sábado, 20 de junho de 2015

Nova técnica é uma 'armação' ridícula para salvar Dilma


Muito estranho e oportuno o aparecimento da Nota Técnica 6, assinada pelo então secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin em seu último dia de trabalho, a 30 de dezembro de 2014, com objetivo declarado de assumir a culpa pelas “pedaladas fiscais” e “maquiagens contábeis” utilizadas pela presidente Dilma Rousseff em seu primeiro mandato para melhorar artificialmente as contas públicas.

A principal estranheza é o fato de somente agora ter surgido esta supostamente salvadora Nota Técnica, depois de dois meses de intenso tiroteio, iniciados a partir da divulgação do parecer técnico dos auditores do Tribunal de Contas da União que atribui à presidente Dilma Rousseff a prática de crimes de responsabilidade. Por que ninguém se lembrou antes da existência dessa Nota Técnica 6, que pretensamente evitaria a cassação da chefe do governo? Realmente, muito estranho.

A segunda estranheza é o fato (estamos falando apenas de fatos, que não podem ser contestados) de o Secretário do Tesouro Nacional ser um funcionário de segundo escalão, que não tem status de ministro nem autonomia para esse tipo de procedimento, pois em nenhuma hipótese pode ser responsável direto pela prestação de contas do governo federal, como a divulgação da tal Nota Técnica 6 tenta fazer supor.

A terceira estranheza é o fato de nos últimos meses a imprensa ter divulgado um número enorme de reportagens e artigos atribuindo a autoria das “pedaladas fiscais” e das “maquiagens contábeis” a Arno Augustin e ao ministro da Fazenda Guido Mantega, destacando que eles cumpriam determinações expressas da presidente Dilma Rousseff, e nenhuma dessas matérias jamais foi contestada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência ou pelas assessorias do Ministério da Fazenda ou do Tesouro Nacional.

A quarta estranheza é o fato de o aparecimento dessa inusitada, oportuna e supostamente salvadora Nota Técnica 6 estar alterando inteiramente a justificativa do Planalto, que até agora se baseava na singela afirmação de que governos anteriores (FHC e Lula) também teriam procedido assim.

A quinta estranheza é o fato (notem que continuamos nos restringindo apenas a fatos, que simplesmente existem e, portanto, não podem ser contestados) de a Nota Técnica 6, supostamente assinada por Arno Augustin, não ter sido publicada no Diário Oficial da União do dia 31/12/2014, na forma da lei.

Estes cinco fatos – todos, incontestáveis, demonstram que a tal Nota Técnica nº 6 não passa de uma armação ridícula e patética de atribuir a um funcionário subalterno os crimes de responsabilidade verdadeiramente cometidos pelo então ministro Guido Mantega e pela ainda presidente Dilma Rousseff.

E com um detalhe revelante – crime de responsabilidade é tratado pelo chamado Direito Pessoal e Intransferível, não pode ser cometido por qualquer pessoa, mas exclusivamente por funcionário público. No caso em pauta, que é a prestação de contas da Presidência da República, o crime de responsabilidade seria exclusivo da presidente da República, que assina a documentação encaminhada ao Congresso e por ela é responsável.

Foi justamente por isso que o Tribunal de Contas da União solicitou que a presidente Dilma Rousseff respondesse aos 13 quesitos de irregularidades “pessoalmente ou por escrito”. É a assinatura dela que está valendo, o ex-secretário do Tesouro Nacional não passa de um fantoche, que não sabe a diferença entre prestar serviços e ser servil.

Como disse aqui na Tribuna da Internet o comentarista Antonio Fallavena, “os ratos menores estão tentando salvar a ratazana”. Simples assim.

Cai a máscara

O episódio da expulsão oficiosa – outra coisa não foi – da comitiva de oito senadores brasileiros de Caracas, há três dias, é mais um capítulo da luta pela construção da tal Pátria Grande, gestada no Foro de São Paulo.

Já não se pratica a diplomacia nos seus termos fundadores, de defesa da identidade, interesses e soberania das nações. A diplomacia brasileira, hoje, é ideológica e partidária.


O interesse nacional fica em segundo plano, quando estão em jogo planos estratégicos e ideológicos, como no caso da apropriação pelo governo boliviano de uma refinaria da Petrobras, em maio de 2006. O que foi um ato de afronta à soberania brasileira – o exército de um país vizinho ocupando um patrimônio do povo brasileiro – foi minimizado pelo então presidente Lula, que assim justificou a tolerância: “O povo da Bolívia é pobre”.

Claro, e o povo brasileiro é rico, livre de problemas em saúde, educação, moradia, transporte etc. Pode perder refinarias para o exército dos povos pobres, sem qualquer protesto.

No caso presente, o governo brasileiro viu-se numa encruzilhada: ou silenciar – o que equivaleria a avalizar a truculência diplomática do governo de Maduro – ou protestar. Encontrou um meio termo: a morna nota do Itamaraty, que jogou nas costas de “manifestantes” a responsabilidade pelas agressões.

Ora, sabe-se que a militância que lá estava não era espontânea. Mais que militantes, eram milicianos, armados de paus e pedras, agredindo o veículo que transportava a comitiva. A passividade dos policiais confirmava, se dúvidas houvesse, a conivência (ou cumplicidade) oficial. Mas houve mais.

A omissão do embaixador brasileiro, Rui Pereira, soma-se às demais evidências de conexão entre os governos brasileiro e venezuelano. O embaixador recebeu os senadores na pista do aeroporto e, em seguida, desapareceu.

Não prestou qualquer assistência, nem se manifestou posteriormente. Cumpriu ordens expressas do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, segundo este relatou ao deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA):

"Eu fiz a pergunta ao ministro se o comportamento e se a atitude do embaixador brasileiro na Venezuela estavam de acordo com as orientações passadas pelo Itamaraty, pelo governo brasileiro. Ele respondeu: 'Sim, ele fez o que nós mandamos fazer'", disse Imbassahy. Ou seja, abandonou os senadores à hostilidade dos milicianos, a serviço do governo Maduro. Nada menos.

A presidente Dilma não se indignou com o ocorrido. Indignou-se, isto sim, com os senadores, que, segundo ela, a colocaram numa “armadilha”.

De fato: a situação a obriga a definir-se de que lado está. No caso do traficante brasileiro condenado à morte na Indonésia, a presidente chamou o embaixador brasileiro naquele país, em gesto de hostilidade ao governo local, que cumpria suas leis, ainda que com elas não venhamos a concordar.

Pelo visto, para a diplomacia brasileira, um traficante vale mais que o Senado.

Não é a primeira vez que os países do Foro de São Paulo – e o Brasil com destaque – intervêm na política interna uns dos outros. O Brasil cedeu, em 2009, sua embaixada em Honduras para que o presidente deposto daquele país – deposto constitucionalmente pelo Congresso -, Manuel Zelaya, conspirasse para reocupar o poder.

Empenhou-se para suspender a presença do Paraguai no Mercosul, invocando a cláusula democrática, quando da deposição constitucional do então presidente Fernando Lugo, em 2012.

Em seu lugar, entrou a Venezuela, que, segundo Lula, “tem democracia até demais”. Tanta democracia que mantém na cadeia oposicionistas pelo simples fato de serem oposicionistas – e impede que sejam visitados por colegas vizinhos. Não bastasse, censura a imprensa e mata manifestantes que protestam contra o governo.

Quando, numa de suas visitas a Cuba, o então presidente Lula foi indagado a respeito da morte de um prisioneiro político em greve de fome, comparou-o aos criminosos comuns de São Paulo. Dilma, por sua vez, alegou que não se intrometia em assuntos internos de outros países, argumento que jogou ao lixo ao condenar na ONU ações do governo norte-americano.

O episódio que envolveu os senadores brasileiros reclama providências que não virão – entre elas, o afastamento da Venezuela do Mercosul. No Congresso, a tropa de choque da base aliada inverte os fatos e considera infratores os próprios colegas. Maduro está certo – e é um democrata, acham aqueles aliados.

Reverberam o ponto de vista do governo petista, o único do mundo a dispor de dois chanceleres: o oficial, Mauro Vieira, e o real, Marco Aurélio Garcia, expoente do Foro de São Paulo - o mesmo que sustentou que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que vivem de sequestros e tráfico de drogas, não é uma organização terrorista, embora mantenha até campo de concentração na selva.

No início da semana, um notável do governo Maduro, caçado pela Interpol por tráfico de drogas, Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional venezuelana, esteve no Brasil. Foi recebido por Lula e por Dilma. Não foi molestado e, ao contrário, mereceu tapete vermelho. Dias depois, recepção inversa foi dada aos senadores brasileiros.

O episódio, lamentável, serve ao menos para que caia a máscara do governo brasileiro, que, de costas para os interesses nacionais – afrontados em tantos escândalos internos e trapaças diplomáticas -, trabalha pela Pátria Grande socialista.

Erga omnes et omnia...

A expressão, na verdade, é maior: In tota fine erga omnes et ominia, para todos os fins, a respeito de todos e tudo.

No país dos bacharéis e cartórios, uma sentença latina tem o mágico efeito de dirimir qualquer conflito, litígio e polarização. O Estado brasileiro está estraçalhado desde o início da temporada eleitoral do ano passado, portanto, há cerca de um ano. A cada dia que passa aumentam os fraccionamentos, e isso a tal ponto que hoje todos são adversários de todos: sumiram aliados, coligados, sócios e até possíveis cúmplices (assustados com a epidemia das delações premiadas).

O brasilianista James Green, com 40 anos de estudos e vivências em nosso país, disse na sexta a O Globo que nunca viu o país tão dividido e conflagrado. E tão perplexo. Em outras palavras: ninguém se entende e ninguém entende o que se passa.

Batizada de “Erga Omnes”, “contra todos”, a 14.ª fase da Operação Lava Jato, fiel ao significado de que a lei vale para todos, prendeu na sexta-feira a maior coleção do figurões do mundo empresarial com base em evidências de operações fraudulentas que começaram na Petrobras há mais de dez anos.
É possível que o inédito rigor da lei, seu belo enunciado em latim e nossa conhecida veneração pela retórica sejam capazes de minorar o clima de desavenças que minam progressivamente instituições, posturas e códigos. Mas também é possível que a sede de justiça, agregada à dinâmica da insensatez, intoxique ainda mais o ambiente.

Convém lembrar sempre que não estamos isolados numa confortável academia fruindo estimulante troca de percepções filosóficas. Estamos enfiados numa penosa trincheira e enfrentando o estresse de uma acabrunhante crise econômica, índices inesperados de desemprego e um aumento inaudito da violência cotidiana. Parece exaurida nossa apregoada capacidade de dissimular e disfarçar os maus instintos.

Novos costumes, novas tecnologias com novos mimetismos alimentam um até agora impensável estoque de agressividade. Modalidades alienígenas rapidamente assimiladas e disseminadas sugerem um recorte antropológico bem distinto daquele que se imaginava.

Evidentemente não foi efeito da notícia da chacina num templo batista negro em Charleston, na Carolina do Sul, mas quase simultaneamente fomos surpreendidos com uma inesperada cólera religiosa: no Rio, semana passada, uma menina de 11 anos, vestida para um ritual de candomblé em casa de sua avó, foi apedrejada na rua. E também no Rio, na sexta-feira, foi descoberto o assassinato do médium Gilberto Arruda, 73 anos, famoso pelos tratamentos espirituais e a caridade que oferecia no Lar Frei Luiz.

Já tivemos pastores pisoteando imagens de santas na tevê, mas estes incidentes contra crenças religiosas sincréticas e tão arraigadas na espiritualidade brasileira podem ser os primeiros sintomas de uma intolerância secularmente reprimida e agora liberada pelas pressões do momento.
A lei é para todos – esta verdade saiu num dos jorros do petrolão, e com ela teremos de conviver para sempre. Somos finalmente iguais.

O beija-mão de Dilma


Em 1946, o general Dwight David "Ike" Eisenhower, ex-comandante das forças aliadas na Europa veio ao Brasil. O futuro presidente americano foi recebido com festa no Rio de Janeiro e visitou o Congresso. Depois do discurso do deputado baiano Otávio Mangabeira, Eisenhower se levantou e estendeu a mão em cumprimento ao deputado, que inexplicavelmente a beijou. O gesto, registrado pelo jovem repórter fotográfico Ibrahim Sued, por anos simbolizou a suposta submissão do Brasil diante dos Estados Unidos.

Quase 60 anos passados, o Brasil se mostra de uma altivez, beirando a petulância, quanto aos norte-americanos, mas uma humilhante subserviência aos países “cumpanheiros”. O PT e suas governanças colocam literalmente o país de quatro em nome de causas falidas e demagógicas de populismo barato.


A companheirada daqui baba e escancara as portas do Brasil para a entrada de qualquer um do bloco da esquerda sul-americana. Os presidentes Lula e Dilma se fazem de capachos para as atitudes nada diplomáticas, para não dizer contrárias à soberania brasileira com uma desfaçatez sem medida. Em nome de uma amizade ou simpatia próprias, reverencia ditadores e comandantes de meia tigela. 


Lula e Amigos

Lula deixou que Evo Morales fizesse as refinarias da Petrobras, na Bolívia, de gato e sapato; avião da FAB foi flagrantemente invadido por paraguaios para uma revista; representantes venezuelanos do bolivarianismo entram e saem do Brasil como se aqui fosse a casa da Mãe Joana; os governos petistas distribuem fartamente o dinheiro público para obras nos países de los compañeros em nome de um suposto desenvolvimento brasileiro.
Agora Dilma, do alto de sua suprema desconsideração com o próprio Brasil e suas instituições, mesmo até ao próprio cargo, critica a ida de senadores da oposição à Venezuela em avião oficial. Mesmo que tenha sido uma jogada política interna, não se pode tirar o mérito de que FAB, senadores e Ministério do Exterior são governo do Brasil. No entanto, ainda assim a presidente se lixa para um embaixador que dá pouco caso à representação brasileira.

E se não bastasse, segundo se noticia, critica a "interferência" da oposição brasileira em se manifestar em favor de presos políticos. Para Dilma, que presa política, não recebeu esse apoio, isso seria uma afronta à soberania ... da Venezuela. Mais ainda, os venezuelanos não seriam políticos prisioneiros de uma ditatura mas simplesmente presos comuns.

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O Brasil assiste a outra bravata demagógica de um partido que dominou o país com a mais envelhecida demagogia de esquerda capaz de qualquer afronta como se aqui fosse território petista, nunca uma nação. Tratam o Brasil como se consideram: republiqueta de bananas.

As entrevistas de Dilma são exemplos do nosso atraso

Para quem lutou com a própria vida contra o regime militar e pela liberdade no ambiente político, a presidente Dilma Rousseff vem fazendo péssimo uso da democracia que sua geração conquistou. Sob sua responsabilidade, o Brasil se meteu em um impasse. Mas Dilma não presta contas de maneira transparente. Nem para defender posições e medidas que deve ter tomado com boas intenções, mas que deram errado.


Trabalhei pela Folha em Washington durante parte o governo George W. Bush (2001-2009). Mesmo na lama com a farsa das armas de destruição em massa para invadir o Iraque, a tortura de prisioneiros por soldados americanos em Abu Ghraib e a baixa popularidade, Bush concedia entrevistas coletivas periódicas na Casa Branca.

Era massacrado com perguntas duras, mas sempre respeitosas. E tentava tirar o melhor proveito. Muitas vezes se esquivava e era evasivo. Mas estava lá, de frente, no jogo democrático. Dando satisfações aos cidadãos do país que representava.


Como Dilma, Bush mentiu e se reelegeu. Mas, diferentemente da brasileira, prosseguiu com o ritual de coletivas a jornalistas. Já nossa presidente não fala, não se expõe e ignora prestar contas de um governo que faz tudo ao contrário do que prometeu na eleição. Do alto do maior cargo da República, é um mais um exemplo do nosso atraso.

Neste mês, a presidente resolveu falar duas vezes. Em entrevista ao “Estado” (“Dilma pedala, alonga e diz que não sente fome”), revelou que come banana esquentada no microondas e “whey protein”. Não deixou a repórter perguntar nada fora da rotina de seu passeio.

Na segunda oportunidade, falou ao “Programa do Jô”, na Globo. Começo pelo comentário do Gordo ao final da entrevista, que definiu como “momento histórico” de seus 54 anos de profissão: “Espero que tenha sido bom, porque hoje é dia dos namorados. Temos que sair daqui os dois satisfeitos”.

A culpa não é do Jô, que abordou o tema que considera “fundamental” do Petrolão em 40 segundos de uma entrevista de 69 minutos e que acha “impressionante como o preço do dólar influi na economia do mundo inteiro”.


É da presidente, que se esconde da mídia especializada há anos e não chega nem perto de coletivas regulares. As exceções foram os modorrentos debates na eleição, sem direito a réplica dos jornalistas quando os candidatos respondiam qualquer coisa.

Mas Jô nos faz refletir com duas colocações. Quando lembra a Dilma que ela não tem mais a preocupação de conquistar um segundo mandato e, depois, quando pergunta como a presidente gostaria de ficar conhecida nos livros de história.

Como em quase toda a entrevista, a opinião de Dilma aqui não tem a menor importância.

Presidente Dilma, constrangedor é o seu governo!


Como brasileiro, sinto-me constrangido. Cheguei da Inglaterra na semana passada. Sem exceção, todas as perguntas que me fizeram sobre o Brasil, em estações de trem, no metrô e no comércio, se referiam aos escândalos e à perda de credibilidade do governo. Algo assim é incompreensível no Reino Unido porque lá o regime proporciona condições para que maus governos caiam naturalmente, dentro da norma constitucional.

Após as manobras restritivas e antidemocráticas em que o governo de Nicolas Maduro envolveu o grupo de senadores brasileiros que visitavam o país, a presidente Dilma avaliou que a iniciativa da oposição colocou seu governo numa “armadilha”, criando “constrangimento” para o Brasil. O Planalto sustenta que a viagem foi uma intromissão em assuntos internos da Venezuela.

Ah! Então não é o governo venezuelano que deve ficar constrangido com o fato de manter oposicionistas presos, há mais de ano, sob a acusação de estimular manifestações contra o regime bolivariano? Não é o governo de Maduro que deve corar diante da percepção internacional de que implantou uma ditadura sobre seu povo, fechando jornais, impedindo a livre manifestação das ideias, executando manifestantes durante gigantescas manifestações de rua? Não é a senhora, presidente, que deve ficar constrangida por sua atitude ao sequer receber as esposas de Daniel Ceballos e Leopoldo Lopez? Não a constrange a distância entre o nada convincente discurso local pela democracia e pelos direitos humanos e a afetuosa relação que mantém com as duas mais perversas e desastrosas ditaduras da América Ibérica?

Lembre-se bem do que seu governo fez quando as instituições paraguaias – em procedimento lisa e transparentemente constitucional – destituíram o presidente Lugo. Seu governo enviou observadores. Esses observadores deram palpite sobre os acontecimentos. A intromissão de seu governo culminou com a expulsão do Paraguai do Mercosul. Essa manobra escusa visou, na verdade, a atender o pedido de ingresso, no bloco, da “democrática” Venezuela, que vinha sendo vetado pelo Senado paraguaio. Em 2009, fora a vez de Lula proporcionar um tremendo escarcéu quando da destituição do hondurenho Manuel Zelaya, após sucessivas afrontas à Constituição do país.

As prisões cubanas ainda mantêm presos alguns dos dissidentes que foram recolhidos na onda repressiva de 2003. Passaram-se 12 anos! Sucessivas visitas de dirigentes e governantes petistas enfrentaram com silêncio conivente e sem qualquer constrangimento, os apelos dos familiares dos presos por uma atitude solidária do Brasil. Nada! Agora, a presidente não se constrangeu com as manobras para bloquear o tráfego dos senadores em direção ao presídio, nem com a emboscada armada pelos camisas vermelhas de Maduro. Ela se considera vítima de uma armadilha e constrangida pela viagem de solidariedade que promoveram.

Raízes do Brasil

Ilusões perdidas

· O preço que a sociedade está pagando pela submersão do PT na areia movediça da degradação moral é incalculável

“Ubi sunt qui ante nos fueront?” é uma expressão latina, mote de vários poemas medievais, que, traduzida, pergunta: Onde estão agora aqueles que existiram antes de nós? É um questionamento sobre a transitoriedade da vida, mas pode também ser tomada como uma reflexão a respeito das pessoas e ideias nas quais um dia depositamos crédito e que, desafortunadamente, nos decepcionaram de maneira irrevogável. Quando isso ocorre nas relações privadas desenrola-se um drama. Se na vida comunitária, encena-se uma tragédia.

O financiamento público de campanhas eleitorais esteve desde o início entre as principais bandeiras do PT como arma no combate à corrupção. Em 2013, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a defender uma reforma política que caracterizasse o financiamento privado como crime inafiançável. No entanto, passados pouco mais de dois anos, Lula voltou atrás e afirmou não ver problema em, “de cabeça erguida”, o PT aceitar dinheiro de empresas para patrocinar candidaturas.

Por muito menos, em 1997 a ex-prefeita de São Paulo e deputada federal Luiza Erundina foi pressionada a deixar o partido após aceitar convite do ex-presidente Itamar Franco para assumir uma pasta em seu ministério. Na época, o PT havia se colocado em oposição incondicional ao governo, aliás, um enorme equívoco – Itamar revelou-se fiador da nossa frágil democracia e iniciou o processo de estabilização da economia. Ironicamente, para reeleger a presidente Dilma Rousseffe manter-se no poder, no ano passado o partido não titubeou em aceitar o apoio do ex-presidente e atual senador Fernando Collor, que renunciou ao mandato em 1992 para evitar o impeachment por corrupção.

O PT surgiu em fins dos anos 1970 como uma novidade histórica: uma agremiação de esquerda alicerçada em movimentos populares, sem o ranço do autoritarismo reacionário comunista. Assentado em um discurso reformista que pregava mudanças políticas e sociais respeitando as regras da democracia, o partido se consolidou ao longo dos anos 1980. No entanto, na medida em que ganhava eleições municipais e estaduais, os princípios éticos que norteavam os ideais petistas iam se esgarçando. Finalmente, quando alcançou o governo federal em 2003, pouco restava do pensamento original.

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É indiscutível que ainda assim houve importantes avanços, principalmente no campo social –aspecto que delimita a diferença radical entre as práticas políticas de esquerda e de direita. Mas o preço que a sociedade está pagando pela submersão do PT na areia movediça da degradação moral é incalculável. O cinismo com que quadros do partido justificam as atitudes de dirigentes envolvidos em crimes de corrupção, muitas vezes usando argumentos que quase chegam a repetir o lema “rouba, mas faz”, é estarrecedor. Exemplo recente é a moção de apoio ao ex-tesoureiro João Vaccari Neto, que encontra-se preso acusado de desviar recursos da Petrobras – antecipando-se à Justiça, o partido presume sua inocência.

Em 1982, durante campanha para eleição ao governo do Estado de São Paulo, na qual foi derrotado, Lula pronunciou uma famosa sentença: o PT mata a cobra e mostra a cobra morta. Hoje, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, vem a público declarar que o que houve no mensalão foram “erros” e não crimes. A ética relativa do PT exemplifica em que se converteram os ideais do início da formação do partido. Suas lideranças pouco a pouco assenhoraram-se da verdade, tornando-se comandantes messiânicos pairando acima do bem e do mal. O sectarismo advoga que os fins justificam os meios. Esquecem-se, no entanto, que, se a verdade é transitiva, a ética é um princípio basilar inegociável.


Esse delírio megalomaníaco do PT não afunda apenas o partido, mas configura-se como um perigoso revés para a nossa débil democracia, já que, equiparando-se aos outros partidos, esvazia a esperança dos que um dia sonharam com um Brasil mais justo. Por conta dos desmandos dos gestores do PT, o país encontra-se refém do PMDB, que tem como líderes os presidentes da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros – este, aliás, para quem não se lembra, ministro da Justiça do governo de Fernando Henrique Cardoso.

Políticos, uma espécie em extinção

Em política, uma coisa é aproveitar o descontentamento, outra é saber construir políticas de Estado
Nenhum Governo do mundo anda à frente do seu povo. A disparidade entre governantes e governados é, a julgar pela Internet, evidente demais. Sempre achei que Cristina Fernández de Kirchner zombava da história e do povo argentino ao escolher o Twitter como seu Legislativo peculiar e principal meio de comunicação. Agora reconheço que, por consciência ou intuição – o que em política deve ser a mesma coisa –, ela tinha razão.

Sempre considerei que um general elevado a presidente da Guatemala, como Otto Pérez Molina, não precisava saber o que é o passarinho azul do Twitter, mas foram as redes sociais que derrubaram a sua vice-presidenta, Roxana Baldetti, e colocaram seu Governo em evidência. Sempre achei normal o medo coletivo em relação às emissoras de TV do México por causa de seu peso político, mas depois das eleições de 7 de junho reconheço que eu tampouco sabia coisa alguma. As redes, sobretudo a Televisa, dedicaram toda a sua munição a tentar liquidar o candidato independente a governador de Nuevo León, Jaime Rodríguez, conhecido como El Bronco. Em horário nobre, quando os mexicanos imitam o povo do norte-coreano Kim Jong-un e são doutrinados sobre o que vai bem e o que vai mal, as emissoras mostraram El Bronco como uma pessoa politicamente incorreta e incômoda. Mas, quando as urnas foram fechadas, El Bronco tinha o dobro dos votos dos outros candidatos.

O mundo mudou. Pobre daquele que não percebe. Hoje, os jovens, longe de acreditarem que a política é “um rolo dos seus pais”, compreenderam que o voto é a sua melhor arma. Atiram a queima-roupa contra uma classe política defasada e que se caracteriza – urbi et orbi – por sua comunhão com a “sacrossanta missa da corrupção”. Atiraram para mudar, não ficam em casa, nem se refugiam nas drogas ou no álcool. Atiram, querendo mandá-los embora.

Muitos acreditam no México que nada mudou depois das últimas eleições: o PRI continua sendo o principal partido, e o Governo e seus aliados têm maioria. Entretanto, tudo mudou. Não só porque um candidato independente abriu as portas a outros que poderiam chegar ao [palácio presidencial de] Los Pinos, mas também porque a “canção do futuro” já não está mais nas mãos dos partidos que passaram, na América Latina, de deter o poder a sofrer o estigma da corrupção. Basta observar o Partido dos Trabalhadores no Brasil, o Partido Revolucionário Institucional no México e o Partido Patriota da Guatemala.

Em política, uma coisa é aproveitar o descontentamento, outra é saber construir políticas de Estado. Os exemplos das forças emergentes na Espanha e os independentes no México só refletem a formalização de um Estado do desacordo, mas não garantem que isso sirva para fazer política.

Os políticos, saibam ou não, são uma espécie em extinção. Não contam com a fé coletiva nem com o respeito de seus filhos.


Este fenômeno está crescendo, mas não com a abstenção ou com o voto nulo. Qualquer geração e qualquer país têm o direito de sonhar. Isso significa usar – como já fez Lênin – os instrumentos do sistema para acabar com o próprio sistema. Agora as possibilidades são outras, e age mal quem acredita que tudo está prejulgado e que a condição humana afinal volta para o de sempre: tripas, sexo e abuso.

Por isso, a grande lição não é prestar atenção na composição dos parlamentos ou das maiorias, e sim saber reconhecer o que cheira a passado e a futuro. Não é um problema de 140 caracteres, mas sim de compreensão dos novos tempos, nos quais há outro fator: as pessoas decidiram usar o sistema para acabar com o sistema. Por isso decidem votar.