domingo, 1 de maio de 2016
Por um debate fecundo
Faltam metáforas. É mais que um atoleiro. Não se trata apenas de constatar que o país está paralisado ou congelado, rolando morro abaixo. A situação de emergência obriga a estabelecer prioridades.
Não se pode ficar esperando que o céu nos caia sobre a cabeça, que o país quebre de uma vez, enquanto não se faz nada e os aposentados continuam sem receber, os hospitais sem atender, os alunos sem aulas, a segurança pública se deteriorando mais do que nunca, as obras interrompidas, e um cortejo de horrores se sucedendo. Já que a realidade não tem nada a ver com o mundo de mentirinha que a propaganda governamental insistia em mostrar, era óbvio que a conta dos desmandos ia chegar.
Chegou.
Com ou sem impeachment, é urgente ter clareza sobre o que é inadiável e prioritário.
Não dá para desviar o foco o tempo todo ou embromar e postergar indefinidamente. As discussões precisam deixar de lado a raiva espumando, a saliva e as cusparadas e tentar enxergar as prioridades.
Vai ser preciso negociar, buscar consenso.
Seria bom se cada um de nós, ao menos para si mesmo, se preparasse para esse debate e encarasse certas questões. Por exemplo, quais os pontos fundamentais a enfrentar com urgência?
Na primeira pessoa, e sem pretender impor nada a ninguém, de minha parte creio que há um tripé, no qual duas pernas são emergenciais: a economia e o respeito à Justiça.
Há que tomar medidas econômicas urgentes para restabelecer confiança no Brasil, mostrando que somos capazes de ver e dizer a verdade nessa área, merecemos credibilidade, reconhecemos nossos erros e nos dispomos a consertá-los. Mais que isso, é preciso um projeto para o país, formulado com nitidez e competência, reafirmando que a responsabilidade é um valor respeitado e a política econômica não será uma rolha na água, ao sabor de ondas e ventos, mas uma navegação segura e consciente rumo a um porto determinado, mesmo que o mar esteja grosso.
Ao mesmo tempo, tenhamos clareza sobre as conquistas de que não estamos dispostos a abrir mão, sobre quanta solidariedade queremos ter com os mais sacrificados em nossa sociedade, a quantos e quais privilégios podemos renunciar, que valor damos à equidade. Já que o dinheiro público não é infinito, a sociedade precisa definir onde ele deve ser gasto.
Que cada um veja o que pensa, para arejar a discussão sem seguir a manada. Por exemplo, universidade pública ou ensino fundamental e médio de melhor qualidade? Subsídios para empresas? Estabilidade para funcionário público que não produza? Pensões eternas para filhas e viúvas de militares? Aposentadorias prematuras? Isenção fiscal para igrejas? Para partidos políticos? Aumento dos recursos do fundo partidário? E precisa ter tanto partido assim? Tanto burocrata pago com dinheiro público? Tanto ministério? Tanto deputado? Tanto município? Onde se pode cortar?
São muitos ralos por onde escorre a riqueza da nação, vamos ter de fechar alguns. Quais? Até que ponto vamos deixar que privilégios se confundam com direitos adquiridos?
Vale lembrar que em nossa história, para retardar a Abolição, já tivemos o vergonhoso argumento de que donos de escravos, ao comprarem sua mercadoria humana, adquiriam direitos que precisavam ser mantidos ou indenizados.
Outra coluna prioritária é a garantia de que a Justiça vai ser para todos, sem se tolerar qualquer tentativa de obstruí-la. Para isso, as investigações devem continuar, a Lava-Jato não pode ser cerceada, o Ministério Público e o STF devem cumprir seu papel constitucional, o sigilo deve ser mantido enquanto necessário e ceder a vez à transparência e à publicidade quando não o for mais. Como a lei manda.
Garantidos esses dois pilares básicos, vai ser preciso enfrentar o terceiro: mudar a estrutura eleitoral e partidária que distorce nossos votos na ponto de sentirmos que os chamados representantes do povo não nos representam.
Essa reforma política ampla é também fundamental, para buscarmos regras que aperfeiçoem o processo e evitarmos a repetição dessas tristes realidades a que temos assistido — das campanhas mentirosas vencedoras, à eleição de candidatos menos votados que os derrotados.
Será necessário criar antídotos para a compra de votos e punir a corrupção “esperta” disfarçada de legal. Limitar o foro privilegiado ou acabar com ele. Discutir o fim da reeleição, voto distrital misto, mecanismos de recall. Mas esse conjunto de reformas, igualmente essencial, exige um debate multifacetado e constitui um processo mais lento e menos emergencial.
Se conseguirmos prioritariamente aumentar a confiança na economia com medidas responsáveis e eficientes, e se garantirmos a continuidade das investigações na Justiça, estaremos dando os primeiros passos. De gigante, mas possíveis.
O país tem instituições fortes, quadros capazes e potencial para isso. Porém, cada um deve ter consciência de quanto se dispõe a colaborar para um debate mais isento e realista. Mais útil e fecundo. E caminhar nesse sentido.
Ana Maria Machado
Não se pode ficar esperando que o céu nos caia sobre a cabeça, que o país quebre de uma vez, enquanto não se faz nada e os aposentados continuam sem receber, os hospitais sem atender, os alunos sem aulas, a segurança pública se deteriorando mais do que nunca, as obras interrompidas, e um cortejo de horrores se sucedendo. Já que a realidade não tem nada a ver com o mundo de mentirinha que a propaganda governamental insistia em mostrar, era óbvio que a conta dos desmandos ia chegar.
Chegou.
Com ou sem impeachment, é urgente ter clareza sobre o que é inadiável e prioritário.
Não dá para desviar o foco o tempo todo ou embromar e postergar indefinidamente. As discussões precisam deixar de lado a raiva espumando, a saliva e as cusparadas e tentar enxergar as prioridades.
Vai ser preciso negociar, buscar consenso.
Seria bom se cada um de nós, ao menos para si mesmo, se preparasse para esse debate e encarasse certas questões. Por exemplo, quais os pontos fundamentais a enfrentar com urgência?
Na primeira pessoa, e sem pretender impor nada a ninguém, de minha parte creio que há um tripé, no qual duas pernas são emergenciais: a economia e o respeito à Justiça.
Há que tomar medidas econômicas urgentes para restabelecer confiança no Brasil, mostrando que somos capazes de ver e dizer a verdade nessa área, merecemos credibilidade, reconhecemos nossos erros e nos dispomos a consertá-los. Mais que isso, é preciso um projeto para o país, formulado com nitidez e competência, reafirmando que a responsabilidade é um valor respeitado e a política econômica não será uma rolha na água, ao sabor de ondas e ventos, mas uma navegação segura e consciente rumo a um porto determinado, mesmo que o mar esteja grosso.
Ao mesmo tempo, tenhamos clareza sobre as conquistas de que não estamos dispostos a abrir mão, sobre quanta solidariedade queremos ter com os mais sacrificados em nossa sociedade, a quantos e quais privilégios podemos renunciar, que valor damos à equidade. Já que o dinheiro público não é infinito, a sociedade precisa definir onde ele deve ser gasto.
Que cada um veja o que pensa, para arejar a discussão sem seguir a manada. Por exemplo, universidade pública ou ensino fundamental e médio de melhor qualidade? Subsídios para empresas? Estabilidade para funcionário público que não produza? Pensões eternas para filhas e viúvas de militares? Aposentadorias prematuras? Isenção fiscal para igrejas? Para partidos políticos? Aumento dos recursos do fundo partidário? E precisa ter tanto partido assim? Tanto burocrata pago com dinheiro público? Tanto ministério? Tanto deputado? Tanto município? Onde se pode cortar?
São muitos ralos por onde escorre a riqueza da nação, vamos ter de fechar alguns. Quais? Até que ponto vamos deixar que privilégios se confundam com direitos adquiridos?
Vale lembrar que em nossa história, para retardar a Abolição, já tivemos o vergonhoso argumento de que donos de escravos, ao comprarem sua mercadoria humana, adquiriam direitos que precisavam ser mantidos ou indenizados.
Outra coluna prioritária é a garantia de que a Justiça vai ser para todos, sem se tolerar qualquer tentativa de obstruí-la. Para isso, as investigações devem continuar, a Lava-Jato não pode ser cerceada, o Ministério Público e o STF devem cumprir seu papel constitucional, o sigilo deve ser mantido enquanto necessário e ceder a vez à transparência e à publicidade quando não o for mais. Como a lei manda.
Garantidos esses dois pilares básicos, vai ser preciso enfrentar o terceiro: mudar a estrutura eleitoral e partidária que distorce nossos votos na ponto de sentirmos que os chamados representantes do povo não nos representam.
Essa reforma política ampla é também fundamental, para buscarmos regras que aperfeiçoem o processo e evitarmos a repetição dessas tristes realidades a que temos assistido — das campanhas mentirosas vencedoras, à eleição de candidatos menos votados que os derrotados.
Será necessário criar antídotos para a compra de votos e punir a corrupção “esperta” disfarçada de legal. Limitar o foro privilegiado ou acabar com ele. Discutir o fim da reeleição, voto distrital misto, mecanismos de recall. Mas esse conjunto de reformas, igualmente essencial, exige um debate multifacetado e constitui um processo mais lento e menos emergencial.
Se conseguirmos prioritariamente aumentar a confiança na economia com medidas responsáveis e eficientes, e se garantirmos a continuidade das investigações na Justiça, estaremos dando os primeiros passos. De gigante, mas possíveis.
O país tem instituições fortes, quadros capazes e potencial para isso. Porém, cada um deve ter consciência de quanto se dispõe a colaborar para um debate mais isento e realista. Mais útil e fecundo. E caminhar nesse sentido.
Ana Maria Machado
Nada a comemorar
Com 11 milhões de desempregados, 22% a mais do que em dezembro e quase 40% (39,85%) acima dos 7,9 milhões que procuravam ocupação no primeiro trimestre de 2015, o Brasil nada tem a comemorar neste 1º de Maio. Ainda assim, São Paulo – a capital do trabalho e hoje do desemprego – vai cair na folia sob o patrocínio das milionárias centrais sindicais e do governo Dilma Rousseff, que, mesmo findo, quer se aproveitar da data para distribuir bondades que o país não pode pagar.
Incluem-se aí os reajustes dos valores pagos ao Bolsa-Família e da tabela do imposto de renda. Bombas que Dilma pretende lançar para explodir no colo do vice Michel Temer, que ela e o PT insistem em dizer que não tem legitimidade para assumir a Presidência por não ter voto popular. Por absoluta má-fé, não contam ao distinto público que ao vice são contabilizados os mesmos votos do titular. E que a figura do vice só existe para assumir em caso de vacância do presidente, seja por viagem, doença, impeachment ou morte.
Entre idas e vindas, vou e não vou, Dilma deverá anunciar os presentinhos de última hora ao lado do ex Lula no palanque montado pela CUT no Anhangabaú, área central de São Paulo. Fará de conta que nada tem a ver com a crise e os milhares de desempregados. Ali o “não ao golpe” e “a defesa da democracia” se confundirão com os shows de Chico César, Luana Hansen e Detonautas. E aos sambas de Martinho da Vila e Beth Carvalho.
Na Zona Norte da cidade, a Força Sindical promete shows de Michel Teló, Paula Fernandes e outros ícones da música sertaneja, além de sorteios de 19 carros zero. Para tal, conseguiu patrocinadores-patrões, como a Hyundai, e o apoio oficial do governo do estado de São Paulo. Como contabilizou vaias em anos anteriores, o governador Geraldo Alckmin deve passar longe do palco do Campo de Bagatelle.
Menos dispendiosa, mas impactante, a UGT inaugura uma exposição fotográfica ao ar livre --“Os trabalhadores e os 100 anos de samba”--, com painéis gigantes instalados na Avenida Paulista. Por lá devem passar o ex-prefeito, ex-ministro de Dilma e dono do PSD, Gilberto Kassab, e o candidato a prefeito Andrea Matarazzo.
Assim como Dilma, que há tempos acionou o mecanismo de defesa que a mantém desconectada da realidade, as centrais sindicais não têm mais qualquer sintonia com os seus representados.
A maior parte dos trabalhadores quer se ver livre delas. Ligam-se aos sindicatos – e, consequentemente, às centrais -- não por vontade, mas por imposição da lei. Discordam do imposto compulsório que enchem as burras de quase 11 mil associações sindicais, federações, confederações e centrais.
Em 2015, mais de R$ 59 milhões chegaram à CUT, outros R$ 47 milhões à Força, e R$ 44 milhões à UGT. Números que caem com o desemprego, mas que, ainda não contabilizadas as contribuições obrigatórias dos empregados, só feitas no final de abril, já respondem por mais de R$ 5 milhões só nos dois primeiros meses do ano.
Uma fortuna que sai do patrão e do salário do trabalhador e que, por decisão do governo no período em que Lula presidia o país, está livre de qualquer auditoria. Corre livre, leve e solta.
Mais: mesmo entregando ao imposto sindical um dia de labuta, trabalhador algum opina quanto à posição política de sua representação sindical. Nem a UGT, nem a Força, nem a CUT perguntam aos seus filiados quantos apoiam ou não o afastamento da presidente Dilma. E se eles topam o alinhamento automático.
Ainda assim, a CUT empunha seus balões vermelhos contra o “golpe”, é linha auxiliar do PT. Custeia com dinheiro dos trabalhadores que não foram consultados as manifestações pró-Dilma, como se tivesse aval de seus associados para fazê-lo. Torra o imposto compulsório do trabalhador a seu bel prazer, em uma causa que só interessa aos seus dirigentes.
E isso é só um pedaço da república sindical que nestes 13 anos de petismo viu multiplicar sua força, seu poder e sua grana. Já o trabalhador...
Incluem-se aí os reajustes dos valores pagos ao Bolsa-Família e da tabela do imposto de renda. Bombas que Dilma pretende lançar para explodir no colo do vice Michel Temer, que ela e o PT insistem em dizer que não tem legitimidade para assumir a Presidência por não ter voto popular. Por absoluta má-fé, não contam ao distinto público que ao vice são contabilizados os mesmos votos do titular. E que a figura do vice só existe para assumir em caso de vacância do presidente, seja por viagem, doença, impeachment ou morte.
Na Zona Norte da cidade, a Força Sindical promete shows de Michel Teló, Paula Fernandes e outros ícones da música sertaneja, além de sorteios de 19 carros zero. Para tal, conseguiu patrocinadores-patrões, como a Hyundai, e o apoio oficial do governo do estado de São Paulo. Como contabilizou vaias em anos anteriores, o governador Geraldo Alckmin deve passar longe do palco do Campo de Bagatelle.
Menos dispendiosa, mas impactante, a UGT inaugura uma exposição fotográfica ao ar livre --“Os trabalhadores e os 100 anos de samba”--, com painéis gigantes instalados na Avenida Paulista. Por lá devem passar o ex-prefeito, ex-ministro de Dilma e dono do PSD, Gilberto Kassab, e o candidato a prefeito Andrea Matarazzo.
Assim como Dilma, que há tempos acionou o mecanismo de defesa que a mantém desconectada da realidade, as centrais sindicais não têm mais qualquer sintonia com os seus representados.
A maior parte dos trabalhadores quer se ver livre delas. Ligam-se aos sindicatos – e, consequentemente, às centrais -- não por vontade, mas por imposição da lei. Discordam do imposto compulsório que enchem as burras de quase 11 mil associações sindicais, federações, confederações e centrais.
Em 2015, mais de R$ 59 milhões chegaram à CUT, outros R$ 47 milhões à Força, e R$ 44 milhões à UGT. Números que caem com o desemprego, mas que, ainda não contabilizadas as contribuições obrigatórias dos empregados, só feitas no final de abril, já respondem por mais de R$ 5 milhões só nos dois primeiros meses do ano.
Uma fortuna que sai do patrão e do salário do trabalhador e que, por decisão do governo no período em que Lula presidia o país, está livre de qualquer auditoria. Corre livre, leve e solta.
Mais: mesmo entregando ao imposto sindical um dia de labuta, trabalhador algum opina quanto à posição política de sua representação sindical. Nem a UGT, nem a Força, nem a CUT perguntam aos seus filiados quantos apoiam ou não o afastamento da presidente Dilma. E se eles topam o alinhamento automático.
Ainda assim, a CUT empunha seus balões vermelhos contra o “golpe”, é linha auxiliar do PT. Custeia com dinheiro dos trabalhadores que não foram consultados as manifestações pró-Dilma, como se tivesse aval de seus associados para fazê-lo. Torra o imposto compulsório do trabalhador a seu bel prazer, em uma causa que só interessa aos seus dirigentes.
E isso é só um pedaço da república sindical que nestes 13 anos de petismo viu multiplicar sua força, seu poder e sua grana. Já o trabalhador...
A hora é de fazer contas
Por trás do barulho em torno do impeachment ha um movel muito mais prosaico e objetivo que as “razões ideológicas” alegadas nos discursos oficiais cuja elisão torna impossível compreender os papéis assumidos por cada ator do nosso patético dramalhão.
Ele se chama dinheiro.
Produzir contas devastadoras sem dar satisfação a ninguém é prerrogativa exclusiva daquele “nós” do “nós contra eles” de que vivem falando o ex-presidente Lula e a ainda presidente Dilma. Pagá-las é sempre a cova com palmos medida desses latifundios que cabe exclusivamente ao “eles”. Este nosso doloroso transe gira essencialmente em torno de definir quem vai pagar a última, recorde absoluto de todos os tempos. Como está claro que desta vez não vai ser possivel jogar tudo nas costas dos “eles” de sempre e os “nós” terão de devolver uma parte significativa do que tomaram à Nação se quisermos que a economia volte a respirar, os ânimos estão pra lá de exaltados, com “o exército” adrede convocado todo ele nas ruas, viajando em ônibus pagos por nós, os “eles”, do Oiapoque ao Chuí, carregando sempre aquele mesmo elegante conglomerado de barracas brancas e pontiagudas de onde partem as “manifestações espontâneas” desses “movimentos sociais” para rugir, seja de dentro dos salões do Palácio do Planalto, seja nas avenidas paulistas do Brasil, que no que é daqueles tantos poucos ninguém há de tocar.
A partir da catastrófica Constituição de 88, quando a carga fiscal estava em 24% do PIB, em linha com a de países do mesmo nível de desenvolvimento, começa o “ciclo de expansão fiscal” que a trouxe até os 36% do PIB nominais de hoje aos quais a orgia petista acresceu outros 10% do PIB de deficit basicamente distribuindo e incentivando a distribuição de cargos e salários na União, nos estados e nos municípios enquanto subsidiava o consumo do povão com dinheiro dos impostos compartilhados com esses entes da falecida federação. Não obstante a excelente opinião sobre si mesma que tem Dilma Rousseff, foi esse redobrar dos gastos junto com o minguar da arrecadação para comprar poder dentro do Estado e votos fora dele que acabou de quebrar o Brasil e enterrar na miséria os eleitores de 2014 que ela tapeou com as nada inocentes “pedaladas” com que tratou de esconder sua falcatrua.
A situação resultante é de uma clareza meridiana: nada menos de 46% de tudo que o Brasil inteiro produz é apropriado pelos 11 milhões e 100 mil indivíduos humanissimamente humanos (5,4% da população) em que se corporifica a entidade mítica reverencialmente chamada de Estado. São R$ 2.714.000.000.000,00 (dois trilhões setecentos e quatorze bilhões de reais) sobre um PIB de 5,9 trilhões em 2015 mas, cada vez mais, só isso não chega. Tudo se esvai na “sustentação da máquina” com benefício menor que zero para o contribuinte em matéria de educação, saude, saneamento, infraestrutura e segurança publica. O governo investe hoje menos (2,4% do PIB) do que investia em 1988 (3% do PIB), antes da proporção do PIB que abocanha quase dobrar.
Por cima dos funcionários que têm qualificação, trabalham e em geral são miseravelmente pagos, boia a nata cada vez mais grossa dos não concursados filhos do comércio de “governabilidade” e dos detentores da dita “autonomia administrativa” que se outorgam supersalários recheados de “auxílios” isentos de imposto de renda. E acima de todos exibem a sua impunidade os donos dos “cargos de confiança”, eufemismo para os parentes e amigos mais queridos e para os agentes explícitos dos ladrões, seus padrinhos, que sugam o sistema naquela medida que fez do país o campeão mundial da corrupção.
O numero de funcionários não chega a ser exagerado comparado ao resto do mundo. Mas a consagração do privilégio oficial e explicitamente como prêmio pela cumplicidade com esquemas criminosos de perpetuação no poder baniu do serviço público os últimos traços de meritocracia e sentido republicano. Cada órgão público, na razão inversa da sua real necessidade para qualquer coisa que interesse ao contribuinte, incorpora hoje um sistema completo de hotelaria de luxo onde motoristas e garçons, apenas por terem as costas de quem manda sempre ao alcance dos seus “tapinhas” de áulicos, ganham mais que professores e médicos concursados e titulados com mestrado e doutorado; automóveis, passagens, médicos e dentistas particulares e outras mordomias obscenas criadas e desfrutadas frequentemente por gente fichada na polícia consomem muito mais verba que hospitais, escolas e obras de saneamento básico.
O que tais crimes fizeram com o país é a razão última da queda iminente deste governo. Mas o discurso oficial quer dar a tudo ares de “disputa ideológica”. Dá espaço para mais esta fraude a passividade com que a imprensa privilegia as palavras sobre os fatos. A hora é de fazer contas pois, ainda que vá o governo para onde merece sua obra deletéria continuará pesando nas costas dos brasileiros em nome da intocabilidade dos “direitos adquiridos”, mãe de todos os privilégios adquiridos.
Quantas CPMF’s poderiam ser poupadas se apenas os tais “auxílios” passassem a pagar imposto como salários que são? Quantas se o princípio basilar de igualdade perante a lei fosse aplicado às aposentadorias públicas 33 vezes maiores em média que as privadas? Se apenas os abusos da chamada “autonomia administrativa” revertidos em decretos em causa própria (salários e auxílios) fossem anulados em nome do princípio do “desvio de finalidade”? Se as nomeações (e futuras aposentadorias e pensões) “de confiança” fossem revertidas?
Sim, os tres poderes, de tão podres, funcionam neste momento sob o jugo da necessidade. Mas ao 4º cabe sair da hipnose com a disputa pelo poder em que vive, medir os dois Brasis e tratar de dar a uma sociedade explorada os argumentos de que vai necessitar para evitar que mais uma vez, os “nós” safem-se de tudo às custas dos “eles” e o país permaneça, como sempre, um milímetro acima do limite da sobrevivência.
PT nunca liderou a esquerda no Brasil
Numa entrevista a Mônica Bergamo, Folha de São Paulo, edição de segunda-feira, o prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que o PT vai sobreviver à tempestade que atinge o governo Dilma Rousseff, mas pode deixar de ser o partido hegemônico da esquerda brasileira. Haddad cometeu, a meu ver, um duplo equívoco: o Partido dos Trabalhadores era uma legenda de oposição, mas nunca, a rigor, foi de esquerda. Principalmente porque a esquerda deixou de existir no campo ideológico fundamental.
A esquerda, na Europa, era um marco divisor entre capital e trabalho. No Brasil, não. Os partidos podiam se considerar esquerdistas. Mas no fundo não se empenhavam para mudar a dualidade. Queriam, isso sim, os fatos comprovam, substituir os capitalistas, chegando a seu universo de prazeres e posicionamentos. Não se propunham, aliás jamais se propuseram, a melhorar efetivamente a distribuição de renda. Lutavam para obter a renda para si, o que é muito diferente.
Quadros partidários do PT, a Operação Lava Jato comprova, formaram uma aliança com as grandes empreiteiras, como a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Sob a sombra de tal coligação, concretamente assaltaram a Petrobrás e abalaram, não só o governo conquistado nas ruas e nas urnas, mas a própria economia nacional.
Com a lista de propinas atribuída à Odebrecht, por exemplo, a empresa transformou-se numa legenda suprapartidária. Onde está a esquerda? Em lugar algum.
Ao invés de se esforçar para suavizar, pelo menos isso, a diminuição do Produto Interno Bruto, o PT compactuou, esta sua maior contradição, com uma ainda maior concentração de renda. Tanto assim que o trabalho perdeu sua capacidade de consumo – portanto, sua presença na distribuição dos pedaços do bolo.
O PT passou a se basear no antigo princípio sinuoso: o capitalismo para si, o socialismo para os outros. No Brasil, o que na realidade traduz a ideia socialista? O desejo de reforma, não a manutenção do panorama. Trata-se no fundo, de fazer simplesmente com que os salários não percam para a inflação, pois neste caso estarão sendo reduzidos.
Nada mais do que isso é necessário para sustentar os níveis de consumo e assegurar o crescimento da produção e, por conseguinte, a comercialização.
Sem salário digno, não pode haver saneamento, moradia, saúde e educação, uma vez separadas as obrigações inerentes ao poder público, em todas as suas escalas, e os legítimos interesses particulares. Ao contrário de tudo isso, o que ocorreu ao longo dos governos Lula e Dilma Rousseff foi a expansão de um conservadorismo ultrapassado, que não admite transferir um centésimo de seus ganhos à valorização do trabalho, em nosso país representado por 100 milhões de homens e mulheres que formam a mão de obra ativa.
O salário médio brasileiro, de acordo como IBGE, flutua em torno de 2 mil e 400 reais, mês. 1/3 dos trabalhadores ganham apenas o salário mínimo. Cinquenta por cento percebem de 1 a 3 mínimos. Onde está a tão falada redistribuição de renda? Uma fantasia eleitoral destinada somente a renovar esperanças perdidas nas nuvens do tempo.
Ser de esquerda no Brasil é tão somente sonhar com uma política reformista que, sem sensibilizar o lucro do capital, evite o empobrecimento progressivo de 204 milhões de brasileiros. O PT, alguma vez, lutou concretamente por isso? Jamais. De sua ideia original, acabou unindo-se às forças, nem sempre honestas, do capitalismo.
O PT nunca foi de esquerda. Iludiu com a posição ao governo FHC com o impulso reformista de fato. Seu fracasso de agora expõe sua farsa de ontem.
A esquerda, na Europa, era um marco divisor entre capital e trabalho. No Brasil, não. Os partidos podiam se considerar esquerdistas. Mas no fundo não se empenhavam para mudar a dualidade. Queriam, isso sim, os fatos comprovam, substituir os capitalistas, chegando a seu universo de prazeres e posicionamentos. Não se propunham, aliás jamais se propuseram, a melhorar efetivamente a distribuição de renda. Lutavam para obter a renda para si, o que é muito diferente.
Quadros partidários do PT, a Operação Lava Jato comprova, formaram uma aliança com as grandes empreiteiras, como a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Sob a sombra de tal coligação, concretamente assaltaram a Petrobrás e abalaram, não só o governo conquistado nas ruas e nas urnas, mas a própria economia nacional.
Com a lista de propinas atribuída à Odebrecht, por exemplo, a empresa transformou-se numa legenda suprapartidária. Onde está a esquerda? Em lugar algum.
Ao invés de se esforçar para suavizar, pelo menos isso, a diminuição do Produto Interno Bruto, o PT compactuou, esta sua maior contradição, com uma ainda maior concentração de renda. Tanto assim que o trabalho perdeu sua capacidade de consumo – portanto, sua presença na distribuição dos pedaços do bolo.
O PT passou a se basear no antigo princípio sinuoso: o capitalismo para si, o socialismo para os outros. No Brasil, o que na realidade traduz a ideia socialista? O desejo de reforma, não a manutenção do panorama. Trata-se no fundo, de fazer simplesmente com que os salários não percam para a inflação, pois neste caso estarão sendo reduzidos.
Nada mais do que isso é necessário para sustentar os níveis de consumo e assegurar o crescimento da produção e, por conseguinte, a comercialização.
Sem salário digno, não pode haver saneamento, moradia, saúde e educação, uma vez separadas as obrigações inerentes ao poder público, em todas as suas escalas, e os legítimos interesses particulares. Ao contrário de tudo isso, o que ocorreu ao longo dos governos Lula e Dilma Rousseff foi a expansão de um conservadorismo ultrapassado, que não admite transferir um centésimo de seus ganhos à valorização do trabalho, em nosso país representado por 100 milhões de homens e mulheres que formam a mão de obra ativa.
O salário médio brasileiro, de acordo como IBGE, flutua em torno de 2 mil e 400 reais, mês. 1/3 dos trabalhadores ganham apenas o salário mínimo. Cinquenta por cento percebem de 1 a 3 mínimos. Onde está a tão falada redistribuição de renda? Uma fantasia eleitoral destinada somente a renovar esperanças perdidas nas nuvens do tempo.
Ser de esquerda no Brasil é tão somente sonhar com uma política reformista que, sem sensibilizar o lucro do capital, evite o empobrecimento progressivo de 204 milhões de brasileiros. O PT, alguma vez, lutou concretamente por isso? Jamais. De sua ideia original, acabou unindo-se às forças, nem sempre honestas, do capitalismo.
O PT nunca foi de esquerda. Iludiu com a posição ao governo FHC com o impulso reformista de fato. Seu fracasso de agora expõe sua farsa de ontem.
Quem está pagando as contas de Lula?
Até o momento, R$ 800 mil em hotel |
Nas últimas semanas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se dedicado a uma atividade pouco republicana: evitar a queda da presidente Dilma Rousseff, aprovada pela Câmara dos Deputados e amparada em preceitos constitucionais. Em sua sanha desesperada, Lula reúne-se com velhos camaradas, conspira ao lado de integrantes relutantes do governo, urde tramas mirabolantes para conter o naufrágio do projeto petista. Na esperança de que as tramoias surtam algum efeito, Lula se aboletou no Royal Tulip, hotel localizado a menos de 1 km do Palácio do Alvorada, a residência oficial de Dilma. Por si só, a proximidade com o Alvorada é uma afronta ao processo de impeachment. Afinal, apenas alguns poucos metros separam o comando da nação de um QG que tem o objetivo de buscar apoio, de forma nem sempre republicana. Mas há outro motivo que causa ainda mais indignação. Lula e seus asseclas têm gastado uma pequena fortuna para manter o aparato. Quem paga essa conta?
Em busca do poder perdido, Dilma e Lula querem semear o caos no país
Não há mais a menor dúvida. Orientada pelo ex-presidente Lula da Silva, que há um mês instalou seu escritório político no hotel Royal Tulip, bem próximo ao Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff está colocando em prática a nociva política da terra arrasada, para dificultar ao máximo a gestão de Michel Temer. As ações estão divididas. Sob comando de Lula ficaram os “exércitos” de João Pedro Stédile (sem terra) e de Guilherme Boulos (sem teto), ao lado das tropas da CUT, dos sindicatos e movimentos populares que se misturam aos militantes do PT nos violentos protestos em cidades e rodovias. Enquanto isso, no Planalto, a presidente Dilma coloca em prática o boicote total à nova administração, tomando decisões que acarretem aumentos de despesa ou provoquem problemas de difícil solução, como a demarcação em massa de áreas indígenas.
Há informações de que também estariam sendo destruídas as informações administrativas, mas isso não é concebível, pois existem funcionários de carreira que nada têm a ver com o PT, trabalham para o país, não são servidores do partido. Essas notícias devem ser exageradas, vamos aguardar confirmação.
Ao mesmo tempo, surgem versões de que essa radicalização culminaria com Dilma Rousseff se recusando a receber a intimação que o primeiro-secretário do Senado é obrigado a lhe entregar, na forma da Lei 1079, para determinar que se afaste do governo por 180 dias.
Em Brasília não se fala em outra coisa. A intenção do núcleo duro petista é fazer com que Dilma Rousseff ocupe o Palácio do Planalto, ao invés de se recolher ao palácio residencial, para impedir que Michel Temer assuma concretamente o governo.
Ou seja, o objetivo é que a presidente seja obrigada a deixar o Planalto de forma coercitiva, detida pela Polícia Federal e levada à força para o Alvorada, diante das câmaras das TVs. Com esse projeto fantasioso, a cúpula petista acredita que seria possível criar a imagem de um golpe de Estado não somente para divulgação no exterior, mas também para incitar os “exércitos” do lulopetismo na radicalização dos atos públicos.
É difícil acreditar que a reação chegue a esse ponto. O mais inacreditável ainda é que Lula e o núcleo duro do governo estejam usando Dilma Rousseff como massa de manobra, sem levar em consideração o delicado estado de saúde dela, submetida a tratamento para esquizofrenia e ingerindo medicamentos de tarja preta. O que o PT faz com ela é uma perversidade, que fere deliberadamente os direitos humanos de uma mulher fragilizada.
Para se ter uma ideia da situação, Dilma Rousseff só consegue dormir tomando Midazolam, uma substância que as pessoas ingerem antes de se submeter à anestesia geral. É um medicamento muito forte e perigoso, causa dependência, tem graves contraindicações e não pode ser ministrado indefinidamente, sobretudo a pessoas idosas.
Em seus delírios, Dilma deve se sentir como a guerrilheira de outrora, que tentava derrubar um regime militar. Mas na verdade ela está enfrentando hoje apenas um moinho estocador de vento, acompanhada por um Sancho Pança bêbado e trôpego, que a incentiva a se autodestruir.
É uma história muito triste, que parece ficção e não deveria estar transcorrendo na vida real. Esperamos que tenha um final feliz, mas as perspectivas são sombrias.
Até tu, Mujica!
As queixas estão aumentando e partem de empresários e do próprio governo. Mujica prometeu muitos projetos de infraestrutura que nunca aconteceram, vendeu uma fantasia que não se tornou realidade. Nenhuma de suas ideias mudou a vida dos uruguaios.Daniel Chasquetti, professor da Universidade da República
Obcecada pelo 'golpe', Dilma não gere o Estado
Desde que iniciou o seu segundo mandato, Dilma Rousseff persegue dois objetivos estratégicos: não cair e manter acesa a ilusão de que preside. Fracassou. Sua queda está programada para daqui a dez dias. E a simbologia do poder escorre na direção do gabinete do vice-presidente Michel Temer. Acéfalo, o governo do PT virou uma espécie de latifúndio improdutivo que o PMDB ocupa.
A caminho do cadafalso montado no plenário do Senado, Dilma anda tão ocupada em compor o enredo do “golpe” que já não lhe sobra tempo para presidir o Estado. Sua agenda está 100% dedicada ao esforço para grudar nos partidários do impeachment a pecha de “golpistas”. Ironicamente, a maioria dos usurpadores é composta de silvérios que Dilma chamava de “aliados” até ontem.
De acordo com os registros disponíveis no site da Presidência, Dilma concedeu nas últimas três semanas 28 audiências individuais. Em 25 delas, ou 89,3% do total, Dilma conversou com ministros e políticos sobre sua estratégia anti-impeachment. Nas outras três (10,7%), recebeu personagens que foram prestar-he solidariedade: o Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, o presidente da Contag Alberto Ercílio Broch, e o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ).
Dentro ou fora do Planalto, as solenidades ornamentadas com a presença de Dilma tornaram-se meros pretextos para que uma presidente em fase de derretimento repise a tecla do “golpe''. Há dois dias, num evento sobre o programa Mais Médicos, ela chamou de “ridícula” a acusação de que cometeu crime de responsabilidade.
Convertido em advogado de Dilma em tempo integral, o ministro José Eduardo Cardozo (Advogacia-Geral da União) ecoou o discurso de sua chefe na comissão de impeachment do Senado. Irônico, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) disse que Cardozo não deveria falar em “golpe”. Sob pena de passar por ridículo, já que os golpistas estavam ali, de cara limpa, para testemunhar o exercício do direito de defesa da presidente, num processo regulado pelo STF. Tudo transmitido ao vivo pela tevê.
Dois dias antes, Dilma discursara numa conferência sobre direitos humanos. Dissera que o impeachment, aprovado na Câmara em 17 de abril, está maculado por um “pecado original” chamado Eduardo Cunha. “O senhor presidente da Câmara queria fazer um jogo escuso com o governo. Votem para impedir que eu seja julgado no Conselho de Ética, tirem os votos que o governo tem no Conselho de Ética. Eram três votos. E aí eu não entro com o processo de impeachment.”
.Se o governo aceitasse a negociação, disse Dilma, entraria “em processo de apodrecimento. Por isso, nós recusamos essa negociação.'' A oradora esqueceu de mencionar que havia recebido o “pecado original” no Planalto. Negociara com ele um plano de proteção mútua do tipo uma mão suja a outra. Mas o PT, na última hora, recusara-se a entregar seus três no Conselho de Ética. Sem a mercadoria, Cunha colocou para andar o processo de impeachment que transformou Dilma numa presidente cujo poder é invisível a olho nu.
Na última sexta-feira, ao explicar as razões que levaram o governo a antecipar o repasse do orçamento da Polícia Federal para o resto do ano, o ministro Eugênio Aragão (Justiça) cometeu um ato falho que resumiu o estágio em que se encontram os funerais da gestão Dilma:
“…É possível que nós tenhamos uma presidenta suspensa de suas funções [pelo Senado, em 11 de maio]. E nós estamos querendo garantir que, durante esse período excepcional de até 180 dias, a Polícia Federal funcione independentemente da crise política.” Simultaneamente, Michel Temer discutia em São Paulo, numa reunião com o futuro ministro Henrique Meirelles (Fazenda), as primeiras medidas econômicas do governo “golpista”.
Neste domingo, em pleno Dia do Trabalhador, Dilma distribuirá “bondades'' com uma generosidade que combina com sua inusitada condição de ex-presidente ainda no exercício da Presidência.
A caminho do cadafalso montado no plenário do Senado, Dilma anda tão ocupada em compor o enredo do “golpe” que já não lhe sobra tempo para presidir o Estado. Sua agenda está 100% dedicada ao esforço para grudar nos partidários do impeachment a pecha de “golpistas”. Ironicamente, a maioria dos usurpadores é composta de silvérios que Dilma chamava de “aliados” até ontem.
Dentro ou fora do Planalto, as solenidades ornamentadas com a presença de Dilma tornaram-se meros pretextos para que uma presidente em fase de derretimento repise a tecla do “golpe''. Há dois dias, num evento sobre o programa Mais Médicos, ela chamou de “ridícula” a acusação de que cometeu crime de responsabilidade.
Convertido em advogado de Dilma em tempo integral, o ministro José Eduardo Cardozo (Advogacia-Geral da União) ecoou o discurso de sua chefe na comissão de impeachment do Senado. Irônico, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) disse que Cardozo não deveria falar em “golpe”. Sob pena de passar por ridículo, já que os golpistas estavam ali, de cara limpa, para testemunhar o exercício do direito de defesa da presidente, num processo regulado pelo STF. Tudo transmitido ao vivo pela tevê.
Dois dias antes, Dilma discursara numa conferência sobre direitos humanos. Dissera que o impeachment, aprovado na Câmara em 17 de abril, está maculado por um “pecado original” chamado Eduardo Cunha. “O senhor presidente da Câmara queria fazer um jogo escuso com o governo. Votem para impedir que eu seja julgado no Conselho de Ética, tirem os votos que o governo tem no Conselho de Ética. Eram três votos. E aí eu não entro com o processo de impeachment.”
.Se o governo aceitasse a negociação, disse Dilma, entraria “em processo de apodrecimento. Por isso, nós recusamos essa negociação.'' A oradora esqueceu de mencionar que havia recebido o “pecado original” no Planalto. Negociara com ele um plano de proteção mútua do tipo uma mão suja a outra. Mas o PT, na última hora, recusara-se a entregar seus três no Conselho de Ética. Sem a mercadoria, Cunha colocou para andar o processo de impeachment que transformou Dilma numa presidente cujo poder é invisível a olho nu.
Na última sexta-feira, ao explicar as razões que levaram o governo a antecipar o repasse do orçamento da Polícia Federal para o resto do ano, o ministro Eugênio Aragão (Justiça) cometeu um ato falho que resumiu o estágio em que se encontram os funerais da gestão Dilma:
“…É possível que nós tenhamos uma presidenta suspensa de suas funções [pelo Senado, em 11 de maio]. E nós estamos querendo garantir que, durante esse período excepcional de até 180 dias, a Polícia Federal funcione independentemente da crise política.” Simultaneamente, Michel Temer discutia em São Paulo, numa reunião com o futuro ministro Henrique Meirelles (Fazenda), as primeiras medidas econômicas do governo “golpista”.
Neste domingo, em pleno Dia do Trabalhador, Dilma distribuirá “bondades'' com uma generosidade que combina com sua inusitada condição de ex-presidente ainda no exercício da Presidência.
Escola pública: comunidade zumbi
Quem dera se fosse dos Palmares... Pelo menos faríamos história, deixaríamos marcas culturais, lutaríamos por ideais. Mas falo de mortos-vivos. Dos que assombram construções em ruínas, dos que vagam por pátios, sem rumo nem interesse por nada. Dos que vão trabalhar como se fossem a um matadouro. Dos que preferem morrer a estudar. É disso que falo: do cemitério terrível que a comunidade escolar se transformou na sua grande maioria, mesmo que aqui e ali ilhas de excelência nos emocionem em reportagens especiais. Especiais, pois no geral é o caos.
Querem a receita para criar um país de mortos-vivos? Sangrem a escola, suguem as almas dos professores, tirem a autoridade deles de forma lenta e gradual, de preferência torturando-os com salários aviltantes, impondo períodos de trabalho forçado, desumano e com requintes de sadismo, atrase seus proventos. E, melhor, tirem deles instrumentais mínimos, como ambiente decente, tecnologia mínima, tempo para reciclagem, reconhecimento do trabalho domiciliar para preparar aulas e corrigir tarefas e provas, deixando de remunerá-los para tanto.
Acrescente turmas cada vez maiores, na mesma proporção em que são desinteressadas e hostis. Coloque-os no paredão de fuzilamento de conflitos com os pais e os imprense às exigências de ter ranking nos testes tipo Pisa, Ideb, Enem, e por aí vai. O que sobrar, esprema e envie por Sedex ao primeiro sanatório que ainda existir.
Pobres (literalmente) professores, para-choques de todos os males que a sociedade cria. Testemunhas de violência doméstica, abusos, devastação das drogas, degradação sócio-econômica, desfazimento dos tecidos familiar e social. E vítimas de tudo isso, angustiados e impotentes. Ameaçados e sequestrados pela falência da moral, da ética, dos princípios elementares.
E os pais? Desmoralizados e atropelados pela inabilidade tecnológica, desprezados por seus filhos egoístas e indiferentes, exigentes e autistas, movem em meio à chantagem emocional, às culpas, à falta de tempo e de dinheiro, sonhando com um futuro para seus filhos que no fundo nunca será como esperado. Reclamam da escola, com e sem razão, mas mal conseguem trocar meia dúzia de palavras ou impor regras, disciplina e limites. Aguardam que na escola isso ocorra. Santa ingenuidade!
Alunos? Quem? Considerando que recentes pesquisas mostram que quase dois em cada três “odeiam” estudar, acham desinteressante, preferem ficar conectados ao seu smart, não percebem valor no conteúdo escolar em sua vida prática ou simplesmente não entendem o que o professor fala ou não prestam atenção. Em média, se dispersam após 5 minutos de aula. Têm distúrbio de sono de forma média a severa mais de 60% dos estudantes entre 12 e 18 anos, o que compromete memória, atenção, promove irritabilidade, nervosismo e agressividade. Uma noite sem dormir para crianças e adolescentes (em baladas ou viciados em telas) é altamente lesiva ao cérebro, duas noites numa semana são avassaladoras. Será a futura geração do Alzheimer precoce.
Faltou alguém? Sim, os funcionários de escolas. Esses fundamentais e pouco lembrados porteiros, pessoal das secretarias e da administração, o pessoal da merenda, os supervisores de pátios, serviços gerais. Heróis anônimos, que mantêm um mínimo de ordem e sanidade nesse espaço caótico. Meu Deus! Que esse filme seja uma ficção. Que algo pulse no coração da sociedade para que possamos retomar a consciência cívica. Que a lucidez ilumine a mente dos que detêm o poder para que um mínimo de bom senso brote de uma verdadeira liderança. Que a alma que habita cada um de nós entre no espírito coletivo e faça uma revelação tão gritante quanto imperceptível: que traga, para a sobrevivência da comunidade escolar, a esperança de novos tempos!
Querem a receita para criar um país de mortos-vivos? Sangrem a escola, suguem as almas dos professores, tirem a autoridade deles de forma lenta e gradual, de preferência torturando-os com salários aviltantes, impondo períodos de trabalho forçado, desumano e com requintes de sadismo, atrase seus proventos. E, melhor, tirem deles instrumentais mínimos, como ambiente decente, tecnologia mínima, tempo para reciclagem, reconhecimento do trabalho domiciliar para preparar aulas e corrigir tarefas e provas, deixando de remunerá-los para tanto.
Pobres (literalmente) professores, para-choques de todos os males que a sociedade cria. Testemunhas de violência doméstica, abusos, devastação das drogas, degradação sócio-econômica, desfazimento dos tecidos familiar e social. E vítimas de tudo isso, angustiados e impotentes. Ameaçados e sequestrados pela falência da moral, da ética, dos princípios elementares.
E os pais? Desmoralizados e atropelados pela inabilidade tecnológica, desprezados por seus filhos egoístas e indiferentes, exigentes e autistas, movem em meio à chantagem emocional, às culpas, à falta de tempo e de dinheiro, sonhando com um futuro para seus filhos que no fundo nunca será como esperado. Reclamam da escola, com e sem razão, mas mal conseguem trocar meia dúzia de palavras ou impor regras, disciplina e limites. Aguardam que na escola isso ocorra. Santa ingenuidade!
Alunos? Quem? Considerando que recentes pesquisas mostram que quase dois em cada três “odeiam” estudar, acham desinteressante, preferem ficar conectados ao seu smart, não percebem valor no conteúdo escolar em sua vida prática ou simplesmente não entendem o que o professor fala ou não prestam atenção. Em média, se dispersam após 5 minutos de aula. Têm distúrbio de sono de forma média a severa mais de 60% dos estudantes entre 12 e 18 anos, o que compromete memória, atenção, promove irritabilidade, nervosismo e agressividade. Uma noite sem dormir para crianças e adolescentes (em baladas ou viciados em telas) é altamente lesiva ao cérebro, duas noites numa semana são avassaladoras. Será a futura geração do Alzheimer precoce.
Faltou alguém? Sim, os funcionários de escolas. Esses fundamentais e pouco lembrados porteiros, pessoal das secretarias e da administração, o pessoal da merenda, os supervisores de pátios, serviços gerais. Heróis anônimos, que mantêm um mínimo de ordem e sanidade nesse espaço caótico. Meu Deus! Que esse filme seja uma ficção. Que algo pulse no coração da sociedade para que possamos retomar a consciência cívica. Que a lucidez ilumine a mente dos que detêm o poder para que um mínimo de bom senso brote de uma verdadeira liderança. Que a alma que habita cada um de nós entre no espírito coletivo e faça uma revelação tão gritante quanto imperceptível: que traga, para a sobrevivência da comunidade escolar, a esperança de novos tempos!
Em 'último suspiro', Dilma mira 2018 e legado pessoal
Para o brasilianista Matthew Taylor, professor da American University e membro dothink tank Council on Foreign Relations, baseado em Washington, as iniciativas chegam “tarde demais” para surtirem efeito imediato, e miram muito mais uma potencial candidatura do PT em 2018 e o legado pessoal da presidente.
Em entrevista à BBC Brasil, Taylor indicou que as ações de Dilma chegam após amplas concessões dos governos do PT ao que classifica como a bancada “BBB” (Bíblia, Bala e Boi) - que a abandonou e votou em massa a favor do impeachment - e visam reparar, a longo prazo, a imagem de Dilma e do Partido dos Trabalhadores.
No entanto, o especialista acredita ser muito difícil que a presidente consiga “apagar sua história como a ‘gerentona do PAC’ e a pessoa que pressionou para a construção da hidrelétrica de Belo Monte com muita força e a contragosto de muitos grupos da esquerda tradicional no Brasil”.
Como o senhor avalia o estágio atual da crise política no Brasil?
Matthew Taylor - Há uma grande possibilidade de o Senado remover Dilma do poder até a metade de maio, levando a sua suspensão por até 180 dias. Se isso acontecer, creio que as chances de ela ser permanentemente afastada do cargo sejam muito altas. Mas uma vez que ela esteja temporariamente afastada, o vice-presidente Michel Temer já terá o poder de gerenciar as verbas da União, o que é um fator importante. Diante desse cenário, o que temos visto é que a presidente tem feito tudo que está ao seu alcance para tentar ganhar vantagem nesta reta final e deslegitimar tanto o processo de impeachment quanto a figura de Temer.
Uma frente para atingir estes objetivos é tentar dividir o Senado, buscando a criação de uma divisão dentro do PMDB. Outra iniciativa é falar mais com a mídia internacional e atores internacionais. Embora isso possa ter efeitos limitados, é algo importante porque faz com que Dilma apareça com líderes mundiais, e em ocasiões como o discurso na ONU, que apesar de ter sido contido, trouxe vantagens para ela. Uma terceira via foi tentar criar a percepção de que Temer cancelaria os programas sociais, que foi eficientemente rebatida pelo vice-presidente.
Nos últimos dias a presidente Dilma Rousseff tem acenado com medidas em áreas como a educação, a pequenos agricultores, indígenas, além de anunciar mais financiamento para habitação e ações para expandir o programa Mais Médicos. Como o senhor avalia tais iniciativas? São ações que podem surtir efeito positivo para o governo e a presidente a curto prazo?
Taylor - Eu acrescentaria à esta lista a tentativa de reajustar o Bolsa Família. São ações que chegam tarde demais para surtirem qualquer efeito positivo nos próximos seis meses, e eu imagino que a presidente esteja ciente disso. Eu interpreto esses pacotes de medidas como uma tentativa de pensar mais à frente, para 2018, para uma potencial candidatura do PT, e também a longo prazo, pensando no legado e na imagem pessoal da presidente. Mas eu acho que é muito difícil para ela tentar apagar sua história como a “gerentona do PAC” e a pessoa que pressionou para a construção da hidrelétrica de Belo Monte com muita força e a contragosto de muitos grupos da esquerda tradicional no Brasil.
São medidas que também visam melhorar a imagem do PT, que governou tentando agradar e manter o apoio das bancadas “BBB” (Bíblia, Bala e Boi), e ao satisfazer esses grupos deixou de lado a esquerda tradicional que sempre esteve ao lado do partido. Governar para manter o apoio dessas bancadas significou ser menos progressista em áreas como o casamento entre pessoas do mesmo sexo, em temas de raça, drogas, crime, direitos indígenas e no setor agrícola.
Eles fizeram muitas coisas boas, obviamente, mas a lógica de manter o apoio dessas bancadas os manteve atrelados a não progredir em vários assuntos. A curto prazo, agora que essas bancadas abandonaram a presidente e votaram em massa a favor do impeachment, não há mais nada que a prenda, e por isso algumas dessas medidas podem ser colocadas em prática mesmo que ela tenha potencialmente apenas mais duas semanas no cargo.
Em entrevista à BBC Brasil, Taylor indicou que as ações de Dilma chegam após amplas concessões dos governos do PT ao que classifica como a bancada “BBB” (Bíblia, Bala e Boi) - que a abandonou e votou em massa a favor do impeachment - e visam reparar, a longo prazo, a imagem de Dilma e do Partido dos Trabalhadores.
No entanto, o especialista acredita ser muito difícil que a presidente consiga “apagar sua história como a ‘gerentona do PAC’ e a pessoa que pressionou para a construção da hidrelétrica de Belo Monte com muita força e a contragosto de muitos grupos da esquerda tradicional no Brasil”.
Como o senhor avalia o estágio atual da crise política no Brasil?
Matthew Taylor - Há uma grande possibilidade de o Senado remover Dilma do poder até a metade de maio, levando a sua suspensão por até 180 dias. Se isso acontecer, creio que as chances de ela ser permanentemente afastada do cargo sejam muito altas. Mas uma vez que ela esteja temporariamente afastada, o vice-presidente Michel Temer já terá o poder de gerenciar as verbas da União, o que é um fator importante. Diante desse cenário, o que temos visto é que a presidente tem feito tudo que está ao seu alcance para tentar ganhar vantagem nesta reta final e deslegitimar tanto o processo de impeachment quanto a figura de Temer.
Uma frente para atingir estes objetivos é tentar dividir o Senado, buscando a criação de uma divisão dentro do PMDB. Outra iniciativa é falar mais com a mídia internacional e atores internacionais. Embora isso possa ter efeitos limitados, é algo importante porque faz com que Dilma apareça com líderes mundiais, e em ocasiões como o discurso na ONU, que apesar de ter sido contido, trouxe vantagens para ela. Uma terceira via foi tentar criar a percepção de que Temer cancelaria os programas sociais, que foi eficientemente rebatida pelo vice-presidente.
Nos últimos dias a presidente Dilma Rousseff tem acenado com medidas em áreas como a educação, a pequenos agricultores, indígenas, além de anunciar mais financiamento para habitação e ações para expandir o programa Mais Médicos. Como o senhor avalia tais iniciativas? São ações que podem surtir efeito positivo para o governo e a presidente a curto prazo?
Taylor - Eu acrescentaria à esta lista a tentativa de reajustar o Bolsa Família. São ações que chegam tarde demais para surtirem qualquer efeito positivo nos próximos seis meses, e eu imagino que a presidente esteja ciente disso. Eu interpreto esses pacotes de medidas como uma tentativa de pensar mais à frente, para 2018, para uma potencial candidatura do PT, e também a longo prazo, pensando no legado e na imagem pessoal da presidente. Mas eu acho que é muito difícil para ela tentar apagar sua história como a “gerentona do PAC” e a pessoa que pressionou para a construção da hidrelétrica de Belo Monte com muita força e a contragosto de muitos grupos da esquerda tradicional no Brasil.
Eles fizeram muitas coisas boas, obviamente, mas a lógica de manter o apoio dessas bancadas os manteve atrelados a não progredir em vários assuntos. A curto prazo, agora que essas bancadas abandonaram a presidente e votaram em massa a favor do impeachment, não há mais nada que a prenda, e por isso algumas dessas medidas podem ser colocadas em prática mesmo que ela tenha potencialmente apenas mais duas semanas no cargo.
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