sexta-feira, 19 de junho de 2015

O sonho liberticida

No happening do 5º Congresso do PT, em Salvador, o ex-presidente Lula festejou, com a agressiva insolência de sempre, a crise das empresas de comunicação.

Ele disse que o setor é o que mais desemprega no Brasil atualmente. Em seguida citou o número de demissões de jornalistas na Folha, no Estadão, e disse que a Abril teve que abrir mão da metade do prédio que ocupa. Acusou esta última de “editar a revista mais sórdida que se publica neste país”.

Lula disse que “pelo jeito as pessoas não querem mais ler as mentiras que eles publicam”.

Ao publicarem a notícia da fala do ex-presidente, os jornais estariam, sim, mentindo. Ou pelo menos, reproduzindo as mentiras contidas na fala de Lula.

Talvez as pessoas não queiram mais ouvir as mentiras que o ex-presidente e a sua sucessora contam.

O setor da comunicação não é o que mais desemprega no país atualmente. Graças à extraordinária habilidade com que o governo Dilma aplicou a sua “nova matriz macroeconômica” e as pedaladas fiscais que agora terá que explicar ao TCU, o desemprego bate forte na indústria automobilística, na construção civil, nas telecomunicações; só as empresas envolvidas na Operação Lava Jato tiveram que demitir 10 mil pessoas na construção naval.

O prazer sádico com que Lula anunciou aos delegados do Congresso - onde o PT fez de tudo menos lavar a sua própria roupa suja - as demissões de jornalistas, foi saudado pela plateia com os tradicionais gritos de “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.

Uma festa insana, onde delegados do Partido dos Trabalhadores festejaram aos gritos a demissão de trabalhadores.

Com a obediência devida à inspiração do supremo líder, o secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo, Jilmar Tatto, resolveu adaptar a palavra de ordem do chefe ao seu peculiar e delicado senso de humor. Ao receber repórteres da Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo para uma entrevista coletiva, tripudiou: “vocês ainda não foram demitidos?” (o internauta e jornalista Renzo Mora sugeriu apropriadamente no Facebook que os repórteres deveriam ter respondido: “E o Sr. ainda não foi preso?”)

De resto, a performance do supremo líder diante da plateia do 5º Congresso, sublinhada pela tonitruante rouquidão que se acentua nos ataques às “elites" e à imprensa, e que sempre termina com o complemento “deste país”, nada mais fez do que reafirmar aquilo que todo mundo já sabe: o PT, a partir do seu andar de cima, até os militantes amestrados cujos cérebros baldios decoram e repetem palavras de ordem, não suporta a liberdade de imprensa.

Uma visceral incompatibilidade de gênios, muito embora a construção de toda a narrativa mitológica em torno da reencarnação do pai dos pobres tenha contado desde sempre com a prestimosa colaboração da mídia independente, que carregou nos ombros como se fosse uma imagem santa, o andor do metalúrgico rebelde de Vila Euclides.

Além do reflexo da crise da estagnação da economia, presenteada pelas heterodoxias econômicas do trio Dilma-Mantega-Arno Agustín, a indústria da comunicação passa pela crise da transição das plataformas de papel para as plataformas digitais, mas nem o PT nem Lula têm qualquer espécie de colaboração a oferecer na solução desse dilema, mesmo porque não o entendem.


Por eles, seria melhor que tudo desaparecesse, e que as mídias se transformassem em porta-vozes em defesa de seus desatinos e caprichos. Uma imprensa “yes man”, que não publique fatos, que não investigue, que não questione, que não indague, que não conteste, que se ajoelhe aos superiores interesses do partido que pretende ser nosso farol e guia.

Por trás do discurso raivoso do chefe do PT comemorando a demissão de jornalistas está o incontrolável instinto liberticida de quem não suporta ser contrariado e desmistificado em público.

Os governos, os partidos e os caudilhos passam. A democracia sobrevive, mas só com a imprensa livre.

A mão direita do PT

O PT quer elevar a carga tributária. Acalenta a restauração da velha e primitiva Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta pelo Congresso em 2007. E defende que os detentores de “grandes fortunas” sejam submetidos a tratamento fiscal mais severo.

A volta da CPMF é uma fixação de Lula. O ex-presidente jamais se conformou com a derrota que sofreu no Senado, no seu segundo mandato, quando tentou prorrogar por mais alguns anos a cobrança da contribuição provisória. Sempre que pode, se queixa amargamente de ter sido privado de receita tão farta e fácil como a que provinha da CPMF.

Já o tratamento fiscal mais severo a “grandes fortunas” tem sido tratado no PT mais como uma bandeira, que ajuda a mobilizar a militância, do que como questão que já mereça proposta detalhada, respaldada pelo partido. A cúpula do PT parece nutrir certo desalento com a possibilidade de que a questão encontre a ressonância requerida no Congresso.

Por realista que seja, tal desalento não deveria impedir que o PT exerça pressão sobre o governo para assegurar, por outras vias, tratamento mais severo a detentores de “grandes fortunas”. Se quiser de fato levar a sério tal objetivo, o governo dispõe de amplo leque de iniciativas possíveis, fáceis de implementar. Duas delas merecem destaque.

O governo poderia começar por desmantelar a grotesca concessão de subsídios bilionários a detentores de “grandes fortunas” que, há anos, vem sendo alegremente patrocinada pelo BNDES, com recursos do Tesouro provenientes da emissão de dívida pública. Os desdobramentos desse despropósito vêm se tornando a cada dia mais nítidos. E o próprio governo já não consegue disfarçar o seu desconforto.


Outra lamentável política de farta transferência de renda a detentores de “grandes fortunas” é a que vem conferindo privilégios injustificáveis a produtores nacionais de bens de capital, ao exigir percentuais absurdamente altos de conteúdo local em equipamentos utilizados na exploração do pré-sal. Por encarecer de forma indefensável os custos dos investimentos requeridos no pré-sal, tal política implicará redução substancial da parcela do excedente da exploração que, afinal, estará disponível para financiamento da educação e da saúde no país.

Não bastasse tudo isso, a política de conteúdo local vem engrossando o caldo de cultura em que prolifera a corrupção. É só ler os jornais. Caso emblemático foi reportado pelo “Estadão”, em 5 de junho. O dono de uma grande empreiteira reconheceu ter pago US$ 120 milhões de propina para obtenção de um contrato de US$ 3,4 bilhões, para construção de cascos de plataformas em estaleiro gaúcho, adquirido pela empresa com oportuno financiamento de um fundo de pensão de funcionários de uma instituição financeira federal. Um circo de horrores.

Tanto no caso do BNDES como no da política de conteúdo local, os grandes agraciados tentam agora brandir os empregos que teriam sido criados graças às generosas benesses que receberam. É preciso lançar luz sobre as duas políticas e fazer as contas cabíveis, na linha do que alguns analistas já vêm fazendo. Tendo em vista a magnitude da geração de emprego associável a tais políticas, será difícil justificar custos sociais tão altos e redistribuição tão perversa de renda patrocinada pelo próprio governo. Há formas bem mais baratas e menos iníquas de gerar empregos.


Já é hora de o PT reconhecer um fato que salta aos olhos. Se, de um lado, os governos petistas levaram adiante programas inegavelmente exitosos de redistribuição de renda, como o Bolsa Família, de outro, se permitiram adotar, com apoio entusiástico do partido, políticas escancaradamente concentradoras, que implicaram transferências colossais de renda e riqueza a detentores de “grandes fortunas”. Enquanto tentavam minorar a concentração de renda com a mão esquerda, a agravavam com a direita.

É preciso, agora, sustar com urgência a concentração de renda e riqueza que vem sendo imposta pela mão direita do PT.

A árvore e a fé

Diante do horror das decapitações e das demolições de monumentos arqueológicos, contemplo as árvores da chácara.

As árvores são o contrário dos fanáticos, que pregam uma só crença para todos, sob pena de morte, e com regulamentos de todo tipo para a vida. Não vestir isto, não comer aquilo, rezar assim-assim.
Enquanto isso, as árvores são fontes de vida e generosidade. Não dão apenas sementes, para reprodução, mas sementeiam e frutificam para os pássaros, os bichos, os humanos, como também dão folhas para a terra, flores para o vale, galhos para o vento, perfumes para a noite, oxigênio para o planeta.

Porque existiriam tantos frutos da terra se não fosse para todos serem comidos ou de alguma forma transformados? Porque existiriam tantos frutos do mar se não fosse para todos terem o direito de lutar pela vida? A vida não pode ser, além de uma luta, também uma festa em vez de apenas arena de sacrifícios?

A árvore não escolhe onde nasce, nem nós.

A árvore estará condenada a viver com mais ou menos sol e vento, em terra boa ou ruim, conforme onde germinar a semente. Também gente será católica, evangélica ou islâmica conforme o país e a família onde nascer, como também poderá mudar de crença quando crescer, ao contrário da árvore que é transformada em móveis ou lenha.
Se temos essa liberdade de mudar, não será por criação divina? Querer que todos tenham a mesma crença não será o mesmo que querer que todas as árvores sejam iguais? Como haveria frutos se só houvesse pinheiros?

A variedade é o fermento da democracia, como a uniformidade é o cimento do fanatismo. O fermento faz a massa crescer, o cimento é massa morta, condenado à erosão.

O democrata abraça e confraterniza, o fanático rejeita e agride. Um culto ecumênico é tão mais bonito quanto mais religiões congrega, do católico ao umbandista, do evangélico ao espírita, do budista ao ateu. Sim, o ateu consciente não só respeita como participa do ritual ecumênico, como o cacto participa do jardim e também dá flores e frutos.

Sim, Putin é o novo Hitler e o Estado Islâmico é o novo nazismo. Mas Mandela não morreu. Ghandi continua tecendo sua roca. Tenhamos fé no jardim da vida. A árvore da democracia tem apenas dois mil anos, e continua a crescer e se transformar. Os martelos, as foices, as picaretas e as bombas não vencerão, porque o destino humano é melhorar , tenhamos fé.

Boto o ponto final nesta crônica, olho pela janela e – surpresa – a laranjeira começou a florir! Vou lá cheirar o perfume, eis que onde enterrei lixo orgânico a seu pé, está brotando uma aboboreira. E a palmeira-real abriu seu cacho de flores brancas que virarão coquinhos vermelhos. Como não ter fé na vida e na sua variedade?

Domingos Pellegrini

Uma pátria educadora é feita de cidades educadoras

Faz quase seis meses que a presidente Dilma lançou o lema, mas até hoje não definiu como seria a pátria educadora nem o que seu governo fará para construí-la.

Por falta de definição da presidente ou dos marqueteiros que criaram o lema, devemos imaginar como seria a pátria educadora e o que fazer para construí-la.

A condição fundamental, óbvia, é ter todas as crianças em escolas com a máxima qualidade, o que exige: professores muito bem-preparados, escolhidos entre os melhores jovens da sociedade; para isso, eles precisam estar entre os profissionais muito bem-remunerados, todos bem selecionados e avaliados permanentemente; os prédios das escolas entre os mais bonitos, limpos e confortáveis, com os mais modernos equipamentos de tecnologia da informação, bibliotecas, ginásios poliesportivos e facilidades culturais; todas as crianças em horário integral, durante os 220 dias de aulas por ano, sem paralisações. Quando todas as cidades forem assim, a pátria educadora não terá analfabetismo de adultos, e todos os seus jovens concluirão, na idade certa, o ensino médio, com a qualidade ofertada nos países mais educados do mundo. Para isso, a pátria educadora precisará ter todas as suas cidades educadoras.

A pátria educadora só pode ser construída escola por escola, cidade por cidade, mas cada uma necessita de esforço nacional para apoiá-la. Para fazer suas cidades educadoras, o Brasil precisa adotar a educação de suas crianças, independentemente da cidade onde vivem e estudam.

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Isso não será possível cortando recursos do Ministério da Educação nem prometendo os simbólicos 10% do PIB ou os royalties de um pretenso pré-sal de tamanho insuficiente para as necessidades da educação brasileira. Muito menos deixando a tarefa de construir a pátria educadora para as pobres e desiguais prefeituras do Brasil. Deixar a educação nas mãos das cidades é manter as escolas sem os recursos humanos, financeiros e técnicos necessários e também continuar com nossas crianças em escolas desiguais, conforme a renda dos pais e o orçamento da cidade onde vivem.

A simples evolução do atual e degradado sistema escolar municipal não vai permitir construir a pátria educadora; o Brasil precisa implantar um novo sistema educacional, substituindo as atuais escolas num processo ao longo de anos. Uma cidade educadora custa R$ 10 mil por aluno por ano; para atender 51,7 milhões de alunos em 2035, seriam necessários R$ 517 bilhões. Se o PIB e a receita do setor público crescerem a uma taxa de apenas 2% ao ano, em 2035 o Brasil vai precisar de 6,2% do PIB para transformar o atual sistema da pátria deseducadora no novo sistema federal da pátria educadora; ou seja, 0,5 ponto percentual acima dos 5,7% do PIB gastos atualmente, metade dos 10% determinados pela lei do PNE.

Isso só será possível com a união de todos os brasileiros assumindo a responsabilidade pela educação de todas as crianças do Brasil, não importa a receita fiscal nem a vontade do prefeito da cidade onde elas vivam.

Política de interesse


Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações. 

A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela inveja, pela intriga, pela vaidade, pela frivolidade e pelo interesse. 

A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali luta-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos; ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em volta daquela arena enxameiam os aventureiros inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos; há a tristeza e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-se, foge-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali com dor e com raiva. 

À escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade.
Eça de Queirós (1845 - 1900) 

Primeiro andar do PT ensina como jogar sujo


Lula e o PT são craques em se vitimar. Na semana passada, em Salvador, por exemplo, Lula se apresentou como vítima de uma campanha mediática jamais vista interessada em destruí-lo.

No ano passado, durante comício de Dilma em Belo Horizonte, Lula ouviu a leitura de uma carta por uma petista que acusava Aécio Neves, então candidato do PSDB a presidente, de gostar de agredir mulheres. E também de se envolver com drogas.

Dez dias depois, em Porto Alegre, foi a vez de Dilma ouvir acusações semelhantes.

Nem Lula desautorizou os ataques sórdidos, nem Dilma. No caso de Lula, ele chegou mesmo a sugerir que Aécio gostava, sim, de agredir mulheres.

Com tais exemplos vindos do andar superior do PT, como a militância se comportaria?

A repórter Daniela Lima informa que um diretor do Ministério do Desenvolvimento Social “é dono de um perfil em redes sociais que, segundo a Justiça de São Paulo, disseminou mensagens na internet vinculando o senador Aécio Neves (PSDB-MG) a apreensão de drogas”.

Nome do diretor: Luiz Müller, militante do PT do Rio Grande do Sul. Sua área de atuação no ministério é vinculada à Secretaria Extraordinária de Superação da Extrema Pobreza (SESEP).

Müller é um dos alvos da ação que Aécio move na Justiça desde o ano passado para ter acesso aos dados de internautas que publicaram mensagens em redes sociais vinculando o nome dele ao consumo ou tráfico de drogas.

É o segundo caso de um servidor federal que atuou nas redes durante a campanha presidencial de 2014 e comprovadamente caluniou e difamou Aécio. O primeiro caso foi de Márcio de Araújo Benedito.

Para difamar Aécio, ele se valeu das redes do Ministério da Fazenda e do Serpro, estatal responsável pelo sistema de tecnologia da informação de todo o governo federal.

Benedito é chefe da divisão de "projetos e tecnologias educacionais" do Serpro em Belo Horizonte.

De volta a Müller. O que ele alegou em sua defesa? Escreveu em seu blog:

- Reproduzo no perfil do Twitter textos deste e de outros blogs, com conteúdo e argumentos. Nunca fiz nenhuma 'acusação' a ninguém e a nenhum candidato. Publico neste blog e repercuto no Twitter ideias e propostas e contesto com argumentos, ideias e propostas das quais eu discordo.

E escreveu mais:

- Os representantes do neoliberalismo têm medo dos que professam ideias. Por isto acusam a mim e a outros tuiteiros. Querem calar os que contestam o entreguismo do patrimônio nacional, explícito em seus programas. Não me calarão. Ajudei a construir o PT. E junto com tantos milhões de Brasileiros ajudamos a eleger um operário e uma mulher para a Presidência da República..

Sapos a la gauche


Eu, você e mais 200 milhões de brasileiros somos parte daquela experiência do sapo na panela no fogão aceso. A historinha – que não sei se é verdadeira, mas que parece ser – conta que, se jogado na água fervente, um sapo daria um pulo heroico para fora da panela, não antes de ser “selado” pelo líquido a 100 graus. O salto para fora da água, entretanto, a despeito de algumas queimaduras, manteria o sapo vivo e bem mais esperto. Se, ao contrário, o sapo fosse jogado na água fria e esta fosse aquecida lentamente, o sapo não se aperceberia do aumento gradual da temperatura e morreria cozido em fogo lento. Nós somos esses últimos sapos aí.

O fogo lento é o que o PT faz com o Brasil - queda do PIB, da produção industrial, o aumento envergonhado do desemprego e outros indicadores em desatino. O calor que aquece o “caldo” onde nós, sapos, estamos embebidos, é a falta de respeito, de competência, de honestidade e de credibilidade do governo petista. Já estamos a cerca de 60, 70 graus. Está quente aqui dentro do Brasil, mas será que vai refrescar? Essa é a esperança tola e ingênua que ainda, por incrível que pareça, demonstram lideranças empresariais, políticas e formadores de opinião. Pois não vai refrescar. Vai esquentar ainda mais e não podemos mais pular pra fora da água.

imageSó resta uma possibilidade, para dar fim a esta historinha do sapo na panela: Desligar o fogo!
Para isso, temos que sonhar com a saída do PT do governo federal e de todo e qualquer ente federativo. Está mais do que provado que a esquerda brasileira não sabe governar, não têm noções gerenciais mínimas, não tem responsabilidade fiscal, não respeita regras e faz pouco caso de contratos. A esquerda brasileira, responsável pelo fogaréu inclemente que cozinha a todos nós, sapos covardes e medrosos de todas as matizes políticas, mente e mente sem parar, engana e não tem mais noção alguma de certo e errado, de bem e mal, de lícito e ilícito, de moral e de ética.


O estado de direito é a mão que ainda não chegou ao fogão para desliga-lo. As instituições brasileiras são fiascos históricos: O judiciário é, na verdade, o Doutor Sérgio Moro, com a fiel ajuda da Polícia Federal. Nada mais. A oposição é a dupla Aécio e Caiado, sem esquecer de bravos Lorenzonis e mais três ou quatro homens com H maiúsculo. Mulheres? Nenhuma. Marina Silva? Piada. Dilma faz balãozinho com ela. Não há mulheres com M maiúsculo na política brasileira. Há dezenas de mulheres “honestas” como Dilma na política. Mulheres honestas sem aspas há poucas e silenciosíssimas. A imprensa é também apenas uma dupla: Veja e Rede Jovem Pan. O resto possui a mesma “valentia” da turma do sopão de sapos nacional.

Há que se desligar o fogo. Ele está quase matando a saparia.


O TCU denunciou as pedaladas e deu ele mesmo um tapa na mão. Será que o país aguenta mais 30, 60 dias? O Petrolão está virando fofoca e nada é capaz de fazer diminuir a caloria que aumenta. As instituições estão caladas. Será que já morreram em banho-maria? Os sindicatos estão silentes, escondidos. As pessoas que saíram às ruas em março e abril parecem não estar mais com vontade de protestar. As lideranças empresariais ainda brincam de acreditar que as coisas podem melhorar e nós brincamos de concordar com elas. A piscina onde os sapos fervem logo nos matará a todos.

E Lula? Esse aí é o grande fornecedor do gás que, quando não provê a chama que arde, mata por asfixia. Lula é o grande mal do Brasil. Lula é o mal do Brasil. Lula é mau. E o tempo passa, o tempo voa e só Lula e Dilma continuam numa boa. Alguém por favor, desligue o fogão! Lula e Dilma têm de ser detidos.

No mato sem cachorro


Executado inteiro o “ajuste” já não nos levaria longe. Consiste, como sempre, em aumentar tarifas e impostos, reduzir a renda privada e cortar investimentos para sustentar os gastos do estado no novo patamar a que chegaram. É mais um arranjo para evitar que se manifestem inteiras as consequências da nossa incapacidade de repactuar a distribuição de haveres e deveres entre o Brasil que paga os impostos e o que os arrecada para habilitar-nos a passar a disputar vitórias em vez de seguir postergando derrotas certas, sempre no limiar da sobrevivência.

O próprio “tripé” que rendeu nosso melhor momento em um século era um arranjo precário; uma espécie de “cortisona” tomada em doses diárias para permitir ao paciente conviver em relativo equilíbrio com a doença crônica que não se dispõe a enfrentar, e não uma cura.

Nós nunca revogamos nada do que nos vem comendo pelos pés. O estado brasileiro só tem porta de entrada. A norma fundadora do sistema que aqui aportou com d. João VI é que cada ungido pelo toque de midas dos “de dentro” torne-se um deles para todo o sempre. É em torno da compra e venda dessa “salvação eterna” ainda em vida que se estrutura o anel de ferro que o sustenta.

Ao fim de 300 anos dessa ordenha, tudo que o Brasil dos miseráveis não tem é o que obscenamente sobra no Brasil oficial. Os direitos gerais só passarão a caber na conta quando os “direitos especiais” deixarem de pesar nela. O drama brasileiro — as crianças sem futuro, os doentes no chão dos “hospitais“, os 56 mil assassinados por ano, a corrupção epidêmica — tudo é mera consequência dessa premissa.

Não ha brasileiro vivo que não saiba disso, mas até as verdades mais evidentes precisam ser repetidas todos os dias em voz alta para se impor.

Neste momento, a ancestral mentira brasileira estrebucha pela enésima vez no seu próprio paroxismo. A conta é proporcional ao tamanho da trapaça e nunca antes ela foi tão grande na história deste país. O desastre lulopetista, que está apenas começando, é daqueles capazes de levar espécies inteiras à extinção. Vai-se abrir uma dessas raras janelas de oportunidade que só o sofrimento extremo proporcionam, com o potencial de alterar a própria ecologia do sistema.

O século 20, quae sera tamen, está chegando ao fim também no Brasil. Ninguém que o represente representa, já, a plateia que vaga pelas ruas. E no entanto ainda é ele e a linguagem dele que dominam reacionariamente o palco.

Não se reconhecem mais, esses dois brasis e é aí que moram a esperança … e o perigo!

A destruição do aparato nacional de educação é a obra mais bem acabada do partido que pavimentou o caminho do primeiro presidente-operário a chegar ao poder nas américas, apenas para provar mais uma vez que a humanidade é uma só, de cabo a rabo, só que com a força dos seus piores vícios multiplicada pela ausência dos matizes críticos com que a educação formal, bem ou mal, acaba por diluí-los. A “educação” que sobrou não é o antídoto, é o veneno. O que resultou dessa desconstrução é um discurso político reduzido a um maniqueísmo primário, da ante sala da conflagração, incessantemente derramado sobre um país sem repertório para definir um projeto nacional.

Sendo característico dos sistemas de servidão que quem provoca as crises não as sofre, os ventos que neste momento arejam o Brasil não sopram em Brasília. Lá, onde a maré é eternamente montante, ninguém nunca é demitido e os salários nunca param de subir é à conquista do poder como ele sempre foi que tudo se refere. Os contendores posicionam-se exclusivamente uns em relação aos outros. O Brasil real não conta. “Se ele é contra eu sou a favor“, e vice-versa. A “primeira divisão” disputa poder político e dinheiro. A segunda só dinheiro e o poder que com ele se compra. Mas preservar o úbere onde todos mamam é o valor maior que, nas emergências, se alevanta.

O terceiro elemento, intocável no seu pedestal, divide-se entre a minoria heróica que resiste reduzida a um papel de polícia, tolerada pelos demais por falta de remédio melhor, e a linha de frente corporativa pela qual a maioria dos acomodados omissos deixa-se docemente constranger cuja função é sangrar repetidamente a nacionalidade e o Tesouro mediante a articulação do “auxílio” ou do “reajuste retroativo” de cada temporada.

Fecha o quadro o “quarto poder” que — embora não dispute o mesmo queijo dos demais — vive hipnotizado pela mixórdia que eles protagonizam. Não olha para fora, não apresenta as alternativas do presente, não pesquisa as que redimiram outros povos no passado. Limita-se a reproduzir a cena doméstica segundo a linguagem e a pauta dos outros três — quem “ganhou“?; quem “foi derrotado” no último crime de lesa pátria? — o que mantem o limite do possível no imaginário nacional exatamente onde o Brasil oficial quer que ele permaneça.

“O país não avança porque não sabe onde é necessário chegar. Para sabê-lo com certeza, era preciso ir ao fundo das coisas, e ao fundo das coisas só se chega com a crítica“, é a citação do mexicano Daniel Cosio Villegas que Carlos Guilherme Mota e Adriana Lopez usam como mote do último capítulo da sua História do Brasil que um qualificado leitor define como “um extraordinário estudo sobre a resiliência do continuísmo“, a marca renitente da nossa trajetória histórica ao longo da qual, “todas as raras oportunidades de rompimento com o passado que aparecem acabam por ser reprimidas“.

A repressão da próxima, cujos protagonistas já se apresentaram com seus “generais” e “exércitos“, passa pela anulação, ainda que “em vida“, dos dois poderes cuja credibilidade o terceiro vem trabalhando abertamente para corromper.

Falta quem, pelo outro lado, levante uma bandeira digna de ser seguida para limpar o sistema “por dentro“, porque se ha uma coisa que o Brasil aprendeu de 1964 a 85 e nossos vizinhos comprovam todos os dias é que, se vamos mal com eles, pior iremos sem eles.

Fernão Lara Mesquita

Financiamento do consumo e investimento social

Mais de metade das famílias brasileiras está endividada, um numero recorde da última década, e o modelo errático consagrou o financiamento do consumo, mas bem melhor seria se expandisse a todos a possibilidade da inclusão social.

Em linhas gerais, como a grande parte da população é assalariada o sistema de consignado, empréstimos e principalmente financiamento de veículo, não logrou pleno êxito. E isso sem falar na casa própria hoje com financiamentos que levam trinta anos e colocam os mutuários debaixo das agruras de um emprego fixo e capacidade econômico financeira para liquidar o financiamento.


A concentração de renda é um problema jamais combatido. Não nos parece que tributar o andar de cima resolva, mas encontrar nas grandes fortunas uma oportunidade e chance de aquinhoar os menos favorecidos. Depois de alguns anos vivendo esse circulo vicioso o governo se deu conta que além do endividamento estaria levando a risco muitas entidades financeiras em razão do calote.

Os juros subiram e os gargalos aumentaram, uma vez que o governo retirou os subsídios e a redução dos impostos foi gradualmente revista. A estratégia falhou e isso é fato notório, não houve uma correção da curva e nem tampouco de rumo.

Hoje o consumidor se sente preocupado e não vai as compras com tanto impulso ou entusiasmo. Aqueles capazes economicamente saem do País. Não se praticam preços de mercado, mas exacerbados, além do que o Estado deveria ter como norte ampliar e melhorar a rede pública de transporte, saúde, e porque não dizer fundamentalmente educação.

No entanto, não foi o que observamos. Pioraram o nível das escolas públicas, do atendimento à camada da população necessitada e o transporte igualmente. Assim tudo ficou mais caro e de pior qualidade.

O mercantilismo prepondera,mais ainda diante da tibieza do Estado e do fortalecimento de fundos que se cercam da crise e se tornam operantes para comprar e investir a pleno fôlego em razão de iliquidez do crédito.


A reversão do sistema é fulcral. Não adianta financiar o consumo se o consumidor não tem renda ou emprego garantido. Mais cedo ou mais tarde se tornará um inadimplente, e nunca antes se viu tanto registro de cadastro da impontualidade.

O caminho natural seria que se ocupasse o Estado do social, com investimentos pesados no transporte, na saúde, e na educação, com qualidade e aumento dos salários dos servidores, mas apostou no individual e errou gritantemente.

Outro aspecto relevante, no Brasil se pratica um preço muito salgado, e nem se quiser pagar à vista há desconto. O comerciante, lojista, olha com desconfiança e se vale da financeira para receber, não se importando se o consumidor vá pagar em dinheiro ou no cartão. O que lhe interessa é receber.

Errático na implementação de um programa que não mostrou musculatura para ir à frente, agora praticamos o ajuste fiscal. Tantos impostos foram retirados da indústria, com desoneração, e a conta final será do contribuinte.

Não nos iludamos, o financiamento do consumo por agentes capitalistas é uma bola de neve, que mais cedo ou mais tarde aparece, e a quebradeira demonstrará a desilusão de se investir no pessoal e não no coletivo, que poderia ter sido uma grande alavanca de criação de empregos, aumento de renda, crescimento e desenvolvimento.