O ex-Lula, hoje preso em Curitiba, vestia a cabeça com coloridas marcas do MST, da Caixa e de outros tantos, como o de hip hop, ritmo que possivelmente ele nem conhecia. Na campanha de 2006, até o insosso Geraldo Alckmin conseguiu arrancar gargalhadas ao cair no ridículo de aparecer enfiado em um jaleco de estatais, adornando a careca com um boné do Banco do Brasil para se mostrar contrário às privatizações que seu partido defendia.
Mas ninguém foi tão longe como o presidente Jair Bolsonaro. Impresso no boné preto que estrategicamente colocou sobre a mesa do hospital de onde regeu sua live semanal no Facebook, o “make Brazil great again” não deixa dúvidas quanto à submissão a Donald Trump. Uma imitação barata, na mensagem e na língua, do slogan de campanha daquele que hoje é considerado pelos americanos como um dos piores presidentes que o país já teve.
Contabilize-se o “again” que remeteria a um passado melhor do que o presente, o que, na cabeça do capitão da reserva tem tradução óbvia: a ditadura militar (que sua desrespeitosa visão da historia diz que não existiu) seria o antes glorioso.
Não é novidade o encantamento do clã Bolsonaro por Trump, que cotidianamente desafia os melhores valores americanos. Com isso, transforma a liderança que seu país gozava no vexame de uma posição secundária na defesa da democracia, cujos princípios exigem apologia à liberdade, respeito ao contraditório e às minorias, tolerância.
Esses fundamentos, tão caros aos Estados Unidos e insistentemente expropriados por Trump, podem explicar a rejeição do chefe numero 1 do mundo, mesmo com desemprego baixo e economia em crescimento.
Pesquisa do jornal Washington Post-ABC News aponta que o ídolo de Bolsonaro tem 56% de desaprovação e que 60% dos eleitores americanos acham que ele não deve ser reeleito. No levantamento do Langer Research Associates, divulgado na semana passada, se as eleições fossem hoje Trump perderia feio para qualquer um dos seis candidatos democratas pesquisados.
Um cenário capaz de embaçar as tratativas entre o Brasil e os Estados Unidos, costuradas pelo governo Bolsonaro como amizade de compadres, entre Trump e ele, entre Trump e seu filhote Eduardo, que o papai-presidente quer transformar em embaixador do Brasil em Washington.
Eduardo desfila com os ícones da extrema-direita americana, foi recebido por Trump e é um dos temas recorrentes na série de visitas do chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, aos Estados Unidos. Na semana passada o ministro do Exterior bateu ponto pela sexta vez em oito meses, garantindo que iria anunciar ganhos extraordinários para o Brasil.
Mais uma vez, nada aconteceu de proveitoso para o país. Mas o alinhamento quase automático com Trump continua firme, tendo Eduardo como ponta de lança.
Bolsonaro ainda não enviou ao Senado a indicação do rebento. Aguarda vencer resistências dos que veem no ato nepotismo extremo e a sabatina de Augusto Aras, indicado para a Procuradoria-Geral da República. Publicamente, preferia não misturar estações, absolutamente embaralhadas quando se descobriu que o advogado-geral do Senado, Fernando Cesar Cunha, responsável pelo parecer em favor de Eduardo, é sócio do escritório de advocacia de Aras.
As credenciais do senador postulante também suscitam dúvidas – do inglês frágil ao comportamento nada diplomático exercitado por eleno dia a dia com seus pares e nas redes. A pistola na cintura durante a visita ao pai no hospital aditou apenas mais uma extravagância à sua já polêmica personalidade.
As afinidades e gostos pessoais acima das obrigações de Estado deixam o Brasil vulnerável. Caso Trump não consiga se reeleger, o que hoje é mais do que provável, as consequências poderão ser danosas para o Brasil com “s”, não contemplado no boné do chefe da nação.