quinta-feira, 25 de maio de 2017
Entre Trump e Temer
Magnatas antigos, do tempo em que a educação era considerada elemento essencial à vida civilizada — em que a vida civilizada era considerada elemento essencial à vida civilizada — financiavam obras de arte, e há algumas construções notáveis na vizinhança; Trump, porém, preferiu demolir um edifício histórico, construído nos anos 1920, onde, durante décadas, funcionou uma loja de departamentos chamada Bonwitt Teller. Houve alguma gritaria na época, mas, naquele já distante ano de 1979, mesmo aqui em Nova York, prédios antigos eram apenas prédios antigos. Mais tarde, Trump se vangloriou de ter mandado destruir pessoalmente as esculturas que enfeitavam a fachada, e que havia prometido ao Metropolitan Museum. A história dessa torre é tão cheia de maracutaias que oito andares simplesmente não existem, e os elevadores levam os passageiros direto do quinto ao décimo quarto andar.
Para os turistas, no entanto, a única coisa que importa é que essa é a torre do presidente. Eles param um segundo para as suas selfies, como param os turistas em qualquer ponto do mundo, seja a Torre Eiffel ou o Pão de Açúcar, e vão embora. Eu também vou, porque tenho mais o que fazer. O vento vira o meu guarda-chuva e, até conseguir desvirá-lo, fico totalmente encharcada.
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— É por causa da situação política, não conseguimos falar sobre outra coisa...
— Que situação política?
— O escândalo.
— Ah, há um escândalo no Brasil?
Na hora do almoço, no dia seguinte, descubro que os indianos também não têm ideia do que está acontecendo. Eu sei, eu sei. Eles são nerds e só pensam em tecnologia. Mas a verdade verdadeira é que o Brasil não passa no exterior.
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Bia me liga enquanto faço as malas.
— Quanto tempo você fica em Nova York?
— Duas noites.
— Será que quando você voltar o Temer ainda vai estar no cargo?
O porteiro me ajuda na saída do elevador.
— A senhora fica muito tempo?
— Não, desta vez é rápido, volto na quinta-feira.
— Será que o Temer cai até lá?
Hoje, mais ou menos quando este jornal estiver chegando às bancas e à casa dos leitores, o meu avião estará aterrissando no Galeão. Espero ter a boa notícia que não tive até agora, e que possa, enfim, ter este pequeno, pálido motivo para comemoração: a queda do Temer.
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Vi muitas coisas bonitas e dignas de nota em Nova York. O barulho de fundo, porém, é o mesmo — a gente sai do Brasil, mas o Brasil não sai da gente. O que acontece agora?, nos perguntamos uns aos outros, brasileiros, em cada pausa para o café, em cada encontro casual na rua, em cada refeição. Temer perdeu a chance histórica de mostrar que dignidade, ao menos, ele tinha, e agoniza em praça pública. Tenta comprar um tempo que não tem e que não merece. E lá vamos nós mais uma vez, de desastre em desastre.
Já li e ouvi argumentos a favor de diretas e de indiretas. A Constituição determina indiretas, mas com o Congresso que está aí? Que moral têm esses ratos para dizer quem corta o queijo? Por outro lado, que diretas? Com os marqueteiros de sempre? Com as montanhas de dinheiro sujo que compraram as últimas — e talvez todas, ever, desde sempre — eleições e reeleições? Alguém ainda acredita, no fundo do coração, de noite, debaixo das cobertas, que a vitória de Dilma, arquitetada por João Santana, foi limpa? Ou que uma eventual vitória do Aécio teria salvado o país? Ou que, agora, a possível vitória de um Lula, digamos, ou de um Bolsonaro, será tranquilamente aceita por todos os brasileiros?
Começo a pensar que, no fundo, tanto faz. O problema não é o presidente — ou não é só o presidente. Não há nada que ele ou ela possa fazer, do alto dessa pirâmide de imundície. As estruturas estão podres, o Brasil está podre. Se amanhã importarmos uma freira finlandesa para assumir a Presidência, à tarde ela será estuprada e em dois dias estará se prostituindo. Com gosto.
A única coisa líquida e certa é que Temer não tem mais a menor chance de continuar no cargo.
Vaza, Temer.
Cora Rónai
Sujeira tem dono
A comunidade política conduz, comanda, supervisiona os negócios, como negócios privados seus na origem, como negócios públicos depois, em linhas que se demarcam gradualmente. O súdito, a sociedade, se compreendem no âmbito de um aparelhamento a explorar, a manipular, a tosquiar nos casos extremosRaymundo Faoro
O que fazer agora?
Assisto o programa comandado por Gerson Camaroti na Globonews entrevistando Ayres Brito, ex-STF, um brasileiro de boa fé e que indubitavelmente gosta do Brasil (coisa rara hoje em dia), e mais alguém.
E o programa acaba como todos acabam hoje: “Financiamento de campanhas só pelo estado é o remédio”.
Se a única alternativa aos 2ésleys e odebrechts é o estado é melhor desembarcar logo desse mundo. Porque a única coisa pior que essa corja é a corja do estado que criou esses dois.
Isso não é a saída, é o fim do beco; é o emparedamento da saída!
A única resposta que funciona para esse dilema é voto distrital puro que dispensa as quantidades de dinheiro de que só esses canalhas podem dispor única e exclusivamente porque atras deles esta o estado que agora querem deixar sozinho bancando as eleições. Faz sentido isso!
Se o candidato for o candidato do bairro, de um distrito eleitoral de um tamanho que faça sentido dentro da ideia de efetiva representação que, suponho, continua sendo tudo que visa a “democracia representativa“, ele só precisa de saliva e do dinheiro que seus próprios constituintes podem pagar para fazer campanha.
Esse remédio para montar legislativos e mais o referendo por iniciativa popular para bloquear todas as leis sacanas futuras e o recall para acabar com a impunidade dos representantes eleitos e você tem um país sob nova direção, com o direito à última palavra entregue a quem precisa de leis que prestem.
Isso inicia um processo virtuoso. Abre a possibilidade de irmos reformando o Brasil daí por diante, todo dia, pouco a pouco, defeito por defeito. Não tem outro jeito de fazer. Começar a conversa com listas enormes de reforminhas é o caminho mais seguro para não fazer nenhuma.
E o que fazer com o que está para trás?
Rever a constituição sob o critério inegociável da igualdade perante a lei, sem exceções. Isso basta para limpa-la de tudo que tem la que não presta.
Não tem de inventar nada! Ta tudo inventado ha 241 anos!
Tudo que nós temos de inventar é a condição para parar essa briga insana que nós não temos mais condições físicas nem materiais de levar adiante, dando a quem quiser aderir ao Brasil, nesta altura em que não sobra mais nenhum santo virgem em lugar nenhum nem do país oficial nem no país real, uma chance de se redimir.
Foco, senhoras e senhores! Três palavras para gritar e basta: IGUALDADE! REFERENDO! RECALL! Façam os seus cartazes e vão pra rua que sai. Tudo que a gente quis saiu. O problema agora é que ninguém sabe o que querer.
Ou é isso, ou vamos todos, engalfinhados, acabar exatamente onde querem nos levar os fascistas, arautos do ódio que babam fel e têm sede de sangue que o país inteiro viu atuando ontem dentro e fora do Congresso Nacional.
E o programa acaba como todos acabam hoje: “Financiamento de campanhas só pelo estado é o remédio”.
Se a única alternativa aos 2ésleys e odebrechts é o estado é melhor desembarcar logo desse mundo. Porque a única coisa pior que essa corja é a corja do estado que criou esses dois.
Isso não é a saída, é o fim do beco; é o emparedamento da saída!
Se o candidato for o candidato do bairro, de um distrito eleitoral de um tamanho que faça sentido dentro da ideia de efetiva representação que, suponho, continua sendo tudo que visa a “democracia representativa“, ele só precisa de saliva e do dinheiro que seus próprios constituintes podem pagar para fazer campanha.
Esse remédio para montar legislativos e mais o referendo por iniciativa popular para bloquear todas as leis sacanas futuras e o recall para acabar com a impunidade dos representantes eleitos e você tem um país sob nova direção, com o direito à última palavra entregue a quem precisa de leis que prestem.
Isso inicia um processo virtuoso. Abre a possibilidade de irmos reformando o Brasil daí por diante, todo dia, pouco a pouco, defeito por defeito. Não tem outro jeito de fazer. Começar a conversa com listas enormes de reforminhas é o caminho mais seguro para não fazer nenhuma.
E o que fazer com o que está para trás?
Rever a constituição sob o critério inegociável da igualdade perante a lei, sem exceções. Isso basta para limpa-la de tudo que tem la que não presta.
Não tem de inventar nada! Ta tudo inventado ha 241 anos!
Tudo que nós temos de inventar é a condição para parar essa briga insana que nós não temos mais condições físicas nem materiais de levar adiante, dando a quem quiser aderir ao Brasil, nesta altura em que não sobra mais nenhum santo virgem em lugar nenhum nem do país oficial nem no país real, uma chance de se redimir.
Foco, senhoras e senhores! Três palavras para gritar e basta: IGUALDADE! REFERENDO! RECALL! Façam os seus cartazes e vão pra rua que sai. Tudo que a gente quis saiu. O problema agora é que ninguém sabe o que querer.
Ou é isso, ou vamos todos, engalfinhados, acabar exatamente onde querem nos levar os fascistas, arautos do ódio que babam fel e têm sede de sangue que o país inteiro viu atuando ontem dentro e fora do Congresso Nacional.
Sepultar os mortos, cuidar dos vivos
A devastação do ambiente político nacional já foi comparada a tempestades, furações, incêndios e terremotos. Simbolicamente, o mais provável é que seja mesmo a soma disso tudo e muito mais; a dinâmica política, econômica e moral tem sido ruinosa; trata-se de um processo destrutivo nunca antes visto neste país e, talvez, no mundo. A tragédia contribui para o desemprego e o agravamento das condições sociais; a desolação é grande. Em muito, o ambiente geral faz lembrar o terremoto de Lisboa, ocorrido em 1755.
Era 1º de Novembro, dia de todos os santos, véspera de finados; a nobreza se retirara para o campo, de modo a aproveitar o feriado. Já a gente simples lotava as igrejas; acendia velas, pedia a Deus pelas almas. Às 9h40 da manhã, o tremor de terra que abalou a cidade pode ter chegado a 8 ou 9 pontos, numa escala moderna; foi descomunal. Logo veio o tsunami, com ondas de mais de 6 metros de altura, colocando a cidade baixa sob águas.
Na parte alta, o incêndio resultante da cera de milhares de velas, que escorria, pôs a arder as ruas e os corpos. A cidade foi destruída. Naturalmente, ocorreram saques de cadáveres, casas e igrejas; as autoridades determinaram que capturados, os saqueadores deveriam ser enforcados e expostos como exemplo. Possível imaginar o cenário: mortes por soterramento, mortes por afogamento, mortes pelo fogo, mortes por enforcamento: todos ali expostos, num quadro de terror.
De volta à Capital, El Rei, Dom José, reunido ao governo, perguntava: o que fazer? “Sepultar os mortos, cuidar dos vivos”. Há divergência quanto a autoria da frase — alguns atribuem a D. Pedro de Almeida, Marques de Alorna, outros a Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal —, o fato é que o conselho ecoou pelo reino. Primeiro-ministro, Pombal reuniu um seleto grupo de arquitetos, planejou-se o novo; para derrubar de vez o velho, nomeou oficial com autonomia para definir o que ia ao chão, o “Bota Abaixo”.
A metáfora serve para a cena política nacional: o primeiro tremor foi o mensalão, depois a turbulência das primeiras ondas de 2013; a operação Lava Jato incendiou a parte alta da sociedade. Crise econômica, a teimosia de Dilma; Eduardo Cunha, o impeachment, Tchau Querida; Lula, Aécio, Michel Temer e seu governo controverso; Joesley Batista e mais outro tsunami — o que faltava? O farisaísmo dos políticos, o moralismo torto nas redes; a intolerância, a impossibilidade do diálogo.
Quatorze milhões de desempregados, a expectativa frustrada do crescimento. O medo de retrocessos institucionais, políticos, democráticos; a desolação; a limitada perspectiva de futuro. O sistema político ruiu. Ninguém sabe por quanto tempo, nesse ambiente, o atual governo se sustentará. O que fazer?
O “Bota Abaixo” caberá ao Supremo Tribunal Federal. Mesmo com todos seus problemas, é a última cidadela do estado de direito. Por sua vez, os arquitetos da renovação estão incógnitos, ainda: o país precisa encontra-los, dar novos contornos ao sistema político. Na eventual queda de Michel Temer, uma coalizão capaz de construir pontes, restabelecer diálogos, desenhar um novo pacto já para 2018, parece fundamental. Assim como Lisboa, o Brasil continuará existindo.
Seguindo a norma simples, como Pombal, o país deve sepultar os mortos deste processo; são vários, à suas almas cabe o despacho deste vale de lágrimas; que os corpos sejam recolhidos, com justiça. Evitar Walking Deads. No mais, cuidar dos vivos, evitando o oportunismo dos muito vivos.
Carlos Melo
Era 1º de Novembro, dia de todos os santos, véspera de finados; a nobreza se retirara para o campo, de modo a aproveitar o feriado. Já a gente simples lotava as igrejas; acendia velas, pedia a Deus pelas almas. Às 9h40 da manhã, o tremor de terra que abalou a cidade pode ter chegado a 8 ou 9 pontos, numa escala moderna; foi descomunal. Logo veio o tsunami, com ondas de mais de 6 metros de altura, colocando a cidade baixa sob águas.
De volta à Capital, El Rei, Dom José, reunido ao governo, perguntava: o que fazer? “Sepultar os mortos, cuidar dos vivos”. Há divergência quanto a autoria da frase — alguns atribuem a D. Pedro de Almeida, Marques de Alorna, outros a Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal —, o fato é que o conselho ecoou pelo reino. Primeiro-ministro, Pombal reuniu um seleto grupo de arquitetos, planejou-se o novo; para derrubar de vez o velho, nomeou oficial com autonomia para definir o que ia ao chão, o “Bota Abaixo”.
A metáfora serve para a cena política nacional: o primeiro tremor foi o mensalão, depois a turbulência das primeiras ondas de 2013; a operação Lava Jato incendiou a parte alta da sociedade. Crise econômica, a teimosia de Dilma; Eduardo Cunha, o impeachment, Tchau Querida; Lula, Aécio, Michel Temer e seu governo controverso; Joesley Batista e mais outro tsunami — o que faltava? O farisaísmo dos políticos, o moralismo torto nas redes; a intolerância, a impossibilidade do diálogo.
Quatorze milhões de desempregados, a expectativa frustrada do crescimento. O medo de retrocessos institucionais, políticos, democráticos; a desolação; a limitada perspectiva de futuro. O sistema político ruiu. Ninguém sabe por quanto tempo, nesse ambiente, o atual governo se sustentará. O que fazer?
O “Bota Abaixo” caberá ao Supremo Tribunal Federal. Mesmo com todos seus problemas, é a última cidadela do estado de direito. Por sua vez, os arquitetos da renovação estão incógnitos, ainda: o país precisa encontra-los, dar novos contornos ao sistema político. Na eventual queda de Michel Temer, uma coalizão capaz de construir pontes, restabelecer diálogos, desenhar um novo pacto já para 2018, parece fundamental. Assim como Lisboa, o Brasil continuará existindo.
Seguindo a norma simples, como Pombal, o país deve sepultar os mortos deste processo; são vários, à suas almas cabe o despacho deste vale de lágrimas; que os corpos sejam recolhidos, com justiça. Evitar Walking Deads. No mais, cuidar dos vivos, evitando o oportunismo dos muito vivos.
Carlos Melo
Dificuldade de governar
Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.
2.
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.
3.
Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.
4.
Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?
Bertolt Brecht
Lula e Cia deveriam segurar os seus radicais
Lula e as forças políticas, sindicais e sociais que gravitam ao seu redor dançam algo muito parecido com a coreografia da insensatez. Nesta quarta-feira um elenco de arruaceiros marchou sobre a Esplanada à procura de encrenca. Exigiam a queda de um presidente que já está no chão. E guerreavam contra reformas que flertam com o arquivo. Perderam o nexo. Para não perder também a viagem, brigaram com a polícia e destruíram o patrimônio público.
Foi como se os devotos de Lula enxergassem a Esplanada dos Ministérios como uma loja de louças hipertrofiada. Marcharam em direção ao Congresso Nacional como uma manada de elefantes. A isto foram reduzidos os apologistas de Lula: elefantes itinerantes. Ora estão em Curitiba, ora na Avenida Paulista, ora em Brasília. Falta-lhes, porém, um rajá, isto é, um líder que os monte, apontando-lhes a direção e contendo-lhes os modos. Lula ainda não se deu conta, mas a hora é de moderação.
A Lava Jato tranformou a briga entre o petismo e seus rivais numa gincana de sujos contra mal lavados. Lula roça as grades de Curitiba. Aécio Neves assiste ao funeral de sua carreira política em rede nacional. Temer virou caso para estudo: o primeiro político da história a se tornar ex-presidente ainda na Presidência. Num ambiente assim, quebra-quebra disfarçado de protesto, além de ser um crime, é um erro.
Lula faria um favor a si mesmo e ao país se segurasse seus radicais. Permitir que militantes dancem desgovernados é o mesmo que cutucar a sociedade com o pé para ver se ele morde. O brasileiro já parou de abanar o rabo para os políticos faz tempo. Não demora e começa a morder.
Foi como se os devotos de Lula enxergassem a Esplanada dos Ministérios como uma loja de louças hipertrofiada. Marcharam em direção ao Congresso Nacional como uma manada de elefantes. A isto foram reduzidos os apologistas de Lula: elefantes itinerantes. Ora estão em Curitiba, ora na Avenida Paulista, ora em Brasília. Falta-lhes, porém, um rajá, isto é, um líder que os monte, apontando-lhes a direção e contendo-lhes os modos. Lula ainda não se deu conta, mas a hora é de moderação.
Lula faria um favor a si mesmo e ao país se segurasse seus radicais. Permitir que militantes dancem desgovernados é o mesmo que cutucar a sociedade com o pé para ver se ele morde. O brasileiro já parou de abanar o rabo para os políticos faz tempo. Não demora e começa a morder.
Não será agora que me entregarei ao desânimo e à desesperança
Em meu caso, porém, leitor, e disse isso a meu neto, apesar das muitas décadas de luta e sofrimento, ou, talvez, por causa delas, não perco nem perderei a esperança no país (e o mesmo, tenho certeza, também acontecerá com ele). O Brasil não se consumirá nem nesta, nem em qualquer outra crise que, sem dúvida, ocorrerá no futuro. Só que, depois da atual, outro país haverá de nascer, se assim o quisermos todos, sobretudo os jovens como o Bruno. A sorte está, pois, em nossas mãos, mas não podemos perdê-la optando por outro caminho que não esteja na Constituição de 1988. É a ela que devemos respeito.
As causas ou motivos que desencadearam verdadeira tempestade sobre o país, e que o expuseram interna e externamente, principalmente depois das providências tomadas pela Procuradoria Geral da República e pelo ministro Edson Fachin, ficarão um dia muito claras, e a história haverá de dizer se, por detrás de tudo, houve ou não, politicamente, segundas intenções. Hoje, pelo menos por enquanto, está tudo muito nebuloso. Liberar um criminoso confesso e deixá-lo livre, leve e rico nos Estados Unidos talvez não tenha sido a melhor das decisões.
Nenhum país, leitor, conseguiria chegar ao estágio de decadência moral a que chegou o nosso da noite para o dia. Isso vem de longe. De muitos e muitos anos. De séculos, talvez. A prática criminosa para se ganharem eleições, mesmo nesses últimos 32 anos de redemocratização, atingiu sua culminância. E ficou provado que os métodos escusos nunca foram privativos de um só partido, embora se possa dizer que, de 2002 até 2015, foram transformados em política de Estado pelo partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – um partido cuja proposta era a de implantar, no país, o império da ética.
Aos trancos e barrancos, o presidente Temer conduzia o país com os olhos nas eleições de 2018. Depois dessa hecatombe que lhe caiu sobre os ombros, restam-lhe, talvez, os versos do poeta: “E agora, José?/ A festa acabou,/ a luz apagou,/ o povo sumiu,/ a noite esfriou,/ e agora, José?”. Agora, é o país que está em jogo, presidente.
Escrevo estas linhas (um suplício!) dois dias antes de serem publicadas. Tudo pode mudar em 24 horas. Mas, se o presidente renunciar (a menos traumática das soluções), a Constituição estabelece, em seu artigo 81, parágrafo 1º, que, “ocorrendo vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita pelo Congresso Nacional, na forma da lei, 30 dias depois da última vaga”. Nada, pois, de eleições diretas. Isso é casuísmo!
Caberá ao Congresso Nacional a responsabilidade de conduzir o país até 2018, quando, então, novas eleições acontecerão. O argumento de que não tem legitimidade porque parte dele está envolvida na operação Lava Jato não procede. Serve como desculpa aos que querem travar o processo de consolidação de nosso regime democrático.
Mas, e se o presidente Temer continuar?
Rezemos, então, leitor...
Tempos estranhos
Imaginem, daqui a alguns anos, meu neto descobrindo que o presidente da República foi grampeado pelo empresário Joesley Batista, da JBS, um megabilionário, usando um gravador “roscofe”, comprado na 25 de Março!
Que ele foi treinado pela Polícia Federal e que, mesmo assim, a gravação é amadora, cheia de defeitos. E que, no limite, o presidente foi submetido a uma espécie de teste de fidelidade do João Kleber para, eventualmente, confessar que teria praticado algum crime. Tudo com a permissão do Supremo Tribunal Federal. Como explicar isso?
Outra peça desse enredo é a oferta de uma propina de R$ 450 milhões paga em 20 anos em suaves prestações semanais!
Será factível oferecer propina de tamanho valor em um momento em que até uma gorjeta mais gorda pode ser considerada corrupção? E, pasmem, pode alguém acreditar que isso seja verdade?!
Causa grande estranhamento um ex-procurador sair da PGR para, semanas depois, estar conduzindo um acordo de delação premiada, o maior e mais escandaloso da história do instituto desde que foi criado. Será que não cabia quarentena?
O pior de tudo é que o STF e a Procuradoria-Geral da República aceitaram como prova firme uma gravação amadora, com equipamento de segunda, que pode ter sido editada várias vezes, e sem a devida perícia prévia. É uma grave irresponsabilidade. Em especial, quando se trata do presidente da República. Aliás, responsabilidade é o que mais falta aos atores envolvidos no episódio.
A regularidade dos vazamento de investigações e informações críticas - que podem comprometer os processo - é outro ponto de reflexão. Existe um claro despreparo no trato de questões sensíveis e uma ausência de responsabilidade de funcionários públicos que alimentam à mediatização do processo com os vazamentos. Alías, jamais alguém foi punido por vazamento. Não há, sinceramente, nenhuma vontade para investigar tais ocorrências.
Não sou adepto de teorias da conspiração. Tampouco tiro o peso das suspeitas que fundamentam o inquérito de investigação do episódio no STF. O presidente errou ao conversar com Joesley Batista e, em especial, ao ter ouvido fatos graves sem reagir.
As afirmações de Aécio Neves de que a escolha do presidente da Vale tinha sido dele é desmoralizados para a empresa quando todos chegaram a acreditar que houve um processo de seleção profissional.
As intimidades reveladas nos grampos entre executivos e políticos também são chocantes e apontam para o fundo do poço da política nacional. Sobretudo, uma relação indevida entre o público e o privado no que tange à defesa de interesses de forma pouco republicana.
Não há como justificar os favores pedidos ou as afirmações ditas sem a plena e imediata repulsa. Revelam que os comportamentos pré-Lava Jato são difíceis de serem modificados.
Todos os ingredientes desse enredo remetem a eventos malucos da nossa história política. Como, por exemplo, o Plano Cohen, divulgado em 1937, sobre uma suposta conspiração comunista contra Getúlio Vargas. Era uma farsa construída a partir de fatos concretos. Ou as suspeitas de que o geólogo americano Walter K. Link, que apontou dificuldades para exploração de petróleo na Amazônia, era um agente secreto querendo impedir o Brasil de desenvolver sua indústria petrolífera.
No entanto, para tristeza do país, o caso da gravação de Joesley Batista não é uma farsa. Em sua delação, ele dizia que comprava deputados e dava nome aos bois. Passava a impressão de que estava no campo a serviço de seu matadouro. Ao presidente, Joesley afirmou que tinha dois juízes e um promotor na mão. Um absurdo completo. A questão da mala com R$ 500 mil, que, meses depois, é devolvida para a Polícia Federal, é outro absurdo comprovado.
São revelações muito sérias, que devem ser exaustivamente apuradas. Porém, transitam perigosa e irresponsavelmente no campo da para-realidade, onde verdades, mentiras, factoides, manipulação e fantasia convivem, para a desgraça do povo. A verdade deve ser encontrada. Para o bem do país. O mais rapidamente possível. Para que possamos nos permitir a um novo recomeço.
Laranja podre
Nós temos um sistema político apodrecido. Se não tratarmos a causa desse problema, nós continuaremos com esse problema. Vão mudar as lideranças, vão mudar os rostos, mas o problema vai continuar existindo
Procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol
Congresso abre portas para ampliar desmatamento na Amazônia
O texto ainda terá que passar por sanção do presidente Michel Temer. A área ambiental do Governo já sinalizou que pedirá para que o presidente vete a medida que, pelas previsões do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente, pode causar a degradação de 320.000 hectares de floresta, ou pouco mais do que duas vezes o tamanho da capital paulista.
O projeto havia sido aprovado na terça passada na Câmara. Ele era uma versão modificada de uma Medida Provisória enviada ao Congresso pelo Governo federal. A medida original pretendia reduzir uma área de 304.000 hectares de Floresta Nacional (Flona), onde a ocupação privada é proibida, para APA, onde ela é permitida obedecendo regras ambientais. Segundo o diretor de criação e manejo de unidades de conservação do ICMBio, Paulo Carneiro, o objetivo era tentar solucionar um conflito fundiário existente na área, permitindo a regularização de propriedades que já estão dentro da floresta. Algumas delas já estavam no local antes da criação da Flona, há 11 anos. A retirada desses ocupantes exigia medidas judiciais. Regularizando estas áreas, seria possível fazer exigências ambientais aos proprietários, afirma Carneiro.
Para compensar o rebaixamento, o Governo propunha ainda que 437.000 hectares dos 1,3 milhão da floresta nacional fossem incorporados ao Parque Nacional do Rio Novo, uma área de proteção integral, ou seja, de conservação ainda mais rígida que as Florestas Nacionais. "Era uma medida compensatória, lastreada no Plano de Manejo da unidade e que abrangia a área mais relevante para a biodiversidade", explica o diretor do ICMbio.
A proposta, entretanto, sofreu mudanças no Congresso, durante uma comissão mista (da Câmara e do Senado), criada para analisar a Medida Provisória do Governo. A Câmara acabou aprovando o relatório do deputado federal José Priante (PMDB/PA). O texto desconsiderou a possibilidade de transformar parte da área em parque e aumentou em 176.000 hectares a área destinada à APA. Em seu Facebook, o deputado postou um vídeo em que comemorou a aprovação. "Dizia aos colegas, hoje [terça passada] estamos discutindo e votando a vida dos brasileiros que moram em Novo Progresso, um município onde as pessoas foram chamadas para habitar e lá produzem (...) Nós nada mais fizemos do que regular uma relação entre o homem que habita e produz nesta região com a preservação ambiental", afirmou ele.
A área destinada à APA pelo Congresso, entretanto, corresponde a uma quantidade maior do que a necessária para regularizar as propriedades já existentes lá, segundo cálculos do ICMbio. Existem no local, segundo Carneiro, 250 fazendas, a maioria latifúndios onde é feita a criação de gado. Também há uma forte presença de retirada seletiva de árvores nobres no local. "O Congresso exagerou a área da APA e, com isso, pode abrir uma nova frente de ocupação, já que na APA há a possibilidade de se regularizar a propriedade, o que não existia antes com a Flona", explica ele. Segundo ele, 320.000 hectares dentre o total rebaixado ainda são de floresta não ocupada.
A região onde está localizada a Jamanxim concentra as 12 unidades de conservação federal com maior quantidade de desmatamento ilegal. Segundo o ICMbio, 67% de toda a destruição em áreas preservadas federais do país ocorrem nestas unidades. O desmatamento na Amazônia cresceu 30% em 2016, últimos dados disponibilizados pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Pará, Rondônia e Mato Grosso são os Estados que mais desmataram naquele ano.
O presidente descartável
Quando Dilma Rousseff estava afastada da Presidência, a caminho da guilhotina, a senadora Rose de Freitas, líder do governo de Michel Temer, disse o seguinte: “Na minha tese não teve esse negócio de pedalada, nada disso.” Ela deveria ir embora pelo conjunto da obra e pela inércia do governo.
Temer associou sua impopularidade a um conciliábulo, e contra ele pesa o conjunto do áudio da conversa com Joesley Batista. O presidente procura se defender com argumentos parecidos com os de Dilma, contestando aspectos das denúncias. Injetaram nele o veneno que ajudou a injetar em Dilma. Ela deveria ser deposta. Ele pode ser dispensado, desde que “os homens de terno cinza”, para usar uma expressão da princesa Diana, tenham juízo ao escolher seu sucessor. Pelo cheiro da brilhantina, simpatia pela Lava-Jato não é virtude, e conexões diretas e públicas com seus réus não é defeito.
Há uma semana, quando a crise começou, podia-se acreditar que, numa “operação controlada” da Polícia Federal, conversas haviam sido gravadas e malas rastreadas por meio de chips. (Havia um toque tabajara nesse mundo high tech. Os grampos não faziam parte da “operação controlada”, o gravador usado por Batista era xumbreca, não havia chip na mala que carregou R$ 500 mil, e ela sumiu por uns dias.)
Numa conversa com Joesley Batista, depois que o empresário contou-lhe que subsidiava Eduardo Cunha, Temer teria dito que “tem que manter isso, viu?” Divulgada uma transcrição do áudio, viu-se que não havia sequencia entre a narrativa do subsídio e as cinco palavras fatídicas. Antes delas, Batista dissera que “estou de bem com o Eduardo”. Contudo, a transcrição informava que logo depois de Temer ter dito que “tem que manter isso, viu?”, Batista disse algo inaudível, seguido de “todo mês”. A ideia da mesada ainda fazia sentido. Na terça-feira, o perito Ricardo Molina, contratado por Temer, contestou a transcrição. Onde o Ministério Público ouviu “todo mês”, ele ouviu “tô no meio”.
“Todo mês”, ou “tô no meio”? Essa e outras dúvidas derivaram do voluntarismo da Procuradoria-Geral da República, inebriada pela espetacularização de suas iniciativas. A pressa para divulgar o teor das colaborações da Odebrecht fez com que os vídeos oficiais fossem liberados antes das transcrições. Com o grampo de Batista, foi-se além. Aceleraram-se as negociações, adocicou-se o acordo, apressou-se a homologação e divulgou-se a transcrição de um áudio sem que houvesse a competente perícia. A migração da Lava-Jato para o mundo dos vídeos acabará transformando as salas dos tribunais em estúdios de televisão.
Há uma falta de sintonia entre Brasília, onde se negociam acordos, anistias e solturas, e a essência moralizadora da Lava-Jato. A oligarquia brasileira está ferida, mas luta bravamente. A operação tabajara do áudio de Batista poderá derrubar Temer, mas terá ferido a Procuradoria-Geral.
Vale transcrever o que disse o advogado José Roberto Batochio, defensor de Lula, diante da decisão da Segunda Turma do STF que soltou José Dirceu: “O Supremo fez chegar ao Brasil o 9 de Termidor da Revolução Francesa”.
No dia 27 de julho de 1794 (o 9 de Termidor, pelo calendário da Revolução), foi preso Maximilien Robespierre, conhecido como o “Incorruptível”. Tomou (ou deu-se) um tiro na boca e na manhã seguinte foi guilhotinado.
Batochio exagerou, mas os “homens de terno cinza” sonham com um Termidor.
Elio Gaspari
Temer associou sua impopularidade a um conciliábulo, e contra ele pesa o conjunto do áudio da conversa com Joesley Batista. O presidente procura se defender com argumentos parecidos com os de Dilma, contestando aspectos das denúncias. Injetaram nele o veneno que ajudou a injetar em Dilma. Ela deveria ser deposta. Ele pode ser dispensado, desde que “os homens de terno cinza”, para usar uma expressão da princesa Diana, tenham juízo ao escolher seu sucessor. Pelo cheiro da brilhantina, simpatia pela Lava-Jato não é virtude, e conexões diretas e públicas com seus réus não é defeito.
Há uma semana, quando a crise começou, podia-se acreditar que, numa “operação controlada” da Polícia Federal, conversas haviam sido gravadas e malas rastreadas por meio de chips. (Havia um toque tabajara nesse mundo high tech. Os grampos não faziam parte da “operação controlada”, o gravador usado por Batista era xumbreca, não havia chip na mala que carregou R$ 500 mil, e ela sumiu por uns dias.)
Numa conversa com Joesley Batista, depois que o empresário contou-lhe que subsidiava Eduardo Cunha, Temer teria dito que “tem que manter isso, viu?” Divulgada uma transcrição do áudio, viu-se que não havia sequencia entre a narrativa do subsídio e as cinco palavras fatídicas. Antes delas, Batista dissera que “estou de bem com o Eduardo”. Contudo, a transcrição informava que logo depois de Temer ter dito que “tem que manter isso, viu?”, Batista disse algo inaudível, seguido de “todo mês”. A ideia da mesada ainda fazia sentido. Na terça-feira, o perito Ricardo Molina, contratado por Temer, contestou a transcrição. Onde o Ministério Público ouviu “todo mês”, ele ouviu “tô no meio”.
“Todo mês”, ou “tô no meio”? Essa e outras dúvidas derivaram do voluntarismo da Procuradoria-Geral da República, inebriada pela espetacularização de suas iniciativas. A pressa para divulgar o teor das colaborações da Odebrecht fez com que os vídeos oficiais fossem liberados antes das transcrições. Com o grampo de Batista, foi-se além. Aceleraram-se as negociações, adocicou-se o acordo, apressou-se a homologação e divulgou-se a transcrição de um áudio sem que houvesse a competente perícia. A migração da Lava-Jato para o mundo dos vídeos acabará transformando as salas dos tribunais em estúdios de televisão.
Há uma falta de sintonia entre Brasília, onde se negociam acordos, anistias e solturas, e a essência moralizadora da Lava-Jato. A oligarquia brasileira está ferida, mas luta bravamente. A operação tabajara do áudio de Batista poderá derrubar Temer, mas terá ferido a Procuradoria-Geral.
Vale transcrever o que disse o advogado José Roberto Batochio, defensor de Lula, diante da decisão da Segunda Turma do STF que soltou José Dirceu: “O Supremo fez chegar ao Brasil o 9 de Termidor da Revolução Francesa”.
No dia 27 de julho de 1794 (o 9 de Termidor, pelo calendário da Revolução), foi preso Maximilien Robespierre, conhecido como o “Incorruptível”. Tomou (ou deu-se) um tiro na boca e na manhã seguinte foi guilhotinado.
Batochio exagerou, mas os “homens de terno cinza” sonham com um Termidor.
Elio Gaspari
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