Por que as
instituições nada fazem contra a matriz de corrupção instalada no coração do
poder? Mistério. Por que Bolsonaro suscita maior comoção e interesse entre os
formadores de opinião do que as denúncias da geóloga Venina Velosa da Fonseca?
Mistério. Por que o relatório de uma Comissão Nacional da Verdade que sepulta
verdades e ressuscita mentiras ganha espaço como se credibilidade tivesse,
malgrado afronte a própria lei que a criou? Mistério. Por que, para tantas
pessoas, o mal está na mera existência da revista Veja e não nos crimes que ela
denuncia? Mistério. Por que é tão solenemente ignorada a existência do Foro de
São Paulo, como bem sinaliza Olavo de Carvalho? Mistério.
Por que não
causou estranheza em parte alguma que a pessoa escolhida para ocupar a função
de tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, seja, justamente, o ex-presidente de
uma cooperativa habitacional que lesou centenas de associados? Não está ele
sendo processado por estelionato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e
falsidade ideológica? Comanda as finanças do PT e só a Veja acha estranho?
Mistério. Por que o partido que governa a República perdeu todo interesse em
desvendar os enigmas em torno da morte de Celso Daniel? Mistério, mistério,
mistério. Para onde quer que se olhe, lá está a densa bruma de onde quase se
espera o surgimento de dragões, unicórnios e manticoras.
Pois eis que,
de repente, fica-se sabendo que a presidente da República foi a Quito
participar de uma reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e que
nessa reunião foram tomadas diversas decisões envolvendo supostos interesses
comuns aos países do bloco. E com que parcerias!
Pois bem, as
relações internacionais do Brasil, de uns tempos para cá, seguem estratégias
incomuns e nos têm custado muito caro. Não seria preciso mais do que isso para
despertar o interesse da mídia nacional. Mas não despertou. Por quê? Mistério.
E não me consta que alguém tenha gasto meia hora, seja na mídia, seja no
Congresso Nacional, para investigar o que significará, na vida prática, algo
tão enigmático (mormente entre nações sob tais governos) quanto a Unidade
Técnica de Coordenação Eleitoral que passará a funcionar na Unasul. Por quê?
Mistério.
Tampouco
suscitou interesse a decisão de criar uma Escola Sul-Americana de Defesa, que
até sigla já tem: Esude. E para que servirá a Esude? Para constituir “un centro
de altos estudios del Consejo de Defensa Suramericano de articulación de las
iniciativas nacionales de los Estados Miembros, formación y capacitación de
civiles y militares en materia de defensa y seguridad regional del nivel
político-estratégico”. Será que só eu fiquei preocupado com isso? Será que só eu
fui buscar informações e me deparei com este vídeo? Terei sido o único a
descobrir que, conforme ali se explica, a tal Esude tem por objetivo formar
civis e militares afastados das “lições caducas com que se formavam nossos
militares”, as quais seriam “quase cópias dos manuais gringos,
norte-americanos”? O que dizem sobre tudo isso nossos comandantes militares?
Mistério.
Definitivamente,
de duas uma: ou estou ficando incapaz de compreender o Brasil, suas
instituições e seu povo, ou o Brasil está se tornando outra coisa qualquer.
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