sábado, 28 de fevereiro de 2015

O vestido de Dilma

Dilma vestido que muda de cor levy diz nao adianta presidenta nao muda nada a situcao preta

O mal das `zelites`



Falou-me recentemente outro amigo diante das invectivas de Lula, por razões erradas, às “zelite” brasileiras : 

“Que mal existe, Percival, na existência de uma elite? Que mal há na atividade dessa elite a que o Lula dedica palavras tão ásperas? Esse mesmo senhor quer ver seu Corinthians na elite do futebol brasileiro. Doente, procura a elite médica do país. Com o prestígio em declínio, procura a elite dos publicitários”. Aduzi eu: e para negócios, procura a elite dos vigaristas nacionais.

Leia mais o artigo de Percival Puggina

O governo na defesa dos gatos gordos

A retórica do Planalto, do ministro da Justiça e da AGU embute uma ajuda às empreiteiras, driblando o MP
Quando o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, trata das malfeitorias das empreiteiras e diz que “é preciso separar as pessoas das empresas”, pressupõe que milhões de dólares rolavam porque “pessoas” delinquiam. Ele acrescenta: “Temos que ter cuidado para não atentar contra a economia, contra o emprego e contra o bem-estar da sociedade.”

É a Doutrina Engevix. Em novembro, quando a Lava-Jato começou a cercar as empreiteiras, um de seus maganos anotou: “Janot e Teori sabem que não podem tomar a decisão. Pode parar o país.” Ou seja, o procurador-geral Rodrigo Janot e o ministro Teori Zavascki travariam o processo. Não travaram. Essa doutrina ecoa a tolerância com o tráfico de escravos no século XIX. A lei o proibia, mas, se fosse cumprida, as fazendas de café quebrariam. Com uma diferença: Dom Pedro II não recebia doações de negreiros.



Como o pulo do sapo de Guimarães Rosa, a balbúrdia de leis e siglas brasileira não é produto da boniteza, mas da precisão. Elas tecem uma rede de atalhos úteis para o andar de cima, inacessíveis ao andar de baixo


Trazendo a Doutrina Engevix para a vida real, o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, defendeu a tese segundo a qual as empreiteiras podem negociar acordos de leniência com a Controladoria-Geral da União, um órgão do aparelho do Executivo. Sua argumentação parte da constatação de que há no Brasil uma “especifidade”, a “sobreposição” de órgãos e leis. De fato, para caçar larápios, há uma sopa de letras (CGU, TCU, CVM, Cade, MP) e de números de leis (2.864, 8.429, 8.433). Deu no que deu.

Na sua exposição, Adams ofendeu os fatos. Disse o seguinte: “No caso americano, quem faz os acordos é a SEC, que é o nosso correspondente à Comissão de Valores Imobiliários.” Nem pensar. Os acordos que a SEC faz, como os da CVM, são pontuais, quando não há processo penal. O ex-diretor financeiro da Petrobras fechou sete acordos com a CVM, no valor de R$ 1,75 milhão, desembolsados pela seguradora da empresa. Num deles estava o “amigo Paulinho”. Deu no que deu.

Leia mais o artigo de Elio Gaspari

O trajeto da lista de bandidos

Maragogipe: Chanchada do PT na terra de Zé Trindade

Estaleiro Paraguaçu, em Maragogipe encerra atividades neste sábado (Foto: Divulgação)
Estaleiro Paraguaçu, em Maragogipe encerra atividades neste sábado
Uma chanchada eleitoral com todos os ingredientes para terminar em clamoroso desastre social
Neste sábado, 28, fim de fevereiro para não esquecer, o Consórcio Estaleiros Paraguaçu(CEP) - formado pelas empreiteiras OAS, UTC e Odebrecht - confirma o triste desenlace de um engodo anunciado: o encerramento das atividades na obra monumental de engenharia naval em Mararagogipe, coração do Recôncavo Baiano. Prometia empregar 5 mil pessoas na fase de construção e mais 6 mil em seguida à inauguração, anunciada para o ano eleitoral de 2014.

O megaempreendimento de infraestrutura nacional, realizado na Bahia, foi vendido pelo governo federal, desde o lançamento da pedra fundamental em julho de 2012, como sonho dourado no Nordeste. Atravessou assim a campanha que reelegeu presidente da República a petista Dilma Rousseff. De quebra, fez de Rui Costa (empurrado pelo muque do então ocupante do Palácio de Ondina e atual ministro da Defesa, Jaques Wagner) governador do estado já no primeiro turno.

A miragem de R$ 2 bilhões prometida com pompa e circunstância, em badalação sem tamanho no lançamento da pedra fundamental, foi um festival de guisos e euforia. Presentes Dilma, Wagner, Rui, Graça Foster, Gabrielli e a nata do poder no governo petista. Todos ao lado de poderosos empresários nacionais e estrangeiros, acatados executivos de empresas (antes da Lava Jato), prefeitos, parlamentares e a gente humilde e trabalhadora do lugar.

Tudo, ou quase, desmorona agora em meio ao silêncio quase completo. De omissão ou cumplicidade.

Propagava-se o ressurgimento da indústria pesada Off-Shore na Bahia (plataformas e equipamentos para exploração, transporte e distribuição de petróleo). Tudo antes de explodir a Lava Jato, que arrola corruptos e corruptores no maior escândalo da história brasileira e tem como pano de fundo a Petrobras, empresa do coração de todos. Executivos das empresas brasileiras do Consórcio estão presos, há meses, na carceragem da PF em Curitiba. Dilma, então, disse em seu discurso sobre a construção do estaleiro, "ser esse o jeito - diferentemente dos europeus - do governo brasileiro enfrentar a crise econômica: criando mais emprego e promovendo desenvolvimento". Uma peça histórica de retórica e enganação, que está na Internet e merece consulta.

Leia mais artigo de Vitor Hugo Soares

Estado petista garante teúdas e manteúdas

A mulher de R$ 2,7 milhões do BB
O Brasil já foi de um conservadorismo provinciano. Os casos de teúdas e manteúdas ficavam lá pelos sertões, garantidas pelos coronéis com os ganhos de suas expensas dos latifúndios. Gasto pequeno. Não davam escândalo. Eram prato para fofoqueiras, únicas realmente atingidas pela falta de vergonha. Como dizia na época Ibrahim Sued, tudo se sabe em sociedade e, portanto, amante era um extra, fora do trabalho.

Quem diria que esse conservadorismo seria posto de vez na lata de lixo? Bastou o PT tomar o governo e até amante virou órgão do Estado, com direito a regalias, blindagem partidária e mesada com dinheiro público.

Rosemary Noronha, a toda poderosa secretária amiguinha de “Deus”, está incólume, envolvida em um processo que não dá um passo em sua condenação. É a mãozinha de “Deus”, salvando da punição a secretária que viajava como integrante do governo por todo o mundo e ainda “vendia” sua convivência diária com o soberano?

Agora o país convive com o caso de mais uma teúda e manteúda com dinheiro público. Val Marchiori (Valdirene Aparecida Marchiori, 40 anos) não só obteve empréstimo ilegal de R$ 2,7 milhões do Banco do Brasil, via BNDES, como ainda viajou com o “padrinho” Aldemir Bendine, então presidente do BB e atual presidente da Petrobras, em 2010, às custas do dinheiro público. Até em viagem oficial e mesmo hotel a socialite acompanhou o presidente.

Mais ainda Bendine até teria patrocinado programa de televisão para Val. Com dinheiro do Banco do Brasil? Não deveriam ser dele os R$ 350 mil, uma vez que tinha a chave dos cofres do banco por todo o país.

As “extras” estão pipocando com as revelações da cretinice com que os administradores públicos, indicados por partidos, cuidam do dinheiro do povo. E não se vê um movimento para acabar com a falta de vergonha, o desvio de dinheiro público para agradar as “senhoritas”.

Era 1961 o caso Profumo chocava toda gente, inclusive políticos com rabo preso aqui. Entre os britânicos a coisa ficou feia. A breve ligação sexual entre John Profumo, secretário da Guerra no governo conservador de Harold Macmillan, e Christine Keeler, uma futura modelo de 19 anos ocupou os jornais ingleses. Apesar das explicações no Parlamento, Profumo caiu e provocou a demissão do próprio primeiro-ministro, alegando problemas de saúde, em 1963. O escândalo ainda afetou o partido conservador nas eleições seguintes.

Isso aconteceu há 60 anos e derrubou um ministro inglês! Logicamente não derruba aqui nem sequer presidente de estatal no paraíso petista, nem a secretária poderosa. Neste Éden, abençoado por “Deus”, que se descobre enfim que é brasileiro e tem até carteira de identidade, tudo é muito melhor. Na administração pública, amante dos coronéis petistas ganhou status de coisa pública, mantida às custas do trabalho do contribuinte.

Da série 'Carga Pesada'

CAMINHONEIRO

Versos e reversos

Quem resiste à realidade passa a vida berrando sem poder mudá-la ou influenciá-la
Corre um boato aqui onde eu moro que nenhum dos nossos males traz novidade. Que o sofrimento marcado no rosto do povo nada tem nada novo. Diz que a gente mastiga, desde sempre, a injustiça e iniquidade sem memória ou aprendizado.

Que a gente aceita, mais do que poderia sem nem mesmo considerar se deveria. Que a gente não aprende nem a lembrar de nem a esquecer. Que a gente parece povo destinado a repetir, em círculos, o percurso do desastre.



Amigo meu que envelheceu lutando, diz que esquecendo e não vendo, até daria para ser feliz. Que quem resiste à realidade passa a vida berrando sem poder muda-la ou influenciá-la. Que se o que não tem remédio, remediado fica. Que enxergar, é somente procurar ser infeliz.

Por isso parece que a gente sempre abraça a repetição da história. Sempre uma farsa. Frequentemente como tragédia. Nunca como memoria. Em destino sem jeito. Em luta sempre desprovida de vitória.

E a gente segue cometendo os mesmos erros. Acreditando nas mesmas ilusões. Sem novidade. Com as ideias envelhecidas apodrecendo comprometendo o futuro e piorando o presente. Sem projeto ou objetivos.

Contemplando deserto cuja travessia parece eterna. Onde a areia cobre sem muita preocupação de esconder, um cemitério sem fim de oportunidades perdidas. Envoltos em silêncio que não vem do respeito, mas da ausência de ideias.

E é assim, que no verso e no reverso da vida inteirinha, a gente mata o futuro, corrói a esperança. Acolhe, acomoda e incentiva a mediocridade. Abraça a ignorância. E transforma sonhos em arrependimentos.

Elton Simões

Lula, Lênin e a Petrobras

Não se sabe se Lula conhece a palavra de ordem com que Lênin impulsionava sua militância: “Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é”
Até aqui, quando se aborda o escândalo da Petrobras, pergunta-se quem a roubou, quanto e como o fez. A resposta é parcialmente conhecida: o achaque teve o PT no comando, coadjuvado por seus aliados PMDB e PP, e a quantia chegou à estratosférica casa das dezenas de bilhões.

Conhecem-se alguns operadores, empresários cúmplices e os nomes de agentes públicos (parlamentares, governadores, ministros etc.) citados nas delações premiadas. A lista oficial, a ser divulgada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está sendo aguardada para os próximos dias.

Não se sabe se virá como denúncia ou pedido de abertura de inquérito, o que fará toda a diferença. Se denúncia ao STF e STJ (para o caso de governadores), os citados viram réus; se inquérito, o rito pode ser longo e diluir-se no tempo.

O prejuízo, no balanço não auditado da empresa, tem cifras oficiais: R$ 88,6 bilhões. A ex-presidente Graça Foster disse que foi o que se pôde apurar, mas, aprofundando-se as investigações, “certamente é mais”. Alguns argumentam: mas nem tudo aí é roubo; há também o fator incompetência, incluso na mesma rubrica. Tudo bem. Digamos, então, num raciocínio pra lá de moderado, que o fator roubo seja um quarto daquele valor: R$ 22,1 bilhões. Ainda assim, é dinheiro demais, que excede enormemente ambições pessoais e necessidades partidárias.

E aí entra em cena a pergunta que ainda não se fez, mas que inevitavelmente se fará: para onde foi essa grana? Escondê-la é impossível; fragmentá-la de modo a diluir sua rota parece além do talento mesmo de doleiros experimentados.

Outra coisa: como recuperá-la? O ex-gerente Pedro Barusco se dispôs a devolver a parte que lhe coube: US$ 100 milhões (R$ 280,8 milhões ao câmbio de hoje). Considerando-se o seu grau hierárquico, é possível especular quanto coube aos de cima.

E quem são os de cima? Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento – que detalhou os percentuais que cada partido da base recebia -, disse que se situava no nível médio. E que respondia a gente bem mais graúda. Alberto Youssef garantiu que Lula e Dilma eram os graúdos maiores: sabiam de tudo.

Lula e Dilma negaram a acusação, mas, por ato falho, já a confirmaram. Dilma, ao comentar o rebaixamento da empresa pela consultoria Moody’s, considerou-a “desinformada”, o que sugere que ela, presidente – e ex-ministra das Minas e Energia, ex-presidente do Conselho Administrativo e ex-chefe da Casa Civil -, tem informações que aqueles consultores não têm. Lula, no espantoso ato de “defesa da Petrobras”, na sede da ABI, no Rio, na terça passada, se disse informadíssimo, o que ninguém duvida.

Palavras suas: “Fui o presidente que mais visitou a Petrobras; tenho mais camisas da Petrobras que o mais velho funcionário da empresa. Fui o presidente que mais inaugurou plataformas”. Ora, com tamanha intimidade com a estatal, e tendo nomeado toda a sua diretoria, seria surpreendente que não estivesse a par de tudo o que lá se passava. Tudo.

Leia mais o artigo de Ruy Fabiano

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Não vê quem é idiota

Gostaria de tecer uma pequena colcha com os retalhos que podemos ler por aqui mesmo e que abundam no território da blogosfera:
Empreiteiros reclamam que o governo aproveita o Petrolão para não pagar ninguém, apostando na desordem institucional.

Ministros tentam melar o Petrolão na surdina. Ninguém sabe ao certo até agora quem são os políticos envolvidos na lambança, embora os capitalistões continuem presos preventivamente, obrigados a evacuar em reuniões constrangedoras, na frente uns dos outros.

Lula ainda é considerado “presidente” por boa parte da imprensa acocorada. Ainda não perdeu a majestade torpe nem a corte que o acompanha na vigarice.

O grande cretino faz um ato em defesa da roubalheira e pede que seus “exércitos” o defendam nas ruas. João Pedro Stedile é nomeado general da banda podre dessa comarca.

O celerado evoca seu irmãozinho ditador Saddam Hussein como exemplo de governante a ser seguido para um buraco na decência. O problema é que não temos do outro lado o exército dos Estados Unidos para defender nossa democracia desse ditadorzinho de araque.

Nós, da tribo dos idiotas, achamos tudo isso muito exótico e engraçadinho. Não é. O que se desenha no horizonte é a vontade declarada de implodir nossas instituições e partir para o confronto armado, exatamente como estampado nas cartilhas gramscianas dos Foros de São Paulo e afins. Eles querem tomar o poder e torná-lo absoluto, evacuando em público e andando para os verdadeiros foros democráticos que não se mexem por aqui. Eles sabem que não terão outra chance de tornar a tal “Pátria Grande” um projeto hegemônico de poder e querem receber a polícia à bala, em suas casamatas e posições de defesa.

Enquanto as “oposições” que a nada se opõem dizem o que deve e o que não deve ser escrito nos cartazes das manifestações de 15 de março, apostando na capitulação antes mesmo do começo da briga por nossos direitos, a turba da mortadela se arma como pode. E dizem que isto aqui é uma república democrática. FHC foi feito refém de surpresa. Único político com um tênue discurso oposicionista, não sobra muita coisa na política brasileira para pisotear e enfrentar com porradaria e truculência.

Eles querem o confronto; ninguém entendeu ainda? Quem não enxerga nisso o desenho de um golpe de estado ou é imbecil ou é cretino; escolham um lado para ficar, meus caros leitores. Essa gente está flertando com o perigo. Com a desordem institucional. Apostam que tomarão o poder de assalto e não ofereceremos resistência, pois continuamos a confiar numa oposiçãozinha ridícula, acanhada, com suas cabeças de aves raras enfiadas na lama até o talo.

O piano de cauda

Que semana confusa! Notícias não faltaram. Difícil escolher quais mencionar...
Você prestou atenção nas palavras de Lula no inacreditável encontro petista com o objetivo insidioso de salvar a Petrobras: “A nossa companheira Dilma Rousseff tem que deixar o negócio da Petrobrás para a Petrobrás, a corrupção para o ministro da Justiça ou para a Polícia Federal. A Dilma tem que levantar a cabeça e dizer eu ganhei as eleições.”?

Ganhar as eleições, para Lula, é um passaporte para tudo, é o mesmo que uma escritura de posse. Importante, nessa defesa de fancaria, era enfatizar para a companheira Dilma que ela precisa tomar verdadeiramente posse e segurar quentinha a cadeira até 2018.

O dono do partido que fez da Petrobras um celeiro de malfeitos, arregimentou companheiros para, segundo disse, defender e salvar a empresa! Defender de quem? Salvar de quem? Da Imprensa. E onde ele disse isso: na sede da Associação Brasileira de Imprensa!

Mas Lula não contava com a paixão de dona Dilma pelo poder. Apaixonou-se de tal forma que reencarnou Luís XIV e sai por aí dando a entender que ela é o Estado. Como agora em Feira de Santana onde ela fez uma declaração muito definidora de como se acha poderosa. A Agência Moody’s, segundo a sabe-tudo dona Dilma, rebaixou a nota da Petrobrás por falta de conhecimento correto do que está acontecendo na empresa. “Não tenho dúvida que a Petrobrás vai ser uma empresa com grande capacidade de recuperar isso”. Isso? É. Isso. Ilustração difícil

Leia mais o artigo de Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

A fala do poderoso chefão


Voz do Brasil

O ofício intelectual não combina bem com manifestos. Dos intelectuais, espera-se o pensamento criativo, a crítica do consenso, a dissonância — não o chavão

Eu sabia que eles assinariam um manifesto. Ingênuo, imaginei que, desta vez, seria um texto contra o pacote fiscal de Dilma Rousseff (culpando, bem entendido, o mordomo, que se chama Joaquim).

Contudo, eles desistiram de fingir: o inevitável manifesto, intitulado “O que está em jogo agora”, é tão oficialista como “A voz do Brasil” dos velhos tempos. Num lance vulgar de prestidigitação, o texto dos “intelectuais de esquerda”, assinado por figuras como Marilena Chaui, Celso Amorim, Emir Sader, Fabio Comparato, Leonardo Boff, Maria da Conceição Tavares e Samuel Pinheiro Guimarães, apresenta-se como uma defesa da Petrobras — mas, de fato, é outra coisa.

O ofício intelectual não combina bem com manifestos. Dos intelectuais, espera-se o pensamento criativo, a crítica do consenso, a dissonância — não o chavão, a palavra de ordem ou o grito coletivo. Por isso, eles deveriam produzir manifestos apenas em circunstâncias excepcionais.

Os “intelectuais de esquerda”, porém, cultivam o estranho hábito de assinar manifestos. Vale tudo: crismar um crítico literário como inimigo da humanidade, condenar a palavra equivocada no editorial de um jornal, tomar o partido de algum ditador antiamericano, denunciar a opinião desviante de um parlamentar. O manifesto sobre a Petrobras é parte da série — mas, num sentido preciso, distingue-se negativamente dos demais.

A fabricação em série de manifestos é um negócio inscrito na lógica do marketing. De fato, pouco importa a substância do texto, desde que ele ganhe suficiente publicidade, promovendo a circulação do nome dos signatários.

Como os demais, o manifesto da Petrobras é uma iniciativa em proveito próprio. Mas, nesse caso, o proveito tem dupla face: além do marketing da marca, busca-se ocultar o fracasso de uma ideologia. Por isso — e só por isso! — ele merece a crítica de quem não quer contribuir, involuntariamente, com a operação mercantil dos “intelectuais de esquerda”.

Segundo o manifesto, a Operação Lava-Jato desencadeou uma campanha da mídia malvada para entregar a Petrobras, junto com nosso petróleo verde-amarelo, aos ambiciosos imperialistas.

A meta imediata da conspiração dos agentes estrangeiros infiltrados seria restabelecer o regime de concessão. Sua meta final seria remeter-nos “uma vez mais a uma condição subalterna e colonial”. A fábula, dirigida a mentes infantis, esbarra numa dificuldade óbvia: sem o aval do governo, é impossível alterar o regime de partilha.

A Petrobras não foi derrubada à lona pelo escândalo revelado por meio da Lava-Jato, que apenas acelerou o nocaute. Os golpes decisivos foram assestados ao longo de anos, pela política conduzida nos governos lulopetistas, sob os aplausos extasiados dos “intelectuais de esquerda”.

No desesperador cenário atual, a direção da Petrobras anuncia uma redução brutal de investimentos na prospecção e extração, precisamente os setores em que a estatal opera com eficiência. O regime de partilha obriga a empresa a investir em todos os campos do pré-sal.

A troca pelo regime de concessão será, provavelmente, a saída adotada pelo governo Dilma. Os “intelectuais de esquerda”, móveis e utensílios do Planalto, escreveram o manifesto para, preventivamente, atribuir a mudança de rumo aos “conspiradores da mídia”. Por meio dessa trapaça, conciliam a fidelidade ao “governo popular” com seus discursos ideológicos anacrônicos. Ficam com o pirulito e a roupa limpa.

Há uma diferença de escala, de zeros à direita, entre as perdas decorrentes da corrupção e as geradas pelo neonacionalismo reacionário. A Petrobras é vítima, antes de tudo, do investimento excessivo movido a dívida, da diversificação ineficiente e do controle de preços de combustíveis.

Numa vida inteira de falcatruas, Paulo Roberto Costa, o “Paulinho”, e Renato Duque, o “My Way”, seriam incapazes de causar danos remotamente comparáveis aos provocados pelos devaneios ideológicos do lulopetismo — que são os dos signatários do manifesto.

Leia mais o artigo de Demétrio Magnoli

De onde vem a destruição


Justiça mal educada na Pátria Educadora

As ações políticas, engendradas pelo governo, para livrar de punição as empresas envolvidas no Petrolão e atenuar as penas de corruptos e corruptores não são apenas um acinte à Justiça. São um crime contra o direito de todos serem iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza (art 5º da Constituição). Já mais do que remendada, novamente é estuprada a "Cidadã" dentro do próprio Palácio, onde deveria ser protegida e respeitada.

O Brasil assiste, pasmo, ao conluio de poderes e poderosos bandidos (outro nome não lhes cabe) articulando a derrubada de toda Justiça para não serem molestados no bolso e na liberdade. Uma dessas ações é a demora em se indicar o substituto de Joaquim Barbosa, no Supremo Tribunal Federal, que já recebeu críticas dos decanos do tribunal. Com a proximidade de haver julgamento de implicados no Petrolão, a falta do juiz só vai favorecer aos indiciados contra a Justiça.

O julgamento do mensalão foi apenas um tropeço deles e uma lição, que agora bem aprendida está sendo usada para os livrar das penas no Petrolão. Como imbecis e espertos malandros, acreditam ainda que a Justiça é para punir. Daí armarem de todo o jeito maracutaias para embolar o meio de campo, que permita uma vitória da bandidagem sobre o cidadão.

Justiça é também Educação. Sem ela, como se viveria num mundo de selvageria entre tantos contrários? A Justiça é quem nos educa nessa relação e pode nos reger na democracia. Só tiranos e marginais adoram passar a perna no que é justo, porque é ético e moral. As jogadas petistas armadas nos bastidores pelos políticos e governo são o verdadeiro atentado à democracia. Anunciam um golpe da Oposição, mas na verdade estão armando o golpe e parte dele inclui o esvaziamento do Poder jurídico. É a falta de educação da maioria dos integrantes desse alcunhado partido.

Como na Pátria Educadora do PT, pode-se dar um rabo de arraia na educação? A "educação" petista será formar uma sociedade da bandidagem, do desrespeito às leis, do descaso com o direito mais essencial de Liberdade, que não se faz sem Justiça.

A esperteza do comissariado, do Comando Vermelho e dos aproveitadores de sempre põe em risco mais do que os preceitos jurídicos. O risco é fragilizar ainda mais as já frágeis liberdade e democracia no país.

Um novo julgamento cortando apenas umas cabecinhas e livrando dezenas de outras para que não sejam atingidos governantes, principalmente Dilma e Lula, pode ser um desastre irrecuperável por muitos anos.

As futuras gerações podem sofrer mais do que se pensa com uma sociedade alicerçada na bandidagem livre dos poderosos, ou cumpliciados com os governos, em detrimento de uma Justiça que não vê partido, bolso nem diploma do TER como acontece nas verdadeiras democracias .

Brasil na lama


Mais uma vez o Brasil será capa da britânica "The Economist", desta vez da edição da revista para a América Latina. Se a primeira delas foi positiva e trazia o Cristo Redentor "decolando" do Corcovado, a segunda mostrava o monumento em um voo "desordenado". Agora, a edição que chegará às bancas da América Latina trará outra representação negativa do país. A reportagem diz que, durante a campanha pela reeleição, a presidente Dilma "pintou" um Brasil bem melhor do que o da realidade. O texto afirma ainda que, passados dois meses do novo mandato, os brasileiros começam a notar que acreditaram em palavras "falsas".

Que elites, que esquerda?

A cada instante e cada vez mais, somos alvejados por milhares de informações de todos os tipos, muitas delas procurando, como consequência final, alterar nosso comportamento, seja para pormos fé nas lorotas pseudoestatísticas e conceituais que nos pregam os fabricantes de remédios, pastas de dentes e produtos de farmácia em geral, seja para acreditarmos que determinado partido político, ao pedir com fervor nossa adesão, realmente tem alguma identidade que não seja a que lhes emprestam seus tão frequentemente volúveis caciques. Aparentemente, nossos cérebros se defendem de ser entulhados com essa tralha e grande parte dela é esquecida.

Mas em algum lugar da mente ela permanece e afeta talvez até nossa maneira de ver o mundo. Se prestarmos atenção aos comerciais de tevê e fizermos um esforçozinho de abstração, veremos que temos plena ciência de que quase todos eles, ou mesmo todos, se apoiam em pelo menos uma mentira ou distorção. O xampu não produz cabelos como aqueles, a empresa não dá o atendimento ao cliente que apregoa, o plano de saúde falha na hora da necessidade, a velocidade da banda larga não chega nem à metade do que contrata, o sistema de saúde que descrevem como o nosso parece gozação com o pessoal que estrebucha em macas no hospital, o banco professa carinho e oferece gravações telefônicas diabólicas, o lançamento imobiliário mente sobre as vantagens do bairro e a segurança da construtora, a moça não é bonita como aparece, o sinal da operadora não é confiável, a prestação sem juros é enganação, a garantia do carro não vale nada para a concessionária. Tudo, praticamente, é mentira e sabemos disso. Mas, mistérios desta vida, agimos como se não soubéssemos, numa postura acrítica e já meio abestalhada.

Em relação à política, talvez nossa situação possa ser até descrita em termos mais drásticos. As afirmações mais estapafúrdias são divulgadas e ninguém se preocupa em examiná-las. Não me refiro a chutes que prostituem a estatística e fazem dela, como já se disse, a arte de mentir com precisão. Os números nos intimidam desde a escola primária e qualquer embusteiro se aproveita disso para declarar que 8.36% (quanto mais decimais, melhor) de alguma coisa são isso ou aquilo e ver esta assertiva ser recebida reverentemente, como se não fosse possível desconfiar de tudo, da coleta dos dados, às categorias empregadas e os cálculos feitos. Média, então, é uma festa e eu sempre penso em convidar o dr. Bill Gates para morar em Itaparica e me transformar em nativo do município de maior renda média do Brasil, cuíca do mundo.

Não, não me refiro a números, mas a alegações estranhas. Por exemplo, esse negócio de o governo ser de esquerda. Só se querem dizer que a maior parte do nosso cada vez mais populoso bando ministerial é constituído de canhotos. O presidente Lula, que não quis ser presidente emérito e prefere continuar sendo presidente perpétuo mesmo, já disse ? e creio que com sinceridade ? que não é, nem nunca foi, de esquerda e que não usa mais nem a palavra “burguesia”. E que é que o governo fez que caracterize uma posição de esquerda? Apoiar Chávez com beijos e abraços, ao tempo em que respalda os bilhões de dólares de negócios brasileiros na Venezuela? Manter boas relações com Cuba, o que não quer dizer nada em matéria de objetivo político? Ser da antiga turma que combatia o governo, no regime militar? E já perguntei aqui, mas pergunto de novo: o PMDB é de esquerda? Quem é esquerda, nesse balaio todo? Furtar, desviar, subornar, corromper são de esquerda? Zelar por valores éticos e morais é de direita?

É gritaria da direita reclamar (e pouca gente reclama) do descalabro inacreditável em que se tornaram as trombeteadas obras do rio São Francisco, hoje uma vasta extensão de ruínas e destroços, tudo abandonado ao deus-dará, em pior estado do que cidades bombardeadas na Segunda Guerra? Ou o que está acontecendo com a Petrobras, que, da segunda posição entre as petrolíferas, despencou para a oitava e pode despencar mais, acrescida a circunstância de que ninguém explica direito qual é mesmo a situação do hoje já não tão radioso pré-sal? E combater a miséria nunca foi de esquerda ou direita. Ter altos índices de popularidade tampouco.

Também se diz que as elites dominantes querem derrubar o governo. Que elites dominantes? A elite política, que se saiba, é a que exerce o poder político. O Poder Executivo é exercido pelo governo que está aí e que, presumivelmente, não atua contra si mesmo. O Poder Legislativo está sob o controle da base do governo. E o Judiciário, por mais que isso seja desagradável aos outros governantes, não pode associar-se à ação política no sentido estrito. Já as elites econômicas não parecem empenhadas em subverter uma situação em que os bancos têm lucros nunca vistos, conforme o próprio presidente perpétuo já frisou, e as empreiteiras estão muito felizes e, convocadas pela presidente adjunta, prometeram fazer novos investimentos. Qual é a elite conservadora que está descontente e faz oposição ao governo? É justamente o contrário.

Finalmente, temos a imprensa golpista. Que imprensa golpista? Que editorial ou comentário pediu golpe? Comportamento golpista é o de quem acusa o Judiciário de ser agente de armações politiqueiras, quem chega a esboçar desobediência a ordens judiciais, quem se diz vítima de linchamento, quando foi condenado em processo legítimo e incontestável. A imprensa sempre se manifesta contra o desrespeito à Constituição e a desmoralização das instituições democráticas e tem denunciado um rosário sem fim de ações lesivas ao interesse público. Golpista é quem busca silenciá-la ou controlá-la, não importa que explicações se fabriquem e que eufemismos inventem.

(Artigo de João Ubaldo Ribeiro publicado em 17 de mar de 2013)

PT e PSDB: verso e reverso da mesma medalha

Afinal, depois de muito ler e refletir, consigo perceber onde me enganei nesses anos todos. Há muito escrevo e comento que PT e PSDB deveriam se unir para auxiliar o país a sair das crises em que tem se metido. E supunha que ambos poderiam juntos – guardadas as devidas diferenças – fugir ao destino de serem no governo reféns dos PMDBs e siglas fisiológicas em geral.

Não vão conseguir. Afinal, na sexta-feira, dia 20, Dilma Rousseff reapareceu em público, como se ainda estivesse no palanque, e atacou o PSDB, acusando o adversário de ser o verdadeiro pai da operação Lava Jato. Prontamente, tanto FHC quanto Aécio retrucaram, o primeiro mais incisivo: se Barusco (ex-gerente da Petrobras, agora delator premiado) diz que usufruía de propinas desde 1997, afirmo que só o PT tornou essa prática institucionalizada, isto é, fez da empresa um canal de corrupção como jamais existiu neste país. (Não ponho entre aspas porque só registrei pela televisão.)

Acontece que os dois partidos são o verso e o reverso de uma mesma medalha, que suga o trabalhador, organizado ou não, e patrocina uma espoliação igual às que agora vemos acontecerem mundo afora.

O PT faz com o PMDB o repeteco do nacional-desenvolvimentismo, que sempre viveu de corrupção e que, em sua versão moderna, tenta criar um capitalismo financiado pelo Estado, via BNDES, com seus “campeões nacionais”. Estes são beneficiados com dinheiro do FAT ou do Tesouro e engendram conglomerados como o Friboi, que suga duplamente o povão: no preço, neste caso da commodity “carne”, ou na elevação da dívida pública, levada à estratosfera.

Aí entra Joaquim Levy, ligado ao outro lado, para pôr ordem na casa, fazendo com que todos os que vivem de salário paguem o pato pela tunga dos de cima. No caso do PT, há um respeito litúrgico pelos movimentos sociais e sindicais organizados, que vivem de benesses estatais e que, cooptados, não representam os trabalhadores, mas ficam esperneando sem sucesso. Aliás, desde Lula, a CLT varguista continua em vigor e até consegue ser piorada, com a concessão de 10% da contribuição sindical para as centrais sindicais. Assim, os movimentos organizados se calam, enquanto os desorganizados, quando saem às ruas, ou são assassinados (como Amarildos), ou são chamados de vândalos.

No caso do PSDB, o esquema é outro: o capital financeiro reina soberano – daí o Proer com que FHC salvou os bancos da quebradeira – ou entra no mercado brasileiro, como agora esclarece o escândalo do HSBC. Ao tempo desses, o pau come sobre os trabalhadores organizados (lembrem-se dos petroleiros em 1995), e nada de sobras de banquete para os pobres (como o Bolsa Família, criado por eles e adotado, com requintes, pelos petistas). Mas ambos trabalham uns para os outros, como fez antes Henrique Meirelles para Lula no Banco Central, e como faz agora Joaquim Levy para Dilma.

Tudo “farinha do mesmo saco”, pois sabem lucrar e mandar a conta para os trabalhadores.

Grande pilantragem.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A 'autoridade' de um condenado

 


Inelegível por abuso político, e com um prontuário de processos de fazer inveja a muito marginal, o presidente regional do PT e prefeito de Maricá saiu pelas redes sociais cometendo mais um crime na cara da Justiça: incitação à violência. Como sempre valentão, armado de todas as bravatas, porque protegido fisicamente pelo computador e por um destacamento de seguranças pagos com dinheiro público, se vê com a autoridade concedida pelo chefão Lula de também conclamar a porrada como solução para o país, ainda mais que é o único meio de blindar suas “peteroubalheiras” de Maricá a Brasília, passando por todo o resto do Brasil.

Depende...

Quando uma escola de samba tradicional é financiada por uma ditadura estrangeira, chegamos ao fundo do poço

“O Brasil está na idade da tramela!”, dizia um grande intelectual. Tendo estudado nos Estados Unidos e lá, como dizia Monteiro Lobato, fora lapidado, pois jamais rejeitara o seu lado brasileiro (o qual foi, ironicamente, intensificado na convivência por contraste com o que, àquela época, chamava-se de “países adiantados”), ele era capaz de enxergar o que todo mundo simplesmente via como as nossas arqueológicas tramelas.

Quem saiu do Brasil para as “Europa” ou “América” até os anos 60 (como foi o meu caso), ficou espantado com a ausência das “tramelas” e das gigantescas chaves de ferro; esses instrumentos dos superiores que permitiam abrir ou fechar portas, cadeias, porões, dispensas e gavetas. Esses compartimentos que até hoje são vedados a quem continua a ser tratado como “povo”, pois jamais foi lapidado ou visto como cidadão.

Quando visitei os Estados Unidos pela primeira vez, recebi a chave não só do meu modesto escritório mas — eis o susto — a do prédio do famoso Departamento de Relações Sociais de Harvard!

No Brasil, receber essas máquinas “depende”.

O ministro tem a chave de todos os prédios e somente ele abre a sua porta. Nas democracias, todos têm precisamente a chave da porta dos que governam, já que presidentes, ministros, governadores, senadores e deputados servem ao povo. É, pois, do povo a propriedade das chaves!

Não há, nenhum “depende...” a condicionar a transparência. Não existe o famoso, lamentável e onipresente “eu não sabia” ou a divisão permanente entre “público interno e externo”, rotineiros na ditadura militar e no lulopetismo.

O roubo público, o assalto irresponsável em escala bíblica e pornográfica aos bens coletivos e à Petrobras — símbolo de independência econômica que suicidou quem teve honra e foi incestuosamente agredida por quem não sabe o significado dessa palavra — continuam sujeito ao “depende...”

Depende de quem. Se foi do tempo deles vale, se foi nessa nossa década de poder, não vale. Na Alemanha nazista, todos os males eram atribuídos aos judeus vistos como agentes de impureza diante da superioridade indiscutível da raça germânica. Os judeus eram o veneno ao lado dos homossexuais, dos ciganos e dos deficientes. Eles conspurcavam a “raça superior” — emblemática de uma integração perfeita porque seria biológica, entre o indivíduo e a coletividade. Esse problema de todas as nossas antropologias e sociologias que, em geral, leem o individuo como algo separado do grupo quando de, fato, seja nas suas formas mais ativas (como na América sem tramelas) ou brandas, como no Brasil relacional das trancas e frestas, o individuo é a expressão de uma cosmologia ou ideologia. A redução individualista é dominante na vida moderna que, conforme sabem alguns, não é, como o jazz, tão moderna assim.

Sem o “depende” não se entende a hipocrisia política dominante. Ela é a chave que abre ou fecha os baús de escândalos que, de tão rotineiros, chegaram ao carnaval, uma celebração aberta a tudo, mas hoje manchada pelo financiamento questionável.

Leia mais o artigo de Roberto DaMatta

E não estamos?

Ele (Michel Temer) relatou que um ministro da equipe econômica falou que estamos dançando na beira do precipício
Deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), depois de reunião da cúpula do PMDB

Lula se tornou a maior ameaça à democracia

Depois dos 'gorilas' da ditadura, aparecem os 'soldados' petistas 
Desde 1939, quando foi inaugurada no centro do Rio de Janeiro, a revolucionária sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) tem sido palco de um número enorme de eventos em defesa da democracia, dos direitos civis, dos interesses nacionais e da liberdade de imprensa e de expressão.

Na noite de terça-feira, dia 24 de fevereiro, pela primeira vez a sede da histórica e lendária ABI foi palco de um atentado à democracia, praticado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se julga no direito de conclamar sindicatos, movimentos sociais e estudantis para saírem às ruas e enfrentar todos os que se manifestarem contra a corrupção na Petrobras e contra o governo petista.

É claro que a ABI nada tem a ver com isso, apenas cedeu o auditório para que se realizasse um simples ato público em prol da Petrobras, o que não representa nenhuma novidade, pois desde sua fundação a entidade máxima dos jornalistas tem como um de seus principais objetivos justamente a defesa da exploração do petróleo em benefício dos brasileiros.

O que ninguém esperava é que o ex-presidente Lula, jogando seu passado na lata do lixo da História, tivesse a ousadia de defender posturas absurdamente ditatoriais, em evento realizado justamente no mais tradicional e respeitado palco de defesa da democracia. O pior é que ele fez esse tipo de pronunciamento radical e suicida pouco depois de militantes do PT terem espancado diante da ABI manifestantes que defendiam o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O evento estava marcado para as 18 horas, mas Lula foi avisado de que estava havendo esse confronto e só chegou às 19h20m, escoltado pela Polícia Militar, que fez questão de proteger o ex-presidente, mas esqueceu de oferecer proteção às dezenas de cidadãos e cidadãs que estavam pacificamente exercendo seu direito de expressão e manifestação, ao defenderem a saída de Dilma.

Depois, no auditório, imagine-se o constrangimento de cidadãos como o produtor Luiz Carlos Barreto e sua esposa Lucy, o professor Pinguelli Rosa, a jornalista Hildegard Angel, o ex-ministro Roberto Amaral e outras personalidade de destaque, ao presenciarem o discurso de Lula, que apoplético, fez a seguinte ameaça ao país: “Quero paz e democracia, mas eles não querem. Mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele nas ruas!”

Sabia-se que o governo e o PT estavam convocando as centrais, os sindicatos, a UNE e organizações sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), para promoverem manifestações a favor do governo, como a que está sendo organizada para 13 de março. Mas ninguém poderia prever que o radicalismo pregado por Lula chegasse a tanto ponto.

O pior é que o líder do PT não tem freio, não aceita conselhos de ninguém, pensa que é o dono do Brasil e até se comporta dessa forma. Como todos sabem, sonhar ainda não é proibido, mas pode voltar a ser. Portanto, é melhor Lula consultar um terapeuta, porque tem dado mostras de que está fora de si e seu radicalismo ameaça tirar o país dos eixos. E a quem interessa isso?

Para maioria nao há democracia verdadeira na Alemanha

Estudo mostra que um em cada quatro cidadãos acredita que o país está no caminho de uma nova ditadura. Para um terço dos entrevistados, capitalismo inevitavelmente leva à pobreza e à fome.
Mais de 60% dos alemães consideram que não há uma democracia verdadeira na Alemanha. A culpa seria da influência da economia, que teria mais força do que os eleitores. Este é o resultado de uma pesquisa de opinião realizada pelo instituto Infratest Dimap, a pedido da Universidade Livre de Berlim, e publicada na terça-feira.

Segundo o relatório, uma a cada três pessoas está convencida de que o capitalismo inevitavelmente leva à pobreza e à fome. Além disso, 37% dos residentes do lado ocidental da Alemanha e 57% do lado oriental classificam o comunismo e o socialismo como uma boa ideia, mas que, até agora, foi mal executada.

Um quinto da população alemã pede por uma revolução, sob o argumento de que as reformas políticas não melhoraram as condições de vida. Devido ao aumento da vigilância dos cidadãos, a Alemanha estaria no caminho de uma nova ditadura, responderam 27% dos entrevistados.

No entanto, de acordo com os autores do estudo, o resultado mais surpreendente é que apenas 46% dos entrevistados são favoráveis à manutenção do "monopólio de violência" - que reserva ao Estado o uso ou a concessão do emprego da força.

Além disso, o estudo chegou à conclusão de que 14% dos alemães no lado ocidental e 28% dos do lado oriental mantêm uma postura de esquerda radical ou esquerda extremista, somando um total de 17% da população do país.

Avaliados como extremista pelos pesquisadores são aqueles que desejam instaurar comunismo ou "democracia real" em detrimento do pluralismo e da democracia parlamentar. Aproximadamente 1.400 pessoas participaram da pesquisa. O estudo completo foi impresso em um livro.

Apodrecendo no caminho


Trabalhador precisa conquistar novos direitos e não perder

O problema do ajuste fiscal está na falta de ajustes sociais que substituam direitos velhos por novos direitos estruturais, assegurando bem-estar social permanente aos cidadãos. Ao longo dos últimos anos, o Brasil optou por uma verdadeira folia de gastos públicos, consumismo exacerbado, baixo nível de poupança e investimento, irresponsabilidade fiscal, preços administrados, contabilidade criativa escondendo a realidade, e desonerações fiscais em dimensões escandalosas. Ignorando os alertas, os partidos no governo comemoravam euforicamente os benefícios de curto prazo. De tanto repetirem a própria publicidade, as lideranças fizeram o povo acreditar nas ilusões: o pré-sal resolveria tudo, empresas como o grupo X colocariam o país no cenário mundial, o BNDES construiria a nação emergente mais dinâmica do século XXI.

A realidade desfez as ilusões, os alertas se mostraram proféticos, mas a eleição não permitia que se admitisse a crise. A folia econômica que se esgotava chegou à política, e as ilusões foram ampliadas pelo marketing. Os eleitores passaram a acreditar que nunca o Brasil fora tão rico, dinâmico e sem pobreza e que o país daria passos para trás se não reelegesse o grupo no poder.

O resultado é que a economia brasileira chegou a 2014 em uma situação de crise de proporções catastróficas: déficit em transações correntes de 4,2%, déficit nominal de 6,7% e dívida pública bruta de 6,3% (em relação ao PIB); além de inflação persistente acima da meta.

Agora, passadas as eleições, o governo faz tudo que acusava seus opositores de pretenderem fazer contra o povo e o país: elevação da taxa de juros, controle de gastos, redução de direitos e realismo nos preços passaram a ser defendidos como ajustes necessários. A fala do novo ministro da Fazenda, carregada de medidas antifolia, passou a ser aceita pelos que as criticavam, enquanto outros que antes se beneficiavam da folia começam a criticar os ajustes.

O problema das últimas medidas não está na fala do ministro Levy, controlando ou eliminando direitos trabalhistas, mas na falta de falas ousadas dos demais ministros, como os do Trabalho, da Educação e da Saúde, oferecendo novos direitos. Alguns ajustes nos chamados “benefícios sociais” são necessários para corrigir os desastres criados pela folia fiscal, mas, em vez de repudiá-los ou de se conformar a eles, é preciso atualizá-los e fazê-los avançar. Alguns dos antigos direitos trabalhistas não têm como ser mantidos, mas novos direitos devem ser implementados.

Alguns dos atuais direitos precisarão ser moralizados, modificados e substituídos por direitos contemporâneos, como direito do filho do trabalhador à mesma escola de qualidade do filho do patrão; licenças periódicas para efetiva capacitação; direito do trabalhador à licença para ir à escola do filho e para cuidar preventivamente de sua saúde. 

Agressividade o grande pecado

A falha humana que eu mais gostaria de corrigir é a agressividade. Ela pode ter sido uma vantagem na época dos homens das cavernas, para que eles pudessem obter mais comida, território ou uma parceira com quem se reproduzir, mas, agora, ela ameaça destruir todos nós.

O líder se protege do povo


“Quero paz e democracia, mas eles não querem. Mas também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stédile colocar o exército dele nas ruas!”
 (incitação à violência é crime, Lula)

O convescote promovido pelo PT e entidades afiliadas, na sede da Associação Brasileira de Imprensa, na noite de terça-feira, no Rio, num ato em defesa da Petrobras, fez Lula sentir que não é o mesmo Cara de outros tempos.

O que deveria ser uma demonstração de força política e popular se mostrou apenas uma tímida reunião para o chefão falar suas costumeiras banalidades. A plateia, composta pela velha turma de descarados, aplaudiu certamente o espetáculo de um ex-presidente envilecido, que não passa de um pelego.

Nem as lideranças fluminenses afiliadas foram lá prestar suas condolências por um carismático líder sindical que hoje parece aqueles ditadores das antigas republiquetas.

Nas ruas, o que se viu foi a militância petista partindo para o pau, como ordenou o chefão que disse também saber brigar. E não é a primeira vez que o partido mostra suas tendências "militares" .

O velho líder, abrigado em carro blindado, com escolta policial, para não ter que se sujar com a manifestação na rua, talvez tenha tido tempo suficiente para pensar sobre o destino que deu à própria biografia. Dentro do blindado, talvez pensasse que não é mesmo aquele que comandava as massas. Hoje se protege do povo como aqueles tiranos latinos. Sem tirar nem por, é um fantasma de caudilho. 

Talvez agora pense melhor na herança que vai deixar, a mesma que aqueles deixaram: o desprezo pelos descendentes. Uma punição eterna nas páginas da História como criminoso.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Psicopetismo

Quero me ater aos vícios mentais que assolam essa gente, para além da roubalheira.

Finalmente vimos a cara verdadeira da Dilma, carregada de ódio, acusando o governo anterior do FH, porque lá teria havido também corrupção. Claro que sempre houve; corrupção existe desde a fundação da cidade de Salvador, desde 1550, quando Tomé de Souza, primeiro governador do Brasil criou o “bahião”, roubando tanto que quase quebrou Portugal. Dilma tenta responsabilizar outros governos, esquecendo-se de que estão no poder há 13 anos e só fizeram m... ah, “malfeitos”.

Os mais espantosos escândalos do planeta foram provocados por uma corrupção diferente das tradicionais: com o PT no governo, a corrupção foi usada como ferramenta de trabalho, quando o nefasto Lula chamou a turminha dos ladrões aliados e disse: “Podem roubar o que quiserem, desde que me apoiem e votem comigo”. Mas, neste artigo não quero mais bater no governo, pois tudo já está dito, tudo provado, tudo batido.

Quero me ater aos vícios mentais que assolam essa gente, para além da roubalheira.

Como se forma a cabeça de um sujeito como Dirceu, Vaccari, a cabeça do petismo, esse filho bastardo do velho socialismo dos anos 1950?

Havia antigamente uma forte motivação romântica nos jovens que conheci. Era ingênuo, talvez, mas era bonito.

A desgraça dos pobres nos doía como um problema existencial nosso, embora a miséria fosse deles. Era difícil fazer uma revolução? Deixávamos esses “detalhes mixurucas” para os militantes tarefeiros, que considerávamos inferiores “peões” de Lênin ou (mais absurdo ainda) delegávamos o dever da revolução ao presidente da Republica, na melhor tradição de dependência ao Estado, como hoje.

Quando o PT subiu ao poder, eu achava que havia um substrato generoso de amor, uma crença na “revolução”, que era a mão na roda para justificar tudo, qualquer desejo político. Nada disso. Só vimos uma “tomada do poder”, como se os sindicalistas estivessem invadindo o palácio de inverno em São Petersburgo.

Seus vícios mentais eram muito mais óbvios e rasteiros do que esperávamos. Foi minha grande decepção; em vez da “justiça social”, o que houve parecia uma porcada magra invadindo o batatal.

E aí, me bateu: como é a cabeça do petista típico?

Em primeiro lugar, eles são inocentes, mesmo antes de pecar. Estão perdoados de tudo, pois qualquer fim justifica seus meios, vagamente considerados “nobres” no futuro.

Para eles não existe presente — tudo será “um dia”. Não sabem bem o quê, mas algo virá no futuro.

Eles têm a ideia assombrosa de que o partido pode se servir do Estado como se fosse sua propriedade; assim, podem assaltar a Petrobras, fundos de pensão, outras estatais com a consciência limpa, porque se a Petrobras é do povo, é deles. Não é roubo, em sua limitada linguagem de slogans — é “desapropriação”.

Aliás, e o silêncio dos intelectuais simpatizantes diante dos crimes óbvios? Está tudo caladinho...

Outra coisa: o petista legítimo, “escocês” (como o Blue Label 30 anos, único que o Lula toma), acha que “complexidade” é frescura e que a verdade é simplista, um reducionismo dualista. Para eles, o mundo se explica por opressores e oprimidos, tudo, claro, culpa do “capitalismo”, tratado como uma pessoa, com crises de humor: “Ih, o capitalismo está muito agressivo ultimamente”.

Para eles, na melhor tradição stalinista, deve-se ocultar da população questões internas do governo, pois não confiam na sociedade, esse aglomerado de indivíduos alienados e sem rumo.

Podem mentir em paz, sem dar satisfações a ninguém. Eles têm ausência de culpa ou arrependimento, têm o cinismo perfeito de quem se sente uma vítima inocente no instante mesmo em que se esmeram na mentira.

Na prática têm as mesmas motivações do velho stalinismo ou do fascismo: controle de um sobre todos e o manejo da Historia como uma carroça em direção ao “socialismo” imaginário em que creem ou fingem crer.

Ser esquerdo-petista é uma boa desculpa para a própria ignorância (como o são!) — “não preciso pensar muito ou estudar, pois já sou um militante do futuro!” Entrar no partido é sentir-se vitorioso, escondendo o fracasso de suas vidas pessoais, por despreparo ou incompetência.

Nunca vi gente tão incompetente quanto a velha esquerda. São as mesmas besteiras de pessoas que ainda pensam como nos anos 1940. Não precisam estudar nada profundamente, por serem “a favor” do bem e da justiça — a “boa consciência”, último refugio dos boçais.

Aliás, vão além: criticam a competência como porta aberta para a direita; competência é coisa de neoliberal, ideia que subjaz por exemplo na indicação de Joaquim Levy — “neoliberal sabe fazer contas”, pensam. Se não der certo, por causa de suas sabotagens, a culpa é dos social-democratas. Como não têm projeto algum, acham que os meios são seus fins.

A mente dos petistas é uma barafunda de certezas e resume as emoções e ações humanas a meia dúzia de sintomas, de defeitos: “sectários, obreiristas, alienados, vacilantes, massa atrasada e massa adiantada, elite branca” e ignoram outros recortes de personalidade como narcisistas, invejosos, vingativos e como sempre os indefectíveis filhos da puta. Como hoje, os idiotas continuam com as mesmas palavras, se bem que aprenderam a roubar e mentir como “burgueses”.

Obstinam-se com teimosia nos erros, pois consideram suas cagadas “contradições negativas” que se resolverão por novos acertos que não chegam nunca. Há anos vi na TV um debate entre o grande intelectual José Guilherme Merquior e dois marxistas que lamentavam erros passados: derrota em 1935, 56 na Hungria, 68 na Tchecoslováquia, 68 no Brasil, erros sem fim que iriam “superar.” Mas nada dava certo. Merquior não se conteve e replicou com ironia: “Por que vocês não desistem”?

Não pode haver dúvida da loucura contida nisso tudo. Só uma agenda irracional defenderia uma destruição sistemática dos fundamentos que garantem a liberdade organizada. Apenas um homem irracional iria desejar o Estado decidindo sua vida por ele. Muitos são psicopatas, mas a maioria é de burros mesmo.

Arnaldo Jabor

Não vai dar certo

Como pode dar certo um governo cuja base está dividida e se assemelha a uma Torre de Babel?
A cabeça da presidente deve estar azucrinada de tantos conselhos. O que não faltam nos círculos petistas são engenheiros de obras prontas, com soluções mágicas e contraditórias.

Wladimir Pomar, por exemplo, coordenador da primeira campanha presidencial de Lula, escreveu um alentado artigo sobre o “desafio da retirada estratégica”.

Sem papas nas línguas, o autor diz que os dirigentes envolvidos em caso de corrupção, deveriam pedir desculpas ao povo brasileiro e à militância, ”ao invés de viverem reiterando sua inocência, ou levantando o punho em sinal de luta”.

Dilma, claro, não deu atenção às palavras de Pomar ou não leu o seu artigo. Preferiu seguir o conselho de seu marqueteiro e jogou, com a maior desfaçatez, a responsabilidade da corrupção na Petrobrás para as costas do presidente Fernando Henrique Cardoso.

A tática do punguista que grita pega o ladrão denunciada por FHC não vai dar certo. Não resistirá à lógica implacável dos fatos. Tanto que já virou motivo de piada.

Para manter sua versão o palácio do Planalto depende do mutismo dos diretores de construtoras presos na Polícia Federal. Um deles, Ricardo Pessoa, presidente da UTC, já sinalizou o tamanho do estrago que poderá causar.

O problema do governo Dilma não é de marketing, é de credibilidade. É da falta de um discurso consistente com respostas para a crise ética, econômica e política.

Leia mais o artigo de Hubert Alquéres

Legenda de caminhão


Beijando ditador

O recente triunfo da Beija-Flor ilustra bem esta visão seletiva, e a seletiva falsificação da realidade. Assistindo ao desfile da Beija-Flor, há quem só tenha visto a riqueza dos trajes, as cores das plumas, a profusão de máscaras africanas, a ala dos ancestrais celebrando as tradições de um pequeno país africano. Porém, olhando melhor, não há como não ver o cinto do caubói. No caso, o rosto crispado de um dos mais terríveis e corruptos ditadores do nosso tempo: Teodoro Obiang.
“O dinheiro não tem cor” — argumentam alguns: “o importante é que a festa foi bonita.”
Errado. Uma coisa é aceitar apoio financeiro de Cabo Verde, Botswana ou Namíbia, para citar apenas três países africanos com democracias sólidas, outra é vender a alma ao diabo. Obiang está comprando consciências. O ditador da Guiné-Equatorial já conseguiu que o seu regime fosse aceito na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, CPLP, generosa ideia do embaixador José Aparecido de Oliveira, entretanto muito aviltada. Agora quer mais. Hoje paga a festa, amanhã irá cobrar.
“Posso convidá-lo para jantá-lo?” — pergunta o lobo ao cordeiro. E o cordeiro vai.Leia mais o artigo de José Eduardo Agualusa 

O que o Brasil pode aprender com a Itália com o Petrolão

O que a abertura da fatal caixa de Pandora das investigações pode causar ao mundo político brasileiro ainda é uma incógnita
O Brasil está à espera para saber os nomes de políticos e partidos escondidos na caixa de Pandora do Petrolão. Na mitologia grega, essa caixa, que era na verdade uma ânfora de barro, guardava “os males que afligem a humanidade”.

Pandora era a mulher que Zeus havia criado “para introduzir os males na vida dos homens”. Como a antecessora de Eva, Pandora era a que carregava todos os problemas do mundo.

Hoje a sociedade moderna redimiu a mulher do estigma de ser a grande sedutora e a origem de todas as desgraças. A política é um substantivo feminino e sua finalidade é a de criar bem-estar e felicidade aos cidadãos.

O possível resultado político dos males que a abertura da fatal caixa de Pandora pode causar ao Brasil ainda é uma incógnita. Há quem já fale de escorregões no abismo e quem prefira ver nessa atitude de coragem de juízes, promotores e policiais um sinal de ressurreição de um novo modelo de política, um modelo que rompa com os velhos esquemas do passado para dar vida a um novo rumo histórico.



 Que o Brasil seja capaz de esvaziar a velha caixa de Pandora da mitologia grega para enchê-la de novas esperanças. Que nela possam entrar, depois da tragédia do Petrolão, novas forças, políticos mais conectados com a voz das ruas, menos preocupados em enriquecer, e que ressuscitem esse país da crise à qual foram arrastados pela mitológica e trágica grega Pandora
Neste momento é, no entanto, imprescindível olhar para a Itália de 1992, onde houve uma abertura da caixa de Pandora mais parecida com a brasileira. Foi quando, depois de um período de decadência da política tradicional, o promotor Antonio Di Pietro lançou a operação Mani Pulite ou Tangentopoli, na qual a nata dos políticos dos partidos mais importantes acabou na prisão, ao lado de dezenas de grandes empresários cúmplices por terem enriquecido ilegalmente, e também seus partidos.

O juiz Sergio Moro, protagonista da Tangentopoli brasileira, a Lava Jato, já havia lembrado, há dez anos, que o Brasil caminhava para algo parecido ao vivido na época pela Itália.

E também é possível que aqui, juntos, políticos e empresários acabem condenados e que os grandes partidos que até agora governaram o Brasil possam ser duramente punidos nas urnas, como aconteceu na Itália, onde a Tangentopoli abriu caminho para novas legendas nascidas do nada.

Leia mais o artigo de Juan Arias

Titanic brasileiro leva Oscar


Dinheiro na mão

Com US$ 550 milhões do BNDES, Dilma renova fôlego da Odebrecht na crise, que expõe empreiteiras atropeladas pela ganância em negócios com a Petrobras
A decisão do governo Dilma Rousseff de financiar a construção de térmicas a carvão na República Dominicana levou alegria ao Palácio Nacional, em Santo Domingo, e à sede da Odebrecht, na Praia de Botafogo, no Rio. Os seis mil quilômetros que separam os edifícios foram abstraídos no mapa de interesses dos governos e da empreiteira brasileira.

Dilma ajudou a revigorar a campanha do presidente dominicano Danilo Medina em sua batalha doméstica para mudar a Constituição, para poder disputar novo mandato em 2016.

E renovou o fôlego da Odebrecht em plena crise, detonada pelas investigações sobre corrupção na Petrobras, que expõe as construtoras em indigência de caixa e de crédito.

O empréstimo de US$ 550 milhões do BNDES Social à República Dominicana foi autorizado na terça-feira, 30 de dezembro. Negócio regular, mas peculiar. Em valor ultrapassa a soma do apoio dado pelo BNDES nos últimos 17 anos às exportações para países vizinhos como o Chile. Equivale à metade dos financiamentos do banco à Venezuela durante os governos Hugo Chávez e Nicolás Maduro, até setembro.

É pouco mais de meio bilhão de dólares para duas usinas térmicas a carvão. Créditos a esse tipo de indústria, altamente poluidora, estão praticamente banidos do cardápio de instituições internacionais, como o Banco Mundial
.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A 'maçã' e a Justiça

A política da "maçã podre" é danosa para o combate e a prevenção à corrupção. (...) A corrupção não decorre só de fatores individuais, mas também organizacionais. Não queremos só medidas em relação aos indivíduos, mas também às empresas, a aparatos organizados que contribuíram para que isso acontecesse
Deltan Dallagnol

No Oscar do Brasil

Filme B


Neste faroeste do cerrado, bandido que se presa sai (e às vezes cai) atirando. Tenta convencer que sempre foi assim. Que é tudo igual. Que todos são o mesmo

Engana-se quem pensa que é pesadelo. Sonhos ruins duram pouco. Desaparecem com despertar sobressaltado, agitado, cheio de ansiedade. Tem vida curta e deixam poucos resíduos.

Também se engana quem já viu este filme. Não é filme antigo. Não se trata de reexibirão. O que não quer dizer que a historia seja original. O filme de hoje é refilmagem sem versão original.

Espécie de filme b que agride olhos; perfura ouvidos; ofende inteligências. Enfim, mesmo que tenha sobrado orçamento na produção da historia, falta qualidade a narrativa. Talento é coisa difícil de ser comprada.

Já faz tempo que o roteirista de dispensou da obrigação de produzir narrativas sem sentido. E, pior ainda, repete, em ciclos, a mesma sequencia narrativa. Nos primeiros momentos, esconde a realidade e vende castelos nas nuvens, contos de fada, ou historias desconectadas de qualquer sentido ou materialidade.

Baixada a poeira, a ilusão não mais se sustenta. E nosso roteirista abraça a negação. Faz de conta que o elefante não esta na sala. E diz que não existe, não viu, não sabe, ou não é com ele. Finge. Finge tão completamente que chega a se convencer de sua própria mentira.

Nem sempre a repetição da mentira parece verdade. Na maior parte dos casos, parece mentira velha mesmo. Diante disso, o dedo indicador parece começar a funcionar. Fabricar culpados é tarefa simples. Basta distender o indicador. Não precisa imaginação, talento, ou arte. Embora a falta de escrúpulos ajude muito, a falta de familiaridade com o idioma compromete.

O problema, neste caso, é que a eficácia do dedo indicador é diretamente proporcional a credibilidade de seu dono. E credibilidade é coisa rara neste ajuntamento de cérebros baldios. Na impossibilidade de culpar exclusivamente ao outro, as opções diminuem.

Neste faroeste do cerrado, bandido que se presa sai (e às vezes cai) atirando. No que vê e no que não vê. Invariavelmente acerta o próprio pé. Mas sempre espalha a lama. Pinta todos com a mesma cor. Tenta convencer que sempre foi assim. Que é tudo igual. Que todos são o mesmo.

Incapaz de levantar o nível investe em rebaixar o teto.