sábado, 29 de setembro de 2018

Gente fora do mapa


Pacificação virou a prioridade mais óbvia do país

Chegamos à reta final do primeiro turno da sucessão presidencial. Até aqui, as estrelas da disputa são Bolsonaro, chamado de “mito” por seus apologistas, e Lula, que se autodefiniu como “uma idéia” antes de ser preso. O mito e a ideia conduzem à mesma ilusão —a ilusão do salvador da pátria. O engano de percepção será desfeito assim que as urnas se pronunciarem em definitivo. Seja quem for o eleito, o Brasil amanhecerá no dia seguinte como um país por fazer. A tarefa pede pacificação.


Na sucessão brasileira de 2018, as pesquisas eleitorais cumprem uma função que, em países menos atribulados, cabe às previsões meteorológicas. Ambas preparam as pessoas para fenômenos incontroláveis. A garota do tempo antevê no estrangeiro os tufões. As sondagens eleitorais antecipam no Brasil a tempestade resultante de uma disputa entre extremos. A diferença é que a agitação atmosférica brasileira é obra 100% produzida pela natureza humana.

Políticos e analistas torram os miolos à procura de explicações para a polarização entre Bolsonaro, o mito, e Haddad, o porta-voz da ideia presa em Curitiba. Falta à maioria das análises um personagem central. O perigo da eleição nunca se chamou Bolsonaro, Mourão, Lula ou Haddad.

Quem quiser entender o enredo de 2018 terá de chamar o protagonista da trama pelo nome certo: povo. Cutucado pelos políticos com o pé, o povo decidiu morder. O presidente eleito está condenado a ampliar seus horizontes políticos. Sob pena de impor ao país mais quatro anos de trovões e raios que os partam.

O 'comandante'

Dentro do país, é uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição
José Dirceu

Haddad repete Dilma

Uma piada de mineiro sobre as diferenças de comportamento entre cariocas, paulistas e gaúchos ilustra o que pensa o candidato do PT, Fernando Haddad, em termos de condução da economia. O carioca costuma valorizar a isonomia nos negócios: “Quanto é que nós vamos ganhar?” O paulista, sua participação nos lucros: “Quanto é que eu vou ganhar?” O gaúcho, porém, estaria mais preocupado com os rendimentos do sócio: “Quanto tu vais ganhar?” A piada fez muito sucesso nos bastidores do governo de Dilma Rousseff, porque a então presidente da República estava mais interessada em arbitrar o lucro das empresas do que com o equilíbrio das contas públicas e os ganhos de produtividade do país. Com perdão da injustiça com os gaúchos, principalmente meus amigos queridos, o candidato do PT repete o comportamento em campanha.

Recentemente, em entrevista na tevê, disse que os bancos ganham muito e que vai reduzir os spreads bancários, que vêm a ser a diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador para captar um recurso e quanto esse banco cobra para emprestar o mesmo dinheiro. O cliente que deposita dinheiro em conta-corrente, poupança ou outra aplicação faz um empréstimo ao banco, que remunera esses depósitos com juros chamados de taxa de captação; entretanto, quando o banco empresta dinheiro a alguém, cobra uma taxa pelo empréstimo superior à taxa de captação. Haddad quer reduzir os juros a fórceps, como fez Dilma Rousseff, baixando na marra os spreads bancários, cujo valor os bancos atribuem à alta inadimplência e ao depósito compulsório.

A proposta é sedutora, faz parte de um cardápio de medidas populistas e do discurso fácil de campanha, mas pode fazer o crédito simplesmente desaparecer e provocar uma crise de financiamento dos negócios, como a da Venezuela. A reação dos bancos para reduzir a inadimplência será arrochar o crédito de risco, a não ser que o governo reduza os compulsórios e os impostos, que acabam repassados aos clientes, mas isso não faz parte do programa de governo de Haddad, que é expansionista e intervencionista. Ontem, na Serra Gaúcha, por exemplo, anunciou que pretende usar o poder de compra da máquina federal para estimular a indústria nacional. Disse que vai reativar o polo naval gaúcho, localizado em Rio Grande, que na gestão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou mais de 20 mil postos de trabalho, o que somente será possível com uma nova farra com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Esqueceu-se de dizer que essa foi a gênese do escândalo da Petrobras, que deu origem à Operação Lava-Jato.


A menina dos olhos da política de estímulo à indústria nacional dos governos Lula e Dilma foi a empresa Sete de Brasil, criada com recursos públicos para fabricação de sondas para a Petrobras. Seu presidente, Pedro Barusco, deu início à série de delações premiadas de executivos e diretores da Petrobras ligados ao escândalo. Espontaneamente, devolveu US$ 100 milhões que havia arrecado de propina, para espanto até dos investigadores. Segundo a Lava-Jato, aproximadamente US$ 70 milhões em propina foram arrecadados pelo PT, agentes públicos da Petrobras e executivos da Sete Brasil em contratos bilionários com os estaleiros Jurong (Aracruz, ES), Brasfels (Angra dos Reis, RJ), Enseada do Paraguaçu (Maragogipe, BA), Ecovix (Rio Grande, RS) e Atlântico Sul (Fortaleza), a maioria hoje em recuperação judicial. O cálculo teve por base 1% de desvios nos contratos dos 21 navios-sondas encomendados pela Sete Brasil a serem fornecidos à Petrobras.

Só a Jurong, que tinha US$ 2,1 bilhões em contratos com a Sete Brasil, pagou US$ 18,8 milhões em propinas. Um dos réus confessou ter recebido pelos menos US$ 3,8 milhões em uma conta no exterior: o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, que disse ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara de Curitiba, que dois terços do total arrecadado foram para o grupo político do PT, em uma divisão que teria beneficiado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro José Dirceu e a legenda. Vaccari seria o arrecadador, e Antônio Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma Rousseff, o responsável pelo gerenciamento. Vaccari, também réu, ao prestar depoimento, preferiu ficar calado sobre o assunto. Lula e Dirceu negam o fato; Palocci negocia sua delação premiada.

O candidato do PT também se jactou de ter comprado 35 mil ônibus escolares em sua gestão à frente do Ministério da Educação e disse que dará atenção especial ao transporte público, repassando a receita arrecadada pela cobrança da Cide — contribuição que incide sobre o preço da gasolina — para os municípios. Ou seja, pretende resgatar o velho pacto automotivo, que deixou em segundo plano o transporte de massas — metrô, trens, volts — para favorecer a produção de veículos automotores no ABC, berço histórico do PT. Repete outro erro de Dilma, que comprou 3.401 veículos da Volkswagen e da Mercedes-Benz para o Exército, a um custo total de R$ 1,1 bilhão, ou seja, em média, R$ 323,4 mil por viatura. Os modelos comprados são o VW Worker e o Atego. O que foi uma festa nos quartéis no dia da entrega, virou um problema: o 72º Batalhão de Infantaria Motorizada, sediado em Petrolina, que tinha cinco caminhões, por exemplo, agora tem 50 veículos parados, sem recursos para manutenção.

O que o marxista Daciolo relembra à esquerda

O debate desta última quarta-feira seria mais um ritual protocolar altamente ensaiado, não fosse pela figura elétrica do Cabo Daciolo. O bombeiro catarinense mais uma vez carregou sua Bíblia para o púlpito, de onde metralhou adversários com uma retórica de esquerda na embalagem mais conservadora que seu forte sotaque carioca permite. Cometeu um absurdo matemático, é verdade, ao encontrar 400 milhões de miseráveis num país de 210 milhões de habitantes. Mas será lembrado como o homem incandescente que disse algumas verdades necessárias, aqui e ali, a candidatos de um establishment identificável.


É improvável que Daciolo se reconheça de esquerda – sua denúncia da Ursal e do Foro de São Paulo, no primeiro debate da campanha, pareciam vindas de um curso do filósofo ultradireitista Olavo de Carvalho. Sua admiração por Jair Bolsonaro é conhecida. Sua primeira aventura eleitoral, no canhotíssimo PSOL, foi rapidamente abreviada quando o deputado eleito quis emendar o introito da Constituição, que atribui todo o poder ao povo, e não a Deus. Hoje, concorre pela legenda que se apresenta com o sugestivo timbre de Patriota, embora tenha sido fundada como Partido Ecológico Nacional.

Tudo isso confunde a percepção de quem é o cabo. No entanto, basta ouvi-lo para compreender que há um clássico marxista cristão falando, o que torna seu batismo pelo PSOL cada vez mais compreensível. Não faz muito tempo, o candidato do partido em 2010 era Plínio de Arruda Sampaio, tão católico quanto marxista. E quantas vezes não se ouviu a senadora Heloísa Helena pronunciando vociferações extraídas diretamente do livro bíblico do Apocalipse, na época em que reivindicava para si os holofotes no partido?

Costela de um PT fundado também por padres e frades, o PSOL ateu é um parâmetro recentemente atualizado, uma modernização exigida pela militância classe média que tenta se afastar do pentecostalismo enquanto abraça identidades de gênero. A religião passou a ser algo incômodo para a canhotagem política, obviamente porque se opõe a militância feminista (leia-se pró-aborto) e LGBT. Essencialmente cristã no seu sonho de uma sociedade igualitária, a esquerda passou a esconder suas origens e as entregou de mão beijada para a direita, que se apropriou da identidade cristã, dando-lhe roupagem mais conservadora: sai o Cristo cabeludo dos universitários ripongas, entra o pastor em ternos sóbrios. Embora o eleitor pobre continue sendo alvo fundamental para as campanhas da esquerda, ele se torna menos interessante quando se assume evangélico, mesmo que seja negro. Por mais digno e honroso que seja batalhar pelas sofridas minorias sexuais, esse rearranjo de prioridades cobra um preço. Hoje, parte desse custo se chama Bolsonaro.

Embora inviável politicamente, Daciolo é um lembrete do que a esquerda perdeu: a capacidade de comunicação direta com aqueles que têm de se preocupar com a família e contam com uma fé para atravessar os dias. No debate de quarta-feira, o cabo foi urgente na defesa dos pobres (luta de classes), na denúncia dos serviços de saúde pública, na igualdade salarial entre os gêneros (tema dificílimo para Bolsonaro, por exemplo) e no repúdio à corrupção. Costumava ser o discurso clássico do PT, fora a parte em que "Deus está no controle". Daciolo também difere de Bolsonaro por ser contra a facilitação de porte e posse de armas, embora pensem bem parecido a respeito de educação sexual nas escolas.

O bombeiro-profeta terá poucos votos, porque jejua demais e faz campanha de menos. Mas, se um dia o socialismo identitário quiser se reconciliar com o eleitorado evangélico de baixa renda, Daciolo dará um excelente consultor.
Márvio dos Anjos

Pensamento do Dia

Angel Boligan

Desprezo à erudição e reflexos na cidadania

Portugal coibia a instalação de escolas em sua principal colônia, porque sabia que povo instruído seria um risco a seu domínio. Os jesuítas alfabetizavam os gentios, como parte da evangelização, e alguns jovens iam estudar na metrópole, formando-se em direito e humanidades. Houve avanços apenas em 1808, quando dom João VI instalou-se em Salvador acompanhado por 15 mil nobres e serviçais. Procurou logo oferecer-lhes boas condições no exílio, rompendo barreiras que proibia a educação sistematizada, ao fundar a Escola de Cirurgia da Bahia.

O príncipe regente tinha trazido 60 mil livros da real biblioteca, muitas obras de arte e preciosos itens da Casa de História Natural de Lisboa. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, deu um salto de modernidade e erudição à nova sede da Coroa Portuguesa. Criou a Imprensa Régia, a Academia da Marinha, a Academia Militar, o Jardim Botânico, a Real Fábrica de Pólvora, o Laboratório Químico Prático e, em novembro do mesmo ano, a Faculdade de Medicina. Em 1810, fundou a Biblioteca Nacional; em 1816, a Escola Real de Artes, Ciências e Ofícios e, em 1818, o Museu Real, no Realengo, que se tornou Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, após a Proclamação da República.

Como todos os monarcas daquela época, dom João VI tinha apreço às artes, ciências e humanidades. Seu filho, imperador dom Pedro I, tornou-se exímio pianista e compositor. Seu neto, dom Pedro II, era fascinado pela erudição, pelas novas tecnologias e por projetos inovadores para o Brasil, como uma ferrovia que ligasse o Rio de Janeiro a Belém do Pará.


Jaqueline Vieira de Aguiar analisa, no livro “Princesas Isabel e Leopoldina: Mulheres Educadas para Governar”, como o imperador acompanhava de perto a instrução das filhas por bons preceptores, em várias línguas e áreas. Quando viajava, mantinha correspondência, criticando o estilo, a caligrafia e a estética das missivas; exigiam que elas se preparassem adequadamente para sucedê-lo.

Apesar dessa propulsão para o conhecimento no século XIX, os brasileiros não insistiram em sua formação. O sistema educacional permanece canhestro e com baixíssima produtividade. Os governantes têm se aproveitado dessa lamentável situação, porque manipulam vergonhosamente a ignorância dos eleitores. A modernização da economia vem exigindo formação superior, e muitos lutam pelo diploma universitário, mas se contentam com esse documento sem considerar a erudição que levaria ao pensamento crítico, alheio às opções políticas. Isso lhes garantiria uma interpretação autônoma do mundo, fundada nas experiências do próprio país, como seria importante agora.

Predomina, infelizmente, acomodação à qualificação mínima, sem preparação multifacetada para diferentes atribuições numa sociedade em permanente transformação. Assim, a ampliação da rede escolar não acarretou avanços na construção da cidadania. O quadro dos candidatos é uma amostra da deplorável formação intelectual dos brasileiros, embora alguns tenham curso superior.

Ilusionismo

A propaganda tem, na nossa época, um papel aterrador. É uma forma de ditadura na vida das pessoas
Sophia de Mello Breyner Andresen

A ditadura como princípio

Chegou a hora em que a nova realidade se impõe. Uma das duas forças políticas, populistas por estratégia, extremistas por opção, tomará conta do País. Parece realmente terem ficado restritas a elas as chances nas urnas. As pesquisas sinalizam isso. Os moderados perderam a vez. Perdem campo, rumo e noção do que fazer para reverter o quadro. Foram engolidos pela avassaladora rinha de galo. O conflito está na ordem do dia. Quanto mais feroz o adversário, melhor. Em poucas circunstâncias houve registro de cenário político e social tão claramente repartido nos extremos: esquerda contra direita, Norte contra Sul, Sem-Terra contra milicos, pobres contra ricos. Dê-se a alcunha que preferir. Todas cabem no figurino inventado e ajambrado para aliciar eleitores às duas alternativas na ponta da corrida. O Brasil segue embebido na onda do “nós contra eles”. Está caindo como pato na pegadinha arquitetada milimetricamente pelos contendores da disputa. O que ambos os lados defendem – é só reservar um tempo para rever nas entrelinhas o arsenal de ideias e propostas partidárias para comprovar o totalitarismo em curso – é menos liberdade e direito, na essência, para você, prezado leitor. Querem o “controle social da mídia” (leia-se espaço restrito à exposição independente de opiniões). Querem perseguição aos adversários e instituições: STF deve ser “readaptado”, eleições investigadas, Congresso ignorado, salvo o caso de prestar apoio incondicional ao futuro mandatário. Flertam, em suma, com regimes ditatoriais com vertentes e sinais opostos. Nesse clima de radicalismo, elogiar torturadores e intervenção do Exército, como fizeram bolsonaristas de alto coturno – o candidato à vice, general Mourão, entre eles – ou governos de exceção, como o da Venezuela, Cuba e Nicarágua, venerados pelo Lulopetismo, entrou na rotina, sem qualquer pingo de constrangimento. Para distorcer a democracia, os candidatos da vez usam métodos conhecidos. Promessas ilusórias, por exemplo. É o instrumento mais eficaz dentre os disponíveis e sempre o primeiro a ser sacado nessas horas. Não de hoje. Historicamente ocorre assim. Os líderes de fala direta e banal, que garantem resolver tudo na base da conversa, verdadeiros demagogos autoritários, se sobressaem sobre aqueles de perfil mais, digamos, administrativo e pragmático. O povo não está atrás de um governante gestor. Prefere o que carrega empatia e carisma como qualidades natas. Se vão resolver o problema, pouco importa. O País caminhou ao longo do tempo nessa toada, ungindo personagens como Vargas, Lacerda, Brizola, Jânio, Collor e Lula. O que pesou a favor deles na hora da escolha esteve menos ligado às respectivas capacidades de promover o desenvolvimento e bem estar social. Contou de fato a tática de persuasão. Bolsonaro e Haddad, cada qual encarnando personagens de apelo específico e hordas de seguidores, estão pontificando pelo que vendem de lorota. Fosse a atual situação um campo fértil de debates construtivos, onde a política estivesse em alta e prestigiada, provavelmente jamais se veria a final trazendo um deputado medíocre, de trajetória sofrível, oriundo do baixo clero do Congresso, contra o poste de um presidiário, propondo mais arruaça e resgate de um caldo cultural alimentado pela corrupção. Retrato da decadência do sistema. A perplexidade viceja em mais de 50% dos eleitores que estão fora da polaridade, da escolha de uma mesma moeda com verso e reverso. A turma que ainda aposta em Alckmin, Marina, Álvaro Dias, Amoêdo, Meirelles, do voto nulo e em branco compõe uma maioria dispersa e atônita com a tendência de vitória de um personagem sinistro para presidir o Brasil. A eles resta resistir. A culpa dos omissos nesse momento crucial estará logo precificada. Se há uma hora para a oposição “contra tudo que está aí” acordar é agora.

Mulheres do Brasil: Os dois X dessa questão

Igualdade. Em tempos que se dizem modernos, fico abismada em ver como a mulher ainda aparece só sempre mais como um reboque, acessório, ser inferior que sempre precisa de tutela, leis que obrigam, dizem, a resolver seus problemas e que acabam sendo usadas para nos manter por baixo. E mulher deveria estar sempre por cima, em todas as ocasiões.

O mundo gira cada vez mais rápido é uma impressão. Mas os costumes parecem que usam ponteiros ao contrário. Para obrigar que se respeite a mulher forçam a barra com ordens vindas de cima para baixo e que até as formiguinhas do Himalaia sabem que não funcionam. Como a tal cota obrigatória de mulheres candidatas. 30% de obrigatoriedade. Vocês estão vendo no que está resultando?

Um bando de mulheres que não têm a menor ideia do que fazem, dizem, propõem. Gente que nunca vimos, no horário eleitoral falando e propondo obviedades, isso quando as deixam aparecer como relâmpagos no meio da tempestade que vivemos nestas eleições. Um número absurdo de “vices”: 67 candidatas a vice-governadoras, cinco candidatas a vice-presidente, 83 à primeira suplência e 108 à segunda suplência para o Senado. Pior é que estão lá para cumprir o tal Fundo Partidário – e que até esses últimos momentos poucas receberam, ainda por cima. De malandragens estamos cheias.

No entanto será o voto feminino que poderá decidir; somos 52,5% do eleitorado. O mais louco é que agora, a poucos dias da eleição, mais da metade das mulheres ainda se declara indecisa, e um outro bom punhado votará em branco ou nulo. “As mulheres são mais exigentes”, dizem as estudiosas da questão. Muito bem. Me sinto assim também.


Mulheres são ligadas na realidade, no dia a dia e em questões específicas como o aborto, a disparidade salarial e a violência doméstica principalmente quando se trata de escolher os representantes do Legislativo. Infraestrutura, segurança, creches, educação, saúde – quem está propondo mexer nesse vespeiro, de verdade?

Não é por menos que nos últimos dias a movimentação feminina, muito real, e que acompanho – seja a grande novidade, e que se firmará ainda mais de acordo com a movimentação prevista para as ruas na reta final dessa eleição já de antemão de terrível e triste memória.

Para as mulheres esse momento nacional poderá ser historicamente importante, não só por seu visível poder de decisão, como para a compreensão de que devem tomar a frente de suas vidas, porque esse é o caminho da não-submissão. Foi preciso que um indigesto e seus agregados aparecessem falando asneiras de manhã, de tarde e à noite. Pode até acontecer que o indigesto se fixe, mas não restam dúvidas de que enfrentará problemas se não mudar.

Se não entender, ele, na verdade, e todos, não entenderem que os nossos dois cromossomos X nos tornam diferentes em muitos aspectos dessa questão.

Finalmente repara só que as mulheres aparecem como coadjuvantes até quando são companheiras deles, os tais candidatos. Quando aparecem. Dão tchauzinho, um sorriso, e olhe lá!

Até a jovem Manuela D`Ávila, não me conformo, que teria tido uma campanha inteira para se firmar e ao movimento feminino aceitou fazer parte desse espetáculo circense petista que nos apresenta, por outro lado, um boneco ventríloquo de um líder e de um grupo que não sabe pedir desculpas, como oposição.

A coisa está malparada de todos os lados para os quais buscamos horizontes. Vamos para o alto da montanha, já que a montanha não vem até nós.
Marli Gonçalves