sábado, 2 de dezembro de 2017

A Liga da Justiça a Jato

O novo despertar da ética no Brasil virou festa com a Operação Cadeia Velha, que prendeu o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A captura de Jorge Picciani e mais uma penca de aliados pela Polícia Federal espalhou o grito de Carnaval: estão atacando a corrupção do PMDB, esse antro de raposas velhas! Mas os éticos deram uma moderada no grito – para não acordar José Dirceu, que tinha sambado até de madrugada.

O Brasil é uma novela. Ou melhor: nem uma novela o Brasil é. Novelas têm complexidade, por mais novelesca que seja ela. O Brasil é um borrão unidimensional, cabe numa marchinha de Carnaval. Foi assim que os abutres de ontem – aqueles fantasiados com adereços politicamente corretos e purpurina roubada – simplesmente sumiram da cena. Quem foi Palocci mesmo? Ué, não era esse que outro dia estava contando tudo a Sergio Moro? Ou esse foi o Santana? Espera aí: que Santana? Não era Mantega?

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O novo despertar ético está operando o milagre de reabilitar eleitoralmente o PT. Do PT você lembra? Isso, esse mesmo – o da senhora Rousseff, a regente do petrolão que hoje viaja o mundo contando história triste à custa do contribuinte. E que lidera pesquisas de intenção de voto para o Senado! O Brasil é uma mãe – e não é a mãe do PAC. Dessa você lembra? A que operou a negociata de Pasadena, isso. Que Pasadena? Ah, deixa para lá. Vamos falar do Picciani. Morte ao PMDB!

O governo Itamar Franco era do PMDB, mas não era. Foi sob um presidente fraco e cheio de compromissos fisiológicos que o Plano Real foi implantado. O governo Temer é do PMDB, mas não é. Assim como na era Itamar, foi nessa gestão pós-impeachment que se abriu o espaço para a entrada de gente séria, técnica e não partidária disposta a retomar o Estado das mãos dos parasitas da política. É isso o que está acontecendo no Brasil após quase década e meia de pilhagem – e todos os indicadores confirmam o fato. Mas o brasileiro prefere a lenda.

A lenda quer dizer que todos os políticos são igualmente corruptos e agora você vai jogar tudo isso fora para votar numa Liga da Justiça Lava Jato. Se fosse a Lava Jato do Moro até poderia ser uma utopia interessante – mas o Moro já renunciou à candidatura a super-herói de gibi e declarou que pretende ficar onde está, isto é, apenas fazendo seu trabalho direito. Ou seja: é um exemplar de uma espécie em extinção no Brasil – essa dos que acham que o mais nobre objetivo pessoal é cumprir seu papel com integridade até o fim. As espécies que se multiplicam em abundância e sem risco são as dos que põem a cabeça de fora do anonimato e já querem cobri-la com um chapéu de Napoleão carnavalesco. Essa é a Liga da Justiça 2018 – a Lava Jato fake de Rodrigo Janot e seus conspiradores de botequim.

Personagens como o mosqueteiro Dartagnol Foratemer – um desses que após o cumprimento do dever foi à luta do seu chapéu de Napoleão – saíram por aí detonando os políticos para virar políticos. Dartagnol hoje é visto puxando o saco de celebridade petista e fazendo panfletagem digital desonesta – tipo “alertar” que o bando do PMDB capturado no Rio revela o modus operandi que domina Brasília, isto é, o governo federal. Mentira. Os técnicos de alto gabarito que estão trabalhando duro no Banco Central, no Tesouro, na Fazenda, na Petrobras e em outros postos-chaves do Estado nacional deveriam processar esse oportunista, mas estão ocupados demais consertando o desastre do PT – isto é, dos novos camaradas de Dartagnol.

A grita contra a Assembleia Legislativa do Rio quando ela chegou a revogar a prisão de Picciani e sua turma jamais foi ouvida, desta forma retumbante e justiceira, contra a Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Esta protege da prisão, há mais de ano, ninguém menos que o governador do estado, Fernando Pimentel, um dos principais investigados da Operação Lava Jato (a verdadeira).

Olhe para os últimos 15 anos, prezado leitor, e identifique quais foram os grandes protagonistas da vilania que empobreceu a todos nós. Pense bem, porque o Super-Homem é um fracasso de bilheteria e não vai te socorrer.

O choro privilegiado

Há coisas na democracia brasileiro que não entendo bem. Uma delas é essa possibilidade que o Supremo dá ao ministro com voto vencido de pedir vista e adiar a decisão da maioria. Talvez essa dificuldade se explique pelo fato de ter uma experiência parlamentar, na qual defendi causas minoritárias.

No Parlamento, depois que a maioria se manifesta, o resultado é proclamado e só resta ao perdedor fazer uma declaração de votos, o direito de espernear, como dizíamos no plenário. Daí não entendo por que o ministro Dias Toffoli pode adiar a proclamação de um resultado indiscutível numericamente. Tenho a impressão de que, se me fosse dada a chance de bloquear uma decisão majoritária, hesitaria.

De certa forma, eu me sentiria numa brincadeira que perdeu a graça. Se a maioria não consegue impor uma decisão majoritária, acaba despertando certa compaixão pela sua fragilidade.

Os defensores do foro privilegiado já perderam a batalha. Deveriam contentar-se com o choro e abrir mão de manobras protelatórias. Adiar a decisão apenas atrasa uma experiência que já foi decidida, no debate pela imprensa, nas redes sociais, nos movimentos cívicos e nas pesquisas de opinião.


Um grupo minoritário de ministros do Supremo não pode decidir o que é melhor para nossa experiência democrática. No Brasil, o atraso é tão entranhado nos costumes que se consagra até o direito de atrasar, que agora está sendo exercido pelo ministro Toffoli.

Mas não é só desejo de voto mais pensado. Ele tem algo articulado com os políticos, os principais interessados em manter o foro privilegiado.

Enquanto o STF pisa no freio, a Câmara se apressa a votar um projeto no mesmo sentido, restringindo o foro privilegiado.

Aí pode entrar um gato: a extensão do foro privilegiado aos ex-presidentes, algo que favorece Temer, Lula e Dilma, até Collor, quando deixar o mandato de senador. É realmente algo inédito no mundo: o País que derrubou dois presidentes no período de democratização conclui que devem ser protegidos também depois do mandato.

Durante o mandato presidencial, já são de certa forma blindados. Só podem ser processados por crimes posteriores à sua posse. Assim mesmo, quando são acusados por crimes cometidos durante o mandato, a investigação é submetida à Câmara, onde a maioria é hostil à Lava Jato.

Estamos todos atentos, embora a atenção nem sempre baste para inibir os políticos desesperados. Eles nem se importam mais com as consequências para a democracia.

As coisas podem não ser tão simples como se pensa. Num programa de televisão, Gustavo Franco, ao lançar seu livro sobre a história monetária no Brasil, afirmou que o mercado acha que qualquer dos candidatos favoritos no momento continuará a reconstruir o País.

No caso do PT, o mercado tem esperanças de que, vitoriosa, a esquerda volte a se encontrar com a classe média e abrande sua linha. Não tem sido esse o discurso do PT. Lula afirmou várias vezes que vai estabelecer o controle social da imprensa. Em quase todas as análises, a esquerda conclui que foi derrubada porque não soube radicalizar.

Pelo menos no discurso, o caminho aponta para a Venezuela. Além do mais, tenho minhas dúvidas quanto à reconciliação com a classe média. Acho, sinceramente, muito improvável, mesmo com a ampla admissão dos erros e das trapaças.

No caso de Bolsonaro, tudo indica que caminha para uma visão liberal na economia, dura na repressão ao crime e conservadora nos costumes. É formula que tenta conciliar o avanço do capitalismo com as tradições que ele, naturalmente, dissolve na sua expansão global.

Tanto para os eleitores de Trump como para os de Bolsonaro, há uma força nostálgica em movimento. Voltar atrás, no caso americano, explorando carvão, tentando ressuscitar áreas industriais arruinadas. No caso brasileiro, voltar aos tempos do regime militar, durante o qual não houve escândalos de corrupção nem a violência urbana.

O Brasil de hoje é muito diferente do País dos anos 1960. E também não é o mesmo dos anos 1990, quando o PT chegou ao poder.

O economista Paulo Guedes, que deverá ser o homem da economia na campanha Bolsonaro, afirmou que, ao se encontrarem os dois, uniram-se ordem e progresso. Se entendemos por ordem o combate à corrupção e uma política de segurança eficaz, tudo bem. Mas a eficácia não se mede pelo número de mortos, e sim pelas mortes evitadas. E o progresso? Assim como está no lema da Bandeira, é bastante vago. Muitos o associam ao crescimento econômico.

Mas tanto os marxistas como os liberais tendem a uma visão religiosa do mundo, abstraem a limitação dos recursos naturais, algo que envolve todas as espécies. Num contexto de campanha radicalizada, qualquer das hipóteses terá muita dificuldade em governar um País dividido. E no processo de reconstrução será preciso encontrar alguns pontos que unam a Nação para além de sua clivagem ideológica.

Na sua entrevista ao Roda Viva, Gustavo Franco deu uma pista que me pareceu interessante: ao invés de falarmos tanto em reformas, sempre empurradas com a barriga, por que não buscar uma sociedade de inovação?Essa história de deixar as coisas apodrecendo, mas só mexer nelas em reformas, tem de ser substituída por uma ideia de inovação permanente.

É esse o mundo em que vivemos. Se não nos adaptamos a ele, seremos, de certa forma, engolidos.

A campanha eleitoral ainda nem começou. Fala-se num candidato de centro. De fato, suas chances serão boas. No entanto, na política não se trabalha apenas com chances, mas também com a encarnação da proposta, o candidato.

O PSDB, com Alckmin, fala em choque de capitalismo, algo que vi e ouvi em 98. De choque em choque, vai acabar a energia. Um mesmo empresário alemão levou 56 dias para abrir uma empresa em São Paulo e apenas 24 horas para abrir outra nos EUA. Que tal segurar os fios e experimentar o choque antes de aplicá-lo no País?

Gente fora do mapa

A Jurubeba Cultural: O outro...   (Foto de Eugeni Forcano. Barcelona, Espanha, 1962).                                ...
Eugeni Forcano 

Passado, ao esquecimento

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...naquela comunidade, o passado raramente era discutido. Não que fosse um tabu, mas ele havia de algum modo sumido em meio a uma névoa tão densa quanto a que cobria os pântanos. Simplesmente não ocorria àqueles aldeões pensar sobre o passado – nem mesmo o recente
Kazuo Ishiguro, em O Gigante Enterrado

Arame farpado no Jaburu: o que diriam JK e Niemeyer?

Incrível – e intrigante para este jornalista - mas de inegável apelo factual, carregado de simbologia da política, do poder e da comunicação, a reportagem assinada por Eduardo Barretto, publicada em O Globo esta semana. Revela que o Palácio do Planalto (um jeito pleonástico de denominar o governo do PMDB e penduricalhos partidários, chefiado por Michel Temer), se prepara para cercar de arames farpados áreas em volta do Palácio Residencial do Jaburu.

Neste quase final de tremendo 2017, o fato merece cuidadosa atenção, não só pelo que revela explicitamente, mas, também, pelo que fica submerso nos seus desvãos.

No primeiro caso, a notícia aponta como justificativa para cercar todo o perímetro da residência do mandatário da vez, a conclusão oficial de que o lugar tem “pontos vulneráveis”, apesar dos redobrados cuidados adotados diante do “risco de protestos e convocações de manifestações em redes sociais.

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A matéria não fala, mas é fácil deduzir que o esdrúxulo cercado tem a ver, também, com a vulnerabilidade do Jaburu para acesso de estranhos visitantes noturnos, do tipo do empresário Joesley Batista (ex-manda-chuva do grupo JBS-Friboi) que lá entrou pela garagem, tranquilamente, altas horas da noite, e gravou o presidente em uma das mais escandalosas conversas de que se tem notícia na his tória republicana do País.

Apesar das choradas dificuldades financeiras alegadas pelo governo, - ao pedir apoio para a votação do cada dia mais desidratado projeto de Reforma da Previdência, e mais sacrifícios ao cidadão comum (que sempre paga o pato, mesmo o da FIESP), - a previsão é que para construir o cercado, o governo deverá “desembolsar R$ 81, 3 mil em 1.900 metros de concertina, espirais de arame farpado, com “lâminas pontiagudas cortantes e penetrantes”.

A reportagem revela, ainda, que as avaliações para o “serviço” partiram do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), baseado em relatório específico para a residência presidencial. “Constam de três editais para comprar arame farpado, restaurar as grades e até adquirir tendas para os seguranças da residência oficial da família Temer.

“Os leilões serão na próxima terça-feira”, adianta o texto detalhadamente cuidadoso de Barreto. No comando do GSI está o general gaúcho, Sérgio Etchegoyen, ardoroso torcedor do Grêmio (que festeja a conquista da Taça Libertadores da América, em campo argentino, na quinta-feira última). Figura dura de militar, temida até pela turma do MST. O militar ganh a cada vez mais espaços nas áreas de mando efetivo do Palácio do Planalto.

Amaldiçoado seja aquele que pensa mal destas coisas, diriam os irônicos franceses. Mas o que pensariam, ou diriam, se vivos estivessem, o presidente JK e o arquiteto Oscar Niemeyer, diante das barreiras que se multiplicam nas proximidades dos palácios e ministérios, mas, principalmente, deste insólito cercado que o jornal O Globo anuncia. Responda quem souber.

Da parte que me toca, resta nisso tudo, uma certeza só, o reforço de uma invencível rejeição e ojeriza pessoal (que vem da infância) às cercas de arames farpados, somados ao temor profissional que veio mais tarde (embora com intensidade ainda maior) nas aulas das faculdades de Jornalismo e de Direito, na Universidade Federal da Bahia, nos terríveis anos 60 da minha formação acadêmica.

Foi quando li bastante, estudei um pouco, mas aprendi o suficiente sobre a origem, as aplicações ao longo do tempo e simbologia opressiva desses arames pontiagudos e suas cercas ao longo da história.

A primeira que vi de perto, e com a qual precisei conviver durante anos, foi no tempo de menino das barrancas sertanejas do São Francisco – o rio da minha aldeia . Morava na cidade amada de Santo Antônio da Glória, que tinha em Paulo Afonso o seu distrito mais importante.

Uma referência nacional, pois ali, na minha infância, se construía a grande barragem e a monumental e pioneira Usina Hidrelétrica da CHESF, marco da engenharia e da eletrificação do Nordeste (da luz, da irrigação e da geração e distribuição de energia para as residências e para as fábricas na cidade e no campo, de uma região inteira).

Uma enorme cerca de arame farpado foi erguida de uma ponta a outra daquele lugar, separando a “Vila da Chesf” - (habitada por engenheiros e suas famílias, da gente que fornecia a mão de obra mais qualificada, das forças armadas e federais de segurança, dos clubes de primeira linha, da infraestrutura de cidade moderna, dos bons colégios, estádio com refletores para jogos noturnos, e do transporte gratuito), - da “Vila Poty” (local de moradia dos operários, “cassacos” de toda parte, atraídos pelas ofertas de trabalho pesado na construção da barragem e da usina, e uma classe média formada de autoridades públicas e servidores do estado.

Filho de um deles, eu podia transitar e ter contatos com a gente “das duas partes do arame”. Foi um tempo feliz de meninice, reconheço, mas aí nasceu também a sensação amar ga e opressiva que estes cercados me causam, ainda hoje.

Esta semana, depois da reportagem sobre o cercado que se pretende construir em Brasília, em breve, corri à procura na web, de um texto lido há algum tempo, para construir as linhas finais deste artigo de informação e opinião. É uma análise assinada por Olivier Razac, publicado no Le Monde Diplomatic.

O autor escreve fundamentado em pesquisa densa e aprofundada: "o arame farpado, esta invenção de 1874, de um fazendeiro norte-americano, Joseph Glidden, para cercar as propriedades das grandes planícies, tornou-se imediatamente um instrumento político de primeira importância”.

Publicado com o título, “A simbologia dos arames farpados”, o texto de Razak assinala que em menos de um século e meio, eles se rviram para cercar as terras, e assim afasta-las dos índios nos Estados Unidos, e para encerrar populações inteiras durante a guerra de independência de Cuba (1895-1898) e na segunda guerra dos bôeres na África do Sul (1899-1902): Além disso, alimentou as trincheiras da Primeira Guerra Mundial “e forneceu cerca incandescente dos campos de concentração e exterminação nazistas”.

Tem mais, muito mais, mas não conto. Recomendo sim, vivamente, a leitura completa do texto referido, no Le Monde Diplomatic (fácil de recuperar na internet). Ou a leitura do empolgante e revelador romance da jornalista Symona Gropper, lançado mais recentemente , “A Menina que foi Vento – Memória de uma Imigrante”. Está nas livrarias, como mais que sugestivo e recomendável presente natalino. Antes que a anunciada cerca de arame farpado seja construída, de fato, em volta do Palácio Jaburu. Triste Brasília. Triste País!

Barata deixa cana de novo e pedido de impedimento de Gilmar continua preso

Quantas vezes Jacob Barata Filho terá que deixar a cadeia para que Cármen Lúcia liberte de sua gaveta o pedido de impedimento formulado pela Procuradoria contra seu colega Gilmar Mendes? Chamado no Rio de Janeiro de ‘Rei do Ônibus’, Barata parece viver sob outro regime —uma espécie de monarquia negocial, onde reina a esculhambação nas relações entre empresários do setor de transportes e políticos.

Barata Já deixou o xadrez uma, duas, três vezes. Antes de entregar à sucessora Raquel Dodge a chefia da Procuradoria-Geral da República, em setembro, Rodrigo Janot já havia protocolado no Supremo Tribunal Federal uma petição contra Gilmar. Entre outros argumentos, sustentou que, como padrinho de casamento de Beatriz Barata, filha do preso, o ministro deveria declarar-se suspeito para julgar os habeas corpus requeridos pela defesa do empresário. Gilmar deu de ombros.


O caso divide os ministros do Supremo. Um pedaço do tribunal avalia que o pedido de impedimento é procedente. Outro naco da Corte, aparentemente majoritário, enxerga exagero na iniciativa da Procuradoria. Um julgamento em plenário teria o efeito de um tira-teima. Mas a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo, se recusa a libertar de sua gaveta a peça da Procuradoria contra Gilmar. Até quando?

Membro da força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro, o procurador regional da República José Augusto Vagos lamenta: “Chega a ser constrangedor o acesso que esse acusado tem para obter decisão em último grau de jurisdição sem passar pelas demais instâncias, como se desfrutasse de um foro privilegiado exclusivo para liminares em habeas corpus, mesmo sendo acusado de destinar dezenas de milhões de reais aos maiores líderes políticos do Rio, como se isso constituísse crime de menor potencial ofensivo, crime de bagatela.”

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Wunder der Natur

Por que uma das cidades mais ricas do mundo vai expulsar miilionários de suas casas

Zurique aprovou nesta semana uma lei com novas regras para o programa de moradias sociais. O objetivo é combater essa distorção, e um fato em especial chamou bastante atenção: 132 milionários viviam em residências assim em 2014, quando a Prefeitura apresentou a proposta – e eles serão despejados.

Segundo as autoridades desta que é a cidade mais populosa da Suíça, com 400 mil habitantes, muitos outros se beneficiam desta ajuda apesar de serem capazes de pagar o preço de um aluguel no valor de mercado.

É bom dizer que não são necessariamente magnatas com investimentos nos Emirados Árabes e uma frota de carrões estacionados na garagem. Mas são pessoas cujos rendimentos são mais altos do que o salário médio suíço, que é de cerca de US$ 60 mil (R$ 196,3 mil) por ano - o segundo maior da Europa, atrás apenas de Luxemburgo - e um valor bem maior do que a renda das famílias alvos do programa social.

Desde 2011, investidores imobiliários na cidade precisam destinar ao menos 33% dos empreendimentos a moradias sociais, que são administradas por empresas públicas. Essas habitações são alugadas a preços que permitem amoritzar os custos de construção e manutenção, mas não é possível lucrar com eles.

Em paralelo, existe um outro programa de moradias sociais construídas e gerenciadas pelo governo local. Desde a criação da cota de 33%, o governo ergueu 1,5 mil moradias sociais. Assim, há uma oferta de 9 mil apartamentos do tipo atualmente.

O valores do aluguel social variam entre 623 francos suíços (R$ 2.059), para imóveis com até 1,5 cômodos, e 2,2 mil francos ( R$ 7.211), para aqueles de seis cômodos ou mais – cozinha e banheiro não são contabilizados como cômodos, e um corredor de entrada extenso ou uma cozinha mais ampla podem ser considerados meio cômodo.

A Prefeitura detectou que muitos desses imóveis não são ocupados pelos mais pobres – ou menos ricos, a depender do ponto de vista. Assim, além dos 132 milionários que serão expulsos de suas casas, o mesmo acontecerá com os outros que ganham bem o bastante para dispensar o apoio público.

Empreendimentos imobiliários precisam destinar 33% de suas unidades a moradias sociais

As novas regras dizem claramente que o "inquilino social" não pode ter um salário acima de quatro vezes o valor do aluguel social. Sua renda pode aumentar enquanto vive ali, mas, se ultrapassar seis vezes o aluguel, o governo pode pedir que ele se mude.

Haverá uma revisão dos contratos a cada dois anos para verificar se o morador ainda atende ao critério de renda. O imóvel também deve ser a única residência do inquilino e sua família.
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Um último gesto

Dia desses li os resultados de uma pesquisa realizada ao longo de anos pela publicação científica "The Lancet", dando conta de que a poluição está matando mais gente que todas as guerras e atos de violência juntos - 15 vezes mais, para ser preciso. Mata 150% mais que o cigarro, a fome ou os desastres naturais. Ceifa a vida de mais seres humanos que a AIDS, tuberculose e malária somadas - 300% mais.

Estima-se que a cada ano a poluição, sozinha, seja responsável por nada menos que nove milhões de mortes prematuras - 92% delas nos países pobres ou em desenvolvimento. Calculou-se que este quadro gera prejuízos da ordem de US$ 4,6 trilhões - algo em torno de 6,2% da economia mundial.

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Especificamente quanto ao Brasil, a poluição vitimou 101.739 pessoas em 2015 - nada menos que 7,49% do total mortes no país durante o período. Segundo cálculos feitos pelo Banco Mundial em 2013, a economia brasileira perde robustos US$ 4,9 bilhões por conta da poluição.

À primeira vista pode não ser muito clara a correlação entre os índices de poluição e a economia. Mas meditemos sobre um único exemplo: ao remover o chumbo da gasolina, nos idos de 1980, a economia norte-americana ganhou, até 2016, nada menos que US$ 6 trilhões - dinheiro que seria gasto com tratamento de doenças e perda de produtividade.

Tenhamos, agora, uma noção da falta de responsabilidade de nossa geração: menos da metade dos cinco mil novos produtos químicos lançados no ambiente desde 1950, que entrarão em nossos organismos, foi testada no que toca aos efeitos que induz sobre a saúde humana.

Indo ‘do macro ao micro’, fico a contemplar a nuvem de pó preto que se abate sobre minha cidade. A recordar um discurso de meu saudoso pai, proferido no Congresso Nacional há quase quatro décadas, denunciando-a. De lá para cá a situação só tem feito piorar. E até hoje - parece incrível - ninguém sabe de onde vem este pó preto! Qual seria o motivo? Negligência? Corrupção? Enquanto isso, que padeçam nossos pequeninos, vítimas infelizes das tão comuns doenças respiratórias.

Nossa geração, talvez desatenta ao fato de que as coisas da vida passam, e passam muito depressa, já caminha para seu entardecer. Seria pedir demais que, em um último gesto de grandeza, deixasse para as crianças um mínimo que seja a mais de esperança?

Pedro Valls Feu Rosa

Lula, o predador

Lula, já condenado em um dos sete processos que contra ele tramitam na Justiça, continua a se comportar como vítima de perseguição política. Mais: faz dessa falsa condição sua bandeira eleitoral. Em vez de infrator, seria vítima de infrações judiciais.

Trata os que, com base em provas consistentes e abundantes, cumpriram o rito legal de condená-lo – o juiz Sérgio Moro, os procuradores e a Polícia Federal – como agentes políticos, a serviço de forças que sua militância não hesita em chamar, em momentos de maior moderação, de fascistas – às vezes, até de agentes da CIA.

Ele próprio, em numerosas entrevistas de rádio, país afora, e em pronunciamentos à militância – a única plateia que lhe restou -, estimula as agressões e procura deslegitimar previamente a próxima sucessão presidencial, caso dela esteja ausente. E é certo que estará.

Nenhum texto alternativo automático disponível.


O próprio ministro Luís Fux, que presidirá o TSE no curso da campanha, já se manifestou contra a presença de um candidato sentenciado, ainda que sem trânsito em julgado.

Anteriormente, o STF, em questão que envolvia o então presidente do Senado, Renan Calheiros, já se manifestara contra alguém, na condição de réu, ocupar, ainda que interinamente, a cadeira presidencial; imagine-se em caráter permanente.

Não bastasse, o senso comum não consegue atinar com tamanho disparate. Mesmo assim, Lula prossegue, prometendo – e cumprindo - tocar fogo no país. O “exército do Stédile” está em ação.

As invasões do MST tornaram-se mais frequentes e predadoras, sem que o Estado a elas se contraponha. O governo Temer, que sequer tentou desaparelhar a máquina administrativa ocupada pelo petismo, não tem força política para fazê-lo. Com isso, a crise ameaça o único setor sadio da economia, o agronegócio.

O discurso do “Fora, Temer”, desde o início uma encenação, foi há pouco suspenso por ordem de Lula. Não é mais necessário, pois já cumpriu o papel de impedir que o novo governo não apenas expusesse as falcatruas do anterior, como sobretudo viesse a faturar aplausos pelas correções de rumo, ainda pálidas, que conseguiu imprimir à economia.

A lógica vitimista do golpe tenta disseminar a versão de que o ambiente recessivo, com desemprego sem precedentes, é obra de Temer, e não um legado petista. Como o governo Temer carece de autoridade moral para contra-argumentar, dado o prontuário de sua cúpula, Lula consegue estabelecer ambiente de terra arrasada.

Nele, todos são iguais, mesmo não sendo. Perde-se o senso das proporções dentro da roubalheira. A turma do PMDB roubava para fins de enriquecimento pessoal; a do PT, para, além disso, quis perpetuar-se no poder e promover a tal revolução bolivariana.

Daí a diferença de escala entre uma coisa e outra. A roubalheira do PMDB cabe em malas; a do PT, não: depende de muitos bancos e países amigos (amigos dele, PT). Todos, claro, devem responder pelo que fizeram, na proporção do que fizeram.

Mas a dimensão do dano não pode se diluir numa massa amorfa ou muito menos, como se quis (e ainda se quer) fazer crer que a chefia do esquema cabia a Temer. Ele, nunca é demais repetir, era o representante do PMDB junto aos governos petistas, ali posto por Lula, como aliado de confiança. Dilma mal o conhecia.

A ação predadora e provocativa de Lula, desdenhando do Judiciário, da lei e das instituições, cumpre papel golpista semelhante ao dos que pedem a intervenção militar.

A diferença é que esses, equivocados ou não, o fazem em nome da restauração da ordem, enquanto Lula o faz com propósito oposto, para limpar sua biografia e tentar se restabelecer no poder. Tornou-se hoje o fator de desestabilização da política brasileira.