terça-feira, 5 de novembro de 2024

Por que apoiadores de Trump também devem ter cautela se ele voltar ao poder

Não sei quem vencerá a eleição presidencial. Ninguém sabe. Mas há, obviamente, uma chance substancial de que Donald Trump retorne ao poder. Estou preocupado com o nosso país e com o que minha própria vida seria sob um segundo mandato de Trump. E você também deveria estar.

O primeiro mandato de Trump, no qual nossa democracia permaneceu relativamente intacta, é um mau modelo para o que acontecerá se ele conseguir um segundo. As barreiras que o contiveram da última vez desapareceram. Se ele recuperar o poder, esta pode muito bem ser a última eleição mais ou menos livre e justa da América por um longo tempo.

E então? Alguns sugeriram que podemos estar caminhando para uma "autocracia suave" como a de Viktor Orban na Hungria, na qual o partido governante mantém o poder manipulando eleições, controlando os tribunais e silenciando a mídia, em vez de através de repressão violenta.

Deveríamos ter tanta sorte.


Há muitas razões para pensar que Trump e seus apoiadores mais fervorosos estão ansiosos para usar a violência contra seus oponentes: Quase quatro anos atrás, uma multidão violenta desceu sobre o Capitólio dos Estados Unidos e tentou reverter os resultados da última eleição presidencial. Mais recentemente, Trump, que chamou seus adversários políticos de "vermes", sugeriu usar nosso exército contra "o inimigo interno".

Na semana passada, ele criticou as visões belicistas de Liz Cheney —que endossou Kamala Harris— e então fantasiou: "vamos colocá-la com um rifle ali" e ver como ela se sentiria "quando as armas estivessem apontadas para o rosto dela". No domingo, em um comício, ele declarou que alguém tentando pegá-lo "teria que atirar através das notícias falsas e eu não me importo tanto com isso."

Também é importante perceber que Trump não precisaria usar o exército contra cidadãos americanos para criar um clima de medo e repressão. Tudo o que ele teria que fazer é tacitamente conceder permissão aos muitos extremistas que estão entre seus apoiadores para agir como vigilantes.

Ainda assim, você pode imaginar que, mesmo se a América se tornar "Magafield", você não estará pessoalmente em risco. Se é isso que você acredita, talvez queira reconsiderar.

No final, não importará se você não está vivendo ilegalmente nos EUA ou se é porto-riquenho ou um democrata vocal.

Você trabalha para uma organização de notícias? A menos que seu veículo tenha sido um torcedor fervoroso dele e de sua agenda, Trump considera você um "inimigo do povo". E o apoio deve ter sido alto; Trump até acusou a Fox News de ser "fraca e suave com os democratas."

Você trabalha em uma agência estatística do governo? Alegações falsas de que números que o Maga não gosta são fraudulentos agora são prática padrão republicana. Se, como sugerem pesquisas de economistas, as políticas de Trump se mostrarem altamente inflacionárias, eu não ficaria nem um pouco surpreso se houver uma purga no Bureau of Labor Statistics, com funcionários civis profissionais sendo forçados a sair e substituídos por leais que produzirão números mais favoráveis.

Você é bibliotecário? Não precisamos especular aqui: uma vez membros universalmente amados de suas comunidades, muitos bibliotecários já enfrentaram assédio e ameaças de direitistas que querem banir livros que não gostam. Espere que isso piore muito se Trump assumir o poder.

Você é médico? Agora que Trump diz que dará a Robert Kennedy Jr. um papel importante na política de saúde —"Vou deixá-lo enlouquecer na saúde", ele disse— em algum momento você pode estar se colocando em risco se, por exemplo, administrar vacinas ou até mesmo dar conselhos aos pacientes com base na melhor ciência médica.

Você é um empresário que tenta se manter fora da política? Mesmo que eu esteja errado ao supor que Trump seria pior que Orban, considere que grande parte da economia da Hungria foi tomada por capitalistas de compadrio com laços com o partido governante.

Você é bilionário? Você pode pensar que sua riqueza o protegerá. Na verdade, no entanto, isso o torna um alvo, e um alvo fácil, dada a amplitude de seus interesses comerciais. Alguns dos ultra-ricos parecem estar percebendo isso; minha impressão é que pelo menos alguns passaram da ganância (Trump vai cortar meus impostos) para o medo (é melhor não criticá-lo, ou ele pode retaliar).

Finalmente, você é um apoiador de longa data de Trump? Movimentos radicais que tomam o poder muitas vezes acabam devorando os seus próprios. Às vezes isso acontece porque eles não eram radicais o suficiente —eram como John Kelly, que foi um dos secretários de Segurança Interna de Trump e um de seus chefes de gabinete da Casa Branca, mas agora descreve Trump como "um autoritário" que "certamente se enquadra na definição geral de fascista."

Às vezes, no entanto, antigos apoiadores acabam punidos simplesmente porque estavam do lado errado de uma luta interna pelo poder.

Em suma, a América pode estar prestes a se tornar um lugar muito sombrio. E aqueles que imaginam que suas vidas simplesmente continuariam como antes, intocadas de qualquer maneira significativa pelo potencial medo e caos, estão cometendo um grande erro.

Pensamento do Dia

 


Breve nota sobre a idolatria

A idolatria foi condenada por três religiões diferentes – e nem sempre convergentes – como um dos piores pecados que um ser humano pode cometer. A Bíblia, a Tora e o Alcorão convergem nisso sem a mais pequena reserva. O homem que idolatra não admira com fundamento: adora com fanatismo e vê, nos que ponham reservas a tão aquecida paixão, um inimigo arrogante, um desmancha-prazeres e um convencido. Quiçá um herético ou um infiel a abater. A idolatria renega o equilíbrio, a saúde mental e o sentido crítico.

Sobre a idolatria, o grande dramaturgo irlandês, George Bernard Shaw, disse várias coisas saborosas, entre elas, esta: “O selvagem dobra-se diante ídolos de madeira e de pedra, o homem civilizado, diante de ídolos de carne e osso.”

A nossa vida intelectual, depois de quarenta e seis anos de democracia e de muitas décadas de saudável pedagogia libertadora de um António Sérgio, vive ainda no comprimento de onda da mais provinciana e infecunda idolatria, como se torna evidente com a histeria obituária que por aí se despenha, de cada vez que se assinala o passamento de um vulto de algum modo mais destacado, no nosso meio cultural. A falta de perspectiva e de aconselhável comedimento que então nos assola é simplesmente assustadora. Uma avaliação honesta, modesta, comedida, e fora das ejaculações mais intemperadas é considerada inveja, mau feitio e desmancha-prazeres. O cronista A, o romancista B, o poeta C, o filósofo D são, no mínimo, verdadeiros gigantes, só que ninguém dá por eles, nos verdadeiros areópagos. Há nesta loucura não tão mansa como isso algo de muito doentio: uma espécie de sobrecompensação para a nossa pequenez e relativa pouca relevância internacional. Debita-se para aí uma ladainha de Bandarra, com promessas férvidas de triunfos que nos compensem de infortúnios pretéritos. Escrevemos então o melhor romance dos últimos cem anos, um poema tão grande como os Lusíadas e temos, entre nós, o melhor filósofo dos últimos três séculos ou mesmo de sempre. E fazemos uma festa com grande espalhafato, que só não nos torna mais ridículos porque ninguém, lá fora, dá por isso.

Na África do Sul, na língua Afikander, há uma palavra capitosa que significa um peixe considerado grande porque habita num lago pequeno. Se eu fosse linguista, inventava, em português, um vocábulo que se ajustasse a este conceito. Teríamos bom uso para ele.

O pior das idolatrias é que são um terrível entrave ao progresso do conhecimento. Este sempre se fez de um necessário acolhimento à contradição e ao encontrar sucessivo de melhores respostas para as nossas perplexidades. A admiração não faz mal, mas o embevecimento é de mau aviso. Além do mais, o idólatra tende a reduzir o diâmetro do foco da sua atenção: só vê o idolatrado e nada mais à sua volta ou para trás, numa espécie de “criacionismo” que a ciência de há muito rejeita.

Para terminar, direi que o Portugal de Bento Caraça, de Aniceto Monteiro, de Aurélio Quintanilha, de Tiago Oliveira, de António Sérgio, de Sílvio Lima, de Jaime Cortesão, de Raul Proença, de José Régio, de Rui Luis Gomes, de Abel Salazar, de Jorge de Sena e de tantos bons argonautas da Seara Nova não merece que lhe suceda um Portugalinho idólatra, provinciano, unânime e contente. Alguém dizia que um Professor é um cavalheiro de opinião diferente. Um verdadeiro pensador, um verdadeiro investigador, um verdadeiro artista criador é também isso mesmo: um cavalheiro de opinião diferente A idolatria não acolhe a opinião diferente e é sempre um triste sinal de atraso. Por mim, enquanto o vigor me não abandonar, terei sempre muito orgulho em pertencer à tribo dos cavalheiros de opinião diferente. Até porque, mesmo com a minha provecta idade, não quero ficar parado.

Eugénio Lisboa

Educar para a paz

É muito mais fácil educar os povos para a guerra do que para a paz. Para educar dentro do espírito bélico, basta apelar para os seus instintos mais primitivos. Educar para a paz implica ensinar a reconhecer o outro, a ouvir seus argumentos, a entender suas limitações, a negociar com ele, a fazer acordos. Essa dificuldade explica por que os pacifistas nunca contam com a força suficiente para ganhar… as guerras
José Saramago, "As palavras de Saramago"

A primeira classe também cai

A tortura de quem escreve para o público é a véspera, quando bate o fantasma da repetição. Desde anos atrás, toda a imprensa do mundo discorreu sobre um confuso conceito de “populismo” todos os dias do ano. Nomes como Nicolás Maduro (Venezuela), Daniel Ortega (Nicarágua), Viktor Orbán (Hungria), Recep Erdogan (Turquia) e Narendra Modi (Índia) se espicharam nos sofás de nossas salas e nada faz crer que tão cedo consigamos apontar-lhes o caminho da rua. A tentativa russa de massacrar a Ucrânia e a guerra de Israel contra os grupos terroristas mantidos pelo Irã vieram complementar e elevar à enésima potência a tortura do “populismo”.


No Brasil, temos vivido sob o fantasma da “crise fiscal”. Fantasma, sandice, dê-se-lhe o nome que se quiser, mas no fundo a questão é muito simples. É uma batalha diária para equilibrar a receita e a despesa, proeza quase irrealizável, uma vez que enchemos um prato da balança com gastança e desperdício e o outro com irresponsabilidade, miopia e falta de coragem para reformar a máquina do Estado. Esse quadro infesto, praticamente sinônimo de estagnação, já deveria ser suficiente para meter medo, não fora toda a tragédia que ele oculta. Discorrer sobre o sistema de ensino, a quase metade das residências sem conexão com as redes públicas de esgoto, e a chusma de quase desocupados que recebem supersalários em Brasília é perda de tempo. Nesta semana o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirmou que, no frigir dos ovos, “o tributo é o mesmo para assalariados e ultrarricos” ( Estadão, 30/10). Divulgou-se também que cerca de 1,5 milhão de habitantes da maior cidade do Brasil e da América do Sul mal consegue comer.

Crise fiscal: o termo indica que estamos nos contorcendo para obrigar a receita e a despesa a andarem juntas. Nossas autoridades, com as exceções de praxe, odeiam o capital privado, doméstico ou internacional, e se recusam a adotar um modelo econômico mais aberto ao exterior. Já seria surrealista se elas se desapegassem da fixação, originária da Revolução de 1930 e da ditadura varguista, de que um país só é autônomo e digno de respeito se conseguir promover o crescimento valendo-se basicamente de empresas públicas. No mês passado, o economista Maílson da Nóbrega e João Pedro Leme, ambos da Tendências Consultoria, publicaram neste jornal um primoroso artigo mostrando que nas condições atuais, e principalmente com as regras orçamentárias plantadas na Constituição de 1988, poderemos chegar a uma “severa crise fiscal” num prazo relativamente curto. Com essa formulação relativamente branda, os autores, consciente ou inconscientemente, indicaram que a crise decorrente de uma “crise severa” pode ser uma catástrofe social. Foi seguramente para nos trazer algum alívio que o economista Gustavo Franco, um dos pais do Real, sugeriu que a situação de médio prazo pode melhorar se devotarmos quantias bem maiores à área do saneamento. Así lo quiera Dios! O que não podemos é fugir de uma verdade que qualquer criança de 12 anos conhece: a primeira classe também cai. Não há notícia de uma aeronave cuja parte anterior tenha despencado sem levar consigo a da frente, com o piloto no seu lugar, conduzindo-a como sempre faz, voando lépido e fagueiro.

Parece-me essencial acrescentar uma consideração mais ampla ao que acima vai exposto. Existem fortes indícios de que nós, brasileiros, estamos perdendo uma parte importante de nossa capacidade de pensar. Em tempos idos, podíamos nos dar o direito de sermos ingênuos, pois toda a nossa mediocridade parecia ter aqui aportado nos porões das caravelas portuguesas. A lavoura canavieira produzia praticamente todo o açúcar de que o mundo demandava, os senhores de engenho constituíam uma primeira classe inexpugnável. Com o ouro foi um pouco diferente, mas depois o café reeditou o enredo canavieiro. Supriu café suficiente para satisfazer quase todo o mundo, mas não teve fôlego para sustentar a competição com outros centros produtores que surgiam por toda parte. O jeito foi o Estado bancar o estrago e encaixar os proprietários daqueles magníficos palacetes da Avenida Paulista nos altos escalões do Estado. Fórmula de pouca duração que deixou em seu rastro um grave conflito entre regiões produtoras e não produtoras e, finalmente, a contrafação batizada como Revolução de 1930.

Hoje, tentar compreender a mentalidade que emergiu de tudo isso parece nos causar tédio. Caminhando para lá e para cá como sonâmbulos, nós hoje nem nos damos conta de que o cenário externo não é reconfortante. Embora tenhamos escapado de uma recessão global em 2024-2025, o Panorama Econômico Global do Fundo Monetário Internacional (FMI) faz um enérgico alerta quanto aos riscos de baixar a guarda: ao contrário, afirma, é hora de fortalecer os fundamentos para o crescimento futuro.

O fecho destas reflexões só pode ser a radicalização política nos Estados Unidos e a possível reeleição de um senhor já unanimemente condenado por golpismo político e obcecado pelo protecionismo.

E se o racista for seu filho ou sua filha?

Esse é um texto que eu ensaiei escrever algumas vezes. A vontade ficou latente quando estourou um caso de racismo em uma escola de classe média alta de São Paulo. O caso ganhou especial repercussão, pois a vítima era filha de uma atriz brasileira. E, mesmo assim, a questão central foi menos sobre os cuidados que a menina discriminada deveria receber e mais sobre o que fazer com as jovens que cometeram o ato racista.

Não há dúvidas que é fundamental questionar e balizar como o papel educativo e pedagógico de uma escola deve funcionar em situações como essa. Mas é também de um racismo atroz constatar que, no frigir dos ovos, o debate público passou da saúde mental e emocional da menina negra para ficar totalmente centrado na intensidade da sanção que as meninas brancas deveriam (ou não) receber.

Poucos meses depois, um jovem negro estudante de outra escola da elite paulista cometeu suicídio por não ter conseguido suportar os inúmeros bullyings que sofria por ser quem era: um menino negro, homossexual e pobre, que havia entrado na escola por conta de ações afirmativas. Ao invés dessa tragédia ajudar a fomentar um debate mais aprofundado sobre saúde mental na adolescência, e suas interseções de raça, classe e sexualidade, o que vimos foi o silêncio costumaz da escola – que, na época, sequer fez um pronunciamento digno – e a oportunidade espúria para criticar as políticas de ação afirmativa, mais especificamente as cotas raciais. O recado dado por importantes representantes da elite paulistana foi: o apartheid racial, social e econômico da cidade mais rica do Brasil deve ser mantido.


Mas foi agora, quando minha filha chegou com queixas da escola, que resolvi escrever. Isso porque há algumas semanas me vi obrigada a sentar com uma menina de 7 anos – que há pouquíssimo tempo começou a questionar a existência de Papai Noel – e explicar que, sim, ela foi vítima de racismo. Em meio à violência da qual o racismo se alimenta, eu tive que explicar para ela que o cabelo dela não é feio, e que ela não foi a primeira (e infelizmente, não será a última) criança a ser zombada por seus colegas por conta do seu cabelo.

Confesso que, apesar de achar que conheço relativamente bem o modo como o racismo se expressa, não esperava que ela passasse por essa situação. Como o cabelo dela é muito menos crespo que o meu, acreditei que ela estaria a salvo dessa discriminação.

Inocência a minha.

Num universo marcado por crianças brancas de cabelos lisos ou anelados, o cabelo da minha filha é suficientemente crespo para ser alvo de racismo. Então, para tentar apaziguar o choro e a indignação dela, falei justamente isso: "você não é a primeira menina negra a viver isso". Eu mesma passei pela mesma situação, exatamente na mesma idade e num contexto muito semelhante: ser uma das poucas alunas negras numa escola branca da classe média alta e progressista. E para ela entender o que aconteceu e acontece com outras muitas meninas (e meninos) negras, peguei um pacote de bombril e disse: "era isso que diziam que meu cabelo parecia".

Obviamente eu fiquei muito tocada e afetada pela repetição das nossas histórias, a minha e da minha filha. E cheguei a ensaiar um texto para os pais da escola, porque não considero justo que a bomba do racismo estoure apenas no meu colo. Afinal de contas, se a minha filha está sofrendo esse tipo de racismo, é porque crianças estão sendo racistas com ela. Só que o problema é que esse cenário descrito não é exceção, mas a regra. E uma regra de história longa.

Essa situação me fez lembrar do início do livro Almas da Gente Negra, no qual um dos mais proeminentes sociólogos do mundo, o estadunidense W.E.B Du Bois, conta que foi na infância, interagindo com crianças brancas, que ele foi apresentado ao racismo. Uma situação que atravessou o século 19, o século 20 e chegou ao 21, como bem demonstra um vídeo feito pelo Criança Esperança, no qual, em meio a uma dinâmica, meninas e meninos negros são "convidados" a dizer frases abertamente racistas. Eles recusam o convite não só por acharem as frases erradas, mas também porque aquelas frases os faziam lembrar de situações racistas que passaram junto a seus pares, crianças brancas.

Esse é um ponto sobre o qual devemos falar: crianças podem sim ser racistas. E isso pode acontecer independentemente da consciência racial dos pais dessa criança. E, embora o racismo não esteja inserido no código genético de ninguém, ele é ensinado e aprendido desde a mais tenra infância. Como sabemos, as crianças são excelentes observadoras e absorvem conhecimento de uma maneira invejável. Então, se elas vivem num mundo racista (e sim, todos nós vivemos), o racismo será algo que elas vão aprender.

Geralmente o primeiro passo dessa aprendizagem começa com um estranhamento das desigualdades (algo bonito de ver): "por que só vejo famílias negras pedindo dinheiro nas ruas? ", ou "por que na minha escola tem poucos negros?", "como é que deixaram a escravidão existir?". Essas são frases que alguns dos meus amigos brancos já tiveram que responder para seus filhos e filhas.

No entanto, mesmo com as respostas que reforcem que "somos todos iguais e devemos ser tratados da mesma forma" não é isso que o mundo informa às nossas crianças. E, aos poucos, a diferença vai sendo naturalizada como desigualdade, e o racismo vai turvando nosso olhar.

Tudo isso para dizer aos pais e mães de crianças brancas que vocês têm um desafio enorme nas mãos. E por mais que esse seja mais um trabalho dentro das inúmeras tarefas da maternidade/paternidade, não se furtem, porque ele valerá à pena. Também cabe a vocês a construção de uma sociedade menos racista. E isso pode começar com seus filhos e filhas.

O post-it do momento nos Estados Unidos é dirigido às mulheres

Uma mulher colou um bilhete na porta de seu salão de cabeleireiro na Carolina do Norte. Outra pressionou-o na parte de trás de uma caixa de absorventes no Arkansas. Uma terceira pendurou o bilhete no espelho de um banheiro feminino em um aeroporto de Ohio. “De mulher para mulher”, diz o bilhete. “Ninguém vê seu voto nas urnas.”


Em estados indecisos, em redutos republicanos, em campus universitários e em arenas esportivas, post-its surgiram lembrando às mulheres que seus votos são secretos, mantidos em sigilo até mesmo e especialmente dos homens de suas vidas, conta o jornal The Washington Post.

Nos últimos dias da corrida presidencial, o que começou como uma campanha de sussurros feita por mulheres e para mulheres, tornou-se assunto de um anúncio de 30 segundos, amplificado por gigantes democratas como Michelle Obama.

Pesquisas mostram uma divisão entre como homens e mulheres planejam votar, e em uma eleição que provavelmente será decidida nas margens, Harris precisa que as mulheres — mesmo as que estão namorando ou são casadas com apoiadores Donald Trump — compareçam em massa para votar nela.

“Seu voto é uma questão privada, independentemente das visões políticas de seu parceiro”, disse a ex-primeira-dama Michelle Obama no final do mês passado em Kalamazoo, Michigan. “Você pode usar seu julgamento e votar.”

“Você pode votar de acordo com sua consciência e nunca ter que dizer uma palavra a ninguém”, disse a ex-deputada republicana Liz Cheney, que apoia Harris, em um evento nos arredores de Detroit em 21 de outubro. “E haverá milhões de republicanos que farão isso em 5 de novembro.”

Um anúncio digital de 30 segundos sobre o assunto atraiu o desprezo particular da direita. Narrado pela atriz Julia Roberts, o anúncio mostra uma mulher chegando às urnas com um homem que parece ser seu marido. Ela entra em uma cabine sozinha, olha nos olhos de outra mulher e sorri. Então, vota em Harris.

“Você fez a escolha certa?” – o homem pergunta enquanto ela se afasta. “Claro que sim, querido”, responde a mulher, usando um chapéu com uma bandeira americana. “Lembre-se: o que acontece na cabine, fica na cabine”, conclui o anúncio.

Muitos conservadores proeminentes acharam o anúncio ofensivo. Charlie Kirk, que lidera o grupo jovem pró-Trump “Turning Point USA”, chamou-o de “a personificação da queda da família americana”. O apresentador da Fox News, Jesse Watters, disse que sua mulher votar secretamente em Harris seria o equivalente a ela “ter um caso”.

“É questionável, é um insulto”, afirma Jayme Franklin, cofundadora do Conservateur, uma marca de mídia e estilo de vida para mulheres conservadoras. “Como uma mulher casada, entendo o quão importante é a união e a confiança dentro de um casamento, e a campanha de Kamala promovendo mentiras é decepcionante”.