quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

A equilibrista


Lula manda e Dilma tem que obedecer

A confusão no Triângulo das Bermudas (Planalto, PT e Instituto Lula) é como a antiga anistia – ampla, geral e irrestrita. Em meio à derrocada do esquema de sustentação do poder via corrupção na Petrobras e em outras fontes como o mensalão, a presidente Dima Rousseff agora se omite e deixa o barco ir à matroca, como se dizia antigamente, enquanto um desgastado e repetitivo Lula volta à cena para retomar indiretamente o poder e mostrar quem está no comando.

Depois do desmoralizante discurso do procurador-geral Rodrigo Janot, Lula já mandou a ex-gerentona demitir a diretoria da Petrobras e ela vai obedecer, claro. Mas Dilma está na mesma situação que enfrentou no Ministério da Fazenda. Também no caso da Petrobras, ela procura um nome de respeito, que inspire confiança e seja inacatável, mas não encontra ninguém que aceite o sacrifício. Portanto, da mesma forma como Lula mandou que Dilma aceitasse Joaquim Levy, que estava no terceiro escalão do Bradesco, agora ele vai indicar o novo presidente da Petrobras.

Ao mesmo tempo, o ex-presidente quer preencher todos os espaços, mudar a direção do PT e criar no partido o que ele intitulou de “gabinete da crise”, embora nem mesmo ele saiba o que seja isso e como funcionaria, é apenas um “factóide”.

O fato que desponta sem a menor dúvida é que Dilma Rousseff naufragou. Quando se pensava que ela enfim iria se consolidar no poder, livrando-se da incômoda e persistente influência de Lula, ocorre justamente o contrário. A criatura se mostra fraca e omissa, o criador agradece e retoma o poder.

Mas a realidade é dura. Por mais que Lula tente consertar as coisas, a situação já fugiu inteiramente ao controle, o prestígio do governo junto à opinião pública independente, digamos assim, já é zero. A grande imprensa mostra um governo em ruínas, em meio a uma gravíssima crise econômica e moral. O governo só é defendido pelos sites e blogs sustentados pela máquina federal, via Petrobras (olha ela aí de novo!), Banco do Brasil e Caixa Econômica. E a tendência é piorar.

Leia mais o artigo de Carlos Newton

O cadáver global


A corrupção, com suas mais variadas e sofisticadas máscaras, é o cadáver global em fase de decomposição que mais aproxima os cidadãos de todo mundo.
J. Ernesto Ayala

Maior escândalo vai estourar no BNDES

É raro achar um político que goste do procurador Helio Telho Corrêa Filho. Além de já passado pelo Ministério Público Eleitoral em Goias, deixando estragos em várias candidaturas com gastos suspeitos nas eleições de 2004 e 2006, ele usa as redes sociais para dizer o que pensa — e geralmente o que ele pensa é o antônimo do que um questionável ocupante de cargo público consideraria um elogio.

Dessa forma, ele consegue a antipatia de partidários de todas as correntes. Ser tido por tanta gente diversa como “persona non grata” não parece lhe incomodar. Sobre a crise da Petrobras, Telho diz que o pior ainda está por vir, diz ele. “Nós ainda vamos ver o maior escândalo de corrupção. E será no BNDES. Se na Petrobrás havia o TCU [Tribunal de Contas da União] investigando e denunciando fraudes, do BNDES nós não temos nada, não sabemos nada”, alerta o procurador, que estabelece até um prazo máximo para os novos podres virem à tona: dois anos.

— O sr. diz que se surpreende que as coisas tenham crescido. A coisa não cresceu dentro da Petrobrás justamente porque o “status quo” de poder instalado na República hoje está profundamente implicado, e isso serve para financiar o partido do governo e seus aliados privilegiados?

Se o sistema favorece a prática da corrupção, ela vai florescer. E tenho repetido: este ainda não é o maior escândalo que vamos ver. Ainda vamos ter um escândalo maior do que esse. E digo até qual: será no BNDES. Por que sei disso? Estou fazendo investigações, ouvindo escutas telefônicas? Não. Mas é que as coisas são óbvias demais. A corrupção floresce em ambientes onde há muito dinheiro, nenhum controle, muito sigilo e impunidade total. O BNDES está alavancando com mais de R$ 500 bilhões do Tesouro Nacional, fazendo empréstimos a juros subsidiados. Mas não sabemos para quem, quanto foi para cada um e nem quais são as garantias. Por quê? Porque alegam sigilo bancário e, assim, nós não podemos ter acesso. Ou seja, a CGU [Controladoria-Geral da União] não fiscaliza, o TCU [Tribunal de Contas da União] não consegue fiscalizar, o Ministério Público Federal não tem acesso. Ninguém tem acesso. É claro que esse dinheiro está sendo desviado. É claro que isso é uma cultura para a corrupção. Tudo isso é muito óbvio. Quando conseguirmos abrir a caixa preta do BNDES, a “petropina” vai parecer troco de pinga. Se na “petropina” tinha obra em torno de R$ 70 bilhões em contratos, no BNDES há R$ 500 bilhões, sete vezes mais. Só que na Petrobrás havia o TCU investigando e denunciando fraudes e superfaturamentos, há muito tempo. Mas no BNDES nós não temos nada, não sabemos nada.

— E os financiamentos para obras no exterior?

O dinheiro para financiar obras em Cuba, por exemplo, chega lá depositado, por exemplo, em um banco do país. E quem está tocando essa obra é a Odebrecht, que foi considerada pela Transparência Internacional a empresa privada de menor transparência entre as grandes, sem qualquer estrutura interna de combate à corrupção. Esse dinheiro do BNDES, então, vai para o banco cubano e é movimentado sem controle nenhum. Como saberemos o que foi feito com esse dinheiro, como poderemos rastreá-lo? Então, o que vemos é como se tivessem arando o terreno fértil, colocando adubo e semeando corrupção. Será que ela vai nascer? É evidente que vai! Portanto, nós ainda vamos ver o maior escândalo de corrupção na República, desta vez no BNDES.

Leia mais a transcrição do Jornal Opção, de Goiás

Frases cretinas


Eu preciso ser investigada, os diretores, nós precisamos ser investigados. E para isso precisamos das auditorias internas
Graça Foster
(Em nenhum momento pediu investigação da Polícia Federal ou do Ministério Público. Nesses não confia)

O suicídio dos dinossauros


Jogando com um baralho viciado para assar a pizza, a Petrobras e as empreiteiras estão flertando com a ruína
Primeiro a má notícia: desde 2008, o valor de mercado da Petrobras caiu de R$ 737 bilhões para R$ 114 bilhões. Virou pó uma quantia equivalente a todos os investimentos previstos para a área de infraestrutura do Brasil no segundo mandato da doutora Dilma. Agora, a péssima: a sangria vai continuar. Investidores internacionais fogem do papel da empresa e o contubérnio em que ela vivia com seus fornecedores abalou também as contas das grandes empreiteiras nacionais. A Petrobras nunca mais será a mesma e pode-se supor que alguns de seus grandes fornecedores nacionais deixarão de existir.

Desde o início do ano, quando apareceram as primeiras pontas do escândalo, todos acreditavam que podiam assar a pizza jogando com um baralho viciado. Essa crença foi resumida numa breve anotação de um diretor da Engevix. Certo de que ninguém teria coragem de se meter com as empreiteiras, ele escreveu: “Janot e Teori sabem que não podem tomar a decisão. Pode parar o país.” Errou e seu vice-presidente está na cadeia. O procurador-geral Rodrigo Janot e o ministro Teori Zavascki sabem quais decisões devem tomar. A formulação da Engevix embute a ideia segundo a qual grandes empresas não correm o risco de ter diretores na cadeia. É o too big to jail, uma variante do conhecido too big to fail. Grandes corporações não podem quebrar (fail) nem seus diretores acabar na cadeia (jail).

A fé na pizza teve sua razão de ser. A defesa das empresas apanhadas no cartel ferroviário que agia em São Paulo conseguiu empurrar o caso com a barriga por mais de dez anos. A Siemens, que denunciou a quadrilha da qual fazia parte, chegou a ser ameaçada de processo pelo governo paulista. Bola fora, pois a Siemens brasileira denunciou o cartel seguindo uma norma de moralidade adotada por sua matriz alemã.

Até agora, a equipe do Ministério Público que cuida do caso da Petrobras mostrou-se mais qualificada que as empresas. Se isso fosse pouco, a investigação já tem três pontas no exterior. Uma na Holanda, outra na Suíça e a terceira nos Estados Unidos. Essa foi a que pegou a Siemens, levando-a a se tornar um padrão de nova conduta. O baralho viciado perdeu a eficácia. A regulamentação da lei que trata da moralidade empresarial está na Casa Civil há seis meses. Também não adianta.