não é admissível é elevar a crise à categoria de piada barata.
Escrevi tantas vezes nesta coluna que os jovens brasileiros são a melhor esperança deste país, por seu espírito empreendedor e sua capacidade criativa mundialmente reconhecida.
Dói, portanto, que seja um jovem como Luís Claudio, filho de quem tanto se esforçou para que o Brasil fosse reconhecido como o país que combateu as desigualdades econômicas e sociais, quem minimize a gravidade da crise. Uma crise que ameaça empurrar milhões de brasileiros, que haviam conseguido se livrar da fatalidade da pobreza, ao inferno de onde saíram.
Até para os incrédulos existem palavras e realidades revestidas de uma certa sacralidade que deve ser respeitada. Uma delas, sobre a qual não se permite nem ironia nem sarcasmo, é o sofrimento dos pobres. E a crise sofrida pelo Brasil, que é real e não imaginária, já está semeando angústia no presente e no futuro de tantas famílias que veem desmoronar as esperanças de melhora que tinham começado a desfrutar ou sonhar.
Brincar com a dor dos que não tiveram a sorte de nascer no berço dos privilegiados é um desafio arriscado. Na história, nada nunca foi tão perigoso como a ira dos deuses.
Pense num absurdo, no Brasil tem
A frase original do governador Otávio Mangabeira (1947 e 1951) é outra: “Pense num absurdo, na Bahia tem precedente”.
Não sei se foi o Brasil que habituou a Bahia a cultivar esse vezo ou se foi a Bahia que adotou o ritmo por ser brasileira, o que eu sei é que aqui acontecem coisas do arco da velha que, penso eu, não se vê em nenhum outro lugar do mundo.
Por exemplo, você conhece outro país onde um condenado, um presidiário em prisão domiciliar, um senador, possa continuar a atuar no Parlamento? Eu não conheço e peço, encarecidamente, se alguém conhecer que me informe, pois há um detalhe que está me intrigando muito: os votos dele valerão tanto quanto os de um senador sem nenhuma mancha em sua vida?
Outro exemplo: empreiteiras generosas reformam e enriquecem imóveis urbanos e campestres de um ex-presidente. Não esquecem nenhum detalhe, como antena parabólica para que os frequentadores não se privem do prazer de usar a TV, a Internet e telefones celulares.
De hoje em diante, não devemos mais dizer “isso foi um presente de pai para filho”. O certo será dizer “isso foi presente de empreiteira!”.
Outro detalhe curioso: será que existe curso para capacitar profissionalmente uma pessoa a viver como ‘operador de propina’ de uma empresa? Ou basta a indicação de um amigo? Pergunto por que fiquei tentadissima em me oferecer como ‘operadora de propina’ depois de ler sobre a mansão e a coleção de automóveis antigos do polonês Zwi Skornicki. Fora uma lancha, 48 obras de arte e os detalhes em seu facebook sobre viagens internacionais, paixão que ele cultiva com enorme prazer e com o bolso recheado.
Foi em casa desse afortunado senhor que a PF encontrou uma carta endereçada a ele e a seu filho Bruno que tinha como remetente ‘Monica Santana’, com endereço na Polis Propaganda, agência do marqueteiro do PT. Foi em decorrência dessas investigações iniciais, de 2014, que a PF chegou a Santana.
O casal João Santana foi detido e está em Curitiba. Chegaram sorridentes. Já depuseram e a lista de absurdos que disseram é muito longa para o espaço que aqui me cabe.
Mas há alguns que não posso deixar de mencionar:
- O marido declarou que não sabe nada dos dinheiros nem onde estão nem como foram aparecer em suas contas. Por quê? Porque ele é o artista, ele não lida com coisas chãs, ele lida com a arte de transformar seus candidatos em gente merecedora de votos! Um verdadeiro artista! A parte mercenária não é com ele;
- quem sabe tudo sobre as finanças é sua mulher Mônica Moura. Ela é a responsável pelas movimentações e que ele "não sabe dizer quais valores foram recebidos" na conta que era mantida como uma poupança para sua aposentadoria;
- o dinheiro que o operador de propinas lhes repassava era das campanhas de João Santana em outros países, como Angola, Venezuela, República Dominicana. É só uma tremenda coincidência serem países de dirigentes muito ligados aos petistas e onde a Odebrecht tem obras;
- segundo o ministro José Eduardo Cardozo os fatos que estão sendo investigados não têm nada a ver com a campanha de Dilma Rousseff em 2014!
Mas o mais belo absurdo para mim é a confissão de João Santana sobre os "eventuais conselhos de maneira esporádica” prestados ao governo federal e que não foram remunerados. Aos investigadores, ele disse que foi "um doador de serviços ao governo em razão do prazer que isso lhe gera e da facilidade que possui". (O Globo)
Nem Michelangelo trabalhou tanto e com tanto amor para os seis Papas que serviu. O florentino cobrava e cobrava bem.
João Santana é o verdadeiro artista. Ars Gratia Artis é o que ele merece como epitáfio.
Não sei se foi o Brasil que habituou a Bahia a cultivar esse vezo ou se foi a Bahia que adotou o ritmo por ser brasileira, o que eu sei é que aqui acontecem coisas do arco da velha que, penso eu, não se vê em nenhum outro lugar do mundo.
Por exemplo, você conhece outro país onde um condenado, um presidiário em prisão domiciliar, um senador, possa continuar a atuar no Parlamento? Eu não conheço e peço, encarecidamente, se alguém conhecer que me informe, pois há um detalhe que está me intrigando muito: os votos dele valerão tanto quanto os de um senador sem nenhuma mancha em sua vida?
Outro exemplo: empreiteiras generosas reformam e enriquecem imóveis urbanos e campestres de um ex-presidente. Não esquecem nenhum detalhe, como antena parabólica para que os frequentadores não se privem do prazer de usar a TV, a Internet e telefones celulares.
Outro detalhe curioso: será que existe curso para capacitar profissionalmente uma pessoa a viver como ‘operador de propina’ de uma empresa? Ou basta a indicação de um amigo? Pergunto por que fiquei tentadissima em me oferecer como ‘operadora de propina’ depois de ler sobre a mansão e a coleção de automóveis antigos do polonês Zwi Skornicki. Fora uma lancha, 48 obras de arte e os detalhes em seu facebook sobre viagens internacionais, paixão que ele cultiva com enorme prazer e com o bolso recheado.
Foi em casa desse afortunado senhor que a PF encontrou uma carta endereçada a ele e a seu filho Bruno que tinha como remetente ‘Monica Santana’, com endereço na Polis Propaganda, agência do marqueteiro do PT. Foi em decorrência dessas investigações iniciais, de 2014, que a PF chegou a Santana.
O casal João Santana foi detido e está em Curitiba. Chegaram sorridentes. Já depuseram e a lista de absurdos que disseram é muito longa para o espaço que aqui me cabe.
Mas há alguns que não posso deixar de mencionar:
- O marido declarou que não sabe nada dos dinheiros nem onde estão nem como foram aparecer em suas contas. Por quê? Porque ele é o artista, ele não lida com coisas chãs, ele lida com a arte de transformar seus candidatos em gente merecedora de votos! Um verdadeiro artista! A parte mercenária não é com ele;
- quem sabe tudo sobre as finanças é sua mulher Mônica Moura. Ela é a responsável pelas movimentações e que ele "não sabe dizer quais valores foram recebidos" na conta que era mantida como uma poupança para sua aposentadoria;
- o dinheiro que o operador de propinas lhes repassava era das campanhas de João Santana em outros países, como Angola, Venezuela, República Dominicana. É só uma tremenda coincidência serem países de dirigentes muito ligados aos petistas e onde a Odebrecht tem obras;
- segundo o ministro José Eduardo Cardozo os fatos que estão sendo investigados não têm nada a ver com a campanha de Dilma Rousseff em 2014!
Mas o mais belo absurdo para mim é a confissão de João Santana sobre os "eventuais conselhos de maneira esporádica” prestados ao governo federal e que não foram remunerados. Aos investigadores, ele disse que foi "um doador de serviços ao governo em razão do prazer que isso lhe gera e da facilidade que possui". (O Globo)
Nem Michelangelo trabalhou tanto e com tanto amor para os seis Papas que serviu. O florentino cobrava e cobrava bem.
João Santana é o verdadeiro artista. Ars Gratia Artis é o que ele merece como epitáfio.
Senhores empreiteiros, mirem-se no exemplo de Kátia Rabello e Marcos Valério
Na década de 80, uma música chatíssima de Chico Buarque chegou a fazer sucesso. Chamava-se “Mulheres de Atenas”. Era para uma peça de Augusto Boal, que deve ser o autor da letra. De modo irônico, as mulheres eram convidadas a se mirar no exemplo de suas congêneres de Atenas, sempre tão solícitas, doces, submissas, sem vontades, entregues aos caprichos de seus respectivos maridos.
Uma notícia desta quinta me leva a fazer um convite aos empreiteiros enrolados com o petrolão: “Mirem-se no exemplo da banqueira Kátia Rabello (Banco Rural) e do publicitário Marcos Valério”. Ela foi condenada, no processo do mensalão, a 16 anos e 8 meses de prisão; ele, a 40 anos, 1 mês e 6 dias, para ser preciso. Guardaram essa informação? Então vamos a outra.
Rodrigo Janot, procurador-geral da República se manifestou de forma favorável, atenção!, ao PERDÃO JUDICIAL para outras seis pessoas condenadas no escândalo do mensalão — quatro são políticos. Ficariam livres de cumprir o resto de suas respectivas penas os seguintes patriotas: Valdemar Costa Neto (PR-SP), Bispo Rodrigues (PR-RJ), Romeu Queiroz (PTB-MG) e Pedro Henry (PP-MT), além de Rogério Tolentino, que é ex-advogado do operador do esquema, e Vinicius Samarane, ligado ao núcleo financeiro.
Ah, sim: o mesmo Janot já se disse favorável ao perdão judicial para Delúbio Soares e João Paulo Cunha. Quem vai decidir é o ministro petizado do Supremo Roberto Barroso, que é o novo relator do mensalão.
Atenção!
Tão logo o senhor Barroso conceda o perdão judicial, não haverá mais nenhum político cumprindo pena por causa do mensalão. Dirceu está preso de novo, mas é por causa do petrolão. Sem esse novo enrosco, é provável que estivesse também na lista.
Então veja que coisa formidável! Dirceu à parte, mas por outra imputação, restarão em cana, por causa do mensalão, a banqueira e o publicitário-operador.
Fica-se, então, com a impressão de que a dupla é que foi peça-chave no escândalo e que o mensalão foi uma urdidura para atender a interesses financeiros. É como se o mensalão não tivesse sido uma maquinaria política para assaltar o Estado e a democracia.
Sim, eu sei que os indultos concedidos se encaixarão em critérios previstos em lei e em decreto padrão assinado por Dilma. Mas os políticos mensaleiros só serão beneficiados porque, obviamente, a condução do processo e a dosimetria das penas acabaram sendo extremamente duras com os empresários e frouxas com os políticos.
Os senhores empreiteiros que se mirem no exemplo das mulheres de Atenas… Ou melhor: no exemplo de Katia Rabello e Marcos Valério.
Tudo mais constante, num prazo de uns três anos a partir da condenação, não haverá nenhum político em regime fechado por causa do petrolão, mas alguns empreiteiros estarão mofando na cadeia, como se o esquema criminoso que está sendo desvendado não tivesse uma natureza principalmente política.
Os depoimentos de João Santana e de Mônica não deixam dúvida: o objetivo é livrar a cara dos políticos e mandar os empresários para o quinto dos infernos.
As mulheres de Atenas “secavam por seus maridos”… Pergunto aos empresários: vale a pena “secar” por Lula e Dilma?
Uma notícia desta quinta me leva a fazer um convite aos empreiteiros enrolados com o petrolão: “Mirem-se no exemplo da banqueira Kátia Rabello (Banco Rural) e do publicitário Marcos Valério”. Ela foi condenada, no processo do mensalão, a 16 anos e 8 meses de prisão; ele, a 40 anos, 1 mês e 6 dias, para ser preciso. Guardaram essa informação? Então vamos a outra.
Ah, sim: o mesmo Janot já se disse favorável ao perdão judicial para Delúbio Soares e João Paulo Cunha. Quem vai decidir é o ministro petizado do Supremo Roberto Barroso, que é o novo relator do mensalão.
Atenção!
Tão logo o senhor Barroso conceda o perdão judicial, não haverá mais nenhum político cumprindo pena por causa do mensalão. Dirceu está preso de novo, mas é por causa do petrolão. Sem esse novo enrosco, é provável que estivesse também na lista.
Então veja que coisa formidável! Dirceu à parte, mas por outra imputação, restarão em cana, por causa do mensalão, a banqueira e o publicitário-operador.
Fica-se, então, com a impressão de que a dupla é que foi peça-chave no escândalo e que o mensalão foi uma urdidura para atender a interesses financeiros. É como se o mensalão não tivesse sido uma maquinaria política para assaltar o Estado e a democracia.
Sim, eu sei que os indultos concedidos se encaixarão em critérios previstos em lei e em decreto padrão assinado por Dilma. Mas os políticos mensaleiros só serão beneficiados porque, obviamente, a condução do processo e a dosimetria das penas acabaram sendo extremamente duras com os empresários e frouxas com os políticos.
Os senhores empreiteiros que se mirem no exemplo das mulheres de Atenas… Ou melhor: no exemplo de Katia Rabello e Marcos Valério.
Tudo mais constante, num prazo de uns três anos a partir da condenação, não haverá nenhum político em regime fechado por causa do petrolão, mas alguns empreiteiros estarão mofando na cadeia, como se o esquema criminoso que está sendo desvendado não tivesse uma natureza principalmente política.
Os depoimentos de João Santana e de Mônica não deixam dúvida: o objetivo é livrar a cara dos políticos e mandar os empresários para o quinto dos infernos.
As mulheres de Atenas “secavam por seus maridos”… Pergunto aos empresários: vale a pena “secar” por Lula e Dilma?
João Santana e o PT
Estranhe não. Preferir a versão ao fato e a mentira à verdade não é opção incomum. Muitas vezes é o mais conveniente para quem faz a escolha. Negar verdade conhecida e desprezar fatos pode ser colo protetor onde consciências em conflito são acalentadas.
Por isso, entendo perfeitamente a atitude de quem, sem ser pago para tanto, prefere afirmar que nunca como nestes anos, o Brasil foi governado por seres tão generosos e movidos por tão virtuosas intenções. “Generosos que enriqueceram? Virtuosos que ocultaram suas reais intenções?”, perguntará o leitor já perdendo a paciência. E se fizer tais perguntas prepare-se para receber os rótulos de coxinha, golpista, fascista e inimigo dos pobres. Quem senta no colo da ilusão não está ali só pelo aconchego.
Escrevo estas linhas pensando no João Santana, publicitário do PT que acaba de ser preso. Existem publicitários que atuam em área protegida pelo direito do consumidor, cuja liberdade de criação está confinada pelos limites do que seja verdadeiro a respeito daquilo que promovem. Outros, porém, atuam na política, segmento de mercado não alcançado pelo direito à informação honesta. Mesmo assim, todos os profissionais sérios, que reconhecem ser a política mais importante do que o marketing eleitoral, têm como parte relevante de sua tarefa trabalhar o cliente para que ele faça o melhor de si mesmo.
Há publicitários assim, eu os conheço. E há o João Santana, marqueteiro do PT, muito bem sucedido na arte de vender lebre e entregar bichano. Em 2006, depois que a oposição optou por deixar o “Lula sangrar” até a eleição, o João estancou a hemorragia, suturou os cortes, refez a imagem e entregou Lula ao eleitor, puro como cristal da Boêmia. Em 2010, João (contando não se acredita!), convenceu a maioria dos eleitores de que Dilma era uma grande gestora, braço direito de Lula, estadista qualificada, mãe do PAC, padroeira do pré-sal. Em 2014, quando poucos ainda levavam a sério essa descrição, fez tudo de novo. Foi a simbiose instalada entre o marqueteiro João e o PT, a grande vitoriosa das três últimas eleições presidenciais brasileiras.
Estamos falando, aqui, de um talento a serviço do desastre nacional. E também falamos de um partido político que, ao montar um discurso, ao elaborar uma peça publicitária, como vimos há poucos dias, deixa de lado a verdade, os fatos, aponta para todos os lados e jamais – jamais! – em circunstância alguma, aponta para o próprio e comprometido peito. Perigoso, muito perigoso!
Percival Puggina
Por isso, entendo perfeitamente a atitude de quem, sem ser pago para tanto, prefere afirmar que nunca como nestes anos, o Brasil foi governado por seres tão generosos e movidos por tão virtuosas intenções. “Generosos que enriqueceram? Virtuosos que ocultaram suas reais intenções?”, perguntará o leitor já perdendo a paciência. E se fizer tais perguntas prepare-se para receber os rótulos de coxinha, golpista, fascista e inimigo dos pobres. Quem senta no colo da ilusão não está ali só pelo aconchego.
Escrevo estas linhas pensando no João Santana, publicitário do PT que acaba de ser preso. Existem publicitários que atuam em área protegida pelo direito do consumidor, cuja liberdade de criação está confinada pelos limites do que seja verdadeiro a respeito daquilo que promovem. Outros, porém, atuam na política, segmento de mercado não alcançado pelo direito à informação honesta. Mesmo assim, todos os profissionais sérios, que reconhecem ser a política mais importante do que o marketing eleitoral, têm como parte relevante de sua tarefa trabalhar o cliente para que ele faça o melhor de si mesmo.
Há publicitários assim, eu os conheço. E há o João Santana, marqueteiro do PT, muito bem sucedido na arte de vender lebre e entregar bichano. Em 2006, depois que a oposição optou por deixar o “Lula sangrar” até a eleição, o João estancou a hemorragia, suturou os cortes, refez a imagem e entregou Lula ao eleitor, puro como cristal da Boêmia. Em 2010, João (contando não se acredita!), convenceu a maioria dos eleitores de que Dilma era uma grande gestora, braço direito de Lula, estadista qualificada, mãe do PAC, padroeira do pré-sal. Em 2014, quando poucos ainda levavam a sério essa descrição, fez tudo de novo. Foi a simbiose instalada entre o marqueteiro João e o PT, a grande vitoriosa das três últimas eleições presidenciais brasileiras.
Estamos falando, aqui, de um talento a serviço do desastre nacional. E também falamos de um partido político que, ao montar um discurso, ao elaborar uma peça publicitária, como vimos há poucos dias, deixa de lado a verdade, os fatos, aponta para todos os lados e jamais – jamais! – em circunstância alguma, aponta para o próprio e comprometido peito. Perigoso, muito perigoso!
Percival Puggina
O naufrágio da confiança
A agência de classificação de risco Moody’s, a última a ter concedido o grau de investimento ao Brasil, em setembro de 2009, se tornou, na quarta-feira, a última a retirar do Brasil o selo de bom pagador. E o fez de forma drástica, fazendo a nota brasileira recuar dois degraus de uma vez só, e ainda por cima mantendo a perspectiva negativa, indicando que novos rebaixamentos podem ocorrer no futuro próximo. Se a reação do mercado financeiro não foi explosiva, isso se deve ao fato de uma decisão como essa já estar “precificada” (como se diz no jargão econômico) há algum tempo. Além disso, desde o ano passado o país já tinha perdido o grau de investimento na avaliação das outras duas grandes agências, a Fitch e a Standard and Poor’s.
Mas esse caráter tardio não significa que a decisão da Moody’s deve ser desprezada ou ignorada. É importante analisar o que aconteceu com a economia nacional no intervalo entre dezembro do ano passado, quando a Fitch foi a segunda agência a tirar do Brasil o grau de investimento, e agora. Esses dois meses foram os primeiros com a Fazenda sob o comando de Nelson Barbosa, um dos defensores da gastança desenfreada que ajudou a colocar o país na situação atual. Nesse tempo, a única ação do governo foi associar intimamente o sucesso do ajuste fiscal à aprovação da CPMF: sem o novo imposto o Brasil viveria o apocalipse, a julgar pelos discursos de ministros e até da presidente Dilma Rousseff. Tudo isso sem nenhum esforço autêntico de corte de gastos na inchada máquina pública.
Os rebaixamentos são alertas aos quais o governo não tem dado ouvidos
Na nota em que justifica a decisão, a Moody’s diz que o país vive “perspectiva de deterioração adicional dos indicadores de dívida do Brasil em um ambiente de baixo crescimento, com a dívida provavelmente excedendo 80% do PIB nos próximos três anos” – uma porcentagem perigosíssima, já que a dívida brasileira é contraída a juros altos, enquanto outros países com relação dívida/PIB muito maior, como Estados Unidos e Japão, pagam juros baixíssimos e conseguem honrar seus compromissos sem dificuldade. Para um país como o Brasil, dívida em crescimento disparado com PIB em queda é uma combinação insustentável no médio e longo prazo.
Some-se a esse cenário a tolerância governamental com déficits primários. Depois do rombo de R$ 111 bilhões em 2015, quase 2% do PIB (para se ter uma ideia do tamanho do fracasso, no início do ano passado a meta era de superávit primário de 1,1% do PIB em 2015), o ministro Nelson Barbosa lançou a ideia de uma “banda de flutuação” para o superávit, que poderia inclusive prever novos resultados negativos sem problema algum, em caso de arrecadação menor que a prevista no ano. Além disso, o Banco Central também tem sua credibilidade questionada depois da decisão de manter a Selic nos atuais 14,25% ao ano – não tanto pela taxa em si (pois até mesmo alguns economistas ditos ortodoxos já questionam a eficácia de juros ainda maiores em um cenário de recessão), mas pelas circunstâncias que a rondaram, como a incomum nota do presidente do BC, Alexandre Tombini, na véspera do anúncio da manutenção dos juros, e seu encontro com Dilma Rousseff dias antes da reunião do Copom – o governo tem interesse direto no fim do ciclo de aperto monetário, e o PT é crítico contumaz da elevação dos juros.
Infelizmente não há nada no horizonte que permita prever uma reversão deste quadro no futuro próximo. O controle da inflação, a julgar pelas decisões recentes, acabará sendo feito via desemprego, o que significa dias ainda mais sombrios para os brasileiros. Sem nenhuma disposição para o corte de gastos e sem apoio no Congresso e entre a população para elevar a carga tributária, a única saída do governo será endividar-se ainda mais. Os rebaixamentos são alertas; Dilma, Barbosa e os demais responsáveis pela crise não podem dizer que não sabiam de nada – o fato de não terem dado ouvidos aos avisos só aumenta sua culpa.
Mas esse caráter tardio não significa que a decisão da Moody’s deve ser desprezada ou ignorada. É importante analisar o que aconteceu com a economia nacional no intervalo entre dezembro do ano passado, quando a Fitch foi a segunda agência a tirar do Brasil o grau de investimento, e agora. Esses dois meses foram os primeiros com a Fazenda sob o comando de Nelson Barbosa, um dos defensores da gastança desenfreada que ajudou a colocar o país na situação atual. Nesse tempo, a única ação do governo foi associar intimamente o sucesso do ajuste fiscal à aprovação da CPMF: sem o novo imposto o Brasil viveria o apocalipse, a julgar pelos discursos de ministros e até da presidente Dilma Rousseff. Tudo isso sem nenhum esforço autêntico de corte de gastos na inchada máquina pública.
Os rebaixamentos são alertas aos quais o governo não tem dado ouvidos
Na nota em que justifica a decisão, a Moody’s diz que o país vive “perspectiva de deterioração adicional dos indicadores de dívida do Brasil em um ambiente de baixo crescimento, com a dívida provavelmente excedendo 80% do PIB nos próximos três anos” – uma porcentagem perigosíssima, já que a dívida brasileira é contraída a juros altos, enquanto outros países com relação dívida/PIB muito maior, como Estados Unidos e Japão, pagam juros baixíssimos e conseguem honrar seus compromissos sem dificuldade. Para um país como o Brasil, dívida em crescimento disparado com PIB em queda é uma combinação insustentável no médio e longo prazo.
Some-se a esse cenário a tolerância governamental com déficits primários. Depois do rombo de R$ 111 bilhões em 2015, quase 2% do PIB (para se ter uma ideia do tamanho do fracasso, no início do ano passado a meta era de superávit primário de 1,1% do PIB em 2015), o ministro Nelson Barbosa lançou a ideia de uma “banda de flutuação” para o superávit, que poderia inclusive prever novos resultados negativos sem problema algum, em caso de arrecadação menor que a prevista no ano. Além disso, o Banco Central também tem sua credibilidade questionada depois da decisão de manter a Selic nos atuais 14,25% ao ano – não tanto pela taxa em si (pois até mesmo alguns economistas ditos ortodoxos já questionam a eficácia de juros ainda maiores em um cenário de recessão), mas pelas circunstâncias que a rondaram, como a incomum nota do presidente do BC, Alexandre Tombini, na véspera do anúncio da manutenção dos juros, e seu encontro com Dilma Rousseff dias antes da reunião do Copom – o governo tem interesse direto no fim do ciclo de aperto monetário, e o PT é crítico contumaz da elevação dos juros.
Infelizmente não há nada no horizonte que permita prever uma reversão deste quadro no futuro próximo. O controle da inflação, a julgar pelas decisões recentes, acabará sendo feito via desemprego, o que significa dias ainda mais sombrios para os brasileiros. Sem nenhuma disposição para o corte de gastos e sem apoio no Congresso e entre a população para elevar a carga tributária, a única saída do governo será endividar-se ainda mais. Os rebaixamentos são alertas; Dilma, Barbosa e os demais responsáveis pela crise não podem dizer que não sabiam de nada – o fato de não terem dado ouvidos aos avisos só aumenta sua culpa.
Tamanho das manifestações de março decidirá o destino do governo
A prisão do marqueteiro João Santana e sua mulher Mônica Moura avisa que a Lava Jato tem provas de sobra de que Dilma foi reeleita com dinheiro sujo. Isso é mais do que suficiente para justificar o afastamento da presidente que manteve o emprego com a utilização de métodos criminosos. Sem que o segundo mandato tenha sequer começado, o governo acabou. A nau infestada de incompetentes e gatunos afunda cada vez mais rapidamente.
A gangrena acelerada pelo triplex do Guarujá e pelo sítio em Atibaia transformou Lula num cadáver adiado. As mobilizações do PT hoje juntam menos gente que procissão de vilarejo. A oposição partidária enfim começou a cumprir o dever de opor-se, até por entender que o Brasil devastado pela conjunção de crises não sobreviverá a mais três anos de domínio lulopetista sem danos irreparáveis.
Tudo somado, o que falta para que a nação comece a percorrer o caminho da salvação? Falta o povo nas ruas. O tamanho das manifestações de 13 de março decidirá o destino do governo. Se tiverem a mesma amplitude dos protestos ocorridos há quase um ano, a Era da Canalhice será sepultada antes que o outono chegue ao fim.
Se nada tem a ver com a corrupção, por que parecer que tem?
Tudo é possível neste governo. Mas em se tratando de assunto tão delicado, é de se supor que Ricardo Berzoini, o ministro-chefe da Secretaria de Governo, não diria o que disse sobre a Lava-Jato sem autorização prévia da presidente Dilma. Afinal, pelo do cargo estratégico que ocupa, ele é um dos homens de sua absoluta confiança.
Em entrevista à agência Reuters, Berzoini afirmou que as investigações da Lava Jato, comandadas pelo juiz Sérgio Moro, estão sendo conduzidas por uma “visão midiática e uma tentativa de criar um clima de constrangimento no país”.
Há uma tentativa de se fazer um “impeachment cautelar” para evitar a candidatura de Lula a presidente em 2018, acrescentou o ministro. “Algumas coisas no Brasil estão sendo tratadas de maneira muito precipitada”.
O entrevistador quis saber se ela fazia uma crítica direta ao juiz Moro. Berzoini respondeu:
- Claro que é uma crítica
É a primeira vez, informou a Reuters, que uma autoridade de alto escalão do governo faz críticas diretas ao modo como Moro conduz a Lava-Jato.
Depois de dizer que “o governo procura, como Poder Executivo, evitar que sua ação seja encarada como uma intromissão em outros poderes”, mas que ele como cidadão tinha “o direito de ter opinião”, o ministro comentou que considera muito “esquisita” a prisão do marqueteiro João Santana.
Por sinal, a ordem dentro do governo é para que ministros defendam Santana. Ele precisa se sentir amparado.
Para Berzoini, “o combate à corrupção tem que ser um objetivo nacional permanente. Mas em nome de nenhum objetivo nacional permanente se pode ignorar os pressupostos do Estado Democrático de Direito.”
Questionado então sobre por que nenhuma das decisões de Moro foi revertida em instâncias superiores da Justiça, o ministro observou: “É uma boa pergunta.” E nada mais respondeu.
O que Dilma imagina ganhar quando um dos seus ministros tromba diretamente com o brasileiro (Moro) que é, no momento, o mais admirado do país?
Se nada tem a ver com a corrupção apurada pela Lava-Jato, por que Dilma faz questão de parecer que teme a descoberta dos seus verdadeiros responsáveis?
Presidente esquisita!
Em entrevista à agência Reuters, Berzoini afirmou que as investigações da Lava Jato, comandadas pelo juiz Sérgio Moro, estão sendo conduzidas por uma “visão midiática e uma tentativa de criar um clima de constrangimento no país”.
Há uma tentativa de se fazer um “impeachment cautelar” para evitar a candidatura de Lula a presidente em 2018, acrescentou o ministro. “Algumas coisas no Brasil estão sendo tratadas de maneira muito precipitada”.
O entrevistador quis saber se ela fazia uma crítica direta ao juiz Moro. Berzoini respondeu:
- Claro que é uma crítica
É a primeira vez, informou a Reuters, que uma autoridade de alto escalão do governo faz críticas diretas ao modo como Moro conduz a Lava-Jato.
Por sinal, a ordem dentro do governo é para que ministros defendam Santana. Ele precisa se sentir amparado.
Para Berzoini, “o combate à corrupção tem que ser um objetivo nacional permanente. Mas em nome de nenhum objetivo nacional permanente se pode ignorar os pressupostos do Estado Democrático de Direito.”
Questionado então sobre por que nenhuma das decisões de Moro foi revertida em instâncias superiores da Justiça, o ministro observou: “É uma boa pergunta.” E nada mais respondeu.
O que Dilma imagina ganhar quando um dos seus ministros tromba diretamente com o brasileiro (Moro) que é, no momento, o mais admirado do país?
Se nada tem a ver com a corrupção apurada pela Lava-Jato, por que Dilma faz questão de parecer que teme a descoberta dos seus verdadeiros responsáveis?
Presidente esquisita!
A maldição do marqueteiro
Deputado Chico Alencar, então PT, chora ao saber da corrupção no PT. Era 2005 |
As lágrimas rolaram no carpete da Câmara. Na tarde de 11 de agosto de 2005, deputados da esquerda do PT choraram copiosamente no plenário. Eles estavam abalados com revelações de Duda Mendonça, marqueteiro da campanha que levou Lula à Presidência. Naquele dia, o publicitário admitiu à CPI dos Correios ter recebido R$ 11,9 milhões do partido no exterior. “Esse dinheiro era claramente de Caixa 2”, afirmou. O relato chocou petistas que ainda empunhavam a bandeira da ética na política.
“Nós nos sentimos apunhalados”, disse o deputado Chico Alencar. “Entramos em parafuso”, reforçou Ivan Valente. Desiludidos com o mensalão, os dois deixaram o PT. Onze anos depois, a maldição do marqueteiro volta a assombrar o partido.
A ordem de prisão de João Santana é mais um duro golpe no petismo. O publicitário foi responsável pelas últimas três campanhas presidenciais da sigla. Em 2014, ajudou a reeleger Dilma Rousseff com um bombardeio impiedoso aos adversários Marina Silva e Aécio Neves. Até ontem, continuava entre os únicos conselheiros ouvidos pela presidente.
A Lava Jato rastreou depósitos de US$ 7,5 milhões (cerca de R$ 30 milhões) numa offshore atribuída ao marqueteiro. O dinheiro foi repassado pela Odebrecht e por um lobista acusado de desvios no petrolão.
Em nota, João Santana disse que as acusações são “infundadas” e que o país vive um “clima de perseguição”. O juiz Sergio Moro viu “fundada suspeita” de que os pagamentos eram para “remunerar, com produto de acertos de propina em contratos da Petrobrás, serviços prestados ao Partido dos Trabalhadores”.
Ainda não está claro se o caso atingirá a campanha de Dilma, mas já é possível apontar ao menos uma diferença entre os escândalos com marqueteiros do PT. Há 11 anos, muitos políticos do partido tinham motivos sinceros para se chocar. Agora, ninguém pode mais derramar lágrimas de surpresa.
Turn key: O truque do marqueteiro com a Odebrecht
O advogado Fábio Tofic, que defende o marqueteiro João Santana e a esposa dele, Mônica Moura, foi claro: estabeleceu aos repórteres disse que ela admitiu ter recebido recursos da Odebrecht e do doleiro Zwi Skornicki no exterior. Mas negou que o dinheiro seja ilícito.
Segundo o advogado Fábio Tofic, João Santana “abriu esta conta em 1998 para receber recursos de uma campanha realizada na Argentina”. “Na época, achava que não tinha problema (em não declarar os pagamentos no Brasil), porque eram recursos recebidos em outro país”, justificou. Diz Tofic: os pagamentos feitos por Skornicki nesta conta são referentes a a quitação de dívidas por serviços prestados fora do Brasil, em países como Angola e Panamá.
Ele também disse que os pagamentos de US$ 4,5 milhões feitos pelo lobista, que atuou junto ao estaleiro Keppel, seriam uma “doação ao partido angolano”. “Era uma dívida antiga. Nessa área de marketing eleitoral, você demora para receber recursos. Ela (Mônica) disse que tinha este valor a receber, que cobrava insistentemente, e que foi informada de que deveria buscar este rapaz (Zwi Skornicki)”, explicou Tofic.
Bem: o truque de Santana é bem outro, apura a Lava Jato.
Eis o que diz a fonte desse blog:
“ Tem um termo em engenharia que é projeto turn key. Quando o contrato é turnkey a empreiteira entrega a obra totalmente pronta e equipada e o contratante só tem que ligar a chave. O Odebrecht estendeu o conceito a presidência da república. Em troca de obras superfaturadas vinha com projeto turnkey de presidência. O caixa dois e o marqueteiro e já entregava a presidência. É a típica tecnologia empresarial Odebrecht”
Guardem essa palavra: turn key
Há um verbete de wikipedia muito fraco sobre o que isso significa: mas dá dimensão à mamata: “ Chave na mão, ou turn key, é um tipo de operação empregada em processos licitatórios no qual a empresa contratada fica obrigada a entregar a obra em condições de pleno funcionamento. Tanto o preço do serviço quanto o prazo para entrega são definidos no próprio processo”.
João Santana é o homem da chave na mão: da chave da Presidência…
Segundo o advogado Fábio Tofic, João Santana “abriu esta conta em 1998 para receber recursos de uma campanha realizada na Argentina”. “Na época, achava que não tinha problema (em não declarar os pagamentos no Brasil), porque eram recursos recebidos em outro país”, justificou. Diz Tofic: os pagamentos feitos por Skornicki nesta conta são referentes a a quitação de dívidas por serviços prestados fora do Brasil, em países como Angola e Panamá.
Bem: o truque de Santana é bem outro, apura a Lava Jato.
Eis o que diz a fonte desse blog:
“ Tem um termo em engenharia que é projeto turn key. Quando o contrato é turnkey a empreiteira entrega a obra totalmente pronta e equipada e o contratante só tem que ligar a chave. O Odebrecht estendeu o conceito a presidência da república. Em troca de obras superfaturadas vinha com projeto turnkey de presidência. O caixa dois e o marqueteiro e já entregava a presidência. É a típica tecnologia empresarial Odebrecht”
Guardem essa palavra: turn key
Há um verbete de wikipedia muito fraco sobre o que isso significa: mas dá dimensão à mamata: “ Chave na mão, ou turn key, é um tipo de operação empregada em processos licitatórios no qual a empresa contratada fica obrigada a entregar a obra em condições de pleno funcionamento. Tanto o preço do serviço quanto o prazo para entrega são definidos no próprio processo”.
João Santana é o homem da chave na mão: da chave da Presidência…
À espera do impeachment
Indaga-se quanto tempo, ou quantos dias, levará a presidente Dilma sem surpreender-se uma única manhã com o noticiário dos jornais referente a escândalos, roubalheiras, desfalques e sucedâneos. Melhor marcar o ano inteiro, sem interregnos.
Virando o jogo, um casal armou a doação de um Land Rover a um bancário, vários banqueiros ou muitos funcionários. Um banco abriu créditos fajutos para operações ocultas. Trocaram-se mensagens falsas entre estabelecimentos financeiros fictícios.
Multiplique-se por mil cada uma dessas operações ocorridas à vista de cada um.
Admita-se a impunidade como inerente à vida dos povos e das nações e, mesmo assim, haverá limite. Porque desde a chegada do PT ao poder cresceu a impossibilidade de uma vida em sociedade como a conhecíamos. O menino vai ao colégio, perde o relógio, o telefone ou os trocados. O jovem atravessa a rua é agredido pela gangue adversa. Na faculdade a aluna corre o risco de estupro. Na caixa registradora ou no balcão o funcionário é assaltado, assim como no posto de gasolina o frentista vê-se esfaqueado. No banco, levam-lhe a féria sem que apareça um guarda pare defende-lo. No restaurante, é roubado pelo ladrão ou pelo dono.
Virando o jogo, um casal armou a doação de um Land Rover a um bancário, vários banqueiros ou muitos funcionários. Um banco abriu créditos fajutos para operações ocultas. Trocaram-se mensagens falsas entre estabelecimentos financeiros fictícios.
Multiplique-se por mil cada uma dessas operações ocorridas à vista de cada um.
Ufanismo de pixuleco
A semana passada foi especialmente repugnante na crônica lulopetista. O jeca farsante cavou uma fuga vergonhosa para adiar o encontro com a justiça; o banditismo degenerado em lulolatria mostrou, na pancadaria em frente ao Fórum Criminal da Barra Funda onde o ídolo de lodo deporia, do que é capaz para defendê-lo; reforçou-se o feixe bolivariano no STF e na PGR para, imolando o país, salvar os nefastos Lula e Dilma enquanto as leis e o país que se danem.
Aquela que era uma rainha para o marqueteiro agora preso se agarrou a um obscuro Picciani mostrando o estado terminal do governo ilegal, além de, ao tirar Marcelo Castro – e não que o ministro seja algo mais do que imprestável para a nação – por um dia do ministério da saúde, ter simbolizado todo o desprezo que devota não somente à saúde pública com que têm de se virar os brasileiros que bancamos um Sírio Libanês para a governante degenerada, mas a tudo que nos interessa.
No programa do PT na TV, o incurável ególatra em decomposição, num ufanismo de pixuleco, anunciou que o Brasil é o melhor Brasil do mundo e afirmou que confia mais neste Brasil de agora do que naquele da época em que tomou posse: eu também, afinal, aquele lhe daria mais de uma década de poder, enquanto o de agora, embora não se espante mais com a degeneração revelada dia a dia, não aguenta mais estas caras, estes caras, estas vozes, esta ladainha, este cheiro, estes gostos, este desgosto: esta escória.
O chocante na súcia potente na escalada da abjeção é a capacidade de se suportar abolindo códigos mínimos civilizatórios, de aguentar a própria existência deteriorada sem tratar por um mísero dia e com um mínimo de respeito o país que degrada fingindo amá-lo. Mas o texto do programa do PT, embora péssimo – é preciso unir forças para fortalecer o país –, é correto: em março passado, a nação exausta tomou as ruas na maior manifestação do tipo depois das Diretas Já e sem os desdobramentos dramáticos da Lava Jato; neste 13 de março, que a pressão popular se una a esta revolução, como bem definiu José Roberto Guzzo, e force o fortalecimento de um Brasil menos primitivo exigindo a destituição do governo ilegal, a prisão do jeca e a extinção do PT.
Concordo com Guzzo, mas, na solidão institucional a que a oposição oficial relegou os indignados, o regime lulopetista teria aniquilado a Lava Jato antes que ela se tornasse revolucionária se não houvesse o jornalismo independente. Os textos em que registro minha indignação permanente são somente um jeito pessoal de resistência ao primitivismo pela qual voltarei às ruas no dia 13 de março e mais mil vezes voltaria; quanto à turma que acha que tudo não adianta nada, só um lembrete: ainda bem que o pessoal da nossa revolucionária Lava Jato discorda.
Aquela que era uma rainha para o marqueteiro agora preso se agarrou a um obscuro Picciani mostrando o estado terminal do governo ilegal, além de, ao tirar Marcelo Castro – e não que o ministro seja algo mais do que imprestável para a nação – por um dia do ministério da saúde, ter simbolizado todo o desprezo que devota não somente à saúde pública com que têm de se virar os brasileiros que bancamos um Sírio Libanês para a governante degenerada, mas a tudo que nos interessa.
No programa do PT na TV, o incurável ególatra em decomposição, num ufanismo de pixuleco, anunciou que o Brasil é o melhor Brasil do mundo e afirmou que confia mais neste Brasil de agora do que naquele da época em que tomou posse: eu também, afinal, aquele lhe daria mais de uma década de poder, enquanto o de agora, embora não se espante mais com a degeneração revelada dia a dia, não aguenta mais estas caras, estes caras, estas vozes, esta ladainha, este cheiro, estes gostos, este desgosto: esta escória.
O chocante na súcia potente na escalada da abjeção é a capacidade de se suportar abolindo códigos mínimos civilizatórios, de aguentar a própria existência deteriorada sem tratar por um mísero dia e com um mínimo de respeito o país que degrada fingindo amá-lo. Mas o texto do programa do PT, embora péssimo – é preciso unir forças para fortalecer o país –, é correto: em março passado, a nação exausta tomou as ruas na maior manifestação do tipo depois das Diretas Já e sem os desdobramentos dramáticos da Lava Jato; neste 13 de março, que a pressão popular se una a esta revolução, como bem definiu José Roberto Guzzo, e force o fortalecimento de um Brasil menos primitivo exigindo a destituição do governo ilegal, a prisão do jeca e a extinção do PT.
Concordo com Guzzo, mas, na solidão institucional a que a oposição oficial relegou os indignados, o regime lulopetista teria aniquilado a Lava Jato antes que ela se tornasse revolucionária se não houvesse o jornalismo independente. Os textos em que registro minha indignação permanente são somente um jeito pessoal de resistência ao primitivismo pela qual voltarei às ruas no dia 13 de março e mais mil vezes voltaria; quanto à turma que acha que tudo não adianta nada, só um lembrete: ainda bem que o pessoal da nossa revolucionária Lava Jato discorda.
A estupidez humana
Nós passamos as nossas vidas a lutar para conseguir que pessoas ligeiramente mais estúpidas que nós aceitem as verdades que os grandes homens conheceram desde sempre. Já há milhares de anos que eles sabiam que fechar uma pessoa doente num ambiente solitário torna-a ainda pior. Já há milhares de anos que eles sabiam que um homem pobre que é assustado, pelo seu patrão, e pela polícia, é um escravo. Eles sabiam. Nós sabemos. Mas será que a granda massa iluminada dos britânicos o sabem? Não. É o nosso dever, Ella, o teu e o meu, de lhes dizer. Porque os grandes homens são demasiado grandes para serem incomodados. Estão já a descobrir como colonizar Vénus e como irrigar a Lua. Isso é que é o mais importante para o nosso tempo. Tu e eu somos os empurradores da pedra. Todas as nossas vidas, tu e eu, temos que empregar as nossas energias, e todo o nosso talento, a empurrar uma enorme pedra por uma montanha acima. A pedra é a verdade que os grandes homens sabem por instinto, e a montanha é a estupidez da humanidade.Doris Lessing, The Golden Notebook
São quatro crises
Os mais pobres não foram tirados apenas dos aviões. Foram também afastados dos supermercados e dos shoppings
Em janeiro deste ano, os brasileiros gastaram apenas US$ 800 milhões em viagens internacionais, contra mais de US$ 2 bilhões no mesmo mês de 2015.
A diferença, primeiro, está no dólar, cotado a R$ 2,60 um ano atrás, contra os R$ 4 de hoje. Com essa taxa de câmbio, só rico e classe média alta podem pagar.
Sim, já sabemos a resposta de Lula: tudo culpa da crise internacional que desvalorizou a moeda dos emergentes. Verdade que houve uma desvalorização geral, mas por que o real caiu mais, muito mais, que as outras?
Por causa dos equívocos da política econômica de Dilma, cujos primeiros passos foram dados no segundo governo Lula. Com uma recessão, que gera desemprego e medo nos que continuam empregados; e com uma inflação que come o poder de compra das famílias, os mais pobres não foram tirados apenas dos aviões. Foram também afastados dos supermercados e dos shoppings.
Prova? A queda das vendas no varejo.
Se, como diz Lula, os ricos e brancos ficaram incomodados com a chegada do “nosso povo” ao mercado, agora deveriam estar muito satisfeitos com Dilma e o PT por estarem tirando os mais pobres desse mesmo mercado.
Também aqui dá para antecipar a resposta de Lula e seu pessoal. Aliás, já estão dizendo que Dilma se distanciou do PT, quase que aderiu ao neoliberalismo.
É verdade que a presidente anda dizendo algumas coisas de que o PT não gosta — tipo reforma da Previdência — mas, vamos reparar: a política econômica que trouxe o país até esta crise, a “nova matriz”, é puro PT e bolivarianismo. Tanto é que muitos petistas estão pedindo que Dilma volte à política que teria sido abandonada desde o ano passado, trocada pelo ajuste fiscal.
Mas qual ajuste? O gasto público aumentou; o déficit aumentou; a dívida bruta aumentou e continua subindo. Isso só é ajuste na cabeça do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que ontem, aliás, saiu com uma das melhores piadas do ano.
A agência Moody’s rebaixou a nota do Brasil, retirando o selo de bom pagador, exatamente pela deterioração das contas públicas e pela falta de políticas efetivas e de um compromisso firme em atacar esse problema essencial.
Pois a Fazenda respondeu que o rebaixamento “não altera o comprometimento (do governo) com o ajuste fiscal”. Quer dizer que o ajuste é esse mesmo que está aí?
Sim, o ministro está propondo um pacotão — algo insuficiente e politicamente inviável que, se produzisse efeito, seria muito lá na frente. Enquanto no momento toma medidas que aumentam o endividamento do governo federal e dos estados.
Só dá para entender esse raciocínio (?) se a gente levar em conta as palavras do vice-presidente Michel Temer. Ele disse ontem que há muito pessimismo por aqui e que o pessoal fala em crise num sentido muito geral, sem especificar se é administrativa, política ou econômica.
Na verdade, os analistas especificam muito bem. Basta ler, por exemplo, o relatório da Moody’s. Mas - quer saber? — nem precisava. Estamos com as três modalidades.
O governo é ruim no administrativo. Basta ver quantos ministros foram trocados, quantas medidas, como o leilão de rodovias e aeroportos, que não são implementadas por pura incompetência.
Na economia, a crise também é muito específica. Temos inflação alta, recessão brava e endividamento público crescente, com juros na lua.
E precisa especificar a crise política? Precisa dizer que a Lava-Jato está derrubando o governo e, aliás, ameaça derrubar o próprio Temer no Tribunal Superior Eleitoral?
Na verdade, são quatro crises: as três já citadas e a mental, de falta de lógica mesmo.
Tudo bobagem, diria Temer, o país precisa de uma dose de otimismo, especialmente dos empresários e investidores, ou seja, das elites. Mas se Lula tem razão, essas elites estão contra e não vão ajudar.
Aliás, está aí mais um sinal específico da crise. As elites no governo não se entendem e não sabem como sair dela.
Carlos Alberto Sardenberg
Se fosse verdade, como disse Lula, que tem uma elite aqui no Brasil “que não gosta de dividir a poltrona do avião com o nosso povo”, então essa elite deveria estar apoiando a presidente Dilma. O povo já foi colocado para fora dos aviões, como mostram os dados do Banco Central, aliás divulgados na mesma terça-feira em que Lula atacava os opositores do governo.
Em janeiro deste ano, os brasileiros gastaram apenas US$ 800 milhões em viagens internacionais, contra mais de US$ 2 bilhões no mesmo mês de 2015.
A diferença, primeiro, está no dólar, cotado a R$ 2,60 um ano atrás, contra os R$ 4 de hoje. Com essa taxa de câmbio, só rico e classe média alta podem pagar.
Sim, já sabemos a resposta de Lula: tudo culpa da crise internacional que desvalorizou a moeda dos emergentes. Verdade que houve uma desvalorização geral, mas por que o real caiu mais, muito mais, que as outras?
Por causa dos equívocos da política econômica de Dilma, cujos primeiros passos foram dados no segundo governo Lula. Com uma recessão, que gera desemprego e medo nos que continuam empregados; e com uma inflação que come o poder de compra das famílias, os mais pobres não foram tirados apenas dos aviões. Foram também afastados dos supermercados e dos shoppings.
Prova? A queda das vendas no varejo.
Se, como diz Lula, os ricos e brancos ficaram incomodados com a chegada do “nosso povo” ao mercado, agora deveriam estar muito satisfeitos com Dilma e o PT por estarem tirando os mais pobres desse mesmo mercado.
Também aqui dá para antecipar a resposta de Lula e seu pessoal. Aliás, já estão dizendo que Dilma se distanciou do PT, quase que aderiu ao neoliberalismo.
É verdade que a presidente anda dizendo algumas coisas de que o PT não gosta — tipo reforma da Previdência — mas, vamos reparar: a política econômica que trouxe o país até esta crise, a “nova matriz”, é puro PT e bolivarianismo. Tanto é que muitos petistas estão pedindo que Dilma volte à política que teria sido abandonada desde o ano passado, trocada pelo ajuste fiscal.
Mas qual ajuste? O gasto público aumentou; o déficit aumentou; a dívida bruta aumentou e continua subindo. Isso só é ajuste na cabeça do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que ontem, aliás, saiu com uma das melhores piadas do ano.
A agência Moody’s rebaixou a nota do Brasil, retirando o selo de bom pagador, exatamente pela deterioração das contas públicas e pela falta de políticas efetivas e de um compromisso firme em atacar esse problema essencial.
Pois a Fazenda respondeu que o rebaixamento “não altera o comprometimento (do governo) com o ajuste fiscal”. Quer dizer que o ajuste é esse mesmo que está aí?
Sim, o ministro está propondo um pacotão — algo insuficiente e politicamente inviável que, se produzisse efeito, seria muito lá na frente. Enquanto no momento toma medidas que aumentam o endividamento do governo federal e dos estados.
Só dá para entender esse raciocínio (?) se a gente levar em conta as palavras do vice-presidente Michel Temer. Ele disse ontem que há muito pessimismo por aqui e que o pessoal fala em crise num sentido muito geral, sem especificar se é administrativa, política ou econômica.
Na verdade, os analistas especificam muito bem. Basta ler, por exemplo, o relatório da Moody’s. Mas - quer saber? — nem precisava. Estamos com as três modalidades.
O governo é ruim no administrativo. Basta ver quantos ministros foram trocados, quantas medidas, como o leilão de rodovias e aeroportos, que não são implementadas por pura incompetência.
Na economia, a crise também é muito específica. Temos inflação alta, recessão brava e endividamento público crescente, com juros na lua.
E precisa especificar a crise política? Precisa dizer que a Lava-Jato está derrubando o governo e, aliás, ameaça derrubar o próprio Temer no Tribunal Superior Eleitoral?
Na verdade, são quatro crises: as três já citadas e a mental, de falta de lógica mesmo.
Tudo bobagem, diria Temer, o país precisa de uma dose de otimismo, especialmente dos empresários e investidores, ou seja, das elites. Mas se Lula tem razão, essas elites estão contra e não vão ajudar.
Aliás, está aí mais um sinal específico da crise. As elites no governo não se entendem e não sabem como sair dela.
Carlos Alberto Sardenberg
Entidades pedem derrubada do veto presidencial por perda no SUS
Diversas entidades se reuniram para pedir a derrubada do veto da presidente Dilma Rousseff ao parágrafo 8º do art. 38 da Lei de Diretrizes Orçamentárias da União de 2016. Para elas, na prática, o veto impõe perdas ao Sistema Único de Saúde (SUS) de cerca de R$ 10 bilhões em 2016. Em nota, as entidades afirmam que o veto significa iminente perigo para a saúde pública brasileira no corte do seu orçamento federal deste ano.
O parágrafo em questão determinava que durante o exercício de 2016, o montante a ser aplicado em ações e serviços públicos de saúde não poderá ser inferior ao valor resultante da aplicação da regra constante do art. 5º da Lei Complementar no 141, de 2012. A previsão é que o Congresso Nacional comece a analisar o tema no início de março.
Na justificativa para o veto, a presidente afirmou que o dispositivo determinaria ao Poder Executivo a utilização de cálculo do valor mínimo de aplicação em ações e serviços públicos de saúde diferente do previsto na Emenda Constitucional no 86, de 17 de março de 2015, criando assim um contexto normativo de insegurança jurídica que seria prejudicial para as ações nessa área.
Para o conjunto de entidades, no entanto, o dispositivo vetado assegurava que não haveria qualquer perda para o custeio do Sistema Único de Saúde (SUS) – na transição da regra de gasto mínimo federal em saúde da Emenda Constitucional nº 29/2000 (EC 29) para o novo patamar dado pela Emenda nº 86/2015 (EC 86) – porque o atual piso não poderia ser inferior ao valor resultante da aplicação da regra anterior.
“A substituição da regra que vigorava desde 2000 (EC 29) de cálculo anual pela variação nominal do PIB dos recursos da saúde pelo novo regime de porcentuais sobre a receita corrente líquida (RCL) impõe à saúde perda aproximadamente de R$ 10 bilhões para 2016”, aponta nota, que explica que o dispositivo vetado da LDO pretendia exatamente cobrir tal diferença negativa entre os pisos de custeio para o SUS, para que não houvesse qualquer risco de queda!
O parágrafo 8º do art. 38 se originou no Congresso Nacional como precaução, portanto, contra retrocessos no custeio do SUS. Esse dispositivo foi inserido no Substitutivo ao projeto de LDO/2016 pela Comissão Mista de Orçamento, após os parlamentares haverem acolhido pleito do Conselho Nacional de Saúde e do movimento de defesa do SUS.
Para as entidades, o Brasil, às vésperas das Olimpíadas de 2016 no Rio, apresentará ao mundo corte nos recursos do SUS, em um momento de enfrentamento de situação de iminente perigo para a sociedade em decorrência da presença alarmante do mosquito Aedes Aegypti, transmissor dos vírus da dengue, chikungunya e zika.
Por causa da Emenda Constitucional 86, de 2015 e do veto, as entidades afirmam que o patamar histórico de serviços e atendimentos do SUS sofrerá contingenciamentos, remanejamentos orçamentários e reprogramações financeiras no nível da União, o que trará severo impacto para os Estados, Municípios e Distrito Federal. “Tragicamente, o risco é de que seja priorizado o combate emergencial dos criadouros do mosquito Aedes Aegypti, enquanto se desestruturará o financiamento federativo das demais ações e serviços de saúde”, explicam.
Para as entidades, o que estará em jogo 2016 não são apenas as medalhas olímpicas, mas as vidas de todos os cidadãos, brasileiros ou estrangeiros, que não podem sofrer riscos epidemiológicos e sanitários de toda sorte por força de um corte orçamentário tão abusivo. “Vamos garantir vitória à saúde em primeiro lugar porque isso, sim, é cidadania e legado olímpico”, afirma.
Dyelle Menezes - Contas Abertas
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