sábado, 9 de abril de 2016

Votem, senhores!

O fato de o pedido de impeachment em exame na comissão especial da Câmara tratar apenas das pedaladas fiscais não exclui – não pode excluir – do horizonte de consciência dos que irão votá-lo o conjunto da obra, que vai muito além da mera prática de crimes de responsabilidade, na esfera administrativa.

Não que esses crimes não sejam graves e não justifiquem isoladamente o impedimento da presidente. Praticados com a intenção de forjar um falso êxito gerencial que estimulasse sua candidatura à reeleição, estão na raiz de danos que agravaram o quadro crítico da economia, levando-a à presente depressão.

O resultado aí está: desemprego em massa, falências em cascata, retração dos investimentos, desarranjo das contas públicas, depreciação do país no exterior, perda de poder aquisitivo da população – perda de confiança no futuro. Gravíssimo.

Mas há bem mais que isso. A sucessão de escândalos que a Lava Jato, há quase dois anos, exibe ao país – e que, segundo os procuradores corresponde a apenas 30% do que já apuraram -, confere à presidente, a alguns de seus ministros e a seu partido um status que os colocam diante do Código Penal.

Há, inclusive, cadáveres no caminho, como se constata na reabertura do caso Celso Daniel, prefeito assassinado de Santo André, em circunstâncias mais que suspeitas, abafadas com propinas pagas a um chantagista, Ronan Maria Pinto, já preso. Ele cobrou seu silêncio a Lula, que o pagou: R$ 6 milhões. Por que?

Esta semana, a diretoria da segunda empreiteira do país, a Andrade Gutierrez, em delação premiada, descreveu a rota da propina extorquida da Petrobras para irrigar a candidatura de Dilma Roussef em 2010 e 2014. O requinte de perversidade chegou ao extremo de usar a Justiça Eleitoral para lavar dinheiro roubado.

Diante disso, os argumentos que o advogado Geral da União, José Eduardo Cardoso, e o ministro da Fazenda, Nélson Barbosa, brandiram, na tentativa de banalizar as pedaladas fiscais, como prática comum de todos os governos precedentes se esvai.

O argumento, em si, além de falso, é cretino. Faz supor que o fato de um delito ter sido praticado por muitos o torna benigno. Bem ao contrário, a ser verdade, acresce ao prontuário dos atuais governantes o crime de prevaricação. Saber de um crime, estar no lugar de denunciá-lo e puni-lo e não o fazer, é crime também.

E isso esvazia outra manobra escapista comum aos governos do PT: diante de atos irregulares, acusam o governo anterior, de FHC, de ter feito coisa ainda pior. Ora, se assim é, por que não o puniram? O governo tem a prerrogativa de retomar casos anteriores e dar-lhes o devido encaminhamento.

O PT, quando na oposição, acusou obsessivamente o procurador-geral do tempo de FHC, Geraldo Brindeiro, de engavetador-geral da República. Teria impedido que crimes de diversos matizes fossem encaminhados à Justiça.

Não o fez, o que dá credibilidade ao argumento de FHC de que tais acusações não passavam de jogo de cena para depreciar o seu governo, estratégia que o PT aplicou à exaustão para iludir a plateia com um falso moralismo, de que agora se diz vítima.

A diferença é que, agora, não se trata de mera peleja verbal. Há fatos. A Lava Jato possui fartíssimo material documental. O juiz Sérgio Moro já sentenciou 67 réus, entre os quais dois ex-tesoureiros do PT, João Vaccari e Delúbio Soares, e um ex-presidente da legenda, o ex-deputado José Dirceu.

O ex-líder de Dilma no Senado, Delcídio do Amaral, é réu por tentativa de obstrução da justiça. Tentou oferecer fuga a um detento, o ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró. Em delação premiada, disse que cumpria missão a mando de Lula.

Aloizio Mercadante, ministro mais próximo de Dilma, foi flagrado no mesmo delito, na tentativa de silenciar Delcídio. Dilma disse que ele agiu por conta própria - e encerrou o assunto, como se tal explicação bastasse. Ora, tratou-se de um crime e a única maneira de dele se descolar era demitindo-o. Mas Mercadante prossegue ministro da Educação da “Pátria Educadora”.

A Petrobras foi saqueada em dezenas de bilhões. A Polícia Federal chegou à estratosférica cifra de R$ 42 bilhões, mas sabe que há mais. Graça Foster, ex-presidente da estatal, falou em mais que o dobro: R$ 88,8 bilhões. A empresa está quebrada.

O conjunto de falcatruas que cercou essa operação é vastíssimo e exigiria uma enciclopédia para arrolar todas as ações e meliantes nela envolvidos. O governo das pedaladas é o mesmo que praticou tudo isso, embora, no processo em exame, responda apenas (segundo o PT) ao crime de responsabilidade.

Como julgá-lo sem considerar todo o contexto em que está envolvido – e de que a Petrobras não é fato isolado, mas um padrão? É a essa organização criminosa que a comissão especial da Câmara avalia se deve ou não permanecer à frente dos destinos do país. Votem, senhores!

Debandada

O PT tenta apresentar-se como perseguido político. A enxurrada de escândalos, denúncias, investigações e condenações envolvendo próceres petistas seria resultado de uma sórdida campanha levada a cabo pelos inconformados com a revolução social promovida por Luiz Inácio Lula da Silva desde sua posse na Presidência da República em 2003. Tal versão, no entanto, não tem qualquer suporte nos fatos. A realidade é bem mais caseira – simplesmente o partido começa a sentir as consequências de seus atos imorais e ilegais, que vão sendo revelados à medida que avançam as investigações da Operação Lava Jato. Num Estado Democrático de Direito, andar fora da lei tem seu preço – jurídico e político.

O discurso de vítima do PT fica completamente desmascarado diante da vergonha dos próprios petistas com a legenda utilizada largamente por seus dirigentes em benefício pessoal. Se fosse verdade a existência de uma campanha de perseguição, a natural reação de seus membros seria de orgulho e defesa da causa petista. Não é isso, porém, o que se vê. Os políticos petistas estão em debandada. Conforme noticiou o Estado, de meados do ano passado até o dia 2 de abril – fim do prazo legal para mudança partidária –, um terço dos prefeitos eleitos pelo PT no Estado de São Paulo deixou o partido. Nas eleições municipais passadas, o PT elegeu 72 prefeitos. Desse total, 24 já abandonaram a legenda.

Essa debandada não se deve a nenhum tipo de perseguição política. Sai quem se envergonha de um partido que renegou a ética na política, no discurso e na prática. Como ficou evidente aos olhos dos brasileiros – especialmente com as investigações da Operação Lava Jato, mostrando que o mensalão era coisa pequena diante do petrolão –, o partido de Lula não apenas se lambuzou com antigas práticas de corrupção, mas promoveu verdadeira revolução na arte de apropriar-se do público em prol do interesse particular – partidário e pessoal. Obviamente, além das complicações judiciais, esse modus operandi tem um alto preço político.

A doença petista não atingiu apenas prefeitos. O partido também perdeu 28% dos vereadores que tinha no Estado de São Paulo. Entre os 186 vereadores que saíram da legenda, havia nomes de destaque, que as lideranças partidárias esperavam ver como candidatos do PT na disputa por importantes prefeituras. Significativo desfalque deu-se em Carapicuíba, cidade com mais de 270 mil eleitores e governada há oito anos pelo PT. O atual presidente da Câmara de Vereadores, Abraão Junior, trocou o PT pelo PSDB, legenda pela qual pretende disputar as eleições de outubro para prefeito.

Boa parte dos prefeitos que abandonaram o PT governa pequenas ou médias cidades no Estado. Há, porém, exceções. Por exemplo, o prefeito Jorge Lapas, de Osasco – quinto maior colégio eleitoral de São Paulo, com 548 mil eleitores –, trocou a legenda petista pelo PDT. Na carta escrita para explicar sua desfiliação do partido, Lapas menciona o “momento delicado pelo qual o PT está passando no cenário nacional”, além da “desunião e fragilidade resultantes da disputa interna” no partido. É uma maneira até elegante de se referir aos problemas que, com suas práticas, o partido criou para si mesmo.

As razões para a debandada de políticos petistas não são segredo para ninguém. Os escândalos nos quais o PT e algumas de suas principais lideranças estão envolvidos representam um enorme peso político. Conforme noticiou o Estado, pesquisas internas do próprio PT indicam que a associação dos nomes dos pré-candidatos com a legenda tem o efeito de âncora no eleitorado. Até mesmo prefeitos petistas com boa avaliação de suas administrações são puxados para baixo nas intenções de voto quando associados ao PT. O efeito é ainda maior nas grandes e médias cidades. Trata-se de um evidente sinal de maturidade do eleitorado. Não vale mais o “rouba mas faz”. O eleitorado quer outro tipo de política e, portanto, quer outro tipo de partido.

Para o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), “muitos prefeitos superestimaram a crise e não esperaram sua superação. Fizeram uma leitura precipitada”. Parece ser o oposto. A real avaliação sobre o PT é que veio tarde.

Pai Lula Traz O Seu Deputado Em Três Dias!

Já se foi o tempo em que o Palácio do Planalto era o centro do poder no Brasil. Hoje em dia quem precisa descolar uma verba ou um carguinho público tem que fazer fila na porta do hotel Golden Tulip. O Golden Tulip, tradicional quartel-general das putas de Brasília, tem a sua reputação (com bastante trocadilho, fazendo o favor) conspurcada por uma bando de deputados e senadores miseráveis já de madrugada fazendo fila na portaria do hotel. Todos chegam cedo para pegar uma senha na Fila do Lula, o ministro Viúva Porcina (“aquele que é, sem nunca ter sido”). Isso tudo porque o ex-presidente em exercício resolveu lançar mais um projeto de inclusão social, a Bolsa Impeachment, em que cada parlamentar tem direto 400 paus se pegar zika no dia da votação do impeachment ou então um milhão e meio para votar contra.

Não tenho emprego, não tenho mandato e não tenho escrúpulos. O último escrúpulo que tinha botei no “prego” da Caixa Econômica Federal para pagar a conta de luz. Assim sendo, achei por bem entrar na fila para ver se descolo algum qualquer desta nova obra do PAC, Programa de Aceleração do Cinismo.

Cheguei cedo, mas mesmo assim tive que comprar alguns parlamentares para descolar um número e ser atendido pelo homem mais honesto do Brasil. Lula virou uma espécie de pai-de-santo da política. A única entidade que ele incorpora é o Exu Caveira, que, por ser vermelho, está mais de acordo com a ideologia mediúnica do grande líder e Guia Genial dos Povos.

Em vez de pedir uma grana para fazer um despacho ou arriar um ebó na encruzilhada, é o Pai Lula que, com uma garrafa de marafo doze anos na mão e um charuto cubano na boca, desembolsa na suíte presidencial do resort de alta rotatividade. Depois dos saravás de praxe, Luísque Inácio toma um gole da cachaça e joga os Búzios. Se o cliente não gostar de Búzios, pode escolher entre Guarujá e Porto de Galinhas. Em seguida, aparece o Jacques Wagner vestido de cambono, todo de branco, e coloca um cheque no bolso do pedinte. Nem no Panamá funciona tão bem. Num outro canto enfumaçado do terreiro cinco estrelas, as babalaorixás Erenice Guerra, Rosemary Noronha e Jandira Feghali batem tambor furiosamente. Quando chega a meia-noite, baixa a Pomba Gira incorporada pela presidenta Zica Roskoff. Ela fala um monte de coisas sem sentido e depois sai pedalando uma bicicleta. É impressionante como brasileiro acredita em qualquer coisa.
Agamenon Mendes Pedreira é babaovorixá (Acompanhe o Agamenon em www.facebook.com/agamenonreal)

O país que se exploda

Toda vez que a presidente se dirige à nação, informa que não renunciará e não permitirá que haja golpe. Fala com aquele seu jeito de quem manda no pedaço e não tem nenhuma obrigação para com o país. Fala em retomada do crescimento, sem mencionar que durante seu governo destruiu a economia, matou a Petrobras e promoveu o maior rombo de toda a história das contas públicas. Para ela, tudo normal, fruto de circunstâncias que passam longe de sua desastrada incompetência.

Sabe muito bem que não conta com o apoio da população, mas chuta que isto é fruto da manipulação da mídia comprometida e de setores reacionários que não aceitam sua vitória nas eleições passadas. Golpistas! A presidente segue o que Lenin ensinou — "chame seus adversários daquilo que você é".

A pau e corda, num auxílio manifestação turbinado com cachê e mortadela, junta contingente inexpressivo de pessoas que dão a exata proporção do apoio e da rejeição que tem nas ruas. Também isso não a abala, porém.


Apela a seu criador para poder sair do buraco onde se meteu e promove um comício permanente nas dependências do palácio do governo onde figuras inexpressivas e bizarras ameaçam os demais brasileiros com guerra nas ruas e invasões de propriedades. Tudo sob o olhar benevolente de quem deveria preservar as instituições e garantir a segurança da população. Como chegamos a este descalabro? Como um partido se adona do Estado e ameaça a população? Que desvario é esse que põe sob suspeita até a mais alta corte da nação?

A encruzilhada onde nos encontramos vai definir que país seremos a partir de agora. Se os políticos não tiverem seu momento de grandeza e compromisso com o futuro das pessoas que nasceram aqui e amam o Brasil, tudo estará perdido. Um Venezuelão cubano é o que estará no horizonte próximo e não haverá volta. Iremos para a rabeira da civilização, fazer companhia às mais atrasadas sociedades.

Não merecemos.

Ditadura através do judiciário

O bem falante ministro Marco Aurélio Mello me faz lembrar muitos petistas que conheço. Diminutivos e aumentativos variam conforme a conveniência. Probleminhas e problemões mudam de lado segundo a retórica do momento. Sérgio Moro (símbolo nacional de uma justiça como a nação deseja) tanto lhe serve como bom exemplo do que denomina "promissora conduta das instituições nacionais", quanto de justiça servida “em cambulhada”. Sérgio Moro é conveniente quando o ministro quer elogiar o poder cuja cúpula ele, Marco Aurélio, integra e que está longe de representar a Justiça que a nação deseja. Mas deixa de ser bom, o juiz de Curitiba, quando o ministro pretende isentar o STF de responsabilidades pela lentidão dos processos em sua longa dormição nas gavetas, onerosa longevidade e intoleráveis prescrições. Para o ministro, a demora serviria à boa justiça...


Quem acompanha com interesse cívico os fatos que se desenrolam nos mais altos escalões do poder não pode, em sã consciência, negar o que vê: um poder judiciário mais do que politizado. Politicamente alinhado em sua cúpula. Nele, as cortesias de praxe escondem das vistas do público as dissenções e as desconfianças internas. Um exemplo foi brilhantemente apresentado pelo jornalista José Nêumanne. Acumulam-se ações contra o presidente da Câmara e do Senado. Ambos repugnam à nação. Os procedimentos para afastar Eduardo Cunha avançam e isso é ótimo, mas servem ao governo que quer vê-lo pelas costas. Os procedimentos para afastar Renan Calheiros se arrastam e isso é péssimo, mas servem ao governo que precisa dele como do ar que respira, até a conclusão do processo de impeachment no Senado. Acho que não preciso desenhar tal assimetria.

Inquirido sobre o ato falho do colega Roberto Barroso no comentário que fez sobre essa gente do PMDB como alternativa de poder, Marco Aurélio foi para o púlpito dos advogados defender o ministro que falou ignorando a transmissão externa. Ora, o próprio Barroso cuidou de deixar estampada a gravidade do erro quando recomendou que apagassem a fita!

Indagado sobre o inegável desvio de finalidade presente na nomeação de Lula para a Casa Civil, Marco Aurélio Mello deu uma volta na frase, parecendo concordar, e apresentou a ideia de que, por outro lado, não se poderia desconhecer a hipótese de que a presidente estivesse, de fato, precisando de Lula como tábua de salvação. “Me tira os tubos”, como diria aquele personagem de Jô Soares.

Logo após sua exibição de vaidade em rede nacional, o Ministro Marco Aurélio voltou ao serviço, subiu nas tamancas e determinou que o presidente da Câmara desse continuidade a inaudito pedido de impeachment contra o vice-presidente, impetrado por um governista tão delirante quanto burro porque reconhece em Temer o crime que o PT nega em Dilma. Cunha disse que ia recorrer, mas perante o próprio rabo preso, obedeceu. Eu não entendo: os ministros despacham o que querem, quando querem, mas obrigam os demais poderes e despachar quando eles querem. Quem disse que querer não é, necessariamente, poder, desconhece Marco Aurélio e o STF.

Na minha perspectiva, a casa caiu quando ele afirmou que, sendo o STF “o último bastião da cidadania”, o processo de impeachment, ainda que aprovado no julgamento do Senado, poderá passar ao crivo do Supremo – “caso haja dúvida sobre o cometimento de crime pela presidente da República”. Ou seja, a decisão de 594 deputados e senadores pode cair por seis a cinco no STF. E até mesmo, quem sabe, por uma liminar monocrática... Nesse caso, que terão feito Câmara e Senado ao deliberarem exatamente sobre tal questão? O site do PT festejou a declaração. No meu léxico, o nome da pretensão exposta pelo ministro é Ditadura através do Judiciário.

Percival Puggina

Resumo do Poder

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Lula declarou que nunca autorizou JCB usar o nome dele. É pra acabar, viu. Gentalha
Cristiane Bumlai, nora de José Carlos Bumlai, definindo Lula, que negava o trânsito livre do pecuarista no Planalto

Gestão Dilma acaba com ou sem impeachment

Assim que for concluído o espetáculo congressual do impeachment o governo Dilma Rousseff sairá de cartaz. Isso ocorrerá em qualquer circunstância. Aprovado o impedimento, Dilma iniciará prematuramente sua viagem de volta para o esquecimento. Arquivado o pedido na Câmara, ainda assim haverá um “governo novo” em Brasília, informam auxiliares da presidente. Nele, reservou-se para Dilma um papel de coadjuvante.

Nas palavras de um ministro, Lula está prestes a se tornar o primeiro líder político a fazer o sucessor três vezes consecutivas: elegeu Dilma em 2010, reelegeu-a em 2014 e guerreia para salvá-la agora, em 2016. Em privado, Lula diz aos aliados que só topou liderar a operação de resgate mediante condições. Imagina estar claro que, se tiver êxito, dará as cartas. Tendo feito Dilma, quer impedir que ela o desfaça.


O plano de trabalho de Lula para o dia seguinte contém três prioridades: desintoxicar o ambiente, restaurar a base congressual do governo e alterar os rumos da política econômica. Paradoxalmente, o planejamento é diferente para o caso de a Câmara dar sequência ao pedido de impeachment, enviando-o ao Senado. Nessa hipótese, o PT e seus devotos planejam “incendiar” o país enrolados na bandeira do “golpe”.

Em realidade, se tudo correr como planejado por Lula, o governo a ser reinaugurado em Brasília não será novo, mas seminovo. E Dilma não será a única sub-Lula. O próprio Lula é bem menor do já foi. Nas ruas, é representado pelo Pixuleco. Na Lava Jato, é um investigado. Está separado da caneta do juiz Sérgio Moro por uma liminar do ministro Teori Zavascki, do STF.

Essa caricatura de Lula trocou o título de ex-presidente pela condição de ex-quase-futuro-ministro. Dessacralizado, o personagem já não tira leite de pedra. Divide-se entre os depoimentos à força-tarefa da Lava Jato e os despachos nos fundões de um quarto de hotel. E reza para que uma nova delação não lhe caia sobre a calva.

Liberdade e independência

Quando foi a última vez que você foi xingado? Não por barbeiragem no trânsito. Quando alguém, estranho ou até conhecido, apontou para a sua pessoa em público e despejou epítetos do mais baixo calão? Ou lhe acusou de algo que coloca em dúvida sua integridade pessoal e profissional? Se esta pergunta tivesse sido feita há dez anos, ainda provocaria alguma estranheza. Hoje, pode provocar um suspiro resignado.

Hostilidade, insultos e fabricações como, você se vendeu a um partido ou empresa, são moeda corrente em toda parte onde as redes sociais substituíram radicalmente o diálogo oral e o debate impresso. Mas, tendo observado a polarização norte-americana por dever de ofício, cresce minha desconfiança de que os corvos que aqui grasnam não grasnam como lá.

Outro dia caí no gosto de um membro da tribo artistintelectual, estes híbridos flâneurs que ignoram grandes injustiças cotidianas, mas, diante de qualquer desafio ao status quo presente, sobem no cavalo branco e marcham rumo a um abaixo-assinado. Ou se juntam a um ato de repúdio, este substantivo que perdeu qualquer vínculo com indignação moral no Brasil.

O tal artistintelectual costumava me tocaiar numa rede social, começou a ser ignorado e, qual criança birrenta, veio dar com a cara barbada na minha timeline em outra rede. E aumentou o volume, afirmando que meu ganha pão depende de falar mal do governo. Além de me difamar, sugeriu que sou obtusa porque, qualquer um sabe, há um soldo muito mais garantido para quem se dispuser a só falar bem do atual governo.

Minha geração teve uma forma de inocência prolongada pela ditadura militar.

Crescendo à sua sombra, alimentamos a falsa expectativa de que, no fim do túnel, além de liberdades, haveria independência. O artistintelectual de abaixo-assinado, não raro, vem nos lembrar que liberdade não resulta em independência de pensamento.

No desconsolo que marcou o segundo mandato de George W. Bush, quando o trágico fiasco do Iraque já se mostrava irremediável e os Estados Unidos se aproximavam da maior recessão desde a Grande Depressão, a mídia de direita exemplificada por Rupert Murdoch e sua Fox News vivia numa bolha de negação, clichês e conspirações como a do Obama muçulmano. Um assessor político de Bush chegou a chamar um jornalista do New York Times de “membro da comunidade baseada na realidade.”

Agora que o Palácio do Planalto se transformou num galpão improvisado de comícios partidários, em que rituais de Estado são interrompidos por gritos orquestrados, estamos diante do dilema que, nos Estados Unidos, foi oferecido pela direita.

Não há equivalência de argumento se o seu interlocutor só debate com palavras de ordem e ameaça quebrar, invadir, incendiar. O liberal – não o neoliberal do besteirol dogmático – o liberal moderado é, por definição, alguém que acredita na complexidade do mundo e na nuance das ideias. Se colocamos de lado, por um momento, a legalidade ou sensatez da divulgação dos grampos de Lula, e não dá para apagar da memória o que ouvimos, o que ouvimos é assustador. Como dialogar com gente que, depois de 13 anos no poder, ainda pensa e se expressa daquela forma?

O desconsolo que noto entre brasileiros conscientes da complexidade do momento e reincidentes da civilidade se assemelha ao que notei aqui antes, embora, é claro, a democracia constitucional dos Estados Unidos seja mais longa e estável. Um importante colunista conservador norte-americano confessou recentemente que está com saudades de Barack Obama. Não concorda com ele politicamente, mas diz que já sente falta de sua integridade, temperança e da exigência de se cercar de gente honesta.

Enquanto governa o Brasil de uma suíte de hotel, sem mandato ou cargo eletivo, um homem destemperado sabe que não deixará saudades entre os que não pensam como ele.

'Alternativas a Dilma são tão 'tóxicas' quanto ela'

Para o ex-editor da revista Foreign Policy e ex-diretor do Banco Mundial Moisés Naim, a crise política brasileira é uma manifestação “extrema” das tendências globais que ele define em seu último livro, "O Fim do Poder" (Ed. Leya).

“(No Brasil de hoje) você tem muitos indivíduos, instituições e grupos com força para bloquear uma agenda (que vinha sendo implementada), mas a questão é que ninguém tem poder para impulsionar uma nova agenda. E o resultado é essa paralisação do país”, disse Naim em entrevista à BBC Brasil.

"Mas não é só no Brasil. A questão da fragmentação do poder, que eu descrevo em meu livro, é uma tendência global da qual o Brasil é apenas um exemplo extremo."

Questionado sobre como um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff poderia ser percebido no exterior, Naim responde que “no geral, já está se esperando o afastamento - e se ele não ocorrer será uma surpresa”.

“Acho que muita gente tem a sensação de que Dilma não é a líder que o Brasil precisa neste momento, mas o problema é o que fica, porque não há alternativa. Todos os que poderiam substituí-la depois desse processo estão tão contaminados, são tão tóxicos quanto ela", opina.

Para Naim, é "insólito" que cerca de metade dos integrantes da comissão de impeachment sejam réus em processos que vão de corrupção a crimes mais graves.

Ele opina que um eventual governo do vice-presidente Michel Temer "não seria a solução". E faz a ressalva: "O problema do Brasil já é tão grande que não há um só indivíduo que possa resolver a situação. Não adianta buscar uma figura messiânica que chegue e resolva, isso não vai acontecer. É preciso um grande acordo nacional e alguém capaz de construir uma coalizão ampla para governar."

Na avaliação do ex-diretor do Banco Mundial, o Brasil precisa tomar decisões urgentes sobre sua política econômica.

"E o problema é que sistema - que inclui o Executivo, Legislativo, partidos políticos e a sociedade em geral - está sendo incapaz de permitir isso", afirma.

"Há coisas práticas que precisam ser feitas. Não se pode ter um déficit fiscal como há no Brasil, por exemplo. É preciso respeitar essas leis da economia que quando as commodities estavam muito altas - e os recursos eram abundantes - muitos tinham a ilusão que podiam ignorar."
Best-seller

O último livro de Naim, que foi ministro de Comércio e Indústria da Venezuela no final dos anos 80 e início dos 90, tornou-se um best-seller no ano passado depois que Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, postou na rede social que, como parte de um "desafio", leria um livro a cada semana – e escolheu O Fim do Poder para começar a empreitada.

Nele, Naim defende que os detentores tradicionais de poder - governantes, grandes corporações, exércitos - estão enfrentando um número cada vez maior de barreiras a sua capacidade de governar ou implementar uma agenda.

Essas barreiras seriam impostas pela ação de atores como ativistas sociais, a mídia e entidades ou políticos rivais (no caso de autoridades), que hoje têm instrumentos e tecnologias para se mobilizar e atuar que não tinham no passado.

"O poder está em decadência", escreve Naim. "No século 21, é mais fácil de obter, mais difícil de utilizar e mais fácil de perder."

O problema, na avaliação do ex-diretor do Banco Mundial, é que se há muitas forças capazes de "destruir" e impor limites ao poder tradicional, há poucas capazes de "construir" algo.

No campo político, Naim diz que entre as consequências dessas tendências estão a rejeição aos partidos políticos tradicionais e aumento da polarização.

"É só olhar para o mundo: nos EUA temos o Donald Trump. Na Espanha, o Podemos (um partido anti-establishment), que apareceu em 2014 e hoje é uma potência política", diz ele.

"Está crescendo a ideia de que tudo o que tem a ver com a política (tradicional) é ruim. Temos uma queda da confiança em políticos, empresários, sistema judiciário, jornalistas e até entidades religiosas. E isso gera uma situação em que é muito difícil ter um contrato social. O resultado é uma paralisação e redução da capacidade de se governar."

Petrobras na corda bamba do populismo

A Petrobras — por mais incrível que isso possa parecer a esta altura da Operação Lava Jato e depois de transformar o preço subsidiado da gasolina e do diesel em “moeda” eleitoral e demagogia política em 2014 e 2015 — volta a servir aos interesses de seu maior acionista, o Governo Federal. Muito provavelmente para atender às desesperada ansiedade da presidente Dilma Rousseff por uma agenda positiva, a empresa acena com a possibilidade de baratear os combustíveis, alegando que o preço do barril do petróleo no mercado internacional despencou.

O uso político da estatal continua impactando negativamente a companhia, que não consegue desvincular-se das artimanhas do populismo governamental. Dentre estas, está a falácia do controle da inflação por meios inapropriados e até de alto risco para uma empresa crucial para a cadeia produtiva de petróleo e gás.


De um lado, o presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, profissional de carreira e estrategista nas questões de curto prazo, pessoa de confiança da Presidência da República, não indicou, até o momento, alternativas estratégicas na mudança de rota da situação complicada que a empresa vem passando. A busca é pelo caixa imediato, mesmo sacrificando o longo prazo, através de empréstimos questionáveis em bancos chineses.

O que mais impressiona em tudo isso é que ficou bem clara a posição da presidência em recomendar a redução de preços em um ano conturbado e sofrendo criticas pontuais na sua gestão. Contudo – e felizmente - o Conselho de Administração da Petrobras já se manifestou contra o barateamento, sem uma base sólida de estudo quanto ao que poderá acontecer com o barril de petróleo no mercado internacional. Qualquer redução de preços agora poderia, em futuro próximo, gerar novos aumentos em relação aos preços internacionais e aos custos de produção no País.

O governo, lamentavelmente, não consegue engendrar uma gestão na qual as decisões sejam técnicas, não apadrinhadas por pessoas que não têm conhecimento da área, do produto e dos negócios da empresa. É uma administração com viés político. Algo danoso para o País. Agora, seria hora de analisar as necessidades de caixa e os investimentos prementes, suspendendo-se temporariamente os de longo prazo, inclusive analisando as questões do Pré-Sal.

Enquanto a gestão no Brasil for mascarada pela falta de transparência, de investimentos em logística e em disponibilidade de capital mais barato, parece que não haverá soluções para a Petrobras. Percebemos que estamos importando até o etanol, do qual somos os segundo maiores produtores mundiais, muito próximos dos Estados Unidos. Com um detalhe: o nosso é feito a partir da cana-de-açúcar, mais barato e melhor do que o norte-americano, processado a partir do milho. Pasmem: somos hoje o segundo maior consumidor do combustível produzido nos Estados Unidos. Entra em cena o velho “Custo Brasil”. Perdemos competitividade em itens nos quais somos capazes de produzir com competência e, em tese, a preços mais baixos do que os dos concorrentes internacionais.

Em Brasília, contudo, a preocupação prioritária é evitar o impeachment, mesmo que isso implique “venda” de ministérios, medidas populistas danosas à economia e prejudiciais ao povo.

Reginaldo Gonçalves