segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Pensamento do Dia


Linha direta com Deus

Enfim, Bolsonaro anunciou o novo ministro das Relações Exteriores. Havia gente reclamando. As falas do governo eleito provocaram atritos para quase todo lado: países árabes, China, Cuba, Noruega e Holanda. A esperança é que um novo chanceler unifique o discurso e o cubra de um verniz diplomático para atenuar os choques.

Mas as ideias do novo chanceler, Ernesto Araújo, acabaram deslocando a inquietação para outro nível. Não as conhecemos no conjunto, apenas fragmentos de artigos teóricos e posts em sua rede social. Ele acha que Trump pode conduzir a salvação de um Ocidente apático, a partir da tradição cultural, principalmente a ânsia por Deus. Como ele, é cético em relação ao aquecimento global. Certamente, será combatido pela sua fé e sua descrença política em fatos em que a maioria dos cientistas acredita.


Isso não me surpreende tanto. Na verdade, a política, num século em que a religião regrediu, procura de todas as formas substituí-la no imaginário popular. Em muitas ocasiões, mencionei o caráter religioso do marxismo, com sua visão de paraíso e seu script determinista da história. Ela nos garante a vitória final, como os cristãos creem na subida aos céus, apesar da sucessão de derrotas cotidianas.

Além das notas sobre o marxismo, tenho mencionado a crítica de John Gray à nova direita inglesa, baseada também na denúncia dos elementos religiosos do Iluminismo, da expectativa de ocupar o mundo com o livre comércio e a democracia liberal.

Numa idade de fé minguante, tanto marxismo quanto liberalismo investem esperanças transcendentais no seu projeto de mudar o mundo. A julgar pelos fragmentos do texto do chanceler Ernesto Araújo, sua concepção é diretamente religiosa. As esperanças transcendentais não se se escondem nem se disfarçam como nas teorias modernas. Elas não substituem uma visão religiosa: são a própria visão religiosa.

Como todo idealismo, você pode discuti-lo por dentro, questionar sua lógica. O melhor, no entanto, é partir do mundo real, onde a política é uma humilde tentativa de acomodação mútua na busca de um modus vivendi. Tanto Bolsonaro quanto Hassan Rouhani, do Irã, têm de traduzir suas crenças em passos concretos e, neste momento, é que serão avaliados com mais rigor.

Tentei colocar a questão da política externa na campanha. Percebi que, em termos gerais, ela não interessava tanto ao público. Selecionei alguns temas: crise na Venezuela, relações com a China, Donald Trump.

Todos sabíamos que a vitória de Bolsonaro representaria uma aproximação maior com os EUA, o que, na minha opinião, é positivo. No entanto, uma coisa é aproximar-se dos EUA. Outra coisa é clonar alguns elementos da política externa americana, como se fôssemos eles. Daí minhas reservas à transferência da embaixada para Jerusalém, à tentativa de buscar um tom específico com a China e a um cuidado maior do que Trump com os acordos multilaterais.

Tudo isso vai ser discutido no seu tempo. Desde já, preocupa-me o embate entre o idealismo e a juventude do novo chanceler com os pragmáticos e calejados negociadores chineses. Kissinger os conhece bem e os retratou no seu livro sobre a China. Trabalham com a perspectiva de gerações, exercitam a paciência e a habilidade nos seus projetos de longo alcance.

Não creio que o melhor caminho seja discutir se Trump é a salvação do Ocidente, e sim analisar soluções práticas do cotidiano, como o rompimento com o Programa Mais Médicos, por exemplo. Bolsonaro expressou sua posição sobre os médicos cubanos durante a campanha. Como vencedor, tem legitimidade para colocar suas ideias em prática.

A única crítica possível, nesse caso, é sobre o timing do rompimento. O ideal teria sido preparar a retaguarda antes que o contrato fosse desfeito. Mas os cubanos sacaram mais rápido, para dramatizar a saída. Milhões de brasileiros ficarão, momentaneamente, desguarnecidos. São pobres, escapam ao radar da grande mídia, pouco influem nas redes sociais.

É difícil argumentar com princípios diante de um asmático em crise, uma forte intoxicação alimentar. Essa é a modulação da crítica ao marxismo, aos neoliberais e aos que atribuem a Deus o dinamismo da história. Todos são projetos políticos que esbarram na imperfeição humana, pouco sabem da tarefa modesta e cotidiana de sacrificar alguns bens para preservar outros.

Um ministro húngaro, após a queda do socialismo, dizia: antes eram uns fanáticos que diziam que o Estado resolve tudo; em seguida, vieram os que dizem que a salvação de tudo é o mercado. Nos Estados Unidos , e agora no Brasil, suprimem-se os intermediários: o assunto é direto com Deus.

Cacoete brasileiro

Transformar os políticos em líderes e esperar que eles desçam do céu para resolver os problemas
Fernando Sabino

16 motivos para pensar que, efetivamente, os japoneses são de Marte

Faz um mês que estou viajando pelo Japão para fazer uma série de reportagens e acompanhar dois grupos do El Pais Viajes. Não é a primeira vez que venho guiando viajantes em sua primeira visita a este país asiático e sempre adoro ver suas reações e gestos quando descobrem as peculiaridades de uma nação inclassificável. Eu me atreveria a dizer que é única no mundo. Tanto que possivelmente não seja deste, mas do espaço exterior. Perguntei a alguns desses viajantes o que lhes causou a maior surpresa entre as singularidades japonesas. Estas são algumas delas:


1. Um país sem lixeiras (nem lixo no chão)

No Japão, as crianças são educadas desde pequenas para não jogar o lixo na lixeira... e a levá-lo para casa. É por isso que quase não há latas de lixo em espaços públicos. Se você tem um papel, uma embalagem ou uma ponta de cigarro ... leva no bolso até chegar em casa. E ainda assim, não se vê nada jogado nas calçadas. Um grupo de marcianos.

2. Você deixa a bicicleta na rua e no dia seguinte ela está no mesmo lugar

O índice de furtos na rua é ínfimo. Em cidades superpopulosas como Tóquio as bicicletas são deixadas nas calçadas, na porta do prédio, com um simples bloqueador de roda (nem mesmo presas com um cadeado a um poste ou uma cerca). E na manhã seguinte, lá continuam. É verdade que é proibido deixá-las em qualquer lugar. Têm de ser guardadas em estacionamentos próprios para bicicletas, que são pagos.

3. Não se fuma na rua, mas é permitido nos restaurantes

É proibido fumar na rua enquanto se caminha porque você pode incomodar ou queimar outro transeunte. Você só pode fumar em áreas demarcadas e sinalizadas da via pública, onde há cinzeiros. No entanto, você pode fumar em restaurantes, se assim o proprietário definir. Ou seja, há restaurantes livres de fumo, outros com área para fumantes e – menos – os com 100% de direito a fumar.

4. Um país sem gorjetas

Não se dá gorjeta para nenhum serviço, e isso é até malvisto. Se alguém deixar cinco ienes do troco na mesa, o garçom persegue a pessoa até a porta para lhe dizer que esqueceu uma coisa.
5. Não há carros estacionados na rua

No Japão, é proibido estacionar em espaços públicos. Se você tem um carro ... ou tem garagem própria ou o leva a um estacionamento público (que custam uma nota). A multa é de 18.000 ienes (650 reais) e você não verá à noite nenhuma cidade com ruas lotadas de carros bem ou mal estacionados.

6. No trem não se fala no celular

O Shinkansen é o sistema nacional de trens-bala que une todo o país em velocidades só comparáveis apenas a sua eficiência e pontualidade. A bordo é proibido falar no celular para não atrapalhar outros viajantes. Mas o mais incrível é que todos obedecem. Como no trem de alta velocidade na Espanha, né.
7. Cachorros-bebês

Para um amante de animais de estimação, o cão ou gato se torna um membro da família. Mas a relação cachorro-dono no Japão rompe todos os limites. Não sei se é pela complicação em ter (e criar) uma criança (o Japão é um dos países com menor taxa de natalidade e um terrível problema de envelhecimento da população) ou por qual estranha razão, mas a verdade é que há uma multidão de casais, muitos deles jovens, tratando seus cães como se fossem bebês, incluindo levá-los em cestos ou carrinhos de bebê.

8. Prevenir, melhor que curar

Nos genes japoneses está escrito que a prevenção é a melhor maneira de evitar males maiores. Qualquer obra pública – mesmo que seja mudar três peças lajotas da calçada – é uma concentração de barreiras de proteção e luzes de advertência coordenados por um exército de trabalhadores usando capacete, óculos de segurança, uniformes e coletes reflexivos. Dois ou mais deles são encarregados de sinalizar a obra para pedestres ou motoristas, se for o caso, apesar da exibição de luzes coloridas, pois pode ser que ainda não as tenham visto.

9. Filas silenciosas

Para um japonês, fazer fila faz parte da rotina diária. E eles fazem isso de uma maneira ordenada, silenciosa e paciente, sem que ninguém sequer pense em furar. O japonês é muito ligado a seguir as novas tendências. Se uma sorveteria se tornou moda, ele não hesitará em passar uma hora na fila ao ar livre para pegar seu precioso (e possivelmente superestimado) sorvete.

10. Banheiros públicos, limpos e gratuitos

Em nenhum outro país do mundo os viajantes que me acompanham viram tantos banheiros públicos e gratuitos. E, ainda por cima, limpos como uma balsa. Mesmo no meio do mato, na estrada para Nakasendo (rota histórica que liga Edo/Tóquio a Quioto) vimos um dia destes um solitário em uma área despovoada e que, para surpresa de todos, ao abrir a porta tinha luz, papel higiênico e um vaso tão limpo que você poderia se sentar nele. De marcianos.
11. Um cartaz para cada situação

Os japoneses não falam nenhuma outra língua estrangeira. Mas há cartazes que explicam tudo. Uma oferta esmagadora de decretos explicativos como se a população fosse composta de crianças de dois anos de idade. De um mapa sobre a situação dos mictórios e vasos sanitários em um banheiro de estrada até como usar um elevador.
12. Ruas sem nome

Não pergunte por quê, mas nas ruas japonesas o nome não é colocado em uma placa. Nem, pelo menos, no início e no final, como no restante do mundo. Isso significa que, se você não for um carteiro, encontrar um endereço será a tarefa dos super-heróis da Marvel. Graças a Deus, existe o Google Maps.

13. Sexo sem penetração

A indústria do sexo é muito poderosa no Japão. Isso deu origem ao fuuzoku annai-jo (literalmente, lugares de informação gratuita), escritórios que informam sobre o lazer adulto e noturno em um bairro, do passeio mais singelo ao sexo pesado. Pode ser a contratação de um host ou hostess (companhia masculina ou feminina para conversar, se vestir de acordo com suas fantasias ou sair para jantar acompanhado/a, tudo muito naif e sem sexo ou toques) ou o passeio de um adulto com uma adolescente vestida de colegial. Também sexo em seus vários graus legais (no Japão sexo por dinheiro só é ilegal se houver penetração).

14. Tudo é reciclável

Nas comunidades do bairro, a gestão de lixo é muito rigorosa. O lixo orgânico é retirado todos os dias, mas o reciclável só uma vez por semana, de acordo com as normas locais. Por exemplo: terça-feira, papel; quarta-feira, plásticos e embalagens, etc. Se você não cumprir, os seus vizinhos te chamam a atenção com muita raiva.
15. Religião pelo civil

A sociedade japonesa é muito moderna, tecnológica e consumista. Mas não hesitam em fazer fila de duas horas – ordenadíssimas, claro – no dia de um festival religioso em um templo específico só para cumprir a tradição de jogar algumas moedas no santuário, bater palmas duas vezes e fazer uma reverência diante do altar.

16. Bondade em abundância

Mas se algo impressiona um viajante novato no Japão acima dessas 15 razões anteriores, é a gentileza do povo. Este é um ditado clássico de muitos países, mas no Japão não é um tópico. É a pura realidade. Peça informações, diga que não entende o cardápio em um restaurante ou entre em um banco para perguntar se trocam dinheiro e eles vão te atender com um sorriso e uma série de genuflexões que farão você se sentir o rei do mambo. Apesar de você não ter entendido nada do que eles dizem, porque nem Deus fala inglês.

NOTA: Todos esses comentários podem levar à conclusão de que nos deparamos com a sociedade perfeita. Mas não é assim. A primazia do público sobre o privado, a elevada auto-exigência no trabalho, as relações pessoais frias e rígidas também geram problemas sociais. Mas esse seria outro debate. Entenda estes 16 pontos como percepções simples de um viajante que descobre as curiosidades de um país estranho. Sem pretensões de filosofar sobre a complexa sociedade japonesa.

'Escola Neutra' é tema de debate na Alemanha

Iniciado em setembro pela bancada estadual da legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) em Hamburgo, o portal online "Neutrale Schule" ("Escola Neutra") permite que alunos denunciem professores que se expressem politicamente em suas escolas. Além de Hamburgo, iniciativas semelhantes já existem em Berlim e também na Saxônia.

Em reunião já no início de outubro, o presidente da Conferência dos Secretários de Educação e Cultura da Alemanha (KMK), Helmut Holter, criticou a iniciativa da legenda populista de direita.


"Por razões atuais, nos posicionamos decididamente contra portais de internet em que alunos e alunas devam supostamente denunciar seus professores devido à alegada influência política", afirmou Holter no encontro em Berlim, acrescendo que, como resultado, isso levaria a um "envenenamento do clima escolar."

Em entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung (FAZ), a ministra alemã da Justiça, Katarina Barley, também criticou duramente a plataforma da AfD: "A denúncia organizada é um instrumento das ditaduras", afirmou a política social-democrata.

"Qualquer partido que use isso para expor e ridicularizar professores impopulares revela muito sobre sua própria compreensão da democracia", declarou Barley ao Frankfurter Allgemeine Zeitung.

Em sua página de internet, a legenda populista de direita justificou a sua iniciativa como uma forma de "fortalecer o discurso democrático e livre". Com a ação, escreveu a AfD, "nós queremos esclarecer de forma abrangente sobre a legislação que envolve o requisito de neutralidade."

De acordo com a Central Nacional de Educação Política (lpb) da Alemanha, o requisito de neutralidade, adotado desde 1976 nas escolas do país, prevê em seus componentes básicos: "uma proibição da doutrinação e um preceito de apresentar fatos politicamente controversos de forma a capacitar alunas e alunos a desenvolver o seu próprio julgamento sobre temas políticos."

Na semana passada, o Frankfurter Allgemeine Zeitung noticiou que, aparentemente, "a tentativa da AfD de intimidar professores já mostra as suas primeiras consequências.

Segundo o FAZ, a diretoria de uma escola berlinense proibiu os docentes de fixar na sala de professores a carta aberta da iniciativa "Berlin bildet" (Berlim ensina) contra o portal online da AfD. Uma respectiva coleta de assinaturas também foi proibida.

De acordo com o jornal berlinense Tagesspiegel, para a diretoria da escola, a carta aberta violaria o requisito de neutralidade. Os professores afetados recorreram então às bancadas distritais do Partido Verde e Partido Social-Democrata (SPD)

Em requerimento, eles pedem às prefeituras distritais que intervenham junto ao Senado berlinense para que seja garantida segurança legal para os professores.

"É claro que o requisito de neutralidade deve ser respeitado na sala de aula, mas a discussão e formação de opinião política são expressamente desejadas", disse ao FAZ Martina Zander-Rade, porta-voz de política escolar do Partido Verde nos distritos berlinenses de Tempelhof-Schöneberg.

"A escola deve capacitar os jovens a combater as ideias do nacional-socialismo e outras formas de violência, e é por isso que a formação de opinião política dos professores é importante e deve ser conduzida sem medo no espaço protegido da sala de professores", acrescentou Zander-Rade.

"Aparentemente, nem todas as diretorias escolares perceberam que a obrigação de neutralidade político-partidária na sala de aula não implica restrição da liberdade de expressão na sala dos professores", citou o FAZ Kevin Kühnert, porta-voz de política escolar do Partido Social-Democrata em Berlim.

Paisagem brasileira

Paisagem, Durval Pereira

Governo já tem uma cara, a oposição ainda não

Eleito pelo voto do contra, Jair Bolsonaro não adquiriu do dia para a noite o physique du rôle de um presidente da República. Mas o principal atributo que o capitão irradiou no imaginário do seu eleitorado —a sensação de que nada seria como antes— continua presente na montagem do ministério.

Do ponto de vista econômico, o dono da aura de Bolsonaro é o liberalismo radical de Paulo Guedes. E do ponto de vista político, seu governo algemou-se ao prestígio de Sergio Moro, numa manobra cujo êxito dependerá da liberdade que o ex-juiz tiver para infundir na máquina estatal o padrão Lava Jato.


Diante desse cenário pós-tsunami, a satanização de Bolsonaro perdeu relevância. Atônitos, os adversários do novo presidente demoram a perceber algo simples: ninguém se afoga por cair na água, mas por permanecer lá. Restaram à oposição duas alternativas.

Os antagonistas de Bolsonaro podem flutuar agarrados a um feixe de ideias ou ir ao fundo com o sentimento da raiva amarrado ao pescoço. Hoje, a oposição passa a impressão de que procura uma ideia desesperadamente. Mais ou menos como um cachorro que caiu do caminhão de mudança e esqueceu onde escondeu o osso.

Considerando-se que a presidência-tampão de Michel Temer é herança do petismo, a posse de Bolsonaro representará o fim de um ciclo de 16 anos. Temer foi levado ao trono graças à traição de legendas que sustentaram o PT. E manteve na Esplanada figurões que enfeitaram o primeiro escalão de Lula e da própria Dilma.

Mudança drástica e genuína ocorrerá em 1º de janeiro de 2019. Goste-se ou não, o capitão chegou ao Planalto pelo voto. O que torna despiciendo qualquer debate sobre a legitimidade do resultado. Depois da posse, o governo despejará sobre o Congresso suas propostas. E a oposição terá de informar o que quer da vida.

O economista Paulo Guedes colocará sobre a mesa, por exemplo, uma proposta de reforma da Previdência. O ex-juiz Sergio Moro desembrulhará o seu pacote anticorrupção e anticrime organizado. Como votar contra o equilíbrio fiscal e o combate à roubalheira? A qualidade da oposição depende dessa resposta.

Num instante em que o PT continua embrulhado na bandeira ‘Lula Livre’ e o PSDB está em chamas, abriu-se no Congresso uma avenida para o surgimento de uma nova oposição, menos venenosa e mais ativa. A maioria do petismo quer virar a mesa, não sentar em torno dela. O tucanato prefere ficar embaixo da mesa.

Terceiro colocado na disputa presidencial, Ciro Gomes já enxergou as oportunidades que a conjuntura oferece. Mas o esboço de entendimento que existe entre o seu PDT, o PSB, o PPS e a Rede está longe, muito longe de constituir uma frente sólida de oposição.

Por ora, há em Brasília apenas dois polos nítidos de oposição ao projeto de Bolsonaro: o próprio Bolsonaro e os auxiliares dele. O capitão não passa semana sem atirar contra os seus pés. O último disparo foi a indicação do trumpista Ernesto Araújo para o posto de chanceler. E alguns dos seus auxiliares dedicam-se a transformar a transição de governo numa canoa dividida —metade da tripulação olhando para um lado e metade remando para o outro.