A opinião dos negociantes de dinheiro fica registrada do modo mais objetivo nas taxas de juros que cobram para fazer empréstimos ao governo, por exemplo. As taxas para empréstimos mais longos têm subido. Mais precisamente, tem ficado maior a diferença entre as taxas de cinco anos ou mais e a taxa de um ano, que foi para perto do chão por decisão, na prática, do Banco Central (que assim o fez por não ver risco imediato de inflação).
E daí? Taxas de juros mais altas desestimulam investimentos das empresas em expansão de negócios. Outras medidas da opinião dos negociantes de dinheiro, como dólar anormalmente alto no Brasil e Bolsa travada ou caindo, também contribuem para o que os economistas chamam de “aperto das condições financeiras”. Se a coisa continuar assim malparada, haverá problemas adicionais para alguma recuperação econômica daqui em diante.
A explicação dos motivos da opinião dos negociantes de dinheiro, “o mercado”, é sujeita a mais controvérsia. O que os povos dos mercados têm dito é que as taxas longas subiram porque há menos confiança de que o governo Bolsonaro vá cumprir o contrato fiscal: manter o teto de gastos, fazer um programa de redução de despesas e, se der, outras “reformas”.
A desconfiança teria aumentado porque o governo daria sinais de que pode estourar as contas a fim de criar um Bolsa Família Verde Amarelo e investir mais em obras. Ou porque terá dificuldade de manter o teto sem tirar dinheiro dos servidores públicos, arrocho que Bolsonaro não quer fazer. Em resumo, não se sabe o que será do Orçamento nem em 2021.
Como, além do mais, o déficit cresceu brutalmente neste ano, os técnicos do Tesouro, gente capaz, tentam fazer mágicas e milagres a fim de evitar que o governo pague mais caro para se financiar. Mesmo assim, para resumir uma história comprida e enrolada, o resultado é que o governo tem tomado empréstimos de prazo cada vez mais curto, o que é um risco, na maior parte por meio do Banco Central, na prática.
Em resumo, cobra-se ora mais caro do governo porque Bolsonaro não inspira confiança aos donos do dinheiro. Logo, alguém poderia dizer que a culpa não é de Guedes, mas do seu chefe, o que não melhoraria muito a situação do ministro. No entanto, o próprio Guedes é ator coadjuvante dessa desordem —“desordem” na opinião de “o mercado”, dos colegas dele. Nem está se discutindo se os motivos de “o mercado” são bons ou não. O fato é que a situação azedou.
A curto prazo e sem desastre maior pelo mundo, a coisa é administrável, do ponto de vista mercadista. A situação financeira muda se não aparecer um Bolsa Família gordo bancado por um fura-teto e se passar alguma lei que tire dinheiro dos servidores; muda ainda mais se for congelado o valor de benefícios sociais e do gasto em saúde e educação.
Como tanto se tem escrito nestas colunas, a pandemia e, em particular, o auxílio emergencial colocaram a discussão político-econômica em outro patamar, talvez em outro universo. Perto da gravidade do que se está por decidir (ou não), a inflação do arroz ou do tijolo é fichinha.
Como, além do mais, o déficit cresceu brutalmente neste ano, os técnicos do Tesouro, gente capaz, tentam fazer mágicas e milagres a fim de evitar que o governo pague mais caro para se financiar. Mesmo assim, para resumir uma história comprida e enrolada, o resultado é que o governo tem tomado empréstimos de prazo cada vez mais curto, o que é um risco, na maior parte por meio do Banco Central, na prática.
Em resumo, cobra-se ora mais caro do governo porque Bolsonaro não inspira confiança aos donos do dinheiro. Logo, alguém poderia dizer que a culpa não é de Guedes, mas do seu chefe, o que não melhoraria muito a situação do ministro. No entanto, o próprio Guedes é ator coadjuvante dessa desordem —“desordem” na opinião de “o mercado”, dos colegas dele. Nem está se discutindo se os motivos de “o mercado” são bons ou não. O fato é que a situação azedou.
A curto prazo e sem desastre maior pelo mundo, a coisa é administrável, do ponto de vista mercadista. A situação financeira muda se não aparecer um Bolsa Família gordo bancado por um fura-teto e se passar alguma lei que tire dinheiro dos servidores; muda ainda mais se for congelado o valor de benefícios sociais e do gasto em saúde e educação.
Como tanto se tem escrito nestas colunas, a pandemia e, em particular, o auxílio emergencial colocaram a discussão político-econômica em outro patamar, talvez em outro universo. Perto da gravidade do que se está por decidir (ou não), a inflação do arroz ou do tijolo é fichinha.