quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016


Lula perdeu mais uma chance de se explicar. E o PT também

Dez minutos, ainda mais em cadeia nacional de rádio e de televisão, teria sido tempo mais do que suficiente para Lula pedir desculpas por seus erros e apartar-se das suspeitas que o cercam.

Uma vez que o pedido soasse sincero (e ninguém melhor do que Lula para mentir como se dissesse a verdade), o distinto público até teria sido capaz de perdoá-lo. Quando nada a rejeição a ele diminuiria.

Temos um povo sensível a pedidos de desculpas; um povo religioso que valoriza o perdão; e um povo também meio bobo, convenhamos.


Em seguida, ele poderia ter explicado por que nomeou para a Petrobras os principais diretores que a assaltaram, detendo-se por fim sobre os casos do tríplex no Guarujá e do sítio de Atibaia.

Lula está sendo acusado de quê? De ocultação de patrimônio? De promiscuidade com as empreiteiras que ganharam muito dinheiro durante seus governos e reformaram de graça para ele o tríplex e o sítio?

Sem que ninguém pudesse lhe fazer perguntas incômodas nem contestá-lo de imediato, Lula ofereceria suas versões para tais episódios. Porque ele já deve tê-las.

Por que não pediu desculpas nem se explicou? Só por que lhe faltou humildade? De fato, ele só é humilde para pedir votos. Certa vez, em Belém do Pará, beijou a mão do senador Jáder Barbalho à caça de votos.

Lula não pediu desculpas porque o personagem que ele encena não combina com um pedido de desculpas. Não deu explicações porque receia ser contrariado por fatos apurados ou a serem apurados pela Lava-Jato.

Sua admissão de erros limitou-se a uma pequena frase que cito de memória: “É verdade que erramos, mas acertamos muito mais”. E pronto. A humildade fingida cedeu a vez ao discurso mistificador de sempre.

Chegou ao ponto de culpar a "gente que não gosta de dividir a poltrona do avião" pela falta de credibilidade do governo para tirar a economia da crise mais grave de sua história.

Não lhe criará problemas culpar pela incompetência do governo a “gente que não gosta de dividir a poltrona de avião”. Lula só voa em jatinhos alugados e pagos pelos outros. Não divide poltrona.

Antes de aparecer no programa, Lula havia sido apresentado pelo discurso de um locutor que resume o estado de perplexidade em que vive o PT, sem argumentos críveis para defender seu chefe.

Disse o locutor: "Os que hoje tentam manchar sua história, Lula, são os mesmos de ontem. Os preconceituosos que nunca aceitaram suas ideias e suas origens. Mas não vão conseguir. As ofensas, as acusações, a privacidade invadida. Tudo isso passa, Lula".

Tudo passa, de fato. Até mesmo Lula.

Por pouco não foi lembrada a infância miserável de Lula, sua saída do Nordeste para o Sul na boleia de um caminhão, e a morte de sua primeira mulher em um hospital público.

À falta do marqueteiro João Santana para dizer ao PT e a Lula o que eles deveriam dizer, o partido produziu um dos piores programas dos seus 36 anos de existência. Com direito, no final, a coreografia de bailarinos.

A resposta foi imediata: em 14 capitais, e dezenas de cidades país a fora, ouviu-se o barulho furioso de um poderoso panelaço. Talvez o maior desde que virou moda saudar Dilma, o PT e Lula com panelaços.

Comandante do naufrágio diz que a culpa é dos afogados

Na missa negra celebrada nesta terça-feira, disfarçada de comercial do PT, Lula explicou que o naufrágio econômico que comandou, em parceria com Dilma Rousseff, só coisa de afogados que insistem em lamentar o que aconteceu. Os culpados pelo desastre, recitou o Exterminador do Plural, são “as pessoas que falam em crise, crise, crise, repete (sic) isso todo santo dia e ficam minando a confiança no Brasil”.

A conversa de 171 reitera que, na cabeça baldia do ex-presidente, qualquer problema desaparece se a palavra que o identifica deixar de ser pronunciada. Foi por isso que o restante do sermão não reservou uma única e escassa vírgula ao triplex do Guarujá, nem ao sítio em Atibaia, muito menos à segunda-dama Rosemary Noronha. Como disse o mestre a seus discípulos, basta ignorar uma encrenca para que tudo se resolva.

Lula e o que sobrou da seita ainda não entenderam que as coisas mudaram depois da Lava Jato. Se espera que as delinquências que protagonizou sejam esquecidas, é bom esperar sentado. Bem mais sensato seria providenciar algum esconderijo reformado por empreiteiros amigos ─ antes que chegue o Japonês da Federal.

Dilma e o fim do horário de Verão

Em seu humor inteligente, José Simão revelou na Folha (edição 23/02/2016) para que serve a hora a mais que a presidente ganhou com o fim do horário de verão, no último final de semana. “E a Dilma ganhou uma hora. Vamos ter que aguentar a Dilma mais uma hora. Ela ganhou mais uma hora para quê? Pra sofrer!”. Ele tem toda a razão. Dilma vai sofrer uma hora a mais. Vemos isso estampado na sua fisionomia. Mas não creio que seja pelo mal que tem feito ao Brasil. O mais provável é que seja pela dor que lhe causa a certeza de que o julgamento dos brasileiros sobre ela se consolidou: a mais desastrosa presidente da história do Brasil!

Há um sentimento generalizado de que com ela as coisas, que já estão ruins, só pioram. O que Dilma anuncia como medidas de governo não passam de impulsos desesperados e comprovadamente incapazes de mudar sua nefasta trajetória. Um rosário de fracassos: anúncio de superávit que vira déficit bilionário; pacote de incentivo ao crédito quando os juros são mortais para o suicida que tomar um empréstimo hoje; um país inteiro refém de um mosquito que se multiplica à base de saneamento precário e falta de práticas e políticas de saúde pública.

E a certeza de ser a condensação da crise deve alterar o metabolismo de Dilma, alimentar sua raiva por não ser reconhecida nas suas desastradas e estúpidas ações.

Apesar de tudo, a ficha da presidente não caiu. O país tem razão em não lhe conceder o benefício da dúvida. Ao longo dos 14 meses de pesadelo do seu segundo mandato, nunca ouvimos dela uma autocrítica, o reconhecimento de erros e, principalmente, do sofrimento que causa aos brasileiros e do retrocesso dramático em que mergulhou o Brasil. As filas de desempregados, a recessão crescente, a deterioração dos serviços públicos, o desmonte da rede de proteção social, as epidemias, o descrédito e a desmoralização do país no mundo. Nada lhe causa vergonha, nada reduz sua arrogância e destemperos grosseiros para defender uma gestão ruinosa e corrupta.

Dilma Rousseff conseguiu. Em tudo e por tudo, ela se aproxima do réquiem do governo Collor: o governo da propina, do fim de feira e, sobretudo, do salve-se quem puder.

Vemos com preocupação que brasileiros dignos ainda questionem o impeachment ou outro procedimento para sairmos da crise. Como pode, dizem eles, que dois dos quatro presidentes eleitos, após a democratização, sejam apeados do poder por seus mal feitos? E, ao contrário disso, como será manter Dilma por mais três anos, apodrecendo com ela outras instituições? Afinal, o lulopetismo se compraz em tentar, usando de todos artifícios, em que calúnias e difamações são quase um detalhe, passar a ideia de que todos são iguais.

A democracia é valor absoluto. Devemos cultivá-la sempre. Ainda e quando, e principalmente, essa mesma democracia permita a conquista do poder por uma organização criminosa travestida de partido dos trabalhadores. Unidos como organização suprapartidária, eles primeiro armaram o mensalão. Os brasileiros abominaram, mas condescenderam na sua condenação. Então, o lulopetismo dobrou a aposta. Intensificou o populismo do pão e circo, quebrou a economia e conseguiu seu objetivo maior de viabilizar o crime sem limites do petrolão. Já brindavam uma volta por cima, impunes, aptos para perpetuar seu projeto de poder. Mas quis o destino que ficassem ilhados por uma hemorragia de denúncias, confirmadas cotidianamente pela Operação Lava Jato.

Agora, os lulopetitas estão claudicantes, trêfegos, antevendo derrotas generalizadas nas urnas, sim, mas contando com a condescendência de manter o arremedo de presidente Dilma até 2018. Se assim for, o "pra sofrer" do Macaco Simão vai deixar de ser uma referência a Dilma e atingir, como um mantra maldito, o Brasil e os brasileiros. Estamos condenados a dar errado? Fomos sem ter sido? Criamos e estabilizamos uma democracia de malfeitores?

CollorDilma é uma sina da qual temos a obrigação de nos emancipar. E podemos. O desafio não deve ser maior do que nossa disposição para vencê-lo
!

A Síria é aqui

Massacres, chacinas, extermínios em massa sempre frequentam o noticiário. O ser humano nunca se cansa de matar o semelhante. Não importa quão civilizado o país se julgue, ele sempre será bárbaro quando lida com o outro, com o diferente. Quer exemplo mais contundente que a invasão do Iraque pelos norte-americanos? Segundo cálculos feitos nos Estados Unidos e na Inglaterra, mais de um milhão de civis iraquianos teriam sido dizimados pelos bombardeios ordenados por George W. Bush. Quer outro exemplo, mais recente? Os mortos na Síria, contagem que varia entre duzentos e trezentos e cinquenta mil desde o início do conflito. Quer um exemplo do Brasil? Aqui aconteceram mais de cem mil homicídios no ano passado, número maior que o de vítimas no conflito da Síria em 2015. Uma guerra civil não declarada assola nosso país. Dez por cento dos homicídios do mundo ocorreram aqui. Dez por cento num país que tem menos de três por cento da população da Terra.


Neste exato momento, assisto a um tiroteio entre três facções rivais de venda de drogas no bairro da Serra, em Belo Horizonte. Os combates acontecem dia e noite. Ouvi-os sobretudo nas madrugadas, com armas pesadas, de repetição. A polícia só agora deu as caras. Há uma concentração de viaturas na praça principal do Conglomerado da Serra. Dizem que várias pessoas morreram. Entre elas, meninos de 13 ou 14 anos, que nesta semana exibiam metralhadoras pelas ruas da comunidade, orgulhosos de seu poder. E mais tarde não hesitaram em dispará-las contra os adversários.

Em BH, como no resto do país, há uma clara ausência do Estado no combate ao tráfico de drogas, vácuo que permite o surgimento de enclaves independentes dentro do país, com leis próprias, como o toque de recolher hoje em vigor numa parte do Conglomerado, implantado pelos bandidos. O Estado proíbe o consumo e o tráfico de drogas, mas não consegue impedir que aconteçam. Mudar a lei seria uma solução?

Diante do quadro, algo mais triste me assola: o pequeno valor dado à vida humana. Como disse acima, não importa o país, tampouco a época. Todos matam. Descendo ao interior da nossa sociedade, os 100000 homicídios anuais mostram que os indivíduos também matam. Somos violentos. Violentos desde que surgimos no mundo. Daí minha tristeza maior. Sempre acreditei que, no século 21, nos respeitaríamos e viveríamos em iguais oportunidades para todos. Viveríamos uma democracia. A utopia desaba. E desabamos todos juntos.

Adeus, Lula

Estava tudo combinado. O encontro comemorativo do 36º aniversário do PT marcaria a ofensiva contra o “cerco e aniquilamento” de Lula, uma fábula existente apenas nas mentes petistas. O resgate da imagem do caudilho tinha um objetivo claro: fazer do seu retorno ao trono presidencial a bandeira de coesão de um projeto de poder que pretendia ser eterno, mas que se encontra em acelerado desmanche.


As crises têm sua dinâmica. Atropelam, indiferentes, todos aqueles que a ignoram. Em poucos dias foi ao chão o cenário desenhado pela cúpula do PT. Em vez de ser o marco na blitzkrieger petista, o encontro da próxima sexta-feira estará mais para muro de lamentações ou para o réquiem do Lula-2018.

Não há a menor condição de ele ser candidato novamente, a menos que esteja disposto a se submeter a um tremendo vexame. Seu telhado de vidro é tamanho que sua candidatura dificilmente resistiria a uma semana de campanha eleitoral na TV. Lula já sairá no lucro se conseguir limpar, nos próximos dois anos, sua ficha corrida, para não entrar para a história pelas portas do fundo, se é que já não entrou.

O adeus Lula tem sua razão de ser, e vai além da prisão do satânico Dr. No, o marqueteiro João Santana. Ele próprio estabeleceu como condição para sua nova candidatura o início da recuperação da economia a partir de junho. Algo para lá de improvável.

No figurino do encontro petista está prevista a pressão das “bases” e do braço esquerdo do lulopetismo, por uma guinada na atual política econômica. Até mesmo petistas de perfil moderado que sentem a água bater no pescoço, como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, passaram a clamar pela volta do “modelo econômico da era Lula”.

Entende-se. É dureza alguém disputar eleição, seja a qual cargo for, pela legenda do PT, mais suja do que as águas do Rio Tietê, e em meio à combinação perversa do binômio recessão-inflação. Sabedor disto, Lula não só insufla as bases, resmunga também contra Nelson Barbosa, acusando-o de ter perdido o brilho e a criatividade. Vejam a celeridade da crise: tido como a grande solução para voltar fazer a economia crescer, o ministro Barbosa entrou na frigideira em tempo recorde.

A realidade insiste em conspirar contra as pretensões de Lula. Já está contratado que o PIB cairá mais 4% em 2016, que a inflação será no mínimo de 8%. Queda de juros neste ano, nem pensar, como afirmou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Sacramentou-se também um déficit público de 1% do PIB, se não ultrapassar esta estimativa.

A crise invadirá 2017, podendo se estender até 2018, como avaliam analistas responsáveis.

Lula seria candidato em um quadro de desemprego alto, inflação em disparada e economia em queda livre? Inimaginável. Provavelmente tira seu time de campo e escala outro companheiro para a tarefa ingrata de defender o “legado petista”, na próxima disputa presidencial. A conferir quem estaria disposto a ir para o sacrifício.

Esta hipótese fica mais forte diante da evidência de que marchamos para o pior dos mundos, o da paralisia total na economia, com consequências danosas para a vida dos brasileiros. Espremida pela realidade, a presidente Dilma Rousseff acena com as reformas fiscal e previdenciária, mas sua base, o PT e Lula, não querem nem saber dessa conversa. Sem poder peitar seu criador, Dilma ficará, até o término do seu mandato, com a política rame-rame de hoje. Daí não sairá coelho algum, a crise se agravará.

A última pesquisa Ibope traz um dado revelador: a imagem de Lula derrete-se tal qual gelo no asfalto. Quanto mais a operação Lava-Jato bate a sua porta, quanto mais sai do fundo do palco e vai para o primeiro plano do tablado da corrupção, mais sua queda é vertiginosa. A tendência de sua rejeição de 61% é aumentar. O Lula imbatível, aquele Messias venerado, a versão piorada de pai dos pobres, é agora espécie em extinção.

As investigações da Polícia Federal no sítio de Atibaia, no apartamento tríplex do Guarujá e as pistas que vieram à luz do dia com a Operação Acarajé deixaram o santo nu. Mostraram seus pés de barro.

A essa altura não há muito mais a fazer. Talvez se despedir.

Adeus, Lula.

No programa do PT, só faltou o Chapolin Colorado

É triste ver governantes eleitos pelo povo, mas que não podem mais sair à ruas, frequentar um restaurante qualquer, entrar numa loja ou viajar em avião comercial sem serem constrangidos e sofrerem ofensas. Em plena democracia, têm de viver na clandestinidade, evitando qualquer contato com a população. Só podem aparecer em cerimônias oficiais, cercados de assessores e áulicos, vejam a que ponto chegamos.

Treze anos depois de a esperança ter vencido o medo, o que se vê hoje é a desilusão ter derrotado a esperança. Somente em 2015, cerca de 100 mil lojas comerciais foram fechadas. Cada uma delas representa a esperança de brasileiros que perderam suas perspectivas de vida, sejam patrões, empregados ou fornecedores.

Nesta noite de terça-feira, 23 de fevereiro de 2016, tivemos mais um panelaço em resposta ao programa institucional do PT, que em nenhum momento tocou no assunto mais importante deste país – a recessão que massacra os brasileiros, lhes rouba os empregos e a dignidade. Também não falou na corrupção institucionalizada. O Brasil exibido pelo PT na telinha das TVs, no horário nobre, é coisa de marqueteiro, de quem falseia a verdade, cria factóides e tenta explicar o injustificável.

A apresentação de Lula foi patética, uma pálida lembrança do grande líder político que já foi e poderia continuar a ser. Sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff, nem coragem teve para participar do programa de seu partido. Foi convidada e se recusou, alegando problemas de agenda.

Foi muito triste assistir a este programa na TV. Só faltou aparecer o Chapolin Colorado, para justificar tudo o que foi dito, ao brandir seu slogan – “Não contavam com a minha astúcia…

Agora vai!

Essa Operação Acarajé vem para matar!

Primeiro a coisa parte dos Estados Unidos onde não tem as mumunhas que tem na Suíça, país que sempre viveu dos bandidos e onde todo mundo está sempre do lado deles. Tem fila de americano roubado pela Petrobras e isso torna esse caso todo interessante para a polícia deles. A fonte da documentação nas mãos da Policia Federal é a filial americana do banco suíço – Heritage, se entendi bem – envolvido nas movimentações de João Santana e senhora com suas offshores.

O dinheiro também não pode ser atribuído a Caixa 2 que tem sido o recurso do PT para ficar fora das grades (pois é, Caixa 2 de alguma forma “vale” neste pobre país!), é dinheiro de propina mesmo. Tem apartamento comprado em SP pelo sr. e era. Santana e pago no exterior pela Odebrecht; tem a Odebrecht escondendo operadores envolvidos nas suas falcatruas no exterior depois da prisão de Marcelo o que é, de novo, obstrução da Justiça, e tá tudo “trackeado” e documentado, tim-tim por tim-tim.

Tem até detalhes mostrando que o esquema PT x João Santana x Odebrecht x BNDES se transformou numa multinacional com troca de financiamento de campanhas por obras em El Slavador (onde o presidente eleito está sendo processado por corrupção) e possivelmente também na Argentina…

É agora ou nunca!

Com a ação pelo impeachment via TSE entrando no funil, essas bombas são decisivas: ou acabam com essa máfia ou liquidam de vez com a justiça brasileira e a gente assume de vez que é uma republica bolivariana, se as ruas deixarem.

O Brasil pode, sim, se livrar da Dilma e do PT a tempo de salvar algo pra servir de base pra um recomeço dessa economia que, com mais três anos debaixo deles, não deixa nada nem pra ser enterrado.

Que o mundo político acorde e enfrente os desafios do momento

Os mais recentes movimentos políticos do governo e do Congresso revelam que a prioridade continua sendo a defesa de interesses imediatos. Isso ficou evidenciado no empenho em influir na disputa pela liderança do PMDB na Câmara dos Deputados.

Enquanto se mexe no campo político, o governo vacila no combate ao déficit fiscal e no encaminhamento das reformas estruturais. O PT e os movimentos sociais e sindicais ligados à sigla resistem em apoiar novas medidas, como a reforma da Previdência, em especial na adoção de uma idade mínima para aposentadoria.

O discurso deve ficar mais agressivo após o ministro da Fazenda ter anunciado, na semana passada, algumas medidas de ajuste nas contas públicas, como as suspensões do aumento salarial para os servidores públicos, do aumento real do salário mínimo, de novas contratações e de concursos públicos.

Na Câmara, o embate central gira em torno da questão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Resistirá às pressões e ao andamento das investigações? Até quando? Sem uma definição clara, muitas incertezas ficarão pendentes. Quais? A tramitação do impeachment e a aprovação de projetos mais complexos, como a DRU (Desvinculação das Receitas da União) e a CPMF, vão ser lentas e sofridas.

Até o momento, as comissões permanentes da Câmara ainda não foram constituídas. Todos os anos, sua composição é renovada. Cunha está aguardando a decisão do Supremo sobre a comissão do impeachment sob a alegação de que ela terá impacto na maneira como hoje são formadas as comissões na Casa.

No Senado, seu presidente, Renan Calheiros (PMDB-AL), enfrenta o boicote de Cunha, que deseja aprovar apenas medidas e propostas iniciadas na Câmara. O PT também contesta a pauta de prioridades defendida por Calheiros, alegando que ela inclui somente projetos de interesse do PSDB, como o que impõe um limite para o gasto público com base no PIB, o que advoga a independência do Banco Central e o que desobriga a Petrobras de ser a operadora única, com participação mínima de 30% nas áreas da camada do pré-sal.

Considerando que governo, Câmara e Senado, além de divididos, possuem agendas conflitantes, os sinais de perigosa paralisia estão presentes. O que fazer? Desejar que o mundo político acorde e enfrente os desafios do momento.

Sem um amplo entendimento entre governo, oposição e PMDB, na linha do que o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), sugere em entrevista ao Blog de Josias, nada acontecerá de relevante. Muito menos a aprovação de temas expressivos em um ano encurtado pelas eleições e, ainda, pela realização das Olimpíadas no Rio.

O problema é que a possibilidade de entendimento é frequentemente afetada pelo surgimento de fatos novos que alimentam a tensão política.

A nova etapa da Lava Jato, desencadeada na manhã de segunda-feira, 22, é potencialmente preocupante para o governo. A prisão do marqueteiro do PT, João Santana, foi decretada na 23ª fase da operação. Estão sendo investigados supostos pagamentos a João Santana e a sua mulher, Mônica Moura, pela Odebrecht, em paraísos fiscais. João Santana foi responsável pelas campanhas do ex-presidente Lula em 2006 e da presidente Dilma Rousseff em 2010 e 2014.

A nova operação vem em mau momento para o governo, que tenta emplacar um conjunto de propostas para reduzir o gasto público. O episódio pode ter impacto sobre a viabilidade dessas medidas no Congresso, alimenta a desagregação na base aliada e torna ainda mais difícil um diálogo com a oposição.

Cutucando as panelas

O grande problema do PT não é produzir comerciais. Isso o partido faz em cima da perna. Mesmo com o João Santana na cadeia. A questão é escolher o que dizer ao povo. Edinho Barbosa, o novo marqueteiro da legenda, se esforçou. Mas a propaganda levada ao ar na noite desta terça-feira mostrou que lhe faltou matéria-prima. Com o material de que dispunha, conseguiu apenas cutucar as panelas com vara curta
Josias de Souza

Sem apoio de Santana, Dilma fica totalmente desorientada

O fenômeno João Santana é fruto da sinceridade do marqueteiro Duda Mendonça, que conseguiu eleger Lula presidente da República na quarta tentativa, como ocorrera antes apenas na França com o socialista François Mitterrand, que foi o primeiro tríplice coroado, digamos assim. Quando houve o mensalão, descobriu-se que Duda Mendonça havia recebido o equivalente a R$ 11,9 milhões numa conta no exterior. Na CPI que apurou o escândalo, o marqueteiro admitiu a culpa com tristeza, chegou a chorar diante dos parlamentares. O Supremo foi condescendente com ele, não recebeu condenação por lavagem de dinheiro, apenas pagou uma multa por sonegação e seguiu em frente.

Os petistas ficaram furiosos com Duda Mendonça, alegaram que se tratava de Caixa 2, prática adotada por todos os partidos, o Supremo também foi condescendente com a legenda, nada aconteceu e Lula saiu incólume. Além de não ter sofrido a hemorragia política que os tucanos esperavam (“deixem ele sangrar”, diziam), o presidente ficou politicamente mais forte, ganhou um novo mandato e ainda teve robustez para eleger e reeleger um poste (e bota poste nisso…) em sua sucessão, vejam que a política tem “razões que a própria razão desconhece”, como na música popular de Marino Pinto e Zé da Zilda.

Na campanha para reeleger Lula, em 2006, o PT contratou o também baiano João Santana, que tinha sido sócio de Duda Mendonça e havia trabalhado com ele na histórica eleição de 2002. Surgia assim o atual fenômeno da marquetagem que tem levado o partido a muitas vitórias e algumas derrotas, pois não se pode esquecer o naufrágio das candidaturas das senadoras Marta Suplicy e Gleisi Hoffmann às prefeituras de São Paulo e Curitiba em 2012.

A música popular explica tudo. Na segunda-feira, ao mesmo tempo em que o jornalista Paulo Peres publicava aqui na Tribuna da Internet a letra de Lupícinio Rodrigues que diz “nunca, nem que o mundo caia sobre mim”, na República Dominicana o mundo literalmente desabava sobre João Santana e a mulher Mônica Moura, que jamais serão os mesmos e já estão atrás das grades em Curitiba.

No Planalto, a Operação Acarajé explodiu segunda-feira como uma bomba. Embora a presidente Dilma não precise mais de marqueteiro eleitoral, pois sua carreira acabou e ela não se elege nem síndica do edifício Solaris, a participação de João Santana continuava sendo fundamental. O marqueteiro funcionava como o 40º ministro que faltava, era o único que a presidente respeitava e obedecia, como se fosse uma versão imberbe de Rasputin. Sem a ajuda de Santana, Dilma já teria sido derrubada há tempos.

Agora, a presidente terá de se virar sozinha, pois os ministros do núcleo duro são como ela, incapazes de dar seguimento a um raciocínio lógico. Mais um pouco e Dilma terá de se socorrer novamente com Aloizio Mercadante, que pelo menos sabe concatenar ideias, embora não seja nenhuma Brastemp, como disse o ainda senador Delcídio Amaral em sua mais recente declaração autobiográfica, ao desmentir que esteja disposto a denunciar outros parlamentares corruptos, caso seja cassado

O fato é que Lula, Dilma e o PT parecem estar vivendo uma fase de eterno inferno astral. Tudo dá errado para eles. Esta semana começou muito mal, com o movimento pelo impeachment ganhando força na Câmara e os líderes da oposição pressionando o Supremo a votar logo a ação sobre o rito do impeachment. Ao mesmo tempo, na Justiça Eleitoral caminham com celeridade os processos para cassar a chapa Dilma/Temer, agora abastecidos com quase 2 mil páginas de documentos enviados pelo juiz federal Sérgio Moro.

Como diz o ministro Teori Zavascki, o pior sempre está para vir. A oposição agora quer saber detalhes sobre a forma de pagamento ao marqueteiro João Santana em conta no exterior, com uso de dinheiro proveniente de propinas, através da participação de altos executivos da Odebrecht… O Planalto sabe de tudo, é claro, porque foi o atual ministro Edinho Silva que autorizou os pagamentos, como tesoureiro e responsável pelas finanças da campanha, mas os petistas alegam desconhecer a maneira como o partido pagou ao marqueteiro nessas campanhas, vejam a que ponto chega a desfaçatez aqui “do lado de baixo do Equador”, no dizer musical de Ruy Guerra e Chico Buarque.

A derrocada final de Lula, Dilma e do PT é apenas uma questão de tempo. Junto com os documentos sobre a contaminação das campanhas do PT com recursos oriundos do esquema de propinas da Petrobras, o juiz Sérgio Moro encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral a lista das testemunhas que confirmam os crimes da chapa Dilma/Temer. Realmente, a coisa está pavorosa.

Ao mesmo tempo, a situação complica-se para o ex-presidente Lula no Ministério Público Federal (tráfico de influência em benefício da Odebrecht) e no Ministério Público de São Paulo (tríplex e sítio em Atibaia). Sem falar na delação premiada de Otávio Azevedo, ex-presidente da Andrade Gutierrez, e na possibilidade de delação premiada também do senador Delcídio Amaral, que podem significar mais problemas insanáveis.

Como dizia Tom Jobim nas suas retumbantes águas de março, que este ano chegaram em fevereiro, fechando o verão – “é a lama, é a lama”. A música popular realmente explica tudo.

A eminência baiana

Míriam Dutra era saudada no fim de semana como a tempestade que varreria Fernando Henrique e PSDB para o buraco. Foi apenas um chuvisco de Verão como se previa, confirmando sua marca de denúncia articulada para aliviar a carga policial sobre Lula, PT e Dilma. Durou até mais do que deveria e ganhou manchetes desnecessárias e pirotécnicas. Está varrida como deveria ter sido desde o início.

Deram um traque e receberam de volta no colo uma bomba de muitos megatons com a prisão de João Santana, marqueteiro e eminência parda da Repúbloica Petista. Só o anúncio da prisão deixou a canalhada atordoada. (E de quebra, levaram uma bordoada de lavada por 13 a 0 no Conselho do Ministério Público, com a confirmação de quem Lula e Marisa vão depor)

Mesmo sem prestar depoimento, Pai Santana na cadeia faz tremer os alicerces da roubalheira sem contar que espalha destroço por tudo quanto é lado. 



O baiano não foi nunca um mero marqueteiro pago a ouro da Petrobras. Se alçou em eminência parda, daquelas bem enlameadas, da República da Estrela. Impossível negar seu livre trânsito nos sinistros corredores do Planalto e Alvorada, ou refutar sua influência principalmente sobre o que fala de Dilma e como deveria se comportar.

Pai Santana esteve presente em todos os momentos mais críticos do governo. Nunca antes neste país se ouviu e acatou tanto a opinião de um sem cargo. Dilma se socorria a todo momento das rezas de Pai Santana para (tentar) conter sua vertiginosa queda.

Os conselhos do marqueteiro eram inclusive acatados de joelhos e mãos postas pelos mais fiéis correligionários da confraria.

O Brasil assistiu ao espetáculo promíscuo de uma presidente, legitimamente eleita, conviver mais com o pajé conselheiro do que com os próprios ministros. Dilma preferiu a benção do baiano do que sugestões ministeriais.

O que fica dessa convivência espúria de marqueteiro tão íntimo do governo, como um Rasputin tropical, é mais uma desmoralização do governo Dilma. Isso apenas no momento. Faltam as investigações descobrirem as cifras o povo brasileiro pagou pelas consultas de Pai Santana para que o País Maravilha continuasse a ser movido por propina e mentiras.

Se Dilma esperava entrar gloriosa pela porta da frente da História, vai acabar se contentando com a serventia da casa. Não será por causa da crise externa, mas por desmérito próprio.

Brasil, um país em 'permanente violação de direitos humanos'


O relatório “Estado dos Direitos Humanos” de 2015 que a Anistia Internacional vai enviar à presidenta Dilma Rousseff, ministros e governadores tem, infelizmente, muito em comum com o Brasil do passado. A morte de jovens negros, as execuções extrajudiciais, os abusos policiais, a falta de transparência e a vulnerabilidade dos defensores dos direitos humanos em áreas rurais continuam sendo, e isso há cerca de 30 anos, as maiores preocupações da ONG britânica, sem que as autoridades tenham se mobilizado de forma efetiva para mudar o cenário.

“Ao longo dos últimos anos viemos alertando sobre os mesmos problemas. O Brasil vive em estado permanente de violação de direitos humanos de uma parcela importante da sua população. E é uma violação altamente seletiva”, lamenta Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil. “O país avançou muito na conquista de direitos, basta pensar nas políticas de redução de pobreza, mas manteve-se um alto grau de violações em outras esferas”.

A novidade deste ano vem das mãos de alguns congressistas e senadores que, segundo a organização, têm se esforçado em ameaçar as conquistas de direitos humanos, alcançadas desde o fim da ditadura militar. A ONG destaca uma série de propostas de lei desengavetadas no ano passado e que, se aprovadas, vão significar um “enorme retrocesso no marco constitucional”, lamenta Roque. Entre elas está a emenda à Constituição que reduz a idade em que crianças e adolescentes podem ser julgados como adultos (de 18 para 16 anos) ou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 que transfere para o Poder Legislativo a responsabilidade por demarcar terras indígenas. A organização expressa sua preocupação também diante da proposta de lei, de autoria do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que dificulta o atendimento de saúde a mulheres vítimas de abuso sexual, e da aprovação de uma lei antiterrorismo quepossa criminalizar manifestantes.

O número de homicídios no Brasil –mais de 58.000 por ano, segundo o último relatório do Fórum de Segurança Pública – continua sendo alarmante, segundo a Anistia. O capítulo dedicado ao Brasil no relatório critica que o Governo Dilma Rousseff ainda não tenha implementado o Plano Nacional de Redução de Homicídios, prometido em julho. “O número absoluto de homicídios é uma calamidade que chama a atenção há muito tempo não só da Anistia, senão de muitas outras organizações, e a sociedade continua olhando para outro lado”, afirma Roque. O foco dessa violência, como demonstram os números da letalidade no Brasil coletados pelo Fórum, continua sendo o mesmo: jovens e negros das periferias.

“Isso fica ainda mais grave quando olhamos para o papel que o Estado tem nesse volume de homicídios. Uma parte grande dessas mortes são causadas pela polícia em operações formais ou paralelas, em grupos de extermínio ou milícias”, explica Roque. Alguns casos que saíram à luz em 2015 ilustram bem essa realidade. A chacina de Osasco (São Paulo) onde, em apenas uma noite, foram assassinadas 18 pessoas supostamente por policiais ou a execução de cinco jovens com mais de 100 tiros de fuzil vindos de policiais militares em Costa Barros, um subúrbio do Rio, foram só algumas delas.

A impunidade costuma ser, segundo a Anistia, uma constante. Segundo o relatório, “policiais responsáveis por execuções extrajudiciais desfrutaram de quase total impunidade”. A ONG ilustra sua conclusão com dados da cidade do Rio de Janeiro e critica a ausência de dados que permitam calcular o impacto da violência policial no país. “Das 220 investigações sobre homicídios cometidos por policiais abertas em 2011, houve, até 2015, somente um caso em que um policial foi indiciado. Em abril de 2015, 183 dessas investigações continuavam abertas”, afirma o documento.