quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Para que servem as leis


'Noblesse oblige'


À honestidade dos explorados corresponde muito de perto a consideração dos seus patrões
A nobreza obriga. Ela demanda do nobre, do dono, do empresário e, acima de tudo, dos “políticos” — dos que ocupam cargos públicos temporários e abarrotados de poder —, uma boa porção de deveres. De dívidas e de responsabilidades para com os subordinados, com os governados e com a sociedade como um todo. O capitão é o último a abandonar o navio; os ratos são os primeiros.

Em algumas sociedades tribais, os curadores desleixados e egoístas são punidos com a morte. O caso mais contundente de noblesse oblige encontra-se entre os shiluk do antigo Sudão, estudado magistralmente pelo antropólogo inglês Evans-Pritchard. Lá, o rei não podia realizar atos impuros e corruptos. Se o fizesse, todo o reino sofria e ele — como encarnação de Nyikang, o espírito onipresente legitimador e símbolo da própria sociedade e das suas normas morais — seria assassinado. Tal como na Grécia e na Roma antigas, rex est mixta persona cum sacerdote (o rei é uma figura que reúne nobreza e sacerdócio). A despeito de todas as utopias revolucionárias, as nobrezas têm um lado sacerdotal de origem e, se esse lado é esquecido ou abusado, com ele se vão a ética e a honra devida ao seu caráter. Mas o Brasil de hoje passa ao largo de tudo isso. De fato, nestes tempos de mistificação geral e oficial, a palavra de ordem é justamente esquecer essa chatice obviamente reacionária do "noblesse oblige".

Essa ética da obrigação (ou da generosidade) incomoda porque revela o poder visto do ângulo do reprimido dos subordinados, bem como a sua dimensão interdependente. Ela lembra que os empregados daqueles que por nascimento, eleição, talento ou sucesso, tornaram-se poderosos, ricos e famosos devem contar com um mínimo de proteção moral. Podem não ter cofres, capacidade para decretar, interesses, compromissos pessoais e partidários, mas, se deixarem de obedecer, de confiar ou de respeitar seus patrões — se suprimirem a relação com eles —, o sistema (o todo) vai abaixo, como estamos vendo no aumento da chamada violência neste nosso Brasil sem nenhuma "noblesse oblige".

O nobre, como o senhor, pode ter a espada, o chicote o mercado e até mesmo os juízes e a lei, mas o subordinado tem aquilo que alguns antropólogos antigos — que escreveram quando os animais ainda não discursavam — chamavam de “poder dos fracos”. O poder de abençoar (ou amaldiçoar) e de serem honestos e amorosos com os nossos filhinhos e os nossos bens. A rebelião nasce da maldição e da vingança.


Pois, para esses traidores da democracia e ladrões da riqueza coletiva, a nobreza desobriga! Daí o surto de desânimo, de desconfiança e de apatia dos que silenciam por não terem poder ou dinheiro, mas demandam e têm o direito à honestidade, ao pedido de desculpa e ao reconhecimento dos erros dos poderosos. Ninguém pode ou deve esconder-se por detrás da Bandeira do Brasil. Tentar usar desse expediente é mais do que desfaçatez: é covardia e traição para com o todo que nos une.

Balada do inquilino


 Esta vida, não se iluda,
É uma casa alugada.
Haverá um dia em que
Não poderemos pagá-la
E seremos despejados.

Antes, outros perderão
O direito de habitá-la.
Aquele que vive no quarto
Com medo do desfecho
E quem, corajosamente,
Armou sua cama na sala
- todos irão do mesmo jeito.

Este senhorio é implacável.
Um dia não poderemos pagá-lo
E então nos expulsará deste berço
E passaremos a noite ao léu
- fantasma que nada tem de seu,
corpo, roupas ou endereço.

Um dia nos livraremos do aluguel.


Miguel Sanches Neto, "Venho de um país obscuro"

Que é isso, companheiro?


O que é isso? Em que país vivemos? Os bandidos perderam a noção das coisas! Como podem se apropriar desse montante?

Que Lula fale sobre a Petrobras

Os brasileiros ainda seguem dando um voto de credibilidade ao carismático ex-presidente que transformou esse país dando voz a milhões de pobres
 É impossível separar o ex-presidente Lula do caso que sacode a Petrobras e das sequelas que os escândalos estão causando. Como um editorial desse jornal escreveu, Lula havia identificado a Petrobras com o Brasil, com seu futuro de prosperidade, com o orgulho da petrolífera, então invejada pelo resto do mundo.

Estão aí as imagens de Lula com as mãos manchadas de óleo, vestido com o uniforme da Petrobras, lançando uma imagem de ilusão ao país.

Hoje, tanto Lula como a presidenta Dilma Rousseff estão na boca de todos como os principais responsáveis do bem e do mal da Petrobras. Um magistrado do Supremo chegou a dizer que, comparado com esse novo escândalo, o do mensalão poderia ser objeto de um simples caso das “pequenas causas”.

Dilma já falou. Assegurou que seu governo não colocará obstáculos às investigações judiciais, algo óbvio, porque fazê-lo seria um crime.

Ela assegurou que “não deixará pedra sobre pedra” na busca dos supostos corruptos que atuavam como uma máfia dentro da maior empresa do país, e que se hoje esses “desvios de conduta” são conhecidos, e é melhor chamá-los de crimes contra o patrimônio nacional, é porque nunca a Polícia Federal foi tão atuante na busca pelos culpados.

O problema, entretanto, é que os brasileiros desejariam saber da Presidenta recém eleita nas urnas se ela sabia ou não, quanto sabia e desde quando, do que se tramava em uma empresa da qual ela esteve sempre tão próxima e responsável por conta dos cargos nela exercidos.

Após as últimas denúncias da imprensa de que ela e Lula haviam sido avisados, anos atrás, de que havia algo de podre na Petrobras, que estava sendo saqueada por diretores e gerentes nomeados por ela e Lula, é urgente, que tanto a Presidenta como o ex-presidente, falem com sinceridade à nação, se for necessário para reconhecer culpas e apresentar uma proposta de ajuste.


E sobretudo Lula deveria falar, ele que foi o grande impulsor da petrolífera apresentando-a ao mundo como exemplo de empresa nacional bem sucedida e que deu a Dilma grandes responsabilidades sobre ela.

Redução de variedades de flores mata abelhas

 
Análise de espécimes mostra que declínio tem relação com expansão da agricultura
O quebra-cabeça que é o declínio geral das abelhas fica ainda mais complicado. A abelha europeia (Apis mellifera) e o resto dos insetos antófilos (que amam as flores) já tinham que lutar contra o vírus das asas deformadas, o fungo Nosema ceranae, o parasita Varroa destructor, sofisticados inseticidas neonicotinóides ou o próprio aquecimento global. Agora, um estudo acrescenta mais um inimigo: a redução da diversidade de plantas e árvores florais provocada pela agricultura moderna.

A Holanda é uma das regiões do mundo onde a agricultura mais avançou. Mais de 80% do território que era natural no início do século passado hoje é terra cultivada. Por isso, é um grande cenário real para estudar o impacto que a agricultura moderna está tendo sobre as abelhas. Aliados tradicionais dos agricultores, esses polinizadores estão desaparecendo em um ritmo alarmante, que alarmou os agricultores e os cientistas.

Um grupo de biólogos holandeses descobriu que há uma conexão entre a diminuição da diversidade floral e o declínio das abelhas. O trabalho deles se concentra nas espécies silvestres, mas suas conclusões podem ajudar a desvendar o colapso sofrido por muitas colmeias de abelhas melíferas.

“Os efeitos negativos do varroa, das doenças ou da quantidade de pesticidas pode ser reforçada por uma limitação da disponibilidade de comida”, diz o ecologista da Universidade de Wageningen e coautor do estudo, Jeroen Scheper. “Com as condições pioradas por um cenário de recursos escassos, as abelhas podem ser mais vulneráveis a estas ameaças. E o mecanismo pode funcionar em sentido inverso: os efeitos não-letais dos pesticidas podem afetar negativamente a eficiência forrageira das abelhas operárias, o que poderia ter um impacto maior quando a disponibilidade de recursos florais é baixa“, acrescenta.

As espécies de abelhas silvestres que se alimentam de rosáceas se multiplicaram Scheper e seus colegas coletaram exemplares entre várias coleções de museus e taxidermistas de mais de 50 espécies de polinizadores silvestres. Eles queriam saber de quais flores elas se alimentavam antes que, a partir dos anos cinquenta do século passado, a agricultura se espalhasse por quase todo o território holandês. Mas estavam procurando mais o pólen que o néctar.

“O pólen é um recurso alimentício crítico para as larvas das abelhas, mas elas não se desenvolvem com o pólen de todas as espécies de plantas. Algumas espécies de abelhas só crescem com o pólen de um único gênero ou família, enquanto outras espécies coletam de uma grande variedade vegetal. Mesmo neste caso, no entanto, as abelhas têm preferências por determinados táxons e se desenvolvem menos com as variedades que atraem menos”, explica Scheper. “Pelo contrário, as abelhas são menos exigentes com o néctar, ou seja, as espécies que coletam o pólen de uma única variedade de planta também recolhem néctar de muitas outras variedades vegetais”, acrescenta.