quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Roubaram até a chuva
Espetaram na Petrobras uma fatura de pouco mais de US$ 130
milhões como indenização por chuvas no agreste pernambucano, mesmo quando o
tempo estava seco e sereno
Em 1992, o escritor Otto Lara Resende caminhava por uma rua
do Rio quando choveu dinheiro sobre sua cabeça. O caso foi contado com a
suavidade de um clássico da bossa nova por Ruy Castro, autor de “O poder de mau
humor” (1993), onde se aprende como o poder é cruel: “Antes de nos arruinar,
quer primeiro nos enlouquecer.”
Aconteceu durante a desordem político-econômica do governo
Fernando Collor. Apeado da Presidência no impeachment decantado por um coro
petista, Collor renasceu na década seguinte aliado a Lula e, desde então, tem
assento garantido na bancada governista, sob liderança do PT.
Otto recebeu um monte de moedas na cabeça. Não se machucou.
Viu que nem mendigos se davam ao trabalho de recolher aquele dinheiro sem valor
espalhado no chão, e escreveu: “Nem peso ou consistência material essa droga
tem.”
Mantendo-se na inércia, Dilma Rousseff corre o risco de
começar o segundo mandato presidencial sob uma simbólica chuva de títulos da
Petrobras, que perdeu quase 55% do valor de mercado nos últimos dois anos.
Por trás da corrosão das moedas sob Collor e das ações da
Petrobras sob Dilma, podem-se vislumbrar laivos da “fase 1”, para usar o jargão
da burocracia, da crueldade do poder de enlouquecer, antes de arruinar.
A balbúrdia na estatal petroleira possibilitou, entre
outras coisas, que fosse roubada a chuva no agreste nordestino. Aconteceu
durante a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, negócio público
que começou custando US$ 2,5 bilhões e já ultrapassa US$ 20 bilhões — mais de
um terço acima de similares e contemporâneas da Índia (quatro), na China (três)
e na Arábia Saudita (duas).
Em geral, uma obra de construção civil para quando chove e o
custo dessa interrupção é normalmente absorvido pelo empreiteiro.
Em Abreu e Lima, a conta da paralisação por chuvas (raios,
também) ficou com a petroleira estatal. As empreiteiras do “cartel de
leniência” espetaram uma fatura de pouco mais de US$ 130 milhões como
indenização pelas chuvas no agreste. O cálculo do tribunal de contas é
preliminar.
O monólogo vermelho
“ Eu sou de
esquerda. E tenho muito orgulho disso. Eu sou bom, minha consciência é limpa.
Eu sou tão superior a esta população de idiotas, alienados, que inflo o peito
com alegria ao me ver pairando acima da massa de babacas tanto da pequena
burguesia quanto da elite branca, que deve ser arrasada para que impere a
verdadeira elite vermelha, que sou eu, somos nós. Como será maravilhoso o fim
da propriedade privada, mesmo que para isso seja necessário enquadrar, prender,
até matar reacionários como fizeram nossos chefes tão criticados pelos
socialdemocratas, os maiores inimigos da Revolução. Lembro sempre as palavras
de Trotsky: ‘quem foi que disse que a vida humana é sagrada?’
Claro que os
dirigentes terão direito a apartamentos duplex ou triplex, automóveis oficiais,
porque, afinal, ter o controle dos meios de produção, limitação da mídia, dá
muito trabalho – e não são privilégios, não; são direitos nossos de comandantes
na construção do futuro. Desde que entrei no Partido, sou parte de um olimpo do
pessoas extraordinárias. Nos olhamos com o doce sentimento de pairar acima das
multidões. Ai, que bom... participar de comitês revolucionários com discussões
ideológicas que se estendem até o cu da madrugada, sair ao amanhecer e ver a
multidão de operários indo para o trabalho, enquanto nós decidíamos seu futuro.
Mesmo as brigas internas me emocionavam, aquela luta pela fome de subir no Partido,
a vigilância do outro, o silêncio sobre os erros, as falsas autocríticas, até
mesmo a alegria de injustiças feitas em nome do bem.
Eu sou um elo
da cadeia que vai desde a revolução soviética, em 1917, até hoje na grande
reconstrução da Venezuela feita pelos nossos irmãos bolivarianos. Ainda bem que
o Putin está refazendo tudo que a URSS perdeu por obra dos agentes do
imperialismo ianque, pois todos sabemos que o canalha do Gorbatchov foi
treinado na CIA. Depois que eu virei um revolucionário do Partido, faço sucesso
com as companheiras e mesmo as reacionárias, o que me dá, ao comê-las, uma
mistura de prazer com vingança. Mas, o grande prazer é sentir-se na ‘linha
justa’, é saber que nada é culpa nossa, mas do imperialismo norte-americano,
esse dragão do mal que até instilou câncer no corpo do comandante Chavez, como
ele próprio denunciou, na forma de um passarinho no ouvido do comandante
Maduro.
Aí, ficam os
neoliberais nos acusando de roubo das companhias estatais, como a Petrobras.
Mas nós temos o direito de desapropriar instituições para financiar nosso
futuro. A Petrobras sempre foi nossa, sempre foi um tesouro dos amantes do
povo, sempre esteve ali como um motor para mover a revolução nacionalista.
Armar grandes fontes de propinas que caem em nosso partido é um gesto
revolucionário. Tudo bem que o valor da Petrobras tenha caído de 700 bilhões
para 150 bilhões por causa dos escândalos, dos roubos, mas nos consola saber
que esse dinheiro desviado foi para o bem do povo que professamos, pois não há
bem sem verba.
Aliás, nem só
a Petrobras, mas qualquer companhia pública do país nos favoreceu: aeroportos,
portos, fundos de pensão (oh...maravilha!) podem ser desapropriados (ou
predados, como dizem os neoliberais), pois estamos a criar num novo país. Ainda
não sabemos como será, mas certamente queremos que o Estado seja dono de tudo,
inclusive do desejo das pessoas, livres da sociedade alienada onde se acoitam
os inimigos do povo.
Esse papo de
democracia é muito sem ‘design’, muito falatório, muitas opiniões, muita
liberdade e uma insuportável multiplicidade de desejos. Bom é o ‘um’, em vez do
burburinho de opiniões diversas. Por isso eu amo a Coreia do Norte. Tudo bem
que eles sejam um pouco radicais, mas há que reconhecer que vibro com o
universo controlado que o Kim armou para organizar tudo. Os passos de ganso dos
desfiles patrióticos, toda a população chorando e fingindo teatralmente quando
morreu o pai do Kim. Como é belo tudo isso; parece haver só um homem, todos
iguais como o próprio presidente Kim, com seu cabelinho cortado que todos devem
copiar...
Ah.. que
saudades dos velhos tempos de 1963... Agora estamos voltando a essa época. Por
isso desenterramos o Jango para revigorar a boa ‘teoria da conspiração’
afirmando que ele foi envenenado pelo imperialismo. Minha fé no Partido me
deixa muito feliz, porque o comunista não morre nunca; somos seres sociais como
as formigas, e por isso, a morte individual pequeno-burguesa não me atingirá –
sinto-me eterno.
Agora estamos
sob ataque das forças da elite conservadora. Muitos supostos crimes foram
delatados, e nos chamam de organização criminosa. Nada disso. Não temos medo
das consequências jurídicas, porque sei que essas revelações são tantas que
cairão na vala comum do Poder Judiciário, que não tem como julgar tanta coisa.
Com chicanas e recursos e ministros petistas vai se criar um congestionamento
de processos que vão virar uma massa informe que tem como aliada o
esquecimento.
E mesmo que
isso tudo signifique o desprestígio total do Brasil no mundo, me consola a
certeza de que mudamos o Brasil, mesmo transformando-o num lixo porque, afinal,
não acreditamos no conceito de ‘país’ – somos um sistema.
E tem muita
gente que me pergunta como vejo o futuro do país.
Bem, eu
imagino Brasília tomada de uma vez por todas. As praças e prédios do poder
invadidos e aparelhados, com multidões na praça dos Três Poderes aclamando os
líderes do nosso futuro, protegidos pelas milícias do MST e pela guarda
pretoriana dos intelectuais orgânicos das universidades e pelos pelotões do
Bolsa Família.
Já vejo com
emoção a brancura dos monumentos e dos palácios cobertos de milhares de
bandeiras vermelhas ao vento e o grande pendão da esperança vermelha tremulando
no mastro central.
E mais: onde
era o monumento do JK estará o grande caixão de cristal onde jazerá o Lula,
embalsamado para toda a eternidade!”
Em dez anos, Brasil perde 217 bilhões em fuga de ilícito
Entre 2003 e 2012, expatriação de divisas oriundas de corrupção, fraude e outros crimes equivale a 10% do PIB nacional. Leis são rígidas, mas execução é dificultada pela morosidade da Justiça, dizem especialistas.O resultado coloca o Brasil na sétima posição se for considerado o total de capital ilegal expatriado entre 2003 e 2012. China (1,25 trilhões de dólares), Rússia (973 bilhões), México (514 bilhões) e Índia (439 bilhões) são os primeiros colocados no ranking elaborado pelo instituto sediado em Washington, nos EUA. Em 2012, o Brasil ficou na oitava posição, com cerca de 34 bilhões de dólares.
"Os fluxos ilícitos são, em parte, relacionados com o valor do PIB. Como o país é a sétima economia mundial, quanto maior for ela, maior será a capacidade de gerar fundos ilícitos", comenta Dev Kar, economista-chefe do GFI. "O tamanho da economia informal do país, estimada entre 2010 e 2012 em 21,79% do PIB, também influencia. Quanto maior a economia paralela, maior é a capacidade de financiar fluxos ilícitos."
Para Gilberto Braga, professor de finanças do Ibmec/RJ, a má posição do Brasil é explicada por uma combinação de dois fatores. O primeiro é a alta carga tributária interna, que faz com que muitos empresários busquem a evasão fiscal e a retirada de recursos do Brasil para países de menor tributação. O segundo é a corrupção e a consequente necessidade de esconder recursos em paraísos fiscais, que normalmente oferecerem anonimato e tributação mais baixa.Leia mais
Procura-se o refundador
'Faxinaço' na sede da Petrobras nesta terça-feira, em São Paulo |
O nó da substituição de Graça só será desatado de vez quando Dilma encontrar um executivo de primeira linha que aceite o desafio de refundar a Petrobras.
Sim, porque a Petrobras precisa ser refundada.
Lula e o PT operaram o prodígio de desvalorizá-la em 80% nos últimos 10 anos. A empresa jamais voltará a ser forte e admirada no mundo como foi.
Ricardo Noblat, "Descanse em paz, Graça"
O Brasil ainda é o Brasil?
Por que as
instituições nada fazem contra a matriz de corrupção instalada no coração do
poder? Mistério. Por que Bolsonaro suscita maior comoção e interesse entre os
formadores de opinião do que as denúncias da geóloga Venina Velosa da Fonseca?
Mistério. Por que o relatório de uma Comissão Nacional da Verdade que sepulta
verdades e ressuscita mentiras ganha espaço como se credibilidade tivesse,
malgrado afronte a própria lei que a criou? Mistério. Por que, para tantas
pessoas, o mal está na mera existência da revista Veja e não nos crimes que ela
denuncia? Mistério. Por que é tão solenemente ignorada a existência do Foro de
São Paulo, como bem sinaliza Olavo de Carvalho? Mistério.
Por que não
causou estranheza em parte alguma que a pessoa escolhida para ocupar a função
de tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, seja, justamente, o ex-presidente de
uma cooperativa habitacional que lesou centenas de associados? Não está ele
sendo processado por estelionato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e
falsidade ideológica? Comanda as finanças do PT e só a Veja acha estranho?
Mistério. Por que o partido que governa a República perdeu todo interesse em
desvendar os enigmas em torno da morte de Celso Daniel? Mistério, mistério,
mistério. Para onde quer que se olhe, lá está a densa bruma de onde quase se
espera o surgimento de dragões, unicórnios e manticoras.
Pois eis que,
de repente, fica-se sabendo que a presidente da República foi a Quito
participar de uma reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e que
nessa reunião foram tomadas diversas decisões envolvendo supostos interesses
comuns aos países do bloco. E com que parcerias!
Pois bem, as
relações internacionais do Brasil, de uns tempos para cá, seguem estratégias
incomuns e nos têm custado muito caro. Não seria preciso mais do que isso para
despertar o interesse da mídia nacional. Mas não despertou. Por quê? Mistério.
E não me consta que alguém tenha gasto meia hora, seja na mídia, seja no
Congresso Nacional, para investigar o que significará, na vida prática, algo
tão enigmático (mormente entre nações sob tais governos) quanto a Unidade
Técnica de Coordenação Eleitoral que passará a funcionar na Unasul. Por quê?
Mistério.
Tampouco
suscitou interesse a decisão de criar uma Escola Sul-Americana de Defesa, que
até sigla já tem: Esude. E para que servirá a Esude? Para constituir “un centro
de altos estudios del Consejo de Defensa Suramericano de articulación de las
iniciativas nacionales de los Estados Miembros, formación y capacitación de
civiles y militares en materia de defensa y seguridad regional del nivel
político-estratégico”. Será que só eu fiquei preocupado com isso? Será que só eu
fui buscar informações e me deparei com este vídeo? Terei sido o único a
descobrir que, conforme ali se explica, a tal Esude tem por objetivo formar
civis e militares afastados das “lições caducas com que se formavam nossos
militares”, as quais seriam “quase cópias dos manuais gringos,
norte-americanos”? O que dizem sobre tudo isso nossos comandantes militares?
Mistério.
Definitivamente,
de duas uma: ou estou ficando incapaz de compreender o Brasil, suas
instituições e seu povo, ou o Brasil está se tornando outra coisa qualquer.
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