terça-feira, 24 de maio de 2016

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Sapiens x Abelhas

Quando estava na minha primeira faculdade, passamos por uma longa greve de estudantes. No início, ia às assembleias discutir a razão de achar aquela greve inútil. Entre elas, a mais evidente era: estudantes de uma universidade pública (ou não) em greve nada importam para o dia a dia da cidade, por isso podem ficar 30 anos em greve. O único dano é aos colegas que querem avançar na vida.

Mas o que mais chamava minha atenção era como alguns colegas em bloco esvaziavam a assembleia até que só eles estivessem nela e votassem pela continuidade da greve. Golpe? Isso sim é golpe.

Entretanto, outra coisa também me chamava atenção: como gritavam frases feitas como se fossem um coral furioso. Hoje sabemos o que aquilo era: o nascimento dessa nova moda e praga chamada "coletivo". Não me refiro a transporte coletivo, como quando se diz "aí vem o coletivo". Refiro-me a um conjunto de estudantes (mas pode também ser de artistas ou similares) que se autodenominam "coletivo".


A ideia é que formam um coletivo no qual todos são iguais. Pensam em coletivo, falam em coletivo, agem em coletivo, assinam em coletivo. Recentemente, um professor de uma importante universidade brasileira teve dificuldade de se comunicar com um "aluno" (vai saber o que ele ou ela era de fato) porque ele ou ela se recusava a se identificar na comunicação escrita, já que ele –ou ela– não era uma "pessoa", mas um coletivo.

Imagino que, em cem anos, essa modinha será incluída no conjunto de psicopatologias da virada do século 20 para o 21, época que será vista pela sociologia do futuro como uma era de ressentidos e mimados: a mania por coletivos será classificada como ódio patológico à individualidade, suas responsabilidades e contradições.

Freud classificaria como um estágio da pulsão de morte, seguramente. Para o criador da psicanálise, a pulsão busca sempre uma posição regressiva. No caso da pulsão de morte, ela busca o "repouso na pedra". Na matéria inorgânica.

No caso dos coletivos, ela busca o repouso na destruição do "eu". Na dissolução do "eu" na manada.

Elias Canetti, intelectual judeu búlgaro que estudou as multidões (além do próprio Freud, claro), já apontava a dissolução do "eu" na manada, na "mancha" disforme da multidão. Há um prazer mórbido em se sentir parte de um coletivo: a morte do sujeito moderno, esse atormentado.

O fenômeno dos coletivos é um traço regressivo no embate com a solidão do homem moderno. É uma tentativa, canhestra e primitiva, de "voltar ao útero materno" para ver se o ruído insuportável da realidade disforme do mundo se dissolve porque grito palavras de ordem ou faço coisas pelas quais eu mesmo não sou responsabilizado, mas o "coletivo", essa "pessoa" indiferenciada que não existe.

A indiferenciação num todo sempre foi uma forma de gozo regressivo, de algum modo. As políticas utópicas socialistas históricas carregaram essa marca nelas. Além do mesmo ódio pelo indivíduo, que tentaram matar a todo custo. No fenômeno místico, visto pelos olhos do "sentimento oceânico", como cita Freud, há também um gozo, que pode desaguar em terroristas islâmicos ou dervixes sufis maravilhosos.

O filósofo inglês do século 20 Michael Oakeshott escreveu sobre como ser indivíduo ("projeto" burguês que deu errado) é quase impossível para a maioria das pessoas, justamente pela sua solidão intrínseca e pelas suas contradições.

Oakeshott descreveu inclusive o surgimento de movimentos "anti-indivíduos", que seriam marcados por totens. Esses totens poderiam ser pessoas carismáticas ou ideias que reuniriam massas de pessoas indiferenciadas e furiosas contra os indivíduos vistos por elas como egoístas, sujos, metidos e arrogantes, por serem "contra o coletivo". Acertou em cheio.

Fosse eu escrever um argumento ou roteiro para um curta, escreveria sobre como abelhas evoluíram no seu amor à colmeia, chegando aos coletivos de hoje em dia. E na fúria que caracteriza as abelhas quando você se aproxima da colmeia e da sua rainha, essas abelhas evoluídas odiariam o sapiens, e suas contradições sem fim.

Luiz Felipe Pondé

A desativação do homem-bomba avisa que Temer ouviu a voz das ruas

O balanço da primeira semana de governo informa que o presidente Michel Temer acertou na escolha da equipe econômica, na mudança de rota da política externa e na recriação do Ministério da Cultura, que confiscou das carpideiras do PT o cadáver indispensável. Removido o pretexto para a choradeira, o coro dos cantores federais teve de contentar-se com a lengalenga que finge enxergar um “golpe parlamentar” no impeachment de Dilma Rousseff. Os acertos compensaram amplamente os erros de avaliação política. Dois deles: a ausência de mulheres no ministério e a nomeação de um prontuário ambulante para o posto de líder do governo na Câmara.

Esse saldo assegurado, repita-se, pelos trabalhos de parto do plano econômico reclamado pela crise devastadora e pelo enterro da diplomacia da canalhice estaria reduzido a pó se Romero Jucá fosse dormir ainda ministro. Não porque a turma do quanto pior, melhor conseguiria fôlego para mais algumas horas de gritaria. Esses são um bando de derrotados sem horizontes (e, daqui a pouco, sem emprego nem mesada). O que o afastamento de Jucá impediu foi a reação justificadamente colérica de milhões de brasileiros exaustos de ladroagem, cinismo e sem-vergonhice.

O Brasil decente aprendeu que não pode haver bandido de estimação e que todo corrupto merece cadeia, sejam quais forem o tamanho da conta bancária, o estado civil ou opção sexual. O que já se sabia do senador por Roraima era suficiente para fazer de sua presença no coração do poder uma aposta de altíssimo risco. As conversas telefônicas divulgadas pela Folha confirmaram que Temer teve a seu lado, durante 10 dias, um homem-bomba com teor explosivo capaz de explodir o governo recém-nascido.

O comportamento do presidente no bota-fora de Jucá demarcou outra fronteira que o separa de Dilma e Lula. Em episódios semelhantes, o padrinho e a afilhada sempre tentaram varrer para baixo do tapete a sujeira produzida por bandidos companheiros. Hoje estão todos juntos no mesmo lixão.

O despejo de Jucá eliminou o perigo real e imediato. É preciso agora remover as muitas minas terrestres que continuam espalhadas pela Esplanada dos Ministérios. Pelo visto, Temer ouviu a voz das ruas. E compreendeu que, no Brasil redesenhado pela Lava Jato, não há esperança de salvação para governantes que protetores de delinquentes. Quem não enxergar tal evidência terá o mesmo fim de Dilma e Lula.

A Cultura encontrou seu lugar. Só falta priorizá-la

A questão do Ministério da Cultura está ocupando espaço na imprensa. Há quem defenda a sua permanência no status que ocupou nos últimos anos e também quem a veja, no outro extremo, bem posicionada no Ministério da Educação, como uma secretaria especial. Esta foi a posição em que esteve por muitas décadas, quando o Ministério era conhecido como da Educação e Cultura, o MEC. Confesso que não entendo o objetivo do debate porque, para mim, o principal aspecto a considerar é o da prioridade que será dada a recuperação da cultura brasileira, relegada a um plano secundário nos últimos tempos, vítima do contingenciamento de recursos, do estado de penúria dos museus e das igrejas, patrimônios físicos da história do Brasil, e da incapacidade de alguns dirigentes em dar valor às tradições, representadas por grupos folclóricos, pelo artesanato e por manifestações populares que enriquecem a nossa história e que correm o risco de se perder.

A cultura é um conjunto de características própria de cada região, que englobam, além das artes e das letras, a vida diária, em suas múltiplas facetas, as tradições, os valores locais e as crenças e sincretismos. Todos devem ser preservados, para que as transformações se realizem em harmonia com os hábitos, as vocações e as peculiaridades locais.

É importante compreender que as manifestações culturais assumem uma grande dimensão, que extravasa as atividades realizadas nos grandes centros urbanos. Aparecem, por exemplo, com os ceramistas, os artesãos da madeira e as danças folclóricas, e com a arte indígena. Também são encontradas com os ritmos afro e com o candomblé. Em algumas regiões, são famosos os tapetes, as rendas e as toalhas e até a culinária, pois não conheço quem não goste da moqueca capixaba. Nas Regiões Sul e Sudeste a importante presença dos imigrantes italianos, alemães, poloneses, e japoneses, que há mais de um século são determinantes para o nosso progresso, vem deixando uma grande legado para os valores nacionais. Ao incorporarem as suas próprias culturas às tradições locais, eles deram uma outra cor à história do Brasil.

Este são os grandes desafios na construção de políticas culturais: descentralizar as ações, com o necessário equilíbrio, para que elas cheguem à todas as regiões levando também a geração de emprego e renda; identificar tudo aquilo que deve ser preservado e estimular a continuidade das manifestações e das contribuições artisticas que são carcterizadoras das comunidade, dos municípios e das regiões

Cultura e educação se entrelaçam e se realimentam, pois a construção de ambas dependerá sempre de pessoas bem formadas, com os níveis de escolaridade adequados. Mas a primeira também tem uma ligação estreita com as iniciativas empreendedoras, na medida em que tais manifestações são determinantes para a geração de políticas de emprego e renda, tanto nos setores tradicionais, como por meio da economia criativa, ainda carente de incentivos. Se as políticas culturais dependessem apenas de quem oferece mais recursos, provavelmente deveríamos subordinar a área ao SEBRAE, que tem apoiado concretamente artesãos e o empreendedorismo cultural em todos os Estados. Certamente isto seria um absurdo, pois tais políticas vão muito além do financiamento.

Por isso, considero irrelevante discutir onde ela ficará. Entretanto, enquanto escrevia este artigo, o Presidente da República resolveu dar uma ajuda e decidiu recriar o Ministério da Cultura. Dessa forma, pude, prudentemente, sair do debate até agora em curso e direcioná-lo para aquilo que me parece mais importante. É urgente definir como a cultura vai ser financiada, qual o grau de prioridade no seu processo de articulação com a educação e com outras áreas, bem como com o desenvolvimento local. Também não pode ser esquecida a definição de critérios, mais eficazes, transparentes e justos, a serem adotados na aplicação da Lei Rouanet, este notável mecanismo de renúncia fiscal que viabiliza diversas dessas manifestações culturais.

Dilma é tão despreparada para ser presidente quanto para deixar de ser

Na primeira semana do Governo Temer, fruindo o silêncio melodioso que ecoava da boca fechada e da figura sumida do jeca, também silenciei um pouco. Uma pedra desvitalizou meu texto, aquela que Drummond viu no meio do caminho. Como todo sonho, essa coisa que abre caminho para a realidade, livrar a nação da escória que o desgraçou exige tempo até que se torne um fato.

Um fato não é de direita nem de esquerda: um fato é um fato. A lição básica de discernimento vem de Karl Marx, famoso desconhecido dos esquerdistas com menos de 50 anos. E o fato é que, entre a ternura e o abatimento, não sei se a pedra no meio do caminho apareceu ou reapareceu; se o caminho será retomado; se espero ou se leio outro Drummond.


Outro fato é que Dilma Rousseff, crescentemente detestável de dentro de um apego chulo ao poder, é tão despreparada para ser presidente quanto para deixar de ser. Apoiada por pessoas despreparadas para deixar de orbitar o poder, a mulherzinha faz dos restos de imperceptíveis racionalidade e honradez a saga ordinária de perene delírio que a consolará nos dias vazios e nas noites longas do resto de uma existência que volta à irrelevância da qual foi desgraçadamente desperta pelo jeca. Entre elas, os artistas fascistoides adoradores do PT e do PCdoB e, portanto, da estatização da cultura – como tudo o mais – num MINC aparelhado.

Pretendem-se comissários do povo sem saber do que ele é feito. Assim, pretextando a defesa da cultura e da memória, partem para a truculência na invasão de prédios do MINC apropriando-se de patrimônio que é de todo o povo. Esse ente idealizado entre a Vila Madalena e o Leblon, mas que não está nem lá nem muito menos entre a alucinação fascista de Marilena Chauí e a de Olavo de Carvalho: a maior parte dele está preocupado em ir trabalhar se ainda tiver emprego rezando para que não haja meliantes queimando pneus no meio da rua em defesa do gangsterismo de Estado cuja czarina patética legou um rombo de 170 bilhões de reais e foi gozar a agonia de um golpe imaginário em meio a 120 empregados no Alvorada.

Em razão desse anseio do país por ordem para progredir, é que discordo da crítica de Marco Antonio Villa à escolha do lema da bandeira nacional como slogan de Michel Temer. Ora, ela foi o símbolo onipresente nas marchas pró-impeachment dilatando o sentimento de pertença a uma mesma nação no verdeamarelismo – que, atacado por Marilena Chauí em surto permanente, só pode ser coisa boa – farta do vermelhismo que a cindia para a esbulhar.

Quem é que liga para Augusto Comte e a doutrina positivista? Os brasileiros se reconheceram na bandeira nacional, só isso; e Temer fez bem ao acolher esse reconhecimento. Também por isso deve remover a inadmissível pedra no caminho: André Moura (PSC-SE). Acusado de homicídio e réu num processo no STF, não pode continuar líder do governo na Câmara ou Temer estará ignorando o clamor das manifestações que resultaram no afastamento de Dilma em favor de nossas retinas tão fatigadas de patifarias.

Voltando à discussão sobre o MINC, registre-se que foi ignorada a perspectiva do consumidor de cultura. A classe artística despreza o fato de que, num país com Estado demais onde ele é desnecessário e de menos onde é fundamental, não há ambiente cultural para a cultura – nem para a tal alta cultura enquanto os filhos da elite que estudam em universidades públicas não se lembrarem delas em seus testamentos (José Mindlin uma das poucas exceções) ou Machado de Assis for considerado um autor elitista; nem para a tal cultura popular enquanto o “povo” achar que pode jogar o sofá velho num rio: cultura é educação.

MINC? Que MINC? O povo nunca viu nem comeu e agora só ouve falar. Povo? Que povo? O MINC nunca viu, só o assaltou. Ótimo fundir a Pasta da Cultura ao MEC porque as estruturas são parecidas e, se a economia seria insignificante, a intermitente racionalidade nacional, extinta nos governos lulopetistas, ganharia espaço. O barulho serviu para nos darmos conta de uma coisa boa, só possível com o PT fora: o Brasil voltou a falar de si, mal ou bem; a bandidagem petista ficou em segundo plano até começar a gritaria autoritária em defesa da cultura das divinas tetas e boquinhas.

Mesmo considerando que Temer não deveria ceder a militantes da chantagem que sequer reconhecem a legitimidade do governo interino, não me junto aos que o acusam de “amarelar” recuando da fusão, afinal nem tudo é uma questão de ser contra ou a favor, mas de reflexão: Temer não disseminará a racionalidade por decreto num meio impermeável e, com apenas dois anos para evitar a colisão do país com uma catástrofe maior, deve se concentrar nos embates relevantes futuros em vez de se desgastar com gente a quem não faltam grana fácil e tempo.

Um MINC desaparelhado que resolva isso basta. Os progressistas agora revoltados com a nomeação de um evangélico para o ministério da Ciência e Tecnologia no novo governo nada disseram enquanto aberrações de Mercadante a Celso Pansera passaram pelo ministério deixando como marca a redução drástica de recursos para o CNPq e para a Capes. Os fascistoides-tipo-descolados que defendem o MINC foram incapazes de ajudar Niède Guidon na defesa da Serra da Capivara.

As militantes da representatividade de gênero – só de escrever uma coisa assim já me diverte – deveriam ter queimado todos os sutiãs da presidente quando ela escolheu umas vigaristas para o governo, mas guardaram o discurso patrulheiro contra Temer por não incluir mulheres no ministério. Dilma já o alertou: as mulheres não aceitam ser “fetiche decorativo”! Claro, ou ela não teria se cercado de adornos adequados somente à sala da Família Adams; não, Erenice Guerra, Miriam Belchior e Graça Foster não foram decorativas, mas muito ativas. E fetichista é a relação da mulherzinha com a presidenta, a tal ponto que deixou 50 mil famílias esperando a entrega de unidades prontas do Minha Casa Minha Vida porque não havia espaço na agenda oficial, segundo o novo Ministro das Cidades, Bruno Araújo: é o mesmo povo do MINC que só tem concretude no gozo fetichista de ser presidenta.

Tudo refletindo o fato de que a academia onde pensadores glorificam tiranos, a classe artística que celebra tiranos e a militância que serve a tiranos não enxergam o país imenso, real, heterogêneo e devastado justamente pelo que buscam manter ao rejeitarem o governo legítimo de Temer e, como pastores da tirania viciados nas benesses do Estado, farão o diabo para inviabilizá-lo. Isso é Dilma, a pedra no nosso caminho impedindo que nossas retinas tão fatigadas de cafajestice esqueçam que tinha uma Dilma no meio do caminho. Lembrarão nas próximas eleições, em toda elas. Pelo tamanho do texto, vê-se que decidi buscar outro Drummond: o silêncio não é o companheiro preferido das minhas emoções mais puras. Perdão se me excedi.

Nossa história em quadrinhos

A mão de Marinho embolsa R$ 3.000. Lula e Dilma sujam as mãos de petróleo (em todos os sentidos). A mão de Marinho apontando para o mensalão. Jefferson cantando opera. Jefferson e Dirceu em duelo no Congresso: “Sai, Dirceu”. Lula dá entrevista em Paris sem saber de nada.
Erenice Guerra ri com todos os dentes na Casa Civil. Carlos Lupi, ex-faxinado, beija a mão de Dilma: “Eu te amo, Dilma!”. O olho roxo de Jefferson. Mantega sorrindo: “temos uma nova matriz econômica”. Flash para a frente: 11 milhões de desempregados marcham pelas caatingas e pampas. A refinaria de Pasadena, lata velha enferrujada com dístico: O Petróleo é Nosso (i.e. do PT). A folha de papel que Dilma não leu – preço: US$ 1,2 bilhão. Outras refinarias: Abreu e Lima, (de US$ 8 bilhões para US$ 20 bilhões) sócia do Chavez, que deu calote. Rosto do “cumpanheiro” Chavez no imenso retrato que Maduro deu a Dilma. Passarinho canta no ouvido de Maduro. Um Land Rover novinho com a estrela do PT. O jardim do Alvorada com estrela do PT. O substantivo inventado para o povão entender: presidenta. Joaquim Barbosa dá porradas na tremula figura de Lewandovski. Delubio fazendo o V da vitória. Bolsonaro faz saudação fascista. Andre Vargas, Dirceu, Genoino fazem a saudação comunista. Marco Aurelio Garcia bate as mãos fechadas para a oposição, toc toc toc. A deputada Angela Guadanim do PT dança rock na Camara. A cara de profunda seriedade Delcidio do Amaral na CPI dos Correios. A cara de Delcidio em desespero dentro do banheiro, arrependido, se esbofeteando no espelho. Os cabelos brancos de Delcidio, os negros cabelos de Lobão organizando o Eletrolão, que vem aí. O penteado da Dilma, crista de galo tremula sobre seus olhos luzindo de delirantes certezas absolutas. Dilma emagrecendo sem parar – fome zero? Dilma andando de bicicleta com capacete de frango da Sadia na imensa solidão de Brasília. Lula com chapéu de cangaceiro dançando xaxado, sem saber de nada, nunca. Lula na alegria roceira das festas caipiras obrigatórias, com ministros constrangidos de chapéu de palha. US$ 200 mil rolam de dentro de uma cueca. “Essa cueca não é minha! Só uso zazá!” Rui Falcão e seu triste rosto com saudades dos bons tempos soviéticos. Stédile berrando: “Façam filhos; eles vão conhecer o socialismo!”. MST arrasa agroindústria – a alegria de mulheres de rosto tapado destruindo laboratórios. Foto do passado: mão de petista planta “vassoura-de-bruxa em Ilhéus” e acaba com a “reacionária produção de direita” de cacau. Corpo caído de Celso Daniel que, conforme versão oficial, suicidou-se. Oito testemunhas do suicídio de Daniel mortos um a um. Frase de Trotsky: “Quem disse que a vida humana é sagrada?” Coincidência. As carantonhas de negaças: “Não, não fui eu, mentira indigna, minha honradez, meus filhos, são aleivosias contra minha vida sem mácula, nunca, jamais.” Nunca ninguém assumiu nada. Quando veremos um cara berrar: “Sim, eu sou um canalha!”. Só o herói Jefferson o fez, salvando o Brasil. Brasília é um santuário, deputados pendurados na catedral, junto aos anjinhos de Ceschiatti. O rosto de Dirceu envelhecendo em slowmotion – pena do Dirceu. Rosemary Noronha deita a cabeça no ombro de Lula, que não viu nada – “quem será essa mulher com a cabeça no meu ombro?” Maluf abraçado em Lula passa a mão carinhosamente no rosto de Haddad. Dilma se abraça com Collor. Um Lamborghine amarelo flutua sobre os jardins da Casa da Dinda. A barriga imensa do Ricardo Pessoa da UTC rolando em Brasília, a corrupção estampada na roupa e na barriga, conduzido pelo japa bonzinho.

Os rostos pálidos dos denunciantes, eles mesmos impressionados com a bacanal que promoveram no país. O olho de Cerveró girando em busca de nosso futuro caolho. A progressiva evidencia de que não há inocentes; todos são cúmplices. Políticos de cuecas nas bacanais na casa da mãe Joana, com a cafetina ameaçando: “se algo me acontecer, as agendas serão abertas...”. Os sobrinhos de Lula, os amigos dos filhos de Lula, os pedalinhos de Lula, as escrituras laranjas de Lula. E as pedaladas de bilhões? Grandes propinas seguem a máxima famosa de Quércia: “dez por cento é pra garçom”. O pobre Joaquim Levy, vagando como um padre triste tentando organizar o orçamento. O ousado chiclete na boca de Monica Moura (Santana), sorrindo e mascando com a certeza de que nunca iria em cana. Foi. A foto de Lula no apartamento tríplex, discutindo a decoração com Leo Pinheiro, presidente também da nova ala da empresa: “OAS Casa e Decorações”. Pátios de indústrias fechadas, balcões vazios. Temer a beira de um buraco de R$ 170 bilhões, com o Cunha agarrado no seu pé. As sete vidas de Eduardo Cunha, mandando na Câmara de longe, com sua extraordinária personalidade que é caso para estudos clínicos de psicopatia. Imensas latas de carne enlatada que Cunha vendeu na Suíça, de porta em porta. Cunha e a importância para historiadores do futuro por seu grande mérito: sintetizou, escrita no próprio corpo, a historia da trágica chanchada brasileira. Cunha chegará ao argumento final de defesa: “Eu não sou eu!”. Panelas batendo. A bunda da miss Bumbum sambando no Ministério do Turismo. Será que fazem de propósito para nos escandalizar? E a incrível invasão dos pixulekos, a maior dor para o narcisista Lula, que sempre sonhou com sua ex-imagem futura perfeita e que hoje pode ir em cana.

E os palavrões sonoros nas escutas? E o papelzinho para nomear Lula para a Casa Civil? E a emocionante dedicação, a ardorosa defesa que Jose E. Cardoso fez da presidenta em agonia? E Lula, no discurso da saída de Dilma, ao fundo, imperceptível, quase tapando a cara para não ser visto.

E tudo culmina na imagem de um imenso bigode atrás do qual se pendura um ogro medieval, a patética figura de nossa ignorância secular: o brasileiro real Waldir Maranhão.
Será que dá para salvar alguma coisa, ou nosso destino é realmente o brejo? Que será que vai nos acontecer? Provavelmente, nada.

E minha vida vai passando...Ainda bem que vou morrer um dia e não verei mais essa merda.

Socialismo de quem pode

Tudo depende do Estado, das suas bênçãos, do seu apoio e financiamento. Todos os subprodutos negativos advêm como burocracia, troca de favores e corrupção pura e simples. Vivemos um modelo de capitalismo que não gosta nem de risco nem de competição. Isso não é capitalismo, isso é socialismo para os ricos
Ministro do STF, Luis Roberto Barroso

Chega de atos levianos, impatrióticos e nocivos à imagem do Brasil

Brasileiros de conduta duvidosa têm promovido inaceitáveis manifestações contra o processo de impeachment de Dilma Rousseff, presidente afastada de suas atribuições. Esses tenebrosos “atos públicos” estão repercutindo – em patente desrespeito aos fatos ocorridos – a existência de um “golpe” contra a democracia no Brasil. Ocorre que a propagação no exterior de mentiras sobre o que aqui acontece ocasiona inegáveis prejuízos ao país e à sua imagem, com vultosos danos sobre a economia nacional, já bastante destruída pelo lulopetismo.

Várias ações nocivas desses maus brasileiros ocorreram no interior de organismos internacionais, com a nítida intenção de potencializar a desmoralização do Brasil. Não podemos entender diferente, pois o dolo tem sido inconfundível. Até o Papa já foi submetido a “paparrotices”.
Não tem sido raro ver militantes beneficiários de ajuda financeira oficial agirem com leviano oportunismo em eventos sem o menor vínculo com a política, para tentar contaminar o público presente e os meios de divulgação, com a inconfundível intenção de expandir a contaminação territorial e de consciências com o embuste do “golpe” contra a democracia no País.

Esses protestos – que ocorrem no Brasil e também no exterior – são intencionais e se aproveitam da falta de conhecimento de grande parte do público sobre a verdadeira situação do País, para propagar patranhas sobre o funcionamento de suas instituições. E o fato real é que as instituições estão funcionando no Brasil.

A falácia chata e repetitiva – verdadeiro protesto de uma nota só – é de que está ocorrendo um “golpe” no Brasil, quando todos (menos os mal intencionados) têm plena convicção que não há golpe no país e que, no momento, está em trâmite absolutamente legal um processo de averiguação de fundadas e graves denúncias contra uma presidente da República que parece ter metido os pés pelas mãos no exercício do poder.

A impressão que temos é que parte da “companheirada” que usufruía de fartos recursos públicos sem trabalhar, ou trabalhando pouco, está revoltada com a retirada do PT do poder, o que significa não mais receber recursos públicos sem prestar as devidas contas.

Diante dessa mudança de rumos, esses ex-privilegiados reverberam, irresponsável e impatrioticamente, as mesmas patacoadas em reuniões e manifestações mundo a fora, imitando os discursos da presidenta criadora da “nova matriz macroeconômica” que destruiu o país, com os mesmos argumentos repetidos incansavelmente por ela em seus últimos dias no Palácio do Planalto, transformado indevidamente em “Palanque do Planalto”.

A caixinha do privilégio



Uns morrem de fome, outros vivem dela, com generosa abundância

Nelson Rodrigues

As fontes ornamentais, o feng shui, a política e a democracia

Desconfiai de gente muito áspera e dura que nunca tem tempo a perder, que acha que só ela faz política e que o resto do mundo faz corpo mole e ainda olha de cara feia para quem se encanta com uma poesia, uma música, uma plantinha, um livro, o doce barulho e o frescor de uma fonte ornamental. Tais pessoas nem fazem política como deveriam, a busca do bem-estar comum, nem são boas companhias. Fujo delas!

Outro dia, uma implicou com uma fonte ornamental que tenho em minha sala e que embala o meu escrevinhar. Não adiantou eu enumerar os benefícios para o bem-estar e a sanidade mental advindos de uma fonte, tais como: em dias de muito calor, umidifica o ar, refrescando o ambiente, e o barulhinho da água acalma, relaxa... E quem no campo democrático não precisa de uma válvula de escape em tempos tão bicudos? Sem falar que uma fonte diminui exponencialmente a necessidade do ar-condicionado. Em suma, diminui a conta de luz!

“O Brasil pegando fogo, a democracia em risco, sendo destruída, eu precisando conversar sobre política porque estou muito angustiada, pergunto o que está fazendo, e a resposta é que está limpando sua fonte! Morri! Além da simplicidade voluntária de cuidar de seu mundo de cactos, só falta agora ser seguidora do feng shui!”.

Repeti o que estou lembrando porque as recriminações preconceituosas foram longas e chatas. Respirei. Indaguei se havia terminado. Minha cabeça estava a mil. Como se não bastasse a onda fascista em curso no país, aparece uma amiga babaca com dor de consciência. Que fase!

Sim, dor de consciência, pois se eu, com meus sessenta e tantos anos, comecei a lutar contra a ditadura militar de 1964 ainda nos anos 60, e desde então tenho militância política sempre na esquerda, ela só descobriu a política após os 40 anos. No PT. E sempre foi da articulação, aquela corrente política mais branda, para quem a luta de classes não existia mais. Agora, ela é radicalíssima. Depois de 13 anos na fetichista Brasília, pouca gente quer imaginar morar em outro lugar! O poder tem seus mistérios e encantos. Eu acredito.

“Amada, ‘me erra’! Cuide de sua vida que da minha cuido eu. Aliás, sempre cuidei. Só não entendo por que está implicando com meus cactos, minha fonte e minha opção pela filosofia da simplicidade voluntária”.

E enveredei, colocando na vitrine que ela fazia um discurso antigo e carcomido, típico de uma visão política que não vai além do uso da política para fins eleitoreiros; que estava sendo antidemocrática ao extremo e discursando que está preocupada com o ataque à democracia que estamos vivenciando!

E lacrei: “O que você fez durante tantos anos para que não chegássemos aonde estamos, fora arrotar que a luta de classes havia acabado, só porque o objetivo final de vocês era gerenciar a crise do capitalismo no Brasil?”.

Estou onde sempre estive desde que comecei a fazer política: ao lado do povo, defendendo suas demandas mais prementes por cidadania – por justiça racial/étnica, por justiça de gênero, enfim contra todas as opressões, incluindo a de classe!

“Acha que uma fonte poderia melhorar meu estado de espírito?” Ai, que susto eu tive! “Não estou nem dormindo direito, mesmo tomando calmante”.

“Ah, vai ter de apelar para o feng shui” – cultura milenar chinesa de harmonização de ambientes – e toda a sua teorização sobre a conservação das energias positivas e o redirecionamento das energias negativas, que afirma que as fontes de água corrente têm o poder de neutralizar energias negativas e atrair energias positivas. Se bem não fizer, mal não fará.

Vamos falar de cultura

Cultura é a roda de samba, a cerveja depois do trabalho, a praia no final de semana, o improviso das favelas, o biquíni das meninas, o pão com manteiga de manhã, a feijoada no sábado, o churrasco no domingo, a moqueca na Semana Santa, a roda de capoeira, a molecada jogando futebol num campinho qualquer, as tantas manifestações folclóricas…

Cultura são os cantores das noites, as bandas de amigos, os blocos de carnaval, os artistas das ruas, os artesãos das feirinhas, os homens dos cordéis, as mulheres das rendas, os repentistas do sertão, os funkeiros dos morros, os violeiros do pantanal, os rappers da periferia, os aposentados das praças, os pintores e escritores independentes, os poetas dos bares…

Cultura independe do governo. Cultura não se fabrica. Não se controla. Cultura é como o mercado. Acontece. Incontrolável. Indomável como a língua, que se transforma o tempo todo, a despeito do que os acadêmicos planejam. Quando a cultura vira política de governo, deixa de ser cultura. Vira panfleto.

O fim do ministério da Cultura teria um único resultado prático: Artistas que se acostumaram a com o dinheiro do governo teriam que captar recursos diretamente na sociedade.

Se o MinC e as leis de incentivo fossem extintas, pessoas como Chico Buarque teriam que fazer mais shows para manter seus estilos de vida. Teriam que se aproximar do povão. Aqueles que não quiserem se “vender ao mercado” buscando patrocínio de empresas privadas, teriam que fazer campanhas de crowdfuding na internet, assim como milhares de artistas independentes já estão fazendo. Com toda certeza, artistas consagrados não teriam dificuldades em viabilizar seus projetos a partir de doações espontâneas de pessoas comuns, suas fãs. As produtoras que se especializaram em captar recursos via leis de incentivo teriam que se especializar em captar recursos no mercado, na sociedade.

O ministério da Cultura representa um dos piores efeitos da democracia: A maioria sendo obrigada a financiar projetos que apenas uma pequena minoria usufrui. Cidadãos sendo obrigados, via pagamento de impostos, a bancar projetos que não lhes interessam. Filmes inteligentinhos. Exposições grotescas. Livros que ninguém lê.

O argumento de que o fim do MinC seria um atentado contra a cultura nacional insulta os inúmeros artistas que trabalham por conta própria, vivendo do talento que têm, sustentando suas vidas e suas artes na medida em que satisfazem outras pessoas.

O ministério da Cultura sempre foi um cabidão de empregos e uma fonte de dinheiro para uma elite composta por artistas famosos ou apadrinhados.

O ministério da Cultura é um vetor de concentração de renda. Metade dos recursos captados em 2015 foram destinados a apenas 3% dos projetos aprovados. Como levantou o Spotniks, entre 2005 e 2015 o orçamento da Ancine saltou de R$ 19 milhões para R$ 660 milhões, obtendo resultados nada proporcionais. Em 2008, foram lançados 79 filmes. Em 2015, 128. O número de expectadores cresceu de 89 para 155 milhões no período, porém, mantendo a média de 12% de interesse nos filmes nacionais. O que isso significa? Que por mais que se injete dinheiro no setor, o grande público não passa a se interessar mais pelos filmes nacionais; e por uma razão muito simples: A maioria das produções é feita apenas para o prazer da elite cultural.

E por falar em cinema…

A maior produção cinematográfica do mundo está na Índia, onde são feitos mais que o dobro do número de filmes feitos em Hollywood, sem dinheiro do governo. Sem programas de proteção ao cinema nacional, apenas 10% dos filmes assistidos na Índia são americanos. Os indianos pobres assistem até 5 vezes mais filmes do que os ricos. São vendidos mais de 3 bilhões de ingressos por ano. Na Índia, atores e produtores não trabalham para emocionar Hollywood, Cannes ou Berlin. Trabalham para emocionar dos indianos.

Falta honestidade ao cinema brasileiro.

A Ancine se assemelha em conceito, prática e resultado ao BNDES. Ambos injetaram dinheiro público em determinados setores que hoje continuam dependentes do governo, comprovando o que os liberais dizem desde sempre: Subsídios geram ineficiência.

A TV Brasil, criada por Lula, têm quase zero % de audiência, mas conta com um orçamento de meio bilhão por ano. Por que o povão não assiste o canal? Porque sua programação é um lixo. É para isso que existe o governo: Dizer que lixo é cultura.

É preciso esclarecer que a lei Rouanet não é uma simples lei que converte impostos em investimentos culturais. A burocracia do “benefício” exclui a quase totalidade dos artistas, já que para desvendá-la é necessária a contratação de uma agência ou produtora especializada. Por isso não vemos micro e pequenas empresas patrocinando artistas desconhecidos. Elas não conseguem sequer preencher os formulários, dada a complexidade e restrições da papelada.

Mesmo que um projeto vença a burocracia, ele e seu autor serão avaliados por uma comissão com escancarado viés ideológico. Projetos ou artistas avaliados como ameaça aos ideais socialistas são vetados. Parece exagero, mas é assim mesmo que funciona. Em resumo, a lei Rouanet é uma mera formalidade entre amigos.

Graças a lei Rouanet, R$ 1,4 bilhão deixaram de ser pagos em impostos em 2015. A título de comparação, a Polícia Federal contou com uma verba de R$ 1 bilhão no mesmo ano; e Dilma, antes de sair, mandou reduzir a verba da PF em 13%.

A extinção do MinC não acabaria com a cultura nacional. Acabaria apenas com a elite cultural bancada com dinheiro público, fazendo com que a classe artística e intelectual se tornasse mais criativa, se aproximasse mais da sociedade, se tornasse independente.

Ainda não foi dessa vez.

Acuado, Michel Temer recriou o MinC uma semana depois de extingui-lo. Não suportou a pressão.

Comprovou-se, assim, que a elite cultural utiliza seu poder de mobilização apenas em benefício próprio, esbanjando demagogia, arrogância e soberba. Apesar do discurso, não tem nada de altruísta. É completamente indiferente à situação do país. Exige que seus projetos sejam tratados com prioridade nacional. Não tem pudor em dizer que se não tiver acesso ao dinheiro público, a cultura do país cairá em desgraça. Não por acaso, dessa elite nunca vimos um único protesto contra os absurdos do governo do PT. Foram 13 anos de bajulações.

A cultura somos nós. Eles são os parasitas
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